Comparação entre as técnicas de mensuração da pressão arterial em um e em dois
tempos
INTRODUÇÃO
A medida da pressão arterial (PA) pelo método indireto com técnica
auscultatória é um procedimento relativamente simples, confiável e muito
utilizado na prática clínica para se avaliar os níveis da PA.
Esse procedimento requer dois equipamentos, um estetoscópio e um
esfigmomanômetro, este último composto pelo manguito, manômetro, sistema de
válvulas, pera e tubos de borracha. A inflação do manguito oclui o fluxo
arterial, sua deflação leva à redução da pressão do sistema, até que a pressão
de pico gerada pela contração do ventrículo esquerdo impulsiona o sangue num
fluxo intermitente pelo leito da artéria, produzindo os sons de Korotkoff. A
medida ocorre por meio da oclusão arterial pela inflação do manguito,
relacionando a ausculta dos sons com o valor registrado na coluna de mercúrio.
Esses ruídos são identificados por fases, cujo início e fim são utilizados para
avaliar a pressão arterial sistólica (fase I) e a pressão arterial diastólica
(fase V)(1).
Decorrido cerca de um século da descoberta dos sons de Korotkoff, o
conhecimento na área da medida da pressão, no diagnóstico precoce e tratamento
da hipertensão arterial e na avaliação dos fatores de risco para moléstias
cardiovasculares permanece com lacunas e é fonte de pesquisa em todo mundo(2).
O procedimento fundamental para a realização dessas pesquisas e para a evolução
do conhecimento na área é a medida da PA. Apesar de extremamente difundida e
rotineiramente utilizada, esta determinação, principalmente pelo método
auscultatório, ainda é realizada, frequentemente, sem a observação das
recomendações básicas para evitar erro nas aferições(3-5).
Visando a padronização da medida da pressão arterial, entidades internacionais
como a American Heart Association(3)e o VII Joint National Committee on
Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure(6)
tecem recomendações a respeito de todos os cuidados necessários para a
realização da medida correta da pressão arterial. Do mesmo modo, sociedades
científicas brasileiras elaboram em conjunto suas recomendações para a
abordagem dos hipertensos, que incluem a técnica de medida da PA(1).
Atualmente, as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão(1)preconizam para a
medida da pressão arterial a técnica em dois tempos. A importância da
realização desta técnica consiste em proporcionar, através do método
palpatório, uma aproximação preliminar necessária da pressão arterial sistólica
e assegurar um nível adequado de inflação antes que a medição auscultatória
seja feita. Ela é particularmente útil porque evita o enchimento insuficiente
do manguito em pacientes com hiato auscultatório e a hiperinsuflação naqueles
com pressão arterial muito baixa(7). Para sua execução é preciso realizar o
preparo do paciente e a medida em si.
Primeiramente deve-se explicar o procedimento ao paciente; promover o repouso
de pelo menos 5 minutos em ambiente calmo; permitir que ele use o banheiro,
verificar se não praticou exercícios físicos nos últimos 60 minutos, não
ingeriu bebidas alcoólicas, café ou alimentos e não fumou nos 30 minutos
anteriores; orientá-lo para, durante o procedimento, não falar, manter as
pernas descruzadas, os pés apoiados no chão, o dorso recostado na cadeira e
permanecer relaxado. Deve-se retirar a roupa do braço onde será feita a medida
e posicionar o braço do paciente na altura do coração (nível do ponto médio do
esterno ou 4º espaço intercostal), apoiado, com a palma da mão voltada para
cima e cotovelo ligeiramente fletido(1,3).
Após esse preparo, a medida em dois tempos preconiza a estimativa palpatória da
pressão sistólica (primeiro tempo) e a determinação auscultatória da PA
(segundo tempo). No primeiro tempo deve-se medir a circunferência do braço do
paciente e selecionar manguito de tamanho adequado; colocar o manguito sem
deixar folgas 2 a 3 cm acima da fossa cubital; centralizar o meio da parte
compressiva do manguito sobre a artéria braquial; estimar o nível da pressão
sistólica (palpar o pulso radial e inflar o manguito até o seu desaparecimento,
desinflando rapidamente; o reaparecimento do pulso corresponderá à pressão
sistólica). Após um minuto procede-se ao segundo tempo, que consiste em palpar
a artéria braquial na fossa cubital e colocar a campânula do estetoscópio sem
compressão excessiva; inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 mmHg o nível
estimado da pressão sistólica; proceder à deflação lentamente (velocidade de 2
a 4 mmHg por segundo); determinar a pressão sistólica na ausculta do primeiro
som (fase I de Korotkoff), que é um som fraco seguido de batidas regulares, e,
após, aumentar ligeiramente a velocidade de deflação; determinar a pressão
diastólica no desaparecimento do som (fase V de Korotkoff); auscultar cerca de
20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar o seu desaparecimento e depois
proceder à deflação rápida e completa; se os batimentos persistirem até o nível
zero, determinar a pressão diastólica no abafamento dos sons (fase IV de
Korotkoff) e anotar os valores da sistólica/diastólica(1,3).
O que se observa na prática, afora diversos erros cometidos, é o uso da técnica
em um tempo, que, normalmente, não realiza a estimativa palpatória da pressão
sistólica. Nela o profissional infla o manguito até um ponto decidido
aleatoriamente por ele mesmo, e em seguida o desinsufla fazendo a ausculta dos
sons de Korotkoff. A justificativa apresentada por esses profissionais é a
economia de tempo que essa técnica permite.
Verifica-se que, a cada uma das recomendações, novos aspectos relacionados ao
observador, equipamento, paciente, ambiente e técnica são discutidos com o
intuito de afastar possibilidades de erros, que comprometam a fidedignidade da
medida de pressão arterial e, conseqüentemente, do diagnóstico da hipertensão
(1).
Em relação ao aparelho, podemos citar a má conservação, os vazamentos, a não
calibração, a inadequação do manguito à circunferência do braço. Se o manguito
for muito largo, os níveis de pressão obtidos serão mais baixos e se o manguito
for muito estreito, os níveis serão falsamente elevados. Para evitar esse tipo
de erro, é recomendado usar manguitos adequados à circunferência do braço(1,8).
Ao observador podemos atribuir fatores tais como a hipoacusia, a má colocação
do manguito, a inflação excessiva da bolsa, a deflação muito rápida, a
compressão da artéria braquial pelo estetoscópio, o uso incorreto do método de
mensuração e outros(3). A obesidade, a presença de arritmias e a hipertensão do
avental branco são causa de algumas flutuações atribuídas ao paciente(9).
Quanto ao ambiente, podemos citar a temperatura da sala, o barulho de fundo,
vindo de outros locais, e a luminosidade(3,9).
A preocupação das sociedades científicas com esse procedimento não é desprovida
de sentido, já que se trata de um dos procedimentos de saúde mais executados em
todo o mundo, por profissionais de diversas formações. Dentre elas destaca-se a
categoria da enfermagem, a qual desempenha papel importante na medida da
pressão arterial, seja na detecção precoce da doença ou no controle e
acompanhamento dos hipertensos, bem como na orientação destas pessoas. Sabe-se
que os valores obtidos pela medida da pressão arterial são um importante
indicador de saúde e apresentam correlação direta com a morbidade
cardiovascular(10).
Considerando, então, a magnitude da hipertensão arterial e a importância da
detecção precoce da doença, a comparação da técnica da mensuração da pressão
arterial em um tempo em relação à técnica em dois tempos pode ser um fator
simplificador. Ou seja, a confirmação de que as duas técnicas podem
proporcionar a obtenção de valores similares com o mesmo grau de confiabilidade
poderia resultar em economia de esforços e recursos necessários para a
capacitação do observador, além de benefícios para a população.
OBJETIVO
Comparar valores da pressão arterial obtidos pelas técnicas de mensuração em um
tempo e em dois tempos, com manômetro de mercúrio, nos membros superiores.
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo observacional transversal. O estudo foi realizado nas
Unidades de Internação e nos Ambulatórios de um hospital de ensino do interior
de São Paulo. Os sujeitos do estudo foram pacientes atendidos nos Ambulatórios
e nas Unidades de Internação do hospital.
A amostra foi composta por indivíduos acima de 18 anos, cuja circunferência
braquial, medida no ponto médio do braço, variava de 31 a 33 centímetros. Esse
valor foi tomado como referência de acordo com as recomendações da American
Heart Association(11), que preconiza uma relação de 0,38 entre a largura do
manguito e circunferência do braço (nesses sujeitos o manguito de largura
correta é o de 12cm). Essa relação tem sido referida como sendo de 0,4 em
publicações mais recentes(3). Os sujeitos foram selecionados por amostragem
casual. Foram excluídos todos aqueles que apresentaram contraindicações para a
medida da pressão arterial no braço (por exemplo: indivíduos em tratamento de
hemodiálise e indivíduos que passaram por tratamento cirúrgico de retirada de
redes linfáticas em MMSS) e indivíduos cuja diferença de pressão entre os dois
braços foi superior a 4 mmHg, tanto para mais quanto para menos, tanto na
pressão sistólica quanto na diastólica. Isso atende a recomendação feita por
O'Brien et. al.(12). Apesar do objetivo deste trabalho não ser a validação de
um instrumento automático, consideramos oportuno trabalhar com medidas muito
próximas entre os dois braços, afim de que as possíveis diferenças estatísticas
encontradas não pudessem ser atribuídas a diferenças entre os braços, mas sim
entre as técnicas utilizadas.
Definiu-se uma amostra de 40 indivíduos para o estudo e, após análise pelo
Software Minitab, verificou-se que a mesma tinha um poder de teste igual a
0,97, assegurando a sua validade e significância.
As variáveis analisadas foram os valores de pressão arterial sistólico e
diastólico, obtidos por diferentes métodos e equipamentos.
Para a coleta de dados foram utilizados: um manômetro de mercúrio, um aparelho
de pressão digital Omron (Modelo: HEM-714INT), ambos calibrados um mês antes do
início da coleta de dados, um estetoscópio Littmann(tamanho adulto), um
manguito de 12 cm de largura e almofadas para ajuste da posição do braço.
Os dados foram coletados por uma aluna do último semestre do Curso de Graduação
em Enfermagem de uma universidade do interior paulista, devidamente capacitada
na técnica de medida da PA em um tempo e em dois tempos, bem como na utilização
do aparelho digital.
A coleta de dados foi realizada em salas de atendimento dos ambulatórios e
quartos de internação, locais bem iluminados e livres de excesso de ruído, após
5 minutos de repouso na posição sentada, sem o indivíduo ter previamente
ingerido café ou utilizado tabaco, com o braço apoiado no nível do coração.
Foram realizadas cinco medidas de pressão arterial em cada sujeito. A primeira
foi feita com o aparelho de pressão digital validado em um dos braços,
escolhido por sorteio, e a segunda, utilizando o mesmo aparelho no outro braço.
Essas duas medidas foram realizadas para assegurar que a pressão arterial nos
dois braços era igual ou diferia em até 4 mmHg(12)para mais ou para menos,
tanto na pressão sistólica quanto na diastólica, o que assegurou a comparação
entre os dois braços nas medidas subseqüentes.
A terceira medida foi feita simultaneamente nos dois braços, utilizando o
aparelho digital em um deles e o manômetro de mercúrio no outro. O aparelho
digital foi utilizado para, primeiramente, possibilitar medidas simultâneas
pelo único observador e, segundo, para demonstrar a estabilidade da pressão
arterial nos diferentes momentos, o que significaria que alterações de valores
observadas seriam consequência da mudança da técnica. Além disso, optou-se por
escolher um aparelho digital previamente validado segundo as recomendações da
European Society of Hypertension (ESH)(13).
Para a medida com o manômetro de mercúrio foi escolhido por sorteio uma das
técnicas de medida da pressão arterial indireta: em um tempo ou em dois tempos,
seguindo o protocolo da American Heart Association. Essa medida tinha o
objetivo de possibilitar ao paciente conhecer as sensações provocadas pela
inflação e deflação do manguito(14)e não foi considerada quando da análise dos
dados. A quarta medida foi exatamente igual à terceira, porém seus resultados
foram utilizados para análise. A quinta e última medida também foi como a
terceira, modificando apenas a técnica utilizada com o manômetro de mercúrio,
ou seja, se na terceira e quarta medidas utilizou-se a técnica em um tempo, na
quinta foi utilizada a técnica em dois tempos e vice-versa. As medidas
realizadas com os próximos participantes tiveram sua ordem alternada a partir
da terceira medida.
A medida em um tempo foi realizada obedecendo-se aos seguintes passos: medir a
circunferência do braço do paciente e selecionar manguito de tamanho adequado;
colocar o manguito sem deixar folgas 2 a 3 cm acima da fossa cubital;
centralizar o meio da parte compressiva do manguito sobre a artéria braquial;
palpar o pulso braquial e inflar o manguito até 20 a 30 mmHg acima do ponto
correspondente ao seu desaparecimento (nível estimado da pressão sistólica);
colocar a campânula do estetoscópio sobre o ponto em que se palpou a artéria
braquial, sem realizar compressão excessiva; proceder à deflação lentamente
(velocidade de 2 a 4 mmHg por segundo); determinar a pressão sistólica na
ausculta do primeiro som (fase I de Korotkoff), que é um som fraco seguido de
batidas regulares, e, após, aumentar ligeiramente a velocidade de deflação;
determinar a pressão diastólica no desaparecimento do som (fase V de
Korotkoff); auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar
o seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e completa; se os
batimentos persistirem até o nível zero, determinar a pressão diastólica no
abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e anotar os valores da sistólica/
diastólica(1,3).
Foram utilizados para análise estatística apenas os dados da quarta e quinta
medidas. Para a análise descritiva das variáveis sexo e faixa etária foi
utilizado o Software Excel. Os valores de pressão arterial foram analisados
utilizando teste t pareado e o teste de correlação de Pearson. Foram
considerados significativos valores de p < 0,05. A análise foi feita usando o
Software estatístico Minitab e o programa SPSS para Windows versão 16.0.
O protocolo de pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa local, parecer Nº 547/2009, em consonância com as determinações do
CONEP - Resolução 196/96. A coleta de dados foi iniciada após a autorização do
hospital para realização do estudo.
RESULTADOS
Os dados do presente estudo indicaram que 75% da amostra estudada eram do sexo
feminino e 25% do masculino. Destes 40 indivíduos estudados, a média de idade
foi de 36,3 anos. Os valores de pressão arterial obtidos com as diferentes
técnicas e os diferentes aparelhos estão apresentados na Tabela_1.
Não foi observada diferença estatística significativa (p > 0,05 - teste t
pareado) para os valores de pressão arterial sistólica e diastólica, o que
representa uma similaridade de valores de pressão arterial, obtidos tanto pelos
aparelhos quanto pelas técnicas diferentes.
Os dados obtidos com o aparelho digital demonstram que a pressão arterial se
manteve estável durante a realização de todas as medidas do estudo.
As Figuras_1 e 2 mostram os valores de pressão medidos pelas duas técnicas, com
o manômetro de mercúrio, em cada indivíduo. Neles as duas técnicas foram
nomeadas como tratamento. Para efeito de cálculo, os valores da pressão
arterial foram separados em valor sistólico e diastólico e comparados entre as
duas formas de medição, em um (1T) e em dois tempos (2T). Pode-se perceber que
a distância vertical entre os dois tratamentos para a maioria dos indivíduos
permanece nula, ou próxima a zero, exceto para o indivíduo número 14,
especificamente no que se refere à pressão diastólica (Figura_2).
![](/img/revistas/reben/v65n4/a12fig1.jpg)
[/img/revistas/reben/v65n4/a12fig2.jpg]
A Tabela_2 mostra o coeficiente de correlação (r) encontrado a partir dos
valores de pressão arterial sistólica e diastólica para ambas as técnicas,
assim como o nível de significância do teste de correlação de Pearson (p-
valor).
Foi observado alto grau de correlação entre as técnicas utilizadas (um ou dois
tempos) atingindo significância estatística. Isso reforça a conclusão de que as
mesmas propiciaram a obtenção de valores equivalentes.
DISCUSSÃO
Este trabalho teve como objetivo comparar duas técnicas de mensuração indireta
da pressão arterial, levando em consideração que a técnica em dois tempos é
recomendada por entidades nacionais(1) e internacionais(3) e a técnica em um
tempo é utilizada rotineiramente por profissionais da área da saúde nos
diversos serviços de saúde.
Observa-se na literatura, pelos inúmeros estudos publicados, a grande
preocupação dos pesquisadores em identificar se os profissionais da saúde têm
realizado este procedimento de modo adequado, principalmente pelo fato de estar
diretamente relacionado com a avaliação de um parâmetro vital(4). Um estudo
realizado por Rabelloet. al.(15)avaliou o conhecimento teórico e prático de
auxiliares de enfermagem, médicos e enfermeiros, por meio de 15 questões de
múltipla escolha e pela observação do procedimento da medida da pressão
arterial, e concluiu que o conhecimento de todos os profissionais foi
insatisfatório, característica também evidenciada no trabalho de Almeida(16).
Observa-se que tem sido crescente também o número de estudos preocupados em
descrever os erros mais freqüentes na medida da pressão arterial. Ao avaliarem
as técnicas de medida e os erros cometidos por diferentes profissionais na
medida rotineira da pressão arterial, autores(4-5)evidenciaram que, em todas as
categorias profissionais estudadas, existe a necessidade de melhor desempenho
nessa técnica. Maior atenção deve ser dada às fontes de erro (ambiente,
indivíduo, observador e instrumento), intimamente ligadas aos valores obtidos.
Ressalta-se, por exemplo, que a hipo e a hiperestimação da pressão arterial sao
fenômenos que ocorrem com frequência e que as suas consequências na falta de
diagnóstico e tratamento da hipertensão arterial as tornam um grave problema
(2).
Ao estudarem o conhecimento relacionado à medida da pressão arterial, dois
autores (15-16) observaram um preocupante desconhecimento dos aspectos teóricos
da técnica. Este fato também foi observado por outros autores(2), que
concluíram em seu trabalho que o conhecimento de muitos profissionais sobre a
medida da pressão é deficitário, o procedimento é executado sem bases
científicas e inexistem programas de educação permanente.
Pensando que a adequação das condutas terapêuticas e a validade das inferências
epidemiológicas dependem essencialmente da acurácia dos métodos e procedimentos
de aferição da pressão arterial, a minimização de erros de aferição é crucial
para reduzir a ocorrência de diagnósticos equivocados de hipertensão arterial e
assegurar um tratamento adequado aos pacientes hipertensos.
Por esse motivo, entidades especializadas em cardiologia se reúnem em eventos
mundiais para discutir e estabelecer normas técnicas de mensuração da pressão
arterial, a serem seguidas pelos diferentes profissionais de saúde. As normas,
baseadas em estudos sobre hipertensão e pressão arterial, asseguram uma
fidedignidade dos valores obtidos desde que a mensuração siga todos os passos
pré-estabelecidos.
Apesar disso, sabemos que nem todos os profissionais da área realizam a medida
da pressão arterial conforme o recomendado. Nos diversos serviços de saúde, a
técnica em dois tempos dá lugar à técnica em um tempo, que, por ser realizada
em menos etapas, acelera o processo de mensuração da pressão, mas por outro
lado, pode estar mais sujeita a erros. Caso a técnica em um tempo não inclua a
estimativa palpatória da pressão sistólica, o observador pode, naqueles
pacientes com hiato auscultatório, estar sujeito a não identificar corretamente
durante a ausculta o som correspondente à pressão sistólica, ou então
superestimar a pressão diastólica.
Aponta-se como fonte de erro na medida da pressão arterial os próprios cursos
de graduação, que podem não estar preparando adequadamente os profissionais
para esse procedimento específico(4), propondo, assim, a necessidade urgente de
se desenvolver estratégias de ensino e aprendizagem com este foco, como cursos
de atualização, investindo na educação continuada e inserindo conteúdos
específicos nos cursos de graduação e pós-graduação. Avaliou-se o conhecimento
sobre hipertensão e seu tratamento com a equipe de enfermagem, antes e após
onze intervenções educativas, concluindo-se que as mesmas foram eficazes e que
devem ser implementadas junto à equipe de enfermagem, considerando que elas
podem influenciar no aprimoramento da assistência às pessoas hipertensas(17).
Foi observado que ainda não existem estudos na literatura comparando as duas
técnicas, a fim de avaliar se o uso da técnica não recomendada também é uma
fonte de erro, relacionada principalmente ao observador.
Este estudo mostrou um alto grau de correlação entre as técnicas, tanto para a
pressão sistólica (r = 0,98), quanto para a diastólica (r = 0,92), e um nível
de significância inferior a 0,01, demonstrando que não houve diferenças entre
os valores obtidos por estas duas técnicas, conforme aplicadas nesta pesquisa.
Com os resultados deste estudo podemos concluir que o uso da técnica em um
tempo não contribuiu como fonte de erro na medida da PA para essa amostra
populacional, ou seja, não forneceu dados imprecisos para diagnósticos de
hipertensão e, dessa forma, sua aplicação não privaria os pacientes de um
tratamento adequado, desde que inclua a estimativa palpatória da pressão
sistólica.
Assim, podem-se economizar esforços e recursos que visem capacitar os
profissionais de saúde na execução da técnica em dois tempos, direcionando
esses mesmos esforços e recursos para diminuir a ocorrência dos demais erros
observados. É necessário estimular outros estudos que avaliem a possibilidade
de se recomendar a técnica em um tempo antes que a mesma possa ser adotada com
segurança.
CONCLUSÃO
Concluiu-se com a análise dos dados que a medida indireta da pressão arterial
pela técnica em um tempo, com a inclusão da estimativa palpatória da pressão
sistólica, não difere da técnica recomendada mundialmente, em dois tempos. Além
disso, ambas as técnicas fornecem valores equivalentes aos obtidos pelo
aparelho digital validado. Esse achado faz com que os esforços e os recursos
necessários para a capacitação dos profissionais de saúde na execução da
técnica recomendada sejam reduzidos e estimula estudos que avaliem a
possibilidade de também se recomendar a técnica em um tempo. Entretanto, não é
possível generalizar esses resultados, considerando que foi estudada uma
população específica, sendo necessários mais estudos relacionados ao tema antes
que essa técnica possa ser amplamente recomendada.