Capacidade para o trabalho de trabalhadores de empresa de tecnologia da
informação
PESQUISA
Capacidade para o trabalho de trabalhadores de empresa de tecnologia da
informação
Work ability of workers from an information technology company
Capacidad para el trabajo de empleados de empresa de tecnologia de la
información
Maria Inês MonteiroI;Angela Cristina Puzzi FernandesII
IEnfermeira. Professor Associado. Doutora em Enfermagem. Mestre em Educação.
Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde e Trabalho, Departamento
de Enfermagem FCM/UNICAMP, Campinas, SP. inesmon@fcm.unicamp.br
IIEnfermeira. Enfermeira do Trabalho. Mestre em Enfermagem Unicamp. Doutoranda
em Enfermagem EERPUSP, Ribeirão Preto, SP. Membro do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Saúde e Trabalho, Departamento de Enfermagem FCM/UNICAMP.
puzzi@cpqd.com.br
1. INTRODUÇÃO
O trabalho tem sofrido profundas transformações nas últimas décadas e,
acentuadamente nos últimos anos, no Brasil, em relação à sua estruturação,
forma de contrato e setor(1).
Com a mundialização da economia as empresas tiveram que se adequar, em prazo
exíguo, ao novo mercado, através da readequação do número de trabalhadores,
novas formas de organização do trabalho, além da substituição de maquinário que
tem exigido, em geral, maior qualificação dos trabalhadores. Para manter-se no
mercado, dependendo do setor de atuação da empresa, a produtividade é
fundamental, com repercussão na competitividade do país(2).
Na Europa, Escandinávia e Japão há políticas de promoção à saúde no trabalho e
na vida das pessoas em geral, com políticas públicas que dão sustentação à
promoção à saúde, além de sólidas políticas de bem estar social, remanescentes
do período pós-guerra no século passado.
Nos países em desenvolvimento ainda há muito a ser feito no aspecto coletivo:
garantia dos direitos mínimos de sobrevivência, discussão de políticas públicas
com os diversos setores envolvidos, discussão da legislação adequada,
implementação da legislação.
Em 1950 as pessoas com 60 anos de idade ou mais totalizavam 8,2% da população
mundial e 6,8% da População Economicamente Ativa - PEA; em 2000, correspondiam
a 13,5% da população, mas somente a 5,4% da PEA. Em 1950 19,7% da população era
adolescente e totalizava 18,6% da PEA; em 2000, era 19,1% da população mundial
e correspondia a 10,8% da PEA. Houve, portanto, uma diminuição da participação
destes grupos etários na composição da PEA, nos anos de 1950 e 2000(3).
Segundo estimativas do International Labour Office - ILOhavia 160 milhões
desempregados no mundo, no final de 2000, sendo a taxa entre os trabalhadores
mais jovens duas vezes maior que a média e 50 milhões dos desempregados estavam
nos países industrializados(4).
Diferentes termos têm sido utilizados atualmente como sociedade da informação,
trabalho do conhecimento. Além do uso intensivo da informação, a jornada de
trabalho nas empresas tem sido ampliada; em algumas regiões do Brasil,
principalmente nos grandes centros, lojas e supermercados permanecem abertos
por longos períodos de tempo em média, 12 a 16 horas, dependendo do setor além
da extensão de horário no sábado e, em muitos casos, o trabalho no domingo. O
trabalho no final de semana antes presente apenas em áreas consideradas
essenciais (saúde, segurança) agora ocorre em diversos setores.
O documento "Structural and regulatory changes and globalization in postal and
telecommunications services: The human resources dimension" International
Labour Office - ILO avaliou as mudanças ocorridas na área de telecomunicações
nos anos noventa, com o processo de privatização e liberalização, com
implicações em relação ao mercado de trabalho, capacitação dos trabalhadores e
sua participação no processo de mudança. Este setor foi afetado pela integração
econômica mundial, sofrendo rápidas transformações e está centrado na sociedade
da informação(5,6).
O setor de telecomunicações é um dos que tem crescido com maior rapidez na
economia mundial, sua receita no ano de 2000 foi de US$1,210 bilhões, o que
corresponde a 3,9% do PIB do mundo. Por outro lado, a privatização dos serviços
de telecomunicações e sua reestruturação levaram a importante redução no número
de trabalhadores, em diferentes países: a British Telecom diminuiu, no período
de 1990-1999, 44,4% dos empregados, a Deutsche Telekom suprimiu 40,2% entre
1990 e 2000 e a Nippon Telegraph and Telephone (NTT) suprimiu 47,5% dos
trabalhadores no final da década de 80(3). Em muitos países os serviços de
telecomunicações têm sido responsáveis por 1 a 2% do total de empregos. A
empregabilidade está fortemente relacionada à formação contínua dos
trabalhadores, ao desenvolvimento de novas habilidades e atualização constante
(5).
Nos Estados Unidos 9,1% dos trabalhadores do setor eram especialistas
(engenheiro elétrico/eletrônico, pessoal de sistema computacional); 34%,
suporte administrativo; 25%, produção e reparo; 15,8%, gerencial e executivo;
10,5%, vendas e marketing e 4,5%, serviços de reparos, em um total de 1.042.000
trabalhadores(5).
A perspectiva da Organização das Nações Unidas - ONU em relação ao
envelhecimento populacional aponta, no documento "International Plan of Action
on Ageing 2002", que haverá um importante e rápido crescimento da população
acima de 60 anos de idade no mundo, passando de aproximadamente 600 milhões, em
2000, para 2 bilhões de pessoas, em 2050 e a porcentagem de pessoas com mais de
60 anos de idade aumentará de 10%, em 1998, para 15%, em 2025(7).
No Brasil a taxa de fecundidade continua diminuindo, sendo de 2,3 filhos/mulher
e 3,5 pessoas/residência em 2000(8). Já a esperança de vida ao nascer vem
aumentando gradativamente: 33,7 anos em 1900; 38,5 anos, em 1940; 55,9 anos, em
1960; em 1980, 63,5 anos(9); 68,6 anos, em 2000(8) e 71 anos em 2002(10).
Uma importante preocupação dos países europeus é a retirada precoce do
trabalho, antes dos sessenta anos de idade, sendo que na faixa etária entre 50
e 54 anos, a saída antecipada se deve ao desemprego e, entre 55 e 59 anos, é
relativa às condições de saúde ruins, referentes ao trabalho exercido ou não
(11).
No Brasil, a aposentadoria por invalidez correspondeu a 22,16% dos benefícios
referentes a todas as aposentadorias concedidas em 2000. O auxílio-doença
relativo ao acidente de trabalho e o auxílio-doença (geral) corresponderam
respectivamente a 8% e 36,17% do total de benefícios pagos em 2000, excetuando
o salário maternidade(12).
A idade média para a aposentadoria tem se elevado no Brasil, após as reformas
realizadas, passando de uma idade média de 48,9 anos em 1998, para 52,6 anos,
em 2000(13).
Para a empresa é fundamental pensar a saúde do trabalhador em uma nova
perspectiva, a da promoção à saúde no trabalho, que ultrapassa as ações
curativas / preventivas.
No que se refere aos aspectos de saúde mental e trabalho tem-se elevado o custo
devido ao aumento no número de pessoas acometidas principalmente pelos
distúrbios leves (ansiedade, tristeza, depressão, estresse).
Estudo realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) na Alemanha,
Estados Unidos, Finlândia, Inglaterra e Polônia, divulgado em 2000, apontou que
nestes países com legislação trabalhista e sistema de bem estar social
diferentes, estava ocorrendo importante alteração na saúde mental do
trabalhador. Os custos com a saúde mental eram elevados 3 a 4% do PIB da União
Européia. Nos Estados Unidos foram gastos 30 a 40 bilhões de dólares ao ano com
despesas públicas para o tratamento da depressão. Outro aspecto a ser destacado
é que esses problemas também podem levar à aposentadoria precoce(15,16). Na
análise estavam incluídas as licenças médicas, absenteísmo e a baixa
produtividade. Nos Estados Unidos, as perdas foram de 200 milhões de dias de
trabalho perdidos por ano.
1.1 O Índice de Capacidade para o Trabalho e sua utilização no Brasil e no
mundo
O Índice de Capacidade para o Trabalho - ICT foi desenvolvido pelos
pesquisadores: Tuomi, Ilmarinen, Jankola, Katajarinne & Tulkki; do
Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, através de pesquisas realizadas na
década de 80, para acompanhamento de servidores municipais em processo de
envelhecimento(16). O ICT "... revela quão bem um trabalhador é capaz de
realizar seu trabalho e pode ser usado como um dos métodos para avaliar a
capacidade para o trabalho nos exames de saúde e levantamentos no local de
trabalho"(17:6).
Ele é composto por sete itens, totalizando dez questões; para o seu cálculo são
utilizados os valores anotados, em algumas questões, e, para outras, um escore,
mediante as pontuações obtidas nas respostas.
1. Capacidade para o trabalho atual comparada com a melhor de toda a vida
2. Capacidade para o trabalho em relação às exigências do trabalho
3. Número atual de doenças diagnosticadas por médico
4. Perda estimada para o trabalho devido às doenças
5. Faltas ao trabalho por doenças no último ano (12 meses)
6. Prognóstico próprio sobre a capacidade para o trabalho daqui a 2 anos
7. Recursos mentais(18).
Abaixo estão relacionados os valores do ICT por categorias de pontuação e os
objetivos das medidas a serem adotadas:
Não é permitido fornecer dados ao empregador ou chefia imediata do trabalhador
(a) de modo que este(a) possa ser identificado(a)(17).
Os dados são confidenciais e são apresentados em relação a um conjunto de
trabalhadores. O índice permite auxiliar a identificar os trabalhadores que
necessitarão de "suporte" em relação aos cuidados de saúde. Deve ser destacado
ainda que traz benefícios tanto para o empregado, quanto para o empregador(16).
A capacidade para o trabalho é definida como os "recursos humanos relacionados
à demanda física, mental e social do trabalho, comunidade de trabalho e
gerenciamento, cultura organizacional e ambiente de trabalho"(18).
A tradução do Work Ability Index WAI, para o português Índice de Capacidade
para o Trabalho (ICT), foi realizada por uma equipe de pesquisadores da
Faculdade de Saúde Pública, coordenada por Fischer e colaboradores, sendo
editada em 1997.
Foram realizados estudos transversais nos anos de 1981, 1985, 1991/2 e 1997,
que visavam avaliar a capacidade para o trabalho de trabalhadores municipais de
Helsinque. Durante o follow-up de 11 anos, foi observado que uma maior proteção
ao trabalhador municipal fez diminuir a carga de trabalho(19). Os aspectos
músculo-esqueléticos foram avaliados através de 11 provas de força, resistência
muscular e mobilidade das articulações, com mulheres. Estes testes apontaram
uma diminuição de 26%, entre 51 a 55 anos. Em relação aos homens houve
diminuição da extensão máxima do tórax e da força de flexão com diminuição de
20% entre 51 a 55 anos(20).
As atividades físicas e as de lazer que restauram a energia gasta na rotina
diária e a possibilidade de fazer coisas diferentes são essenciais para a
manutenção da capacidade física e mental(21). A atividade física realizada
periodicamente e com esforço físico adequado é um dos fatores primordiais(18)
em relação à manutenção e melhora da capacidade física. Há uma estreita
correlação entre o envelhecimento, a capacidade mental e funções sociais(22).
A primeira pesquisa que utilizou o ICT e a Análise Ergonômica do Trabalho, no
Brasil, foi o estudo transversal "Envelhecimento funcional e condições de
trabalho em servidores forenses", com amostra de 807 servidores de uma
instituição judiciária federal; idade média de 36,2 anos e 75% com curso
superior completo e tempo médio de serviço de 3,8 anos. A análise de regressão
logística apontou uma associação do ICT com o sexo e as mulheres tinham 2,2
vezes mais chances do que os homens de ter valores categóricos menores do ICT
(bom e moderado)(23).
Em estudo com 238 trabalhadores de uma empresa de telecomunicações, com 35 anos
de idade ou mais, que utilizou o ICT, foi encontrado que 21,5% eram mulheres,
com idade média de 40,8a (DP 4,6) e 78,5% eram homens, com idade média de 44a
(DP 5,9). A capacidade para o trabalho foi baixa para 1,3%; moderada para
10,5%; boa para 46% e ótima, para 42,2%(24).
Pesquisa realizada em hospital filantrópico com 176 enfermeiros e auxiliares de
enfermagem, do setor de Emergência Clínica, mostrou que na amostra estudada
84,7% eram mulheres, a idade média era de 36,9 anos (DP=8,5), tempo de trabalho
médio de 7,3 anos (DP 6,0) e 35,6% tinham dois empregos. Os principais
problemas de saúde referidos foram: doenças músculo-esqueléticas, hipertensão,
problemas respiratórios e alergias; 19,3% tinham ICT baixo ou moderado e
somente 26,7% realizavam atividade física(25).
Este estudo compõe um amplo projeto de pesquisa, iniciado em 2000, intitulado
"Capacidade para o trabalho entre trabalhadores brasileiros de diferentes ramos
produtivos", coordenado pela primeira autora e desenvolvido em conjunto com
alunas de mestrado e de iniciação científica.
Os objetivos deste estudo foram: avaliar a capacidade para o trabalho dos
trabalhadores de uma empresa de telecomunicações e caracterizar os
trabalhadores em relação aos dados sociodemográficos e estilo de vida.
2. MÉTODO
Estudo transversal desenvolvido junto aos trabalhadores de uma empresa de
tecnologia da informação e telecomunicações, na região de Campinas, após
autorização do Gerente de Recursos Humanos. É uma empresa privada fundação de
direito privado do setor de telecomunicações e tecnologia da informação. A
escolaridade mínima exigida era o ensino médio completo e contava na época com
910 trabalhadores, 135 estagiários e 38 patrulheiros. Diversos serviços eram
terceirizados, como limpeza, segurança, jardinagem, restaurantes, manutenção e
transportes.
Os dados foram colhidos no período de janeiro a julho de 2002, a amostra foi de
173 sujeitos e a taxa de resposta de 83,9%.
Para a avaliação da capacidade para o trabalho foi utilizado o Índice de
Capacidade para o Trabalho - ICT, instrumento auto-aplicável, desenvolvido no
Finnish Institute of Occupational Health FIOH, Finlândia(16).
Os aspectos gerais referentes aos dados sociodemográficos, ao trabalho e estilo
de vida compõem um questionário para coleta de dados, elaborado pela primeira
autora em 1996 e revisto e atualizado em 2001(26).
A análise estatística foi realizada com o auxílio da Comissão de Pesquisa
Estatística, da FCM Unicamp. O banco de dados foi digitado no Programa Excel.
Para a análise estatística foi utilizado o Programa SAS (Statistical Analysis
System (versão 6.12). O nível de significância adotado para os testes
estatísticos foi de 5%, ou seja, p<0.05.
Em conformidade com a resolução do CNS 196/96 o estudo foi encaminhado ao
Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, tendo
sido aprovado. Foi utilizado o consentimento livre e esclarecido.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre os 173 trabalhadores entrevistados 60,1% eram do sexo masculino e 39,9%,
feminino; com idade variando entre 21 e 62 anos; 78% eram casados ou viviam com
companheiro, 15,6% solteiros e (6,4%) separados, divorciados e viúvos.
A maioria dos entrevistados tinha filhos (75,1%) sendo em média 1,93 filhos,
com idade média de 14,06 anos (DP 6,34). A idade das mulheres que tinham filho
(s) variou de 32 a 55 anos e, a dos homens, de 33 a 62 anos. A análise por
gênero revelou que entre os homens somente 17 (16,35%) não tinham filhos e
destes, 41,18% eram solteiros; 26 mulheres (37,68%) não tinham filhos e destas,
61,54% eram solteiras. Entre os casados/vivem com companheiro, de ambos os
sexos, somente 18 (13,33%) não tinham filhos, destes, 50% eram mulheres. A
faixa etária predominante foi a de 40 anos e mais, que totalizou 68,8% da
população entrevistada.
A maioria dos entrevistados tinha curso superior completo (72,8%) ou incompleto
(13,9%). Entre os 126 trabalhadores com curso superior completo, 63 (50%)
tinham cursado pós-graduação, sendo 3,2% MBA, 19% mestrado e 9,5% doutorado. O
tempo médio de atuação na empresa foi de 15,02 anos (DP 7,26), com variação de
0,6 a 28 anos e 65,9% atuavam na empresa há quinze anos ou mais.
Tabela_1
É importante destacar que 87,9% dos sujeitos tiveram emprego anterior, com
duração média de 8,12 anos, o que pode implicar em processos de trabalho
diferentes ou não dos executados na empresa atual, que acrescentaram uma
determinada carga de trabalho à sua história de saúde laboral. Pouco mais de 1/
3 dos trabalhadores estudados já ficou desempregado, sendo a maioria (70,5%)
por um período inferior a um ano.
A média de peso foi de 73,3 Kg (DP14,85), com variação entre 45 e 127 quilos; a
estatura média foi de 1,71 m (DP0,09) e variou entre 1,49 e 1,96 m. O Índice de
Massa Corpórea IMC teve média de 25,08 Kg/m2 (DP3,94) e variação entre 17,6 e
41 Kg/m2.
Oitenta e seis pessoas (50,3%) referiram a ingestão de bebida alcoólica, com
consumo médio de 3,26 doses por semana (DP 2,59). Embora este número seja
elevado, entre os que responderam afirmativamente, somente 4,05% ingeriam sete
doses ou mais por semana. Houve uma associação positiva entre a ingestão de
bebidas alcoólicas e o sexo masculino, com p=0,002.
O tabagismo foi referido por 21 pessoas (12,1%) e a média foi de 11,67 de
cigarros por dia (DP 9,33). Este valor se deve provavelmente ao programa de
prevenção ao tabagismo desenvolvido na empresa há mais de duas décadas.
A realização de atividade física foi referida por 120 pessoas (69,4%) dos
entrevistados e destes, 71,1% utilizavam 120 minutos por semana ou mais, que é
o mínimo recomendado. Em relação ao número total de entrevistados 46.8% se
exercitavam durante 120 minutos por semana ou mais. A realização de atividade
física é um dos fatores primordiais referidos por diversos autores(18, 21, 27)
em relação à manutenção e melhora da capacidade física.
Na análise de regressão multivariada os trabalhadores que não realizavam
atividade física tinham 2,5 vezes mais chance de ter o ICT bom ou moderado.
Este dado é concordante com o obtido por outros autores(18, 21) que apontam a
atividade física como um dos fatores essenciais para a promoção à saúde no
trabalho.
As atividades de lazer realizadas com maior freqüência foram: almoçar fora e
leitura de jornal/revista (83%); ouvir música (79,7%), assistir TV (74,4%);
passear (69,8%); leitura de livros (66,9%); visitar a família (65,7%) e ir ao
cinema (63,4%). Estas atividades também são importantes para a manutenção da
capacidade para o trabalho(17).
Em relação ao índice de capacidade para o trabalho, 9,2% dos trabalhadores
tiveram a capacidade para o trabalho pertencente à categoria moderada; 42,2%,
boa e 48,6%, ótima. Não houve nenhum trabalhador na categoria baixa, de modo
diverso ao encontrado por outro autor(24), em empresa de telecomunicações
pública, embora o percentual fosse pequeno (1,3%). Já os valores encontrados
para a categoria 'ótima capacidade para o trabalho', seu percentual foi de
42,2%, inferior ao encontrado no presente estudo.
A média do ICT foi de 42,68 pontos (DP 4,18), com variação entre 28 e 49, em um
total possível de 7 a 49 pontos. Na distribuição do ICT segundo o gênero houve
predominância da capacidade para o trabalho "boa" entre as mulheres (47,83%) e
"ótima", entre os homens (54,81%) e o percentual de "moderado" foi mais elevado
entre as mulheres (13,04%), que entre os homens (6,73%).
No cruzamento entre as variáveis sexo e ICT numérico a média do ICT dos homens
foi mais elevada (43,32) que a das mulheres (41,72) (p=0,0232, Teste de Mann-
Whitney).
Houve uma associação significativa entre atividade física (sim/não) e ICT
numérico, com maior escore para os que realizavam atividade física. (Tabela_2).
O cruzamento das variáveis ICT categórico e outro emprego apresentou uma
associação significativa: os que têm dois empregos têm um ICT menor do que os
que têm um emprego (Teste qui-quadrado, p=0,046).
O cruzamento dos dados referentes aos trabalhadores tabagistas e a realização
de atividade física mostrou uma associação significativa maior entre os que não
realizavam atividade física. A análise da associação entre as variáveis sexo e
ingestão de bebida alcoólica apresentou uma associação significativa para os
homens, sendo maior entre os mesmos.
Houve uma associação significativa entre a quantidade de atividades de lazer
realizadas e o sexo, as mulheres realizavam maior número de atividades de lazer
que os homens (Teste qui-quadrado, p=0,009).
A tabela_3 apresenta a análise de regressão logística univariada, na qual se
destacam as variáveis sexo (masculino) e atividade física (sim).
Embora a demanda de trabalho fosse predominantemente mental, 52% dos
trabalhadores assinalaram sua capacidade para o trabalho em relação às
exigências físicas como muito boa, porém, 37,6% assinalaram sua capacidade para
o trabalho em relação às exigências mentais como muito boa.
Entre as doenças mais freqüentes com diagnóstico médico destacaram-se:
distúrbio emocional leve (depressão leve, tensão, ansiedade, insônia), 21,7%
(25 trabalhadores) dos que responderam afirmativamente a essa questão;
obesidade 14,8% (17); hipertensão arterial e gastrite / irritação duodenal com
13,9% (16); lesão nas costas 12,2% (14) e lesão nos braços ou mãos, 11,3% (13
pessoas), que podem estar associadas ao trabalho realizado e ao estilo de vida.
As doenças auto-referidas mais freqüentes foram o distúrbio emocional leve
(depressão leve, tensão, ansiedade, insônia), 41% (43 trabalhadores) dos que
responderam afirmativamente a essa questão; obesidade, 21,9% (23); gastrite ou
irritação duodenal, 18,1% (19); lesão nos braços ou nas mãos e doença da parte
inferior das costas com dores freqüentes, com 16,2% (19 pessoas) cada uma.
Os valores percentuais em relação às doenças têm variado, na literatura
pesquisada, de acordo com o ramo produtivo (tipo de trabalho executado) e
características da população estudada(17).
O distúrbio emocional leve (depressão leve, tensão, ansiedade, insônia) foi a
doença com maior freqüência, tanto com diagnóstico médico, 21,7% (25
trabalhadores) quanto auto-referida, 41% (43 trabalhadores). Este dado é
preocupante tendo em vista que pode implicar em afastamentos do trabalho,
problemas na vida particular do trabalhador e em custos para o país e a
empresa, como nos países da União Européia, que tiveram uma despesa anual de 3
a 4% do PIB, com custos relativos a problemas de saúde mental, além de ocupar o
segundo lugar entre as causas de afastamento por doença ocupacional no Reino
Unido(15).
Este achado pode estar relacionado a intensa crise pela qual o setor de
telecomunicações e tecnologia da informação está passando, no Brasil e no
mundo, o que pode agravar ou desencadear os problemas de saúde mental, pois há
mudanças na forma de organização do trabalho e do processo de trabalho, com
prazos curtos para a entrega de projetos, além da instabilidade no emprego,
independe da qualificação profissional, pois trata-se de ajustes de custos, que
implicam na sobrevivência da empresa, em certas circunstâncias.
Houve uma associação significativa entre as variáveis sexo e ICT numérico, de
modo semelhante ao encontrado em outras pesquisas(22,23,24). Tal fato pode ser
explicado, pois a média do ICT numérico foi de 41,72 para as mulheres e 43,32
para os homens. Estes valores se encontram na mesma categoria do ICT,
capacidade para o trabalho 'boa', que varia de 37 a 43 pontos.
Os dados de afastamento chamaram a atenção em relação ao fato que os
trabalhadores, em parte, mesmo com doença / cirurgia que exige afastamento do
trabalho, continuam trabalhando ou utilizam horas do banco de horas ou mesmo
período de férias. Isto foi constatado através do levantamento dos atestados
médicos. No questionário 63,6% referiram que não tiveram afastamento do
trabalho no último ano.
Os recursos mentais apresentaram valores preocupantes, pois, 31,2% afirmaram
que às vezes / raramente "sentem-se cheios de esperança para o futuro" e 16,7%
assinalaram respostas semelhantes quanto a sua "capacidade de apreciar as
atividades diárias". Vários fatores poderiam explicar estes resultados, como a
instabilidade do ramo das telecomunicações, no Brasil e no mundo, com corte no
número de postos de trabalho, gerando incerteza quanto a permanência no
emprego; a forma como o trabalho se organiza.
Em relação às limitações do estudo, por se tratar de um estudo transversal,
pode ter ocorrido o efeito trabalhador saudável(27).
5. CONCLUSÃO
A maior parte da população estudada tinha o ICT na categoria boa (42,2%) ou
ótima (48,6%), o que requer medidas para melhoria e manutenção da capacidade
para o trabalho, respectivamente e que, em grande parte vem sendo realizada
pela empresa através da promoção à saúde no trabalho, porém, alguns fatores
como a organização do trabalho e o estilo de vida podem ser incentivados
visando a obtenção de melhores resultados.
A atividade física foi um dos fatores explicativos para a melhor capacidade
para o trabalho, os trabalhadores sem atividade física tinham 2,5 vezes mais
risco de ter ICT moderado ou bom do que aqueles que praticavam alguma atividade
física.
Os resultados gerais referentes ao ICT são melhores dos que os obtidos em
outras pesquisas, em diferentes ramos produtivos, sendo esta uma população
diferenciada em relação aos trabalhadores brasileiros em geral.
Por se tratar de uma empresa que trabalha com os princípios da promoção à saúde
no trabalho, os dados obtidos através da pesquisa, poderão servir como subsídio
para a programação das atividades do Serviço de Saúde Ocupacional.
As medidas de promoção à saúde no trabalho e, especificamente da capacidade
para o trabalho devem ser incorporadas à legislação brasileira, visando a
garantia de condições de trabalho e de vida justas, além dos aspectos de
cidadania e econômicos.