Uma prática educativa de sensibilização quanto à exposição a radiação ionizante
com profissionais de saúde
PESQUISA
Uma prática educativa de sensibilização quanto à exposição a radiação ionizante
com profissionais de saúde
An educative practice of sensitization to ionizing radiation exposition with
health professionals
Una práctica educativa de sensibización a la exposición a radiación ionizante
con profesionales de salud
Rita de Cássia FlôrI; Ana Lúcia Cardoso KirchhofII
IAluna do Curso de Mestrado em Enfermagem do Programa de Pós Graduação em
Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Professora do Centro
Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina CEFET/SC
IIProfessora Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de
Santa Catarina. Membro do Grupo de Pesquisa em Saúde, Trabalho e Cidadania -
PRAXIS
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1. INTRODUÇÃO
Radiação ionizante é o termo usado para descrever o transporte de energia,
tanto na forma de ondas eletromagnéticas como na de partículas subatômicas,
capazes de causar ionização da matéria. Quando a radiação ionizante passa
através da matéria, confere energia por excitações ou ionizações. Os efeitos da
radiação dependem, sobretudo, da quantidade e da qualidade da radiação
incidente e da natureza do material com a qual está interagindo. Oliveira e
Mota(1) classificam as radiações ionizantes em "diretamente ionizante" e
"indiretamente ionizante". São consideradas diretamente ionizantes, todas as
partículas carregadas (alfa, beta, prótons, íons pesados...), pois produzem
ionizações ao perder energia. Nas radiações indiretamente ionizantes (raios X,
gama e neutros), a energia é transmitida para a matéria por meio das ionizações
produzidas pelas partículas carregadas secundárias, geradas pela radiação
primária.
Os raios X, radiações ionizantes considerados neste estudo, são um tipo de
radiação semelhante à luz, mas invisíveis e com energia suficiente para
atravessar corpos opacos. São produzidos pelos elétrons que se movem do catodo
para o anodo dentro do tubo de raios X, acelerados por uma alta tensão [...],
com produção de fótons na ordem de 1% e aumento da temperatura do anodo 99%.
Esses fótons constituem a radiação que será utilizada para produzir a imagem
radiográfica(2). A radiação é produzida no anodo para todas as direções. Por
isso, o tubo é colocado dentro de uma calota protetora revestida de chumbo.
Essa radiação que sai do tubo é denominada de radiação primária. Quando o feixe
primário passa através da pessoa, ele é atenuado na medida em que os fótons vão
interagindo com as estruturas internas do corpo, resultando em diferentes
intensidades devido à absorção de feixe de raios X. Qualquer objeto (pessoa,
cadeira, parede) atingido por essa radiação atua como um emissor de radiação,
chamada de radiação secundária ou espalhada(1).
As unidades de terapias intensivas adulto e neonatal, unidades de internações,
centros cirúrgicos, unidades coronarianas, entre outras, convivem
freqüentemente com exposições à radiação ionizante proveniente dos equipamentos
radiológicos portáteis. Esses equipamentos são utilizados para realizar os
exames de raios X no leito quando da impossibilidade do usuário ser transferido
para uma instalação com equipamento fixo.
A Portaria 453/1998(3), em seu item 4.27, normatiza que a realização de exames
radiológicos com equipamentos móveis em leitos hospitalares ou em ambientes
coletivos de internação [...] somente será permitida quando for impossível ou
clinicamente inaceitável transferir o usuário para uma instalação com
equipamento fixo. Neste caso, deve ser adotada uma das seguintes medidas:
Os demais usuários que não puderem ser removidos do ambiente devem ser
protegidos da radiação espalhada por uma barreira protetora com, no mínimo, 0,5
mm equivalência de chumbo; ou, posicioná-los de modo que nenhuma parte do corpo
esteja a menos de dois metros do cabeçote ou do receptor de imagem(3).
Considerando os aspectos acima evidenciados, assim como detectando a
necessidade de sensibilizar os profissionais de saúde, atuantes na unidade de
terapia neonatal, quanto à presença dessa carga física no seu ambiente de
trabalho, optou-se por realizar a prática assistencial proposta pelo Curso de
Mestrado do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de
Santa Catarina sob a formulação da seguinte pergunta norteadora: como
desenvolver o trabalho em saúde minimizando a exposição à radiação ionizante
nos profissionais de saúde que trabalham na unidade de terapia neonatal?
Na busca pela resposta, procurou-se inicialmente embasamento, teórico que
justificasse o porquê dessas exposições e qual contribuição se poderia
apresentar a fim de minimizar essa carga física do ambiente, proveniente dos
exames radiológicos, devido a impossibilidade de transferência dos recém-
nascidos para uma instalação com equipamento fixo.
Assim sendo, esta prática assistencial de enfermagem foi delineada, tendo por
objetivo implementar e avaliar uma prática educativa de sensibilização quanto à
exposição à radiação ionizante, com os profissionais da unidade de terapia
neonatal, visando à otimização da proteção radiológica.
O Modelo Operário Italiano (MOI) foi o referencial teórico e metodológico
norteador desse estudo, além de outros conceitos necessários para a
fundamentação dessa temática.
Este modelo é um método de geração do conhecimento para a ação, ou seja, a
preocupação fundamental é transformar as condições de trabalho, com vistas ao
bem-estar e à proteção da saúde dos trabalhadores, a partir do conhecimento
detalhado do processo de trabalho. Facchini(4) ressalta que a participação dos
trabalhadores no processo de geração de conhecimento é fundamental, pois sua
experiência é uma fonte riquíssima de abordagem e de entendimento da realidade,
desde que possibilite chegar à generalidade a partir das particularidades, ou
seja, que haja um processo de teorização sobre os achados particulares. É um
método qualitativo e valoriza sempre a participação dos trabalhadores nas
questões relacionadas à sua saúde a partir do reconhecimento do seu saber e do
seu papel estratégico para as mudanças necessárias no processo de trabalho.
Esse modelo apresenta quatro pressupostos básicos que constituem este
referencial teórico, a saber: a valorização da experiência e subjetividade
operária, o levantamento das informações por grupos homogêneos, a não delegação
da produção do conhecimento e a validação consensual das informações(4).
As cargas de trabalho são classificadas segundo sua natureza ou característica
básica, de modo a facilitar sua identificação ou mediação no processo de
adoecimento. Assim são classificadas em: cargas físicas, mecânicas, químicas,
orgânicas e fisiológicas(5). Considerando o objeto pesquisado, ou seja, a
radiação ionizante, as cargas de trabalho mais evidenciadas foram as cargas
físicas.
O processo de trabalho configura-se de acordo com o contexto em que ele ocorre,
de modo que seus componentes não podem ser considerados pré-estabelecidos,
havendo a necessidade do pesquisador analisá-lo em seus elementos: objeto,
instrumentos, produto e o trabalho em si(6). No caso da exposição à radiação
ionizante entre os profissionais de saúde, a análise ocorre levando-se em conta
a radiação como objeto de trabalho e enquanto parte das condições de trabalho,
ao ser uma carga física de trabalho.
O conceito de exposição baseou-se na Portaria 453/1998(3) que a classifica a
em: médica, normal, potencial e ocupacional. Para efeito desta prática,
utilizaram-se os conceitos de exposição médica que é a exposição a que são
submetidos, clientes, em decorrência de exames ou tratamentos; indivíduos não
ocupacionalmente expostos que voluntariamente ajudam a confortar ou conter
clientes durante o procedimento radiológico [...] e exposição ocupacional que é
a exposição de um indivíduo em decorrência de seu trabalho em práticas
autorizadas.
E, por fim, o conceito de prática de enfermagem que baseado no processo de
trabalho educar da enfermagem, que pode voltar-se tanto para um indivíduo
quanto para um grupo [...]. O campo prático desse processo de trabalho é cada
dia maior tendo-se em vista a perspectiva de que um maior nível de qualificação
da força de trabalho tem sido uma exigência do mercado e que, como
trabalhadores, todos precisam dar atenção à sua saúde(7).
2. METODOLOGIA
A prática assistencial foi realizada na unidade de terapia neonatal de um
hospital público de Florianópolis-SC, no período de 10 de outubro a 30 de
novembro de 2004, sob a forma de observações do trabalho em andamento,
entrevistas para esclarecer dúvidas, análise documental e reuniões com o grupo
homogêneo, num total de doze encontros.
Foram obedecidos os aspectos concernentes à Resolução de Nº 169 de 10 de
outubro de 1996 que estabelece as diretrizes regulamentadoras em pesquisas
envolvendo seres humanos(8). Para garantir o anonimato os participantes da
prática foram codificados com nomes dos elementos químicos radioativos tais
como: Tecnécio (Tc), Amerício (am), Urânio (U), Rádio (Ra), Césio (Cs),
Molibdênio (Mo), Tálio (Ti), Cobalto (Co), Gálio (Ga), Iodo (I), Radônio (R) e
Samário (Sm).
Na primeira visita feita à unidade hospitalar, foi explicada a razão da
pesquisa e os profissionais de saúde da unidade de terapia neonatal, assim como
os Técnicos em Radiologia foram convidados a participar do grupo homogêneo, o
que foi prontamente aceito.
Posteriormente buscou-se conhecer como se dava a exposição à radiação ionizante
na unidade, bem como ouvir a opinião dos trabalhadores de saúde acerca dos
conhecimentos dessa carga física. Inicialmente, a coleta de informações foi
feita por meio de observações, que é "o processo pelo qual a primeira e mais
imediata função consiste em obter informações referentes ao fenômeno estudado,
em função de um propósito planejado e organizado (...)"(9). A mesma autora
alerta para o fato de que diferentes propósitos ou diferentes questões de
investigação requerem diferentes estratégias de observação e também diferenças
nos níveis de sistematização (...).
Assim, sistematizou-se acompanhamento do processo de trabalho das atividades do
profissional Técnico em Radiologia no setor de neo-natologia na aquisição de
imagem radiológica dos recém-nascidos e, conseqüentemente, dos demais
profissionais de saúde que ali já se encontravam. A observação dava-se
coletivamente de modo que os profissionais não percebessem que estavam sendo
observados. Dessa forma, garantiu-se a fidedignidade do processo, o qual
envolvia exposição à radiação ionizante e a forma como os profissionais de
saúde protegiam-se dessa carga física. Foram realizadas seis observações, sendo
que as mesmas aconteciam deste a chegada do profissional Técnico em Radiologia
à UTI neonatal com o equipamento móvel, até a finalização do procedimento. Os
dados obtidos nas observações foram registrados e fotografados. Os registros
foram organizados para posteriormente serem validados.
Para a realização das entrevistas, trabalhadores de saúde da unidade de terapia
neonatal e os profissionais Técnicos em Radiologia foram convidados de forma
aleatória, nos momentos de visita na unidade. Dentre os que aceitaram
participar, procurou-se contemplar os profissionais Técnicos em Radiologia,
Enfermeiras, Auxiliares e Técnicos de Enfermagem e Médicos. As entrevistas
foram realizadas individualmente e coletivamente. Para Facchini(5), uma
entrevista individual tem menor capacidade de captar informações precisas e
complexas sobre o processo de trabalho que uma entrevista coletiva, na qual a
própria discussão tem um poder de mobilização da consciência operária sobre os
aspectos mais importantes do processo de trabalho.
Para a realização das entrevistas foi utilizado o método de entrevista
informal. Partia-se da realidade vivenciada pelos profissionais de saúde,
valorizando sempre o conhecimento e a subjetividade dos profissionais. Foram
registradas palavras-chave ditas na entrevista as quais juntamente com os dados
obtidos na observação foram, posteriormente, validados pelo grupo homogêneo,
constituído pelos profissionais Técnicos em Radiologia, Médico, Enfermeiros,
Técnicos em Enfermagem e Auxiliar em Enfermagem. Facchini(5) argumenta que na
constituição desse grupo deve-se buscar a representatividade dos trabalhadores
de diversas categorias funcionais e setores da instituição.
Os integrantes do grupo homogêneo socializaram suas idéias, suas experiências,
suscitando discussões importantes em relação à exposição à radiação ionizante,
buscando reflexões com base nos dados das observações, entrevistas e análise
documental. Para impedir a variabilidade individual de opiniões, os resultados
levantados foram validados consensualmente. Somente foram registradas as
informações que o grupo ho-mogêneo, em seu conjunto, reconheceu como corretas.
Por fim, as informações foram socializadas em um encontro realizado no
anfiteatro da instituição pesquisada com duração de duas horas e 30 minutos.
Contou com a adesão dos integrantes do grupo homogêneo, assim como de outros
trabalhadores que compartilhavam condições de trabalho semelhante.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O quadro_1 descreve simplificadamente como se dá o processo de trabalho do
profissional Técnico em Radiologia na aquisição da imagem radiológica dos
recém-nascidos (RNs) na unidade de terapia neonatal.
Nesse processo de trabalho, puderam ser evidenciadas várias situações de
exposição à radiação ionizante. Percebe-se que os profissionais de saúde
encontram-se desprotegidos e até mesmo desinformados quanto aos cuidados
mínimos de proteção radiológica(10). Em algumas falas das entrevistas ficaram
evidentes essas situações.
(...)] Trabalho há 17 anos aqui (...) Nunca ninguém disse que isto
era errado. Descobri há um ano que tenho hipotireoidismo. Será que a
radiação tem alguma coisa a ver com isso? Um dia falei para o técnico
em radiologia que tinha hipotireoidismo e ele me disse, de agora em
diante você deve ficar bem longe dos raios X (...) (Cobalto).
(...) Não usamos avental porque não tem. Por isso corremos parar
atrás do técnico. Sempre fizemos isso. Não tem protetor de tireóide,
só tem um avental que o técnico usa. Todos os dias são realizados
raios X aqui (...) (Samário).
A unidade de neonatologia compreende duas salas de cuidados intermediários,
duas salas de isolamento e uma unidade de terapia intensiva (UTI), totalizando
20 leitos. Destes, 10 são leitos de UTI.
A assistência de enfermagem, no cuidado intensivo, requer procedimentos
bastante complexos, instrumentalizados pelas técnicas de enfermagem específicas
para as diversas terapias. È mediada por equipamentos sofisticados, que tanto
fazem o controle de disfunções biológicas como necessitam ser controlados,
constituindo-se ora em instrumento, ora em objeto de trabalho(2).
A equipe de saúde de dessa unidade é composta por 38 profissionais distribuídos
conforme mostra a tabela_1.
Percebe-se que, na unidade, além dessas atividades inerentes ao processo de
trabalho dos profissionais de saúde dessa unidade, são desenvolvidas
diariamente atividades relacionadas com os exames de raios X no leito. Tais
atividades envolvem contenção, conforto e apoio às atividades do profissional
Técnico em Radiologia. Essas atividades foram evidenciadas nas falas como
seguem:
(...) Às vezes estamos realizando procedimento nos Rns e não saímos
com a chegada do aparelho de raios X, isto já é rotina, porque nunca
ninguém falou nada. Eles ainda brincam o raio não faz curva, podem
ficar atrás de mim (...) (Molibdênio).
(...) Trabalho há 17 anos aqui e já perdi a conta de quantos exames
eu ajudei e sempre corro para trás do técnico. Nunca ninguém disse
que isto estava errado (...) (Tálio).
Está evidente, que essa atividade de apoio ao procedimento radiológico na
unidade neonatal merece atenção especial, principalmente no que tange à
otimização da proteção radiológica. Tal atenção faz-se necessário, pois, a
média de solicitação de exames no leito é de aproximadamente 10 exames por dia.
Considerando esse contexto, esse dado torna-se preocupante. A falta de proteção
adequada e de informação quanto a essa carga física presente em seu ambiente de
trabalho foi evidenciada nos depoimentos dos sujeitos e na atitude demonstrada
ao denotar o desconhecimento das formas de proteção, conforme falas
transcritas:
(...) Trabalho há 17 anos aqui e já perdi a conta de quantos exames
eu ajudei e sempre corro para trás do técnico. Nunca ninguém disse
que isto era errado (...) (Gálio).
(...) Trabalho há 18 anos neste setor, e já perdi a conta da
quantidade de exame que eu ajudei a fazer, pois alguns Rns precisam
ser contidos e quem faz isso somos nós. Um RN que ficou internado a
mais ou menos dois meses e meio chegou a fazer 59 radiografias. A
média dependendo do tempo de internação chega a 28 exames por RN. Não
sei até que ponto a radiação tem efeito maléfico. Já existe algum
estudo sobre isso?(...) (Urânio).
Por outro lado no relato dos Técnicos em Radiologia acerca dos princípios
básicos de proteção radiológica fica evidente seu conhecimento sobre proteção
os efeitos advindos das radiações ionizantes. Além disso, eles mostraram saber
se proteger contra esses efeitos, embora quando se trata de prestar informações
aos demais profissionais de saúde, que estão sob a sua responsabilidade, esse
conhecimento é negligenciado. Mesmo assim, em seus relatos, fica evidente a
preocupação com a saúde e segurança, principalmente com os profissionais, o que
fica claro no seguinte depoimento:
(...) Preocupo-me com os profissionais de enfermagem em relação à
radiação eu até aviso para eles saírem quando vou fazer os raios X,
mas eles não dão muita bola. Muitas vezes ouvi algumas falarem. Eu já
fui laqueada, não tem mais problema! Outras chegaram a me dizer, não
vou ter mais filhos! Eu explico que não é bem assim (...) (Tecnécio).
Além da falta de proteção adequada e de informação quanto à carga física
presente do ambiente de trabalho, outro aspecto interessante evidenciado na
fala dos entrevistados é sua atitude descuidada quanto à presença dessa carga
física em seu ambiente de trabalho. Mesmo sendo avisados para afastarem-se do
ambiente, ignoraram o aviso e continuam seus trabalhos sem questionar. É o que
testemunha um Técnico em Radiologia em seu depoimento:
(...) Quando pedimos para as pessoas aguardarem lá fora porque vamos
realizar os raios X, eles respondem, já estou acostumada pode batê
(...) (Amerício).
Embora tenha sido evidenciado esse descaso quanto à exposição à radiação
ionizante por parte de alguns profissionais, também foram relatadas
preocupações com os riscos dessa carga física. Alguns mostraram ciência de que,
por mais invisível que seja, esse risco está presente naquele ambiente de
trabalho, podendo levar a danos biológicos tardiamente:
(...) Preocupa-me, porque por mais que a gente não enxergue, o perigo
existe. Agora não sentimos nada e depois o que nos acontecerá? (...)
(Césio).
(...) A gente até sabe que não pode ficar na sala, mas muitas vezes
estamos tão envolvidos com os Rns, que nem percebemos a presença do
aparelho de raios-X, quando nos damos conta o técnico já disparou o
raio (...) (Radio).
4. CONCLUSÃO
Levando em consideração as características do processo de trabalho em saúde,
sobretudo do profissional Técnico em Radiologia e considerando as
peculiaridades do processo de trabalho na unidade de terapia neonatal,
envolvendo exposição à radiação ionizante, inicialmente encontraram-se alguns
problemas na aplicabilidade da metodologia escolhida, principalmente no que
tange à constituição dos grupos homogêneos.
A dificuldade de organizar esse grupo deu-se, essencialmente, devido à
característica do processo de trabalho dos profissionais Técnicos em
Radiologia, pois os mesmos possuem uma carga horária de quatro horas diárias e,
além da sobrecarga de trabalho que lhes é imposta, ou seja, aproximadamente 60
incidências radiográficas por período, o mesmo ainda cumpre outras jornadas de
trabalho em outras instituições. Assim, o único tempo disponível para os
encontros era entre o processamento de uma película radiográfica e outra, no
próprio setor de radiologia. Outro momento que fazia parte desses encontros era
quando a unidade solicitava sua presença para realizar os exames no leito.
Naquele momento, além de observar como se dava a realização de exames
radiológicos nos recém-nascidos, também observavam-se os demais profissionais
envolvidos no processo de trabalho.
Portanto, na constituição dos grupos homogêneos, mesmo priorizado os
profissionais Técnicos em Radiologia, contou-se com pouca participação desses
profissionais nas discussões, mesmo que contribuíssem quando solicitados .
A exposição à radiação ionizante na unidade pesquisada dava-se principalmente
nas atividades de contenção, conforto e apoio às atividades do profissional
técnico em radiologia quando da realização de exames nos recém-nascidos no
leito. Tais atividades foram evidenciadas diariamente e validadas pelo grupo
homogêneo consensualmente. Essa situação de exposição é preocupante, pois os
profissionais de saúde, em geral, desconhecem os cuidados mínimos de proteção
radiológica. Além do desconhecimento dos princípios básicos de proteção
radiológica, também pode ser evidenciada a escassez dos equipamentos de
proteção individual plumbíferos, assim como sua conservação, pois foram
verificadas várias situações nas quais este equipamento encontrava-se dobrado
em cima dos equipamentos móveis.
O estudo realizado por Silva(11) ressalta a necessidade de se manter uma
educação permanente com os profissionais que se expõem à radiação ionizante.
Nessa perspectiva, acredita-se que esta prática tenha atingido seu objetivo,
sensibilizando os profissionais de saúde quanto aos possíveis efeitos da carga
física de radiação ionizante no ambiente de trabalho, assim como buscando
mobilizá-los para implementação de uma ação transformadora das condições de
trabalho, com vistas à otimização da proteção radiológica.