Estratégias de ensino-aprendizagem na percepção de graduandos de enfermagem
INTRODUÇÃO
A formação em todos os níveis busca a transformação social. No Ensino Superior
especificamente de Enfermagem pode-se afirmar que alunos e professores têm o
consenso quanto a formar profissionais capacitados e comprometidos com a ética
e o bem estar da comunidade a ser assistida. Estudos na área de ensino superior
de enfermagem tem se preocupado em analisar componentes curriculares da
enfermagem, reformulação de projetos pedagógicos(1) bem como caracterizar o
ensino superior de enfermagem(2), demonstra-se desse modo a preocupação de
estudiosos da área quanto ao ensino-aprendizagem na área.
Nesse sentido, é durante os cursos de graduação que o professor possui o papel
fundamental não apenas no processo de ensino-aprendizagem de temas técnicos,
como também na formação ética do caráter que será projetado nas atitudes do
futuro profissional. Assim deve-se focalizar um ensino reflexivo, a fim de
desafiar, estimular e ajudar os alunos na construção de habilidades e
competências que fortaleçam o compromisso profissional.
Nesse contexto um dos alicerces da didática é a técnica pedagógica e seus
propósitos tem sido identificados na literatura levantada, bem como a nossa
preocupação com as formas de trabalho do professor sob a visão do aluno.
Buscou-se resposta ao seguinte problema de pesquisa: Qual a percepção de
graduandos do curso de Enfermagem quanto ás estratégias de ensino-aprendizagem.
Para responder a essa questão formulou-se o seguinte objetivo geral: avaliar a
percepção de graduandos do curso de enfermagem frente às estratégias de ensino-
aprendizagem vivenciadas, como objetivos específicos buscou-se identificar as
estratégias de ensino-aprendizagem utilizadas no curso de graduação em
enfermagem e verificar quais as estratégias de ensino aprendizagem foram
valorizadas pelos graduandos de enfermagem, e por fim, analisar as relações de
ensino aprendizagem estabelecidas pelos graduandos frente às estratégias
disponíveis.
Atualmente o enfermeiro, possui formação generalista, humanista, crítica e
reflexiva, características essenciais que o qualificam com rigor científico e
intelectual pautados nos princípios éticos e legais. Aliado a isso o curso de
Enfermagem é baseado e conhecido como a ciência e arte do cuidar. Nesse
sentido, a temática é bastante relevante ao profissional enfermeiro docente,
pois deste exige-se domínio técnico e didático para exercer as funções
docentes, fato que merece destaque pelo predomínio curricular de práticas
tecnicista.
METODOLOGIA
Tratou-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa. Metodologia escolhida por
responder precisamente a questões particulares que envolvem a subjetividade dos
sujeitos, assim sendo mais adequada ao estudo da percepção dos graduandos de
enfermagem frente às estratégias de ensino aprendizagem.
O cenário da pesquisa foi uma instituição de ensino superior, de esfera
administrativa privada, localizada na cidade de Teresina, Piauí. Os
participantes dessa pesquisa foram 12 graduandos do 8º bloco do curso de
enfermagem captados aleatoriamente, denominados de E1 a E12. Sendo os mesmos do
gênero feminino, na faixa etária de vinte e um a trinta e cinco anos, sem
distinção de raça, cor e condição financeira. Tendo como caráter de inclusão
estar cursando o 8º bloco e de exclusão não estarem no referido bloco. Após a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os sujeitos foram
entrevistados pelas autoras no período de nove de fevereiro a nove de março
2009, tendo suas falas gravadas e transcritas com total veracidade dos fatos
após serem ouvidos atentamente.
Os dados da pesquisa foram organizados a partir do material coletado nas
entrevistas, buscando identificar o que for relevante para a pesquisa, e
analisado por meio da técnica de análise de conteúdo de Bardin(3). Foram
identificadas duas categorias, a primeiro "Percepção dos graduandos quanto às
estratégias de ensino-aprendizagem", retrata conceitos elaborados pelos
discentes sobre estratégias de ensino, bem como descrever as estratégias
identificadas pelos graduandos, constituindo as seguintes unidades de análise:
Conceito das estratégias de ensino-aprendizagem e identificando as estratégias
de ensino-aprendizagem.
A segunda categoria "Pensando as relações de ensino-aprendizagem numa lógica
diferente" tratou da perspectiva do graduando quanto ao ensinar e aprender por
meio das estratégias de ensino identificadas e percebidas, originando as
unidades de análise: Lógica do aluno e as relações estabelecidas frente às
estratégias de ensino.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ensinar não é apenas transmitir conhecimentos. A ação de ensinar é sobremaneira
baseada na intencionalidade que predispõe a ajudar alguém que quer aprender,
assim existe um caminho longo entre o propósito e sua realização, nesse sentido
surgem os procedimentos didáticos, visando um encontro entre ensinar e aprender
(4). Diante disso, podemos dizer que o ideal da didática é que o ensino produza
uma transformação no aprendiz, tornando-o melhor, mais habilidoso, competente e
capaz.
Nesse entendimento, os procedimentos didáticos buscam encorajar o graduando "ao
autodidatismo, despertando, provocando, favorecendo a autonomia do espírito"
(4). Assim, é importante analisar como as estratégias de ensino têm alcançado
os graduandos a partir do seu contexto pessoal e de suas experiências com o
ensino experimentado ao longo da sua formação profissional.
Percepção dos graduandos quanto as estratégias de ensino-aprendizagem
As estratégias de ensino-aprendizagem são definidas como o caminho que
facilitará a passagem dos alunos da situação em que se encontram até alcançarem
os objetivos fixados, tanto os de natureza técnico-profissional como os de
desenvolvimento individual como pessoa humana e como agente transformador(5).
Na primeira unidade de análise "Conceito das estratégias de ensino-
aprendizagem" os graduandos expressam conceitos para estratégias de ensino
ressaltando a forma de transmitir o conteúdo, a participação do aluno e os
recursos audiovisuais disponíveis. Observe as falas:
Método utilizado pelo professor para repassar o conteúdo para os
estudantes de uma forma objetiva e sábia. (E2; E8; E9; E11 e E12)
É quando o professor muda o padrão da aula, é quando ele permite
questionamentos e a participação do aluno. (E3; E4; E5 e E7)
É uma forma que o professor utiliza para chamar a atenção do aluno
para assimilar o conteúdo e ficar mais interessante à aula com uso de
instrumentos visuais. (E6 e E10)
Os depoimentos partiram do pensamento imediato dos graduandos sobre as
estratégias de ensino aprendizagem. Pode-se perceber uma tríade importante
transmissão-participação-atenção no âmbito da sala de aula, ou seja, fatores
que interligados concebem uma compreensão do conhecimento transmitido que
extrapolam a formação profissional para a formação do ser humano como um todo,
capaz de contribuir para promoção, recuperação e reabilitação da saúde do
indivíduo, família e comunidade. Assim, "a missão do ensino é transmitir não o
mero saber, mais uma cultura que permita compreender nossa condição e nos ajude
a viver, e que favoreça, ao mesmo tempo, um modo de pensar aberto e livre"(5).
A atividade de ensinar é vista, comumente, como transmissão de conteúdos aos
alunos, realização de exercícios repetitivos, memorização de definições e
fórmulas. Porém devemos entender o processo de ensino como o conjunto de
atividades organizadas do professor e dos alunos, visando alcançar resultados
transformadores, tendo como ponto de partida o nível atual de conhecimentos,
experiências e de desenvolvimento cognitivo dos alunos(7).
A participação do aluno é uma preocupação do professor, pois "garante o seu
envolvimento e comprometimento com o processo ensino-aprendizagem"(8). O
conceito de estratégias de ensino aprendizagem como propiciadora de
participação ativa do aluno, estabelece que a relação entre como ensinar e os
conteúdos explorados "determina a contribuição da prática pedagógica para a
conservação-superação da sociedade mais ampla"(7). A fala de E7 enfatiza essa
idéia: o professor repassa o conteúdo, mas o aluno participa, e isso facilita o
aprendizado, fica mais fácil a aula e os alunos gostam dessa interação.
Já em relação aos recursos didáticos audiovisuais, o professor e aluno são como
parceiros que mutuamente se ajudam a explorar as possibilidades pedagógicas das
novas tecnologias (televisão, recursos multimediáticos, as BBS e a rede
Internet, e outras tantas inovações que estão por vir) para desvendar os
enigmas do conhecimento e para aprender(9). E6 reforça este pensamento: Meio
que o professor utiliza para chamar a atenção do aluno através de meios
audiovisuais.
O ensino fundamenta-se na estimulação que é favorecido por recursos didáticos
que facilitam a aprendizagem. Esses meios despertam o interesse e provocam a
discussão e detalhes desencadeando perguntas e gerando idéias(10).
Diante disso, o ensino na enfermagem busca capacitar o profissional à prestação
de cuidado de saúde ao ser humano /cliente através de um embasamento científico
e o envolvimento de habilidades técnicas para aprender a se relacionar não
apenas a patologia, mas ao paciente holisticamente.
O método tradicional de ensino são as aulas expositivas, transmissão de
informações e conhecimentos em que a participação do aluno é mais passiva.
Denomina esta prática de educação bancária, onde o papel do aluno é limitado a
receber depósitos, guardar, arquivar, preocupando-se basicamente com a
transmissão do conhecimento e com a experiência da professora, sem atentar para
os aprendizes enquanto pessoas que fazem parte de um contexto maior(9). Esta
visão crítica é percebida na falas de E1 A cada dia os professores procuram
buscar técnicas diferentes para fazer os alunos aprenderem além daquela técnica
tradicional.
O ensino não consiste apenas na exposição do aluno a conhecimentos e situações,
mas também no controle da aprendizagem. Por conseguinte, para cada operação
importante o professor terá que descobrir a melhor forma de averiguar e medir o
progresso do estudante, isto é, de avaliar seu desempenho e sugerir-lhe os
reajustes necessários(6).
Nessa perspectiva, observamos na presente unidade de análise a ilustração da
importância de mudar a concepção hegemônica tradicional para uma concepção
interacionista, de problematização das praticas e saberes, isto é, mudando a
visão racionalista e concentradora na produção do conhecimento para o estimulo
à produção do conhecimento por argumentos de sensibilidade e autocrítica.
O enfermeiro por se tratar de um profissional que tem responsabilidade de
organizar as atividades de ensino e as de aprendizagem cuja essência e
especificidade são de atender as características do conteúdo, do curso, da
disciplina e principalmente dos alunos envolvidos no processo, implementando
ações para promover a construção do saber prático e científico.
Para realização de tais ações, o professor utiliza ferramentas no sentido de
estimular a produção do conhecimento e a recriação deste conhecimento tanto
para o docente como para o aluno.
Na segunda unidade de análise "Identificando as estratégias de ensino-
aprendizagem" ao se questionar sobre quais estratégias de ensino-aprendizagem
são utilizadas pelos professores no ensino teórico do curso de enfermagem, nos
depoimentos observou-se que todos os alunos (100%) entrevistados disseram Grupo
de Discussão e Aula Expositiva. As outras estratégias que tiveram destaque
significativo pelos graduandos foram Seminário (91,6%) e Filmes (66,6%), ou
seja, em sua maioria os relatos foram referentes às técnicas socializantes que
buscam o aprendizado através da interação do grupo e participação dos alunos.
Essas ferramentas são comumente conhecidas por métodos, procedimentos ou
técnicas de ensino, isto é, maneiras de como ministrar a aula, juntamente com o
aprendizado do aluno(6).
Desse modo, observamos variedade nas estratégias de ensino-aprendizagem, o
professor, portanto, assume a coordenação do trabalho docente, demonstrando
interesse pela participação do aluno sugerindo uma postura anti-autoritária, ou
seja, fora de padrões em que o aluno seja subordinado ao professor. Nessa
perspectiva E1 afirma que os professores deixam os alunos mais à vontade para
expor suas idéias e enriquecer muito mais a aula.
A participação dos alunos em sala de aula opinando, expressando dúvidas e
enriquecendo as temáticas expostas, geram um ambiente rico em trocas de
saberes, confirmando principalmente que a formação no ensino superior visa o
jovem adulto que com "o aumento da maturidade e consequentemente acúmulo de
experiências e desenvolvimento de uma postura crítica, tem necessidade de
participar de modo mais ativo do processo e aprendizagem"(12).
Diante do que foi exposto pode-se elucidar que o professor deverá ser um
empreendedor, um profissional competente, atualizado, com visão das questões
gerais da sociedade que o cerca, e que os métodos de ensino e um indivíduo
aberto ao aprendizado constante só facilita o aprendizado tanto do professor
quanto do aluno. Os professores atualmente "colocam-se profissionalmente como
mestres e aprendizes, com a expectativa de que, por meio da interação
estabelecida na 'comunicação didática' com os alunos a aprendizagem [...]
aconteça para ambos"(3).
Assim, foi apresentado até o momento, a significação das estratégias de ensino
aprendizagem na percepção dos graduandos de enfermagem, bem como quais
estratégias estão sendo abordadas pelos professores no decorrer do curso e
dentre elas qual é a mais favorável ao incentivo da criatividade, a
participação ativa e principalmente a aptidão para resolver problemas
compreendendo e criticando as diversas soluções levantadas.
Pensando as relações de ensino aprendizagem numa lógica diferente
A didática para assumir um papel significativo não poderá reduzir-se e/ou
dedicar-se somente ao ensino de meios e mecanismos pelos quais se desenvolveram
processos de ensino-aprendizagem, e sim, deverá ser um modo crítico de
desenvolver uma prática educativa emancipadora de um processo tradicional, que
não será feito tão somente pelo educador, mas, por ele conjuntamente com o
educando e outros membros da sociedade.
De acordo com isso, o grupo representa uma amostra da sociedade, e é através
dele que o nosso aluno deverá se preparar para viver coletivamente,
contribuindo com suas experiências e se beneficiando com as de seus
companheiros. É vivenciando situações de vida com o grupo que nosso educando
estará se preparando para uma conduta social adequada; é ainda através de um
interagir com seus semelhantes que estará formando consciência democrática,
adquirindo uma visão libertadora, reforçando a auto-estima(10).
Nessa percepção, fez-se um levantamento das principais estratégias didáticas,
sob a lógica do aluno, que aprimoram o aprendizado identificando as vantagens e
desvantagens de cada método de ensino apresentado, esta categoria também se
baseia na construção do pensamento sobre as formas de ensino menos tradicionais
destacando as dificuldades e os fatores necessários para atingir o objetivo
principal em sala de aula: Aprender.
O graduando do ensino superior se prepara para a vida profissional na
expectativa de sujeito transformador e por assim ser com a responsabilidade
explicita de transformar seu contexto histórico, social e econômico. Assim,
quando se pretende estabelecer uma lógica diferente partindo as relações
estabelecidas pelos graduandos quanto às vantagens e desvantagens das
estratégias de ensino aprendizagem, pretende-se responder a questão precípua do
adulto aprendiz: "como eu aprendo?"
Na unidade de análise "Lógica do aluno" os graduandos em enfermagem descreveram
que o grupo de discussão é a técnica mais vantajosa para o ensino e
aprendizagem de um conteúdo, porque estimula o estudo e a pesquisa no qual se
cria uma visão crítica e reflexiva para a determinação e interpretação dos
fatos, como também torna os alunos socializados com o restante do grupo.
Conforme verificado no grupo de depoimentos que seguem:
Grupo de discussão, todo mundo interage, não fica só uma pessoa
falando lá na frente você pode expressar seu pensamento se aprofundar
numa determinada patologia e o aproveitamento é maior discutindo os
casos clínicos. (E3; E7; E9 e E12)
Grupo de discussão, porque você é forçada a estudar, é uma forma de
motivação e incentivo para a aprendizagem e ajuda a vencer a timidez.
(E1; E2; E4; E5; E6 e E8)
Sancionando este fato, a discussão pode ser entendida como a deliberação
cooperativa sobre os problemas, por pessoas que pensam e conversam em grupos,
pequenos ou grandes, sob a direção de um coordenador, com o objetivo de chegar
a um entendimento da ação(10).
O mesmo autor afirma que a linguagem e o pensamento são processos intimamente
ligados, onde a expressão oral do pensamento traz à luz elisões, redundâncias e
falhas que, sem isso poderiam passar despercebidas. Quase todos já tiveram a
experiência de ver uma idéia confusa ganhar clareza e precisão em consequência
da expressão.
Porém, a expressão oral se torna um vilão para o aluno quando este tem
características de inibição, como expressa E10 aula expositiva em primeiro
lugar, porque no grupo de discussão eu estudava e ficava com vergonha de falar.
Alunos tímidos podem ser prejudicados no processo avaliativo e de interação com
o grupo quando o coordenador, normalmente o professor, não estimula a expressão
desse aluno, possibilitando em seu tom de voz incentivo a sua fala, enfatizando
a importância do grupo perceber as diferenças para propiciar um trabalho em
equipe. Sabe-se que a vergonha no ato de se expor ao falar em público tem como
peculiaridade o medo da opinião alheia sobre suas opiniões ou bloqueios
cognitivos diversos, assim o papel do professor é fundamental nesse processo de
mediação e interatividade.
De fato podemos afirmar que as práticas alternativas de ensino incentivam a
visão crítica, reflexiva e as qualidades criativas dos graduandos sobre as
temáticas em foco e que na lógica de "como se aprende", os mesmos procuram um
ensinamento que contribua para suas inquietações, socializando ações e práticas
que extrapolem o ensinamento apenas técnico-científico para "o significado de
uma 'cabeça bem cheia': é uma cabeça onde o saber é acumulado, empilhado, e não
dispõe de um princípio de seleção e organização que lhe dê sentido"(5).
Na unidade de análise "As relações estabelecidas frente às estratégias de
ensino" ao interrogarmos sobre a frequente indagação dos graduandos:"Não vai
ter aula hoje não", quando o professor apresenta uma estratégia inovada ou
menos tradicional, obtivemos as seguintes respostas:
Principalmente quando é filme, eles pensam que é um momento de lazer
e que não faz parte do conteúdo da aula, só é valido se o professor
pedir o retorno do filme, como fazer uma síntese e dar a nota por
isso. (E3)
O aluno pensa que o professor age como se estivesse enrolando, está
cansado e não quer dar aula, por isso utilizam outros métodos menos
cansativos. Eu não tenho esse pensamento mais já ouvi muito isso.
(E5)
A maioria pensa que o professor não quer dar aula, eu sei que ele
tenta repassar o conteúdo de forma diferente, só que os alunos não
aproveitam muito, o aluno só faz uma tarefa sabendo que vai ganhar
ponto. (E2, E7)
Destaca-se que em todos os depoimentos agrupados, os graduandos respondem pelo
termo "o aluno pensa", "a maioria pensa", "eles pensam", se expressando de
maneira excludente frente ao pensamento, se defendendo ou não compartilhando a
princípio da opinião tida como geral.
Por outro lado o professor ao buscar formas menos tradicionais de ensino
intenciona melhores condições de aprendizagem por meio da escolha adequada das
atividades de ensino diante das disciplinas, dos objetivos educacionais a serem
alcançados. O graduando quando não esclarecido dos objetivos da atividade
proposta, no entanto, classifica a estratégia como ação de um professor
"descomprometido" com a disciplina e como forma de "bônus" e pior sente-se
estimulado a permanecer na atividade quando esta claro que poderá "ganhar
pontos".
O professor tem um grande leque de opções metodológicas, de possibilidades de
organizar sua comunicação com os alunos, de introduzir um tema, de trabalhar
com os alunos presenciais e virtualmente, de avaliá-los. Cada docente pode
encontrar sua forma mais adequada de integrar as várias tecnologias e
procedimentos metodológicos por meio de um planejamento pedagógico sistemático
e materializado em um plano de ensino esclarecedor.
Quando as atividades de ensino são bem planejadas as formas de comunicação
interpessoal/grupal são eficazes as atividades de comunicação audiovisual/
telemática e outras podem ser enriquecedoras e proveitosas(13). Como foi
revelado nos depoimentos de E1: a maioria dos alunos pensa assim, mas no final
todos se envolvem e o resultado é com bom êxito e de E8 complementa: alguns
alunos fazem este comentário, não é meu caso, a mudança da técnica de ensino
muda um pouco a rotina. Afinal de contas já passou o tempo em que o professor
ficava lá e o aluno aqui. Ele deve utilizar recursos disponíveis para propiciar
o aprendizado.
Portanto, o uso apropriado do juízo correto e técnicas de ensino inovadoras
envolvem os alunos em um nível pessoal, porém os professores devem ser
cautelosos ao usar inovações técnicas que não tenham sido devidamente
esclarecidas quanto aos seus objetivos didáticos, pois assim o graduando pode
interpretar de maneira radical e generalizar, conforme expõe E4:(...) o aluno
diz, se eu soubesse que era isso, eu não teria vindo para aula não. O aluno dá
muita importância a ponto. Se o professor disser, assista ao filme que depois
faremos uma atividade e vocês receberão 'x' pontos por esta atividade, aí o
aluno fica, se for só pra assistir, você observa que ao final ficam apenas dois
a três alunos na sala. No mesmo entendimento E6 continua: com relação ao filme
eu concordo, pois sempre tem uma discussão sobre ele, mas eu não concordo
quando são dados textos para ler e fizer uma síntese, sem que ao final seja
feita a socialização dos conhecimentos apresentados no texto.
A consideração acerca da função do professor, do aluno e do relacionamento
entre eles, defende as estratégias de ensino com abordagem humanística(14). O
professor cria condições facilitadoras para que o aluno aprenda, estimula sua
curiosidade encorajando-o a escolher seus próprios interesses.
O ensino e a aprendizagem nos discursos conservadores ecoam para variáveis e
sutis aportes de domínio e submissão denotados na fala de E6. Quando o
professor determina por seu autoritarismo o que o aluno deve fazer, tem-se uma
prova incontestável de que as relações de poder passam pelas sociais e
perpassam as mesmas relações, inquirindo subjetividades dominantes e dominadas
(15).
Na atualidade a perspectiva fundamental da didática é assumir a
multifuncionalidade do processo de ensino-aprendizagem e articular suas três
dimensões: técnica, humana e política no centro configurador de sua temática,
no qual a função do docente é estar sintonizada com as inovações permanentes da
sociedade sendo que para realizá-las é preciso estruturas educacionais que
proporcionem ao professor condições de se atualizar, não apenas no conteúdo
mais principalmente na escolha de estratégias de ensino adequadas ao conteúdo a
ser ministrado.
CONCLUSÃO
As estratégias de ensino no processo de aprendizagem são aspecto fundamental na
atuação do docente. Porém o sucesso de uma estratégia de ensino-aprendizagem
irá depender da integração de fatores relacionados tanto ao professor quanto ao
aluno, fatores estes que implicam motivação, conhecimento e principalmente
persistência. O envolvimento desse processo resulta na formação para o ensino
superior em uma troca significativa de saberes onde o docente também é aprendiz
e pode possibilitar ao aprendiz que seja docente, numa troca valorosa de
papéis.
Entendemos que o papel do docente consistiu em uma maior amplitude no qual as
formas menos tradicionais devem ser praticadas, pois excedem a simples
transmissão da mensagem, propiciando a assimilação do conteúdo programático e
despertando uma consciência critica no aluno que o ajudará a enfrentar as mais
diversas situações concedendo atitudes criativas e transformadoras. Porém
percebemos que o aspecto metodológico da Didática consiste em princípios, e não
em regras, transportando-se o foco de atenção às condições para o
desenvolvimento harmônico do aluno, sendo que o mesmo deve estar disposto a
contribuir com o professor e com o seu próprio aprendizado, pois frases como
"não vai ter aula hoje não" traduz falta de interesse e motivação, além de
significar uma concepção perpetuada no ensino tradicional.
Partir da percepção dos graduandos quanto às abordagens praticadas é um
exercício valioso na compreensão desses do processo ensino-aprendizagem
praticado na área de Enfermagem que embora tradicional pela herança tecnicista
que agrega, tem demonstrado interesse em conhecer novas estratégias de ensino.
É importante ressaltar que as técnicas pedagógicas que não foram vivenciadas e/
ou identificadas neste estudo demonstram a necessidade de atualização dos
profissionais enfermeiros docentes, a fim de, cada vez mais, avançar na
implementação de estratégias de ensino atuais e inovadoras para formação de
enfermeiros, valorizando o planejamento pedagógico e participativo na
elaboração dos critérios e objetivos de ensino, principalmente no momento de
apresentá-los aos graduandos. Assim frases como "não vai ter aula hoje, não"
podem ser substituídas por "qual a nova estratégia que vamos experimentar
hoje".
Neste sentido, consideramos que a ação disposta neste estudo contribua para a
melhoria da qualidade na docência do ensino superior, destacando o ensino de
enfermagem, construindo enfermeiros capacitados não apenas cientificamente, mas
como seres humanos em todo seu contexto, em uma abordagem onde os alunos estão
cada vez mais "próximos" dos professores, com alto grau de satisfação,
tranquilidade e segurança em relação à formação profissional que carrega como
responsabilidade lidar com vidas.