Esofagite eosinofílica em 29 pacientes pediátricos
GASTROENTEROLOGIA PEDIÁTRICA PEDIATRIC GASTROENTEROLOGY
Esofagite eosinofílica em 29 pacientes pediátricos
Eosinophilic esophagitis in 29 pediatric patients
Cristina Targa FerreiraI, II; Mário C. VieiraIII; Sandra Maria Gonçalves
VieiraII; Giovana Stival da SilvaIII; Danielle Reis YamamotoIII; Themis
Reverbel da SilveiraII
IInstituto do Aparelho Digestivo, Porto Alegre, RS
IIHospital de Clínicas de Porto Alegre, RS
IIIHospital Pequeno Príncipe, Curitiba, PR
Corrrespondência
INTRODUÇÃO
Na última década, uma entidade clínico-patológica distinta, denominada
esofagite eosinofílica (EE), provavelmente imunomediada, tem sido
progressivamente descrita em crianças e em adultos(2). Embora o primeiro caso
de EE tenha sido publicado em 1978(23), as características clínicas e
histopatológicas dessa enfermidade só passaram a ser definidas na década de 90
(5, 25, 34).
A história natural ainda não está bem definida, mas os estudos de mais longo
prazo têm mostrado um curso persistente ou recurrente em mais de 90% dos casos
de EE(2, 4, 11, 25).
O tratamento clínico tem sido empírico, incluindo o uso de corticóides tópicos,
antagonistas de receptores dos leucotrienos, dietas de eliminação (fórmulas de
aminoácidos) ou dietas de restrição (exclusão de grupos de alimentos da dieta)
(2, 12, 20, 26).
As observações clínicas têm sugerido fortemente que essa é mais uma doença
alérgica, com vários pontos a serem esclarecidos e vários desafios a serem
vencidos.
Além do aumento da freqüência das alergias, mais do que dois terços dos artigos
sobre EE foram publicados nos últimos 3 anos. Sendo assim, é muito importante
que os pediatras estejam atualizados em relação à ela(12, 26).
O objetivo deste estudo foi apresentar 29 crianças e adolescentes com EE,
provavelmente a primeira série de casos pediátricos publicada no Brasil,
discutindo e revisando as características clínicas, o diagnóstico e a possível
evolução dessa entidade.
MÉTODOS
Trata-se de estudo observacional e descritivo que envolve pacientes
pediátricos, com diagnóstico de EE, atendidos em dois serviços de
gastroenterologia pediátrica das cidades de Porto Alegre, RS, e Curitiba, PR,
ambas localizadas na região sul do Brasil .
Os pacientes foram submetidos a endoscopia digestiva alta para investigação de
sintomas relacionados ao tubo digestivo superior, realizada sob anestesia geral
ou sedação profunda, com endoscópios flexíveis. Foram obtidas biopsias de
esôfago, antro e duodeno em todos os pacientes, já que é rotina em endoscopia
pediátrica, com fórceps de biopsias convencionais.
O diagnóstico de EE foi obtido através do estudo histológico das biopsias do
esôfago distal, que foram revisadas por um único patologista, em cada cidade, e
foram consideradas diagnósticas quando apresentavam mais de 20 eosinófilos por
campo de grande aumento, de acordo com o preconizado pela literatura(2, 12, 28,
31, 32). O número de eosinófilos foi obtido utilizando-se o critério de
contagem de seu número, superior a 20 por campo de grande aumento, na área de
maior concentração dos mesmos. Portanto, os pacientes foram recrutados após o
resultado das biopsias com contagem de eosinófilos.
A coloração usada foi hematoxilina-eosina em todas as biopsias. O diagnóstico
foi sempre histológico e realizado quando não havia infiltração eosinofílica
concomitante em antro e/ou duodeno.
Foram avaliados os sintomas de apresentação dos pacientes, os resultados das
endoscopias e das biopsias, o tratamento e a evolução, quando disponíveis.
RESULTADOS
Foram estudados 29 pacientes, 11 provenientes de Porto Alegre e 18 (62%) de
Curitiba, em um estudo colaborativo desses dois centros (Tabela_1).
As idades variaram de 1 a 18 anos, com mediana de 7 anos. Vinte e dois
pacientes eram do sexo masculino (76%).
Os sintomas mais freqüentes foram vômitos em 15 pacientes (52%) e dor abdominal
em 11 (38%). Todos os pacientes com 4 anos ou menos (nove) apresentavam recusa
alimentar e baixo peso. Os pacientes com mais de 8 anos apresentavam dor
abdominal e/ou disfagia e/ou impactação alimentar eventual (11). Aqueles com
idades entre 5 e 8 anos queixavam-se predominantemente de dor abdominal e/ou
pirose e/ou vômitos eventuais (nove), sendo que quatro deles apresentavam baixo
peso (Tabela_1).
Um paciente (de 8 anos) apresentou impactação alimentar muito sintomática e
teve que ser submetido a endoscopia de urgência para retirada de restos
alimentares e dilatação esofágica. Uma outra paciente de 17 anos, apresentou
exame radiológico sugestivo de acalásia da cárdia e episódios importantes de
impactação alimentar.
Um adolescente de 18 anos foi investigado e submetido a endoscopia com biopsias
após o diagnóstico do irmão, de 7 anos, pois apresentava sintomas semelhantes,
não investigados.
Os achados endoscópicos do esôfago incluíram estrias verticais em 14 pacientes
(48%), pontilhado branco em 12 (41%), anéis circulares concêntricos em 2 (7%) e
3 pacientes (10%) apresentavam erosão linear no esôfago terminal. Sete
pacientes não apresentavam anormalidades ao exame endoscópico (24%).
Dois pacientes (4 e 8 anos) apresentavam estenose de esôfago no momento do
diagnóstico e necessitaram submeter-se a dilatação esofágica. A paciente de 17
anos foi submetida a várias endoscopias por estar obstruída e com restos
alimentares no esôfago, necessitando dilatações esofágicas.
Todos os pacientes apresentavam média de 20 ou mais eosinófilos por campo de
grande aumento (média de 32/campo), com números que variavam de 20 a mais de
60/campo, no momento do diagnóstico.
Dezenove pacientes acompanhados, receberam tratamento inicial com fluticasona
tópica, que era administrada em dois jatos pela manhã e dois à noite, na boca,
com deglutição posterior e manutenção de jejum alimentar por, pelo menos 1 hora
de jejum após. Todos apresentaram boa resposta clínica imediata ao início do
tratamento. Doze pacientes receberam também inibidores de bomba de prótons
(IBP), omeprazol na maioria dos casos, previamente ou concomitante à
fluticasona.
Sete pacientes receberam indicação de restrição dietética, sem leite de vaca e/
ou derivados e carne vermelha, durante o tratamento. Um paciente, de 4 anos,
com dano neurológico, ficou 4 meses sob dieta com fórmula de aminoácidos por
sonda nasogástrica, com boa resposta clínica e histológica ao tratamento. Este
mesmo paciente teve recidiva dos sintomas e das alterações endoscópico-
histológicas, quando do retorno da dieta polimérica. Outro paciente, com dano
neurológico e gastrostomia, recebeu dieta com hidrolisado protéico, mas ainda
não teve acompanhamento clínico a longo prazo.
Onze pacientes foram submetidos a endoscopia de controle pós-tratamento, com
biopsias de esôfago. Todos apresentaram diminuição significativa do número de
eosinófilos por campo, sempre para menos do que 20 eosinófilos/campo (média de
4 eosinófilos/campo de grande aumento), com exceção de um paciente de 8 anos,
que permaneceu com 20 eosinófilos/campo na biopsia de controle.
Cinco dos pacientes desta série apresentam mais de 1 ano de evolução: o
paciente de 8 anos, com estenose, não apresentou recidiva da impactação
alimentar e da disfagia, durante 2 anos de acompanhamento. Os demais apresentam
episódios eventuais de dor abdominal. Esses pacientes apresentam alergia
respiratória, com episódios recurrentes de rinites e broncoespasmo. Os outros
pacientes ainda têm tempo curto de acompanhamento para que se possa especificar
a evolução em prazo mais longo.
Os pacientes em acompanhamento por tempo mais longo, tiveram boa resposta ao
tratamento inicial: ganho de peso ponderal, melhora do apetite, ausência de
sintomas de dor abdominal e desaparecimento da disfagia e impactação alimentar.
A paciente de 17 anos apresentou vários episódios de disfagia e impactação,
sendo submetida a endoscopia pelo menos 2 vezes por ano.
DISCUSSÃO
Este estudo abrange 29 casos de EE em crianças e adolescentes, provavelmente a
primeira série de pacientes pediátricos a ser descrita na literatura
brasileira, demonstrando a existência dessa enfermidade também em países em
desenvolvimento. FURTADO e HERCULANO Jr.(13) já descreveram 10 casos em
pacientes com idades entre 16 e 55 anos, em Fortaleza, CE.
A maioria dos pacientes desta casuística era do sexo masculino (76%), o que
está de acordo com a literatura, assim como os sintomas predominantes foram
também os mesmos descritos em outras publicações(2, 11, 25, 34). Os sintomas de
impactação alimentar e disfagia, mais freqüentes em crianças maiores e
adolescentes, observados na presente amostra, são os mais característicos e
devem suscitar a hipótese diagnóstica de EE.
EE é definida pela presença de grande número de eosinófilos no epitélio
escamoso esofágico, com sintomas esofágicos correspondentes(2, 12, 25, 34).
Acreditava-se que esta era uma entidade rara, mas progressivamente novos casos
foram sendo relatados, principalmente em países desenvolvidos, que se
acumularam na literatura médica(10, 11, 34, 36, 50).
Estudos clínicos têm sugerido que os distúrbios eosinofílicos, especialmente a
EE, estão aumentando em incidência(1, 9, 32, 47). Infiltração eosinofílica do
esôfago é observada em pacientes com refluxo gastroesofágico, reações a drogas,
infecções, gastroenterite e esofagite eosinofílicas(1, 19, 38). Os eosinófilos
são integrantes do sistema imune da mucosa gastrointestinal e as doenças
eosinofílicas do tubo digestivo são distúrbios primariamente alérgicos,
poligênicos, que envolvem mecanismos puramente mediados por IgE ou respostas
retardadas, celulares(1, 38). Estudos têm demonstrado o papel contributivo das
citocinas interleucina-5 (IL-5), eotaxinas, IL-4, IL-13 e STAT6, comprovando o
papel da resposta imune do tipo Th2 na patogênese da EE(1, 19, 36, 38, 41).
GUPTA et al.(17) sugerem que a EE é primariamente uma resposta Th2 seletiva de
IL-5, com possível componente Th1 e papel importante de substâncias
quimioatrativas de eosinófilos. A IL-5 tem importante função em regular a
produção, a diferenciação, o recrutamento, a ativação e a sobrevida dos
eosinófilos(1, 14, 19, 27, 41). BLANCHARD et al.(8) demonstraram que a
eotaxina-3 tem papel crítico como molécula efetora na EE. Como já é bem
conhecido que a EE e as síndromes hipereosinofílicas são freqüentemente
associadas com uma expressão aumentada da IL-5, a neutralização da IL-5,
através de anticorpos anti-IL-5 (mepolizumab) tem sido demonstrada como terapia
promissora no tratamento dessas entidades(42).
Os distúrbios eosinofílicos gastrointestinais (EE, gastroenterite eosinofílica,
colite eosinofílica) constituem um grupo de enfermidades caracterizadas por
sintomas gastrointestinais e infiltrado eosinofílico mucoso significativo(15,
16, 39). Embora a causa dessas doenças seja ainda desconhecida, muitos
pacientes respondem ao manejo nutricional, implicando as alergias alimentares
como fator associado importante(6, 39). A EE é uma entidade caracterizada por
sintomas esofágicos, semelhantes aos da doença por refluxo gastroesofágico e
importante eosinofilia esofágica, que não responde somente ao tratamento com
bloqueadores da secreção ácida gástrica(13, 16). Esse infiltrado inflamatório
eosinofílico não ocorre no estômago e no duodeno, nem em outras porções do
trato gastrointestinal. Utiliza-se esse critério diagnóstico de sintomas e
infiltrado eosinofílico esofágico, sem eosinofilia em mucosa antral e duodenal.
Normalmente, a mucosa esofágica não contém eosinófilos e a presença de mais do
que 20 eosinófilos por campo de grande aumento é considerada como marcador da
EE. Na esofagite de refluxo, o número habitual de eosinófilos é de
aproximadamente 1 a, no máximo, 10 eosinófilos por campo de grande aumento(11,
49). Pacientes com contagens entre 10 e 20 são considerados, muitas vezes, com
diagnóstico duvidoso, situação esta ainda controversa(11). ESPOSITO et al.(11)
relataram média de um eosinófilo por campo de grande aumento, variando de 0 a
13, em 198 crianças com esofagite de refluxo. Nesse estudo, apenas 4,5% dos
pacientes apresentavam mais do que cinco eosinófilos por campo. Já NGO et al.
(30)apresentaram três pacientes com mais de 20 eosinófilos por campo, que
responderam ao tratamento com IBP, configurando esofagite de refluxo e não-
eosinofílica. Esses autores(30) sugerem que antes do diagnóstico de EE, seja
feito tratamento com IBP, para excluir que os achados de eosinofilia na mucosa
esofágica sejam decorrentes de esofagite péptica, aspecto ainda discutido na
literatura atual. Provavelmente, a EE possa ser complicada ou potencializada
pela presença do refluxo concomitante e vice-versa, já que o infiltrado
eosinofílico causa dismotilidade esofágica(29). De qualquer maneira, aceita-se
atualmente que o diagnóstico seja estabelecido pelo número maior do que 20 de
eosinófilos intra-epiteliais por campo de grande aumento(18, 49).
Todos os pacientes desta casuística apresentavam mais de 20 eosinófilos por
campo e esse foi considerado o critério diagnóstico. Não se pode considerar a
não resposta ao IBP, pois vários pacientes receberam os dois tratamentos
simultaneamente.
Existem estudos atuais que avaliam a utilidade de outros parâmetros para
diferenciar EE de esofagite de refluxo(18). Assim, RAVELLI et al.
(37)demonstraram que a dilatação dos espaços intercelulares é um achado maior
em esofagites, independente da causa. Já STEINER et al.(44), estudando uma
coorte de pacientes pediátricos, encontraram que a hiperplasia das células da
camada basal é mais acentuada na EE do que nas esofagites de refluxo. KIRSCH et
al.(21) sugerem que a contagem de mastócitos intra-epiteliais e das células
produtoras de IgE da mucosa esofágica podem diferenciar EE e refluxo e talvez
definir um subgrupo de pacientes com doença do refluxo, no qual há componente
alérgico.
Os pacientes que receberam curso de esteróides inalatórios deglutidos,
apresentaram boa resposta clínica. Os que foram submetidos a endoscopias e
biopsias de controle apresentaram diminuição significativa do número de
eosinófilos (de uma média de 32 eosinófilos/campo para 4/campo). Se o estudo de
NGO et al.(30) vier a se confirmar, os critérios diagnósticos de EE deverão
mudar, mas até o presente momento todos os autores consideram o critério
histológico, com contagem do número de eosinófilos, como o mais importante.
Dietas de eliminação são muitas vezes inconvenientes e difíceis de serem
cumpridas, principalmente devido a palatabilidade e custos, em pacientes cujos
sintomas não são necessariamente incapacitantes. As dietas elementares podem,
muitas vezes, comprometer mais a qualidade de vida desses pacientes do que os
sintomas da própria doença. Além disso, os pacientes que são submetidos a dieta
de eliminação, apresentam recurrência dos sintomas quando voltam à dieta
polimérica, como aconteceu com um dos pacientes desta série. As dietas de
restrição podem ser uma alternativa, desde que haja identificação de alimentos
envolvidos em reações alérgicas, por testes cutâneos.
Existem estudos indicando que alérgenos respiratórios e de pele poderiam
contribuir como causa das EE, pois pacientes com esta enfermidade apresentam
doenças alérgicas respiratórias associadas(1, 33, 43). Nesses casos, seria
difícil excluir o alérgeno em questão.
Corticóides orais apresentam vários efeitos colaterais e complicações. O
inibidor de leucotrienos ' montelukast ', parece ter efeito protetor, mas a
recidiva é grande após sua retirada. O tratamento com esteróides tópicos parece
ser a alternativa mais segura e eficaz, ainda que a técnica de aplicação possa
gerar problemas(7, 24, 48).
Não há critérios objetivos para avaliar a resposta ao tratamento, os estudos
têm empregado acompanhamento clínico, subjetivo e endoscópico/histológico para
essa avaliação(50). Consideram-se os sintomas clínicos e a contagem de
eosinófilos pós-tratamento como marcadores de melhora.
KONIKOFF et al.(22) conduziram o primeiro estudo multicêntrico, prospectivo e
controlado por placebo, para determinar a eficácia do propionato de fluticasona
no tratamento da EE. Trinta e seis pacientes foram selecionados para receber
880 µg de fluticasona spray deglutido (21 pacientes) ou placebo (15 pacientes).
O desfecho do estudo foi remissão histológica, com um ou menos eosinófilo/campo
em todos os campos estudados. Cinqüenta por cento do grupo tratamento atingiu
remissão histológica, comparado com apenas 9% do grupo placebo. Eles notaram
que o tratamento com fluticasona diminuiu o número de linfócitos T CD8+ e dos
mastócitos no esôfago proximal e distal. Esse resultado foi mais proeminente
nos pacientes não-alérgicos e mais jovens. Esses autores concluíram que o
propionato de fluticasona spray deglutido é eficaz em induzir remissão
histológica em EE(22).
Não há relatos na literatura de risco de malignização ou evolução para doença
eosinofílica mais extensa(50). Na população adulta, a doença tende a ser
estável, sem efeitos significativos na morbidade e na mortalidade desses
pacientes(3, 35, 45). STRAUMANN et al.(45) relataram a história natural de 30
pacientes adultos, acometidos de EE, com média de idade de 41 anos. Todos
evoluíram clinicamente bem, sem perdas importantes de peso. Como 29 pacientes
haviam se apresentado com disfagia, 11 necessitaram novas dilatações, dos quais
10 tiveram diminuição ou cura da mesma. Em termos de qualidade de vida, apenas
1 paciente relatou impacto negativo na sua vida profissional, 14 não
apresentaram impacto significativo e 15 relataram influência menor da doença.
ESPOSITO et al.(11) acompanharam, por 4 anos, sete crianças com EE, com idades
entre 6 meses e 14 anos, todos tratados com fluticasona: dois apresentaram
recidivas em 1 ano e 4 anos pós-tratamento, que melhorou com um segundo curso
de medicação. Todos apresentaram crescimento normal. Dois pacientes não
seguiram o tratamento e por isso tiveram resposta endoscópica e histológica
inadequada.
Os pacientes desta casuística ainda apresentam pouco tempo de evolução de
doença. Todos eles, entretanto, apresentaram resposta clínica favorável ao
tratamento inicial com esteróides inalatórios deglutidos.
ORENSTEIN et al.(34) demonstraram que um terço dos pacientes ficaram
assintomáticos sem tratamento, enquanto LIACOURAS et al.(24) encontraram 50% de
recidiva após 1 ano de tratamento com corticosteróide oral.
Devido à história natural aparentemente benigna dessa entidade, na qual muitos
pacientes parecem não sofrer impacto significativo na qualidade de vida, as
terapias necessitam ser validadas em ensaios clínicos, com análise de custo-
benefício.
STRAUMANN e SIMON(46) apresentaram dados, em adultos, que mostraram real
aumento dessa enfermidade crônica e inflamatória do esôfago e salientaram que
ela pode, rapidamente, tornar-se tão freqüente quanto a doença inflamatória
intestinal, pelo menos nos países desenvolvidos. Não há dúvidas de que essa
doença está adquirindo papel muito importante em todo o mundo(40).
A patogênese, as causas, a história natural dessa doença e a resposta ao
tratamento em longo prazo ainda necessitam esclarecimentos, mas a EE, que pode
não ter sido valorizada no passado, certamente impõe-se como entidade própria,
constituindo-se atualmente em uma das mais prevalentes doenças esofagianas.
O presente estudo deve servir de motivação aos pediatras, para suspeitarem do
diagnóstico de EE e discutirem as modalidades de diagnóstico e terapêuticas,
aos endoscopistas, para coletarem biopsias de esôfago, mesmo na ausência de
anormalidades macroscópicas, e aos patologistas, para analisarem e
quantificarem a infiltração eosinofílica do esôfago.