Prática profissional de enfermeiras que cuidam de pacientes com câncer em
hospitais gerais
INTRODUÇÃO
A experiência de cuidar de pacientes com câncer em hospitais gerais, nos fez
perceber que a formação de recursos humanos na enfermagem para o atendimento da
clientela alvo em oncologia, tanto na prática quanto nas instituições de
ensino, indica a necessidade de melhoria no preparo desses profissionais que
certamente, prestarão assistência a uma população que cresce rapidamente e que
cada vez mais procura os serviços de saúde para o atendimento de suas
necessidades(1-3).
Por outro lado, enfermeiras que trabalham junto aos pacientes com câncer
relatam aspectos positivos no cotidiano do trabalho, como por exemplo, a
recuperação e o contato com o paciente, o conhecimento da doença, a educação em
saúde, tanto para essas pessoas quanto para funcionários, levando-os a
perceberem-se úteis. Em contrapartida, estas profissionais mencionam
dificuldades em relação ao sofrimento desses pacientes e sentimentos
expressados por eles, como revolta, perspectiva da morte, sensação de
impotência diante da doença, inúmeras internações, além de condições
desfavoráveis da prática de enfermagem, como a falta de tempo para prestar uma
boa assistência, falta de funcionários e de organização no trabalho, assim como
o excesso de atividades(4).
A esta inquietude soma-se o aspecto de serem pessoas / profissionais que lidam
em seu cotidiano na assistência a uma clientela portadora de uma doença que,
por si só, mobiliza as mais variadas emoções e sentimentos(5).
Nossa experiência profissional no convívio com pacientes com câncer não foi
suficiente para a apreensão da vivência das enfermeiras no cuidado a esses
pacientes, no entanto, conduziu-nos à busca de um novo olhar para a compreensão
do fenômeno do cuidar, com base na vivência do outro, e por meio da abordagem
social da prática profissional. Surgiu então um questionamento quanto à ação da
enfermeira ao cuidar de um paciente com câncer: como as enfermeiras
experienciam essa vivência?
As enfermeiras, quando cuidam de um paciente com câncer, trazem para a
assistência suas crenças e convicções que fazem parte de suas experiências
vividas e percebem a si mesmas e os outros, em um processo de interação entre
ela e o paciente. Este processo está caracterizado pela intersubjetividade de
ambos.
Assim, pretendemos penetrar no mundo da vida das enfermeiras que cuidam de
paciente com câncer, no próprio contexto do cuidado, ou seja, situado em sua
atitude natural, e compreender sua vivência em um mundo intersubjetivo.
O cuidado prestado por essa profissional pode ser considerado uma ação entre
indivíduos que dividem o mesmo espaço e tempo e que se desenvolve com vistas ao
alcance de metas ou de um projeto que traz em si os motivos da ação. Buscamos,
então, compreender como essa ação é tipificada pela enfermeira.
Diante das múltiplas facetas que envolvem o cuidado, apresentaremos e
discutiremos as ações que a enfermeira projeta, de maneira consciente, para
compor a assistência a ser prestada, ou seja, como as enfermeiras de hospitais
gerais caracterizam o cuidado ao paciente com câncer.
Na busca da compreensão desta situação, foi estabelecido como objetivo do
estudo: compreender o típico da prática profissional de enfermeiras que cuidam
de pacientes com câncer em hospitais gerais.
MÉTODO
O presente estudo é do tipo descritivo, de natureza qualitativa, com vertente
na fenomenologia social, que propicia a compreensão das experiências vividas
por enfermeiras que no seu cotidiano cuidam de pacientes com câncer, a partir
das quais foi possível construir o típico das ações por elas desenvolvidas.
Assim, para descobrir os motivos que impulsionam a ação das enfermeiras e
colocam em evidência o que há de original, significativo, específico e típico
nesse fenômeno, julgamos que os pressupostos do filósofo Alfred Schütz dariam
subsídios para desvelá-los. O filósofo fundamentou-se nos pressupostos de
Edmund Husserl e Max Weber para firmar a construção e verificação dos tipos
ideais que devem emergir, segundo ele, do material que comporta em si
significados intencionais da ação humana(6).
Ressalta ainda, que o indivíduo experiência relações que vão formando a sua
pessoa e, que na sociedade onde vive, ocupa um lugar e um tempo que, juntos,
trazem uma sedimentação das suas vivências, as quais, no decorrer de sua vida,
o diferenciam dos demais. Desse modo, para Schütz, é essa a situação biográfica
característica de cada pessoa e que influencia o modo como cada indivíduo ocupa
o espaço da ação social, definida como sendo a conduta entre duas pessoas. Ela
é projetada, tem um significado subjetivo que lhe dá direção, podendo ser
dirigida para o passado, o presente ou o futuro(6).
Com a bagagem de conhecimentos que os indivíduos têm e sua posição na
sociedade, eles têm interesses próprios que os motivam e os direcionam. Assim,
para Schütz, os "motivos para"impulsionam a realização da ação e, portanto,
estão dirigidos para o futuro. Já os "motivos porque"se fazem presentes nos
acontecimentos já concluídos, eles estão nos fatos, não podem ser mudados. No
entanto, eles não são esquecidos e podem influenciar as ações no presente.
Portanto, para o referido filósofo, a apreensão da realidade social é feita por
meio da tipificação dos fatos do mundo. Independente do contexto e da
circunstância, ele interpretará a realidade de acordo com sua situação
biográfica. A tipologia resume os traços típicos de um fenômeno social,
possibilitando colocar em evidência o que há de novo, específico e próprio do
fenômeno.
O projeto de pesquisa que gerou este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética
da Universidade Federal de São Paulo, Protocolo nº 1293/06, e obteve a anuência
das Gerências de Enfermagem das Instituições Hospitalares onde o estudo foi
desenvolvido, bem como o consentimento livre e voluntário dos sujeitos,
expresso por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Como cenário, foram utilizados dois Hospitais Gerais Privados da cidade de São
Paulo, onde se desenvolvem atividades de diagnóstico e tratamento clínico,
cirúrgico e ambulatorial, na atenção a pacientes de diversas especialidades
médicas, inclusive a oncologia.
A coleta ocorreu entre fevereiro e março de 2007 por meio da entrevista semi-
estruturada, segundo a abordagem fenomenológica, e as questões que nortearam o
estudo foram: Como foi para você cuidar do paciente com câncer pela primeira
vez? Como está sendo para você cuidar desses pacientes, agora? Quando cuida de
um paciente com câncer, o que você espera?
Os sujeitos foram dez enfermeiras que trabalhavam nesses hospitais, com um ou
mais anos de experiência no setor em que exerciam suas atividades, sendo que
nenhum dos quais com especialização ou capacitação específica na área de
oncologia.
Procedimentos de análise
Para compreender o típico vivido das enfermeiras que cuidam de pacientes com
câncer, foram utilizados os passos previamente descritos por outros autores
(7,8,9), que foram adaptados para este trabalho e que permitiram responder ao
objetivo do estudo e às questões norteadoras.
Assim, o percurso para análise compreensiva do fenômeno iniciou-se com a
leitura atenta e detalhada dos depoimentos enquanto material não estruturado e,
a partir dela, foram agrupados aspectos significativos que representassem
convergências de conteúdos, compondo as categorias concretas. Em seguida, as
categorias foram nominadas por locuções de efeito que expressam aspectos
significativos da compreensão do tipo vivido pelo enfermeira ao cuidar do
paciente com câncer. Finalmente, foi realizada a análise compreensiva das
categorias e a construção do tipo vivido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos relatos permitiu chegar às intencionalidades motivacionais das
enfermeiras que cuidam de pacientes com câncer, identificando as categorias
concretas do vivido oriundas dos motivos para e dos motivos porque, assim
denominadas: Despreparo, Impotência e Compaixão.
As participantes deste estudo relatam que trazem nos seus discursos que durante
o processo de formação profissional, o conteúdo ministrado com relação ao
cuidado de pacientes com câncer foi insuficiente.
... não fui preparada para cuidar do paciente oncológico, aprendi na
prática. (E1)
A faculdade dá uma pincelada em oncologia, nada específico. Você sai
da faculdade sem ter uma prévia do que você vai encontrar quando você
sair, a gente não faz estágio em oncologia, então você não sabe o
perfil do paciente oncológico. (...) você não tem na faculdade um
contato com o paciente oncológico. É bem específico, parece que é
outro lado da enfermagem, você tem estágio em tudo, menos em
oncologia. (E3)
Consequentemente, a atitude natural das enfermeiras é de Despreparo para o
cuidado dos pacientes com câncer porque se sentem desprovidas de bagagem de
conhecimentos específicos da área. Mesmo havendo uma proposta para os conteúdos
de oncologia fazerem parte da grade curricular dos cursos de Graduação em
Enfermagem(10), ainda pouco se discute sobre a singularidade e peculiaridade da
atenção oncológica, além de ser pouco considerada a dificuldade dos discentes
em lidar com as questões existenciais advindas da sua experiência ao cuidar de
pacientes com câncer.
Na faculdade acabam dando uma pincelada nisso, acho que é uma matéria
que deve ser mais aprofundada para a gente lidar com o paciente,
tanto emocionalmente como tecnicamente. (E2)
Também foi possível perceber nos discursos dos sujeitos uma dualidade nas
falas, pois ao mesmo tempo em que mencionam a necessidade de aquisição de
conhecimento específico na área de oncologia, as manifestações de interesse no
aprendizado científico são reduzidas, referindo adquirir as informações de
forma incidental e responsabilizando as instituições de ensino e serviço pelas
próprias lacunas de conhecimento.
Outra problemática que vejo é a falta de treinamento para as
enfermeiras na oncologia, que nem na faculdade mesmo, não tive nada
de oncologia. Saí sem saber de nada, e o que aprendi de oncologia foi
quando fiz auxiliar de enfermagem há quinze anos, muito superficial,
muito vago. Na graduação, nada de oncologia... (...) eu mesmo nunca
tive nenhum treinamento, foi meio no olho. (...) fui atrás,
estudando, perguntando, tirando dúvidas com um, com outro, mas
treinamento, de como funciona, conhecer as medicações, não tive. Acho
muito falho! Pelo menos o básico deveria ser dado na graduação ou no
próprio hospital. (E9)
A complexidade de cuidados ao paciente com câncer na esfera técnico-científica
e emocional faz que a enfermeira tenha consciência do seu despreparo para lidar
com essas pessoas e sinta necessidade de possuir conhecimentos específicos para
alicerçar um cuidado competente, modificando, desta forma, a assistência
prestada.
Para tanto, a formação na área oncológica deve promover o conhecimento
específico e a competência profissional adequada às práticas de trabalho, em
toda a sua complexidade e amplitude, sempre com base nas melhores evidências
científicas existentes, apoiadas por um sólido julgamento clínico-
epidemiológico e princípios éticos, e centradas na melhoria do cuidado(11).
Nesta pesquisa, as enfermeiras relataram que, durante o período de sua formação
profissional, o contato prévio com os pacientes com câncer poderia tê-las
ajudado a modificar sua atitude natural frente a esses doentes, pela
possibilidade de reelaborar conceitos incorporados no seu mundo da vida.
Este fato confirma a necessidade internacionalmente reconhecida de que os
conteúdos relacionados à oncologia, em toda a sua abrangência, sejam inseridos
na matriz curricular dos cursos de graduação em enfermagem(12-13).
Para Schütz, só uma pequena parte do nosso conhecimento tem origem nas
experiências pessoais. Uma grande parte vem do convívio social, transmitido
pelos nossos contemporâneos e antecessores. Assim, durante a prática
profissional, a enfermeira vai acumulando experiência em cuidar de paciente com
câncer, idealizando em sua mente um típico de paciente que irá direcionar as
suas condutas no cuidado de outros.
Ainda, ao buscar o que estava implícito nos relatos dos sujeitos deste estudo,
pode-se perceber que a relação dos profissionais com o paciente é permeada por
conflitos e indagações. Apreendeu-se que nesse encontro com o outro, o
profissional revive as experiências anteriores e busca reconstruí-las. Porém,
ao rememorá-las, fazendo comparações e analogias, muitas vezes não consegue
reelaborá-las de forma a promover seu crescimento pessoal e profissional.
Consequentemente, trazem para o atendimento vivências e experiências próprias
de seu mundo da vida, ou seja, aquilo que lhes é subjetivo, como, por exemplo,
descrito na categoria doença fatídica desvelada em estudo, em que a enfermeira
acredita que o câncer é uma doença funesta, que prenuncia a morte e traz
sofrimento extremo para o paciente, familiares e para ele próprio(14).
Estas vivências influenciam o processo de construção da relação intersubjetiva,
que, para Schütz, é a categoria fundamental da existência humana no mundo. Ele
afirma que é na relação de intersubjetividade do eu com o outro que o mundo
circundante nos é comum e com ele coincidimos, ao menos para as nossas
necessidades práticas, para que possamos partilhar nossas experiências(15).
Essa dificuldade do profissional pode estar relacionada ao sentimento de
Impotência, que não lhe permite o afastamento necessário da situação, de modo a
promover a reelaboração dessas vivências negativas, e até mesmo dos
significados a elas atribuídos.
Dessa forma, os profissionais sentem-se perdidos, perplexos, cansados e
frustrados, não sabendo como lidar com as mudanças ocorridas no processo de
adoecer do paciente com câncer.
Tendo em vista que o agir do enfermeira visa à manutenção e a recuperação da
saúde, o mesmo, ao dispensar cuidados ao paciente com câncer, deveria ter em
mente que esses cuidados têm em sua essência a finalidade de proporcionar
melhoria na qualidade de vida(5).
De acordo com psicólogos que estudaram as vivências de profissionais de saúde
da área de oncologia, "o sentimento de desânimo, impotência ou abandono que se
abate sobre o profissional, funciona como uma trava às suas disposições
construtivas, reforçando a ideia de ineficiência"(16). Esta perspectiva
explica, mesmo que parcialmente, a falta de motivação e as precárias atitudes
proativas das enfermeiras em relação ao cuidado do paciente com câncer,
levando-as a supor que os cuidados prestados, por não serem suficientes para a
manutenção da vida, são inúteis.
Você vê que não tem saída, é um prognóstico fechado. Você vai fazer
várias coisas ali, vai dar o melhor de si para o paciente, toda sua
prática, conversando, explicando, mas não tem saída! (E2)
Por mais que eu traga uma palavra de conforto para ele, não vai
trazer o conforto que ele precisa, tenho essa sensação, nada que eu
faça vai ser suficiente. (...) Passo visita, mas sei que é uma coisa
que vou passar e não tenho o que falar para o paciente. Você entra e
fala se está tudo bem, aquele negócio, o que vou falar para ele? Fico
perdida. O que vou falar para ele? Se ele está bem? Poxa, ele está
com câncer. Se ele está com dor, você olha para aquela cara
deprimida, aquela cabecinha raspada, ai meu Deus do céu! Não me sinto
suficiente para estar ali ajudando... (E10)
As enfermeiras que participaram do estudo referem em suas falas que a
fragilidade que o paciente com câncer apresenta durante o processo de adoecer
mobiliza nelas sentimentos de Compaixão. Este sentimento se expressa por meio
de manifestações do desejo de manterem uma relação de proximidade, em que
estivessem presentes a consideração pelo ser humano, a paciência, o carinho, o
respeito, o simples fato de estar perto e dar atenção na hora em que o paciente
precisar, aproximando-o da concepção humanista do cuidado. Um estudo recente
(5)mostra que o toque e/ou um gesto de carinho são pequenas ações que poderão
levar os pacientes a sorrir e a seguir em frente em sua vida, mesmo com suas
limitações, proporcionando bem estar e melhora na qualidade de vida.
Os sujeitos da pesquisa desejam prestar uma assistência revestida de
individualidade, porque cada paciente tem seu próprio ritmo, suas
características. Também tentam ser o elemento integrador, o referencial de
confiança, um ponto de apoio, oferecendo o conforto humano possível, segurança
e tranquilidade, além de estabelecer uma relação de proximidade, para que os
pacientes sintam a presença do ser humano profissional que prestará os cuidados
com a finalidade de individualizar, humanizar, atender a seu bem-estar físico e
emocional.
... espero poder atender bem, cuidar bem, tanto do paciente quanto do
familiar por que hoje a gente trabalha também com a família. É o que
eu espero. Atender bem e dar um bom atendimento, dar o melhor de mim,
no dia que eu estou cuidando dar o máximo. Dar o máximo de
atendimento técnico e psicológico. Dar atenção ao paciente, naquele
momento que eu posso estar com ele, e dar atenção para ele, às vezes
um momento rápido, você não fica o dia todo. Hoje, as pessoas sentem
necessidade de serem ouvidas, a vida está muito corrida, elas querem
falar. (E1)
Ao cuidar do paciente com câncer, as enfermeiras percebem que a motivação nas
suas ações está repleta de afetividade.
...eles são debilitados emocionalmente, então eles esperam de você
uma palavra, um carinho, é o fim deles, e a expectativa é chegar
alguém para conversar e dar esperança... (E3)
O profissional que presta assistência ao paciente com câncer desenvolve suas
atividades direcionando seus esforços em busca de um objetivo, que é o de
prestar uma assistência que atenda às reais necessidades dos pacientes sob seus
cuidados. As enfermeiras projetam um conjunto de ações com conhecimento,
habilidade, humanidade e competência, favorecendo, assim, uma relação
intersubjetiva.
Outro aspecto que merece atenção é a questão do atendimento às necessidades
emocionais dos pacientes e seus familiares. Diante da percepção de que a
assistência e o cuidado devem transcender os procedimentos técnicos, as
enfermeiras tendem a dirigir suas ações, no sentido de resolver os problemas
suscitados pela prática, utilizando critérios pouco claros e definidos, muitas
vezes baseados no senso comum(10).
Desprovido de um preparo adequado e necessário para lidar com tais situações, o
enfermeira, de modo contraditório ao que projeta como ideal de cuidado, evita o
contato com os pacientes, como forma de negar ou fugir da própria fragilidade e
impotência, diante dos anseios dos pacientes com câncer e seus familiares.
Mesmo não sendo proposital, esta atitude prejudica os cuidados prestados ao
paciente, que "nesse momento busca sua própria autonomia intensificando o
desejo de falar, de ser ouvido"(17).
Então, o tipo vivido dessas enfermeiras que cuidam de pacientes com câncer em
hospital geral é aquele que reconhece que não possui o conhecimento teórico
necessário e a experiência ou prática suficiente, quer na esfera biológica,
quer na psicossocial ou espiritual, para cuidar do paciente com câncer. Não se
percebe capaz de desenvolver ações que influenciem positivamente o cuidado aos
pacientes com câncer e seus familiares, mas projeta a promoção do conforto
físico e emocional, transmitindo segurança, orientação e informação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao utilizar a visão da fenomenologia social de Alfred Schütz, foi possível
compreender o típico vivido da prática profissional de um grupo de enfermeiras
que cuidam de pacientes com câncer em hospitais gerais.
Assim, a primeira tarefa ao utilizar a metodologia das ciências sociais foi a
de explorar os princípios gerais segundo os quais o sujeito organiza suas
experiências na vida diária e, especialmente, as do mundo social. Diante disso,
os conceitos aqui apresentados permitiram o aprofundamento das questões vividas
pelas enfermeiras, numa perspectiva compreensiva, livre de explicações e
generalizações.
Pôde-se compreender que as dificuldades das enfermeiras referem-se,
primordialmente, àquelas relacionadas ao caráter expressivo do cuidado, pois
foram raros os momentos em que fizeram alusão às questões técnicas ou
instrumentais, apesar de serem tão relevantes e específicas para o atendimento
do paciente com câncer.
Este fato pode responder parcialmente ao observado quanto ao desinteresse das
enfermeiras em participar ou buscar cursos especializados na área de oncologia,
mesmo aqueles poucos desenvolvidos no seu ambiente de trabalho. Uma explicação
possível seria a de que as fontes de atualização/conhecimento oferecidas não
suprem as demandas internas da enfermeira, ou seja, aquelas necessárias para
habilitá-la a prover as necessidades de cuidado de caráter expressivo.
Quanto à formação acadêmica, fio condutor e indispensável para a educação das
futuras enfermeiras, ela é alicerçada por uma matriz curricular composta de
conteúdos que abordam técnicas e procedimentos complexos, deixando reduzido ou,
muitas vezes, inexistente o espaço para a abordagem da enfermagem oncológica.
Com uma bagagem de conhecimento escassa, frente à complexidade dos cuidados que
demanda o paciente com câncer, na esfera técnico-científica e emocional, as
enfermeiras se vêem na contingência de aprender na trajetória de sua vida
profissional, por meio de experiências adquiridas na assistência prestada a
esses pacientes e de leituras que, segundo elas, são os únicos conhecimentos
disponíveis.
Para as enfermeiras, as instituições hospitalares deveriam promover capacitação
em serviço, com a abordagem de temas relacionados ao atendimento ao paciente
com câncer, a fim de promover aperfeiçoamento profissional e, consequentemente,
melhoria da assistência. No entanto, tais adequações não devem ficar somente a
cargo das instituições de ensino e/ou treinamentos hospitalares, mas também
devem vir do próprio profissional.
A responsabilidade individual das enfermeiras pelo seu desenvolvimento
profissional, assim como das instituições de ensino e de serviço na formação e
capacitação permanente desses profissionais, fornece subsídios para lidar, com
competência, com as diferentes dimensões que envolvem o cuidado a pacientes com
câncer e sua família.