CIPESC® Curitiba: o trabalho da enfermagem no Distrito Bairro Novo
PESQUISA
CIPESC® Curitiba: o trabalho da enfermagem no Distrito Bairro Novo
CIPESC® Curitiba: the work of nursing at Bairro Novo District
CIPESC® Curitiba: el trabajo de enfermería en el Districto Bairro Novo
Denise Maria AltinoI; Maíra Rosa ApostolicoI; Franciele de Oliveira DuarteI;
Márcia Regina CubasII; Emiko Yoshikawa EgryIII
IGraduanda em Enfermagem da EEUSP, São Paulo, SP. Bolsista CNPq
IIEnfermeira. Mestre em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ. Doutoranda em
Enfermagem na EEUSP, São Paulo, SP. Professora assistente do Curso de
Enfermagem da PUCPR, Curitiba, PR m.cubas@pucpr.br
IIIEnfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutora em Saúde Pública e Livre-docente e
Titular em Enfermagem em Saúde Coletiva. Professora Titular do Departamento de
Enfermagem em Saúde Coletiva da EEUSP, São Paulo, SP emiyegry@usp.br
1. INTRODUÇÃO
O projeto Classificação das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva Brasil -
CIPESC foi desenvolvido pela Associação Brasileira de Enfermagem - ABEn, entre
1996 a 2000, atendendo a uma proposta do Conselho Internacional de Enfermeiras
(CIE), para a elaboração de um sistema que descreva a prática de enfermagem
através de uma nomenclatura compartilhada pelos enfermeiros de todo o mundo(1).
Este projeto contou com o apoio financeiro Fundação W.K. Kellogg e cobriu o
cenário nacional com a participação de 16 municípios resultando em um conjunto
de nomenclatura das práticas de enfermagem no extra-internação. Diversas
publicações (disponibilizadas no destacando-se a "Classificação das práticas de
enfermagem em saúde coletiva: a experiência brasileira"(2).
O município de Curitiba, Paraná, iniciou em 1998 a revisão das práticas de
saúde coletiva e do sistema de informação em saúde da rede municipal. Em 2003,
um grupo de enfermeiras construiu, coletivamente, o sistema classificatório -
baseado nos resultados do projeto CIPESC, implantando-o no prontuário
eletrônico operado em rede informatizada na atenção básica municipal. Sendo
assim Curitiba é, desde julho de 2004 quando foi oficialmente inaugurado, o
primeiro município do Brasil a utilizar os resultados do CIPESC como
instrumento sistematizador da prática de enfermagem em saúde coletiva(3).
O presente estudo teve por objetivo caracterizar a força de trabalho em
enfermagem no Distrito Sanitário Bairro Novo e identificar as atividades
exercidas pelos profissionais de enfermagem deste distrito na vigência da
Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva -
CIPESC, desde julho de 2004. Ressalte-se que este estudo é parte do projeto
maior que busca conhecer as transformações dos processos de trabalho da
enfermagem em saúde coletiva, decorrentes do SUS, integrando a linha de
pesquisa: "bases teórico-metodológicas da enfermagem em saúde coletiva" do
Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo.
2. PERCURSO METODOLÓGICO
A base metodológica utilizada foi a Teoria de Intervenção Práxica de Enfermagem
em Saúde Coletiva TIPESC(4), sendo contemplado o momento da Captação da
Realidade Objetiva.
A primeira parte da captação dos dados, referente a caracterização do cenário,
ocorreu junto a: fontes de dados documentais; dados estatísticos dos bancos do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE; Secretaria de Recursos
Humanos da Prefeitura Municipal de Curitiba PMC; Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba IPPUC; além do banco de dados da Secretaria
Municipal da Saúde - SMS e dos Sistemas de Informação Ambulatorial e Hospitalar
SIA/SUS e SIH/SUS.
A segunda fase foi realizada nas 9 Unidades de Saúde do Distrito Sanitário
Bairro Novo. Para a identificação das atividades desenvolvidas pelos
enfermeiros e auxiliares de enfermagem aplicaram-se dois instrumentos em forma
de check-list: "Atividades realizadas pela enfermeira no nível local" e
"Atividades realizadas pelos auxiliares de enfermagem no nível local",
utilizados no Projeto CIPESC 1 e adequados à realidade curitibana(5).
A universo do estudo é composta de 28 enfermeiros e 132 axiliares de
enfermagem. A amostra foi calculada com um intervalo de confiança de 95%; uma
expectativa de não realização das atividades de 10% e margem de erro de 3%.
Foram sorteados sistematicamente e convidados a participar voluntariamente 18
(14%) auxiliares de enfermagem e 10 (35%) enfermeiros.
A pesquisa obteve aprovação do Comitê de Ética da Escola de Enfermagem da USP,
bem como a anuência do Comitê de Ética da Secretaria Municipal da Saúde de
Curitiba. Aos participantes foi solicitado consentimento, por meio de Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, em respeito à Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde.
Para organização dos dados coletados utilizaram-se planilhas de base EXCEL® e
análise estatística simples.
3. CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO
Curitiba, capital do estado do Paraná, conta com uma população de cerca de
1.600.000 habitantes (Censo 2000). O processo de municipalização do sistema de
saúde teve início em 1992, implantou o Programa Saúde da Família em 1996,
embora operacionalizasse a estratégia desde 1991, e aderiu à Gestão Plena dos
Serviços Municipais em 1998.
O serviço municipal dispõe de uma rede própria com nove Distritos Sanitários
agregando 107 Unidades de Saúde (quarenta e cinco unidades saúde da família,
dez com especialidades e cinco com atendimento 24 horas), um hospital geral e
maternidade com 60 leitos e um laboratório municipal(6).
Os Programas desenvolvidos são agrupados por temas: a)Saúde da Mulher: Mãe
Curitibana (Pré-natal, parto, puerpério e planejamento familiar), Viva Mulher,
Mulher de Verdade; b) Saúde da Criança: Nascer em Curitiba, Pacto pela Vida,
Crescendo com Saúde, Rede de Proteção; c) Saúde do Adolescente: Adolescente,
Rede de proteção; d) Saúde do Adulto: Hipertensão, Diabetes; e) Saúde Mental;
f) Saúde Bucal: Cárie Zero; g) Imunização: PNI; h) Vigilância Epidemiológica:
Ambiente livre de cigarro(7).
O Distrito Sanitário Bairro Novo conta com uma população de aproximadamente
130.000 habitantes (Censo 2000), com nove unidades de saúde ( todas inseridas
no Programa de Saúde da Família), 1 US 24 horas, 1 Centro de Especialidades e 1
Centro Médico (Hospital). Os indicadores de morbidade no distrito apontam para
maior ocorrência de infecções respiratórias agudas na infância e hipertensão
arterial sistêmica. Além disso, neste distrito há uma incidência de gravidez na
adolescência superior ao do município.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Caracterização da força de trabalho da enfermagem no DS Bairro Novo
O Distrito Sanitário Bairro Novo conta com uma força de trabalho de 132
profissionais de enfermagem, sendo que destes 28 são enfermeiras e 104 são
auxiliares de enfermagem. As unidades de saúde de onde procedem os
profissionais que compõem a amostra da pesquisa são: US Bairro Novo, US João
Cândido, US N.S. Aparecida, US Osternack, US Palmeiras, US Parigot de Souza, US
Salvador Allende, US São João Del Rey e US Xapinhal.
A carga horária dos trabalhadores de enfermagem da rede de atenção básica do
Município é de 40 horas semanais para ambas as categorias. Além do emprego
público dois (20%) enfermeiros e dois (11,2%) auxiliares de enfermagem
informaram trabalhar em instituição privada de saúde, com cargas semanais de
até 36 horas.
A distribuição por sexo e faixa etária mostra que para a categoria enfermeiro,
dos 10 profissionais entrevistados, 9 (90%) são do sexo feminino e 5 (50%),
integram a faixa etária de 41 a 50 anos. Para auxiliares de enfermagem, o
predomínio também é de mulheres, 16 (88,9%), e as faixas etárias predominantes
são 31 a 40 anos e 41 a 50 anos, cada uma com 7 (38,9%) profissionais. Entre os
profissionais entrevistados, 8 (28,5%) são solteiros, 14 (50%) são casados e 6
(21,5%) declaram outro estado civil.
Quanto ao tempo de formado, para os enfermeiros há predominância na faixa que
vai até 10 anos de formação (60%) enquanto que para os auxiliares, 12 (66,7%)
apresentam de 11 a 20 anos. Esses resultados possuem correspondência no que se
refere ao tempo de exercício profissional.
É possível perceber que o número maior de profissionais auxiliares de
enfermagem está na faixa entre 31 e 50 anos (77,8%) coincidindo com um período
maior de exercício profissional - 11 a 20 anos. Isso demonstra que a força de
trabalho analisada está composta por profissionais inseridos neste mercado de
trabalho há mais tempo. Isso não ocorre da mesma maneira para os enfermeiros: 9
(90%) enfermeiros exercem a profissão há menos de 10 anos apesar de também
estarem inseridos, na sua maioria, na faixa etária de 31 a 50 anos, o que pode
ser decorrência da necessidade maior de tempo para sua formação.
Quanto à escolaridade, 13 (72,2%) auxiliares de enfermagem concluíram o ensino
médio, 3 (16,7%) o superior incompleto e 1 (5,6%) curso superior completo. O
rendimento mensal bruto, 9 (90%) de enfermeiros tem rendimento mensal entre 5 a
10 salários mínimos e 1 (10%) enfermeiro recebe entre 10 e 15 salários mínimos.
Entre os auxiliares, 13 (72,2%) têm rendimento mensal entre 1 a 5 salários
mínimos, 4 (22,2%) entre 5 a 10 salários e 1 (5,6%) entre 10 a 15 salários
mínimos.
Com relação a cursos de atualização, 8 (80%) enfermeiros e 7 (38,9%) auxiliares
de enfermagem declararam ter participado de curso de atualização nos últimos
três anos. Entre os enfermeiros, 6 (60%) fizeram cursos de especialização, como
por exemplo, em saúde coletiva e saúde da família.
A seguir descreve-se as atividades realizadas pelos profissionais de enfermagem
do cenário da pesquisa.
4.2 Ações desenvolvidas pelos trabalhadores de enfermagem da rede municipal de
saúde do Distrito Sanitário Bairro Novo Curitiba
Para melhor visualização e análise, as ações desenvolvidas pelos trabalhadores
de enfermagem foram agrupadas em três grandes áreas: a) Assistência: atividades
de suporte para ações de saúde, procedimentos de enfermagem e assistência de
enfermagem; b)Planejamento e gerenciamento: planejamento e execução de ações
educativas e de promoção, planejamento, coordenação e execução de intervenção
no serviço ou no território, gerenciamento da força de trabalho e,
planejamento, supervisão e provisão da infra-estrutura física; c) Ensino e
pesquisa: atividades de educação permanente (atividades de aperfeiçoamento
profissional e educação continuada) e atividades de pesquisa.
Para a análise das atividades serão destacadas as atividades mais realizadas e
as atividades menos realizadas, ambas com uma freqüência superior a 50%.
4.2.1 Ações desenvolvidas pelos auxiliares de enfermagem
Pelo Gráfico_1, observa-se que as ações assistenciais mais realizadas pelos
auxiliares de enfermagem são: acolhimento; recepção; verificação de sinais
vitais; orientação do público para a coleta de exames; administração de
medicamentos por via intramuscular e de inalação; organização dos consultórios
ou salas de atendimento; administração de tratamento prescrito; marcação de
consultas e exames; curativos; administração de vacinas; avaliação da situação
vacinal; organização do fluxo de pacientes dentro da unidade; orientação as
gestantes e referência por escrito para outro serviço. As atividades menos
realizadas são: teste de sensibilidade; cauterização umbilical e previsão e
provisão de vacinas.
As ações de planejamento e gerenciamento, conforme se observa no gráfico_2,
mais realizadas pelos auxiliares de enfermagem são apenas identificação e
análise de problemas de saúde. As atividades menos realizadas são: realização
de palestras de promoção da saúde em escolas para alunos, professores e pais,
ações de vigilância sanitária, elaboração de relatórios e boletins,
participação em reuniões dos Conselhos Municipal e Distrital de Saúde,
requisição de medicamentos e a providência de reparo e manutenção de aparelhos
e equipamentos.
As atividades relacionadas a ensino e pesquisa aparecem com pouca freqüência,
sendo que a participação como aluno em cursos e reciclagens é realizada por
cerca de 70% dos profissionais em freqüências que variam de trimestral a anual.
O planejamento de programas de treinamento de educação continuada é realizado
por aproximadamente 30% dos auxiliares de enfermagem, também em freqüência
dispersa. A atividade de auxílio em pesquisas científicas médicas não é
realizada por nenhum dos auxiliares.
Algumas atividades apresentaram uma freqüência dispersa, chamando a atenção
para a polarização de sua realização, já que alguns auxiliares de enfermagem as
realizam diariamente, enquanto outros as realizam anualmente ou ainda não as
realizam. São elas: terapia de reidratação via oral, coleta do teste do pezinho
e participação em reuniões do Conselho Local de Saúde. Essas atividades podem
apontar para as particularidades que existem nas diferentes unidades de saúde
acessadas.
Diante dos dados apresentados, é possível perceber que os auxiliares de
enfermagem concentram a maior parte de suas atividades na realização da
assistência.
4.2.2 Ações desenvolvidas pelos enfermeiros
As ações assistenciais mais realizadas pelos enfermeiros, apontadas no Gráfico
3 são: acolhimento, recepção, verificação de sinais vitais, solicitação de
exames laboratoriais normatizados, organização dos consultórios ou salas de
atendimento, organização do fluxo de pacientes dentro da unidade, orientação as
gestantes, referência por escrito para outro serviço, marcação de consultas e
exames, avaliação da situação vacinal, orientações a gestante e orientações
relativas a saúde da criança e ao puerpério, consulta e prescrição de cuidados
de enfermagem. As atividades assistenciais menos realizadas são: coleta de
sangue, urina e fezes para exames, orientação do público para a coleta de
exames, limpeza, acondicionamento e esterilização de material, terapia de
reidratação via oral, teste de sensibilidade, cauterização umbilical, coleta do
teste do pezinho e auxílio em pequenas cirurgias.
O gráfico_4 mostra que as atividades de planejamento e gerenciamento mais
realizadas pelos enfermeiros são: execução de atividades junto à equipe de
saúde e a grupos de usuários, supervisão da sala de vacinas, ações de
vigilância epidemiológica, planejamento, coordenação e supervisão dos serviços
de enfermagem e de saúde, identificação, análise e proposta de solução para os
problemas de saúde, supervisão e controle do pessoal da enfermagem e da saúde,
planejamento dos recursos humanos, distribuição de tarefas e supervisão de
limpeza. Já as atividades menos executadas são: realização de palestras de
promoção da saúde em escolas para professores e pais, testagem e indicação de
material comprovado, solicitação de recursos humanos e supervisão de redes
elétrica e hidráulica.
As atividades relacionadas a ensino e pesquisa também aparecem com pouca
freqüência, sendo que a participação como aluno em cursos e reciclagens e o
planejamento de programas de treinamento de educação continuada são as mais
realizadas em freqüências que variam de diário a anual.
Para os enfermeiros, também ocorre a polarização de certas atividades que
aparecem tanto com freqüência diária como anual, como avaliação formal do
pessoal de enfermagem, o planejamento de programas de treinamento de educação
continuada e o preparo de agentes comunitários. Algumas atividades, como a
autorização de pagamentos, a realização de compras e a realização de pesquisas
científicas de enfermagem, não são realizadas por nenhum dos enfermeiros.