Construindo caminhos para a troca de saberes: produção e incorporação de
tecnologias apropriadas
RELATO DE EXPERIÊNCIA
ENSINO
Construindo caminhos para a troca de saberes: produção e incorporação de
tecnologias apropriadas
Maria Lígia Mohallem CarneiroI; Eliane Marina Palhares GuimarãesII; Salete
Maria de F. Silqueira de ResendeIII; Andréia Rodrigues MoreiraIV
IEnfermeira, Professora Adjunto I do Departamento de Enfermagem Materno-
Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de
Minas Gerais/UFMG. Coordenadora do Subprojeto Produção e Incorporação de
Tecnologias Apropriadas do Pólo de Capacitação, Formação e Educação Permanente
de Pessoal para Saúde da Família da UFMG. Doutora em Enfermagem
IIEnfermeira, Professora Assistente III do Departamento de Enfermagem Aplicada
da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG.
Coordenadora do Centro de Tecnologia Educacional da EEUFMG. Integrante do Sub-
Projeto Produção e Incorporação de Tecnologias Apropriadas do Pólo de
Capacitação, Formação e Educação Permanente de Pessoal para Saúde da Família da
UFMG. Doutoranda pela EEUSP/Ribeirão Prêto-SP
IIIEnfermeira, Professora Auxiliar II do Departamento de Enfermagem Básica da
Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG. Sub-
Coordenadora do Centro de Tecnologia Educacional da EEUFMG. Integrante do Sub-
Projeto Produção e Incorporação de Tecnologias Apropriadas do Pólo de
Capacitação, Formação e Educação Permanente de Pessoal para Saúde da Família da
UFMG. Mestranda pela EEUFMG
IVAcadêmica de Enfermagem do VI Período do Curso Graduação da EEUFMG. Bolsista
de Extensão do Pólo de Capacitação, Formação e Educação Permanente de Pessoal
para Saúde da Família da UFMG
INTRODUÇÃO
O Pólo de Capacitação, Formação e Educação Permanente de Pessoal para Saúde da
Família (PCFEP-SF) da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, foi criado a
partir do convênio 2229/98, celebrado com o Ministério da Saúde. Suas
atividades têm como objetivo principal de apoiar a implementação do Programa de
Saúde da Família no Estado de Minas Gerais, atuando na formação de recursos
humanos e no desenvolvimento de novas tecnologias na assistência, no ensino e
na educação permanente dos profissionais das equipes de saúde da família
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, 1997). O trabalho realizado pelo Pólo é
implementado através de cinco (5) Sub-Projetos, articulados entre si e
coordenados por docentes da Escola de Enfermagem e Faculdade de Medicina da
UFMG. Entre eles, encontra-se o Subprojeto "Produção e Incorporação de
Tecnologias Apropriadas", cujas experiências estão relatadas neste artigo. Este
Sub-Projeto tem como objetivos desenvolver, incorporar e disseminar
tecnologias, metodologias de trabalho e conhecimentos relacionados à estratégia
de saúde da família; estabelecer pontes com os demais Sub-Projetos do Pólo,
atendendo suas demandas específicas, além de congregar as Unidades Acadêmicas
da UFMG, e seus órgãos complementares. Suas atividades não têm um fim nelas
mesmas; por sua natureza, elas são meio que viabiliza a consecução de objetivos
dos demais Sub-Projetos do Pólo. Uma de suas principais pontas de lança é a
criação de "infovias" para possibilitar o acesso à informação e a construção
coletiva do saber (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, 1998).
PRODUÇÃO E INCORPORAÇÃO DE TECNOLOGIAS: UM DESAFIO NA EDUCAÇÃO PERMANENTE EM
SAÚDE
A organização da sociedade tem se dado por transformações significativas
evidenciadas nas mudanças dos processos de trabalho e nos modos de
relacionamento dos homens entre si e com o ambiente em que vivem. Estas
transformações advêm, entre outras causas, da produção e incorporação de
tecnologias nos vários campos da ciência, não só no que se refere ao seu
resultado, como nas formas de produzi-lo, ganhando expressiva modificação, em
especial, na automação dos processos e na homogeneização do produto. A despeito
das transformações decorrentes das mudanças tecnológicas, há que se considerar
os aspectos culturais arraigados no cotidiano das pessoas, que se mostram sob a
forma de resistência às inovações. Este comportamento limita a possibilidade de
ampliação das formas de produção e incorporação de saberes. Limitação que
transita também pela dificuldade do trabalho interdisciplinar, visto que o
mesmo exige uma"des"construção de práticas e de saberes, visando sua construção
coletiva.
Na área da saúde, a produção do saber tem ocorrido de forma fragmentada,
levando em conta as características de complementaridade intrínsecas do ato de
cuidar e os diversos profissionais nele envolvidos. No tocante à atenção básica
de saúde, a preocupação com a incorporação tecnológica tem raízes históricas,
onde o fator tecnologia é relevante, "uma vez que responde a questões de 'como,
para que, para quem, por quanto, por quem' serão executadas as ações de saúde"
(Paim, 1981, p. 80). Especificamente no âmbito da enfermagem brasileira, as
preocupações com a adequação da tecnologia à realidade brasileira remontam de
1981, quando um dos temas centrais do 33º Congresso Brasileiro de Enfermagem
discutiu a tecnologia apropriada no âmbito da atenção básica de saúde, sua
importância, dinamicidade e determinações sociais, políticas, econômicas e
culturais. Empregála como instrumento de educação permanente em saúde tem sido
vivenciado, por nós, como um processo desafiante. SegundoDavini & Roschke,
(1994) educação permanente em saúde "supõe mudança radical nas práticas de
pensar, projetar e realizar a educação. Mais ainda, supõe assumir
solidariamente com as instituições de saúde, as múltiplas dimensões de seu
processo de transformação" (p.141). Tudo o que até agora foi feito e projetado
nas atividades do Sub-Projeto, vem permeado pela constante indagação: como
adequar tecnologias num processo que exige mudanças nas formas de pensar e
fazer, no contexto de uma estratégia como a de saúde da família, que exige
rupturas e construção de novos paradigmas em saúde e educação?
RESULTADOS
Após a constituição do grupo de trabalho, as atividades do Sub-Projeto foram
projetadas considerando os dados obtidos através de levantamento de recursos
institucionais-potencial humano e tecnológico da Escola de Enfermagem, da
Faculdade de Medicina e de toda a UFMG para serem "polarizados" nas atividades
do Pólo e de recursos comunitários, onde as equipes de saúde da família haviam
sido implantadas Também foram levantadas as demandas dos demais Sub-Projetos em
relação à incorporação e/ou produção de tecnologias. Concomitante a estas
atividades, foi criado um banco de dados de pessoas, instituições, demais Pólos
e projetos para estabelecimento de contatos e parcerias. As demais atividades
foram:
- a criação da logomarca, do folder e do endereço eletrônico do Pólo:
secretaria@polopsf.ufmg.br. Para viabilizar esta atividade, foi adquirido um
servidor próprio para o Pólo;
- criação dahome-page do Pólo (http//www.polopsf.ufmg.br), como espaço para
divulgação de todos os eventos e cursos oferecidos pelo Pólo, dando acesso
aoslinks de instituições parceiras. Sua principal finalidade entretanto, é ser
o espaço para a realização da consultoria a distância, mencionada no próximo
item;
- iniciada em outubro de 1999, a consultoria a distância já está disponível e
amplamente divulgada. As consultas formuladas são enviadas para oe-mail
eadcons@polopsf.ufmg.br e direcionadas para os consultores docentes da Escola
de Enfermagem, Faculdade de Medicina, Hospital das Clínicas, bem como das
demais Unidades Acadêmicas da UFMG, com o intuito de formar e consolidar o
grupo de editores e consultores do Pólo. A incorporação desta nova forma de
construir e trocar conhecimentos e saberes, tem sido um dos maiores desafios
deste Sub-Projeto. Apesar de todos os esforços, sua incorporação tem sido mais
lenta do que a esperada. Para sistematizar o acesso à consultoria, sete (7)
áreas temáticas principais foram criadas: 1) Saúde da Criança e do Adolescente,
2) Saúde do Adulto e do Idoso, 3) Saúde da Mulher, 4) Saúde Mental, 5) Clínica
Cirúrgica, 6) Saúde Coletiva/Gerenciamento de Serviços de Saúde e 7) Atenção às
Doençãs Transmissíveis/DST.
PERSPECTIVAS DE NOVAS ATIVIDADES
Em integração com os Sub-Projetos "Capacitação de Profissionais de Nível
Universitário" e "Capacitação de Pessoal de Nível Médio", após levantamento das
demandas educacionais dos alunos egressos dos Cursos Introdutórios e de
Especialização em Saúde da Família já ministrados pelo Pólo, o Sub-Projeto vai
implementar um Programa de Educação Permanente.
Pretende-se incluir nahome-page um texto informativo mensal -Tema em Debate,
para discussão. O mesmo será elaborado a partir das demandas dos usuários, de
acordo com as questões abordadas com maior freqüência pelos mesmos nas
consultorias. Este texto será elaborado por docentes e/ou acadêmicos da
Universidade. O tema mais discutido, a cada mês, dará origem a mais um recurso
nahome-page: oFAQ - Frequently Asked Questions.
Outras perspectivas de atuação do Sub-Projeto são:
- contactar periódicos da área de saúde visando a publicação de encartes ou
edições especiais para divulgar a produção científica do Pólo;
- contactar os órgãos de pós-graduação das Unidades Acadêmicas da UFMG, visando
a criação de núcleos e linhas de pesquisa na área de saúde da família.
CONCLUSÃO
Na sua concepção essencial, o Pólo de Capacitação, Formação e Educação
Permanente de Pessoal para Saúde da Família da UFMG está voltado para fazer
acontecer mudanças no modelo da atenção a saúde, capazes de impactar a
implantação do Sistema Único de Saúde- SUS. No que concerne à formação e
capacitação de pessoal, é necessário que as ações ocorram na direção de se
construir novas formas de se lidar com o conhecimento, o que inclui, de modo
marcante, o espaço transdisciplinar e não tradicional para a produção e
incorporação do saber. A denominação"Construindo Caminhos para a Troca de
Saberes "traz a conotação de que o conhecimento não pressupõe o ensino
livresco, deslocado da realidade do educando, nem o coloca na condição passiva
de receptor de informações. Ele, a clientela que atende, as suas vivências
dentro e fora da Universidade, são produtoras do conhecimento que deve ser
compartilhado e refletido. É com esta filosofia que o Sub-Projeto "Produção e
Incorporação de Tecnologias Apropriadas" tem procurado pautar suas atividades.