Cuidado de enfermagem para prevenção de quedas em idosos: proposta para ação
INTRODUÇÃO
Mundialmente, o aumento populacional de pessoas com 60 anos e mais,
consideradas cronologicamente e socialmente como idosas, ocorre de forma
acelerada. Enquanto aumenta a demanda de pessoas que necessitam de assistência
hospitalar, o número de serviços de saúde ainda é reduzido, comprometendo,
assim, a assistência prestada(1).
O contingente de idosos passou a ser constituído por representantes de um grupo
populacional mais vulnerável aos múltiplos redutores da saúde, entre eles a
queda(2). Esse tipo de acidente pode alterar a capacidade funcional,
interferindo na autonomia e independência e, assim, acarretando nos idosos a
necessidade de cuidados e auxílio de outros para realização de atividades
rotineiras(2).
A queda é definida como "um deslocamento não intencional do corpo a um nível
inferior em relação a posição inicial, com incapacidade de correção em tempo
hábil, determinado por circunstâncias multifatoriais comprometendo a
estabilidade"(3). Esse evento é constituído por elementos causais classificados
como intrínsecos, ou de ordem interna, e extrínsecos, ou de caráter externo.
As causas intrínsecas decorrem de processos fisiológicos ou patológicos do
envelhecimento, correspondentes à tendência de lentidão dos mecanismos
corporais centrais importantes para os reflexos posturais. Podem estar
associadas a doenças específicas: perda de consciência; doença de Parkison;
distúrbios da marcha, postura e do equilíbrio; demências; distúrbios de
percepção ambiental; ataques súbitos de quedas sem perda da consciência, os
chamados drop attacks(4).
As causas extrínsecas são aquelas geralmente representadas pelos fatores
ambientais incluídos nas quedas e que, comumente, envolvem situações cotidianas
(5). Dessa forma, o ambiente relacionado aos objetos e às pessoas pode
representar fator de risco para o ser humano que ali vive. Para o idoso, a
questão da acessibilidade é algo vital, e corroborando isto, destaca-se o
ambiente seguro, principalmente dentro do domicilio, ou das Instituições de
Longa Permanência para Idosos (ILPI's), caso seja institucionalizado,
possibilitando ao idoso viver com independência, autonomia e dignidade.
Entende-se como ambiente seguro o recinto que apresenta redução do risco para
quedas de origem extrínseca, a saber: degraus de escadas evidentes, delimitados
no fim e início; iluminação adequada; pisos secos, foscos, livres de
ondulações, e antiderrapantes; grades de segurança, firmes e estrategicamente
situadas no ambiente; cadeiras de rodas e camas com breques(6). Por sua vez, o
ambiente inseguro caracteriza-se por: presença de móveis instáveis; escadas
inclinadas e sem balaústres; tapetes avulsos e carpetes mal adaptados;
iluminação inadequada; tacos soltos no chão; pisos escorregadios e encerados;
camas altas; sofás, cadeiras e vaso sanitário muito baixos; prateleiras de
difícil alcance; presença de animais domésticos pela casa; uso de chinelos, ou
sapatos em más condições ou mal adaptados; fios elétricos soltos(7).
Ressalta-se que a queda, como evento multifatorial, deve ter seu foco de
prevenção no ambiente seguro, e nos hábitos e atitudes do idoso que podem
representar risco. Desta forma, a autonomia, a capacidade funcional e a
independência são aspectos importantes a serem analisados na determinação das
quedas. A autonomia é a capacidade de decisão, quando o idoso tem condições de
fazer suas próprias escolhas. A independência ocorre quando o idoso tem
capacidade de realizar determinadas tarefas com seus próprios meios. Tanto a
independência como a dependência são situações que só existem em relação a
alguém ou alguma situação. Assim, é possível observar numa mesma pessoa
independência financeira e dependência afetiva; considerando que a dependência
é uma característica relacionada a outros, e não uma questão individual(8).
Já a capacidade funcional, relaciona-se com a aptidão do idoso na realização
das Atividades da Vida Diária (AVD), que são: Atividades Básicas de Vida Diária
(ABVD), Atividades Intermediárias/Instrumentais de Vida Diária (AIVD) e
Atividades Avançadas de Vida Diária (AAVD). As ABDVs incluem: alimentar-se,
manter a continência urinária e fecal, transferir-se, usar o banheiro, vestir-
se e banhar-se. As AIVDs refletem a capacidade dos idosos de se adaptarem ao
seu meio: usar telefone, fazer compras, preparar refeições, arrumar casa, lavar
roupa, usar transporte, tomar remédio, tomar conta do orçamento, caminhar,
sendo essenciais para a manutenção da independência. As AAVDs são aquelas cuja
ausência não dificulta a vida do idoso: habilitação para dirigir carro; prática
de esporte;, fazer ioga, andar de bicicleta, praticar atividades de corrida;
pintura, canto, dança; habilidade de tocar algum instrumento, realizar viagens,
participar de serviços voluntários, de militâncias políticas; dentre outras
ações(9).
Com o episódio das quedas, pode ocorrer a redução da autonomia, tornando o
idoso dependente de cuidado. Nesse sentido, em estudo sobre as alterações
ocorridas após os tombos, mostrou a partir de relatos de idosos e seus
familiares, que há aumento da dificuldade e da dependência para a realização
das ABVD e AIVD, sendo as mais acometidas: deitar/levantar-se da cama, caminhar
em superfície plana, tomar banho, caminhar fora de casa, cuidar das finanças,
fazer compras, usar transporte coletivo e subir escadas(2).
Assim, torna-se importante que o enfermeiro e a equipe de enfermagem iniciem e
intensifiquem o estabelecimento de ações/estratégias voltadas à prevenção de
quedas em pessoas idosas, estejam essas hospitalizadas, institucionalizadas ou
domiciliadas. Algumas iniciativas foram divulgadas(2,5,6,18) e objetivaram
sensibilizar os profissionais da Enfermagem para direcionar cuidados
específicos aos idosos, dentre eles a necessidade da prevenção das quedas.
Partindo-se dessas reflexões, surgiu como questionamento deste estudo: como
elaborar proposta de ação de enfermagem para prevenção de acidentes por quedas
direcionados às pessoas idosas? O objetivo foi o de construir uma proposta de
ação de enfermagem para prevenção de quedas em idosos.
METODOLOGIA
Trata-se de pesquisa documental, retrospectiva e descritiva, realizada por meio
de dados secundários, obtidos em prontuários de pacientes. O estudo documental
retrospectivo é aquele sobre o qual o pesquisador tenta construir uma sequência
de eventos, ligando os acontecimentos presentes ao passado, por meio de
registros efetuados em documentos. A pesquisa descritiva é uma das classes da
pesquisa não-experimental, que tem por objetivo observar, descrever e
documentar os aspectos de uma determinada situação(10).
A coleta de dados foi realizada no Serviço de Arquivo Médico (SAME), de um
hospital universitário situado na região Sul do Brasil, contemplando o período
de 2005 a 2007. Nesse SAME, o universo foi constituído por oitenta e cinco (85)
prontuários de pessoas com 60 anos e mais, admitidas por motivos diversos, no
período determinado. Para inclusão no estudo, foram respeitados os seguintes
critérios: prontuários de pessoas com 60 anos e mais, admitidas por motivo de
quedas, no período de 2005 a 2007. Adequaram-se a estes critérios dezoito (18)
prontuários.
Quanto às questões éticas do estudo, primeiramente o projeto de pesquisa foi
apresentado na reunião do Conselho da Escola de Enfermagem da Universidade
Federal do Rio Grande (FURG). Após, foi cadastrado no site de projetos da FURG.
Em seguida, foi solicitada à direção do hospital a autorização para realização
da pesquisa, considerando o acesso ao SAME e aos prontuários das pessoas idosas
internadas nos anos de 2005-2007. O projeto de pesquisa foi encaminhado ao
Comitê de Ética e Pesquisa da Área de Saúde da FURG (CEPAS), contendo o Termo
de Compromisso de Utilização de Dados, e, estando de acordo com a resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde(11), foi aprovado com
o Parecer nº 16/2009.
Os dados foram coletados no SAME, por meio do preenchimento do Guia de Coleta
de Dados da Pesquisa, aplicado nos 18 prontuários dos idosos, que foram
admitidos por motivo de quedas, adequando-se aos critérios de inclusão. Na
sequência traçou-se perfil desses idosos contendo: sexo, faixa etária,
ocorrência anterior, causas e consequências das quedas.
Para análise da pesquisa, as informações obtidas foram agrupadas e
contabilizadas de forma manual, segundo frequência simples. Os resultados
quantitativos foram apresentados em linguagem descritiva e com menção aos
números absolutos, mediante utilização de quadro. Partindo-se dos principais
resultados obtidos, elaborou-se proposta de ação de enfermagem, voltada à
prevenção de quedas, estabelecendo-se temas reflexivos e utilizando-se
bibliografias da área da Enfermagem Gerontogeriátrica.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verificou-se que, dos dezoito (18) idosos que sofreram quedas, onze (11) eram
mulheres e sete (7) homens. A prevalência de mulheres também foi verificada em
outro estudo sobre quedas em idosos(2). Além disso, em estudo relacionado à
capacidade funcional de idosos do sul do país(12), evidenciou-se que há maior
prevalência de problemas relacionados à capacidade funcional para realização
das ABVD em mulheres (mais de 40%) do que em homens (cerca de 25%), com maior
risco para quedas na população de idosos do sexo feminino.
Considere-se que, ao longo da vida, as mulheres possuem maior perda de cálcio
ósseo, por processos fisiológicos naturais como gravidez, amamentação,
menopausa, ou por doenças como osteoporose(13) sendo as que mais sofrem as
consequências dessa referida patologia, ressaltando-se que os homens também
podem ser afetados(14).
A presença da osteoporose é um agravante intrínseco decorrente da perda de
cálcio no tecido ósseo devido a alterações hormonais, à inatividade física,
alimentação não balanceada, ou uso contínuo de corticosteróides. Estas perdas
ósseas podem modificar a estrutura das vértebras, facilitando a ocorrência de
compressão junto às diáfises de ossos longos, incidindo menor resistência ao
dobramento, com tendência às fraturas de quadril, de vértebra e de pulso.
Assim, as fibras dos músculos esqueléticos se degeneram, ocasionando a fibrose.
Com isso, a massa muscular, o tônus e a força reduzem-se, aumentando a rigidez
dos músculos, diminuindo a amplitude dos movimentos e a facilidade global dos
movimentos e da marcha(13).
Quanto à faixa etária, identificou-se, em dez (10) prontuários investigados,
que os idosos que tinham entre 60-69 anos eram todas do sexo feminino, seguido
por cinco (5) idosos de 70-79 anos e três (3) com mais de 80 anos, dos quais,
dois (2) tinham mais de 90 anos. Tal dado é extremamente preocupante, pois,
idosos que já vivenciaram episódios de quedas, tendem a reincidência (60 a 70%)
no ano subsequente(15), independente da frequência das quedas(16). Verificou-se
em estudo anterior(17), que o maior número de episódios de quedas foi
registrado em idosos da faixa dos 70-79 anos.
Em relação à frequência de quedas anteriores, do total de prontuários
analisados (18), quatorze (14) não apresentavam informações sobre o acidente
por queda, o que demonstra deficiência quanto ao preenchimento dos registros de
dados dispensado ao idoso que cai, pois informações essenciais deixaram de ser
anotadas durante a avaliação multidimensional. De quatro (4) prontuários que
mencionavam episódio anterior de queda, verificou-se que três (3) idosos
sofreram dois episódios de quedas e um (1) idoso sofreu três quedas recentes.
O idoso que experienciou mais de duas quedas, chamado de idoso caidor, é aquele
mais predisposto a novos acidentes por quedas e, portanto, necessitando de
avaliação que priorize a busca de fatores intrínsecos e extrínsecos a esse tipo
de episódio. Assim, se o histórico de saúde dos ambientes hospitalares fosse
mais completo, seria possível verificar a ocorrência de quedas anteriores e
também as causas, direcionando as orientações específicas dos enfermeiros por
meio de ações preventivas, com medidas que poderiam envolver estímulo para
alterações no ambiente e/ou nos hábitos de vida do idoso(18). Isso contribuiria
para a prevenção de novas ocorrências de quedas.
Entre as causas das quedas, verificou-se que onze (11) idosos sofreram queda da
própria altura, e sete (7) caíram por motivos de acidente doméstico, como queda
em escada e trauma direto por tombo, este último não detalhado no prontuário.
Houve registro de um (1) acidente externo, com queda de cima de um cavalo. A
queda da própria altura foi preponderante e semelhante aos achados de outro
estudo com idosos que sofreram quedas, atendidos em hospital público(17), onde
a maioria das quedas também foi da própria altura. Esse fato evidencia a
importância da avaliação do sistema de equilíbrio do idoso, com a implementação
de medidas visando à diminuição da intensidade da oscilação postural.
O equilíbrio, afetado pela diminuição da atividade neural, pode comprometer a
manutenção da postura. O sistema de equilíbrio é o responsável pelo controle da
oscilação corporal. Esse mecanismo decai com o avançar da idade em maior ou
menor intensidade, dependendo da associação com outras doenças ou com estilo de
vida sedentário. Enfim, o equilíbrio dos idosos oscila mais que o dos adultos,
sendo um sinal de alerta para a instabilidade no idoso, levando-o ou não ao
tombo(19).
A consequência mais encontrada nos prontuários dos idosos que sofreram quedas
foi a fratura, tanto em membros superiores como inferiores, dado registrado em
dezesseis (16) prontuários investigados e que direcionaram a cirurgias
corretivas. Tal questão foi também verificada em outro estudo sobre quedas em
idosos(2), em que a maioria dos pesquisados sofreu fratura. Como achado inédito
deste estudo, ainda quanto às conseqüências da queda, emergiram dois (2) idosos
que apresentaram hidrocele por trauma direto, fato não encontrado em outros
estudos.
Os resultados das consequências das quedas mostraram que os idosos ficaram
incapacitados, imobilizados e acamados, exigindo tratamentos cirúrgicos
dispendiosos e sofridos, com a colocação de placas, parafusos, talas e gesso.
Tal intervenção implica em recuperação, que pode durar de semanas a meses,
alterando a locomoção, autonomia e capacidade funcional desses idosos, além da
possibilidade de trazer modificações à estrutura familiar.
Com base neste perfil encontrado dos idosos que sofreram queda, elaborou-se a
proposta de ação de enfermagem para prevenção de quedas em pessoas idosas,
objetivo do estudo..
Proposta de ação de enfermagem para os idosos que sofreram quedas
A proposta de ação de enfermagem aqui apresentada envolve o cuidado de
enfermagem para prevenção de quedas, enfatizando a promoção da saúde dos
idosos, realizada através de trabalho preventivo, com a adoção de medidas e
cuidados para evitar fatores de risco. São mencionados cuidados relacionados
com a capacidade funcional do idoso, com a manutenção de suas habilidades
motoras e cognitivas, para que lhe possibilite desempenhar suas AVDs(20).
Ressalta-se que a ação de enfermagem junto ao idoso implica um diálogo
permanente, sendo uma experiência intersubjetiva, ou seja, que tem, como locus
central, pessoas - idoso e profissional de enfermagem(21). Portanto, a ação de
enfermagem deve estar alicerçadas nas reais necessidades do idoso.
A construção da proposta de ação de enfermagem teve como direcionamento os
temas reflexivos emergentes do perfil do idoso estudado, a saber: 1) quedas em
idosas e alimentação saudável; 2) quedas da própria altura e ambiente seguro;
3) fratura e fortalecimento do sistema musculoesquelético.
Quedas em idosas e alimentação saudável
O foco principal foi a dieta de mulheres idosas, entre 60 e 69 anos,
considerando as necessidades nutricionais adequadas para reduzir problemas como
a osteoporose, principalmente nas mulheres que se encontram no período de pós
menopausa. Nessa faixa etária há o risco de perda de massa óssea por conta da
redução das taxas hormonais de estrogênio, tornando os ossos mais frágeis, o
que acentua o risco de osteoporose e possibilidades de fraturas(22).
Assim, é preciso readequar a alimentação às novas necessidades nutricionais da
mulher nesta fase da vida, com uma dieta diária que contemple: uso moderado de
gorduras, doces e óleos; ingestão de mais de três porções de leite, queijo e
iogurte desnatados; peixe, frango, feijão, ovos e nozes, mais de duas porções;
leguminosas e frutas, mais de três porções; pão integral, cereais e grãos, em
torno de seis a onze porções; ingestão de cerca de oito copos de água por dia
(23).
É preciso ressaltar, que o enfermeiro necessita ter cuidado especial ao
orientar esses alimentos, pois, deve considerar as condições financeiras e/ou
possibilidades da idosa. Torna-se, então, imprescindível aos enfermeiros que
realizam consultas de enfermagem gerontogeriátricas ou que têm oportunidade de
prestar educação em saúde a estas mulheres, que desenvolvam trabalho
multiprofissional, com nutricionista, visando orientar sobre alimentos que
possam substituir os descritos anteriormente. Também é oportuno ressaltar a
importância e necessidade da rede de apoio da idosa, pois, se houver
dificuldades ou problemas de mudança dos hábitos, podem-se buscar alternativas
junto a esta rede, que pode ser a própria comunidade, visando suprir essa
carência.
Ainda em relação à alimentação é importante alertar-se para o risco do uso
excessivo de vitamina D, presente no leite e seus derivados, pelo fato de
causar depósitos de cálcio nos rins e nas artérias, e podendo prejudicar a
absorção de outros minerais pela formação de cálculos renais(22).
Ressalta-se que a prevenção da perda de massa óssea ou acompanhamento da
osteopenia ou da já instalada osteoporose em mulheres menopausadas, pode ser
realizada por meio de medidas como a realização de exames de densitometria
óssea e tomografia computadorizada quantitativa. A utilização do Tratamento de
Reposição Estrogênica (TER) pode se tornar adequada, quando indicada por
médico.
Também se podem incluir outras medidas: realizar exercícios físicos pelo menos
três vezes na semana, colaborando na manutenção da força e da massa óssea;
abster-se do fumo, pois esse reduz os níveis de estrogênio nas mulheres,
contribuindo para diminuição da massa óssea; expor principalmente braços e
pernas ao sol antes da onze horas e após as dezesseis horas, estimulando a
ativação da vitamina D, que fixa o cálcio nos ossos, lembrando-se de utilizar
protetor solar e de hidratar-se; reduzir ao máximo o uso de álcool, pois
pessoas etilistas, tendem a perder muito mais massa óssea(23).
É importante que os enfermeiros saibam identificar os fatores de risco para a
osteoporose: mulher com menopausa anterior aos 45 anos; que teve gestações
múltiplas; com baixa ingestão de cálcio ao longo da vida; com inatividade
física; que apresenta peso abaixo do considerado normal para seu biotipo; cor
da pele branca; com histórico de osteoporose na família e tabagista(23). Esse
conhecimento dará ao enfermeiro mais condições de realizar orientações
adequadas à prevenção de tal patologia, que tem como principal consequência a
queda.
Quedas da própria altura e ambiente seguro
Na prevenção de quedas é essencial avaliar o ambiente onde o idoso reside, o
qual deve ser um local seguro, funcional, confortável e compensador das
limitações impostas pelo processo de envelhecimento. Desta forma, o reduto
doméstico do idoso requer: boa ventilação; temperatura ambiente agradável, em
torno de 24ºC; iluminação que possibilite a ampliação da visibilidade, sendo, o
mais adequado, a instalação de várias fontes de luz fluorescentes; na medida do
possível, livre de ruídos do tráfego, do motor de aparelhos, do vazamento de
torneiras, ou de outros sons estressores e desagradáveis; mobiliário acolhedor,
confortável e funcional, com cadeiras firmes, de apoio para os braços e
adequada sustentação, estofamento baixo e altura que permita o repouso dos pés
sobre o chão(22).
Outras orientações necessárias são: colocação de pisos antiderrapantes;
manutenção de pisos e assoalhos livres de substâncias escorregadias, como
ceras; evitar os desníveis de pisos; preferir rampas ao invés de escadas;
evitar tapetes; organizar os móveis para a passagem livre dos idosos.
Importante, ainda, estimular a deambulação, mesmo que o idoso necessite de
andadores, bengalas e dispositivos auxiliares(24).
A influência das cores na vida das pessoas idosas é muito significativa. Desta
forma, quartos de dormir nas cores verdes ou azuis podem ser adequados, pois
são tonalidades relaxantes e que proporcionam bem estar. Áreas de alimentação e
de atividades em cor laranja ou vermelha são interessantes, porque são cores
estimulantes, inclusive do apetite. Os locais de recepção tornam-se mais
aconchegantes se usadas as colorações cinza ou bege(22).
As orientações direcionadas a um domicílio seguro vão contribuir para a
prevenção de quedas e, por conseguinte, de ocorrência de fratura. Ao ressaltar
o ambiente seguro, trabalha-se, concomitantemente, com a ambiência, pois o
conceito de ambiência segue primordialmente três eixos: a) espaço que visa à
confortabilidade focada na privacidade e individualidade dos sujeitos
envolvidos, valorizando elementos do ambiente que interagem com as pessoas,
como cor, cheiro, som, iluminação, morfologia, entre outros, e garantindo
conforto aos trabalhadores e usuários; b) espaço que possibilita a produção de
subjetividades, encontro de sujeitos, por meio da ação e reflexão sobre os
processos de trabalho; c) espaço usado como ferramenta facilitadora do processo
de trabalho, favorecendo a otimização de recursos, o atendimento humanizado,
acolhedor e resolutivo. É importante ressaltar que esses três eixos devem estar
juntos na composição de uma ambiência(25).
Torna-se necessário também verificar alguns itens relacionados à postura
corporal do idoso, principalmente para adequar à distribuição de móveis e
utensílios: prateleiras e armários devem estar ao alcance do idoso; ao se
abaixar, orientar o idoso a dobrar os joelhos de forma que a coluna se mantenha
ereta, ou então sentar-se em um banquinho, para realizar atividades próximas ao
chão; varais de roupa devem ser alcançáveis; utilizar carrinho para empurrar um
peso; ao carregar pesos distribuí-los em sacolas, em ambos os braços, evitando
que haja sobrecarga em um dos lados da coluna; ao varrer, é indicado que a
vassoura esteja à frente, evitando torcer a coluna; evitar a postura encurvada
ao realizar as atividades domésticas(26).
Outras orientações direcionadas aos idosos estão apresenta-se, no Quadro_1,
considerando a importância de um ambiente doméstico seguro e adequado as
condições individuais do idoso, principalmente quanto maneiras personalizadas,
essenciais para realizar as atividades de vida diárias.
Fratura e fortalecimento do sistema musculoesquelético
Na proposta de ação de enfermagem na prevenção de fraturas, dá-se ênfase à
manutenção da integridade do sistema musculoesquelético, responsável pela
movimentação do corpo. O fortalecimento desse sistema contribui para a
prevenção de fratura no evento de queda, ou, se presente, que a fratura seja
menos intensa e grave. Os distúrbios musculoesqueléticos acarretam hoje um
grave problema de saúde pública(28).
O sistema musculoesquelético é constituído por músculos, ossos, articulações e
tendões, e seu funcionamento depende de força muscular e flexibilidade nas
articulações, enfraquecidos com o envelhecimento. Podem ocorrer várias
limitações na marcha, devido à falta de energia ou pela rigidez, causada pelo
envelhecimento. Nesse sentido, as orientações têm como foco a manutenção da
força muscular, do equilíbrio e da marcha, assim como a identificação de fontes
de dor, para procurar ações para saná-las. É importante a busca de informações
sobre fatores que interfiram na estabilidade postural, tais como: polifarmácia,
presenças de hipotensão postural, de déficits visuais e auditivos, e outros
agravos(29).
As ações desenvolvidas devem estimular o fortalecimento estrutural do sistema
musculoesquelético: abstinência de álcool e fumo; ingestão de cálcio; banhos de
sol pela manhã (antes das onze horas) para ativar a vitamina D; educação quanto
aos riscos da inatividade física, que podem causar enrijecimento das
articulações e perda de força e redução do equilíbrio. As caminhadas são
medidas simples, orientadas para que sejam realizadas pelo menos três vezes por
semana, ao ar livre(30), pois vão contribuir também para a proteção do sistema
musculoesquelético.
Considera-se que o exercício físico é uma importante ferramenta na prevenção de
quedas. Muitos idosos creem que o declínio físico é inevitável no
envelhecimento, e que atividades que estimulam a movimentação do corpo não são
compensadoras nesta fase. Entretanto, estão entre os benefícios de exercícios
regulares: prevenir ou amenizar a artrite e a osteoporose; tonificar os
músculos e aumentar a força; além de ajudar na manutenção do equilíbrio e da
agilidade(23).
As atividades físicas podem ser divididas em dois grupos: domésticas, que
incluem andar, trabalhar no quintal, que são benéficas à saúde; aeróbicas,
formada por exercícios que proporcionam resultados mais consistentes do ponto
de vista fisiológico: nadar, caminhar, correr e pedalar. Essas últimas utilizam
oxigênio para produzir energia e realizar movimentações, requerendo 30 minutos
diários, em três ou quatro vezes por semana, para que se obtenham resultados
satisfatórios, que trabalhem grandes músculos (das pernas, nádegas e braços),
contribuindo para o fortalecimento de estruturas envolvidas na locomoção(23).
Para inserir-se em um programa de exercícios físicos, o idoso necessita da
avaliação médica, com ênfase, principalmente, nos diabéticos, cardíacos,
hipertensos, com problemas ósseos ou de articulação. Porém, em programa de
atividades físicas de começo gradual e monitorado, os riscos de alterações na
saúde são mínimos. Algumas orientações podem ser de responsabilidade do
enfermeiro: aquecer o organismo com alongamentos leves para aumentar, de forma
gradual a frequência cardíaca e evitar as cãibras; começar com 5 a 10 minutos
e, gradualmente, aumentar o período para 30 ou 60 minutos/dia, por pelo menos
três vezes por semana; beber água antes, durante e após a atividade física;
manter um horário regular dessas atividades, preferencialmente pela manhã;
respirar profundamente e de forma uniforme ao exercitar-se; se sentir falta de
ar, tonteira, parar a atividade e procurar profissional de saúde; manter
diário, incluindo tempo e intensidade da atividade realizada(23).
Como enfatizado anteriormente, a atividade física mais adequada para o idoso é
a caminhada, visto que é um exercício simples e com mínimas possibilidades de
lesões musculares e pode trazer melhora no fluxo sanguíneo cardíaco, muscular,
podendo ser praticada por quase todas as pessoas. Algumas recomendações são
importantes: escolher horário confortável do dia, de preferência algumas horas
após a alimentação e quando a temperatura estiver fresca; manter a cabeça
ereta, as costas retas e o abdome encolhido; manter ritmo adequado para
aumentar a frequência cardíaca; andar com passadas largas; usar calçados sem
saltos, solado de borracha, confortável e com bom apoio; parar ao sentir falta
de ar, náusea, pois a respiração deve voltar ao normal 10 minutos após o
término do exercício, caso contrário, procurar profissional de saúde; respirar
profundamente, mantendo a boca semiaberta; vestir roupas leves em tempos
quentes, e nas temperaturas frias vestir agasalhos, luvas e chapéu(23).
Existem formas não convencionais de exercícios físicos que trazem benefícios às
pessoas idosas, são pertencentes à área de terapia alternativa, destacando-se a
ioga e o tai-chi. Na ioga, combinam-se exercícios respiratórios, meditação e
asanas (posturas), visando alcançar um estado de equilíbrio e saúde. Quanto ao
tai-chi, lembra uma dança lenta, realizada com suavidade de movimentos
considerada um exercício terapêutico. Essas atividades são alternativas para
muitos idosos. O tai-chi, é um exercício mais fácil de ser praticado e sem
contraindicações, por ser livre de movimentos bruscos e esforço físico(22).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa demonstraram que o sexo feminino sofreu mais
quedas e essas mulheres tinham predominantemente idade entre 60 a 69 anos; a
causa mais presente foi a queda da própria altura e como, consequência, teve-se
a fratura, seguida de tratamentos cirúrgicos.
Como cuidado de enfermagem, construiu-se proposta de ação, direcionando-se a
prevenção de quedas em idosos através de medidas de promoção da saúde. Desse
modo, a atenção foi voltada para os temas emergentes do perfil do idoso que
sofreu queda, a saber: 1) a alimentação das mulheres idosas, entre 60 e 69
anos, com a prevenção da perda de massa óssea, utilizando-se de orientações
quanto aos aspectos nutricionais e ações específicas; 2) a queda da própria
altura, focando-se as questões que direcionaram a tornar o local onde o idoso
reside um ambiente seguro, que atenda suas exigências funcionais, ressaltando-
se os aspectos da ambiência; 3) a fratura, desenvolvendo-se ações voltadas ao
fortalecimento do sistema musculoesquelético, enfatizando a manutenção das
estruturas envolvidas na movimentação do corpo, e na proteção do sistema, por
meio de orientações para se evitar a inatividade física, com fortalecimento
motor.
A proposta de ação de enfermagem apresentada envolve mudanças de hábito dos
idosos como: reeducação alimentar, para uma alimentação saudável; reorganização
da moradia, tornando o ambiente seguro; e conhecimento do condicionamento
físico, para fortalecimento do sistema motor. Ressalta-se que o enfermeiro pode
auxiliar o idoso a prevenir as quedas, estimulando aumento da mobilidade,
alimentação saudável e ambiente seguro.
Esta pesquisa apresentou como limitações a dificuldade de localizar os
prontuários dos idosos com 60 anos e mais (os referentes aos atendimentos do
ano de 2008 não se encontravam no SAME); dificuldade do acesso a informações
essenciais que não se apresentavam registradas nos documentos analisados;
número reduzido de prontuários com diagnóstico de quedas.
Como contribuições da presente pesquisa à enfermagem na área de ensino deseja-
se a sensibilização daqueles envolvidos na formação dos enfermeiros, sobre a
importância de se contemplar conteúdos didáticos que abordem temas referente a
queda dos idosos.
Na assistência, pretende-se incitar os enfermeiros a conhecer parâmetros de
normalidade, da amplitude de movimentos, e também de funções orgânicas do
idoso, para adquirir mais condição de determinar o grau de abrangência da
avaliação multidimensional para essa população, com o intuito de prevenir as
quedas. Também ressaltar a necessidade do registro no prontuário como essencial
para a qualidade do atendimento e da assistência prestada ao idoso.
Com esse estudo, verifica-se que novas pesquisas relativas a quedas como risco
potencial ao idoso necessitam ser alvo de investigação, contribuindo para a
melhoria da qualidade de vida de uma parcela populacional, que aumenta
quantitativamente a cada dia em nosso país: os idosos.