Cuidados cotidianos
INTRODUÇÃO
Trata o presente dos cuidados cotidianos de enfermagem prestados diariamente no
ano de 2006 num entrelaçamento da Ciência do Cuidado com a Ciência do
Cotidiano. O cuidar e os cuidados recebidos pelos clientes adultos
hospitalizados e re-internados com doenças crônicas e agudas são compostos da
Arte de organizar o próprio pensamento, de (re)ligar e ao mesmo tempo
diferenciar, de contextualizar e globalizar, de relacionar cada informação e
cada conhecimento ao seu contexto e conjunto - saberes particulares ao
conhecimento global por outro lado, exige do cliente uma resposta
orgânicapsicosocial imediata e tardia aos cuidados recebidos expressos como
resposta aos cuidados prestados. Os Objetivos dessa pesquisa foram apresentar
os cuidados de enfermagem ao cliente adulto enfermo e hospitalizado com doenças
crônicas ou agudas e gerar conhecimentos de Enfermagem que ecoam do cotidiano
de forma silenciosa.
MÉTODO
Foram utilizado os conceitos de cotidiano de Certeau, Michael (1) "extrair do
seu ruído as maneiras de fazer; os de Coelho, Figueiredo e Carvalho(2) de
cuidar como processo de expressão, de reflexão, de elaboração do pensamento, de
imaginação, de meditação e de aplicação intelectual [...]"; cuidados "ação
imediata prestada [...], em curto espaço de tempo, desenvolvido em vários
momentos, envolvendo segurança e competência, aliadas à tecnologia especifica
que a situação exige" e cliente "é aquele que sofreu uma violência ou acidente
físico e/ou orgânico, e que traz consigo as suas características pessoais,
familiares e sociais, necessitando urgentemente, do cuidar/cuidados de enferma-
gem[...]".
Optamos, para apresentar os cuidados diários através de uma abordagem
quantitativa descritiva e exploratória desenvolvida durante as reuniões
semanais no Laboratório de Tecnologia e Procedimentos de Enfermagem EEAN/CCS/
UFRJ/Brasil com estabelecimentos de relações na busca do cuidar e cuidados no
ano de 2006 (janeiro a dezembro), totalizando 15204 clientes homens e mulheres,
adultos, internados e re-internados com doenças crônicas e agudas, cuidados,
incluindo diferentes momentos, de circunstâncias práticas, descritíveis,
inteligíveis, relatáveis e analisáveis do cotidiano em Enfermagem hospitalar
pública e privada do Rio de Janeiro / Brasil.
O Hospital, neste estudo, é considerado laboratório de pesquisa que produz
conhecimentos e saberes a cerca dos cuidados. O instrumento de coleta de dados
foi o relatório 'Diário de Enfermagem do HUCFF/UFRJ', aplicado diariamente
pelos enfermeiros plantonistas. A Resolução 196/96 foi atendida, nos seus
artigos, e a pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética nº CEP 0095.0.197.197-06 de
05/09/2006 - CNS/MS - Comitê de Ética do HUCFF/UFRJ. A análise foi feita pelo
programa Deplhi e o banco de dados cachê com o auxilio de 02 analistas de
sistemas.
RESULTADOS
Demonstração dos cuidados cotidianos
No cotidiano Assistencial de Cuidar emergiu uma síntese das maneiras de cuidar
dos clientes desde o momento da sua entrada no sistema hospitalar até a sua
saída por alta, óbito ou transferência, com quadros. O fluxograma(2) do Cuidar
e dos cuidados descreve o caminho que o cliente/cuidados percorre diariamente
quando internado. O cliente se registra e é admitido no Serviço de Admissão ou
Setor ou Enfermaria - Recebido no Setor de Internação - Coleta de dados para o
histórico de Enfermagem - Implementação dos primeiros cuidados hospitalares -
atendimento médico - vigilância nos cuidados de Enfermagem de compartilhamento
- Implementações de Cuidados de Enfermagem de baixa complexidade - Complexos e
de altíssima complexidade - Cuidar individual ou coletivo - Requisição de
exames - resultados - encaminhamentos -instituição de tratamento e consequente
cuidados referentes a estes - Implementação - criação - improvisação de
cuidados - A luta no limiar entre a vida e a morte - Cuidados na fronteira do
limite. Em vigia e vigilância intensivos e sequencial dos cuidados de
Enfermagem - Cuidar no Encaminhamento para o CTI - Centro Cirúrgico ou Setor de
Internação - Cuidar no momento da morte - óbito - Cuidar do corpo morto -
Encaminhar o corpo morto à patologia - cuidar no tocante às providências legais
quanto ao corpo encaminhado ao Instituto médico legal, se for o caso - Cuidar
da Família/amigos/companheiros/conhecidos, entre outros que traduzem os
cuidados de Enfermagem recebidos em uma multiplici-dade de situações.
Os cuidados de enfermagem desse cotidiano que percorrem esse caminho são
frequentes e visíveis e as maneiras de cuidar em enfermagem(3) são
instrumentalizadas em três eixos: Movimentação do Cuidar (cuidar diurno e
cuidar noturno, número de clientes, admissões, transferência, altas,
liberações, óbitos e licença hospitalar); Condições dos clientes (independentes
dos cuidados, dependência parcial e total dos cuidados, conscientes, desorien-
tados, inconscientes e clientes psiquiátricos internados por distúrbios
orgânicos em hospital geral); Situações dos Clientes (acesso venoso periférico
e profundo, número de medicações endovenosas e endovenosas especiais, glicemia
capilar, NPT, QT, PVC, dieta enteral. SNG, vesical, drenos, ostomias, controle
hídrico, preparo de exames, curativos, pré-operatórios, cirurgia de emergência,
lesões de pele, precauções por contato e próteses respiratórias).
Movimentação do Cuidar
A movimentação do Cuidar e dos cuidados inclui os cuidar diurno (SD) e cuidar
noturno (SN), nº de clientes, admissões, transferência, altas, liberações,
óbitos, licença hospitalar e Diária e Taxa de Ocupação Hospitalar. Nesse
aspecto é importante destacar o que Coelho(2-3) descreve como Cuidar diurno e
cuidar Noturno:
O Cuidar Diurno tem em seu núcleo o planejamento e execução dos cuidados de
enfermagem durante o dia e requer uma organização especial, principalmente no
período da manhã: movimentação de pessoas, num ambiente de entra e sai de
clientes, familiares, enfermeiros e suas equipes, médicos, fisioterapeutas
nutricionistas, professores, pesquisadores alunos de todos os níveis, ruídos de
monitores, telefone que soa, exames, curativos, entre tantos outros.
Já o cuidar noturno trás o silêncio prolongado, modificações nos ritmos
biológicos em relação ao Ciclo vigília/sono. É o relógio biológico, muitas
vezes, em descompasso orgânico. Esse cuidar requer autonomia, processo
decisório e tomado de decisão(2). Tanto o Cuidar diurno quanto o noturno trazem
uma gama de particularidades em seus núcleos assim como nos cenários onde são
desenvolvidos dentro de um modelo biologista das especiali-dades médicas que
são nominados os setores/enfermarias de Internação descritos a seguir.
Destaque se faz para as complexidades que alguns cenários exigem em relação a
outros na elaboração dos cuidados cotidianos prestados.
Mesmo na questão leitos/dia, assim como para as admissões, chamam atenção os
picos máximos e os totais apresentados na movimentação desses cuidados. De
181.999 leitos/dias as admissões variaram de 04 a 4.184 clientes mensais,
movimentando um infinito número de cuidados prestados para atender as
necessidades de acolhimento desses ao adentrar em um ambiente desconhecido que
é uma unidade Hospitalar.
As altas variaram de zero a 3.981 clientes em um mês. Os óbitos foram de zero a
118 em um mês. Tanto para as altas quantos para os óbitos os cuidados são de
especificidades impares com entrelaçamento das ciências biológicas e humanas.
Os quadros_4,5 e 6 apresentam os números de leitos-dia, entradas e saídas assim
como os números de diárias e taxa de ocupação onde os cuidados de enfermagem
prestados se movimentam em direção a recuperação da saúde dos clientes
hospitalizados.
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A taxa de ocupação de 67,1% apresenta como os cuidados de enfermagem se mostram
nessa mesma proporção ao serem prestados. Por outro lado, uma taxa de quase 68%
requer cuidados integrais e individuais respeitando a integralidade e
individualidade de cada cliente hospitalizado.
Condições dos clientes que recebem os cuidados
A condição dos clientes inclui as seguintes situações: independentes dos
cuidados, dependência parcial e total dos cuidados; clientes conscientes,
desorientados, inconscientes e clientes psiquiátricos internados por distúrbios
orgânicos em hospital geral.
Outros dados importantes correlacionados com as condições dos clientes e a
implementação e manutenção dos cuidados cotidianos diz respeito as taxas
diárias de internação. A taxa de ocupação variou de 52,97% a 101,97%, com média
de 1,71 a 29,67. O índice de substituição dos leitos -ISS variou de -0,32 a
25,67. Já a taxa média de mortalidade hospitalar foi de zero a 27,68 e a taxa
de mortalidade Institucional foi de 0,07 a 26,79.
Situações dos Clientes
Os dados apresentados a seguir têm relação direta com a Situação Clinica dos
Clientes hospitalizados e a necessidade dos cuidados de Enfermagem de acesso
venoso periférico e profundo, nº de medicações endovenosas e endovenosas
especiais, glicemia capilar, NPT, QT, PVC, dieta enteral. SNG, vesical, drenos,
ostomias, controle hídrico, preparo de exames, curativos, pré-operatórios,
cirurgia de emergência, lesões de pele, precauções por contato e próteses
respiratórias.
Além dos cuidados listados, são envolvidos e não apresentados nos três eixos os
cuidaods(3) solidários, do ambiente, de promoção da saúde, de engajamento na
sociedade, providenciar material e recursos humanos, equilibrar, resgatar os
aspectos que se encontram encobertos pela hospitalização, passar visita
diariamente, lidar com as prioridades, de se colocar no lugar do outro, chamar
pelo nome próprio, respeitar a individualidade, se apresentar como enfermeiro,
explicar os cuidados de enfermagem, olhar de forma holística, pensar e
construir o cuidado, ouvir, assistir, orientar, diagnosticar, interagir,
confortar, ter amor, ter fé, higienizar o corpo, registrar, admiti-lo,
compartilhar com os outros profissionais de saúde, cuidar para saída/alta, para
os exames complementares entre tantos outros 107 cuidados.
CONCLUSÃO
A apreensão dos cuidados de Enfermagem no cotidiano Assistencial para 15.204
clientes em doze meses imortaliza e consolida momentos, muitas vezes,
(in)visíveis(4) do cuidado humano e permiti saber mais sobre ele e apreender
momentos distintos como resposta as situações emergentes e re-surgentes do
processo saúde-doença. Quando o cliente recebe os cuidados, ele os recebe e
reage ao mesmo de forma perceptível, também há uma mestiçagem de saberes
tecidos a partir de contribuições universais, represen-tações do espaço, do
tempo e dos objetos na construção dos cuidados prestados. Esses conhecimentos
vêm da mestiçagem de contribuições da física, química, sociologia,
antropologia, entre outras, e de contradições da vida cotidiana.
Os dados consolidam o que observamos no Cotidiano Assistencial, que a
recuperação do cliente não se esgota nas possibilidades de atenção e equilíbrio
dos males orgânicos, sociais e psicológicos previstos pela cura desses sujeitos
calcados no modelo cartesiano mecanicista que identifica a cura e a patologia
como principais referenciais.
O cuidado também é um referencial de recuperação organicopsi-cosocial do qual
há uma resposta visível dado pelo cliente enfermo hospitalizado com doença
crônica ou aguda. Do total estudado, 15.204, que ocuparam os 527 leitos no ano
de 2006, e dos quais 586 foram a óbito, pode-se fazer a seguinte correlação: a
Taxa de ocupação Hospitalar foi de 67,01% e os Cuidados totalizaram 2.191.771,
o que mais uma vez demonstra o impacto/resultados dos cuidados recebidos na
recuperação do quadro clinico dos clientes hospitalizados. Esses cuidados
formam uma rede de cuidados cujo padrão de organização e realimentação
(feedback) é de uma cadeia continua e diária. Podemos, também, visualizar esses
mesmos cuidados nos hospitais públicos e privados credenciados no Brasil, que
são cerca de 5.000, totalizando cerca de 400 mil leitos e 12 milhões de
internação/ano.
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O Conhecimento Científico do Cuidado exige capacidade de julgar, explicar,
desdobrar, justificar, induzir ou aplicar leis e produzir com segurança eventos
futuros transformados em cuidados que são dados ao cliente adulto enfermo e
hospitalizado numa composição em rede. O cuidado recebido por essa clientela,
ele é analítico, geral, sistemático, acumulativo, verificáveis e explicativos e
observáveis.