Poluição ambiental, residência materna e baixo peso ao nascer
INTRODUÇÃO
Vários estudos têm demonstrado os efeitos da poluição ambiental sobre a saúde
das pessoas, nos diferentes períodos da vida(1-3). No entanto, em algumas fases
os danos causados à saúde pela poluição podem ser mais dramáticos e
irreversíveis, decorrentes de processos mutagênicos, teratogênicos e
carcinogênicos, a médio e longo prazo, de caráter cumulativo e combinado. Isso
é especialmente verdadeiro quando nos referimos à saúde do binômio materno-
infantil(1,2). Nesse caso, os agravos geralmente são devidos a uma exposição
direta a determinados fatores de risco, como no caso da exposição de mulheres
que trabalham em ambientes insalubres ou, indiretamente, quando estas residem
em áreas potencialmente de risco. Estudos têm mostrado que fatores ambientais,
como a poluição atmosférica e das águas, podem levar a agravos de saúde,
interferindo na reprodução, nas condições gestacionais, nas condições de vida
do concepto, assim como podem também contribuir para o baixo peso ao nascimento
(2,4).
O Baixo Peso ao Nascer (BPN) é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
como o peso de nascimento inferior a 2.500g, sendo considerado um fator
importante, pois contribui para o aumento da morbimortalidade infantil,
principalmente entre os recém-nascidos(5), como também no primeiro ano de vida,
uma vez que essas crianças apresentam risco de morrer quinze vezes maior,
quando comparadas com aquelas que nascem com peso adequado(6).
O peso ao nascer é também um indicador geral, utilizado para avaliar os níveis
de saúde de uma população, por estar associado às condições socioeconômicas do
país ao qual ela pertence(5). Assim, as maiores prevalências de BPN (em torno
de 90%) são encontradas nos países em desenvolvimento, que apresentam piores
condições de vida(7). Porém, o peso ao nascer passou a ser um problema de saúde
pública mesmo nos países desenvolvidos, devido a situações ambientais
desfavoráveis(8).
Acredita-se que as causas da ocorrência de BPN sejam multifatoriais(9), sendo
que os diversos fatores de risco que contribuem para o BPN são: o retardo do
crescimento intra-uterino, a prematuridade, peso materno pré-gestacional menor
que 50 kg, intervalo interpartal menor que dezoito meses, desnutrição materna,
história de partos prematuros, filho(os) anterior(es) com BPN, primigestas,
gestantes multíparas com mais de três filhos, hábito de fumar e fumo passivo,
pouca escolaridade materna, mães adolescentes, idade materna acima de 35 anos,
mães que não vivem com marido ou companheiro (mulheres não unidas), ausência e/
ou insuficiência de cuidados pré-natais, cesarianas, entre outros, os quais
podem agir de forma isolada ou associadamente(5,9-14).
No que se refere ao município de Rio Grande-RS, estudo, realizado no período de
janeiro a junho de 2003, constatou prevalência de BPN de 10,5%, quando foram
avaliados todos os nascimentos ocorridos no município(15). Para conhecer o
impacto da poluição ambiental nesse município sobre esse indicador,
especialmente sobre a parcela da população que reside nas proximidades das
áreas industriais, buscou-se investigar se as mulheres que residem nas
comunidades próximas ao parque industrial do município de Rio Grande-RS,
possivelmente mais sujeitas à exposição de poluentes ambientais provenientes
das indústrias de fertilizantes e do refino de petróleo, sofrem influência
desse fator durante a gestação, interferindo nas condições de saúde do concepto
ao nascimento. Assim, o estudo buscou analisar os fatores de risco associados
ao baixo peso ao nascer de recém-nascidos de mães residentes nas comunidades
próximas ao parque industrial do município de Rio Grande-RS.
MÉTODO
Estudo caso-controle, realizado no município de Rio Grande-RS, no período de
abril a novembro de 2003. Os critérios de inclusão dos casos foram assim
definidos: recém-nascidos de partos únicos, vivos ou mortos, filhos de mães
residentes no município, que deram à luz nas maternidades dos dois hospitais
gerais do município, durante o período do estudo, com BPN, ou seja, pesando
menos de 2.500 gramas. Foram considerados controles as três crianças, nas
mesmas condições, que nasceram imediatamente após o caso, no mesmo hospital,
com peso ao nascer igual ou superior a 2.500 gramas.
O tamanho da amostra foi definido para alcançar um nível de confiança de 95%,
um poder de 80% e um risco relativo de 2,50, estando a prevalência de exposição
entre os controles em 9%. Estimou-se que, trabalhando com uma proporção de três
controles para cada caso, e incluindo 10% para perdas e 15% para controle das
variáveis de confusão, seriam suficientes 139 casos (recém-nascidos com BPN) e
417 controles (recém-nascidos com peso normal).
Foi aplicado um questionário a 547 mães, ainda durante a internação hospitalar
na maternidade, por um entrevistador treinado, tendo sido consideradas para o
estudo apenas mães residentes no município de Rio Grande-RS. Dessa maneira, a
partir dos critérios de inclusão, foram consideradas todas as mães dos casos e
controles do município e, as mesmas foram classificadas como expostas ou não
expostas, tanto em ralação aos casos como em relação aos controles. Assim,
tanto para os casos como para os controles, as mães poderiam estar residindo
nas áreas próximas às indústrias de fertilizante e do refino de petróleo ou
não.
Foram consideradas expostas as mães que residiam nas proximidades da área
industrial do município de Rio Grande-RS, por mais de nove meses, levando em
conta que o tempo de gestação envolve nove meses. A fim de delimitar a área do
estudo, foram incluídos os bairros Lar Gaúcho, Navegantes, parte do bairro
Centro, parte do Getúlio Vargas (BGV), Santa Tereza, Vila Xavier, Vila Santo
Antônio e, ainda, a Vila da Mangueira, que fica no caminho entre a refinaria de
petróleo e as indústrias de fertilizantes. Todos esses bairros apresentam
proximidade semelhante em relação à refinaria de petróleo e indústrias de
fertilizantes, conforme mostra o Mapa da Figura_1 a seguir, referente à cidade
de Rio Grande-RS.
Figura_1_-_Clique_para_ampliar
As variáveis relacionadas aos fatores ambientais avaliadas nessa pesquisa
foram: o local de residência materna (se exposto ou não exposto), o tempo de
residência da mãe na área exposta, (considerando esse tempo da seguinte
maneira: de zero a nove meses, de 10 meses a cinco anos e, mais de cinco anos),
o local de residência anterior da mãe (se exposto ou não exposto) e o local de
trabalho da mãe durante a gestação (se exposto ou não exposto). Além dessas
variáveis, também foram incluídas nesse estudo variáveis socioeconômicas e
demográficas, condições de moradia, características biológicas maternas,
fatores maternos reprodutivos, o fumo materno e o fumo passivo, intercorrências
durante a gestação e assistência pré-natal e o tipo de parto.
Os dados coletados foram digitados duas vezes, por pessoas diferentes, com o
auxílio de microcomputador, através do programa Epi Info 6.04 versão 2001.
Posteriormente, foi realizada a limpeza dos dados, corrigindo erros de
amplitude e de consistência. Os dados foram analisados, usando o programa SPSS
8.0 para realizar a análise bivariada e multivariada.
Os dados foram avaliados pelo método de regressão logística não condicional,
obtendo-se as razões de Odds e intervalos de confiança em todas as análises,
utilizando-se um nível de significância de 0,05. Na análise bivariada, o efeito
de cada uma das variáveis foi analisado isoladamente. Na regressão logística
multivariada foi efetuado o ajuste para todas as variáveis que permaneceram no
modelo hierárquico previamente estabelecido, ou seja, que apresentaram um nível
de significância menor que 0,20.
Em relação aos aspectos éticos respeitou-se a Resolução nº 196/96(16) do
Conselho Nacional de Saúde / Ministério da Saúde, sobre pesquisas envolvendo
seres humanos. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Associação de Caridade Santa Casa do Rio Grande de Rio Grande-RS, sob o Parecer
Nº 16/2006. Todas as mães entrevistadas assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise bivariada mostrou que o BPN esteve associado positivamente com a
idade materna, história de natimortos prévios, BPN prévios e pré-termos
prévios, o número de cigarros fumados por dia pela mãe e pelo companheiro, a
presença de diabete durante a gestação e a ameaça de aborto na gravidez atual.
Além disso, o local de residência (p=0,067) e o tempo de residência na área de
exposição (p=0,058) também tendem a associar-se positivamente com o BPN.
Associaram-se negativamente com o BPN o peso materno pré-gestacional e altura
da mãe, o ganho de peso durante a gestação e o número de consultas pré-natais
e, ainda, o aumento do IMC materno (p=0,062) tende a associar-se negativamente
com o BPN.
Os resultados obtidos na análise bivariada foram ajustados na análise
multivariada e serão apresentados com maiores detalhes a seguir.
Análise multivariada
A análise multivariada foi realizada baseada no modelo de análise pré-
estabelecido. A fim de evitar a exclusão de potenciais fatores de risco e/ou
confusão, foi utilizado um nível de significância de 0,20. As Tabelas_1_a_4
apresentam o efeito da exposição aos fatores ambientais ajustados para os
fatores de risco e/ou confusão associados com o BPN, as razões de odds bruta e
ajustada e seus respectivos intervalos de confiança, bem como os valores do p,
que referem-se à significância estatística das variáveis ajustadas.
Análise do primeiro nível: características socioeconômicas e demográficas
maternas
Inicialmente, foram incluídas na análise, todas as variáveis socioeconômicas e
demográficas maternas, independentemente da significância estatística das
mesmas na análise bivariada. As variáveis: ausência do companheiro,
escolaridade paterna e idade materna foram significativas (Tabela_1) nessa
análise (p < 0,20) e foram mantidas para o ajuste do próximo nível, no caso, as
variáveis sobre as condições de moradia.
Quanto à ausência de companheiro, embora não tenha mostrado associação quando
avaliada na análise bivariada, quando ajustada às demais variáveis do bloco
tende a associar-se positivamente com o BPN (p=0,052), ou seja, as mães sem
companheiro apresentaram risco maior (RO=1,64) de terem uma criança com BPN, em
relação às mães com companheiro. No estudo realizado em Pelotas-RS(17), foi
encontrada associação positiva entre o BPN e a ausência do companheiro. Da
mesma forma, em Campinas-SP(18), pesquisadores referem associação entre o BPN e
as mulheres sem companheiro. O mesmo também foi observado em outro estudo,
atribuindo-se esse fato à insegurança psicológica e econômica das mães(19).
O que pode estar contribuindo para que as mães não unidas, ou sem companheiro,
apresentem risco aumentado de terem uma criança com BPN, talvez seja a
instabilidade emocional pela falta de apoio psicológico do companheiro, a renda
familiar reduzida devido a uma única fonte, e os extremos de idade, sobretudo,
as mães adolescentes que são as que mais comumente permanecem sem companheiro,
e que neste estudo representam 41,1%.
Quanto à escolaridade paterna, o risco da criança nascer com BPN aumentou na
análise ajustada quando o pai tinha quatro ou mais anos de escolaridade,
comparado com os pais com até três anos de estudo. No entanto, esse risco não
foi significativo.
Ainda nesse bloco, na análise bivariada, somente a idade materna mostrou
associação positiva com o BPN. Quando se efetuou a análise multivariada, a
idade materna mostra tendência a associar-se positivamente com o BPN (p=0,052),
sendo observado um risco maior (RO=2,35) desse desfecho entre as mães com 35
anos ou mais de idade, quando comparado ao risco observado na análise bivariada
(RO=2,04).
Estudos realizados em Campinas(18) e em Guaratinguetá(5), ambos no estado de
São Paulo, encontraram associação entre o BPN e a idade materna maior que 35
anos. Nesses estudos, essa mesma associação foi observada em relação às mães
adolescentes. Já o estudo realizado em Pelotas-RS(17), não encontrou associação
entre o BPN e a idade materna. Dessa maneira, a questão da idade materna como
fator de risco para o BPN ainda parece contraditória e não bem esclarecida.
Nesse mesmo bloco, as variáveis que não foram significativas nesse estudo, mas
foram em outros estudos, são a escolaridade materna, para a qual foi encontrada
associação significativa entre o BPN e as mães com menor escolaridade em
Guaratinguetá-SP, sendo a escolaridade acima de oito anos fator de proteção(5).
Porém, o mesmo não foi identificado em Pelotas-RS(17). Esse último estudo
encontrou associação negativa entre o BPN e a escolaridade materna. Apesar de
ter ocorrido diminuição da baixa escolaridade entre as mães em Ribeirão Preto-
SP, Sudeste do Brasil, entre 1978-1979 e 1994 houve aumento do BPN(21). Gama et
al.(22) observaram em seu estudo que as mulheres com pior nível de instrução
eram as que tinham idade entre 20 a 34 anos, com história de gravidez na
adolescência.
Em Campinas-SP, houve um aumento do peso ao nascer entre recém-nascidos
previdenciários, entre os anos de 1976 a 1980, o que não foi observado entre as
categorias com melhores condições socioeconômicas(18). Da mesma forma, ao ser
avaliada a tendência secular do peso ao nascer na cidade de São Paulo-SP, nos
anos de 1976 a 1998, foi verificado que a distribuição do peso ao nascer pouco
se modificou nesse período, sendo encontrada uma evolução desigual do peso ao
nascer de acordo com o nível socioeconômico da população. Evolução favorável
foi encontrada nos estratos de nível socioeconômico baixo, provavelmente devido
ao melhor desempenho do crescimento intrauterino. Por outro lado, a evolução do
peso de nascimento foi desfavorável nos estratos de nível socioeconômico mais
alto, o que foi atribuído ao aumento dos nascimentos prematuros(23). Esses
estudos poderiam contribuir para explicar a não associação entre as condições
socioeconômicas e o BPN observado no presente estudo.
Análise do segundo nível: condições de moradia
As variáveis relacionadas ao bloco sobre as condições de moradia, do segundo
nível, foram adicionadas às variáveis socioeconômicas e demográficas maternas
significativas no primeiro nível. Nenhuma das variáveis associou-se com o BPN,
nem na análise bruta, nem na análise ajustada. Em Campinas-SP, observou-se que
o desenvolvimento e a melhoria das condições gerais de vida da população não
vem acompanhadas com o aumento do peso ao nascer entre os recém-nascidos,
provavelmente devido a outros fatores que estejam impedindo este avanço(18).
Análise do terceiro nível: características biológicas maternas e fatores
reprodutivos maternos
Na continuidade, procedeu-se à análise do terceiro nível, com as variáveis
sobre as características biológicas maternas e os fatores reprodutivos maternos
ajustados para as variáveis socioeconômicas e demográficas maternas
significativas, já definidas na análise do primeiro nível. Após esse ajuste,
permaneceram no modelo: a altura e o IMC da mãe, o intervalo interpartal e a
história de natimortos e BPN prévios (Tabela_2).
A altura materna associou-se negativamente com o BPN na análise bivariada. Na
análise multivariada, esta variável igualmente apontou associação negativa em
relação ao BPN, ou seja, quanto maior a altura da mãe menor o risco de dar à
luz uma criança com baixo peso. A altura de 160 cm ou mais apresentou efeito
protetor também na análise ajustada, e o risco foi ainda menor da criança
nascer com BPN (RO=0,43). Este efeito protetor da altura materna sobre o BPN
também tem sido constatado por outros autores(17).
O aumento do IMC apresentou tendência de associação negativa em relação ao BPN
na análise bivariada (p=0,06). No entanto, na análise multivariada, o mesmo não
foi significativo, contrariamente ao estudo de Santos (1995)(17), onde o
aumento do IMC apresentou efeito protetor sobre o BPN. Não é difícil
compreender o resultado em nosso estudo, já que para a obtenção deste índice
leva-se em consideração o peso materno pré gestacional, o qual também não
associou-se significativamente com o desfecho estudado após o ajuste com as
demais variáveis.
O intervalo interpartal também não mostrou associação com o BPN, embora tenha
sido observada uma redução no risco de BPN quando este intervalo foi de dois a
três anos.
A história de natimortos prévios associou-se positivamente com o BPN tanto na
análise bivariada quanto após o ajuste com as demais variáveis na análise
multivariada. Quando a mãe teve um ou mais natimortos prévios, o risco
aumentado de ter um recém-nascido de BPN observado na análise bruta (RO=2,78)
foi ainda maior na análise ajustada (RO=3,23). Resultado semelhante foi
observado no estudo realizado em Guaratinguetá-SP(5), que encontrou associação
significativa entre o BPN e o relato de natimortos prévios. Já no estudo
realizado em Pelotas-RS(17), a história de natimortos prévios não foi
significativa para este desfecho.
Da mesma forma como a história de natimortos prévios, a história de BPN prévios
também se associou positivamente com o BPN, tanto na análise bruta, como na
análise ajustada. Quando a mãe teve um ou mais BPN em gestações anteriores, o
risco aumentado de ter uma criança de BPN observado na análise bruta (RO=3,91)
também foi maior ainda na análise ajustada (RO=5,30). O mesmo resultado também
foi encontrado em outro estudo(17). A história de BPN prévios sugere que, em
gestações anteriores, a mãe já estaria exposta a possíveis riscos vividos
durante essa última gestação. Nesse estudo, a história de BPN prévios esteve
significativamente associada com a idade e altura materna, as quais se
constituem em risco para o desfecho estudado.
A história de pré-termos prévios mostrou associação positiva em relação ao BPN
na análise bivariada. No entanto, essa associação não foi encontrada na análise
multivariada, diferentemente do encontrado em outro estudo(17). Neste estudo, o
fato da história de prematuros prévios não ter se mostrado significativa quando
ajustada para as variáveis do nível socioeconômico e as características
demográficas e biológicas maternas, pode sugerir que algumas dessas variáveis,
como a escolaridade e a idade materna, consideradas então fatores de confusão,
poderiam estar exercendo algum efeito sobre esta variável. Neste estudo, a
história de pré-termos prévios esteve associada significativamente com a
escolaridade e a idade materna. Além disso, a altura da mãe também tende a
associar-se significativamente com os pré-termos prévios.
Ainda neste bloco, quanto às características biológicas maternas, o peso
materno pré-gestacional associou-se negativamente com o BPN na análise
bivariada, mas esta associação não foi mais observada após o ajuste das
variáveis na análise multivariada. Estudo realizado em Pelotas-RS encontrou
efeito protetor sobre o BPN em relação ao peso pré-gestacional, mesmo na
análise multivariada(17).
As demais variáveis desse mesmo bloco, que não foram significativas neste
estudo foram: o número de gestações anteriores, o intervalo interpartal e a
história de abortos prévios. Esses resultados foram semelhantes aos encontrados
em Pelotas-RS(17). No entanto, em Guaratinguetá/SP(5) foi encontrada associação
estatisticamente significativa entre o BPN e mães nulíparas ou com três ou mais
filhos, quando comparadas com as mães com um ou dois filhos. Já em Ribeirão
Preto/SP, mesmo com a redução do número de multíparas, houve aumento do BPN
(21).
Análise do quarto nível: fatores ambientais
Os fatores ambientais entraram no quarto nível de análise e foram ajustados
para as variáveis significativas que permaneceram dos blocos sobre as
características socioeconômicas e demográficas maternas, características
biológicas maternas e fatores reprodutivos maternos. Desse ajuste, as variáveis
que se apresentaram significativas foram o local de residência e o local de
trabalho materno (Tabela_3).
Nesse bloco referente aos fatores ambientais, o local de residência na área de
exposição, embora não tenha apresentado associação significativa, uma vez em
que o valor de p encontrado foi um pouco superior ao ponto de corte
estabelecido, tanto na análise bruta (p=0,067), como na análise ajustada
(p=0,057), há a possibilidade da existência de uma relação entre exposição
ambiental a poluentes e BPN no município do Rio Grande-RS. O risco verificado
na análise bruta (RO=1,87) aumentou na análise ajustada (RO=4,67).
Em relação aos estudos que relacionam a poluição ambiental com o BPN, no
Brasil, o primeiro realizado nesse sentido ocorreu em São Paulo-SP, em uma
pesquisa que envolveu 179 mil nascimentos ocorridos no ano de 1997, mostrando
que as mães que ficaram expostas a maiores níveis de poluição do ar no primeiro
trimestre da gravidez tiveram recém-nascidos com peso inferior que as demais
gestantes da capital paulista(4).
Outro estudo de que se tem conhecimento, também realizado no Brasil, foi feito
em Triunfo-RS, o qual apontou uma correlação positiva para BPN e a residência
materna próxima ao Pólo Petroquímico. No entanto, essa associação não foi
significativa quando outras variáveis foram incluídas na análise de regressão
logística condicional, como o fumo, doenças crônicas e a idade materna(2).
Os efeitos da poluição sobre os fetos foram estudados no Estado de São Paulo e
foi constatado que os mesmos sofrem com a poluição atmosférica, apesar de
estarem protegidos pela placenta e pela estrutura física materna. Segundo este
estudo, os abortos e os natimortos foram associados à poluição atmosférica,
sendo que a cada oito abortos que ocorreram na capital paulista, diariamente,
1,5 deles podem estar associados à poluição, assim como os natimortos. Nos dias
mais poluídos, as mortes fetais a partir do sétimo mês de gestação foram
maiores, sendo que, em média, a cada oito óbitos fetais registrados por dia,
dois podem estar associados à poluição(24).
No nosso estudo, um dos fatores que pode ter contribuído para o resultado
encontrado é o tamanho da amostra proveniente da área exposta, já que, de todos
os nascimentos (547), apenas 7,31% (40) ocorreram na área exposta, dos quais 15
eram casos e 25 eram controles.
Outros estudos tornam-se necessários para avaliar e esclarecer melhor esse
efeito sobre o BPN nesta área. Faz-se necessária a realização de estudos que
utilizem outros marcadores, além do local de residência, para que possam
delimitar com maior precisão quais as áreas mais atingidas(25). Por outro lado,
é necessário investigar melhor a exposição das gestantes nos diferentes
trimestres da gravidez e, até mesmo, em diferentes estações do ano, envolvendo
amostras maiores em relação à área exposta. Todos esses resultados nos fazem
refletir também que esses efeitos dos poluentes ambientais, ao menos neste
estudo, poderiam estar sendo potencializados pelo tabagismo passivo de outros
fumantes no domicílio durante a gestação.
O tempo de residência da mãe na área exposta também tende a associar-se
positivamente com o BPN (p=0,058) na análise bivariada, pois quanto mais tempo
a mãe morou na área de exposição, maior foi o risco. Já na análise ajustada,
esta variável não foi significativa. Nossas análises complementares mostraram
que a história de natimortos prévios tende a associar-se significativamente com
o tempo de exposição. Entretanto, houve um número muito reduzido de mães com
natimortos prévios, apenas três, as quais residiam na área exposta por mais de
cinco anos. Das mães que moravam na área de exposição por menos de cinco anos,
nenhuma teve natimortos prévios.
O local de trabalho não apresentou associação com o BPN na análise bivariada.
Na análise multivariada, quando ajustado com outras variáveis, o mesmo apontou
tendência de associação negativa com o desfecho estudado (p=0,08), apresentando
um efeito protetor, ou seja, uma redução do risco (RO=0,23). No entanto, o
número de mães expostas no ambiente de trabalho também foi pequeno, apenas
10,1% dos casos e 8,6% dos controles. Ao trabalhar na área exposta, a mãe não
sofre os mesmos efeitos da exposição do que quando reside na área exposta. No
presente estudo, apenas 29,4% das mães da amostra exerceram algum tipo de
trabalho remunerado. Portanto, o número de mães que trabalhavam na área exposta
era pequeno. Além disso, essas mães exerciam atividades de ensino, trabalho
administrativo de nível intermediário e inferior, como vendedoras e agentes de
venda, auxiliares em serviços públicos e serviço doméstico.
Análise do quinto nível: fatores de risco durante a gestação, intercorrências
na gestação e assistência pré-natal e tipo de parto
As variáveis dos quatro níveis analisados até aqui e significativas até o
momento, foram conservadas no modelo e utilizadas para ajustar o efeito das
variáveis do quinto nível, ou seja, os fatores de risco durante a gestação, as
intercorrências na gestação e a assistência pré-natal, e o tipo de parto. Entre
essas variáveis, apresentaram-se significativas: o número de cigarros fumados
por dia pelo companheiro, a existência de outros fumantes em casa, o consumo de
bebida alcoólica pela mãe durante a gestação, o ganho de peso durante a
gestação, a ocorrência de hipertensão arterial, diabete, ameaça de aborto
durante a gravidez atual e o número de consultas pré-natais (Tabela_4).
No bloco sobre os fatores de risco durante a gestação, a exposição da mãe ao
fumo do companheiro, quando avaliada de forma dicotômica, também não mostrou
associação com o BPN em nenhum momento das análises efetuadas. No entanto,
embora o fato do companheiro ter fumado mais de 10 cigarros por dia tenha sido
significativo em relação ao BPN na análise bruta, na análise ajustada, apesar
do risco ser ainda mais elevado (RO=2,27), os resultados não demonstraram
associação significativa com o BPN (p=0,09). Quando o número de cigarros
fumados por dia era 11 ou mais, os companheiros fumaram cerca de duas vezes
mais do que as mães, tanto entre os casos como entre os controles. Outro estudo
realizado em Rio Grande-RS também verificou uma alta prevalência do hábito de
fumar dos pais (42%) no município, inclusive maior do que a prevalência
observada para as mães neste município(26).
O fato de a mãe fumar ou não, não foi significativo em relação ao BPN, nem na
análise bruta e nem na análise ajustada. Entretanto, ao se avaliar o número de
cigarros fumados por dia pela mãe, encontrou-se associação positiva com o BPN
na análise bivariada. Na análise multivariada, essa associação desapareceu.
Esse resultado é diferente do apresentado no estudo de Pelotas-RS(17), o qual
encontrou associação positiva entre o BPN e o tabagismo no terceiro trimestre
da gestação.
Em nosso estudo, uma maior proporção de fumantes foi encontrada entre as mães
de renda mais baixa e de menor grau de instrução. Em Ribeirão Preto-SP, mesmo
com a redução do número de mães fumantes, foi observado um aumento do BPN(21).
Outras variáveis deste mesmo bloco, como: exposição da mãe a outros fumantes em
casa, a exposição materna ao fumo no ambiente de trabalho e o trabalho materno
remunerado, não foram significativas na análise bruta e nem na análise
ajustada.
O trabalho materno fora de casa durante a gestação, embora não tenha sido
significativo, aumentou o risco de a mãe ter um recém-nascido com BPN,
contrário ao estudo de Santos(17) que, embora também não tenha encontrado
associação significativa com o BPN, encontrou um risco menor da criança nascer
com BPN quando a mãe trabalhou fora de casa. Estudo realizado em Campinas-SP
(18) constatou que o trabalho materno fora de casa não exerceu efeito sobre o
peso ao nascer, o que também já tem sido relatado por Passini Jr.(19), que
considera esta variável como um possível fator de risco, somente nos casos em
que a jornada de trabalho exige muito esforço físico e muitas horas na posição
em pé.
Do total da amostra, 61% das mães eram do lar, 9,5% eram estudantes e, apenas
29,4% exerceram algum tipo de trabalho remunerado, sendo este do tipo manual
não qualificado ou semi-especializado. Resultados semelhantes já haviam sido
encontrados sobre o trabalho remunerado das mães deste município, com uma
pequena diferença em relação ao número de mães que trabalharam fora, ou seja, a
prevalência era um pouco maior (38%)(6).
O consumo de bebida alcoólica por parte da mãe durante a gestação não se
associou com o BPN na análise bivariada. Quando analisado junto com outras
variáveis, na análise multivariada, foi encontrada tendência de associação
positiva com o BPN (p=0,07). Estudo realizado em Pelotas-RS não encontrou
efeito negativo entre este consumo por parte da mãe na gestação e o BPN(17). Em
nossa pesquisa houve maior consumo desta bebida entre as mulheres com melhor
renda, o que também já havia sido constatado em Pelotas-RS(27).
Apesar de ser contraindicado o consumo de bebidas alcoólicas durante a
gestação, este hábito foi bastante frequente neste estudo (42% dos casos e
37,2% dos controles). Têm sido descritasas consequências deste uso para o
concepto, como o retardo do crescimento intrauterino, retardo mental, redução
do peso ao nascer e possível aparecimento de malformações (27).
Em relação ao bloco de variáveis sobre o ganho de peso e as intercorrências
durante a gestação, o ganho de peso materno durante a gestação associou-se
negativamente com o BPN nos dois tipos de análise. Desta maneira, o ganho de
peso exerceu um efeito protetor sobre o BPN. Quanto maior o ganho de peso
durante a gestação, menor o risco de a criança nascer com BPN. Quando a mãe
aumentou mais de 12 kg, o risco de ter um recém-nascido de BPN foi ainda mais
reduzido na análise ajustada (RO=0,08), quando comparado à análise bruta
(RO=0,18). Estudo realizado em Pelotas-RS(17) também encontrou o mesmo
resultado. Um estudo de coorte retrospectiva, realizado em São Paulo(28),
verificou que o BPN esteve correlacionado com o ganho de peso materno menor ou
igual a 10 kg durante a gestação. O peso insuficiente (2500g a 2999g) foi mais
comum quando o ganho de peso foi menor ou igual a 12 kg. Para a criança nascer
com peso normal (3000g ou mais), foi necessário que a mãe aumentasse 12 kg na
gestação. Já o aumento acima de 16 kg na gestação não esteve associado com o
aumento do peso do recém-nascido. Para esses autores, a nutrição materna e o
peso do recém-nascido apresentam uma proporcionalidade direta.
Neste estudo, das mães que tiveram recém-nascidos com BPN, 46,1% delas
aumentaram menos de oito quilos, contra apenas 15,4% das mães que tiveram um
recém-nascido de peso normal. Opostamente, 53,5% das mães que tiveram crianças
com peso normal, aumentaram mais de 12 quilos na gestação, contra apenas 22,7%
das mães que tiveram crianças com BPN. Todos esses dados confirmam o que já foi
apontado por outros autores quanto à importância do ganho de peso adequado
durante a gestação para evitar o nascimento de crianças com baixo peso.
A ocorrência de hipertensão arterial durante a gestação, considerando como
hipertensão arterial a pressão arterial ≥ 140/90 mmHg, não foi significativa na
análise bruta. Entretanto, ao entrar no modelo de análise multivariada, a mesma
apresentou associação positiva com o BPN. Santos(17) também encontrou
associação positiva entre o BPN e a história de hipertensão arterial. Cecatti e
colaboradores(9) constataram que há uma maior ocorrência de hipertensão
arterial em mães negras durante a gestação, este fato não foi observado no
presente estudo. Assim como não houve associação com a idade materna. No estudo
de coorte realizado em seis capitais brasileiras(29), os distúrbios
hipertensivos foram mais frequentes entre as mulheres obesas. Alta prevalência
de hipertensão transitória e crônica durante a gestação foi encontrada em
Pelotas-RS(27). A hipertensão arterial transitória ou crônica pode levar ao
retardo do crescimento intrauterino, prematuridade e alta mortalidade perinatal
(30) o que poderia explicar a sua associação com o BPN encontrada no presente
estudo.
Estudo retrospectivo realizado em 2002, num hospital público de São Paulo,
avaliou 604 prontuários de gestantes internadas e identificou 22 casos (3,64%)
de Doença Hipertensiva Específica da Gestação. Destas, 40,9% eram primigestas e
45,45% eram adolescentes(31).
A ocorrência de diabete durante a gestação associou-se positivamente com o BPN
na análise bivariada. Na análise multivariada, a mesma apenas manteve uma
tendência de associação positiva com o BPN (p=0,08). Em Pelotas-RS(17) foi
encontrada associação negativa entre o BPN e a história de diabete. Constatou-
se que as mães que apresentaram um risco aumentado para a diabete gestacional
eram obesas a apresentaram menor risco para microssomia(29). Embora o esperado
para os filhos de mães diabéticas é que os mesmos sejam macrossômicos, este
estudo mostra que as mães que apresentaram diabete durante a gestação possuem
tendência a ter recém-nascidos com BPN, o que pensamos poderia estar associado
à presença de hipertensão arterial, decorrente da obesidade. Por outro lado, é
importante destacar também o número pequeno de mães diabéticas na amostra.
A infecção urinária, ainda pertencente a este bloco, não apresentou associação
com o BPN na análise bruta e nem na análise ajustada. No entanto, em Pelotas-RS
(17) foi encontrada associação positiva entre o BPN e a infecção do trato
urinário. Neste estudo, a infecção urinária associou-se significativamente com
a renda familiar.
A ameaça de aborto associou-se significativamente com o BPN, apresentando um
risco aumentado na análise bruta (RO=2,39) e, um risco ainda maior na análise
ajustada (RO=6,27). Embora não se tenha encontrado estudos disponíveis na
literatura que associem esta variável com o BPN, sabemos que as mães que
apresentam ameaça de aborto durante a gestação, possuem uma probabilidade maior
de ter recém-nascidos prematuros e com BPN, devido a uma série de
intercorrências que podem acometê-las, tais como, placenta prévia, bolsa rota,
trabalho de parto prematuro, entre outras.
No bloco sobre a assistência pré-natal e o tipo de parto, o número de consultas
pré-natais associou-se negativamente com o BPN na análise bivariada, bem como
na análise multivariada. Quando o número de consultas pré-natais foi maior ou
igual a cinco, o risco reduziu na análise bruta (RO=0,38) e, na análise
ajustada essa redução do risco foi ainda maior (RO=0,17). Quanto maior o número
de consultas pré-natais, menor o risco de a criança nascer com BPN, como também
já foi constatado por outros autores(5,14). Apenas cerca da metade (51,5%) das
mães de toda a amostra iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre e, 7,9% (43)
das mães não realizaram nenhuma consulta pré-natal.
Foi encontrada associação negativa entre o número de consultas pré-natais e o
BPN na cidade de Pelotas-RS(17). Outro estudo realizado em Pelotas-RS(32) sobre
a atenção pré-natal, constatou uma incidência de BPN 2,5 vezes maior entre as
mães que não realizaram pré-natal, quando comparadas com aquelas que realizaram
cinco ou mais consultas, sendo que a falta de pré-natal foi mais frequente
entre as mães mais pobres, especialmente entre as adolescentes ou acima de 40
anos de idade. No estado de São Paulo foi verificado que o aumento do número de
consultas pré-natais reduz a prevalência de BPN e/ou prematuridade, sendo que
quando o número de consultas era de zero a três, a prevalência do BPN e/ou da
prematuridade era 14%, caindo para 4% quando o número de consultas era 07(sete)
ou mais(14).
Portanto, os resultados encontrados nesse estudo vêm somar-se aos dos demais
autores(5,14,33), ratificando a importância da assistência pré-natal para
evitar desfechos gestacionais desfavoráveis, sobretudo o BPN. Ressalte-se a
importância de que esse pré-natal seja iniciado o mais precocemente possível,
tenha a periodicidade correta e possa ser oferecido com qualidade à todas as
gestantes.
Estudo qualitativo realizado no interior do estado de Goiás, com onze
gestantes, constatou que as mesmas apresentaram conhecimento deficiente em
relação à gestação, déficit de autocuidado e alguns diagnósticos de risco. As
autoras consideram que os padrões mínimos preconizados frente à política de
atendimento à gestante durante o pré-natal precisam ser repensados e
reestruturados, pois a mesma deixa a desejar e enfatiza a consulta médica
individual, desconsiderando a assistência que pode ser oferecida pelos demais
profissionais, como no caso do enfermeiro, que também está habilitado para
realizar consultas individuais de enfermagem, além de atendimento grupal
interdisciplinar, e alegam que acompanhar as modificações que ocorrem durante a
gestação e os reais problemas, requer, na maioria das vezes, "a aproximação do
enfermeiro com a pessoa da gestante em dimensões mais subjetivas aumentando a
interação, desenvolvendo a confiança, aumentando a credibilidade da enfermagem
e gerando bases para a assistência mais humanizada e de melhor qualidade"(34).
Neste estudo o tipo de parto não se associou com o BPN nos dois tipos de
análise efetuadas. Estudo realizado em Guaratinguetá/SP, apesar de ter
encontrado uma taxa maior de cesáreas (70%), detectou associação positiva entre
o parto normal e o BPN(5). No estudo de coorte de base populacional realizado
em Ribeirão Preto/SP também foi constatado um aumento na prevalência de BPN
entre os nascidos de parto vaginal e esse fato foi atribuído especialmente ao
crescimento do número de recém-nascidos prematuros e de mães sem companheiro
(35). Estudo realizado em São José do Rio Preto-SP, no ano de 1992, observou
que as cesáreas têm aumentado com a paridade e estiveram associadas
significativamente com a idade materna e a realização da laqueadura, sendo mais
freqüentes entre os estratos sociais mais elevados(36).
Com relação a Rio Grande-RS, pesquisadores(6) referem que há uma prevalência
muito alta (43%) de cesarianas no município. No presente estudo, quando
considerada a amostra como um todo, 53% das mães realizaram parto cesáreo. Esse
índice ainda mais elevado poderia ser explicado pelo tipo de estudo caso-
controle, o qual dirige sua atenção para recém-nascidos de baixo peso, já
determinando assim um desfecho gestacional desfavorável, o que poderia estar
associado a um número maior de cesarianas. É importante também remarcar que
neste estudo, das crianças nascidas de cesarianas (53%), 60,2% aconteceram no
Hospital Universitário e 42,2% na Santa Casa. O Hospital Universitário tem sido
considerado para gestação de risco por possuir uma unidade de cuidados
intensivos neonatais.
O BPN é um indicador complexo, conseqüência de vários fatores de risco e/ou
confusão envolvidos, que interagem isolada ou simultaneamente, em maior ou
menor intensidade, de acordo com a exposição e as condições oferecidas pelo
ambiente em que vive a gestante. Os estudos disponíveis na literatura não são
unânimes ao mostrar estes fatores e, os mesmos apresentam diferenças,
dependendo do tipo de estudo e do local onde foram realizados.
Os profissionais da área da saúde estão despertando aos poucos para a
consciência de que a poluição ambiental gerada pelos processos industriais
interfere no processo gestacional das mães expostas, ocasionando BPN,
provocando malformações e, inclusive, causando a morte de embriões e fetos.
Como profissionais da saúde e de enfermagem, deve-se considerar o BPN como um
indicador das condições de saúde das gestantes e, em decorrência de todas as
implicações e desdobramentos que esta condição pode determinar, considerá-lo,
em conseqüência, um indicador das condições desfavoráveis vivenciadas pela mãe
antes e durante a gestação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise multivariada, foram identificados como fatores de risco para o
BPN os natimortos prévios, BPN prévios, a presença de hipertensão arterial
durante a gestação e a ameaça de aborto durante a gravidez atual. Além disso,
também apresentam tendência de associar-se positivamente com o BPN a ausência
do companheiro (p=0,052), o aumento da idade materna (p=0,052), o local de
residência (p=0,057), o número de cigarros fumados por dia pelo companheiro
(p=0,09), o consumo de bebidas alcoólicas (p=0,07) e o diabete (p=0,08). Foram
identificados como fatores de proteção para o BPN o aumento da altura materna,
o ganho de peso e o aumento do número de consultas pré-natais.
Nossos resultados mostram também a possibilidade da existência de uma relação
entre exposição ambiental a poluentes e BPN no município do Rio Grande-RS,
embora não tenha sido encontrada uma associação significativa, uma vez em que o
valor de p encontrado foi um pouco superior ao ponto de corte estabelecido.
Tornam-se necessários nesse município, outros estudos para avaliar e esclarecer
melhor o efeito da poluição ambiental sobre o BPN, através da utilização de
outras metodologias, como por exemplo, o uso de biomarcadores e de marcadores
locais da poluição, nos diferentes trimestres da gravidez e, até mesmo, em
diferentes estações do ano, envolvendo amostras maiores em relação à área
exposta.
Acreditamos que, com essa pesquisa, foi possível identificar os principais
fatores de risco a que estão expostas as gestantes e que podem determinar a
ocorrência do BPN de seus conceptos, aos quais vêm somar-se àqueles,
decorrentes de uma maior exposição a poluentes, devido ao fato de residirem nas
proximidades das indústrias. Nossos resultados permitem o aporte de subsídios
para a prevenção de danos à saúde, decorrentes da exposição a poluentes
ambientais, assim como, podem contribuir para o planejamento e implementação de
políticas públicas que visem o desenvolvimento sustentável, mantendo a saúde e
a qualidade de vida da população, uma vez em que é indispensável e mais eficaz
prevenir os problemas de saúde e a degradação ambiental, do que corrigir os
danos já ocorridos.