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BrBRCVHe0004-28032008000400004

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variedadeBr
ano2008
fonteScielo

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Aplicação do escore MELD em pacientes submetidos a transplante de fígado: análise retrospectiva da sobrevida e dos fatores preditivos a curto e longo prazo ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE

Aplicação do escore MELD em pacientes submetidos a transplante de fígado: análise retrospectiva da sobrevida e dos fatores preditivos a curto e longo prazo

The application of MELD score in patients submitted to liver transplantation - A retrospective analysis of survival and the predictive factors in the short and long term

Ilka de Fátima Santana Ferreira BoinI; Marília Iracema LeonardiI; Elisabete Yoko UdoI; Tiago Sevá-PereiraI; Raquel Silveira Bello StucchiII; Luiz Sergio LeonardiIII IUnidade de Transplante de Fígado do Hospital de Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - FM-UNICAMP IIDepartamento de Clínica Médica FM-UNICAMP IIIDepartamento de Cirurgia da FM-UNICAMP Correspondência

INTRODUÇÃO O transplante de fígado vem sendo usado como terapia para doenças hepáticas terminais desde a década de 80, após sua aprovação pelo National Health Institute (EUA), em 1983. Desse tempo em diante, o número de transplantes de fígado no mundo tem aumentado e, conseqüentemente, constatou-se aumento na mortalidade nas listas de espera dos centros transplantadores em geral.

Uma estratégia utilizada, habitualmente, tem sido a utilização de doadores conhecidos como não ideais, limítrofes, com critério expandido ou marginais.

Doadores apresentando sorologias para hepatite B ou C, enxertos com esteatose em graus variáveis, doadores depois de parada cardíaca e enxertos provenientes de doadores idosos têm sido utilizados com resultados aceitáveis. Outra estratégia utilizada tem sido a aplicação de fígado bipartido e a doação intervivos.

Mesmo com a adoção destes novos critérios, observam-se ainda, mundialmente, altos índices de mortalidade em lista de espera.

Desde 1968 realizam-se transplantes de fígado no Brasil. O programa de captação de órgãos foi iniciado primeiramente em São Paulo, em 1991 e a distribuição era feita para as equipes credenciadas junto à Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo. Após este período, criaram-se as leis sobre a autorização familiar para fins de realização de transplante cadavérico e sobre o cadastramento de candidatos a receptores de fígado com doador cadáver(7, 8, 9, 10, 11).

Diversos escores médicos são usados como modelos de prognóstico de gravidade na literatura médica - alguns focalizam a saúde em geral e outros são específicos de algumas doenças. A classificação de Child-Turcotte modificada por PUGH et al.(42), em 1973, foi o modelo vigente até o final da década de 90 para a avaliação da doença hepática crônica. Recentemente, o escore MELD (Model End- Stage Liver Disease), foi descrito por MALINCHOC et al.(34), em 2000, como um modelo matemático capaz de predizer a sobrevida nos primeiros 3 meses em pacientes submetidos a colocação da derivação percutânea transjugular intra- hepática portossistêmica (TIPS).

FREEMAN e EDWARDS(21) conduziram um estudo e reportaram que o tempo em lista de espera não deveria ser o único critério utilizado para alocação de órgãos, pois não estaria relacionado com a mortalidade observada em lista; também referiram que havia evidência de que a sobrevida após transplante era menor em pacientes mais graves.

Em 2001, KAMATH et al.(30) relataram estudo validando o escore MELD como medida de risco de mortalidade para pacientes com doença hepática crônica em fase terminal e que poderia ser utilizado como ordenação de gravidade para alocação de órgãos. Outras publicações mostraram que a presença de hiponatremia e ascite persistente pode auxiliar a identificação de um tipo de paciente que apresenta alto índice de mortalidade a despeito de escores MELD, usualmente menores que 15(28).

Alguns autores, no Brasil, procuraram estudar a utilização desse critério de ordenação de gravidade, seja comparando a classificação de Child-Turcotte-Pugh (CTP) mostrando sua validade ou questionando a alocação de órgãos por lista única pela gravidade do doente com doença hepática crônica(6, 14, 36, 47, 48, 49, 50).

Segundo BAMBHA e KAMATH(3), a introdução do escore MELD tem melhorado a locação de órgãos para transplante de fígado. FREEMAN(22) e FREEMAN et al.(21, 23, 24) reportaram que houve na era pós-MELD 12% menos inscrições de pacientes com MELD menores do que 10. Houve aumento de 10,2% no número de transplantes realizados e diminuição de 3,5% de óbito em lista de espera.

O escore MELD foi maior na era pós do que na pré-MELD. Verificaram também que não houve diferenças estatísticas significantes quando se analisou a sobrevida pós-transplante de fígado, embora o paciente mais grave (conceito de "sickest first" (em pior estado clínico)), tivesse sido transplantado e o tempo de lista tenha sido reduzido de 656 para 416 dias(2, 3, 20, 21, 31).

Estudo de 105 pacientes com síndrome hepatorrenal sugere que o escore MELD pode ser bom preditor de mortalidade para pacientes com síndrome hepatorrenal tipo 2 em pacientes com MELD maior ou igual a 20(1, 2). A sobrevida em 3 meses foi maior que 90% para pacientes com MELD menor ou igual a 20 e de 60% para os com MELD maior que 20. O escore MELD mostrou-se como melhor preditor de sobrevida do que a falência renal isolada, provavelmente porque o modelo matemático abrange as avaliações hepática e renal concomitantemente.

Em 2006, o consenso nacional (MESSAGE) para estudos do escore MELD(4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 23, 25) não incorporou o sódio sérico ou a presença de ascite ao escore MELD.

FENG et al.(19), em estudo realizado em 20.023 transplantes de fígado, analisaram 90.882 doadores (UNOS/OPTN-USA)(18) em receptores adultos e identificaram fatores com significante risco de perda do enxerto. Por meio do modelo de regressão de Cox conseguiram identificar sete características que, independentemente, foram capazes de predizer riscos de falência de enxerto de modo significativo (idade do doador acima de 40 anos, doação após parada cardíaca, realização de bipartição do fígado, ser afro-americano, altura e causa da morte encefálica). Criaram um índice de risco do doador (IRD) que pode ser informado aos centros transplantadores.

SILBERHUMER et al.(48), em estudo retrospectivo, examinaram uma combinação entre o escore MELD, delta-MELD e doador com critério expandido (DCE).

Concluíram que o delta-MELD foi significantemente maior em pacientes que foram a óbito e, quando associado a pelo menos dois critérios expandidos, foi significantemente associado à falência do enxerto e óbito. Concluíram que receptores mais graves não devem receber órgãos de DCE.

Questionamento feito por CHOLONGITAS et al.(15) foi o fato de, estando o paciente mais grave em primeiro lugar em lista de espera, nem sempre receberá o melhor órgão e sim o que lhe for designado e certamente esta atitude não lhe dará a melhor chance de sobrevida. Descrevem ainda que o impacto da mortalidade foi avaliada em 15 estudos envolvendo 20.456 pacientes. Em 11 estudos (19.311 pacientes), observaram níveis de escore MELD entre 24-40, com baixa probabilidade de sobrevida(24).

No Brasil a ordenação do critério MELD foi feita em maio de 2006(8), mas a análise do presente estudo foi proposta para os pacientes submetidos a transplante antes da Portaria Ministerial 1160/GM.

O objetivo deste estudo foi verificar a aplicação do escore MELD como predição da sobrevida após o transplante.

MÉTODOS A presente investigação foi realizada por intermédio de um banco de dados coletados prospectivamente. Trata-se de estudo de coorte longitudinal retrospectivo, feito em um único centro, com 312 transplantes de fígado realizados em 290 pacientes na Unidade de Transplante Hepático do Hospital de Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, Campinas, SP, no período de junho de 1994 a julho de 2006.

População de estudo Os pacientes incluídos, independentemente da raça ou do sexo, eram adultos (maiores de 18 anos) e foram submetidos a transplante de fígado pela técnica de preservação da veia cava do receptor ("piggy-back"), independentemente do tipo de reconstrução venosa supra-hepática realizada.

Dentre os 312 transplantes de fígado excluíram-se os 22 retransplantes realizados. Dos 290 pacientes foram excluídos 58 (crianças, insuficiência hepática fulminante, uso de técnica tradicional, uso de enxertos duplos, dextrocárdicos e uso de enxertos reduzidos).

Os 232 pacientes foram estudados desde a inclusão na lista e realização do transplante, sendo os mesmos acompanhados no Ambulatório da Unidade de Transplante Hepático da instituição até a ocorrência do óbito ou por solicitação de transferência para outro centro transplantador.

Todos receberam o enxerto hepático de doadores cadáveres. A distribuição vigente foi por ordem cronológica de inscrição, segundo as portarias ministeriais vigentes até julho de 2006.

As variáveis coletadas do doador, fornecidas pela Organização de Procura de Órgãos (OPO-UNICAMP), foram: sexo, idade (anos), raça, peso (kg), altura (cm), tipo sangüíneo, tempo de tubagem orotraqueal (horas), valor da creatinina sérica (mg/dL), valor da bilirrubina total sérica (mg/dL), valor do sódio sérico (mEq/L), valor da aspartato aminotransferase (AST) sérica em UI/L, antecedente de alcoolismo (sim ou não), antecedente de infecção na internação que precedeu a morte encefálica (sim ou não), antecedente de parada cardiorespiratória (PCR) na internação que precedeu à morte encefálica (sim ou não), antecedente de hipotensão arterial na internação onde ocorreu a morte encefálica (sim ou não), causa da morte encefálica, local de retirada e distância (km) até o centro transplantador, presença de esteatose macro ou microgoticular (a biopsia hepática foi realizada quando a macroscopia indicava alguma alteração) e número de critérios expandidos.

As variáveis pré-operatórias do receptor, anotadas imediatamente antes da realização do transplante, foram: sexo, idade, peso (kg), altura (cm), IMC (índice de massa corporal em kg/m2), doença, CTP e data da cirurgia. Os valores a seguir foram os da data da inclusão do paciente em lista e aqueles imediatamente anterior à cirurgia do transplante: international normalized ratio (INR) bilirrubina total sérica (mg/dL), valor da creatinina sérica (mg/ dL), depuração de creatinina estimada (mL/minuto/1,73 m2), sódio sérico (mEq/ L), glicemia (mg/dL), albumina (g/dL). Calculou-se o escore MELD na data de inclusão do paciente em lista e imediatamente antes do transplante.

As variáveis intra-operatórias do receptor foram: a) em minutos: tempo de isquemia quente, tempo de isquemia fria, tempo da hepatectomia e tempo de cirurgia; b) em unidades transfundidas: concentrados de hemácia, plasma fresco congelado, plaquetas, albumina, crioprecipitado e sangue recuperado (mL).

As variáveis pós-operatórias do receptor foram: tempo de estadia na UTI (dias), tempo de tubagem orotraqueal (horas), tempo de internação hospitalar (dias), valor máximo da creatinina sérica nos primeiros 7 dias (mg/dL), depuração de creatinina referente a este valor, valor máximo de alanino aminotransferase (ALT) nos primeiros 7 dias (UI/L), valor máximo de INR nos primeiros 7 dias, realização ou não de retransplante, grau de disfunção do enxerto, presença ou não de falência primária do enxerto, causa da morte e registro da data da última visita até 30 de dezembro de 2006 ou do óbito.

Definição de conceitos a) Escore MELD O escore MELD foi calculado segundo a fórmula abaixo, disponível em: http:// www.unos.org/resources/MELDPeldCalculator.asp {0,957 x log e [creatinina (mg/dL)] + 0,378 x log e [bilirrubina (mg/dL)] + 1,120 x log e (INR) + 0,643} * 10 Os receptores foram analisados em dois grupos acima ou igual a MELD 25 e acima ou igual a MELD 20 para efeito de análise e correlação com outras variáveis.

b) Delta-MELD O escore delta-MELD(17, 21) foi definido como sendo o valor do MELD calculado na data da cirurgia do transplante de fígado subtraído do valor do MELD na época da inscrição do paciente na Central de Transplante da Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo.

c) Depuração de creatinina A depuração de creatinina foi calculada segundo a fórmula de COCKCROFT e GAULT (16) = [{140-idade (anos)} x peso (kg) / 72 x creatinina sérica (mg/dL)] x 0,85 (para mulheres), medida esta expressa em mL/min/1,73m2.

d) Classificação de Child-Turcotte-Pugh (CTP) Utilizou-se a classificação de Child-Turcotte, modificada por Pugh et al. em 1973(43), para a colocação dos pacientes em lista única de espera de transplante de fígado(7).

e) Hiponatremia Foi definido como hiponatremia a concentração de sódio sérico igual ou inferior a 130 mEq/L, de acordo com a classificação do Clube Internacional de Ascite (32).

f) Graus de disfunção do enxerto Foi considerado como PCR o paciente que foi a óbito durante a realização do transplante de fígado, independente da causa. Foi considerado como falência primária do enxerto o paciente que foi a óbito nos primeiros 7 dias, segundo o conceito da UNOS (United Network Organ Sharing)(18), que a define como presença de AST maior que 5000 UI/L e INR maior ou igual a 2,5 ou acidose (pH <7,30 - arterial ou pH <7,25 - venoso) ou lactato maior ou igual a 4 mMol/L). Foi considerado como disfunção primária do enxerto o paciente que apresentou disfunção grave do enxerto e que foi a óbito nos primeiros 30 dias. Foi considerado como disfunção do enxerto (DF) o paciente que apresentou dosagem sérica de ALT acima de 1000 UI/L (DF1); DF2 quando a ALT ficou entre 1001 UI/ L e 2499 e DF3 quando a dosagem foi maior que 2500 UI/L. Esta classificação foi adaptada dos critérios de HEISE et al.(27), em 2003.

g) DCE DCE ficou como sendo o número de variáveis do doador fora do padrão ideal(12) proposto por SILBERHUMER et al.(48), que variaram de 1 até 5.

h) IRD Utilizou-se o IRD relatado por FENG et al.(19), que leva em consideração o tempo de isquemia fria, a causa da morte do doador (traumática, anóxica, acidente vascular hemorrágico e outras; a idade, altura, distância da cidade de procedência e raça do doador (branca, negra e outras)). Foram agrupados em intervalos de risco, relacionados à probabilidade de sobrevida, conforme citação dos autores, em intervalos: IRD menor ou igual a 1,20; entre 1,21 e 1,40; entre 1,41 e 1,60; entre 1,61 e 1,80; maior que 1,81 e o ponto de corte foi 1,7, de acordo com MALUF et al.(35).

Para estudo da probabilidade de sobrevida, a idade ideal considerada 50 anos, utilizando como referência HOOFNAGLE et al. (29).

A anestesia utilizada foi geral, endovenosa, com ventilação controlada mecânica e monitorização hemodinâmica contínua, de acordo com o protocolo do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP.

O protocolo de imunossupressão utilizado foi o esquema tríplice com: a) inibidores de calcineurina: ciclosporina A na dose de 4-8 mg/kg/dia em duas doses diárias, procurando-se alcançar níveis entre 200-400 ng/mL nos primeiros 3 meses, 150-300 ng/mL até o mês e de 80-150 ng/mL após o transplante ou tacrolimus na dose de 0,1 mg/kg/dia, em duas doses diárias, procurando-se alcançar níveis entre 8-12 ng/mL nos primeiros 6 meses e entre 5-10 ng/mL após; b) inibidores da síntese de purina: azatioprina 50 mg/dia (usada até 1999), micofenolato mofetil na dose de 1000 a 2000 mg/dia após 2000 e micofenolato sódico na dose de 720 a 1480 mg/dia, após 2006; c) corticoesteróides: metilprednisolona 1,0 g após a reperfusão, 200 mg no dia, 100 mg no segundo e redução até 20 mg até o dia e manutenção desta dose até o 30º dia, 15 mg até o 60º dia, 10 mg até o 90º dia pós-operatório e retirada do medicamento, com exceção dos pacientes com doença auto-imune.

Análise estatística A caracterização das variáveis dos casos da amostra encontra-se na Tabela_1. A curva ROC ("receiver operating characteristic curve") foi utilizada para se verificar o poder de discriminação do escore MELD, delta-MELD, e CTP para a predição de mortalidade. Para se verificar associação ou comparar proporções foi utilizado o teste do Qui ao quadrado ou teste exato de Fisher, quando necessário.

O estudo dos vários fatores associados ao óbito foi realizado por meio da análise de regressão logística (modelo logito). Inicialmente, foi realizada análise univariada de cada um dos fatores de interesse, previamente selecionados por sua importância clínica e a seguir foi feita análise múltipla, usando-se o critério passo a passo.

A análise da sobrevida foi realizada utilizando-se o método de Kaplan-Meier e a comparação entre as distribuições foi realizada usando-se o teste log-rank.

Utilizou-se a análise de regressão de Cox para a variável tempo de sobrevida ajustada para as condições clínicas. O nível de significância (P) adotado em todas as análises foi de 5%. Foi utilizado o programa Statistica 7.0 (2005) - EUA para a realização dos testes estatísticos e gráficos.

RESULTADOS Dos 232 pacientes, 170 (73,3%) eram homens e 62 (26,7%) mulheres, com idade média de 46,4 ± 10,3 anos. A hepatite por vírus C foi a causa mais freqüente (119 = 51,1%). A maioria (83,6%) dos pacientes apresentou IMC <30. A causa da morte encefálica do doador foi traumática em 123 (53,1%), seguida do acidente vascular cerebral hemorrágico em 84 (36,2%). Detectou-se que 13 (6,9%) pacientes necessitaram de retransplante.

A utilização da curva ROC mostrou que as variáveis MELD e delta-MELD não foram boas para discriminar significantemente os que sobreviveram, daqueles que foram a óbito no período pós-operatório. O que se pode observar é que o ponto de corte (índice de Youden) foi 20 para MELD, >-1,5 para delta-MELD, significando que quanto maior o valor, maior é o risco de óbito. Apenas o escore Child-Pugh (corte >11,5) foi capaz de diferenciar significantemente um grupo do outro (P = 0,02).

A influência do número de critérios expandidos do doador sobre a presença de disfunção ou falência do enxerto encontra-se na Figura_1.

Após análise de regressão univariada, verificou-se que os pacientes com maior risco de óbito foram: os que receberam maior quantidade de hemácias (a cada unidade de hemácias o risco de óbito aumenta 6% ou 1,06 vezes), menor valor de depuração de creatinina (a cada unidade, o risco de óbito diminui 2%), maior valor de ALT após o transplante (a cada 1.000 UI/L de ALT o risco de óbito aumenta 24%) e maior idade do doador (receptores de doadores com 50 ou mais anos de idade têm risco 5 vezes maior de óbito).

A seguir, efetuou-se um modelo múltiplo com as variáveis de hemoderivados e, pelos resultados, verificou-se influência significativa apenas da variável quantidade de hemácias transfundidas em relação ao óbito (P = 0,001; OR = 1,14; IC = 1,06-1,22).

Pela análise da regressão de Cox para a variável dependente 'tempo de sobrevida', estratificada para variável sódio menor ou igual a 130 mEq/L, pode- se observar que para cada unidade a mais de hemácias transfundida a razão de risco aumenta 4%. Para cada 1.000 mL de sangue recuperado o risco aumenta 8,5%.

Para cada 1.000 UI/L de ALT o risco aumenta 8%.

Pela análise de regressão de Cox para a variável dependente 'tempo de sobrevida', estratificada para a variável MELD acima ou abaixo de 20, pôde-se observar que para cada unidade a mais de hemácias transfundida a razão de risco aumenta 5,2%. Para cada 1 000 mL de sangue recuperado o risco aumenta 9,5%.

Para cada 1.000 UI/L de ALT o risco de óbito aumenta 5,4% e para cada unidade a mais de sódio do doador o risco aumenta 2,1%. (χ2 = 99,659; P <0,0001).

Observou-se que apresentaram menor sobrevida: os pacientes com MELD igual ou maior que 25, os pacientes hiponatrêmicos, os receptores com IRD estratificado maior de 1,7 e aqueles que utilizaram doadores acima de 50 anos (Figuras_2_a 5).

DISCUSSÃO Os resultados obtidos neste estudo mostraram que a causa mais freqüente das doenças hepáticas que levaram ao transplante foi a hepatite por vírus C. A idade média observada foi de 46,4 anos, com predominância do sexo masculino (73,28%). A mortalidade ocorreu mais entre as mulheres. MACHICAO et al.(33) admitem também que a incidência mais freqüente foi de pacientes com hepatite C, do sexo masculino e com idade média semelhante entre os pacientes submetidos a transplante de fígado.

FENG et al.(19) relataram um estudo realizado em 20.023 transplantes de fígado e analisaram 90.882 doadores (UNOS/OPTN-USA)(18, 40) em receptores adultos e identificaram fatores com significante risco de perda do enxerto. Criaram IRD, que pode ser informado aos centros transplantadores e possibilitar melhores alocações minimizando a morbidade e a mortalidade dos receptores.

Neste estudo, a maior causa de mortalidade do doador foi o trauma cranioencefálico (53,03%), seguido de acidente vascular cerebral hemorrágico (36,20%). A cidade de procedência do doador variou e observou-se que a captação local foi baixa, devendo ser estimulada tanto a notificação, quanto a busca ativa para que estes índices possam ser melhorados. Quando se procede à captação em cidades mais longínquas, obtém-se, proporcionalmente, maior tempo de isquemia fria. Neste estudo o uso de doadores com IRD maior que 1,7 resultou em menor sobrevida. Entretanto, não foi observada diferença quando este índice foi associado à estratificação do escore MELD.

Na presente série, o uso de doadores com 50 anos ou mais aumentou o risco de óbito em 5 vezes na análise univariada. Mesmo sabendo do risco do uso de doadores 'idosos', observou-se na literatura o uso dos mesmos e afirmação indubitável é que, o fundamental para alocação de órgãos em transplante, permanece sendo a necessidade de doadores para que os mesmos ocorram.

Em alguns estudos observa-se que a sobrevida declina rapidamente durante o ano após o transplante e se mantém em um patamar após este período(26), sendo de 83% ao final de 12 meses, de 72% após o ano e 58% ao final de 10 anos e a sobrevida para os pacientes com escore MELD acima de 36, ao final do 10º ano, foi de 40%(22, 23, 24, 25, 26, 27). No Brasil a sobrevida tem sido menor e isto pode ser devido ao expressivo número de doadores com critérios expandidos utilizados(45).

No presente estudo, o escore MELD médio e a pontuação de Child-Pugh, e o tempo de isquemia fria foram semelhantes aos encontrados na literatura(26, 44), sendo observado que os pacientes de MELD menor que 25 apresentaram maior tempo de sobrevida.

RUSSO(46) ressaltou, analisando alguns trabalhos(4, 5, 28), que o sódio sérico, independentemente, foi fator de risco para mortalidade em análise multivariada.

Em relação à hiponatremia, observou que os pacientes hiponatrêmicos apresentam menor sobrevida a curto e a longo prazo.

MACHICAO et al.(33) afirmaram que a implementação do escore MELD não teve influência significante para se verificar a ocorrência de falência renal (depuração de creatinina abaixo de 60 mL/min/1,73 m2) nos primeiros 2 anos após transplante de fígado, mesmo utilizando receptores com níveis de creatinina mais altos do que na era pré-MELD.

Neste estudo, utilizando os critérios propostos por PARAMESH et al.(41), verificou-se não haver diferença estatisticamente significante em relação à sobrevida, entre pacientes com ou sem disfunção renal.

A prevenção de perda excessiva de sangue é um importante objetivo durante a realização de transplante de fígado, em conseqüência da associação com prolongada recuperação, aumento da morbidade e diminuição da sobrevida. Embora transfusões maciças ainda aconteçam, 10% a 50% das cirurgias de transplante cursam sem requerer transfusões de sangue(13, 37, 38, 39, 43). No presente estudo, 8,62% dos pacientes não foram submetidos a transfusão sangüínea durante a realização do transplante de fígado.

A transfusão de mais de seis unidades de concentrados de hemácias tem sido relacionada à reduzida sobrevida após o transplante de fígado(43). É notória a associação de politransfusão e complicação pós-operatória, mas poucos estudos têm demonstrado a associação de número de concentrados de hemácias transfundidas como fator preditivo de sobrevida.

XIA et al.(51) estudaram retrospectivamente um grupo de 124 pacientes submetidos a transplante e concluíram que aqueles com escores MELD altos exigiram maior quantidade de hemoderivados e vasopressores. A média do escore MELD obtido pelos autores foi de 22 (no grupo que foi politransfundido) e de 13 (no grupo sem politransfusão). As morbidades associadas à politransfusão foram a presença de síndrome hepatorrenal, de ascite, de encefalopatia e de varizes esôfago-gástricas.

Nesta série observou-se que os pacientes submetidos a politransfusão apresentaram menor sobrevida, incluindo aqueles que utilizaram a recuperação sangüínea autóloga. É interessante esta observação, que com a aplicação do escore MELD trabalha-se com doentes cada vez mais graves e sujeitos a esta intercorrências clínicas.

O uso do critério MELD é interessante na alocação de órgãos num sistema que envolve grande número de equipes transplantadoras e número significativo de pacientes em lista de espera. Observa-se que os pacientes hiponatrêmicos, não sendo contemplados com situação especial, terão menor sobrevida tanto em lista de espera, conforme relatado na literatura, assim como após a realização do transplante.

A utilização de receptores mais graves associada a doadores com critério expandido, podem levar a menor sobrevida e talvez a utilização do IRD seja útil para melhorar a alocação dos órgãos disponíveis.

Concluindo, observou-se que, embora se tenha estudado e analisado vários parâmetros dos doadores e dos receptores, quanto mais grave o receptor, maiores chances de morbidade e mortalidade deverão ser previstas e coibidas. No Brasil, além da escassez de doadores, pode-se utilizar número substancial de doadores com critérios expandidos. A adição desses critérios tem aumentado o potencial de doação de órgãos, mas torna necessário ajuste entre a oferta de doadores com muitos critérios expandidos a receptores mais graves. A transfusão maciça deve ser evitada, o uso de doadores idosos deve ser criterioso e os pacientes hiponatrêmicos devem ser contemplados com algum tipo de bonificação.


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