Conhecimento gerencial requerido do enfermeiro no Programa Saúde da Família
PESQUISA1. INTRODUÇÃO
O Programa Saúde da Família - PSF é uma estratégia implantada pelo Ministério
da Saúde para a reorganização da prática assistencial à saúde, aproximando os
serviços de saúde da população. Neste contexto, para lidar com a dinâmica da
vida social das famílias assistidas e da própria comunidade, a valorização dos
diversos saberes e práticas contribui para uma abordagem mais integral e
resolutiva(1).
Ao enfermeiro do PSF cabe atividades de supervisão, treinamento e controle da
equipe e atividades consideradas de cunho gerencial. Como gerente da
assistência de enfermagem no PSF, o enfermeiro deve ser o gerador de
conhecimento, através do desenvolvimento de competências, introduzindo
inovações à equipe, definindo responsa-bilidades(2).
A abordagem conceitual entende que as competências são; o fundamento para a
gestão de organizações, desenvolvidas através da assimilação de conhecimentos e
integração de habilidades e atitudes no trabalho prático, possibilitando a
tomada de decisões fundamentadas em conhecimentos. O conceito do termo
competência é baseado em três dimensões, conhecimento, habilidades e atitudes.
As competências gerenciais englobam nove subcompetências, que devem fundamentar
a prática do gerente rumo ao aprimoramento das mesmas e ao auto-
desenvolvimento. São elas: as competências técnicas que são as que produzem o
desempenho econômico; os que produzem o nível de conhecimento são as
intelectuais que são o resultado da combinação de conhecimentos e habilidades;
as competências cognitivas que são uma combinação de capacidade intelectual com
domínios cognitivos; as relacionais envolvem habilidades práticas de relações e
interações; as competências sociais/políticas envolvem relações e participações
na atuação em sociedade; voltadas para a educação e ensino temos as
competências didático-pedagógicas; as competências metodológicas dizem respeito
a aplicação de técnicas e meios de organização de atividades de trabalhos; as
competências de lideranças reúnem habilidades pessoais e conhecimento de
técnicas de influenciar e conduzir pessoas; e as competências empresariais/
organizacionais dizem respeito as formas de organização e gestão empresarial
(3).
O conhecimento é a relação que se estabelece entre o sujeito que conhece ou
deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer(4). É a
capacidade de interpretar e operar sobre um conjunto de Informações. Essa
capacidade é criada a partir das relações existentes entre o conjunto de
informações, e desse conjunto com outros conjuntos que já lhe são familiares.
Esta pesquisa teve como objetivo identificar os conhecimentos requeridos do
enfermeiro para a gerência da assistência de enfermagem nas Unidades de Saúde
da Família USF de um município do litoral catarinense sob a percepção dos
profissionais desta equipe.
2. METODOLOGIA
O projeto desta pesquisa foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos, da UNIVALI, conforme Parecer nº 248/2003, logo atendendo todas
as exigências dos documentos legais sobre o assunto.
Utilizou-se o método descritivo-exploratório, com abordagem quantitativa. Para
a coleta de dados foi elaborado um questionário semi-estruturado, a partir do
que estabelece o Ministério da Saúde(5) em relação às atividades a serem
desenvolvidas pelo enfermeiro no PSF e também pesquisas semelhantes, o qual foi
validado por três profissionais "experts" na área. Posteriormente, foi feitos
um pré-teste com cinco profissionais que atuam em USF em um município de outra
região, depois feitos alguns ajustes para ser logo aplicado em campo.
A pesquisa foi realizada nas seis Unidades de Saúde da Família de um município
do litoral catarinense, no período de janeiro a março de 2004. A população
pesquisada foi composta por 72 participantes (06 médicos, 13 aux/téc. de
enfermagem e 53 ACS). A amostra foi do tipo não probabilística e por
conveniência.
Este estudo é um recorte de um estudo maior que aborda as competências dos
profissionais de saúde para a consolidação do Sistema Único de Saúde -SUS. Um
outro recorte deste estudo maior trata da percepção do enfermeiro a respeito
das competências gerenciais que deverá desenvolver para atuar no Programa Saúde
da Família - PSF.
Os participantes atribuíram um escore entre 01 a 05 para cada item, assim
definidos: 1) Nenhuma importância; 2) Pouca importância; 3) Relativa
importância; 4) Muita importância e 5) Extrema importância.
Os quadros utilizados para a discussão dos resultados não apresentam os escores
1 (Sem importância) e 2 (Pouca importância) devido a pouca freqüência com que
foram apontados. Os resultados que receberam escore 4 e 5 (muita e extrema
importância respecti-vamente) foram agrupados, pois entende-se que há uma
diferença mínima entre estes escores.
Os resultados foram analisados e discutidos a partir do pensamento de diversos
autores que tenham abordado cada um dos aspectos ou assuntos relacionados aos
achados desta pesquisa, levando a reflexões críticas sobre os conhecimentos
requeridos dos enfermeiros para cumprir funções/atividades gerenciais no
Programa Saúde da Família - PSF.
3. RESULTADOS
Os dados foram coletados entre janeiro a março de 2004, a partir do
questionário aplicado aos médicos, auxiliares/técnicos de enfermagem e agentes
comunitários de saúde das USF do município em estudo, referente às percepções
destes quanto aos conhecimentos necessários para o desenvolvimento de funções/
atividades gerenciais a serem desenvolvidas pelo enfermeiro que trabalha no
PSF.
Ao analisar os dados relacionados ao perfil socioeconômico dos profissionais
informantes, percebe-se que a grande maioria dos profissionais é do sexo
feminino (médicos 50,0%, auxiliares/técnicos de enfermagem 100%, agentes
comunitários de saúde 88,7%).
Quanto à idade, a metade dos profissionais médicos tem entre 26 e 35 anos, a
outra metade tem 36 anos ou mais. Mais da metade dos auxiliares/técnicos de
enfermagem (53,8%) tem idade superior a 36 anos. Mais da metade dos agentes
comunitários de saúde (52,8%) tem entre 18 e 25 anos e 24,5% tem entre 26 e 35
o que caracteriza uma equipe formada pela maioria de adultos-jovens.
Na variável salário percebe-se uma grande variedade de valores entre as
categorias de profissionais. Assim os 50,0% dos médicos que responderam a esta
questão, atribuíram ganhar mais de 5 salários mínimos. Mais da metade dos
auxiliares/técnicos de enfermagem (53,8%) ganha entre 3 e 4 salários mínimos e
grande parte dos agentes comunitários de saúde (88,7%) ganham entre 1 e 2
salários mínimos.
Os dados referentes ao grau de instrução mostram que mais da metade dos médicos
(66,7%) possuem pós-graduação e a maior parte dos auxiliares/técnicos de
enfermagem e agentes comunitários de saúde (92,4% e 81,2% respectivamente) tem
o segundo grau completo. Sendo que apenas 9,4% dos agentes comunitários de
saúde que responderam tem o primeiro grau completo.
Como foi citado anteriormente o conhecimento estabelece uma relação entre o
sujeito que conhece ou deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá
a conhecer(4). Assim, percebe-se que, o conhecimento é dinâmico, ou seja, quem
conhece pode estabelecer novas relações, tirar novas conclusões, fazer novas
inferências, agregar novas Informações, reformular significados. Neste sentido,
ao exercitar o conhecimento, o individuo se consolida e cresce como
profissional(6).
Observa-se então, que as competências relacionadas ao conheci-mento são de suma
importância para o enfermeiro, pois é a partir do conhecimento que o
profissional interpreta e estabelece novos direcionamentos para sua prática.
Neste sentido, um dos conhecimentos importantes para a prática do enfermeiro
refere-se às políticas de saúde uma vez que estas direcionam o trabalho dos
profissionais de saúde, refletindo no atendimento.
As políticas de saúde são respostas governamentais dadas as demandas e ou
necessidades de certos grupos populacionais específicos(7). Da mesma forma,
pode ser definida como uma intenção de obter um certo deslocamento ou
consolidação do poder para grupos sociais concretos, através de programas ou
projetos. Estas visam a organização formal do processo de trabalho de seus
serviços, mediante a administração de recursos materiais, humanos e financeiros
(8,9). Da mesma maneira, mais da metade dos profissionais acreditam ser de
muita e extrema importância para a prática do enfermeiro no PSF conhecer as
políticas de saúde (médicos - 83,4%, auxiliares/técnicos de enfermagem - 77,0%,
ACS - 92,5).
Outro conhecimento necessário para o enfermeiro diz respeito aos princípios do
PSF, pois para Figueiredo(10)o PSF é regido por princípios que norteiam a
prática de profissionais que nela atuam, sendo estes a integralidade, equidade
e universalidade.
Percebe-se desta forma, que conhecer os princípios do PSF permite prestar um
atendimento de qualidade, integral e humano em unidades básicas, garantindo o
acesso à assistência e à prevenção em todo o sistema de saúde, de forma a
satisfazer as necessidades de todos os cidadãos(5).
Igualmente, a maioria dos profissionais respondentes (100% médicos, 100
auxiliares/técnicos de enfermagem e 98,1% ACS) consideraram ser de muita e
extrema importância para a prática do enfermeiro, conhecer os princípios que
regem o PSF, uma vez que estes auxiliam os profissionais das ESF a direcionar
sua prática, de forma a consolidar os princípios do SUS.
Conhecer a missão e os objetivos da instituição de saúde é a base para a
prática dos profissionais que nela atuam. Tutihashi(11)considera que a missão
da Unidade de Saúde da Família é transformar a população numa comunidade mais
participativa, que divida com a administração a responsabilidade de promover
saúde. Do mesmo modo conhecer os objetivos norteia o desenvolvimento das ações,
de forma a prestar uma assistência integral e humana em unidades básicas
municipais, garantindo a satisfação das necessidades da comunidade(12). Também
a maioria dos médicos (100%), auxiliares/técnicos de enfermagem (100%) e ACS
(98,1%) apontaram ser de muita e extrema importância3 para o enfermeiro
conhecer a missão e os objetivos da instituição de saúde.
Para o planejamento de serviços e administração de uma Unidade de Saúde da
Família, é muito importante conhecer a clientela assistida e a demanda de
serviços, que permitam adequações na capacidade de atendimento e adoção de
medidas com vistas à satisfação das necessidades do cliente(13). Este
conhecimento propicia uma compreensão ampliada do processo saúde-doença, o que
permite o planejamento de intervenções para além das práticas curativas(10).
Grande maioria dos profissionais que participaram do estudo (100% dos médicos,
92,3% dos auxiliares/técnicos de enfermagem e 98,1% dos ACS) qualificaram como
sendo de muita e extrema importância conhecer a área de abrangência da Unidade
da Saúde da Família (USF).
A organização do trabalho em saúde visa à proteção da saúde e ao controle do
processo saúde-doença na coletividade. Assim, cabe ao enfermeiro atuar na
vigilância epidemiológica, nas ações educativas com grupos da comunidade e na
supervisão das visitas domiciliárias e das atividades educativas, para tanto
ele deve conhecer o perfil epidemiológico da área adstrita(14).
O gerente de Unidade Básica de Saúde deve conhecer o perfil epidemiológico da
população de seu território(15). Sendo que através da análise de informações
demográficas, de morbi-mortalidade e de condições de vida, é possível listar e
priorizar os problemas desta área e, posteriormente, realizar proposta de
intervenção para impactar os mesmos. Neste sentido, todos os informantes (100%
dos médicos, 100% dos auxiliares/técnicos e 100% dos ACS) perceberam ser de
muita e extrema importância conhecer o perfil epidemiológico, ratificando a
necessidade deste conhecimento para a prática do enfermeiro no PSF.
Um sistema de informação é um conjunto ordenado de métodos e recursos,
destinados a facilitar o manuseamento das informações necessárias ao
atendimento dos objetivos da organização de saúde(16).
Para Andrade(17)a informação em saúde serve ainda para avaliação das ações,
controle da produção de serviços e controle social. Contribui ainda, para a
avaliação permanente das ações empreendidas permitindo modular as formas de
intervenção.
Kurganct(18) enfatiza a necessidade e a importância de um sistema de informação
que propicie à equipe os dados necessários ao desenvolvimento da assistência,
sendo que o sistema de informação em enfermagem viabiliza o processo de
comunicação entre os membros da equipe da unidade, equipe multidisciplinar e
clientela. Assim em nosso estudo mais da metade dos profissionais respondentes
(83,4% dos médicos, 69,3% dos auxiliares/técnicos de enfermagem e 96,2% dos
ACS) acredita que conhecer o sistema de informação é de muita e extrema
importância ao enfermeiro.
Além deste conhecimento, também é necessário ao enfermeiro conhecer a
programação da unidade em que está inserido, sendo que a programação local
compreende as ações destinadas a determinar, com certa racionalidade, o tipo,
número e destino dos serviços de promoção, recuperação, reabilitação e de
atenção direta aos indivíduos, famílias, grupos sociais e ambiente (natural e
social) requeridos para solucionar problemas e satisfazer necessidades
prioritárias. Desta forma, a programação compreende a definição das atividades
administrativas e de gerência necessárias para apoiar essas ações(19).
Conseqüentemente, a programação constitui-se num instrumento que orienta a
condução do processo de organização dos serviços, na medida em que estabelece
os objetivos a serem alcançados, bem como as estratégias a serem utilizadas
visando o seu alcance(20,19). Igualmente a maior parte dos profissionais que
participaram do estudo, 100% dos médicos, 92,4% dos auxiliares/técnicos de
enfermagem e 100% dos ACS entendem como sendo de muita e extrema importância
conhecer o desenvolvimento da programação da unidade básica de saúde para que o
enfermeiro atue no PSF.
Os recursos físicos são muito importantes para o enfermeiro do PSF a fim de
conhecer a capacidade da sua unidade para o desenvolvimento das atividades.
Deste modo, Figueiredo(10)ressalta que conhecer, avaliar e rever a estrutura
(planta física, recursos financeiros, humanos e materiais), o processo (como se
executou o que estava planejado) e os resultados, é crucial no desenvolvimento
do trabalho do enfermeiro, assim ele terá condições para direcionar as
atividades. Mais da metade dos profissionais (66,7% dos médicos, 61,6% dos
auxiliares/técnicos de enfermagem e 83,0% dos ACS) constatou ser de muita e
extrema importância conhecer as instalações físicas para o gerenciamento da
assistência no PSF. O restante dos profissionais (33,3% médicos, 38,5%
auxiliares/técnicos de enfermagem e 13,2% dos ACS) qualificou este atributo
como de relativa importância.
A administração participativa é entendida como a tentativa de se estabelecer
uma nova relação entre o estado e a sociedade, que implica numa abertura do
estado, para que a sociedade participe das suas decisões(17).
Para Mattos(21), o sentimento gerencial que caracteriza uma adminis-tração
participativa, é o compromisso e a competência. O trabalho em equipe libera a
criatividade e leva os participantes a se condicionarem positivamente à escolha
das melhores alternativas, tendo em vista, como motivação maior, o crescimento
profissional.
Concordando, a maioria dos profissionais questionados (66,7% dos médicos 91,3%
dos auxiliares/técnicos de enfermagem e 96,2% dos ACS) atribuíram ser de muita
e extrema importância conhecer a administração participativa. Uma minoria dos
médicos (33,3%) perceberam ser de relativa importância este conhecimento para o
trabalho do enfermeiro no PSF.
No Programa Saúde da Família - PSF, o enfermeiro desenvolve atividades em
conjunto com uma equipe multiprofissional, onde o conhecimento das atribuições
de cada um propicia maior aproveitamento das potencialidades dos membros da
equipe. Neste sentido, Figueiredo(10)enfatiza que cada profissional é
responsável por suas atribuições e responsabilidades, sendo todos atuantes em
conjunto nas suas áreas. Porém, o enfermeiro desenvolve atividades tanto na
unidade de saúde quanto na comunidade, apoiando e supervisionando o trabalho de
sua equipe e assistindo às pessoas que necessitam de atenção específica de
enfermagem. Ratificando o que traz a literatura, grande parte dos profissionais
respondentes (100% dos médicos, 84,6% auxiliares/técnicos de enfermagem e 98,1%
dos ACS) entende ser de muita e extrema importância que o enfermeiro conheça as
atribuições de cada membro da ESF.
Conhecer os insumos também é necessário para o desenvolvimento de um trabalho
com qualidade. Castilho e Gaidzinski(22) salientam que os recursos materiais,
bem como os recursos humanos, são essenciais para o funcionamento de qualquer
tipo de organização, pública ou privada, de serviço ou de fabricação, com
finalidade lucrativa ou não, e constituem fator que possibilita o alcance dos
objetivos propostos por essas organizações .
A administração de recursos materiais tem como objetivo coordenar todas as
atividades necessárias para garantir o suprimento de todas as áreas da
organização, ao menor custo possível e de maneira que a prestação de seus
serviços não sofra interrupção prejudicial aos clientes(18,23).
Também a maior parcela dos profissionais informantes (83,3% dos médicos, 92,3%
dos auxiliares/técnicos de enfermagem e 98,1% dos ACS) evidenciaram como sendo
de muita e extrema importância conhecer os insumos para o trabalho em uma
Unidade de Saúde da Família.
Conhecer as normas e procedimentos da unidade também é um requisito importante
para o desenvolvimento continuo dos serviços de saúde, sendo necessária à
utilização de instrumentos administrativos como as normas e rotinas. As normas
são um conjunto de regras ou instruções para fixar procedimentos, métodos,
organização, que são utilizados no desenvolvimento das atividades. A rotina é o
conjunto de elementos que especifica a maneira exata pela qual uma ou mais
atividades devem ser realizadas(24).
A enfermagem utiliza-se destes instrumentos para definir quem faz o que, como e
onde por meio de manuais, normas, rotinas e procedimentos que detalham e
padronizam etapas e ações administrativas do cuidado prestado(10). Desta forma,
ratificando a importância de conhecer as normas e rotinas, a maioria dos
médicos (83,3%), auxiliares/técnicos de enfermagem (92,3%) e ACS (98,1%)
qualificaram ser de muita e extrema importância este conhecimento.
Também é importante ao enfermeiro conhecer a avaliação dos serviços de saúde. A
avaliação é a parte fundamental no planejamento e gestão de qualquer sistema de
saúde. Com um sistema de avaliação efetivo pode-se reordenar a prestação de
serviços de saúde, redirecionando de forma a contemplar as necessidades do
público, abrangidas por estas ações(10).
Existem diversas maneiras de abordar a questão da avaliação dos serviços na
rede básica de saúde, entre as quais a qualidade técnico-profissional dos
prestadores, o grau de relacionamento entre o serviço de saúde e a comunidade,
a integração da rede básica com outros níveis do sistema, e o acesso ao serviço
e a satisfação do usuário com a atenção recebida(25). Em relação aos
profissionais questionados, a maioria (100% dos médicos, 92,4% dos auxiliares/
técnicos de enfermagem e 100% dos ACS) percebeu ser de muita e extrema
importância conhecer a avaliação dos serviços de saúde na prática do
enfermeiro.
Torna-se imprescindível ao enfermeiro conhecer o trabalho da assistência em
saúde, uma vez que cabe a ele a gerência da unidade e a organização dessa
assistência. Assim, o processo de trabalho em saúde integraliza a ação e
complementa o processo de produção. A organização e a divisão do processo de
trabalho define-se pelo objetivo final que se quer atingir. Nesse sentido o
modelo assistencial produtor de saúde deve tomar por base a produção do
cuidado, com ênfase no trabalho em equipe, na humanização da assistência e na
ética da responsabilidade(26).
Corroborando, mais da metade dos médicos (66,7%), e a maioria dos auxiliares de
enfermagem (92,4%) e ACS (94,4%) observou ser de muita e extrema importância
conhecer o trabalho da assistência em serviços de saúde. Enquanto 33,3% dos
médicos entenderam ser de relativa importância este conhecimento.
Na área da saúde, gestão pode ser compreendida como as ações de comando sobre o
conjunto do sistema de saúde(10).
Por outro lado, Ferla(27)define a gestão como a prerrogativa e a
responsabilidade de cada uma das esferas do governo de dirigir um sistema de
saúde, mediante o exercício das funções de coordenação, articulação,
negociação, planejamento, acompanhamento, controle, avaliação e auditoria.
Mais, da metade dos profissionais (66,7% dos médicos, 77,0% dos auxiliares/
técnicos de enfermagem e 92,4% dos ACS) entendeu ser de muita e extrema
importância conhecer a gestão de trabalho dos serviços de saúde. Porém, 33,3%
dos médicos e 23,1% dos auxiliares/técnicos de enfermagem perceberam ser de
relativa importância.
A gerência é uma das atividades que fazem parte da rotina do enfermeiro. Neste
sentido, a importância da gerência refere-se à ação que torna viável e factível
o melhor uso dos recursos para atingir os objetivos planejados(20). Do mesmo
modo(10) coloca que a enfermagem gerencia os recursos materiais, desempenhando
a previsão, provisão, organização e controle dos materiais o autor coloca ainda
que a gerência é uma função de direção e administração, onde é realizado o
provimento dos insumos e captação de recursos de uma instituição, traduzindo em
um meio mais produtivo. Observa-se que conhecer a gerencia de recursos como
meio de produção foi considerado como sendo de muita e extrema importânciapela
metade dos médicos (50,0%) e mais da metade dos auxiliares de enfermagem
(76,9%) e ACS (96,3%). E a outra metade dos médicos (50,0%) atribuíram relativa
importância.
A participação da equipe na administração possibilita o desenvolvimento dos
profissionais uma vez que a administração estratégica pode ser considerada como
um processo dinâmico, que busca relacionar os problemas e necessidades de tal
modo que seja possível definir prioridades, considerar alternativas reais de
ação, alocar recursos e conduzir o processo até a superação ou controle dos
problemas(19).
Para uma nova concepção de gerência é preciso aceitar que a função
administrativa se constitui em elemento essencial para o alcance dos objetivos.
Entende-se a função administrativa como o conjunto de medidas que visam à
maximização dos recursos alocados e pela identificação e apropriação dos
recursos necessários à implementação das ações programadas. As condições
sociais, políticas, econômicas e culturais podem afetar o modo como se analisa
e se concebe as organizações do trabalho e da produção(16). Nota-se que mais da
metade, 66,7% dos médicos, e a maioria (92,3%) dos auxiliares/técnicos de
enfermagem e 100% dos ACS atribuíram ser de muita e extrema importânciaconhecer
a administração estratégica da USF, e 33,3% dos médicos atribuíram relativa
importância.
Conhecer a qualidade dos serviços prestados é fundamental para a melhoria da
assistência. Neste sentido, a avaliação permite conhecer os pontos a serem
trabalhados para melhorar a qualidade da assistência uma vez que os clientes
que procuram os serviços públicos estão exigindo mais qualidade na prestação
destes serviços(28). Assim, Demo(29) relaciona a qualidade com a perfeição e a
profundidade no desenvolvi-mento de uma ação humana.
A enfermagem tem um papel de destaque no processo de qualidade destes serviços,
uma vez que corresponde ao maior percentual de recursos humanos da instituição
de saúde, pelo contato direto com o cliente e seus familiares(30). A qualidade
da assistência de enfermagem esta diretamente relacionada com a competência do
enfermeiro gerente da assistência(31). Observa-se a importância deste
conhecimento, uma vez que grande parte dos profissionais questionados (100% dos
médicos, 100% dos auxiliares/técnicos de enfermagem e 96,2% dos ACS) atribuiu
muita e extrema importância.
A responsabilidade ética vem sendo muito discutida, porque a sociedade está
exigindo mais transparência e mais respeito. Neste sentido, num mundo de muitas
diversidades, o enfermeiro deve ter consciência de que conhecer os padrões
éticos é uma exigência global, tanto em sua relações pessoais quanto
profissionais(32).
De acordo com o código de ética de Enfermagem, o aprimoramento do comportamento
ético do profissional passa pelo processo de construção de uma consciência
individual e coletiva, pelo compromisso social e profissional, configurado pela
responsabilidade no plano das relações de trabalho, com reflexos nos campos
técnicos, científico e político(33). Confirmando, todos os médicos (100%), a
maioria dos auxiliares/técnicos de enfermagem (92,3%) e todos os ACS (100%)
percebeu ser de muita e extrema importância para o enfermeiro conhecer os
padrões éticos em saúde.
Evidencia-se que o conhecimento, deve permear todo e qualquer trabalho, tendo
em vista que para o desenvolvimento de ações o conhecimento é o fundamento que
guia qualquer prática.
4. CONCLUSÕES E CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO
Ao analisar os dados referentes aos conhecimentos que o enfermeiro deve ter
para desenvolver suas atividades/funções gerenciais no PSF na visão dos
profissionais pesquisados (médicos, auxiliares/técnicos de enfermagem e ACS),
percebe-se que, o que mais chama a atenção é que os ACS atribuíram escore 5
(extrema importância) para os 19 itens atribuídos. Entretanto, os profissionais
médicos e auxiliares/técnicos de enfermagem qualificaram de forma diversificada
cada um dos atributos considerados como conhecimento que deverá ter o
enfermeiro no PSF.
Nos escores atribuídos pelos médicos, pode-se perceber claramente que alguns
destes profissionais que participaram da pesquisa acreditam que alguns itens
listados como: conhecer a administração estratégica da USF; conhecer a gerencia
de recursos como meio de produção; conhecer a gestão de trabalho dos serviços
de saúde; conhecer as instalações físicas para o gerenciamento da assistência
no PSF; conhecer a administração participativa e conhecer o trabalho da
assistência em serviços de saúde é de relativa importância o conhecimento disto
por parte dos enfermeiros que atuam não PSF. Neste sentido, pode-se afirmar que
muitos médicos não têm muita clareza sobre quais os conhecimentos que o
enfermeiro precisa para sua atuação mais efetiva e qualificada neste programa.
Já os auxiliares e técnicos de enfermagem, por pertencerem à mesma classe
profissional; têm mais clareza sobre os aspectos que o enfermeiro deve saber
para potencializar sua atuação no PSF.
Cabe apontar que o enfermeiro é um profissional com visão ampla sobre saúde e
todas suas relações. Isto, pode-se perceber com clareza na nova proposta de
formação do MEC de 1996. Hoje, pode-se falar que a sociedade espera ser
atendido por um enfermeiro capaz de saber gerenciar o cuidado à saúde no
contexto político da saúde do país e que a capacidade de recriar significados é
nato a este profissional.
Este estudo pode ser considerado um instrumento de auxilio para a reflexão e
mudanças na prática gerencial no PSF, atendendo a demanda de profissionais com
um perfil diferenciado, com vista na qualidade da assistência.
Um aspecto relevante é a ênfase que deve ser dada a se criar formas/
metodologias de processos pedagógicos que visem a transformação de práticas no
cotidiano que se baseiam na mudança de paradigmas dos profissionais que
trabalham em saúde. Neste sentido, a educação permanente apresenta-se como
instrumento valioso para se chegar a esta mudança de conduta. Os resultados
desta pesquisa mostram abruptamente a necessidade de se mudar à prática da
educação para a saúde sobre tudo se tratando dos profissionais que vêm atuando
no programa/estratégia saúde da família.