Mortalidade por câncer de cólon e reto nas capitais brasileiras no período
1980-1997
EPIDEMIOLOGIA CLÍNICACLINICAL EPIDEMIOLOGYINTRODUÇÃO
A incidência de câncer de cólon ocupa, no mundo, a terceira posição, sendo
responsável por mais de 570.000 casos novos a cada ano(27).
No Brasil, o cólon e o reto estão entre as seis localizações mais freqüentes de
neoplasia, em ambos os sexos. Segundo a última publicação dos Registros de
Câncer de Base Populacional Brasileiros(5), a cidade de São Paulo apresentava,
em 1997-1998, a mais elevada taxa padronizada de incidência de câncer de cólon
(21,73/100.000) para o sexo masculino e o Distrito Federal, no período 1996-98,
a taxa mais alta (15,16/100.000) para o sexo feminino. Os valores mais baixos
foram observados em Manaus (1999) e em Belém (1996-98), com taxas padronizadas
de incidência de 1,62/100.000 e 4,16/100.000, respectivamente, entre os homens
e as mulheres.
Observa-se uma heterogeneidade na distribuição da mortalidade por câncer de
cólon nas regiões brasileiras, com as regiões sul e sudeste apresentando
valores de taxas semelhantes àqueles de países altamente industrializados(16).
Os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde(4)
indicam, para o ano de 2001, taxas brutas de mortalidade por tumores de cólon e
reto variando, no sexo masculino, entre 1,98/100.000 e 15,89/100.000,
respectivamente, em Manaus e Porto Alegre. No mesmo ano, no sexo feminino,
essas taxas variaram entre 3,21/100.000, em Belém e 16,40/100.0000 em Porto
Alegre.
Devido à dificuldade para obter informações de incidência no nível populacional
e à alta letalidade de muitas neoplasias, os estudos de mortalidade têm sido
bastante utilizados para descrição dos padrões de distribuição de câncer(19,
20, 21). Esses estudos representam, assim, parcela considerável da produção
científica na área de epidemiologia e saúde pública, possibilitando a avaliação
de tendências e de possíveis correlações entre os padrões observados e os
fatores ambientais(2, 20).
No Brasil, os estudos de mortalidade de base populacional costumam utilizar os
dados processados pelo Subsistema de Informações sobre Mortalidade do
Ministério da Saúde (SIM/MS). A operacionalização do SIM/MS tem como base o
preenchimento e coleta do documento padrão - a declaração de óbito (DO) -,
sendo este o documento de entrada do sistema nos estados e municípios. As
secretarias de saúde coletam as DOs dos cartórios e entram no SIM/MS com as
informações nelas contidas. Uma das informações primordiais é a causa básica de
óbito, que é codificada a partir do declarado pelo médico atestante, segundo
regras estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde. Limitações
quantitativas, como sub-registro de óbitos e deficiências no fluxo das
declarações, e limitações qualitativas, como informações incorretas, e erros no
processamento de codificação da causa básica no sistema de mortalidade de nosso
país têm sido mencionados(26). Entretanto, sabe-se que as declarações de óbito
cuja causa básica de morte é uma neoplasia, apresentam melhor qualidade devido
à própria natureza da doença, com seu caráter crônico que, geralmente, requer
tratamento hospitalar e maior quantidade de internações e exames complementares
(17, 18).
Até onde se tem conhecimento, não existem estudos recentes, publicados na
literatura científica, acerca da situação da mortalidade por câncer de cólon e
reto nas regiões brasileiras e suas capitais.
A relevância que assumem a incidência e a mortalidade dessas neoplasias e a
existência de poucos estudos sobre o tema, justificam uma análise
epidemiológica com o objetivo de descrever o padrão de distribuição da
mortalidade por câncer de cólon/reto nas regiões e capitais brasileiras, no
período de 1980'1997.
LITERATURA
COLEMAN et al.(9) analisaram a tendência das taxas de incidência e mortalidade
de 25 localizações anatômicas de neoplasias, em indivíduos entre 30 e 74 anos,
em alguns países e regiões da Europa, Ásia, Oceania e América, por período de
cerca de 35 anos. Considerando os tumores de cólon e reto em conjunto, os
autores observaram tendência de aumento das taxas de incidência na maioria dos
países, e diminuição das taxas de mortalidade. O declínio das taxas de
mortalidade foi explicado como possível reflexo do diagnóstico precoce e de
conseqüente início imediato do tratamento, acarretando aumento da sobrevida.
Em estudo realizado no período de 1975-88, foi observado aumento da incidência
dos tumores de cólon e reto no continente europeu. Em relação à mortalidade, a
maioria dos países localizados no norte da Europa e dos países membros da
Comunidade Européia apresentaram estabilidade ou tendência de declínio. No
mesmo período, países do leste europeu apresentaram aumento das taxas de
mortalidade por essas neoplasias entre 15% e 5%, para homens e mulheres,
respectivamente, a cada 5 anos(8).
Na Austrália, entre os anos de 1973 e 1987, as taxas de incidência apresentaram
tendência de aumento, enquanto a mortalidade mostrou pequeno declínio, somente
entre as mulheres. No Japão, foi observado aumento das taxas de incidência e de
mortalidade, que foi maior em indivíduos entre 45 e 64 anos, de ambos os sexos;
a partir de 1965, as taxas de mortalidade aumentaram em torno de 25%(8). Em
outro estudo realizado no Japão, observou-se, também, aumento nas taxas de
mortalidade de, aproximadamente, 4,5 vezes para os homens e 3,0 para as
mulheres, no período de 1955 a 1993(31).
Nas Américas, no período de 1973-87, observou-se tendência de aumento constante
da incidência em ambos os sexos. Entretanto, em relação às taxas de
mortalidade, Estados Unidos, Canadá e Uruguai apresentaram declínio de 5% e
10%, entre homens e mulheres, respectivamente(8). Também nos Estados Unidos,
RIES et al.(24), observaram, no período de 1973 a 1991, decréscimo das taxas de
mortalidade por neoplasia de cólon em homens brancos (11,2%) e mulheres brancas
(23,6%), e aumento dessas taxas entre os homens negros (25,1%) e mulheres
negras (3,8%).
No Brasil, PINTO e CURI(21) examinaram a mortalidade por neoplasias referente
aos anos de 1980, 1983 e 1985, utilizando dados publicados pelo Ministério da
Saúde que abrangiam 26 Unidades da Federação e 13 diferentes localizações
neoplásicas. O câncer de cólon estava entre as oito principais localizações
neoplásicas nas regiões estudadas, apresentando tendência de crescimento da
taxa de mortalidade no período de estudo.
FARALDO et al.(11) examinaram a mortalidade por doenças do sistema digestório
no Brasil, utilizando dados oficiais do Ministério da Saúde referentes aos anos
de 1980, 1983 e 1985, abrangendo 26 Unidades da Federação e 10 diferentes
doenças. A neoplasia de cólon foi aquela que apresentou maior variação entre os
Estados, estando entre as principais causas de mortalidade por esse grupo de
doenças no período de estudo, com tendência de crescimento das taxas. Quando os
autores analisaram a distribuição geográfica dos dados obtidos, constataram que
os Estados das regiões Sul e Sudeste, em especial Rio de Janeiro, Rio Grande do
Sul e São Paulo, apresentavam as maiores taxas de mortalidade por neoplasia de
cólon.
Em Santa Catarina, a análise das taxas de mortalidade para diversas
localizações neoplásicas, no período de 1980 a 1991, mostrou que o câncer de
cólon/reto se situava em sétimo lugar, apresentando o segundo maior incremento
no sexo masculino (razão de taxas = 1,31; IC 1,06'1,62) e, entre as mulheres,
apresentava a quinta maior taxa de mortalidade padronizada, sendo a razão de
taxas de 1,15 (IC 0,92-1,44). Comparando-se as taxas de mortalidade entre os
sexos para o ano de 1991, verificou-se predomínio para o sexo masculino com a
razão de 1,20 (IC 0,99'1,45)(26).
No município de São Paulo, REIS(22) analisou o comportamento das taxas de
mortalidade por câncer de cólon, verificando que essa neoplasia ocupava a
quarta posição entre as demais localizações neoplásicas, em ambos os sexos.
Comparando essas taxas segundo a área de inserção socioeconômica do município,
esse autor observou os valores mais elevados na área de melhor inserção, em
quase todas as faixas etárias e em ambos os sexos.
MATERIAL
Os registros dos óbitos por câncer de cólon e reto foram obtidos no banco de
dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde(6).
As informações relativas à população das capitais brasileiras, entre os anos
1980'1997, segundo o sexo e a faixa etária, foram obtidas dos censos
populacionais de 1980 e 1991, recontagem de 1996 e estimativas populacionais
para os anos intercensitários do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE)(13).
Foram considerados como óbito por câncer de cólon, todos aqueles codificados
como 153.0'153.9, segundo a Classificação Internacional de Doenças, 9ª revisão
(CID-9), no período de 1980'1995, e como C18.0'C18.9, segundo a 10ª Revisão
(CID-10), nos anos de 1996 e 1997, de indivíduos de ambos os sexos, residentes
nas capitais dos estados brasileiros. Foram considerados como óbito por câncer
de reto, todos aqueles codificados como 154.0 e 154.1 segundo a CID-9, no
período de 1980'1995, e como C19 e C20 segundo a CID-10, nos anos de 1996 e
1997, de indivíduos de ambos os sexos, residentes nas capitais dos estados
brasileiros, com exceção de Palmas, TO, no período de 1980-1997.
MÉTODO
Realizou-se estudo observacional descritivo da mortalidade por câncer de cólon
e reto. Para isso, os dados de mortalidade da população em estudo foram
agrupados em seis faixas etárias (<20 anos, 20-29 anos, 30-39 anos, 40-49 anos,
50-59 anos, 60-69 anos e 70 anos ou mais) e em períodos de tempo de 1980-1982,
1983-1985, 1986-1988, 1989-1991, 1992-1994, 1995-1997.
As taxas de mortalidade para as neoplasias de cólon e reto foram calculadas
para todas as capitais e também para as regiões brasileiras segundo suas
capitais. Os dados relativos a essas duas localizações foram agrupados para uma
análise conjunta do câncer de cólon e reto.
Para fins de comparação, buscando-se controlar o efeito das diferentes
estruturas etárias das populações, foi utilizado o recurso estatístico de
padronização direta por idade das taxas de mortalidade, tendo como padrão de
referência a população mundial preconizada pelo IARC/OMS(28).
Foram calculadas as taxa de mortalidade específicas por sexo e faixa etária e
também as razões de taxas entre faixas etárias, entre sexos (masculino e
feminino), entre períodos de tempo e entre câncer de cólon e reto nas capitais
brasileiras.
A análise da tendência foi efetuada através da estimação de modelos de
regressão linear. Para o processo de modelização, as taxas padronizadas de
mortalidade por câncer de cólon/reto foram consideradas como variável
dependente (y) e os anos de estudo como variável independente (x). O primeiro
modelo testado foi o de regressão linear simples (y = b0 + b1x), seguindo-se os
modelos de segundo (y = b0 + b1x + b2 x2) e terceiro graus (y = b0 + b1x + b2
x2 + b2 x3). Os modelos que apresentaram P valor <0,05 foram considerados
significativos. Considerou-se como melhor modelo aquele que apresentou maior
significância estatística. Quando dois modelos se apresentaram semelhantes, sob
o ponto de vista estatístico, escolheu-se o mais simples.
Para a análise estatística foram utilizados os programas Excel 2000 e SPSS
versão 9(30).
RESULTADOS
A análise da mortalidade por neoplasia de cólon/reto mostrou as maiores taxas
na região sul, com aumento da magnitude destas entre o primeiro e o último
período do estudo; a região sudeste também apresentou taxas elevadas, variando
entre 8,03 e 9,90 nos triênios 1980-82 e 1995-97, respectivamente. A região
centro-oeste apresentou taxas intermediárias, com aumento ao longo do período,
fato também evidenciado na região norte onde foram encontradas as taxas de
menor magnitude para essa neoplasia. As taxas da região nordeste se aproximam
das da região norte, embora sejam mais elevadas (Figura_1).
Em todo o período de estudo, as regiões brasileiras apresentaram taxas de
mortalidade de câncer de cólon/reto segundo faixa etária com valores mais
elevados nos grupos etários de 60'69 anos e 70 anos ou mais. Para todas as
faixas etárias, as maiores magnitudes das taxas foram observadas nas regiões
sul e sudeste, variando entre 0,12 no grupo etário menor de 30 anos e 128,66 na
faixa 70 anos ou mais. As regiões norte e nordeste apresentaram taxas de
mortalidade cerca de 2 vezes menores quando comparadas com a do sul em todas as
faixas. No período analisado, os grupos etários 40-49 e 50-59 anos das regiões
centro-oeste e sudeste apresentaram aumento das mesmas.
A análise isolada das taxas de mortalidade padronizadas por neoplasia de cólon
nas regiões do Brasil mostrou padrão similar ao observado quando se analisaram
os tumores de cólon e reto de forma conjunta. A comparação das taxas de
mortalidade padronizadas de câncer de reto, nas regiões sul e sudeste,
evidenciou que a primeira apresentava, nos triênios 1980/82 e 1989/91, taxas
mais elevadas, enquanto no último período, foram registradas taxas menores do
que as do sudeste. A análise da razão de taxas de cólon e reto para as
diferentes regiões mostrou variação de 1,45 a 2,69. As regiões sul e sudeste
apresentaram elevação dessa razão no último triênio (Figuras_2, 3, 4).
Na Tabela_1 encontra-se a distribuição das taxas de mortalidade por câncer de
cólon/reto, no período de estudo, nas capitais brasileiras. As taxas mais
elevadas foram observadas em Porto Alegre, RS, durante todo o período de
estudo.
Com exceção de Belo Horizonte, MG, as demais capitais das regiões sul e sudeste
apresentaram taxas mais elevadas para o sexo masculino nos dois períodos
analisados. Na região centro-oeste, verificou-se que, nos últimos anos, as
razões homem/mulher se aproximaram daquelas observadas nas capitais do sul e
sudeste. As taxas das capitais do norte e nordeste não apresentaram
comportamento estável (Tabela_2).
Na Tabela_3, encontram-se os resultados da análise de tendência. Na região sul
foi possível definir tendências significativas para Porto Alegre, RS, e
Curitiba, PR. Pode-se observar, em ambas as cidades, tendência crescente das
taxas padronizadas de mortalidade para câncer de cólon/reto, embora essa não
tenha sido constante na capital do Rio Grande do Sul e tenha tendido à
estabilidade em Curitiba, PR, nos últimos anos. A cidade de São Paulo
apresentou padrão semelhante ao de Porto Alegre, enquanto em Vitória, ES, foi
observada tendência constante de aumento das taxas de mortalidade. No Rio de
Janeiro, RJ, o melhor modelo foi o de segundo grau, mostrando tendência
decrescente, porém não constante. As capitais da região centro-oeste, com
exceção de Goiânia, GO, apresentaram tendência de crescimento constante das
taxas de mortalidade por neoplasias de cólon/reto. Na região nordeste só foi
possível ajustar um modelo significante para Maceió, AL, onde foi observada
tendência de declínio, e para Fortaleza, CE, que apresentou o mesmo padrão
observado para Curitiba, PR. Padrão similar ao apresentado pelas capitais
nordestinas foi observado para a região norte. Nessa região modelos
significantes foram ajustados para Manaus, AM, e Macapá, AP, evidenciando
tendência de decréscimo das taxas de mortalidade, e para Rio Branco, AC,
mostrando tendência de aumento, entretanto há em todos eles, tendência de
estabilidade nos últimos anos.
DISCUSSÃO
Neste estudo foram constatadas diferenças marcantes nas taxas de mortalidade
padronizadas por câncer de cólon/reto entre as regiões brasileiras, segundo
suas capitais, com as maiores taxas de mortalidade observadas nas regiões sul e
sudeste; a região centro-oeste apresentou taxas intermediárias e as regiões
norte e nordeste, taxas menores. Estes achados são similares aos de FARALDO et
al.(11) que, estudando as doenças do sistema digestório, no período de 1980 a
1985, verificaram que as neoplasias de cólon e de reto estavam entre aquelas
que apresentavam maiores variações entre os estados e regiões brasileiras e
taxas de mortalidade mais elevadas nos estados das regiões sul e sudeste, em
especial, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro.
As diferenças regionais das taxas de mortalidade por câncer de cólon/reto têm
sido ressaltadas por diferentes autores, que apontam a contribuição de hábitos
culturais e alimentares, diferenças socioeconômicas e de estilo de vida, para
essa heterogeneidade, além de outros aspectos relevantes como o acesso aos
serviços de saúde, a qualidade do atendimento hospitalar e dos serviços de
prevenção(7, 12, 27). Esses fatores devem ser considerados na avaliação das
diferenças encontradas entre as regiões e capitais brasileiras, já que as
regiões sul e sudeste, em comparação com as demais, apresentam provavelmente,
hábitos de vida que poderiam levar a maior risco de desenvolvimento de câncer
de cólon/reto, como o baixo consumo de fibras e o alto teor de lipídios na
dieta, ingestão elevada de álcool e prevalências mais altas de tabagismo.
Embora as capitais das regiões sul e sudeste apresentem taxas mais elevadas do
que as de outras regiões brasileiras, as taxas de mortalidade de Porto Alegre e
do Rio de Janeiro, no período de 1983-85, eram cerca de 3 vezes menores do que
aquelas observadas, no ano de 1985, em países como Estados Unidos, Canadá e
França(8) e, assim como em Curitiba, PR, e São Paulo, SP, apresentavam valores
similares aos observados em alguns países das Américas Central e Sul, como
Chile (10,9/100.000) e Costa Rica (8,7/100.000), enquanto Belém, Manaus,
Salvador e Recife apresentaram magnitudes de taxas próximas dos valores
observados na Venezuela (5,3/100.000).
O padrão de distribuição por sexo das taxas de mortalidade por neoplasia de
cólon/reto nas capitais brasileiras não foi uniforme, com taxas de maior
magnitude no sexo masculino. SANTA HELENA(25), em estudo realizado em Santa
Catarina, em 1991, havia verificado predomínio das taxas de mortalidade para o
sexo masculino com razão de 1,20 (IC 0,99'1,45).
HORM et al.(12) assinalaram diferenças na magnitude dessas taxas, entre os dois
sexos, nos Estados Unidos onde, no período de 1977-83, os homens brancos e
negros apresentaram taxas de mortalidade padronizadas mais elevadas do que as
mulheres brancas e negras (25,7 e 25,3/100.000; 18,4 e 20,4/100.000,
respectivamente). No mesmo país, SCHOTTENFELD e WINAWER(27) observaram, entre
1985 e 1989, taxas de mortalidade padronizadas de neoplasia de cólon/reto
maiores em homens brancos e negros (24,2 e 27,6/100.000), excedendo a taxa para
mulheres brancas e negras (16,4 e 20,8/100.000).
Em todas as regiões brasileiras, observou-se tendência de aumento das taxas de
mortalidade por câncer de cólon/reto, no período analisado, padrão que, embora
com diferentes gradientes, foi observado em vários países do mundo(8, 24, 31).
COLEMAN et al.(8) assinalaram tendência de aumento das taxas de mortalidade por
neoplasia de cólon/reto na Noruega (12,7% em homens e 4,1% em mulheres, a cada
5 anos), Tchecoslováquia (11,2% em homens e 7,1% em mulheres), Hungria (12,8% e
4,7%), Polônia (10,0% e 6,7%), Iugoslávia (14,2% e 8,2%) e Japão (10,7% e
3,9%). Esses autores observaram, porém, tendência de decréscimo dessas taxas na
Austrália, Estados Unidos e Canadá, no período de 1965 a 1985, que poderia ser
explicada pelo diagnóstico precoce com início imediato do tratamento,
acarretando aumento da sobrevida, já que no mesmo período verificou-se aumento
das taxas de incidência de neoplasias de cólon/reto.
Segundo RIES et al.(24), entre 1973 e 1985, as taxas de incidência de câncer de
cólon/reto nos Estados Unidos apresentaram tendência de aumento e, entre 1985 e
1995, de declínio, com decréscimo significativo na década de 90. As taxas de
mortalidade vêm declinando nos últimos 20 anos(1, 10). As razões para o
decréscimo da incidência e da mortalidade desta neoplasia nos Estados Unidos
ainda não são bem conhecidas, porém tem sido sugerido que estaria influenciada
por diferentes fatores como o rastreamento, o aumento da remoção de pólipos e
os avanços nos protocolos de tratamentos(10). Embora tenha ocorrido no mesmo
período pequena melhora da dieta da população americana, as altas prevalências
de obesidade depõem contra a hipótese de que mudanças no padrão alimentar
poderiam estar contribuindo para o comportamento observado(10, 32).
CASTRO et al.(7) observaram magnitudes elevadas e tendência de incremento das
taxas de mortalidade por câncer de cólon no México, atribuindo esse fato à
falta de programas adequados de prevenção primária para o câncer em geral e de
detecção oportuna de tumores em determinadas localizações neoplásicas.
A idade é um dos fatores de risco mais importantes no desenvolvimento do câncer
de cólon/reto. Nos Estados Unidos, a incidência dessas neoplasias é 6 vezes
maior entre pessoas com 65 ou mais anos, em comparação com aquelas entre 40 e
64 anos de idade(27).
Nas regiões brasileiras, a comparação das taxas de mortalidade de câncer de
cólon/reto por faixa etária, no período de 1980 a 1997, evidenciou aumento das
mesmas nos grupos etários de 40-49 e 50-59 anos no sudeste e centro-oeste. Na
década de 80, em Porto Alegre, KOIFMAN(15) havia observado aumento superior a
25% nas taxas de incidência dessa neoplasia, no grupo etário de 45 a 64 anos,
em ambos os sexos.
Dois estudos descritivos de série de casos hospitalares realizados no Brasil,
observaram percentuais considerados elevados de casos na faixa etária abaixo
dos 40 anos. RESENDE et al.(23) verificaram que, de 120 pacientes com câncer de
cólon, reto e ânus diagnosticados no Hospital Docente Assistencial do Distrito
Federal, entre 1973 e 1989, cerca de 17 (14%) dos casos tinham até 39 anos. Em
outro estudo(29), com uma série de pacientes do Serviço de Coloproctologia do
Hospital do Andaraí, no período de 1980 a 1987, foi assinalada alta ocorrência
de casos de neoplasia de cólon/reto em pacientes com até 40 anos de idade
(9,3%), sendo também observado que esses indivíduos eram diagnosticados em
estádios mais avançados, em comparação com aqueles com idade mais elevada.
RIES et al.(24), analisando separadamente os tumores de cólon e reto nos
Estados Unidos, observaram que a taxa de incidência dos primeiros (34,5) foi
2,5 vezes maior que aquela das neoplasias de reto (13,8). Em estudo realizado
em 1996, SCHOTTENFELD e WINAWER(27) mostraram que em regiões com baixa
incidência de neoplasia de cólon/reto, como Índia, Senegal e os países da
Europa oriental, as taxas de incidência de câncer de reto excediam as taxas de
câncer de cólon. No presente estudo, observaram-se resultados similares em
relação à mortalidade, já que as capitais que apresentavam baixas taxas de
mortalidade para câncer de cólon/reto, mostravam também taxas de câncer de reto
com magnitudes maiores ou próximas às das taxas de câncer de cólon.
A incidência de câncer de cólon apresenta maior variação internacional do que a
de câncer de reto(27). Comportamento semelhante foi verificado neste estudo, em
relação às taxas de mortalidade.
Quanto ao câncer de cólon, especificamente, observou-se que as taxas de
mortalidade por esta neoplasia são mais elevadas nas regiões sul e sudeste do
país e menores magnitudes das taxas foram encontradas nas capitais das demais
regiões brasileiras, que apresentam nível socioeconômico menos elevado e maior
concentração de áreas rurais. SCHOTTENFELD e WINAWER(27) e MUIR e NECTOUX(19)
assinalaram que o câncer de cólon é mais comum em populações economicamente
mais desenvolvidas e que apresentam padrões de vida comparáveis aos ocidentais.
REIS(22), estudando a relação entre câncer de cólon e inserção socioeconômica
na cidade de São Paulo, observou que a área considerada como de melhor inserção
apresentou as taxas mais elevadas de mortalidade por câncer de cólon, quando
comparada com as demais, em ambos os sexos, e em quase todas as faixas etárias.
Esse autor também constatou um gradiente de aumento da magnitude dessa
mortalidade, estatisticamente significativo, em direção às áreas de melhor
inserção socioeconômica.
BALBI et al.(3) evidenciaram diferenças importantes entre as taxas de
mortalidade por câncer de cólon em Montevidéu, Uruguai, com taxas de
mortalidade elevadas para o câncer de cólon, similares às observadas em países
desenvolvidos, e o interior do país, com valores mais semelhantes aos
verificados em países em desenvolvimento. Os homens e mulheres residentes em
Montevidéu apresentaram risco relativo ajustado por idade para a mortalidade
por câncer de cólon de, respectivamente, 1,48 (IC 95% 1,36'1,62; P<0,001) e
1,01 (IC 95% 0,93'1,09, P>0,05), tendo os autores associado esse risco ao maior
nível socioeconômico da população, em relação aos residentes de áreas rurais.
JIMÉNEZ e AHUMADA(14), em estudo realizado na província de Santa Fé, Argentina,
observaram que os tumores de cólon, reto e ânus apresentaram elevação das suas
taxas de mortalidade entre os períodos 1985'1987 (17,2/100.000) e 1995'1997
(19,1/100.000), embora os resultados não tenham sido estatisticamente
significativos (c2 = 0,11; P = 0,74).
CASTRO et al.(7) também observaram incremento das taxas de mortalidade por
câncer de cólon no México, em ambos os sexos, sendo que nas mulheres, o câncer
de cólon apresentou uma das maiores variações, quando comparado com as demais
neoplasias analisadas.
No estudo presente, com exceção de Belo Horizonte, MG, as demais capitais das
regiões sul e sudeste apresentaram taxas de mortalidade por neoplasia de cólon
maiores no sexo masculino, no período de 1995-1997.
Em relação à mortalidade por câncer de reto, observou-se que as maiores
magnitudes de taxas ocorreram nas capitais das regiões sul e sudeste. Esses
achados foram similares aos observados por PINTO e CURI(21) e FARALDO et al.
(11). Entretanto, as maiores taxas de mortalidade por câncer de reto observadas
nesta série tiveram magnitudes menores que as encontradas no estudo de BALBI et
al.(3), tanto em Montevidéu (7,2 no sexo masculino e 4,0 no feminino), como no
interior do Uruguai (4,6 e 2,9, respectivamente), no período de 1979-1987.
As capitais das regiões sul e sudeste apresentaram as maiores taxas de
mortalidade padronizadas para o câncer de reto no sexo masculino. O mesmo
padrão foi observado no estudo realizado por RIES et al.(24), com dados de
incidência, sendo observadas taxas maiores para homens brancos (18,3) e negros
(14,7), quando comparados com as mulheres da mesma raça (10,4 e 9,9,
respectivamente). MUIR e NECTOUX(19) também citaram a maior incidência dessa
neoplasia em homens, com razão de taxas variando entre 1,5 e 2,0.
Seguindo o padrão similar ao observado para o câncer de cólon, as taxas de
mortalidade por neoplasia de reto em todas as regiões brasileiras apresentaram
tendência de aumento ao longo do período de estudo, embora com ritmo de
crescimento bem menor. Em seus estudos, PINTO e CURI(21) e FARALDO et al.(11)
observaram um comportamento inverso, com percentual de variação negativa da
mortalidade por câncer de reto sigmóide/ânus, entre 1980 e 1985. SCHOTTENFELD e
WINAWER(27), nos Estados Unidos, também observaram decréscimo das taxas de
mortalidade padronizadas para a neoplasia de reto, incluindo a junção
retossigmóide tanto para homens, quanto mulheres brancas e negras,
particularmente naqueles com 70 anos ou mais.
PERCY et al.(20) assinalam que devido à inexatidão das declarações de óbitos,
as taxas de mortalidade para o câncer de cólon são geralmente superestimadas e
que os tumores de reto e retossigmóide são subestimados em aproximadamente 30%.
Segundo SCHOTTENFELD e WINAWER(27), essa seria uma importante causa da
tendência de declínio das taxas de neoplasia de reto nos Estados Unidos. Devido
a esses possíveis erros de classificação, RIES et al.(24) consideraram que não
seria apropriado analisar, separadamente, as taxas de mortalidade por
neoplasias de cólon e reto.
Na CID 10 ocorreu mudança na classificação desses tumores, sendo introduzida
uma categoria separada (C19) para as neoplasias da junção retossigmóide. Essas
alterações poderiam ter ocasionado subestimação das taxas de mortalidade do
triênio 1995-1997 neste estudo pois, a partir de 1996, essa edição da CID foi
utilizada para codificação dos óbitos do SIM/MS. Entretanto, observou-se
aumento das taxas de mortalidade de ambas as neoplasias nesse período.
As elevadas taxas de mortalidade por neoplasia de cólon e reto em algumas
capitais brasileiras e o incremento dessas taxas, entre os anos de 1980 e 1997,
colocam estas localizações neoplásicas em posição de destaque no quadro
epidemiológico do país, sendo importante a implementação de políticas públicas
de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento desses tumores e o estímulo a
estudos que analisem mais profundamente as diferenças observadas e os fatores
de risco e proteção associados ao seu desenvolvimento. As regiões sul e
sudeste, onde se observam as mais altas taxas de mortalidade, merecem atenção
especial.
CONCLUSÕES
As taxas de mortalidade padronizadas por câncer de cólon/reto apresentaram
importantes diferenças regionais e entre as capitais brasileiras, observando-se
taxas mais elevadas nas regiões sul e sudeste.
Todas as regiões apresentaram tendência de incremento das taxas de mortalidade
padronizadas por câncer de cólon/reto, no período 1980'1997.
O sexo masculino apresentou taxas de mortalidade padronizadas por câncer de
cólon/reto mais elevadas do que o feminino, nas capitais das regiões sul e
sudeste.
A análise isolada das taxas padronizadas de mortalidade por câncer de cólon e
de reto mostrou comportamento similar ao observado para o conjunto das duas
neoplasias, com magnitudes mais elevadas nas capitais das regiões sul e
sudeste, e tendência de incremento das taxas em todas as regiões.
Na maioria das capitais, as taxas de mortalidade padronizadas de câncer de
cólon apresentaram maior magnitude que as de reto.