Intercâmbio acadêmico cultural internacional: uma experiência de crescimento
pessoal e científico
INTRODUÇÃO
Um conceito simples aproxima a palavra intercâmbio de troca, permuta. Num
sentido amplo, o intercâmbio pode ser entendido como forma de trocar
informações, crenças, culturas, conhecimentos. Nesse sentido, a experiência de
viver em outro país proporciona conhecer hábitos diferentes e específicos, abre
novas perspectivas, auxilia na superação de dificuldades, pois o intercambista
precisa se adaptar ao ambiente, enfrentar desafios e crescer(1)sobretudo na
perspectiva de fortalecimento emocional, haja vista que a distância dos laços
afetivos de origem propicia a vulnerabilidade no processo de tomada de decisões
da vida pessoal e profissional.
Os programas de intercâmbio buscam promover a consolidação, expansão e
internacionalização da ciência e da inovação técnico-científica. É uma
oportunidade de conhecer novas culturas, sistemas políticos e organizações
sociais, aprender, aprimorar e/ou conhecer as variantes linguísticas de um novo
idioma. Entre as inúmeras metas destes programas destaca-se a necessidade de
investir na formação de pessoal altamente qualificado nas competências e
habilidades necessárias para o avanço da sociedade do conhecimento; aumentar a
presença de pesquisadores e estudantes de vários níveis em instituições de
excelência no exterior e promover a inserção internacional das instituições
brasileiras pela abertura de oportunidades semelhantes para cientistas e
estudantes estrangeiros(2).
Nessa perspectiva, experiências desse tipo são extremamente relevantes já que
agregam valores ao crescimento profissional e pessoal. Contudo é necessário
estar preparado, pois a iniciativa requer muita paciência, abnegação e
capacidade de contornar os imprevistos, a distância de familiares e amigos; as
variantes culturais, de clima, de hábitos e de valores. O intercâmbio acadêmico
permite proveito e vantagens que vão além do aprendizado, mas também no
desenvolvimento psicológico, autoconfiança, amadurecimento, independência,
capacidade de relacionar-se e, sentir-se 'um cidadão do mundo'(3).
No âmbito da mobilidade internacional, cada vez mais os órgãos de fomento do
Ministério da Educação (MEC) e as Instituições de Ensino Superior (IES) vêm
aumentando os incentivos por meio de convênios acadêmicos e bolsas de estudos.
Assim, a intensificação de atividades, no exterior, de estudantes durante a
graduação e pós-graduação, principalmente após a efetivação do programa Ciência
sem Fronteiras, constitui uma metodologia inovadora no ensino, e ao mesmo
tempo, transpõe questões complexas como a qualidade, eficiência, prestação de
contas e competição, as quais o estudante de nível superior deve agregar e
estar preparado para enfrentar na futura vida profissional(4).
Diante do exposto, o objetivo deste relato é descrever a experiência discente
durante mobilidade internacional acadêmica e cultural em um programa de
intercâmbio entre Brasil e Portugal. Ressaltam-se as atividades realizadas,
vivências pessoais, contatos científicos e atividades desenvolvidas no período
de realização deste intercâmbio, o que justifica o estudo.
RELATO DA EXPERIÊNCIA
Trata-se de um relato de experiência discente durante mobilidade acadêmica
internacional em Portugal, viabilizado por meio da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM). O intercâmbio foi realizado na modalidade de graduação,
através do Programa Acordo Bilateral entre a UFSM/Brasil e a Universidade do
Algarve (UAlg)/Portugal, acordo este selado no ano de 2011 entre estas duas
IES. O subsídio deste programa prevê a isenção das taxas acadêmicas no espaço
europeu, sem a contemplação de bolsa auxílio para despesas de moradia,
transporte e alimentação(5).
O intercâmbio começou a ser pensado após contatar e conhecer verbalmente as
experiências de estudantes que já haviam passado por este mundo de
oportunidades, percebendo-se o quanto uma mobilidade internacional capacita os
acadêmicos para a vida pessoal, social e profissional. Empreendeu-se, então, à
escolha do país, analisando os programas com disponibilidade de vagas para a
enfermagem, processos seletivos, documentos.
Após processo interno de seleção, a relação dos estudantes contemplados foi
enviada ao Gabinete de Relações Internacionais e Mobilidade (GRIM) da UAlg, que
no âmbito da internacionalização de discentes e docentes, aceita os estudantes
estrangeiros desde que cumpram a matrícula nas disciplinas, com inscrição em no
mínimo 30 créditos por semestre. Este órgão também se preocupa com a recepção,
trâmites burocráticos e de residência, acolhimento, orientações e oferta de
vagas na residência universitária, aos estudantes de outros países. Ademais, a
escolha por esta universidade portuguesa condiz à qualidade dos seus cursos,
professores, instalações, área geográfica e cidade(6). Finalmente, o parecer
positivo vindo da UAlg, Portugal, foi considerado uma oportunidade
enriquecedora de trocas que favorecem a integração, inclusive transcultural.
Realizado num período de seis meses, de fevereiro a julho de 2012, a mobilidade
configurou-se em vivências teóricas e práticas, contatos científicos e
atividades desenvolvidas em Portugal as quais permitiram trocas no processo
ensino-aprendizagem, além de experiências vinculadas a traços sócio-históricos
e culturais que se expressam nos modos de cuidar e acolher.
A princípio, adentrar este país e universidade gerou muitas expectativas, ainda
suscitou muitas dúvidas, principalmente pelo fato de não estar praticando um
novo idioma. Contudo, após ter vivido essa experiência, ficou a convicção de
que não poderia ter escolhido lugar melhor, pela imensa admiração, carinho e
amizades recebidas e pela qualidade do ensino que me foi destinada.
Aproximações do contexto sociocultural e curricular do curso de Enfermagem da
Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve
O intercâmbio foi uma experiência singular, principalmente pelo acolhimento,
admiração, qualidade de ensino, culturas, histórias e lugares magníficos para
ampliar conhecimentos e interações transculturais da academia, mobilidade esta
que, infelizmente, a mídia televisiva pouco divulga, carecendo de maior
publicidade acerca das experiências extramuros da academia, oportunizadas por
essa importante e inovadora estratégia do ensino superior. De modo
enriquecedor, o intercâmbio permitiu ampliar a visão do diferenciado ambiente
sociocultural em que estão inseridas as políticas de saúde e de educação
superior do país.
Nesse aspecto, convém destacar que Portugal possui clima mediterrâneo, belas
praias, espaços naturais, monumentos históricos e patrimônios internacionais. O
país divide-se em cinco regiões: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo
e Algarve. Junta-se ainda, mais duas regiões autônomas constituídas
respectivamente pelos arquipélagos atlânticos de Açores e Madeira, cada uma com
características físicas, estruturais, climáticas e pessoais distintas. O
Algarve, onde se localiza a universidade de intercâmbio, constitui a região
turística mais importante do país e uma das mais importantes da Europa; situada
ao sul do país, é a terceira região mais rica de Portugal, com um PIB per
capita de 86% da média europeia, sendo Faro, a capital desta região portuguesa.
Além disso, entre as mais antigas cidades portuguesas contam-se Lisboa, Porto,
Viseu, Braga, Coimbra, Évora, Guarda, Lamego, Silves, Faro, Lagos e Tavira com
origens pré-portucalenses e detentoras de uma história urbana, fosse romana ou
árabe, ou ambas.
Inserida nesse contexto sociocultural, a UAlg consiste numa instituição pública
de ensino superior que conta com um corpo docente de 820 professores para mais
de 10 mil estudantes. Constitui-se de quatro campi: campus de Gambelas (Faro),
campus da Penha (Faro), campus da Saúde (Faro) e campus de Portimão (Portimão).
Atualmente, conta com grande infraestrutura a nível nacional e internacional,
incentivando fortemente a investigação científica(7).
O curso de Licenciatura em Enfermagem, oferecido pela Escola Superior de Saúde
da Universidade do Algarve (ESSU-Alg), visa à formação científica, técnica,
humana e cultural do futuro enfermeiro, habilitando-o para a prestação de
cuidados em enfermagem, nos diferentes níveis de prevenção, bem como para a
participação na gestão de organizações de saúde, unidades ou serviços, para a
participação na formação de enfermeiros e outros profissionais de saúde.
Acrescentando-se a estas funções, ressalta-se também o compromisso com o
desenvolvimento e participação em projetos e programas que fortalecem o
desenvolvimento da profissão. Além disso, a escola capacita enfermeiros para o
trabalho no setor público e privado: em hospitais, centros de saúde, clínicas,
no ensino e na investigação(7).
O curso possui uma estrutura curricular com formação em quatro anos, com
disciplinas que consistem unidades curriculares de ensino teórico e teórico-
práticas além de ensino clínico. O currículo prevê, ao longo da formação, os
ensinos clínicos específicos a partir do segundo período, nas áreas médica,
cirúrgica, saúde materna e obstetrícia, saúde infantil e pediatria, saúde
mental e psiquiatria, saúde comunitária, finalizando com o ensino clínico de
integração à vida profissional no oitavo período, que inclui a elaboração de
trabalho de fim de curso em articulação teoria/prática.
Em termos de disciplinas oferecidas, não há grandes divergências entre a
Enfermagem no Brasil e em Portugal. Entretanto, é coerente destacar que, no
país lusitano, os acadêmicos de enfermagem realizam as suas atividades no campo
prático, sob supervisão direta de um enfermeiro integrante da equipe de
determinada unidade, embora sob responsabilidade docente.
Isso se deve à estrutura de ensino clínico preconizada nas diretrizes de
formação europeia referente ao reconhecimento das qualificações profissionais,
que institui o ensino clínico como a vertente da formação em enfermagem por
meio da qual o acadêmico "aprende, no seio de uma equipe e em contato direto
com um indivíduo em bom estado de saúde ou doente e/ou uma coletividade, a
planejar, dispensar e avaliar os cuidados de enfermagem globais requeridos, com
base nos conhecimentos e competências adquiridas"(8:41); aprende não só a
trabalhar em equipe, mas também a dirigir uma equipe e a organizar os cuidados
de enfermagem, incluindo a educação para a saúde destinada a indivíduos e a
grupos da instituição de saúde ou da coletividade(8).
Ao analisar essa estrutura de ensino vivenciada, pode-se ressaltar alguns
benefícios para a formação, ao permitir que o acadêmico desenvolva a autonomia
profissional, o olhar globalizado e o senso do trabalho em equipe mais
rapidamente, por serem as exigências de tal forma maiores, pelo fato de cada
aluno ter um enfermeiro em exclusivo. Por outro lado, sabe-se que o maior
déficit desta metodologia de ensino, diz respeito às características
deficitárias nas formas subjetivas e individualizadas de avaliação de cada
enfermeiro, sendo uns mais árduos e outros mais flexíveis, o que acaba por
beneficiar/prejudicar os estudantes.
Contudo, o desenvolvimento da aprendizagem é também supervisionado/acompanhado
pelo professor da Escola, mediante a observação do desempenho acadêmico e
reuniões de trabalho com os envolvidos no processo ensino-aprendizagem: o
estudante, o enfermeiro orientador da prática e o professor, a quem compete a
responsabilidade da avaliação final do aluno.
Assim, no âmbito do intercâmbio, foi interessante vivenciar as articulações
socioculturais nas práticas educacionais de formação do enfermeiro. Nesse
sentido, corrobora-se a premissa de que, cultura, saúde e enfermagem são
instâncias profundamente imbricadas, e não há como se falar de enfermagem se
não considerarmos a cultura e as políticas de saúde, assim como fazer
enfermagem é fazer-se dentro do contexto da saúde e da cultura(9).
Pensar, conhecer e viver um intercâmbio: transcendendo a formação tradicional
No âmbito da mobilidade internacional destacam-se três níveis de experiência
que permitem dizer que valeu a pena ter desfrutado desta atividade: a vivência
teórica e prática da enfermagem no exterior; a integração em grupos de
pesquisa; e a participação em congressos científicos. Em especial, a vivência
teórica e prática da enfermagem portuguesa possibilitou conhecer semelhanças e
diferenças desta área da saúde, entre o Brasil e Portugal, pois apesar da
similaridade linguística, são nações de grande diferença na organização e
distribuição dos programas e políticas de saúde.
Para enriquecer os conhecimentos e a prática, o curso de Enfermagem da ESSUAlg
disponibilizou a realização de estágios curriculares, com duração de 35 horas
semanais por um período de seis meses. Os campos práticos foram: o Hospital de
Faro, nos setores de saúde mental e psiquiatria, urgência de pediatria e o
serviço de obstetrícia; a Unidade de Saúde Familiar (USF) Ria Formosa, no
acompanhamento e vigilância pré-natal e pós-natal; e o Centro de Saúde de Faro,
onde o trabalho centralizou-se na concretização de objetivos delineados pela
escola e nas perspectivas das diretrizes do Programa Nacional de Saúde Escolar
da Direção Geral da Saúde de 2006.
Durante estes ensinos clínicos, foi oportuno observar o modo de cuidar dos
profissionais destes locais e aprender a trabalhar em equipe, sempre focando na
educação e na prevenção em saúde. Além disso, foi possível conhecer e manipular
equipamentos tecnológicos de ponta, os quais no Brasil, só existem nos
hospitais de grande porte e alta complexidade de algumas capitais. Sabe-se que,
no enfoque teórico-prático, as experiências do intercâmbio construídas em
situações reais, muito contribuem para o fortalecimento da relação com o mundo
da vida(10). Desta forma, pôde-se perceber na experiência do intercâmbio, duas
dimensões: uma dimensão de conhecimento e uma dimensão que é da ordem do
experimentado, da implicação psicológica do sujeito.
Assim, por ocasião do aprendizado nas práticas de enfermagem do intercâmbio,
foi possível integrar este tipo de estágio em Portugal e salienta-se que foi
uma oportunidade de aprender, pesquisar, conviver e fazer no cuidado em
enfermagem.
Também, no processo de agregação de conhecimentos através da mobilidade, é
importante destacar as visitas técnicas, em grupo, realizadas na Escola
Superior de Enfermagem de Coimbra e na Escola Superior de Enfermagem do Porto.
Tais eventos permitiram desfrutar um mundo de histórias, acontecimento e
organizações antigas. Exemplo disto cita-se a Biblioteca Joanina da
Universidade de Coimbra, localizada na cidade de Coimbra, em Portugal, a qual é
uma das universidades mais antigas ainda em funcionamento na Europa e no mundo
e a mais antiga de Portugal(11). Assim, integrar mesmo como expectador, esta
cultura, é motivador, uma experiência pós-moderna dentro de um mundo típico
medieval, que possibilita enxergar de forma diferente a história. Tais
perspectivas corroboram que a experiência internacional vem se apresentando
como componente importante para a análise dos sistemas nacionais de educação,
as estratégias familiares de diferenciação no mercado de diplomas e a formação
de setores profissionais(12).
Ainda, foi possível participar em atividades de educação em saúde junto à
comunidade escolar, desenvolvendo oficinas sobre o hábito de fumar, suas
consequências para a saúde, perspectivas e desafios, além de atividades de
integração e estímulo ao convício social e familiar junto aos deficientes e
doentes mentais no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital de
Faro. Desenvolveram-se estes grupos por ocasião dos ensinos clínicos, que
possibilitavam facultativamente aos estudantes a organização e desenvolvimento
destas atividades. Por opção, decidi tornar os espaços de funções técnicas de
enfermagem, lugares de discussões sobre temáticas relevantes aos sujeitos neles
inseridos e, tais grupos foram vistos de forma positiva pelos pacientes,
professores e enfermeiros supervisores.
Reforça-se a premissa de que, ao utilizar-se lugares de contato com pessoas,
pode-se estimular a educação em saúde integral, incluindo políticas públicas,
ambientes apropriados, além dos tratamentos médicos e curativos, comprometidas
com o desenvolvimento da solidariedade e da cidadania, envolvidas na melhoria
da qualidade de vida e na promoção da saúde(13).
Pesquisas no exterior: fortalecimento da iniciação e inovação científica
As atividades de produção de conhecimentos através de pesquisas vêm sendo
desenvolvidas por grupos de pesquisadores titulados ou em formação, organizados
sob a forma de Grupos de Pesquisa(14). Os grupos de pesquisa representam hoje,
a produção de conhecimentos e formação de recursos humanos em pesquisa.
No Brasil, houve um crescimento significativo dos grupos de pesquisa da área da
Enfermagem com o incremento da produção, qualificação dos integrantes, bem como
o fortalecimento das bases de investigação e a maior visibilidade e
reconhecimento da inovação da Enfermagem(14). Nesta dimensão, cada vez mais o
mundo acadêmico é balizado pelas atividades em investigação científica e
publicação dos resultados. Logo, pesquisar no exterior é de extrema importância
para a construção curricular, proporciona a relação com novos métodos de coleta
e análise de dados, de estruturação de projetos e contato com comitês éticos e
científicos locais.
Na presente mobilidade foi possível participar ativamente de uma pesquisa, na
supervisão de uma docente da ESSUAlg, que buscou identificar o grau de
satisfação das usuárias nas várias fases da gravidez acompanhada em uma Unidade
de Saúde Familiar (USF) da região do Algarve em Portugal. Tal investigação
tratou-se de um estudo de caráter exploratório-descritivo, com abordagem quali-
quantitativa. Os dados foram coletados totalizando 25 sujeitos, mediante a
aplicação de um questionário com perguntas abertas e fechadas, anteriormente
aplicado e adaptado pelo Centro de Estudo e Investigação em Saúde da
Universidade de Coimbra para avaliar a satisfação dos usuários em relação às
Unidades de Saúde Familiares. Para a análise das informações quantitativas
utilizou-se estatística descritiva, o Software SPSS 15.0 e o Excel e os dados
qualitativos foram analisadas à luz da Análise de Conteúdo de Bardin. Os
resultados mostraram que 68% das usuárias eram de nacionalidade portuguesa, 56%
tiveram como motivo de vinda à USF, as consultas de vigilância da gravidez.
Todas as mulheres mostraram-se muito ou bastante satisfeitas e os aspectos
menos positivos identificados foram o tempo de espera pelas consultas, a
dificuldade de contatar a USF pelo telefone e interpretar algumas informações
técnicas. Ademais, os resultados deste estudo apontaram que, no campo da saúde,
as tecnologias leves ganham dimensão no cuidado.
As etapas investigativas, de leitura, estruturação, aprovação, coleta, análise
e apresentação dos resultados aos profissionais da equipe multidisciplinar,
assim como, a sua apresentação e discussão, no II Encontro de Saúde Materna e
Infantil desenvolvido na Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve,
foram momentos importantes do intercâmbio, porque permitiu conhecer
referenciais teóricos específicos da Europa e aprender a persistir nos
objetivos estabelecidos, pois o trâmite burocrático para a participação de
discentes em trabalhos de investigação na UAlg como em todo o espaço europeu, é
bastante árduo. Contudo, graças à empatia da docente orientadora da pesquisa,
isso foi possível durante este intercâmbio e representou um ganho significativo
no desenvolvimento de habilidades em pesquisa, o que é fundamental na
construção da formação acadêmica do século XXI.
Nesse sentido, torna-se fundamental destacar que, no percurso competitivo do
mercado, associado às estratégias de construção de fronteiras entre as classes
sociais, grupos e categorias, produz um deslocamento na definição de
competências e habilidades que possam representar um ganho nas trajetórias
pessoais, escolares e profissionais(12). Em vista disso, todo tipo de atividade
de desenvolvimento científico é relevante para fortalecer o conhecimento, mas
também, para assegurar uma ascensão positiva no mercado de trabalho.
Socialização científica e aproximação teórica: novos saberes nos eventos em
Portugal
Além de todas as experiências citadas, aproveitar o intercâmbio para divulgar
as pesquisas produzidas na universidade de origem, torna-se uma oportunidade
grandiosa para mostrar a cultura, os problemas de maior evidência e as
políticas e ações desenvolvidas na perspectiva do trinômio: universidade,
comunidade e serviços de saúde no Brasil.
Considera-se que a participação e apresentação de trabalhos em congressos,
simpósios ou em outros encontros científicos é importante, por ser uma
oportunidade de ouvir críticas, sugestões e aperfeiçoar o trabalho, antes de
publicá-lo(15).
Ainda, a participação em eventos científicos em Portugal, permitiu conhecer
grandes estudiosos e escritores nacionais e internacionais, o que favoreceu a
aproximação discente especialmente ao referencial teórico das Representações
Sociais. Isso foi possível por ocasião da 11ª Conferência Internacional de
Representações Sociais, realizada na cidade de Évora, oportunizando ampliar
conhecimentos científicos e filosóficos e trocar palavras com os ilustres
teóricos Serge Moscovici e Denise Jodelet, fundadores da Teoria das
Representações Sociais.
Também, foi nesta conferência que se estabeleceram interações acadêmicas com as
professoras coautoras, docentes da Universidade Federal Fluminense, Rio de
Janeiro, Brasil, e a partir deste contato de intercâmbio motivaram e orientaram
o presente relato para divulgação científica, com vistas à expor os inúmeros
fatores positivos e o impacto cultural que este tipo de atividade propicia ao
aprendizado acadêmico.
Diante de uma experiência tão construtiva, pessoal e profissionalmente,
vislumbra-se a integração também em outros programas de mobilidade em nível de
pós-graduação, e ampliar novas trocas de conhecimentos e fortalecer a
internacionalização do ensino e da pesquisa brasileira.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O intercâmbio acadêmico e cultural realizado no espaço geográfico de um país
ibérico caracterizou-se como uma oportunidade de aperfeiçoamento pessoal,
profissional e teórico-científico durante a graduação. Para além do acréscimo
de conhecimentos e vivências na enfermagem, foi um momento de construção da
personalidade, de aquisição de valores sociais e culturais, de contato com
pessoas diferentes dos laços afetivos comuns e de desenvolvimento de
habilidades didáticas, pedagógicas e interpessoais.
Além disso, a vivência de novos horizontes, novas teorias e novas formas de se
fazer enfermeiro e integrar uma equipe multiprofissional, constituem ganhos em
longo prazo, agregando fatores que certamente, estimularão pequenas e
constantes mudanças nas práticas diárias em saúde. Como contribuições e
implicações para a enfermagem e saúde, esta produção possibilita a integração
de outros programas de mobilidade, a fim de permutar conhecimentos e fortalecer
a internacionalização do ensino e da pesquisa brasileira.
Espera-se, assim, contribuir no sentido de maior incentivo e agregação desta
modalidade de ensino durante os cursos de graduação, com vistas a aperfeiçoar a
formação acadêmica para além das disciplinas e estágios internos aos currículos
pedagógicos das universidades brasileiras, consolidado saberes e inovações por
meio do intercâmbio internacional.