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BrBRCVHe0034-71672003000400031

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variedadeBr
ano2003
fonteScielo

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Como será o amanhã? responda quem puder! perspectivas de enfermeirandos quanto ao seu futuro profissional PÁGINA DO ESTUDANTE

Como será o amanhã? responda quem puder! perspectivas de enfermeirandosquanto ao seu futuro profissional

What will our future look like? answer me, if you can! perspectives from nursing students for their future professional lives

?Cómo será el mañana? !responda quien pueda! perspectivas de estudiantes enfermeros respecto a su futuro profesional

José Gilmar Costa de Souza JúniorI; Aracele Tenório de Almeida CavalcantiI; Estela Maria Leite Meireles MonteiroII; Maria Inês da SilvaIII IGraduando do Curso de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças da Universidade de Pernambuco IIMestre em Enfermagem em Saúde Pública pela UFPB, Docente da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças da Universidade de Pernambuco e Enfermeira do HUOC-PE IIIEspecialista em Enfermagem Médico Cirúrgica pela UFPE, Docente da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças da Universidade de Pernambuco, E-mail:

1 Introdução Em 1633, na França, foi fundada pela irmã Luiza de Marilac e pelo padre Vicente de Paulo, a companhia das irmãs de caridade de São Vicente de Paulo, primeiro local onde se formulou regras de um cuidado que hoje seria denominado de Enfermagem. O trabalho desenvolvido pelas irmãs era tão caridoso e reabilitador que logo se difundiu pelo mundo, dada a enorme influência religiosa que pesava sobre a ocupação. Eram dominantes no espaço hospitalar e decidiam quando a presença do médico era necessária ou não, que a esta altura do século XVII este era considerado apenas um coadjuvante. A Enfermagem, mesmo não conhecida como, ganhava espaço, e aquela arte pregada pela companhia ganhava seguidores, entre eles, a célebre Florence Nightingale(1).

Hoje no "mundo do trabalho" passa-se a exigir do profissional Enfermeiro, determinadas qualidades, essenciais ao contexto sócio-cultural e filosófico de um novo tempo, gerando um processo desencadeador de mudanças e reflexão, quanto ao processo educacional de formação em todas as etapas de ensino, principalmente no ensino superior, que culmine com a formação do profissional que irá desenvolver suas potencialidades através da apropriação crítica e reflexiva do conhecimento teórico-prático, a partir de atitudes e ações criativas transformadoras, comprometidas com sua função social(2).

Em diversos momentos ressalta-se que estudantes recém graduados experimentam o conhecido "conflito de identidade" em torno do papel do Enfermeiro, ou seja, muitas vezes a Universidade prepara o enfermeirando para algo, e quando formado, este encontra um ambiente de trabalho que lhe exige muito mais do que se sente preparado.

Os resultados deste conjunto dicotômico de papel e de herança transmitida de geração em geração, onde se observa que o papel do Enfermeiro apreendido pelo estudante de Enfermagem reflete uma imagem "ideal" passada pelo mestre, ao invés da imagem "real" do Enfermeiro no seu dia-a-dia de trabalho(3).

Contrariando este pensamento, emerge o entendimento que as Universidades brasileiras estão se adequando à flexibilização do mercado de trabalho, oferecendo hoje ao estudante de Enfermagem uma capacitação voltada para a situação real(4).

Tais informações mostram que, na realidade, os recém graduados devem ser conhecedores de seu papel e interpretá-lo para as outras pessoas, caso contrário surgirão constantemente situações de estresse que contribuirão, sem dúvida, para a frustração profissional. Na atualidade, nota-se a grande diferença do papel do Enfermeiro de hoje com o do passado, embora ainda reflitam a herança subcultural que passa de geração a geração. Os modelos de Enfermeiras de ontem refletiam o autoritarismo e rigidez da disciplina militar, bem como o conceito de sacrifício e de serviço à base da generosidade(5).

Hoje esse modelo é refletido por homens e mulheres que, a partir do seu trabalho e esforço, esperam um salário competitivo, valorização. Acredita-se que a alta qualificação dos Enfermeiros Universitários geram conflitos na prática que são em parte, a causa de um certo desencantamento quanto ao campo de autonomia e o status. profissional que lhes é atribuído(6).

Diante do contexto surgiram as seguintes questões norteadoras: O que os futuros profissionais de Enfermagem esperam ao "cortarem o cordão umbilical" com a faculdade? Qual o papel da formação acadêmica na consolidação da perspectiva do graduando quanto ao seu futuro profissional? Até quando esta formação influencia na crise de identidade e frustração quanto ao ser enfermeiro? Desenvolvemos este trabalho onde refletimos intensamente sobre o futuro da Enfermagem, que é no momento do pleno exercício da profissão onde se evidencia a problemática da crise de identidade profissional, visto que a fase vivida pelos graduandos quando beiram a formação é caracterizada por dúvidas e receios, cuja analogia podemos fazer com Shakespeare através das marcantes palavras ditas por Hamlet: "Ser ou não ser... eis a questão." Destacamos estudo realizado com graduandos de Medicina de Brasília sobre a reflexão destes alunos quanto à aprendizagem e observou que a proporção de alunos com nível de autoconfiança como aprendiz diminuía com o decorrer dos anos dentro da graduação. Constatando que, geralmente são nos últimos períodos da faculdade que o acadêmico encontra-se mais atarefado, pois além da rotina acadêmica, passa a realizar estágios extracurriculares e outras tarefas, o que os sobrecarregam, muitas vezes desmotivando-os em relação ao curso. Talvez esta fase seja bastante crítica no processo de formação profissional(7).

Uma cabeça 'bem cheia' é uma cabeça onde o saber é acumulado e empilhado, não dispondo de um princípio de seleção e organização que lhe sentido. uma cabeça 'bem feita', significa que, ao invés de acumular o saber, é mais importante dispor de tempo para: "uma aptidão geral para colocar e tratar os problemas; princípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido"(8:21).

Acredita-se que um dos principais problemas da graduação que repercutem na vida profissional, é a centralização das aulas que compõem o currículo de Enfermagem, que esta centralização transmite um conteúdo teórico agrupado quase sempre em torno de patologias médicas e procedimentos técnicos, divorciado de situações de Enfermagem que são vivenciadas na prática(9).

Analisando a evolução do ensino da Enfermagem no Brasil, podemos perceber a intensa relação às práticas e políticas de saúde dominantes nas épocas, evidenciadas pelas importantes mudanças curriculares.

O primeiro currículo (1923 a 1949), eqüivale ao treinamento de Enfermeiros baseados na filosofia de Nightingale. A carga horária era pequena e as disciplinas, fragmentadas, dava ênfase às práticas hospitalares, distanciando- se da intenção proposta por Carlos Chagas com a criação do curso, que era formar profissionais era atender ao projeto sanitarista-campanhista(10).

O processo histórico, todavia, evidenciava que a Enfermagem "Pós- Florence" ao optar pelo modelo biomédico, se distanciou de suas bases fundamentais, desencadeando uma desvalorização do cuidado, foco e expressão da Enfermagem ocupacional e profissional ao longo da história (9).

A Enfermagem tornou-se uma profissão de nível superior em 1962, sendo definido um currículo mínimo para o curso de graduação, atendendo às exigências da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, recém-promulgada, através do parecer CFE 271/62. O curso era reduzido para três anos, incluindo as disciplinas de administração e excluindo as de Saúde Pública. Dez anos depois, com a Reforma Universitária, através do parecer CFE 163/72, mais uma modificação: O curso é dividido em ciclo básico e profissionalizante com habilitações nas áreas de Saúde Pública, Obstetrícia e Médico-Cirúrgica(10).

Ainda seguindo o processo histórico, o debate sobre o movimento da construção do SUS na década de 80, repercutiu na Enfermagem. Mais uma vez o currículo vigente passa a ser criticado, principalmente quanto à duração do curso, que era considerado insuficiente. A ABEn aprovou então, um novo diploma, aumentando para quatro anos, extingue as habilitações e permitem o desempenho de atividades em situações clínico-cirúrgicas, psiquiátricas, coletivas, gineco- obstétricas , pediátricas e administrativas(10) .

Finalmente veio a Resolução CNE/CES nº3 de 7 de novembro de 2001, instituindo que os conteúdos essenciais para o curso de Graduação em Enfermagem deveriam estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em Enfermagem. Tais conteúdos deveriam conter: Ciências Biológicas e da Saúde; Ciências Humanas e Sociais; Ciências da Enfermagem, como, Fundamentos de Enfermagem, Assistência de Enfermagem, Administração de Enfermagem e Ensino de Enfermagem. Atribuiu também que além dos conteúdos teóricos e práticos desenvolvidos ao longo de sua formação, ficavam os cursos obrigados a incluir no currículo o estágio supervisionado em hospitais gerais e especializados, ambulatórios, rede básica de saúde e comunidades nos dois últimos semestres do curso de Graduação em Enfermagem(11).

Mais uma vez estamos passando por um processo histórico, onde a mundialização dos mercados e o avanço deste processo, vai além dos fenômenos econômicos, invadindo dimensões políticas, sociais e culturais, trazendo consequentemente mudanças nas formas de organização e flexibilização do trabalho(2).

No decorrer dos anos, passou-se a valorizar a subjetividade e o saber tácito do trabalhador, dando lugar a uma qualificação real em contraposição à qualificação formal(12).

A noção de competência surge quando a construção de aprendizados vai além da aquisição formal de conhecimentos academicamente validados e se constrói saberes também a partir das mais diversificadas experiências que o sujeito enfrenta, seja no meio de trabalho ou ao longo da vida. Destacando competências políticas que possibilitam aos indivíduos refletir e atuar criticamente sobre a esfera da produção, assim como na esfera pública, nas instituições da sociedade civil, constituindo-se como atores sociais dotados de interesses próprios que se tornam interlocutores legítimos e reconhecidos(2).

Acompanhando toda essa flexibilidade, a Enfermagem é hoje considerada pelo mesmo autor, uma das profissões que oferecem grandes perspectivas de crescimento, desenvolvimento e valorização do trabalho, pois mesmo com a crise de desemprego no país, os Enfermeiros vêm conquistando espaços e firmando-se nas diversas áreas de atuação, incluindo principalmente aqueles que apostam sua capacidade profissional e qualificação real, ampliando os conhecimentos científicos e buscando especialização para aproveitar as chances de emprego surgidas no mercado de trabalho.

O profissional de Enfermagem do século XXI atribui ao seu "ser profissional", a ciência cultural da sociedade mundial, que reflete uma questão de adaptabilidade, sendo essencial hoje, conhecer a fundo seu papel diante da política de saúde e fazê-lo valer diante de todos(13).

Quando se fala em problemas na formação dos profissionais de Saúde, destaca-se: Dicotomia do ciclo básico/profissionalizante, sem que haja correlação entre o conhecimento das disciplinas básicas e a futura prática profissional; Contato tardio do aluno com a futura prática profissional. Desconsideração do trabalho como princípio pedagógico; Compatimentalização do ensino, com repetição de conteúdos, muitas vezes irrelevantes para a prática profissional; Descompasso entre os serviços de saúde e universidade, descomprometendo-se esta com a mudança do modelo assistencial; descompromisso ético, humano e social com os usuários(10).

Diante da problemática levantada, este estudo apresenta como objetivos: I. Identificar os fatores significativos na formação do Enfermeiro; II. Conhecer as perspectivas dos enfermeirandos quanto ao seu amanhã profissional.

2 Procedimento metodológico Trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa, que utiliza o universo de significados, motivos, crenças e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis quantitativas(14). A pesquisa foi realizada nas três Faculdades de Enfermagem da cidade do Recife, sendo elas, de caráter Federal, Estadual e Particular.

Todos os sujeitos entrevistados foram do sexo feminino, solteiras, com idades entre 21 e 27 anos, sendo uma delas, mãe. A renda familiar varia de 05 a 20 salários mínimos, 05 delas possuem familiares Enfermeiros ou áreas afins, nenhuma delas possuem outro curso, ou exercem outra profissão. Áries, Touro, Gêmeos e Câncer, são alunas de uma IES Estadual; Leão, Virgem, Libra e Escorpião, de uma IES de caráter Federal e Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes de uma IES Particular.

Constituíram sujeitos do estudo doze estudantes, do último período do curso de Graduação em Enfermagem, os mesmos foram escolhidos aleatoriamente, sendo quatro de cada Faculdade visitada.

O projeto de pesquisa foi enviado ao Comitê de Ética. Solicitando a anuência formal dos sujeitos que compuseram a amostra do estudo, através da assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual garante anonimato e a liberdade em participar ou não de qualquer fase da pesquisa, atendendo a Resolução 196/96)(15).

Procedemos à coleta de dados nos meses de março e abril de 2003. O instrumento para a coleta foi constituído por um roteiro de entrevista com sete questões subjetivas, cujas respostas foram gravadas. Os conteúdos das entrevistas gravadas foram transcritos e após sucessivas leituras, foram estabelecidas as categorias a partir dos questionamentos realizados, sendo denominadas "categorias pré-estabelecidas" e destas, quando necessário foram estabelecidas às subcategorias. O desenvolvimento desta fase não teve a pretensão de realizar uma análise com rigor metodológico da análise do conteúdo, entretanto, as disposições de categorias e subcategorias, teve por objetivo, proporcionar ao leitor, maior clareza com relação à apresentação dos dados colhidos. Os resultados foram analisados à luz do referencial teórico.

A cada ator social estudado, foi atribuído um codinome, correspondendo aos doze signos do zodíaco, para garantir a total privacidade do pesquisado.

3 Resultados e discussões 3.1 Escolha pela profissão enfermagem 3.1.1 Enfermagem Última opção [...] Tentei 03 anos para medicina, na realidade eu fiz para me livrar do vestibular [...](Leão).

[...] Não passei para medicina, então tentei Enfermagem [...] nem sabia o que era a profissão [...](Câncer).

Fiz 03 anos de vestibular para medicina, não passei. Daí escolhi Enfermagem [...] que está muito ligada à medicina [...](Áries).

[...] Primeiro eu fiz vestibular para medicina [...] pensava que eu poderia procurar outra coisa, outra profissão [...] havia outras interessantes que eu também me identificava [...](Touro).

A pretensão na análise destas falas é identificar o conhecimento da profissão antes da escolha perante o vestibular. Onde observamos uma suprema gama de tentativas de entrar no curso de medicina que se tornaram frustradas e em virtude da reprovação no vestibular, acabaram optando por Enfermagem.

A verdade é que baseados nos resultados, o conceito da Enfermagem antes da graduação é de uma atividade de ajuda, dedicação, devoção e submissão, não compatível com o intenso desejo de ter uma profissão, que impõe respeito, arranque elogios e encha os pais de orgulho. Não fugindo do senso comum de que a medicina é o curso da área de saúde de "maior importância" e consequentemente de maior status.

Num estudo realizado sobre prestígio profissional do Enfermeiro com 45 estudantes universitários das diferentes cursos de graduação e pós-graduação da USP, foi identificado que a medicina foi consagrada como a de maior prestígio e a Enfermagem ficaria entre sétimo e oitavo lugar(16).

Tais resultados evidenciam a auto-imagem do vestibulando, formada com a interação com o meio ambiente, traduzido neste caso, numa sala de aula repleto de indivíduos concorrendo por algumas vagas em cursos superiores e consequentemente a melhoria da qualidade de vida.

O ambiente social influencia na auto-imagem destes indivíduos. A profissão, às vezes, tem em si questões históricas tatuadas, geradoras de preconceitos, podendo influenciar de forma positiva ou negativa na auto-imagem e conseqüentemente na escolha profissional(17).

As falas a seguir são exemplos que evidenciam este pensamento: [...] Eu me realizei. Nos primeiros períodos me identifiquei com a profissão, agora principalmente. Estou nela e pretendo ficar nela até o final da minha vida (Touro).

[...] se tu me perguntasse hoje se eu trocaria estar agora na Enfermagem por uma vaga no curso de medicina, eu não trocaria não.

Não trocaria por curso nenhum [...](Virgem).

[...] Hoje eu não me arrependo de ter feito Enfermagem[...] (Gêmeos).

Tais mudanças do conceito sob a enfermagem ocorrem com o desenrolar da graduação, onde a verdadeira face da Enfermagem é apresentada e apreciada.

3.1.2 Enfermagem Primeira Opção [...] Enfermagem foi minha primeira opção [...] Uma amiga estava fazendo curso de auxiliar de Enfermagem e todos os dias ela me estimulava(Escorpião).

[...] Nunca fiz vestibular para outro curso. Minha primeira e única opção foi Enfermagem [...](Sagitário).

Apenas 02 dos atores, optaram por fazer enfermagem inicialmente. Deixam claro que conheciam algo da profissão como, por exemplo, campo de trabalho promissor.

Outrora estimulados por familiares que conheciam a profissão e se sentiam satisfeitos com a sua escolha.

3.2 Envolvimento com a formação profissional A maioria dos Enfermeiros de todo o mundo recebeu sua formação profissional com a utilização da demonstração como estratégia pedagógica. Daí a grande importância da prática, do relacionamento professor-aluno e do envolvimento com a profissão enquanto estudante(18).

Para aprender e estar exposto às demonstrações, o estudante precisa criar oportunidades. Para isso é necessário que este absorva ao seu dia a dia acadêmico, atividades que lhe proporcionem estas oportunidades, como por exemplo, estágios curriculares, pesquisas e Participação em eventos científicos.

O envolvimento dos atores sociais com sua profissão pode ser apreciado nas seguintes citações: [...] Eu não me vejo somente como estudante. Eu me vejo como profissional, sabendo que eu devo dar o melhor de mim, buscando raízes cientificas [...](Gêmeos).

[...] Tento fazer o máximo pelos meus pacientes, cuidando deles como se eu fosse Enfermeira, inclusive na questão da humanização [...] (Touro).

[...] Procuro participar de congressos, procuro enriquecer mais a minha prática, através de estágios e estudar, estudar bastante (Libra).

[...] Faço projeto de extensão e fiz 02 estágios extras (Escorpião).

[...] Procuro trabalhar na parte burocrática, mas também prestar assistência(Peixes).

É evidente nas citações o compromisso com o aprendizado para ser um profissional competente. Nota-se nas falas a imensa preocupação em prestar assistência como base fundamental do envolvimento com a Enfermagem. Notamos inclusive alguns tons de independência, o que reflete a segurança de ter assimilado o conteúdo relevante do curso para a prática. É notável a necessidade dos atores em assegurar a importância dos trabalhos científicos na vida profissional, o que desvela a vontade de lidar com a Enfermagem, renovando seus conceitos e a sua ciência.

3.3 Reflexões quanto à formação acadêmica Questionamos nossos atores quanto aos pontos positivos e negativos que vivenciaram ao longo de sua formação acadêmica, reconhecendo a importância de toda uma vivência na faculdade como fator determinante na vida profissional, como é destacado na seguinte fala: [...] É do aluno que se faz o profissional [...](Câncer).

A grande maioria dos signos não se prenderam muito aos pontos positivos, provavelmente por terem encontrado nesta pesquisa, uma oportunidade de expor suas insatisfações e contribuir com a melhoria da formação acadêmica do Enfermeiro, para os demais e futuros alunos. É evidente esta preocupação nas palavras a seguir: [...] Modificações "dizem" que estão sendo feitas, eu espero que aconteça, não vai mais me beneficiar, mas vai beneficiar os próximos (Escorpião).

3.3.1 Pontos Positivos [...] Apoio de muitos profissionais [...] (Gêmeos).

[...] A faculdade até que apoia para trabalhos científicos [...] (Câncer).

[...] É através de todas essas dificuldades que a gente aprende a pesquisar [...] Isso é positivo porque a gente aprendeu a correr atrás, que é o aluno que faz a faculdade e não a faculdade que faz o aluno [...](Touro).

[...] um turno, para estudar mais, para estágio extra, o currículo é atualizado [...](Capricórnio).

[...] Boa teoria e relação professor-aluno [...](Peixes).

[...] É um incentivo para a gente que está dentro da sala de aula, o professor dizer que apesar de todas as dificuldades que tem ele está satisfeito, se voltasse atrás faria a mesma opção [...] (Virgem).

3.3.2 Pontos Negativos Chamou-nos atenção à insatisfação de alguns atores em relação à metodologia utilizada por alguns dos professores, geradora de angústias.

As contradições da prática profissional que permeiam o pensar/fazer, a teoria/ prática e o cuidar/administrar, não são explicitadas nem enfrentadas durante o processo de formação, o que reforça a divisão técnica e social do trabalho e favorece a crise de identidade(10). [...] Tem aula que é aquela coisa: Chegou, falou um pouquinho e pronto! [...](Virgem). [...] Acho que a faculdade tem que investir em profissionais mais capacitados [...] (Câncer).[...] Algumas cadeiras não atenderam às minhas expectativas [...] não foram bem dadas [...] (Libra).

O que nos permite relacionar com uma pesquisa realizada com 52 alunos do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde identificaram que os alunos percebiam seus tutores como profissionais preocupados com aspectos tecnicistas e normativos do curso, sem se preocupar com a opinião dos alunos, não refletindo sobre sua prática pedagógica.

Acreditamos que quando o aluno se depara com deficiências no processo ensino- aprendizagem, gerando lacunas no conteúdo que não foi apreendido, gerando insatisfação com o próprio curso(19).

Outra reivindicação quase unânime é de uma reforma curricular, onde a carga horária fosse mais trabalhada e não levasse o aluno ao estresse a fadiga. [...] A carga horária às vezes é muito exagerada [...](Peixes). [...] O tempo de estágio da gente [...] é muito curto [...] e tem outros que a carga horária é enorme! [...] (Câncer).

A reforma desejada, não se restringe a carga horária, mas alberga também, melhoria na estrutura física e em bibliotecas, além da inclusão e extensão de disciplinas como farmacologia e saúde do idoso. Nossos atores encontram necessidade de deter tais disciplinas, baseados nas políticas de saúde atuais que envolvem o Programa de Saúde da Família, onde o Enfermeiro trabalha ativamente na prescrição de medicamentos e na melhoria da qualidade de vida da população que gera conseqüentemente um alargamento do ápice da pirâmide populacional.

Diante deste contexto, os enfermeirandos relatam seus descontentamentos nas falas ilustradas a seguir: [...] Eu não lembro quase nada de fármaco e anatomia! Semiologia também [...](Touro). [...] Não me sinto segura em relação à farmacologia [...](Capricórnio). [...] A grade curricular é incompleta [...] por exemplo, a área hematológica, não temos [...] (Aquário). [...] Senti falta de farmacologia e exames laboratoriais, que não vemos (Peixes). [...] Eu sinto muita falta de saúde do idoso [...] (Virgem).

Vale ressaltar que fazer alterações num currículo de um curso, não se restringe a acrescentar ou eliminar disciplinas, aumentar ou diminuir carga horária de maneira isolada, não produz mudanças de grande significado no processo de educação. Caso isto ocorresse, apenas mostraria o caráter fragmentário que tem acompanhado às reformas curriculares dos cursos até hoje(20).

O currículo vigente contempla o desenvolvimento humano somente até a idade adulta, sendo assim, o idoso está incluído como portador de doenças estudadas em outras disciplinas como clínica médica e cirúrgica. Fala ainda que a falta da disciplina de gerontologia é comum na maioria das faculdades(21).

Estamos cientes de que o processo ensino-aprendizagem na enfermagem necessita de mudanças, mas de maneira abrangente e dinâmica. De modo, que seja aceito com entusiasmo a fome de aprender dos alunos e se construa sobre esta base e que estes constituam sujeitos ativos na construção e desenvolvimento do Processo Político Pedagógico (PPP) da Instituição de Ensino Superior (IES).

3.4 Perspectivas em relação ao futuro profissional 3.4.1 Autonomia e Reconhecimento [...] Me vejo fazendo a parte assistencial com muita autonomia [...] Eu não me vejo submissa a um médico, eu me vejo independente [...] (Gêmeos).

A autonomia é a propriedade pela qual o homem pode escolher as leis que regem sua conduta. E que no cotidiano a procura pela autonomia parece ter uma íntima relação com a dúvida em se firmar como enfermeiro, cidadão e pessoa (22). Nas falas, os atores associam ter autonomia a desligar de si grandes problemas da enfermagem.

Trabalhos que analisam as razões da evasão na profissão evidenciaram como principais fatores desencadeantes a falta de liberdade para exercer o trabalho e a submissão(23).

O poder, porém, é uma "faca de dois gumes", porque a autonomia é buscada, mas em contrapartida, a intensa idéia de multidisciplinaridade gera uma atitude simpática do enfermeiro com outros profissionais na intenção de evitar conflitos, não impondo uma resistência explícita à submissão(22).

A multidisciplinaridade esta, reforçada demasiadamente pelos professores em sala de aula, tão distante da prática. Quando evidencia-se o corporativismo, o autoritarismo e por vezes, o terrorismo de alguns médicos que tentam impedir o enfermeiro de exercer plenamente suas funções, como diagnosticar, prescrever medicamentos, e até mesmo realizar consultas, nas situações em que a lei lhe faculta esse direito, gerando mobilização da categoria, que construiu uma trajetória histórica de luta e defesa pelos seus direitos e por que não dizer pela saúde.

Acreditamos que a maioria dos entrevistados, vêem a autonomia como um valor a ser conquistado e como conseqüência teriam o reconhecimento e o status tão almejados.

[...] Quero ter o reconhecimento merecido [...](Áries).

[...] Deus queira... [risos] ... Que o futuro seja bem diferente disso que a gente hoje. Espero que a minha profissão seja mais respeitada [...](Escorpião).

[...] Quero ser reconhecida nacionalmente e internacionalmente [...] (Câncer).

É importante ressaltar que o trabalho na Saúde Pública é constantemente associado pelos sujeitos do estudo à autonomia na enfermagem. [...] tenho esperança na área de PSF, pois a enfermagem tem mais autonomia(Áries).

Metade dos signos lembram que é imprescindível fazer da enfermagem uma profissão respeitada e do enfermeiro um profissional valorizado.

3.4.2 Retorno financeiro [...] Eu espero bom retorno [...] Estabilidade [...](Leão).

O retorno financeiro almejado pelos atores sociais vem de reflexo ao reconhecimento e status, os quais se sentem afastados. Vêem como uma maneira de fazer valer tantos anos de estudo e dedicação, plantões em excesso, grande carga horária de trabalho, cobrança e estresse.

[...] A gente pode ser milionário e perder todo o dinheiro, mas o que ninguém pode nos roubar é o nosso conhecimento, dignidade, caráter [...] (Gêmeos).

Apesar de o dinheiro não ser o mais importante, a classe tem que permanecer unida para lutar contra baixos salários e elevada carga horária como uma questão de honra (23).

[...] O profissional de enfermagem tem que se valorizar mais em relação ao piso salarial. Ganham pouco porque eles aceitam, não se unem, não se valorizam [...](Câncer).

3.4.3 Importância do Aperfeiçoamento Preocupar-se em estar constantemente se reciclando com o intuito de manter a qualidade do trabalho é uma das idéias mais freqüentes e marcantes nas falas dos futuros enfermeiros. O que mais uma vez associamos ao reconhecimento profissional, vistos que os profissionais mais competentes e admirados, são aqueles que dominam suas especialidades, usam o saber teórico nas práticas e detém o poder de discutir com qualquer outro profissional da área, de igual para igual.

As atuais exigências da sociedade, os processos de mudanças e a evolução da tecnologia e do conhecimento humano influenciam a prática da enfermagem no sentido de melhorar a assistência. Daí a necessidade de os futuros profissionais de enfermagem se instrumentalizarem com conhecimento técnico especializado e outros conhecimentos necessários ao desenvolvimento da competência, a fim de se tornarem profissionais diferenciados, podendo enfrentar melhor um mercado de trabalho mais competitivo (17:29). [...] Eu quero fazer uma residência, um mestrado, um, doutorado [...](Capricórnio).

[...] Quero trabalhar, quero fazer residência, quero me especializar [...] Me vejo estudando muito, nunca parada. Progredindo bastante.(Peixes) Isso significa que apesar de muitas vezes, sentirem-se insatisfeitos com o curso diante de problemas citados, não abrem mão e lutam por um futuro melhor tanto pessoal quanto profissional, quanto para a profissão em si. As reflexões do estudante que reforçam sua individualidade, se relacionam não com o futuro profissional, mas também como pessoa (24).

3.4.4 Insegurança e Incerteza Diante de tantas expectativas boas para o futuro, a insegurança e a incerteza insistiram em aparecer. Sabemos que viver este conflito é comum em diversos cursos de graduação, mas tememos que na enfermagem este processo tenha uma significância maior. que o enfermeiro irá liderar uma equipe e responder por vidas humanas. [...] Meu maior medo é de não ter o discernimento de gerenciar bem a equipe [...](Virgem). [...] Eu não vou estar completa. (...) Eu vou sair da faculdade bastante insegura (...)(Libra).

É preciso aprender a enfrentar a incerteza, pois vivemos num período onde os valores são ambivalentes, necessitando que a educação do futuro volte-se para as incertezas ligadas ao conhecimento (25).

3.4.5 Realização Profissional [...] Me vejo com tudo o que sempre quis [...] Realizada na minha profissão [...] (Touro).

[...] Me vejo realizada profissionalmente [...](Sagitário).

[...] Minhas perspectivas são estudar cada vez mais [...] Sempre estar fazendo concurso [...] Num ótimo emprego e me realizar fazendo o que eu gosto [...](Câncer).

Este tópico está relacionado intimamente com todos os outros citados acima, pois almejam a vitória sob as inseguranças e incertezas, e independência para conseqüentemente atingirem o sucesso e assim se sentirem realizados.

Como quase enfermeiros, desejam competência para que possa lutar por sua independência científica e profissional, cujo fruto é a prestação de uma assistência adequada, para assim se sentirem satisfeitos e realizados com sua profissão(17).

A realização profissional para o enfermeirando materializa-se em forma de cascata: Ter qualidades como competência e responsabilidade, levará a autonomia, que provocará lutas contra as inseguranças e incertezas, que ao vencer, ganhará coragem para reivindicar seu espaço, e tendo seu espaço para desenvolver seu trabalho, poderá mostrar a si e aos outros seu potencial, que irá desaguar no rio da sua satisfação como profissional e consequentemente como pessoa.

[...] Me vejo feliz com tudo o que sempre quis [...] Mostrando para os outros profissionais que a enfermagem VALE MUITO E PODE MUITO! [...](Touro.).

4 Considerações finais Diante dos resultados, podemos perceber que desponta um novo tempo para a Enfermagem, que seus futuros profissionais passaram a reivindicar a solução de problemas configurados durante a formação acadêmica do Enfermeiro, com o intuito de despedaçar o modelo tecnicista cristalizado que são praticamente obrigados a viver, sem chances de egresso.

O redimensionamento do processo ensino-aprendizagem se faz necessário, visto que o profissional de Enfermagem do futuro exige de seus formadores que o processo político-pedagógico, que desenvolve a construção do saber seja aplicado. Refletir, analisar e criticar são verbos que devem ser incorporados ao aluno, desde o início da construção dos pilares de seu saber.

É difícil incluir um momento pedagógico que contemple todas as necessidades de um profissional que deve se preparar para o mundo do trabalho, no dia a dia destes alunos, que com tantas batalhas acirradas contra o modelo conservador, mesmo ganhando algumas, retrocedemos por inércia, quando somos freados pela visão reducionista dos defensores da prática pedagógica do "saber fazer" e não do "saber ser".

Quando perguntamos aos entrevistados sobre suas perspectivas em relação ao futuro profissional, tínhamos como intenção, não avaliar somente o produto e sim todo o processo. A verdade é que se faz necessário que a formação profissional seja progressista, para dar suporte às realizações das maiores expectativas dos estudantes de Enfermagem, sem esta sintonia, não haverá a solidificação do "ser Enfermeiro" e a utilização do verdadeiro poder que tem a profissão, dará lugar à crise de identidade e a frustração profissional.

Nossa intenção não é radicalizar nem abalar as estruturas das IES (Instituições de Ensino Superior). Queremos com esta pesquisa, provar que para um futuro melhor, não precisamos apenas de mudanças externas, mas inicialmente, de uma auto-avaliação.

Corríamos o risco de evidenciarmos uma geração sem estímulo para realizar seus objetivos, mas tudo que comporta oportunidade, comporta risco(25). O estudo evidenciou que os sujeitos desejam um futuro melhor para a nossa profissão, compreendendo que para tanto, precisamos apenas, semear uma educação que estimule os potenciais de cada um, para que no amanhã profissional, consigamos não ser apenas a "lâmpada", mas também o "gênio".


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