Cuidado de enfermagem ao cliente com hipertensão: uma revisão bibliográfica
INTRODUÇÃO
Este estudo foi elaborado como parte das avaliações da disciplina "Pesquisa em
Saúde e Metodologia Quantitativa" do Mestrado Acadêmico em Cuidados Clínicos em
Saúde (CMACCLIS) da Universidade Estadual do Ceará - UECE. A temática cuidado
de enfermagem ao cliente com hipertensão, por sua vez, foi escolhida por ser
objeto de estudo das autoras e por sua relevância.
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), por seu perfil epidemiológico, tem sido
estudada sob diferentes perspectivas, com o intuito de desenvolver uma prática
profissional que proporcione sua prevenção ou controle por meio de mudanças de
estilo de vida e/ou adesão ao tratamento farmacológico.
A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco para o
desenvolvimento das doenças cardiovasculares, explicando 40% das mortes por
acidente vascular cerebral e 25% por doença arterial coronariana(1). No Brasil,
há em torno de 17 milhões de pessoas com hipertensão, atingindo cerca de 35% da
população a partir de 40 anos. É um fenômeno ascendente, cada vez mais precoce
e que constitui grave problema de Saúde Pública no Brasil e no mundo(2).
Tem como característica os níveis elevados da pressão arterial, sendo definida
como pressão arterial sistólica igual ou maior que 140mmHg e/ou pressão
arterial diastólica igual ou superior que 90mmHg, em indivíduos sem uso de
anti-hipertensivos(2). Entretanto, a delimitação do diagnóstico de hipertensão
somente a partir das cifras pressóricas é arbitrária. Faz-se necessária
ressaltar a importância da identificação dessa doença considerando níveis
pressóricos, fatores de risco, lesões em órgãos-alvos e comorbidades
associadas, visando prevenir equívocos ou danos às pessoas.
Embora se trate de uma doença crônico-degenerativa de fácil diagnóstico e com
grande diversidade terapêutica, seu controle constitui um desafio aos pacientes
em virtude das mudanças de estilo de vida necessárias; e aos profissionais de
saúde, sobretudo aos enfermeiros, que têm sua ação pautada no cuidado contínuo
a esses indivíduos. A esses profissionais, o maior desafio revela-se na
necessidade de desenvolver estratégias com vistas a conduzir o indivíduo ao
autocuidado e consequente adesão à terapêutica.
A adesão ao tratamento anti-hipertensivo é consolidada com a participação do
cliente de forma ativa no seu plano terapêutico, não se constituindo em mero
cumpridor de recomendações; ao contrário, é visto como sujeito do processo,
assumindo com os profissionais de saúde, a responsabilidade pelo seu tratamento
(3).
A não adesão ao tratamento tem atingido aproximadamente 50% dos pacientes(4) e
envolve aspectos biológicos, psicológicos, culturais e sociais. A falta de
controle da pressão arterial, mesmo em pacientes acompanhados em unidades de
saúde, regularmente é freqüente.
Este fato tem contribuído para onerar os custos do Sistema de Saúde. No Brasil,
ocorreram 150.000 internações por doenças cardiovasculares, com custo global de
475 milhões de reais(5). As consequências da não adesão ao tratamento da
hipertensão arterial configuram-se como: aumento dos custos sociais com
absenteísmo ao trabalho, licenças para tratamento de saúde, aposentadorias
precoces por invalidez(6), internações, óbitos e comprometimento da qualidade
de vida dos grupos sociais mais vulneráveis(5).
Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de estratégias de cuidado que
contemplem os diversos elementos envolvidos no processo de adoecimento da
hipertensão arterial: as expressivas transformações na vida dos indivíduos nas
esferas emocional, familiar, social e econômica, considerando que a maior parte
constitui-se de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), dentre os quais estão
embutidas dificuldades socioeconômicas e culturais que podem tornar-se
empecilhos à adesão terapêutica adequada. Esse cuidado deve ser contextualizado
às necessidades do indivíduo e permeado pela noção de autonomia, com vistas à
produção de postura ativa na adesão.
Mesmo com o reconhecimento da Enfermagem na adesão ao tratamento, evidenciamos
uma lacuna entre teoria e prática, uma vez que são elevados os índices de não
adesão e a presença de complicações(7).
A Enfermagem é uma ciência, cuja essência e especificidade é o cuidado ao ser
humano, individualmente, na família ou na comunidade, desenvolvendo-o de forma
autônoma e/ou, muitas vezes, em equipe; é uma profissão de ajuda com relações
complexas e multifacetadas, composta por uma grande variedade de elementos; o
seu cuidado transcende a dimensão biológica da pessoa, e tem como foco o ser
que experiencia a doença, incluindo sua cultura, valores, crenças, modos de
vida e sentimentos vinculados às suas necessidades de cuidado(8).
Assim, torna-se urgente compreender como se dá a prática de enfermagem a essa
clientela nos diversos cenários de atuação da saúde. A realização de pesquisas
fornece subsídios para que os conhecimentos produzidos e divulgados sejam
incorporados na assistência de enfermagem, melhorando a qualidade de vida dos
pacientes portadores de hipertensão arterial. Assim, questionamo-nos: como o
cuidado ao cliente com hipertensão tem sido abordado na produção científica da
enfermagem nos últimos dez anos?
O objetivo do trabalho foi identificar, na produção do conhecimento, práticas
de cuidados de enfermagem ao portador de hipertensão arterial na última década.
Esperamos, a partir dos resultados, visualizar o cenário da produção científica
de enfermagem sobre hipertensão arterial, promovendo análise sobre os diversos
aspectos de cuidado descritos na literatura.
Tal análise torna-se importante no sentido de verificar a construção do
conhecimento acerca da temática e identificar possíveis lacunas em seu
arcabouço teórico-conceitual, seja em termos clínicos, conceitual ou empírico,
incitando a estudos posteriores sobre o tema.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo bibliográfico do tipo revisão da literatura, acerca das
práticas de cuidado de enfermagem a clientes com hipertensão, o que propicia a
análise de um tema sob novo enfoque ou abordagem, inovando com conclusões
críticas.
Para a seleção dos estudos, realizou-se levantamento de dados na Biblioteca
Científica Eletrônica Online (SCIELO), na Literatura Latino-americana e do
Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e no Banco de Dados em Enfermagem (BDENF).
Foram critérios de inclusão: artigos publicados nas bases de dados citadas no
período de 1998 a 2008; artigos com os seguintes descritores e marcadores
booleanos: cuidados de enfermagem and hipertensão, enfermagem and hipertensão.
Após levantamento, identificou-se 105 publicações entre artigos de periódicos,
dissertações e monografias. Foram excluídos os artigos que, embora tivessem
tais descritores, não versavam especificamente sobre cuidados de enfermagem ao
cliente com hipertensão (54), bem como aqueles que se repetiram ao compilar
todas as bases de dados (21). Após leitura flutuante, selecionou-se 32 estudos,
iniciando leituras exaustivas dos textos, fazendo uma síntese de cada artigo e
categorizando os tipos de cuidados identificados.
Os dados foram tratados descritivamente com indicação de freqüências simples e
percentuais, referentes ao ano e local de publicação, tipos de estudo, cenário
do estudo e eixos temáticos. Foram apresentados em tabelas e gráficos e
discutidos com base na literatura pertinente.
RESULTADOS
De acordo com os dados da Tabela_1, observamos que o quantitativo de trabalhos
encontra-se diluído ao longo dos últimos dez anos. Entretanto, observamos a
predominância de publicações sobre hipertensão nos anos de 2001 e 2002, com
quatro e seis estudos, respectivamente. Tal fato pode estar relacionado ao
grande número de trabalhos sobre o cuidado de enfermagem, publicados nos anais
do 53º e do 54º Congressos Brasileiro de Enfermagem.
![](/img/revistas/reben/v64n4/a20tab01.jpg)
Ainda na Tabela_1, evidenciamos que a maior parte dos estudos foi realizada no
estado de São Paulo, com oito publicações, evidência que pode ser justificada
pelo fato de ser este a principal força econômica-política do país, tendo
também a maior concentração de instituições de ensino superior e de pós-
graduação. Em segundo lugar, encontra-se o Ceará com sete trabalhos, os quais
abordam, prioritariamente, o uso de teorias de enfermagem na sistematização da
assistência ao hipertenso. É válido ressaltar que apenas sete estados foram
citados como local de realização dos estudos, do total de 27 estados
brasileiros. Alguns estudos, analisados apenas pelos resumos, não revelavam seu
local de realização.
Esses resultados alertam para a necessidade de desenvolvimento de pesquisas
sobre o tema em questão em todas as regiões do país, haja vista as
consequências da condição de cronicidade da hipertensão arterial, bem como o
incremento das doenças cardiovasculares no Brasil. A distribuição geográfica da
produção científica da enfermagem não é uniforme em nosso país, equiparando-se
à localização dos cursos de pós-graduação(9).
O produto e o processo da atividade científica são dependentes da comunicação
eficaz e as revistas especializadas são importantes veículos de divulgação do
conhecimento científico. Consoante visualizamos no Gráfico_1, o maior número de
publicações sobre o tema (13,3%) foi encontrado em periódicos de enfermagem com
classificação Internacional A, bem como em dissertações.
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Somando-se o quantitativo de publicações na Revista Latino-americana de
Enfermagem, Texto e Contexto e as dissertações, obtemos um total de 12 (39,9%)
estudos. A Revista Latino-Americana foi a primeira a ser indexada e
classificada como periódico internacional, e assim como a Revista Texto e
Contexto, é uma das poucas com essa classificação, despertando o interesse dos
pesquisadores em nelas publicar.
Ainda no Gráfico_1, representando a categoria "outras" temos as revistas Online
Brasilian Journal Nursing, Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, Mundo da
Saúde, Revista Eletrônica de Enfermagem, Revista Brasileira de Enfermagem,
Revista da Escola de Enfermagem da USP, Acta Paulista, Cogitare, Revista de
Enfermagem da UERJ e Revista da Sociedade de Cardiologia de São Paulo com
apenas uma publicação.
Percebemos, assim, a necessidade de divulgação das pesquisas realizadas, com
vistas à transformação social e, no âmbito da Enfermagem, a transformação do
cuidado. Tradicionalmente as descobertas científicas ganharão reconhecimento e
credibilidade em função de sua publicação em revistas científicas de prestígio
(10).
Quanto ao cenário da pesquisa, constatamos no gráfico_2 a prioridade à atenção
primária, uma vez que a maioria dos estudos (36%) ocorreu em Centros de Saúde
da Família (CSF). Em seguida, identificamos os estudos realizados em
ambulatórios especializados a nível da atenção secundária, correspondendo a 6
estudos (20%). Dois (7%) configuram-se como estudos reflexivos, não abordando,
portanto, local de realização de coleta de dados.
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Recomenda-se que de 60 a 80% dos casos de hipertensão arterial e diabetes
mellitus sejam tratados na rede básica(11). Dessa forma, entende-se ser
extremamente importante a realização de pesquisas nesses cenários, locais
férteis para ações de educação em saúde, objetivando a promoção da saúde e a
prevenção de doenças.
Na Atenção Primária à Saúde (APS), a promoção do autocuidado e da adesão ao
tratamento deve ser um dos principais objetivos a serem implementados pela
estratégia de saúde da família. Tal desenho organizativo atua como porta de
entrada e propõe um novo modelo de atenção à saúde baseado nas ações de
promoção, prevenção, proteção, recuperação e reabilitação.
No que se refere às práticas de cuidado identificadas, o Quadro 2 traz as
temáticas de cuidados de enfermagem identificados nos estudos.
A realização de consultas de enfermagem foi identificada em 17 estudos, sendo
uma atividade largamente utilizada em nossa prática assistencial. Nesse
contexto, preocupa-nos a abordagem, prioritariamente individual, em detrimento
de uma abordagem coletiva, ou seja, que convide membros da família ou outras
pessoas importantes à participação e engajamento no tratamento.
Diante da complexidade da práxis da enfermagem, um instrumento metodológico é
imprescindível para a realização de um cuidado de qualidade, o qual vem sendo
desenvolvido por meio do processo de enfermagem e implementado com a
sistematização da assistência de enfermagem. Dentre os estudos analisados, 16
versam sobre a sistematização da assistência de enfermagem, bem como o uso de
teorias em sua implementação. As teorias utilizadas foram: Teoria do
Autocuidado de Dorothea Orem (sete estudos), Teoria do Alcance de Metas de
Imogene King (cinco estudos) e Teoria da Adaptação de Sister Callista Roy (dois
estudos). O uso dessas teorias é bem pertinente em situações de cronicidade,
uma vez que enfatizam a necessidade do autocuidado, do planejamento de ações
conjuntas entre enfermeiro e cliente, e da adaptação do indivíduo a sua doença
e tratamento, respectivamente.
No que se refere à utilização da educação em saúde, observamos predomínio de
orientações individuais (dez estudos), não ocasionando o impacto desejado na
promoção da saúde e da prevenção de doenças. Educação em saúde é definida como
quaisquer combinações de experiências de aprendizagem delineadas com vistas a
facilitar ações voluntárias conducentes à saúde(12). Por combinação, refere-se
à junção de experiências de aprendizagem do cotidiano com intervenções
educativas, que devem ser sistematicamente planejadas a possibilitar mudanças
comportamentais positivas para a saúde de pessoas, grupos ou comunidades.
Na contramão da idealizada educação em saúde, observa-se uma educação
normativa, conteudista, cientificista, enunciada no imperativo, baseada em
relação linear entre saber instituído e comportamento. Há um hiato entre
discurso e prática pedagógica, bem como a ineficácia da educação em provocar
mudanças de comportamento e desenvolver o empowerment(13).
Vemos, portanto, a necessidade de superação do caráter meramente instrumental,
individualista e focado na doença proposto pela educação tradicional tendo em
vista a adoção de uma educação libertadora, que desenvolva consciência crítica
e instrumentalize indivíduos e comunidades na conquista de sua cidadania e na
tomada de decisões(14). Atenta-se para a compreensão da educação em saúde como
um momento de construção compartilhada de conhecimentos entre educador e
educando.
A temática da visita domiciliária, presente em quatro estudos, dá-se em sua
maioria em um contexto de abordagem familiar. A família é um importante sistema
de apoio, podendo servir de alicerce ao indivíduo em seu enfrentamento
individual cotidiano. Por isso, apontamos a importância da interação
enfermeiro-cliente-família.
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A realização de atividades coletivas como grupos de autoajuda e de atividades
físicas apresentam impactos positivos no tratamento, entretanto, tem sido pouco
divulgada na produção científica de enfermagem.
DISCUSSÃO
Diante da apresentação quantitativa dos trabalhos selecionados, voltamo-nos à
sua análise. Uma das principais atividades relatadas nos trabalhos foi a
Consulta de Enfermagem. Porém, esta não tem se dado de forma sistemática. A
utilização do Processo de Enfermagem dá um caráter profissional à consulta,
organizando a abordagem do cliente e definindo a competência da enfermeira.
Assim, constatamos que a Consulta de Enfermagem sem sistematização resulta na
falta de objetivos próprios e sendo realizada como uma fase preliminar à
consulta médica (pré-consulta) ou mesmo complementar (pós-consulta). A
enfermeira, por não ter marcos referenciais específicos para a abordagem do
cliente, centra a sua consulta em fatores isolados, que representam risco para
a situação clínica(15).
Por outro lado, o processo de enfermagem é uma tecnologia que permite realizar,
de forma sistemática e dinâmica, um cuidado humanizado, dirigido a resultados
positivos e de baixo custo. Possibilita compreender, descrever e/ou explicar
como a clientela responde aos problemas de saúde e processos vitais, e
determinar que aspectos exigem intervenções de enfermagem(16,17).
A adoção de teorias no cotidiano da enfermagem contribui para a construção do
conhecimento científico e para melhor elucidação do real papel do enfermeiro,
com reflexo direto no processo de cuidar(18). As teorias desafiam as práticas
existentes, uma vez que possibilitam criar novas abordagens e remodelar normas
e princípios vigentes.
Para o cuidador, em sua relação com o paciente, deve-se priorizar: interações e
conexões positivas, exigindo da enfermeira paciência, harmonia, calma,
afetividade e afirmação, aceitação mútua, respeito mútuo e comunicação eficaz.
Esses elementos foram confirmados em outro estudo, quando abordado que o
paciente hipertenso freqüenta a consulta de enfermagem por aspectos de ordem
emocional. O enfermeiro pode ser identificado como um elemento de confiança no
compartilhamento dos problemas e questões de ordem biológica, social, familiar,
econômica e emocional(19).
O diagnóstico da Hipertensão Arterial, em geral, faz-se por consulta de outras
afecções, muitas vezes já havendo complicações da doença, por queixas diversas,
ou seja, de forma casual, o que confirma a necessidade de que a medida da PA
seja rotina nas consulta médica e de enfermagem.
Sobre a percepção do cliente hipertenso acerca de sua doença e tratamento, foi
constatado que há apreensão moderada do conhecimento dado pelo profissional,
referente à prática da caminhada, da dieta hipossódica e do uso correto da
medicação. Apesar de informados, referem diferentes motivos para o não
atendimento das orientações: comodismo, doenças associadas, pouca segurança,
falta de tempo, desgaste físico e mental para realização de exercícios físicos;
dificuldades socioeconômicas para a alimentação adequada; dependência química
para o fim do tabagismo e etilismo, efeito adverso das drogas para o uso
sistemático das medicações.
Em um estudo onde se buscou apreender as representações sociais de mulheres
portadoras de hipertensão arterial, dentre as categorias que emergiram,
destacou-se a que aponta as explicações das hipertensas sobre o tratamento e
controle da doença, evidenciando conhecimentos elaborados e compartilhados
socialmente(20). Esses conhecimentos também podem ser confirmados em um estudo
com um grupo focal de hipertensos no qual emergiram três categorias, dentre as
quais se destacam: "repercussões orgânicas da hipertensão" e "promoção da saúde
do hipertenso". Nestas categorias evidenciaram-se conhecimentos acerca dos
sinais e sintomas da hipertensão arterial, bem como o tratamento farmacológico
e não farmacológico necessários para a prevenção de outras doenças e promoção
da saúde(21).
Outro fator importante encontrado foi a relação entre o tempo do tratamento e o
uso sistemático das medicações, pois quanto maior o tempo, menor o uso dos
remédios, principalmente, nos idosos. Assim, uma avaliação da influência dos
medicamentos na qualidade de vida dos hipertensos é imprescindível na busca de
alternativas para maior adesão. Assim, a receita ainda é um dos principais
fatores do comparecimento dos hipertensos à consulta médica(6).
No mesmo trabalho, evidenciou-se o desconhecimento e a busca de informações por
parte dos pacientes. Porém, as condutas profissionais são, em sua
predominância, higienodietéticas, exigindo mudanças de hábitos ou estilo de
vida. Falta sensibilidade para informar o paciente sobre o que é a Hipertensão,
a fim de capacitá-lo a tomar decisões conscientes sobre seu comportamento de
busca de saúde.
Há pouca regularidade nas atividades educativas, espaço potencializador no
estabelecimento de mudança de comportamento para exercício da cidadania, o que
ultrapassa a mera orientação prescritiva. A justificativa para a baixa demanda
foi a pouca divulgação, poucos recursos, acomodação e desmotivação.
O processo educativo é uma ação política e social, cujos métodos e técnicas
devem favorecer a desalienação, a transformação e a emancipação dos sujeitos
envolvidos. Nesse contexto, a educação em saúde não deve ser exclusivamente
informativa, normativa, mas deve levar os usuários a refletirem sobre as bases
sociais de sua vida, passando a perceber a saúde não mais como uma concessão, e
sim, como um direito social defendido por lei(5).
As abordagens educativas existentes têm enfoque na cura, na prevenção de
doenças, reproduzindo a assistência queixa-conduta, por meio de prescrições
multifatoriais, desenvolvendo interações em nível desigual. Faz-se necessário
para o profissional de enfermagem buscar estratégias que estimulem a mudança de
comportamento por parte do paciente, pois a adoção apenas de medidas de
orientação não é suficiente para adesão eficiente ao tratamento(15).
É consenso afirma que programas estruturados de educação em saúde para adultos
portadores de hipertensão arterial levam a melhorias nas condições de saúde
destes indivíduos, tanto no que se refere aos fatores de risco como para a
adesão ao tratamento instituído. Em um estudo onde analisou-se dois artigos que
tratavam de intervenções educativas com hipertensos, foi verificado que houve,
após a realização de programas educacionais, considerável mudança de
comportamento e melhoria da adesão ao tratamento medicamentoso. Reafirmam
também as melhorias proporcionadas pela educação em saúde como estratégia junto
a pacientes hipertensos adultos. No entanto, também é referido que essas ações
não são tão fáceis de serem implementadas, por diversos motivos como o método
utilizado, a própria interação com os sujeitos, entre outros(22).
A família também foi abordada nos estudos sobre Hipertensão Arterial, chegando-
se à conclusão de que a mesma necessita de informações sobre o processo de
adoecimento a fim de ajudar o parente com Hipertensão. Incentivou-se a
automonitorização da pressão arterial pelo paciente, necessitando de ajuda da
família, principalmente quando se trata de idosos(23).
As doenças crônicas trazem limitações e alterações de estilo de vida de difícil
adaptação, mas essas são perfeitamente compatíveis com a manutenção da
qualidade de vida do indivíduo(23). Para tanto, é necessário que este seja
orientado em relação aos cuidados que deve tomar e os faça de forma consciente,
e que a família seja esclarecida a favorecer esta independência, ajudando-o a
ter uma vida compatível com sua condição de cronicidade. Além disso, o adulto
hipertenso em tratamento contínuo, apesar de conhecer algumas das causas e
conseqüências da hipertensão, bem como hábitos saudáveis de vida, subestima os
efeitos dessa condição patológica sobre sua função renal.
Constatou-se que nos trabalhos voltados para propostas de atendimento de
enfermagem à clientela hipertensa, os grupos melhoraram sua adesão ao
tratamento, em relação ao consumo de sal, tabagismo, etilismo, exercícios
físicos e estresse. Os pacientes reconhecem suas potencialidades, havendo
inclusive a participação da equipe. A implementação de tecnologias relacionais
de cuidado comprovou que a ênfase nas relações interpessoais enfermeira/
paciente/família foi um dos fatores a propiciar aumento da adesão ao
tratamento, mesmo quando a resolução de problemas estruturais do serviço se
mostrou inalterada, demonstrando necessidade de cuidar de maneira integral,
sistêmica e interativa(7).
Um dos estudos identificados propôs a ação conjunta do enfermeiro, farmacêutico
e médico na assistência ao hipertenso, no sentido de prevenir problemas
relacionados à medicação. Assim, enfermeiro e farmacêutico trabalhariam na
educação referente ao peso, ingestão de sódio, consumo de álcool, atividade
física, tabagismo e nas complicações da HA.
Apesar de constatar lacunas na prática, que supririam a baixa adesão existente
na clientela hipertensa, as metodologias de cuidado ao cliente hipertenso pelo
enfermeiro são diversificadas, possibilitando o uso da criatividade, de
aspectos físicos e emocionais de forma a promover a saúde e o bem-estar.
CONCLUSÃO
Ao escolher esse tema para estudo, acreditamos ser grande o quantitativo de
textos que seriam encontrados em virtude da importância do estudo de uma doença
tão prevalente e incidente na atualidade. Contudo, consideramos insuficiente a
literatura encontrada nas bases de dados no que se refere à operacionalização
da prática dos enfermeiros a esses pacientes com vistas à melhoria na qualidade
da assistência.
O estudo permitiu visualizar a produção científica do cuidado de enfermagem ao
hipertenso, impulsionando a reflexão sobre a necessidade de mais publicações na
temática. Trata-se de indivíduos em condição de cronicidade, necessitando de
abordagens inovadoras, as quais promovam maior adesão ao tratamento anti-
hipertensivo.
É preocupante a forma como foi relatada a realização da Consulta de Enfermagem,
ou seja, de forma assistemática, individualizada e ainda centrada no modelo
médico hegemônico.
Os hipertensos possuem consciência sobre os hábitos inadequados, porém sentem-
se desmotivados às mudanças, em virtude da cronicidade da doença. Desse modo,
confirmamos a falta de adesão, conhecimento insuficiente e precariedade no
autocuidado, o que é fortalecido pela ausência de sintomas, cujo caráter
silencioso, mascara sua gravidade e faz com que os pacientes se acomodem à
condição de cronicidade.
Por outro lado, visualizamos possibilidades de mudanças, por meio de condutas
que valorizem o outro, seja no ambiente familiar, nas atividades de grupo, ou
nas unidades de saúde, promovendo, assim, maior adesão do cliente hipertenso ao
tratamento. Para uma ação efetiva na prevenção e no controle da hipertensão, é
necessário aliar educação, trabalho e fator social, não em âmbito individual e
sim coletivo.
Nesse contexto, esperamos desafiar os enfermeiros assistenciais e pesquisadores
a refletirem acerca das práticas de cuidado de enfermagem à clientela
hipertensa, no sentido de contribuir para o seu controle e qualidade de vida
dos pacientes e de seus familiares.