Conhecimento de enfermeiros da Estratégia Saúde da Família sobre resíduos dos
serviços de saúde
INTRODUÇÃO
O ser humano busca diariamente a superação de limites e investe constantemente
em pesquisas e aprimoramentos que tem por finalidade a facilitação e a
comodidade do dia-a-dia. Em pró dos avanços tecnológicos, muito foi extraído do
meio ambiente, e nele arremessado inconsequentemente o que já "não serve".
Surgem então diversos problemas ambientais, como a destruição de recursos
naturais, aumento da poluição que se agrava constantemente em decorrência do
crescimento populacional, o que acaba por influenciar a qualidade de vida da
humanidade, sendo uma ameaça aos suportes de vida(1-2).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) conceitua Resíduos Sólidos
como "resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da
comunidade de origem: industrial, doméstica, comercial, agrícola, de serviços e
de varrição"(3).
No Brasil, são gerados diariamente cerca de 230 mil toneladas de resíduos, dos
quais uma quantia considerável não recebe o devido tratamento, terminando em
lixões a céu aberto e resultando em prejuízos a saúde pública decorrentes da
poluição do solo, do ar e das águas. E ainda, de forma indireta servindo de
meio de cultura e proliferação de agentes infecciosos nocivos ao ser humano e
aos demais seres vivos, que em consequência do contato com a contaminação
tornam-se também vetores de patologias(1,4).
"Os Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) têm despertado especial atenção das
autoridades e da população em geral sobre a importância e o significado desses,
como risco potencial para a saúde humana e ambiental". Podem ser conceituados
como "todo o lixo gerado em qualquer serviço prestador de assistência médica,
sanitária ou estabelecimentos congêneres(5-6).
A preocupação com o gerenciamento dos RSS pode ser considerada recente no
contexto hospitalar e serviços afins. Somente na última década, após a
publicação da RDC nº 306/04 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA); e da Resolução nº 358/05 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), este tema passou a ganhar espaço e ainda se encontra em fase de
amadurecimento no país. Ambas as resoluções foram coadunadas entre si para
melhor atender as necessidades dos profissionais envolvidos no manejo dos RSS
(7-8).
"O gerenciamento dos resíduos de saúde tem como objetivo minimizar a produção
dos mesmos e proporcionar um encaminhamento seguro, visando à proteção dos
trabalhadores e a preservação do ambiente"(7).
Todo estabelecimento que se enquadre como gerador de RSS deve elaborar um plano
de gerenciamento, baseando-se nas características dos resíduos a serem
descartados, e nas normas locais referentes à coleta, transporte e disposição
final. De acordo com a RDC nº 306/04, o Plano de Gerenciamento de Resíduos de
Serviços de Saúde (PGRSS) pode ser definido como "o documento que aponta e
descrevem as ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos, observadas suas
características e riscos, no âmbito dos estabelecimentos"(9).
O PGRSS deve orientar os funcionários da instituição quanto às rotinas a serem
adotadas nas várias etapas de manejo dos resíduos e também nas situações de
emergência e acidentes. Definir o fluxo de coleta interna e externa dos RSS, o
encaminhamento para o processo de esterilização ou trituração e organização do
número de coletas necessárias para cada unidade(10).
Quanto ao aspecto de gerenciamento, enfatizamos que "cabe à enfermagem
desenvolver atividades para a manutenção e promoção de saúde, bem como para a
prevenção de doenças, sendo de sua responsabilidade o diagnóstico e a
intervenção de enfermagem"(11). A partir deste preceito, entende-se que
promover a saúde do meio ambiente também é um dever do enfermeiro, a fim de
evitar agravos inerentes ao ser humano.
A estratégia de promoção em saúde visa identificar fatores que comprometam a
saúde da população, que por sua vez variam de acordo com diversidade e
necessidades do ambiente em que vivem. Assim, torna-se possível estabelecer
metas e prioridades adequadas a cada território, a fim de alcance da melhoria
nos níveis da qualidade de vida. Dentre seus princípios norteadores destacam-se
"favorecer a preservação do meio ambiente e a promoção de ambientes mais
seguros e saudáveis" e "prevenir fatores determinantes e/ou condicionantes de
doenças e agravos à saúde"(12).
A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é uma iniciativa governamental que
objetiva reorganizar a prática assistencial, substituindo o modelo tradicional
baseado na cura da doença e na hospitalização, por uma abordagem mais
direcionada ao contexto familiar, sendo a promoção da saúde um dos focos
primordiais da abordagem. Dentre os objetivos específicos, ressalta-se a
intervenção da equipe nos fatores de risco, os quais a população está exposta
(13).
Tendo em vista que os prejuízos provocados ao meio ambiente refletem
diretamente na qualidade de vida dos seres humanos, comprometendo a saúde e o
bem-estar da população, o estudo objetivou analisar o conhecimento das
enfermeiras atuantes na ESF, dos municípios de Araputanga, Mirassol D'Oeste e
São José dos Quatro Marcos, referente à problemática do manejo incorreto dos
RSS, a necessidade de conhecer adequadamente as normas pertinentes, e ainda
quanto à capacitação dos profissionais envolvidos no processo de gerenciamento.
METODOLOGIA
O estudo teve início com a pesquisa bibliográfica sobre os resíduos sólidos, em
especial os gerados em serviços de saúde, sua implicação na sociedade e o papel
da enfermagem no gerenciamento adequado para a proteção e manutenção da saúde
humana e ambiental. A maioria das informações utilizadas foi obtida através de
artigos científicos, que constituem os estudos mais recentes sobre a
problemática em questão. Outra base de suma importância foi a RDC nº 306, de 7
de dezembro de 2004, que regulamenta o gerenciamento de RSS e oferece as
informações necessárias a elaboração do PGRSS.
Realizou-se a aplicação de questionários quantitativos (previamente aprovado
pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Quatro Marcos sob Protocolo nº
1.113/2010), respeitando os princípios éticos exigidos, sendo a participação no
estudo facultativa. O questionário foi composto de cinco perguntas objetivas
direcionadas aos enfermeiros atuantes na ESF dos municípios de Araputanga,
Mirassol D'oeste e São José dos Quatro Marcos, localizados a oeste do Estado de
Mato Grosso. Optou-se pelas referidas cidades devido à proximidade entre as
mesmas e índice populacional, que varia entre 15.000 a 25.000 habitantes.
A população pesquisada foi composta exclusivamente por profissionais do sexo
feminino, selecionadas por atuarem na ESF dos municípios da região em foco. No
município de Araputanga existem duas Unidades de Saúde da Família (USF) e um
Centro de Saúde; aceitaram responder o questionário proposto duas das três
enfermeiras, uma atuante no centro e outra da USF. Em Mirassol D'oeste
totalizam-se três USF e um Centro de Saúde, e participaram da pesquisa todas as
enfermeiras das unidades e uma do centro. Na cidade de São José dos Quatro
Marcos, que possui quatro USF, foram entrevistadas todas as enfermeiras. No
total, participaram da pesquisa dez profissionais.
O questionário avaliou, nas duas perguntas iniciais, o conhecimento do
enfermeiro em relação à RDC nº 306/04, bem como a proposta que o mesmo faz para
o acondicionamento dos resíduos gerados em sua unidade. A terceira e quarta
pergunta investiga o conhecimento do profissional sobre as etapas de manejo e
disposição final. Na quinta e última pergunta, questionou-se a capacitação da
equipe em relação aos RSS. Em relação às respostas, optou-se por limitá-las
entre as alternativas: Sim, não ou desconhece, objetivando facilitar a
construção dos gráficos.
Apesar de conhecer alguns problemas de gerenciamento de resíduos sólidos
existentes na região pesquisada, o estudo mantém o seu foco direcionado à
avaliação da postura do enfermeiro em relação aos "lixos" gerados por sua
unidade. Com base nas respostas obtidas para cada questão, foram construídos
gráficos que facilitam a visualização dos resultados e permitem analisar o
posicionamento predominante entre as profissionais frente às diferentes
questões sobre o gerenciamento dos RSS.
Por tratar-se de um questionário quantitativo, os dados foram analisados
através de softwares estatísticos, os quais propiciam verificações dos dados a
serem analisados. Mediante a diversidade tecnológica, utilizamos o Origin® por
apresentar ferramentas mais completas e, com isso, maior garantia dos
resultados a serem analisados. Ainda, tal recurso apresenta um nível fácil de
manipulação, ou seja, garantia de um excelente trabalho estatístico mesmo para
aqueles que não tiveram contato prévio com o software.
RESULTADOS
A pesquisa foi realizada com bacharéis em Enfermagem, exclusivamente do sexo
feminino, integrantes do quadro de profissionais da Atenção Básica dos
municípios referidos. A faixa etária variou entre 22 e 36 anos. Observou-se
também que 7 das entrevistadas atuam há menos de 3 anos na profissão, e apenas
3 atuam há mais de 5 anos.
O primeiro questionamento investiga o conhecimento do enfermeiro em relação à
resolução mencionada, através da aplicação da seguinte pergunta: "Você tem
pleno conhecimento sobre a RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004, que
regulamenta o gerenciamento dos RSS?" Ressalte-se que o Regulamento Técnico
para o Gerenciamento de RSS deve ser aplicado em todo o território nacional, na
rede pública e privada, e o não cumprimento configura infração sanitária
sujeita as penalidades previstas na Lei nº. 6.437, de 20 de agosto de 1977(9).
Na cidade de Araputanga, as duas profissionais entrevistadas, afirmaram ter
pleno conhecimento sobre a legislação vigente, tendo ambas optado pela
alternativa "sim". Em Mirassol D'Oeste, das quatro enfermeiras entrevistadas,
duas escolheram a opção "sim"; uma profissional optou por "não", alternativa
que refere o conhecimento parcial sobre a regulamentação; e uma "desconhece",
alegando não saber do que se trata a RDC nº. 306/04. Em São José dos Quatro
Marcos, também foram questionadas quatro enfermeiras, sendo que três escolheram
a alternativa "sim" e uma optou por "desconhece". No total, houve a prevalência
da opção "sim", escolhida por sete das dez enfermeiras entrevistadas. Apenas
duas profissionais afirmaram desconhecer a legislação em vigor; e uma, ter um
conhecimento apenas parcial sobre o tema.
A segunda pergunta do questionário propõe ao profissional entrevistado que faça
um diagnóstico da situação atual dos RSS em sua unidade. As respostas obtidas
estão diretamente ligadas ao conhecimento prévio do enfermeiro em relação à RDC
nº 306/04(9), legislação, que é indispensável à correta avaliação situacional.
A pergunta realizada foi: "O acondicionamento dos resíduos gerados em sua
unidade está de acordo com o que preconiza esta Resolução?"
As duas profissionais entrevistadas em Araputanga afirmaram que os RSS gerados
estão dispostos de maneira adequada, ambas optando pela alternativa "sim" do
questionário. Das quatro entrevistadas em Mirassol D'Oeste, duas preferiram a
alternativa "sim"; uma "não"; e uma "desconhece". Em São José dos Quatro
Marcos, apenas uma das enfermeiras entrevistadas avalia como correto o
acondicionamento dos resíduos em sua unidade, respondendo "sim" a questão,
tendo as outras três, escolhido a alternativa "não" da pergunta proposta.
Das dez enfermeiras entrevistadas, cinco declararam como correta a forma de
acondicionamento de resíduos em sua unidade, quatro afirmaram a existência de
um processo inadequado, e uma alegou desconhecer a existência ou não de
irregularidades. A não padronização do acondicionamento dos RSS foi constatada
com tal questionamento o que pode ocasionar graves danos ambientais.
A terceira pergunta do questionário foi: "Você conhece passo a passo as etapas
de manejo e disposição final dos resíduos gerados pela sua unidade?" O
principal objetivo da questão foi avaliar o conhecimento do enfermeiro em
relação às etapas de gerenciamento dos RSS, não somente dentro de sua unidade,
mas em todas as fases do processo que envolve o manejo. Segundo a RDC nº 306/04
"os serviços de saúde são os responsáveis pelo correto gerenciamento de todos
os RSS por eles gerados, atendendo as normas e exigências legais, desde o
momento de sua geração até a sua destinação final"(9).
Na cidade de Araputanga, uma enfermeira optou por "não" e a outra "desconhece".
Em Mirassol D'Oeste, apenas uma das quatro profissionais entrevistadas escolheu
a alternativa "sim"; das demais enfermeiras, uma respondeu "não" e duas
"desconhece". Em relação a São José dos Quatro Marcos, as respostas obtidas
foram idênticas as de Mirassol D'Oeste, visto que se equivale o número de
entrevistadas.
De maneira geral, é nítida a predominância das enfermeiras que não conhecem as
etapas de manejo dos resíduos, sendo um total de oito, entre as dez
entrevistadas. Desta forma, um treinamento envolvendo a temática poderia sanar
tal oscilação entre as respostas.
O quarto questionamento abordado refere-se à avaliação que o enfermeiro fez
sobre o gerenciamento dos resíduos de sua unidade, através da seguinte questão:
"Existe irregularidades durante esse processo?".
Para a identificação da existência de um manejo inapropriado é necessário que a
profissional conheça o gerenciamento realizado, ou mesmo esteja a par das
dificuldades encontradas em seu município em relação à coleta e disposição de
resíduos.
As entrevistadas em Araputanga responderam "desconhece" à referida pergunta. Em
Mirassol D'Oeste, uma enfermeira afirmou a existência de irregularidades
optando pela alternativa "sim"; duas "desconhece"; e apenas uma referiu à
inexistência de falhas no processo. Quanto a São José dos Quatro Marcos,
predominou o número de profissionais que referem o manejo como inadequado,
sendo que três entre as quatro entrevistadas optaram pela alternativa "sim" e
apenas uma por "desconhece".
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Entre as dez entrevistadas, cinco disseram desconhecer a existência ou não de
falhas nas etapas de manejo; quatro apontaram a existência de irregularidades;
e apenas uma disse não existir tal problemática.
Na quinta e última questão abordou-se a iniciativa, seja por parte do município
como também do enfermeiro da unidade, de preparar a equipe envolvida no manejo
de resíduos. De acordo com a RDC nº 306/04, é de competência dos serviços
geradores de RSS "prover a capacitação e o treinamento inicial e de forma
continuada para o pessoal envolvido no gerenciamento de resíduos"(9). O
questionamento foi: "Sua equipe já passou por algum minicurso de capacitação
sobre gerenciamento de Resíduos dos Serviços de Saúde?"
Em Araputanga, uma enfermeira escolheu a alternativa "sim", que indica uma
preparação específica da equipe; e outra "desconhece" a existência de tal
capacitação. Em Mirassol D'Oeste, três entrevistadas assinalaram "não", que
refere a inexistência de qualquer preparação dos recursos humanos envolvidos; e
uma "desconhece". Em São José dos Quatro Marcos, todas as enfermeiras
entrevistadas optaram pela alternativa "não".
Nos índices gerais, um total de sete profissionais negaram a capacitação da
equipe em relação ao gerenciamento, duas desconhecem a existência ou não deste
tipo de treinamento, e apenas uma referiu a capacitação equipe.
DISCUSSÃO
Segundo as diretrizes preconizadas pela Política Nacional de Atenção Básica
(2006), para a implantação das equipes de Saúde da Família, faz-se necessária a
"existência de equipe multiprofissional responsável por no máximo 4.000
habitantes, sendo a média recomendada de 3.000 habitantes, com jornada de
trabalho de 40 horas semanais para todos os seus integrantes e composta por no
mínimo, médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem e
Agentes Comunitários de Saúde"(14).
De acordo com os resultados da última pesquisa do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), realizada no ano de 2010, a população do total
do município de Araputanga é de 15.342 pessoas; em Mirassol D'Oeste, 25.299; e
São José dos Quatro Marcos, 18.998(15). Nestes municípios foram encontrados um
total de nove USFs e dois centros de saúde, apresentando grande fluxo de
pacientes.
Observa-se que nas cidades mencionadas apenas uma equipe atua em cada unidade,
e até mesmo nos centros de saúde só foi possível encontrar uma enfermeira em
cada estabelecimento, o que torna o número de profissionais inferior ao
recomendado pela Política Nacional de Atenção Básica. Das três enfermeiras
encontradas na cidade de Araputanga, apenas duas se disponibilizaram a
responder o questionário. Nos demais municípios todas as profissionais
localizadas na data da pesquisa aceitaram colaborar com o estudo.
Ao avaliar os resultados obtidos em relação à questão 1, que investiga o
conhecimento sobre a legislação vigente, observou-se que Araputanga obteve o
melhor aproveitamento, já que todas as profissionais afirmaram ter um bom
conhecimento sobre a RDC nº. 306/04; seguido de São José dos Quatro Marcos,
onde três das quatro entrevistadas disseram conhecer plenamente a legislação;
em Mirassol D'Oeste, duas das quatro entrevistadas alegaram saber ao certo do
que se trata esta regulamentação. Entretanto, é importante considerar que a
quantidade de enfermeiras que participaram do estudo na cidade de Araputanga é
inferior em relação aos demais municípios.
O índice total alcançado é satisfatório, visto que a maioria das entrevistadas
reconhece a existência da legislação.
Conhecer as normas vigentes torna o enfermeiro apto a avaliar as condições de
trabalho em que exerce suas funções, podendo assim treinar sua equipe e alertá-
los sobre a necessidade da disposição correta dos RSS. "As atividades
realizadas nos serviços de saúde produzem uma quantidade considerável de
resíduos. Portanto os profissionais que atuam nestes estabelecimentos tornam-se
diretamente responsáveis pelos mesmos"(16).
"O destino adequado dos resíduos, através de ações básicas, protege o meio
ambiente e a sociedade". Quando dispostos inadequadamente provocam a
contaminação do solo, do ar e das águas, além de contribuir para proliferação
de doenças, tornando-se assim um problema de saúde pública(16).
Na questão 2, que refere-se a avaliação do acondicionamento realizado na
unidade, foi possível constatar que em Araputanga o acondicionamento é
satisfatório, visto que todas as entrevistadas o definiram como adequado; em
Mirassol D'Oeste, das quatro unidades em questão, a metade foi bem avaliada
pela enfermeira responsável, em relação ao acondicionamento de resíduos;
contudo em São José dos Quatro Marcos, três das quatro entrevistadas apontaram
como irregular a disposição de resíduos dentro de sua unidade.
Após comparar os gráficos_1 e 2, construídos com base nas respostas obtidas,
nas cidades mencionadas, observou-se a semelhança nos índices alcançados por
Araputanga e Mirassol D'Oeste, já que em ambas as cidades as respostas dadas a
questão 1 foram idênticas para questão 2. Em São José dos Quatro Marcos os
índices se diferem, resultando em uma alteração significativa entre os gráficos
comparados, provocada pela prevalência na escolha da alternativa "não". Apesar
de duas profissionais desconhecerem a legislação, nove entrevistadas
conseguiram diagnosticar a atual situação de acondicionamento dos resíduos.
Resultado que pode ser considerado satisfatório, visto que prevalece o número
de enfermeiras que tem um posicionamento frente à situação de sua unidade.
A etapa de acondicionamento dos resíduos é parte indispensável em um plano de
manejo de RSS. Diretamente ligada à segregação, possibilita a prevenção de
contato com os seres vivos e o meio ambiente facilitando uma destinação
adequada. Segregar e acondicionar de forma incorreta provoca a contaminação de
produtos poderiam ser reciclados e aumenta-se o volume de resíduos contaminados
desnecessariamente(17).
Para a questão 3, referente ao conhecimento sobre as etapas de manejo e
disposição final dos RSS gerados nas unidades, faz-se importante avaliar o
significado das alternativas propostas. Ao optar pela alternativa "sim",
entendeu-se que a profissional em questão tem pleno conhecimento sobre o manejo
dos resíduos desde a geração até a disposição final. As opções "não" e
"desconhece" foram considerados equivalentes, visto que ambas afirmam o
desconhecimento em relação às fases de gerenciamento.
Quando considerado o desempenho individual de cada município, observou-se que
em Araputanga nenhuma enfermeira afirmou conhecer as etapas de gerenciamento em
todas as fases. Em Mirassol D'Oeste e São José dos Quatro Marcos apenas uma
profissional em cada município referiu estar a par do processo que envolve
desde a geração até a disposição final.
O resultado obtido é insatisfatório, pois predomina o número de entrevistadas
que não conhecem precisamente as etapas pelas quais são submetidos os resíduos
de sua unidade, sendo oito entre as 10 entrevistadas, fato esse preocupante,
pois, tal questionamento torna-se primordial no direcionamento final dos RSS.
Tendo em vista que os enfermeiros tem como parte de suas responsabilidades
promoverem a saúde da população, faz-se necessário ressaltar novamente a
importância de sua preocupação com o gerenciamento de resíduos. Sua formação
lhe torna apto a fazer intervenções e coordenar o PGRSS, bem como identificar
situações problemáticas e propor medidas alternativas(18).
Sobre a questão 4, que investiga o conhecimento sobre a existência ou não de
irregularidades no manejo de RSS, foi possível constatar que, no município de
Araputanga, por não conhecerem a fundo como funciona o PGRSS adotado, as
enfermeiras preferiram não manifestar uma avaliação sobre o mesmo. Em Mirassol
D'Oeste, uma enfermeira nega irregularidades, uma disse existir e as demais se
mantiveram neutras. Na cidade de São José dos Quatro Marcos, apesar da maioria
das enfermeiras desconhecerem como funciona o processo, apenas uma preferiu não
avaliá-lo, sendo que as demais afirmaram que o mesmo é irregular.
Apesar do questionamento anterior, oito das entrevistadas afirmarem desconhecer
o referido processo, no presente, cinco assumiram um posicionamento, e as
demais desconhecem. Quatro das profissionais apontam como irregular, sendo três
destas, atuantes no município de São José dos Quatro Marcos. Apenas uma
entrevistada considera os procedimentos adequados no município de Mirassol
D'Oeste.
Os referidos dados regionais coadunam com a Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico (PNSB 2000), do IBGE, ou seja, na esfera nacional, apenas 63% dos 5.507
municípios pesquisados, realizam coleta dos RSS. Com relação à destinação
final, cerca de 56% dos municípios dispõem seus RSS no solo, sendo que 30%
deste total correspondem aos lixões. No que se refere às formas de tratamento,
ocorre predomínio da queima a céu aberto (cerca de 20%), seguida da incineração
(11%). As tecnologias de micro-ondas e autoclave para desinfecção dos RSS são
adotadas somente por 0,8% dos municípios. Cerca de 22% dos municípios não
tratam de forma alguma seus RSS (19). Desta forma, o destino final dos RSS não
é somente um problema dos governos municipais ou estaduais, mas sim uma
preocupação do governo federal.
Em relação à questão 5, que trata da capacitação da equipe envolvida no manejo
de RSS, somente no município de Araputanga afirmou-se a preparação de uma das
equipes envolvidas no manuseio de RSS, sendo que nos demais municípios a
capacitação, ou não existe, ou é desconhecida.
De acordo com os índices, tal resultado é insatisfatório visto que a equipe
envolvida nas etapas de manejo deve ser capacitada.
A ANVISA disponibiliza manuais que oferecem aos profissionais informações
referentes ao gerenciamento de resíduos, inclusive sobre a implantação do
PGRSS. Este promove em seu conteúdo a importância da preparação da equipe
envolvida no manejo(19).
Para o sucesso do plano é preciso mobilizar toda organização, objetivando
sensibilizar os funcionários quanto ao processo. Deverão ser promovidas
reuniões com os vários setores para apresentar a ideia, o possível esquema de
trabalho e o que é esperado de cada unidade. Realizar campanhas de
sensibilização sobre a temática, além da aplicação de questionários, entre
outras atividades que vislumbrem informar e avaliar os resultados obtidos pela
equipe(19).
CONCLUSÃO
Nos municípios de Araputanga, Mirassol do D'oeste e São José dos Quatro Marcos
somam-se nove USF e três centros de saúde, local que serve de apoio as demais
unidades, distribuindo medicamentos, vacinas, fazendo campanhas, entre outras
atividades. Nos dois primeiros municípios citados, nos quais o número de USF é
igual ou inferior a três, este centro também é destinado ao atendimento de
pacientes. Apesar deste tipo de assistência também ser prestada na unidade
central de São José dos Quatro Marcos, observou-se um fluxo menor de pessoas em
relação aos demais municípios. Visando completar um total de pelo menos dez
entrevistadas, duas enfermeiras atuantes nos centros, sendo uma em Mirassol
D'oeste e uma em Araputanga, onde há um maior fluxo de atendimentos, também
participaram da coleta dos dados.
Através do estudo realizado foi possível comprovar que nove das dez
entrevistadas souberam diagnosticar a situação na qual se encontram os resíduos
dentro de sua unidade. Os enfermeiros atuantes nos PSFs devem estar aptos a
identificar situações irregulares em seu ambiente de trabalho, solicitar e
cobrar melhorias para sua unidade, a fim de aperfeiçoar a assistência, da qual
o maior beneficiário é o paciente.
Apontar ou não a existência de irregularidades no gerenciamento é uma atitude
vista com cautela por parte das enfermeiras, já que a maioria preferiu manter-
se neutra quando questionada a este respeito. Este fato também se explica pelo
desconhecimento sobre como são realizadas as etapas. Em apenas um dos
municípios, as profissionais que alegaram desconhecer o processo de manejo,
optaram por referir falhas no gerenciamento de RSS.
Desta forma conclui-se que o tema "resíduos sólidos" pode ser considerado uma
preocupação recente na região estudada. Através das respostas obtidas percebeu-
se que as enfermeiras avaliadas possuem um conhecimento básico sobre os RSS
gerados em seu ambiente de trabalho.
A Enfermagem deve se informar sobre a legislação adotada pela ANVISA referente
ao gerenciamento de resíduos, visto que os profissionais da área estão
diretamente envolvidos na produção de "lixo" com um potencial poder patogênico.
Zelar pela segurança da população deve ser a prioridade para os serviços e
buscar as mudanças necessárias a promoção da saúde humana deve fazer parte da
rotina de cada profissional.
Com os crescentes prejuízos ambientais provocados pelo acúmulo de resíduos
sólidos por parte da população, faz-se necessário a implantação de projetos de
conscientização, na tentativa de amenizar as consequências trazidas pela
produção excessiva e desnecessária de "lixo", além de informar os cidadãos
sobre os perigos de se manusear materiais descartados, devido o risco de
contato com parasitas e outros vetores de patologias.
Também se torna de total importância reafirmar a necessidade da capacitação dos
recursos humanos envolvidos no gerenciamento de RSS, hábito pouco comum na
região dos municípios participantes da pesquisa. Por se tratarem de resíduos
potencialmente patogênicos, trazem risco a saúde humana, e a falta de
orientação pode contribuir para a ocorrência de acidentes ocupacionais. O uso
de Equipamentos de Proteção Individual deve ser um hábito para os profissionais
ligados a qualquer etapa do gerenciamento de resíduos.
Como atitude inicial recomenda-se a estabelecer como parte da rotina a busca
por conhecimento a respeito, não somente sobre os RSS, mas toda questão
ambiental envolvida, como poluição de rios, proliferação de doenças, entre
outros prejuízos; conhecer a legislação que regulamenta o manejo dos resíduos
sólidos e as diretrizes preconizadas; e ainda, informar-se sobre o PGRSS
adotado pelo município. Quando oportuno, o enfermeiro deve propor mudanças e
alertar os gestores municipais quanto aos perigos de um gerenciamento mal
realizado. Conscientizar a comunidade é uma prática que está ao alcance de
todos os profissionais atuantes no PSF, e deve ser realizada a fim de trazer
benefícios para a população em geral.