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BrBRCVHe0034-71672012000200016

BrBRCVHe0034-71672012000200016

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0034-7167
ano2012
Issue0002
Article number00016

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Mensuração de área de úlceras por pressão por meio dos softwares Motic e do AutoCAD®

INTRODUÇÃO A Úlcera por Pressão (UP) constitui uma lesão parcial ou total das camadas da pele e, freqüentemente, não se limita às camadas superficiais, atingindo o tecido subcutâneo, a fáscia e o tecido muscular, em determinadas regiões do corpo com menor quantidade de massa muscular e presença de proeminências ósseas em contato com uma superfície externa(1,2).

Diversas escalas podem predizer o risco de formação de UP entre as quais, a mais citada na literatura, é a Escala de Braden, que avalia seis fatores de risco ou subescalas, sendo três referentes a determinantes clínicos de exposição para pressão intensa e prolongada - percepção sensorial, atividade e mobilidade; e três mensurando a tolerância do tecido à pressão - umidade, nutrição, fricção e cisalhamento. Ao final da avaliação, chega-se a uma pontuação, classificando o paciente como de risco elevado, risco moderado e risco mínimo para desenvolvimento de UP(3).

O risco de desenvolvimento de UP é maior em pacientes hospitalizados, tratados em domicílio ou em centros de reabilitação, portadores de patologias crônicas, tais como Acidente Vascular Encefálico (AVE), câncer, lesão medular quando estão em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou idosos portadores de patologias crônicas(4).

As UPs podem ser classificadas de acordo com a profundidade, em relação à extensão da parede tissular envolvida: grau I - comprometimento da epiderme com eritema em pele íntegra; grau II - perda parcial da pele, envolvendo a epiderme e/ ou derme; grau III - comprometimento da epiderme, derme e tecido subcutâneo; e grau IV - comprometimento da epiderme, derme, tecido subcutâneo e tecidos mais profundos como músculos, tendões e ossos(5).

A evolução do processo de cicatrização pode ser acompanhada por meio da mensuração da UP realizada por métodos não invasivos: medida simples (comprimento x largura em centímetros com uso de régua após desbridamento); decalque (traçar o formato da úlcera em material transparente e posteriormente colocando-o sobre um papel quadriculado, contando-se o número de quadrados inteiros para obtenção da área); fotografia (evidência visual do aspecto da úlcera, exigindo a repetição do procedimento em intervalos regulares sob o mesmo ângulo, luminosidade e distância focal constante); e sistemas computadorizados por meio de software para análise digital de imagens(5).

Devido às desvantagens e limitações apresentadas pelos métodos invasivos, têm sido desenvolvidos e aperfeiçoados métodos não invasivos de mensuração da profundidade, volume, área e cor da UP, que utilizam fotografias e software para o processamento de imagens e mensuração de UPs(6).

A acurácia de um sistema de digitalização e processamento de fotografia para o cálculo computacional do volume e profundidade de uma cavidade simulando uma UP foi avaliada em estudo em que se concluiu que foram encontrados erros mínimos e, por isso, esse sistema foi considerado um método adequado para aferição de área e volume de UP(7).

Dentre os tipos de software disponíveis para mensuração de área de UPs, o software AutoCAD®, também empregado pelos engenheiros civis no cálculo de área física em topografia, tem sido utilizado por profissionais das áreas de oftalmologia(8,9), otorrinolaringologia(10), odontologia(11,12) e para mensuração de área de lesões cutâneas ou UPs em estudos com animais(13) e humanos(1,14), sendo considerado um método de medida de alta precisão e confiabilidade(8).

O software Motic tem sido igualmente utilizado para calcular a área de UPs por meio de imagens digitais. Khalil et al(15) e Aramwit e Sangcakul(16) calcularam a área de feridas em ratos, enquanto Silva et al(17) descreveram elevada fidedignidade inter e intra-examinador no cálculo de área de UPs em humanos.

Portanto, tanto o software Motic quanto o AutoCAD® podem ser utilizados para mensuração de área de UPs. Entretanto, em recente levantamento bibliográfico, não foram encontrados estudos comparativos do desempenho desses recursos computacionais para identificação de propriedades geométricas de UPs. Almejando contribuir para o desenvolvimento de métodos quantitativos de avaliação em saúde, este estudo compara as aferições de área de UPs por meio desses recursos computacionais para verificar sua precisão e reprodutibilidade.

MÉTODO O protocolo experimental do presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde sob o CEP/ FEPECS 217/10. Todos os participantes receberam informações sobre o objetivo e o procedimento do estudo e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido no momento da coleta de dados, concordando em participar da pesquisa.

Foi realizado um estudo transversal em que foram selecionadas duas imagens de UPs com grau III de pacientes internados no Hospital de Apoio de Brasília, unidade integrante da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES- DF). A primeira imagem, de contorno regular, corresponde à região trocantérica direita do paciente AMS (Figura_1) e a segunda imagem, de contorno irregular, à região isquiática da paciente BHN (Figura_2). As fotografias utilizadas no estudo foram autorizadas pelos pacientes por meio de um termo de consentimento livre e esclarecido. As imagens foram obtidas por uma câmera fotográfica digital da marca Sony Cyber-shot 5.0 megapixels, modelo DSC-V1, com resolução de 1.2 megapixels. A câmera foi posicionada com eixo perpendicular ao leito da UP e com distância de 50 centímetros, aferida com uma régua plástica. Como referência para o cálculo computadorizado da área, um objeto padrão, com área de 4 cm2, foi posicionado próximo à borda da UP.

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As imagens em formato jpeg foram importadas pelo software AutoCAD® versão 2008 e pelo software Motic Images Plus versão 2.0, instalados em um notebook marca HP Pavilion modelo DV6232 com um mouse externo marca Clone modelo 6195.

Foi utilizada uma amostra por conveniência de 35 acadêmicos do curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Brasília (UCB), sendo 13 indivíduos do sexo masculino (37,14%) e 22 indivíduos do sexo feminino (62,86%), com média de idade de 23,68 ± 2,06 anos, todos possuindo conhecimento básico do Microsoft Office. Cada voluntário realizou três aferições em cada uma das imagens para a obtenção de um valor médio, inicialmente com o programa Motic e, posteriormente, com o programa AutoCAD®.

Determinação da área com o software Motic As imagens das duas UPs inseridas na área de trabalho foram ampliadas com aproximação de 200x, utilizando-se o recurso de lupa, gerando-se uma janela de melhor visualização aos avaliadores. Logo após, foi selecionada a ferramenta "irregular" e com esta, cada avaliador marcou o contorno do objeto padrão, pressionando o botão esquerdo do mouse enquanto realizava o contorno. Foi realizado o mesmo procedimento para o contorno da imagem de cada UP. Ao se finalizar o contorno do objeto padrão e da UP, o software forneceu dados referentes às suas áreas, com unidade de medida em Squm (unidades de medidas quadradas).

Determinação da área com o software AutoCAD® Aqui as imagens das UPs foram inseridas por meio dos comandos insert e raster image reference, com seleção da escala 1. Na área de trabalho do software, foi ampliado o tamanho da imagem, de modo a facilitar a demarcação do contorno. Foi selecionada a ferramenta spline para delimitar o contorno do objeto padrão e da imagem de UP e, por meio do botão esquerdo do mouse, o avaliador marcou o contorno do objeto padrão e da imagem de UP, clicando em vários pontos seqüencialmente. Ao se finalizar a demarcação, a tecla <enter> foi utilizada 3 vezes consecutivas, formando o contorno definitivo do desenho. Os comandos AA (area) <enter> e O (object) <enter> foram utilizados para a determinação da área do objeto padrão e da imagem de UP, em números decimais.

Conversão das áreas fornecidas pelo software Motic e pelo AutoCAD® Com as áreas obtidas, foi elaborada uma tabela no software Microsoft Excel contendo a identificação do candidato e a análise do objeto padrão e da UP de cada imagem em cada software. Considerando que a área do objeto padrão era conhecida (4 cm2 ), a área UP em cm2 foi obtida por regra de três, por meio da seguinte fórmula: [/img/revistas/reben/v65n2/a16for01.jpg] Análise estatística Para o tratamento estatístico dos dados foram utilizados média, desvio-padrão, coeficiente de variação (CV), erro das médias, teste t pareado e correlação de Pearson, calculados no SPSS 15.0 (Statistical Package for the Social Sciences) para Windows, para comparar o software Motic Images Plus 2.0 e o AutoCAD® 2008.

A concordância entre os dois métodos foi testada utilizando o procedimento de Bland e Altman. A reprodutibilidade foi aferida por meio do Coeficiente de Correlação Intra-classe (ICC). A correlação foi considerada baixa para ICC < 0,40, moderada para 0,40 < ICC < 0,75 e excelente para ICC > 0,75.

Consideraram-se diferenças significativas quando p < 0,05.

RESULTADOS Analisando os resultados da mensuração de área das UPs (Tabela_1), pode-se observar diferença estatisticamente significativa [t(35)= -2,30; p= 0,03] entre o software Motic e o AutoCAD® no que diz respeito à UP do paciente AMS (UP AMS), sendo que os valores de área da UP foram maiores no Motic do que no AutoCAD®. Entretanto, a diferença entre as médias das áreas foi de apenas 0,08 cm2 (2,49%). Em relação à UP da paciente BHN (UP BHN), não se observa diferença estatisticamente significativa [t(35)= 1,07; p= 0,29] entre os dois tipos de software, com diferença entre as médias das áreas de apenas 0,22 cm2 (1,05%). O valor máximo do coeficiente de variação encontrado foi de 6,08%.

Os valores da correlação de Pearson demonstraram correlação positiva e fraca (r= 0,34; p= 0,04) entre os softwares Motic e AutoCAD® na mensuração da UP AMS e nenhuma correlação estatisticamente significativa entre as duas medidas (r = 0,06; p = 0,75) da UP BHN. Em relação ao ICC referente às duas medidas, observou-se valor muito baixo (ICC = 0,16) na UP AMS e valor moderado (ICC= 0,41) na UP BHN.

O gráfico de Bland e Altman apresenta a concordância entre a mensuração das UPs com o software Motic e o AutoCAD®. No eixo y estão as diferenças individuais em função das médias observadas nos dois métodos (eixo x). No Gráfico_1, a linha central representa a média da diferença da mensuração da UP AMS entre os dois métodos (0,08 ± 0,21 cm2 ). Para definir os limites superior e inferior utilizou-se uma fórmula (média ± 1x desvio-padrão), resultando em limite superior de 0,29 cm2 e limite inferior de -0,13 cm2. Dessa forma, permitiu-se um erro de aproximadamente 0,2 cm2 de diferença entre um teste e outro. No Gráfico_2, a linha central representa igualmente a média da diferença da mensuração da UP BHN entre os dois métodos (0,22 ± 1,23 cm2 ). O limite superior e o limite inferior foram de 1,45 cm2 e -1,01cm2, respectivamente.

Dessa forma, permitiu-se um erro de aproximadamente 1 cm2 de diferença entre um teste e outro.

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DISCUSSÃO Foi observada baixa consistência dos resultados, haja vista que houve diferença estatisticamente significativa apenas em uma das UPs, baixa correlação e reprodutibilidade, porém houve concordância entre os métodos. Estes resultados podem ter sofrido influência de fatores como a coordenação motora dos avaliadores, noção diferenciada da delimitação da borda da UP, diferentes tamanhos das UPs, tipo de borda a ser delimitada e características técnicas dos dois tipos de software. Para minimizar essa influência, a mensuração da área da UP deveria ser realizada, preferencialmente, pelo mesmo sujeito e software.

Observa-se que a área da UP da paciente BHN é aproximadamente sete vezes maior do que a do paciente AMS e a técnica de marcaçãonho da figura percorrida.

Entretanto, do ponto de vista relativo, tais desvios ficam mais acentuados em figuras de menor área.

Embora tenha sido encontrada baixa consistência, o CV máximo foi de 6,08%, estando abaixo do valor máximo de 11,34% descrito por Silva et al(13) ao avaliar UPs com o softwa re Motic. Segundo Gomes(18), os valores de CV encontrados no presente estudo são considerados baixos, caracterizando ambos os métodos como de alta precisão.

Apesar de ter ocorrido erro de 2,49% para a UP do paciente AMS e de 1,05% para a UP da paciente BHN entre as médias do software Motic e do AutoCAD®, estes valores são considerados pequenos principalmente do ponto de vista clínico, pois constituem erros bem menores que os cometidos pelos métodos simples de mensuração de área como a régua (comprimento x largura).

Os resultados obtidos nesta pesquisa não puderam ser comparados com os de outros estudos por não terem sido encontrados similares na literatura. Sugere- se que novos estudos sejam realizados comparando os dois tipos de software, analisando UPs com diferentes profundidades, tamanhos e tipos de borda.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo alcançou o objetivo proposto, tendo permitido concluir que ambos os instrumentos apresentam pequenos erros de medida. Apesar de haver diferença estatística e baixa reprodutibilidade, eles concordam entre si, sendo mais confiáveis e precisos do que técnicas simples de mensuração de área, permitindo assim um melhor acompanhamento da evolução da cicatrização das UPs.


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