Distúrbios osteomusculares e qualidade de vida em trabalhadores envolvidos com
transporte de pacientes
Distúrbios osteomusculares e qualidade de vida em trabalhadores envolvidos com
transporte de pacientes1
Disturbios osteomusculares y calidad de vida en trabajadores encargados dei
transporte de pacientes
Musculoskeletal disorders and qua/ity of life from health care providers
working with patient transfer
Rita de Cássia Rodrigues da Silva CéliaI;Neusa Maria Costa AlexandreII
IEnfermeira, Mestre do Programa de Pós-graduação do Departamento de Enfermagem
da FCM da UNICAMP, docente na Fundação de Ensino Otávio Bastos (FEOB)
IIEnfermeira, Professor Associado do Departamento de Enfermagem da FCM da
UNICAMP, Coordenadora do Grupo de Pesquisa: Saúde do Trabalhador e Ergonomia-
CNPq, Pós-Doutorado New York University. E-mail do autor:
neusalex@fcm.unicamp.br
1 Introdução
No Brasil, a preocupação com a saúde do trabalhador, manifestou-se com maior
intensidade na década de 60 e alcançou maior repercussão em 1972 quando o país
foi considerado campeão mundial de acidentes de trabalho(1). Particularmente,
as lesões músculo-esqueléticas representam um sério problema humano e
econômico, podendo afetar a qualidade de vida de milhões de trabalhadores,
temporária ou definitivamente(2). Entende-se por lesões músculo-esqueléticas
relacionadas a fatores ocupacionais as afecções que envolvem nervos, tendões,
músculos e estruturas de suporte do corpo. Não são tipicamente resultados de
alguma atividade eventual, são causadas por processo crônico influenciado pela
atividade do trabalho. O elevado índice de absenteísmo ao trabalho, motivado
por lesões músculoesqueléticas, ocasiona significativo prejuízo à instituição
e ao trabalhador aumentando a insatisfação com o trabalho, gerando muitas vezes
invalidez crônica e problemas psicológicos nos trabalhadores. É elevada a
ocorrência dessas lesões, em trabalhadores da indústria, construção civil,
coletores de lixo e trabalhadores de enfermagem(2,3).
A literatura tem destacado os trabalhadores da área de saúde como um grupo de
risco em relação ao desenvolvimento de distúrbios osteomusculares relacionados
ao trabalho, particularmente as algias vertebrais(4). Sabe-se que os problemas
na coluna nesses trabalhadores são originados por inúmeros fatores
interrelacionados, destacando-se o transporte de pacientes(5,6).
O Ministério da Saúde, em seu Protocolo de Investigação, Diagnóstico,
Tratamento e Prevenção de Lesões por Esforço Repetitivo,estabelece que, o
diagnóstico clínico-ocupacional dessas lesões deve ser efetuado por uma equipe
com profissionais de saúde obedecendo a um protocolo onde investiga-se, a
história da moléstia atual, os equipamentos com os quais a pessoa trabalha
(avaliaçãoergonômica), comportamentos e hábitos relevantes,antecedentes
pessoais, história ocupacional, exame físico detalhado e exames complementares
se necessário(7).
Neste contexto, considera-se de primordial importância avaliar os sintomas
músculo-esqueléticos e os riscos ocupacionais em trabalhadores da área de saúde
particularmente, os envolvidoscom transporte de pacientes, tendo-se em
vistaque, a literatura nacional pouco tem discutido sobre o tema. O presente
trabalho tevepor objetivo avaliaros sintomas osteomusculares, a qualidade de
vidae as atividades que exigem mais esforço para o sistema músculo-esquelético
em trabalhadores que atuam no transporte de pacientes.
2 Metodologia
2.1 Campo da pesquisa
Foi estudado o Serviço de Transporte de pacientes da prefeitura de uma cidade
do interior do estado de São Paulo que realiza transportes intermunicipais (de
um municipio para outro ), e intramunicipal (que transporta pacientes de um
local para outro dentro do município). Esse Serviço de Transporte funciona
junto ao Pronto Socorro Municipal. A planta física não é favorável.As salas são
distantes umas das outras, e a saída das ambulâncias é próximo da sala de
emergência. O hospital (Santa Casa ), que dá suporte avançadopara o Pronto
Socorro, funciona em um local a 6 quilômetros de distância.
Os equipamentos disponíveis para realização de transporte dentro da instituição
são; cadeiras de rodas e macas. Para o transporte externo, o serviço conta com
07 ambulâncias. Essas ambulâncias são de diferentes marcas e apresentam
características diferentes em relação aos equipamentos de transporte de
pacientes. Mas de uma forma geral, as macas não são do tipo retrátil. Dessa
forma, para serem movidas apresentam um sistema de trilhos e exigem utilização
de força física para transporte de pacientes. Apresentam ainda, alturas de suas
macas diferentes em relação à altura da maca de transporte interno, o que
também aumenta o esforço físico empregado na remoção dos pacientes. Somente uma
ambulância é do tipo UTI, totalmente equipada.
2.2 Descrição dos sujeitos
Foram incluídos neste estudo auxiliares de enfermagem, atendentes de
enfermagem, escriturários, guardas e motoristas que compõem o Serviço de
Transporte. Foram excluídos os trabalhadores que estavam de licença saúde ou
outro tipo de afastamento durante o período de coleta de dados.
Os atendentes, escriturários e os guardas exercem funções burocráticas como
preenchimento de impressos e atendimento ao público em geral e, quando
necessário, são solicitados para auxiliar na remoção de pacientes. Porém, os
atendentes de enfermagem já trabalharam com transporte e movimentação de
pacientes. Os motoristas não exercem apenas a função de dirigir, mas também
participam ativamente dos procedimentos relacionados à transporte de pacientes.
A carga horária a ser cumprida por esses trabalhadores é de 36 horas semanais,
com turnos de 12 horas de trabalho e 36 horas de descanso, com direito a duas
folgas mensais.
2.3 Coleta de dados
Optou-se por utilização de entrevista devido à complexidade dos dados e à baixa
escolaridade de alguns dos trabalhadores envolvidos na pesquisa.
2.4 Instrumentos para coleta de dados
Foram utilizados quatro instrumentos abordando: questões sobre caracteristicas
gerais e ocupacionais dos sujeitos; sintomas osteomusculares; qualidade de vida
e atividades percebidas como mais fatigantes.
2.4.1 Dados gerais e ocupacionais
Contém questões com dados demográficos e aspectos ocupacionais compreendendo:
nome, idade, escolaridade, peso e altura, sexo, ocupação, estado conjugal,
carga horária de trabalho, turno de trabalho, tempo que trabalha na ocupação e
a ocorrência, ou não, de outra atividade profissional. Este instrumento foi
desenvolvido tendo como suporte teórico outras investigações. Foi também
submetido à apreciação de seis especialistas que avaliaram sua objetividade e
clareza(8-12).
2.4.2 Sintomas músculo-esqueléticos
Para avaliar as queixas músculo-esqueléticas foi utilizado um instrumento
derivado do Questionário Nórdico, que foi adaptado para a língua portuguesa
(13). Esse instrumento é respeitado internacionalmente, e tem como objetivo
avaliar problemas músculo-esqueléticos dentro de uma abordagem ergonõmica(14-
16). Contém uma figura humana, vista pela região posterior, que foi dividida em
nove regiões anatõmicas ( 03 de membros superiores, 03 de membros inferiores e
03 de tronco). Compreende questões relativas à presença de dores
músculoesqueléticas, nos últimos 12 meses e nos últimos 7 dias, a ocorrência
de incapacidade funcional em cada uma das nove regiões, e se houve procura por
auxílio profissional área de saúde nos últimos 12 meses.
2.4.3 Qualidade de vida
Para verificar a qualidade de vida foi utilizado o questionário SF 36 (The
Medical Outcomes Study 36-item ShortForm Health Survey)(17).Esse instrumento
foi desenvolvido como um indicador genérico da avaliação do estado de saúde,
podendo ser utilizado em pesquisas, na prática clínica e em avaliações de
programas de saúde. Tem sido usado em estudos da população geral e em pacientes
com diabetes, doenças pulmonares, problemas cardíacos, entre outros(18). Seu
desenvolvimento teve como suporte teórico a definição multidimensional de saúde
estabelecida pela Organização Mundial de Saúde. Ele aborda conceitos físicos e
mentais e inclui escalas para avaliar as seguintes oito dimensões: capacidade
funcional, aspectos físicos, dor, aspectos sociais, saúde mental, aspectos
emocionais: vitalidade e aspecto geral de saúde(19). Cada uma dessas dimensões
pode receber um escore de O a 100, sendo que O indica o pior estado de saúde
possível e 100 o melhor. Deve-se avaliar cada dimensão em separado. A opção por
esse questionário deve-se ao fato de já ter sido validado na cultura brasileira
e também por ser considerado um instrumento simples, com questões diretas de
fácil compreensão. Apresenta também propriedades psicométricas confiáveis
(19,20).
2.4.4 Atividades que exigem mais esforço para o sistema músculo-esquelético em
sua totalidade
A última parte do instrumento verificou as atividades de trabalho percebidas
como mais fatigantes em relação ao comprometimento do sistema músculo-
esquelético. A avaliação dos níveis dos esforços que os trabalhadores sentem
durante a execução de atividades laborais tem se mostrado um método efetivo
para identificar e priorizar tensões músculo-esqueléticas(12). Borg(21)
desenvolveu as escalas mais usadas para determinar esforços percebidos durante
o trabalho físico, No presente estudo foi utilizada a escala de RPE (Ratingof
Perceived Exertion), escala para determinação de esforço percebido(22).
Inicialmente foi construída uma lista descrevendo todas as atividades que
exigem mais esforço do sistema músculoesquelético, realizadas por esse grupo
ocupacional, no que diz respeito a transporte de pacientes, durante a
realização de seu trabalho. Estas atividades foram apresentadas a um grupo de
10 funcionários para que classificassem as tarefas que considerassem de maior
para as de menor esforço físico/ muscular. Os sujeitos foram instruídos
previamente sobre a escala e classificaram o esforço sentido segundo o
indicador numérico, avaliando o esforço sentido em sua totalidade. A ordem das
perguntas foi estabelecida de acordo com as respostas dos participantes do pré-
teste. No presente estudo, todos os participantes estimaram o esforço sentido
durante a realização de tarefas relacionadas ao transporte de pacientes,
utilizando a escala de Borg(22), a qual apresenta escores de 06 a 20, sendo 06
considerado para tarefas sem nenhum esforço e 20 para os de máximo esforço.
2.5 Análise dos dados
Os dados foram inseridos no programa Microsoft Excel,versão 2000. A análise foi
realizada com auxílio do Setor de Estatística da Comissão de Pesquisa da
Instituição. Realizouse uma análise descritiva dos dados que estão
apresentados na forma de tabelas e analisados quantativamente. Para a análise
estatística, comparou-se os grupos sem e com sintomas osteomusculares, nos
últimos 12 meses, independentemente da região corporal afetada em relação aos
dados gerais e ocupacionais, utilizando-se o teste exato de Fisher e o teste de
Mann-Whitney. Consolidou-se que os grupos seriam estatisticamente diferentes
quando o p-valor fosse menor ou igual a 0.05.
2.6 Aspectos Éticos
O protocolo da pesquisa recebeu o n. 203/2001 e obteve o parecer favorável do
Comitê de Ética da Instituição. Os trabalhadores foram convidados a participar
do estudo e os que concordaram em participar espontaneamente assinaram um termo
de consentimento. Foi garantido o sigilo da identificação profissional.
3 Resultados
3.1 Dados gerais e ocupacionais
Entrevistou-se um total de 61 funcionários, que representou 96,8% de
participação na pesquisa. Desses, 50,8% eram auxiliares de enfermagem, 34.5%
motoristas, 6,5% atendentes de enfermagem, 3,3% escriturários e 4,9% guardas. A
idade média foi de 41,2 anos (D.P. 8.9 e idades entre 21 e 58 anos). O peso
médio foi de 75,17 kg (D.P. 16,12 e variando entre, 44 e 120 kg). A altura foi
em média 1.68m (D.P. 0.09 e entre 1.50 e 1.80m), obtendo um fndice de Massa
Corpórea médio de 26.6 (D.P.4.76, com mínimo de 18,31 e máximo de 41).
Considerouse que 40,9% apresentaram obesidade leve, 31,1 % normopeso, 118,1%
obesidade moderada, 8,2% sobrepeso e 1,7% obesidade grave. Quanto ao sexo,
45,9% eram do sexo feminino e 54,1% do masculino. Quanto ao estado conjugal,
59,02% compartilhavam de uma união estável, 39,4% viviam só, e 1,6% não
respondeu. Em média os entrevistados trabalham à 12,7 anos com transporte de
pacientes (D.P. 6.84 variando de 0.90 à 26 anos). Quanto à carga horária de
trabalho, os trabalhadores se ocupavam, em média, por 45,75 horas semanais
( D.P. 14.43 e mínimo de 36 e máximo de 76hs semanais).
3.2 Sintomas músculo-esqueléticos
Ao analisar os trabalhadores que apresentaram sintomas osteomusculares nos
últimos 12 meses, independentemente da região corporal, obteve-se um resultado
de 82%,sendo que as regiões mais atingidas estão relacionadas com a coluna
vertebral. Os participantes apresentaram as mais elevadas taxas de sintomas
músculoesqueléticos, nos últimos 12 meses, nas regiões lombar (59%) e torácica
(49,2%), seguidas pelas regiões tornozelo/pé (29,5%), cervical (27,9%) e
quadril/coxa (21 ,3%). Com relação aos últimos sete dias, a região lombar
continuou sendo a mais citada (11,5%), seguida da região cervical (9,8%),
quadril/coxa e tornozelo/pé ambas com ( 8,2%). Com relação ao impedimento de
realizar atividades normais devido os sintomas, a região lombar apresentou a
maior taxa (26,2%), seguida das regiões torácica (11,5%), região cervical,
punhos/mãos, quadril/coxa todas com (8,2%). Como justificativa para a procura
por auxílio profissional da área de saúde, a dor região lombar foi a mais
citada (26,2%), seguida da região torácica (11,5%), região cervical, punhos e
mãos ambas (8,2%).
Em relação aos fatores de risco relacionados aos dados gerais e ocupacionais,
foram encontrados uma associação estatisticamente significante entre as
variáveis sexo (feminino), onde p=0,0046 e estado conjugal (união estável),
p=0,0200.
3.3 Qualidade de vida
A qualidade de vida foi analisada através das oito dimensões que fazem parte do
questionário da SF-36 e a Tabela_1 mostra a média e a mediana dos participantes
com sintomas osteomusculares nos últimos 12 meses em cada uma destas dimensões.
Pode-se observar que o item referente à dorfoi o de menor pontuação (41,5),
seguido dos itens: aspectos sociais,com 45,5 pontos e vitalidade,46.9 pontos.
Como preocupantes observa-se os itens: estado geral de saúdecom 51,7 pontos e
saúde mentalcom 54,6 pontos.
3.4 Atividades que exigem mais esforço para o sistema músculo-esquelético em
sua totalidade:
Para avaliar o esforço sentido para a realização de cada tarefa utilizou-se a
escala de 8org, como observa-se na Tabela_2.
Segundo a percepção dos trabalhadores, as tarefas que requerem maior esforço
para o sistema músculoesquelético é segurar paciente agitado e transportar
paciente do chão para a maca, com escore de 16,8, seguida pelas tarefas de
transportar pacientes da maca da ambulância até a cama do paciente com escore
de 16,2 e transportar pacientes da cama do paciente até a maca da ambulância,
com um escore de 16,1. De uma forma geral, os trabalhadores sentem que todas as
atividades relacionadas ao transporte de pacientes exigem grandes esforços em
relação ao comprometimento do sistema osteomuscular com escores variando de
16,8 a 13,8.
4 Discussão
Na literatura, normalmente encontram-se estudos voltados para o transporte e
movimentação de pacientes em instituições de saúde. Predominantemente, aqueles
que fazem esta tarefa são os profissionais de enfermagem e do sexo feminino
(11,23,24). Porém, a ocupação dos trabalhadores desta pesquisa foi basicamente
de auxiliares de enfermagem, seguida de motoristas. Em relação ao sexo, houve
uma pequena predominância do sexo masculino (54,1 %). A Portaria n.O 824 do
Ministério da Saúde que dispõe sobre a Normatização dos Serviços de Atendimento
Pré- Hospitalar Móvel de Urgência e o COREN (Conselho Regional de Enfermagem),
em sua decisão COREN-SP-DIR/01/2001, determinam que cabe aos condutores de
veículos, a função apenas de conduzir os veículos que executam este
atendimento. A função e responsabilidade do transporte cabe à equipe de
enfermagem e médica de acordo com a complexidade do casot(25,26).
Conforme os dados dos resultados, a idade média dos participantes foi 41 anos.
Sabe-se que a idade para surgirem os sintomas osteomusculares, varia de 35 a 55
anos(3). Os resultados obtidos permitem afirmar que a média da população
estudada se encontra dentro da faixa de risco. Com relação ao estado conjugal,
59% de participantes apresentaram união estável, e para as mulheres este fator
representou risco para os sintomas osteomusculares, Também afirmam que mulheres
que trabalham na saúde e somam as atividades do lar e cuidados prestados aos
filhos, representam um grupo de risco para os sintomas osteomusculares pois há
um acúmulo de tarefas que requerem esforço para o sistema músculoesquelético
(27) .
Já a carga horária de trabalho parece ser uma questão preocupante para os
sintomas osteomusculares, pois, 38% dos trabalhadores trabalham mais de 40
horas semanais que é o máximo permitido pelas leis trabalhistas vigentes no
país. O Protocolo de Investigação, Diagnóstico, Tratamento e Prevenção de
Lesões por Esforço Repetitivo, avalia comportamentos e hábitos relevantes que o
trabalhador possa ter e que influenciam na ocorrência de lesões músculo-
esqueléticas(7).
Os resultados mostraram que os trabalhadores relataram uma elevada ocorrência
de sintomas músculoesqueléticos, sendo 82% nos últimos 12 meses
independentemente da área afetada, Procurou-se comparar os resultados desta
pesquisa com outras nas quais também foi avaliado a prevalência de sintomas
osteomusculares nos últimos 12 meses e verificou-se que, em um estudo, 93% das
trabalhadoras de enfermagem, e em outro, 92,7% dos dentistas avaliados
apresentaram sintomas, no referido período(28,29). Esses dados mostram que os
resultados apresentados nesta pesquisa estão próximos dos encontrados com
trabalhadores da saúde em geral.
O grupo pesquisado apresentou uma ocorrência elevada de participantes com
sintomas músculo-esqueléticos nas diversas regiões corporais, principalmente na
coluna vertebral, sendo que a região lombar ficou em primeiro lugar, tanto ao
avaliar-se os últimos 12 meses, como os últimos sete dias. Estes dados
correspondem aos apresentados em pesquisas sobre prevalência de sintomas
osteomusculares na enfermagem e, particularmente relacionadas a transporte de
pacientes(3,6,30). A presença de sintomas na região lombar também demonstrou
ser a maior causa de incapacidade funcional e procura por auxílio de
profissionais da área da saúde.
Em relação a qualidade de vida, o presente estudo procurou mostrar essa questão
em trabalhadores com sintomas osteomusculares. A dor foi apontada como o
aspecto que mais influencia na qualidade de vida dos participantes, obtendo uma
pontuação média de 41,5. No questionário SF 36 avalia-se a dor com relação à
presença , intensidade e sua interferência nas atividades da vida diária(31). A
dimensão denominada "aspectos sociais", analisa a integração do indivíduo em
atividades sociais(31). Nos trabalhadores da presente pesquisa, também estão
comprometidos, obtendo uma média de 45,5 pontos, A "vitalidade" que considera
os níveis de energia e de fadiga(31), apresentou-se com uma pontuação média de
46.9, ficando em terceiro lugar. Em uma pesquisa na qual se utilizou o mesmo
questionário em pacientes com fibromialgia, verificou-se que estes também
relatavam muitas dificuldades em suas habilidades físicas e em sua saúde
global, ficando assim com a vitalidade comprometida.
Sabe-se que as atividades relativas a transporte e movimentação de pacientes
requerem muito esforço para a coluna, exigindo posturas inadequadas. Para o
grupo de trabalhadores estudados, segurar paciente agitado, foi uma das tarefas
que mais exige esforço para o sistema músculoesquelético(23) . O serviço não
dispõe de pessoal treinado para estas situações, não se conta também com
equipamentos adequados, utilizando-se sempre de força física em espaços
imprevisíveis e improvisados até que se consiga fazer a contenção com ataduras
e lençóis.
Ao se transportar o paciente do chão para a maca, situação esta que ocorre
quando o paciente encontra-se caído em algum local, dois trabalhadores realizam
esta tarefa, retirando a maca da ambulância (esta não apresenta sistema
retrátil de rodas), e colocando-a no chão. O paciente é colocado manualmente
pelos dois trabalhadores na maca e esta é colocada novamente na ambulância, sem
auxílio de nenhum recurso material para minimizar o esforço a ser exigido nesta
tarefa. Salienta-se que esta atividade também foi considerada uma das tarefas
mais penosas para o sistema osteomuscular.
O transporte de pacientes da ambulância para a cama da residência do paciente
também apresentou-se como um problema. Há falta de equipamentos adequados e
dificuldades com relação à planta física, visto que na maioria das casas as
portas são estreitas, os corredores não permitem a passagem da maca e muitas
vezes há escadas .. O espaço físico restrito limita os movimentos e é apontado
como um dos fatores de risco para os sintoma osteomusculares em trabalhadores
da saúde(32). Além disso, as camas geralmente são muito baixas. Autores
recomendam a utilização de camas e macas com alturas ajustáveis, pois isto
minimiza o esforço durante a manipulação de pacientes(33).
Transportar pacientes do carro da família para a maca ou cadeira de rodas
também é uma atividade difícil. A falta de equipamentos auxiliares, treinamento
e o fato das cadeiras de rodas não possuírem braços removíveis dificultam esses
procedimentos. A utilização de equipamentos mecânicos e materiais auxiliares
podem minimizar as forças compressiva na coluna vertebral(11,34). A questão do
treinamento com uma abordagem ergonômica também deve ser destacado visto que a
implementação de treinamentos e reciclagem é parte obrigatória de programas de
prevenção de lesões osteomusculares(34).
Dessa forma, os dados apresentados sugerem que os distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho de transportar pacientes representam um sério risco
ocupacional para os trabalhadores, confirmando a necessidade de ampliarse os
estudos ergonômicos com relação ao transporte de pacientes para que se possa
diminuir os fatores de risco.
5 Conclusão
Os resultados demonstraram que os trabalhadores apresentam uma ocorrência
elevada de sintomas osteomusculares em diversas regiões corporais, afetando
particularmente a coluna vertebral na região lombar. A dor lombar foi também
uma das maiores causas de incapacidade funcional e procura por auxílio de
profissional da área de saúde. Observouse também que vários aspectos da
qualidade de vida de trabalhadores .estão comprometidos, particularmente a dor,
os aspectos sociais e a vitalidade.
Os trabalhadores sentem que todas as atividades relacionadas ao transporte de
pacientes exigem grandes esforços para o sistema músculo-esquelético. Fatores
ergonômicos como, diferenças na altura das camas com relação as macas e
cadeiras de rodas; camas sem sistemas de alturas ajustáveis; falta de
equipamentos auxiliares; planta física de residência imprevisíveis;
equipamentos sem manutenção e inadequados e a falta de treinamento da equipe,
podem estar contribuindo para o desenvolvimento de distúrbios osteomusculares
nesse grupo ocupacional.