Uso da internet na coleta de dados primários na pesquisa em Enfermagem
INTRODUÇÃO
Os avanços em tecnologia estão modificando a formação e os cenários
profissionais. Cada vez mais a informação tem sido valorizada e buscam-se
formas eficientes de organizar o processo de trabalho e otimizar o tempo do
profissional.
O uso das tecnologias e da informática nos meios acadêmicos e profissionais
também tem avançado visivelmente ao longo dos últimos anos, modificando as
relações de trabalho e o momento de produção. Os avanços tecnológicos que
envolvem o cuidado em saúde coloca o profissional em uma posição de destaque,
sendo primordial a atualização profissional e acompanhamento desta evolução.
Ressalta-se, entretanto, que o uso de tecnologias não exclui a postura
profissional, a intencionalidade e a atitude frente às consequências do seu uso
(1). Isto se aplica tanto no processo assistencial como na formação acadêmica
do profissional.
Sujeitos, processos e produtos são afetados pelas tecnologias de informação em
um movimento de transformação da sociedade e, consequentemente, da educação
superior. Esses novos paradigmas são determinantes na formação para o mercado
de trabalho, transformando os instrumentos educacionais de forma que se
articule com os contextos políticos, econômicos, sociais e culturais e,
sobretudo atendam as demandas da geração digital(2).
Até mesmo antes da graduação, muitos estudantes têm contato com a informação
rápida e acessível por meio do computador, internet, bancos de dados
organizados e ferramentas de busca de informação. A comunicação em rede,
compartilhada e acessível, está modificando o cenário de aprendizagem,
extrapolando os limites da escola. As formas de ensinar estão sendo modificadas
pela tecnologia, com o desenvolvimento de ferramentas instrucionais digitais,
ambientes virtuais de aprendizagem e outros meios tecnológicos. Até mesmo o
papel das editoras que antes redistribuíam o conhecimento está dando lugar ao
acesso mais livre à informação veiculada pela internet(3).
Entre os idosos também se observa o mesmo movimento de inclusão no mundo
digital. Um estudo recente realizado com idosos de um centro de referência
identificou que 60% dos idosos entrevistados utilizam o computador em casa,
76,4% realizaram curso para utilizar o computador e 58,2% utilizam o
equipamento a menos de dois anos, com a finalidade de obter informações,
realizar pesquisas, divertir-se e comunicar-se com outras pessoas(4). Essa
característica aponta para a possibilidade de incluir conteúdos e ferramentas
de assistência à saúde em meio digital, dada a crescente familiaridade com
essas tecnologias inovadoras.
Aplicada à Enfermagem, a informática tem um papel facilitador do processo de
trabalho, da tomada de decisão e, consequentemente, da própria assistência à
saúde. O avanço tecnológico quando incorporado pela prática gerencial em
enfermagem, por exemplo, promove a melhoria da qualidade da assistência direta,
visto que subsidia levantamento de indicadores de gestão(5). Há uma elevada
quantidade de dados gerados durante o processo de trabalho da Enfermagem, seja
na assistência, gerência, ensino ou pesquisa. O uso da informática para
organizar, registrar, classificar, armazenar e disponibilizar esses dados
auxilia tanto na prestação da assistência como do desempenho do trabalho e
tomada de decisão do profissional(6). Na pesquisa em enfermagem, o uso da
informática favorece o desenvolvimento de metodologias e a localização de
informações. Contudo, tem-se priorizado apenas a estruturação e manipulação dos
dados, apesar dos avanços da informática no Brasil(7).
A internet na pesquisa em enfermagem, utilizada em estratégias como entrevistas
e grupos focais, representa uma possibilidade de diminuir custos na pesquisa,
alcançar uma população maior principalmente quando o acesso físico a ela é
difícil, lidar com assuntos polêmicos ou sensíveis, além da comodidade e
facilidade para os sujeitos, garantia do anonimato e maior controle do
pesquisador. Por outro lado, existem, limitações do uso da internet na pesquisa
em enfermagem tais como a dificuldade em realizar testes de validação, pouca
habilidade para se obter amostra, problemas relacionados aos equipamentos ou
acesso à rede e o retorno ou garantia de participação dos sujeitos. Embora seja
um meio prático, ágil, abrangente e de baixo custo, depende que o sujeito tenha
acesso fácil à internet(7).
A produção científica acerca da utilização de ferramentas digitais na pesquisa
em enfermagem ainda é escassa. Verifica-se na literatura científica que o uso
da internet tem se expandido nas pesquisas documentais, no acesso a informações
disponíveis em sites oficiais (dados epidemiológicos, boletins, manuais,
documentos, bases de dados de produção científica, entre outros) e na
comunicação entre pesquisadores. Entretanto, ainda são poucas as pesquisas que
utilizam meios digitais para obter dados de fontes primárias, ou seja,
entrevistas e questionários. Em geral, apenas alguns estudos de validação
utilizam esse método.
O objetivo deste estudo é apresentar um relato de experiência sobre a
utilização de um instrumento de coleta de dados de fontes primárias
disponibilizado pela web, com a finalidade de compartilhar a experiência,
ressaltando as facilidades e dificuldades e subsidiar a reflexão acerca da
metodologia.
A experiência foi vivenciada durante a execução do projeto de pesquisa
intitulado "Potencialidades e Limites da CIPESCâ para o reconhecimento e
enfrentamento das necessidades em saúde da população infantil", que buscou
averiguar quais diagnósticos de enfermagem os profissionais apontavam diante de
casos extraídos da realidade assistencial na atenção básica.
Aspectos éticos
Um convite por e-mail foi enviado aos sujeitos da pesquisa. Ao selecionar o
link de acesso disponibilizado no convite, imediatamente os entrevistados
acessaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, com todas as
informações sobre o estudo e um canal de comunicação com as pesquisadoras. Após
a leitura do Termo, cada entrevistado deveria escolher uma das seguintes
opções: a) concordo em participar voluntariamente desta pesquisa; b) não
concordo em participar desta pesquisa; e c) tenho dúvidas e gostaria de
esclarecer através de contato com as pesquisadoras. O instrumento só poderia
ser acessado se fosse escolhida a primeira opção. Caso escolhesse a segunda
opção, o entrevistado seria direcionado para uma página de agradecimento e sua
participação seria finalizada. Na terceira opção, o entrevistado teria acesso a
um campo para descrever sua dúvida e esta seria encaminhada às pesquisadoras.
Não havendo Termo em papel, este caminho foi necessário para garantir que os
entrevistados tivessem liberdade para participar da pesquisa e só acessassem o
instrumento após manifestarem concordância com o Termo. Este caminho, bem como
a íntegra do estudo foram avaliados e aprovados pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Escola de Enfermagem da USP e Secretaria Municipal de Saúde de
Curitiba (protocolos 819/2009 e 69/2009 respectivamente).
Após a coleta, as respostas foram extraídas do banco de dados do instrumento e
decodificadas, sem que qualquer dado dos entrevistados fosse divulgado,
resguardando o sigilo e a privacidade.
Escolha pelo instrumento web
O estudo que se utilizou do instrumento web teve como objetivo conhecer as
possibilidades e limites da Classificação Internacional de Práticas de
Enfermagem em Saúde Coletiva (CIPESC®) para reconhecer e enfrentar as
necessidades em saúde da população infantil. A CIPESC®, é uma ferramenta
construída pela Associação Brasileira de Enfermagem(8-9), que reúne
diagnósticos e intervenções de enfermagem para uso na consulta de enfermagem.
Em Curitiba, a CIPESC® está abrigada no prontuário eletrônico dos pacientes
atendidos nas unidades de saúde do município, sendo, portanto, um recurso
disponível em rede informatizada, de uso optativo durante a realização da
consulta e que gera uma ampla base de dados que pode ser trabalhada em suas
diferentes variáveis(10).
Algumas foram as razões que levaram à utilização do web-questionário. O
instrumento era relativamente grande, com uma nomenclatura que somava mais de
100 diagnósticos, e mais de 700 intervenções de enfermagem distribuídas nos
grupos de necessidades afetadas. Foi sugerido que nos estudos de caso fossem
apontados cinco diagnósticos de enfermagem e cinco intervenções para cada
diagnóstico escolhido. O tempo médio para o preenchimento variou entre 20 e 40
minutos e o público alvo da pesquisa estava acostumado a utilizar a versão
informatizada à semelhança do web-questionário. Outra razão relevante para a
escolha do instrumento digital foi a negativa da Secretaria Municipal de Saúde
para a coleta de dados junto aos enfermeiros durante a jornada de trabalho;
autorizou, entretanto, a realização do estudo fora do horário de trabalho dos
profissionais.
O uso do meio digital para coleta de dados minimiza os erros de preenchimento,
transcrição e tabulação dos dados, tornando a coleta por este meio altamente
viável. Deve-se, entretanto, considerar a diversidade dos sujeitos e objetos a
serem explorados na pesquisa, para a adequada formulação e escolha do tipo de
instrumento(11).
Seleção e validação dos conteúdos
Para composição do estudo de caso, o primeiro passo foi selecionar o conteúdo
que seria utilizado na construção do instrumento. Foi elaborado um esboço em
editor de texto contendo: o rapport; conceituação de necessidades em saúde
conforme referencial teórico adotado na pesquisa; instrumento para
caracterização dos entrevistados; instruções para preenchimento do instrumento
e o conteúdo em si, constituído pelos casos (relatos da prática gerados em
entrevistas de outro estudo sobre tema semelhante) e a base de diagnósticos e
intervenções da nomenclatura CIPESC® Curitiba. Esta foi reduzida de forma que
permaneceram apenas os diagnósticos que guardavam relação com a temática dos
casos, tornando a árvore mais curta e objetiva. Também foram disponibilizados
campos abertos para os entrevistados acrescentar outros diagnósticos ou
intervenções que não estivessem na nomenclatura disponibilizada no instrumento,
tornando-o mais flexível. Os pesquisados deveriam ler cada caso apresentado e
selecionar os diagnósticos e intervenções pertinentes, simulando uma consulta
de enfermagem.
Na segunda parte do instrumento os entrevistados deveriam relatar uma situação
vivenciada nas consultas de enfermagem e, da mesma forma, aplicar a
nomenclatura CIPESC®. Na terceira e última parte do instrumento havia um campo
aberto para observações. Além disso, solicitava-se a indicação de outros
enfermeiros que se dispusessem participar do estudo.
Este esboço foi organizado como um storyboard, incluindo quais eram as opções e
caminhos que o sujeito poderia optar durante o tempo em que estivesse
respondendo ao instrumento. Foi testado por uma enfermeira que atuava na
Estratégia Saúde da Família com objetivo de avaliar o conteúdo proposto. Não
foi possível, nesse momento, avaliar a usabilidade do instrumento, visto que
este ainda se encontrava em formato de texto. A usabilidade determina se a
ferramenta é de fácil manuseio, incluindo aspectos como a facilidade de
apreensão do seu conteúdo e difícil esquecimento, manuseio livre de erros
operacionais, resolução satisfatória das tarefas propostas à ferramenta(12).
Esta primeira análise considerou os textos de e-mail, abertura, termo de
consentimento e enunciados adequados e compreensíveis. Foi apontada uma ordem
de relevância dos casos e a etapa de descrever uma situação vivenciada foi
considerada uma ótima oportunidade para recolher casos, observar condutas e
posteriormente discutir em grupo.
Como pontos positivos, o instrumento foi considerado interessante e bem
estruturado, e que os casos refletiam o cotidiano do atendimento em unidades
básicas de saúde. Ainda, de acordo com as pesquisadas, ensejou o questionamento
das condutas, julgamentos e a própria prática profissional. Como ponto
negativo, o instrumento foi considerado cansativo no formato apresentado (texto
corrido), mas posteriormente, quando na versão final, acreditou-se que ficaria
mais rápido e menos cansativo para responder. Não foram sugeridas alterações no
instrumento, entretanto, diante dos comentários oferecidos, procedeu-se na
reorganização dos casos, conforme critério de relevância atribuído a cada caso.
Ainda assim, mantiveram-se os cinco casos e somente após o teste final seria
avaliada a necessidade de reduzir ou manter o número de casos.
CONSTRUÇÃO DO INSTRUMENTO WEB
O esboço do instrumento foi encaminhado para um especialista em informática
para a construção do instrumento em formato web. O site foi desenvolvido em
linguagem ASP.NET, com Framework 3.5 e o banco de dados utilizado foi o MySQL
5.1.30. Optou-se por essa linguagem pela possibilidade de cadastrar usuários
para efetuar testes e participar do estudo, gerenciar uma página dinâmica e o
envio de e-mails de convite para os usuários cadastrados, pela existência de
uma área administrativa onde foi possível consultar estatísticas de
preenchimento e acesso do instrumento, além da gratuidade do banco de dados que
comporta grande volume de informações de maneira eficiente. A área
administrativa do instrumento permitiu a exportação dos relatórios com as
respostas dos entrevistados em formato de planilhas.
Finalizada a construção do instrumento e os testes realizados pela
pesquisadora, o instrumento foi submetido ao teste piloto com três enfermeiros
da rede municipal de Curitiba que não participariam da coleta de dados
propriamente dita. O link de acesso foi encaminhado aos enfermeiros juntamente
com um questionário para avaliação do instrumento. O instrumento foi bem
aceito, mas os enfermeiros o avaliaram como longo e cansativo, provocando uma
mudança importante no seu formato.
Para instrumentos de coleta de dados disponibilizados pela internet, algumas
estratégias devem ser observadas, tais como: a definição dos objetivos do
instrumento, o compromisso com o anonimato, a objetividade das informações, a
estimativa de tempo requerido na participação, o teste dos instrumentos e o
rigor metodológico na aplicação das técnicas de pesquisa(7).
![](/img/revistas/reben/v66n6/21f01.jpg)
Dessa forma, para tornar o instrumento menos cansativo, mas sem perder a
oportunidade de avaliar todo o conteúdo proposto, optou-se por distribuir os
cinco casos em cinco novos instrumentos (com o mesmo formato), contendo dois
casos cada um (cada caso repetiu-se em dois instrumentos). Os sujeitos foram
divididos em cinco grupos e foi possível cada entrevistado estudar apenas dois
casos, atendendo a crítica dos avaliadores sobre o tamanho e o tempo gasto para
resposta.
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COLETA DE DADOS, CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS E RECUPERAÇÃO DOS RESULTADOS
Antes de ser iniciada a coleta de dados, foi encaminhado via malote da SMS
Curitiba, uma carta impressa para 412 enfermeiros da rede, descrevendo a
pesquisa e informando que em poucos dias, cada enfermeiro receberia em seu e-
mail um link para participar do estudo. Foi disponibilizado um endereço de e-
mail para que os enfermeiros entrassem em contato e 11 enfermeiros manifestaram
interesse em participar do estudo.
O link de acesso ao instrumento foi encaminhado para 220 endereços eletrônicos,
divididos entre os cinco grupos dos quais 64 mensagens retornaram por erro no
endereço ou caixa de mensagem cheia. Os endereços que retornaram foram
revisados e cerca de 20 foram reenviados, depois de corrigidos os erros de
digitação. Foram feitos cinco encaminhamentos do instrumento com intervalo
médio de 20 dias entre cada envio. Os e-mails indicados pelos participantes
foram inseridos na lista do próximo envio, dando-se preferência aos
instrumentos dos grupos com menos retorno de respostas. Entre o quarto e quinto
reenvio do link do instrumento, foi enviada uma mensagem por e-mail contendo
informações sobre o projeto e justificando o estudo. O objetivo dessa mensagem
era esclarecer e sensibilizar os enfermeiros para participarem da pesquisa,
além de chamar a atenção para possíveis filtros de mensagens enviadas em massa
(AntiSpam). Ao final da coleta, foram obtidas 28 respostas que foram submetidas
ao tratamento e análise conforme estava previsto na metodologia do estudo.
Todos os pesquisados que participaram do estudo enquadraram-se em pelo menos
dois dos critérios de inclusão propostos. Porém, tais critérios só puderam ser
conferidos apos o retorno do instrumento preenchido, visto que o convite foi
feito em massa.
O grupo de participantes foi composto por 25 mulheres e 3 homens. Predominaram
profissionais com idade entre 41 e 51 anos. Com relação à formação acadêmica,
tanto recém-formados quanto enfermeiros com mais tempo de formação participaram
da pesquisa, sendo que exerciam a profissão pelo tempo semelhante ao de
formação acadêmica e a maioria trabalhava em apenas um emprego. Quanto aos
cursos de especialização, todos os entrevistados responderam ter formação
complementar, predominando os cursos de especialização lato sensu.
Quantitativamente, 6,79% dos participantes convidados por carta (n=412)
participaram do estudo. Ao considerar o total de sujeitos convidados por e-mail
(n=220), o retorno foi de 11,66%. Este número se mostra dentro das expectativas
para estudos dessa natureza.
Um estudo de avaliação de um site que aborda assuntos de gestão de pessoal de
Enfermagem utilizou técnica semelhante, convidou através de e-mail, os sujeitos
da pesquisa para participarem do estudo. Foram convidados 438 sujeitos (entre
docentes e alunos de graduação). Realizaram o cadastro no sistema de avaliação
41 (9,36%) sujeitos e destes, apenas 27 (6,16%) responderam efetivamente o
instrumento(13). Em outro estudo de avaliação de material didático da web que
contou com a participação de docentes e alunos de graduação em enfermagem, o
retorno das respostas foi de menos de 50%(14). Estudos realizados com sujeitos
que mantém vínculo permanente com a instituição onde também se integra a equipe
de pesquisa mostraram melhor índice de retorno de respostas, chegando próximo a
50%. Para sujeitos com vínculo temporário (discentes de uma instituição de
ensino, por exemplo), o retorno é consideravelmente menor, próximo a 10%(15).
Um estudo de avaliação de um curso na modalidade Educação à Distância (EAD)
traçou uma estratégia diferenciada e os sujeitos que compuseram a amostra foram
escolhidos intencionalmente e convidados diretamente pelos pesquisadores
(convite verbal). Foram convidados 38 sujeitos, sendo que 28 (73,68%)
realizaram o cadastro no curso e 17 (44,73%) concluíram o curso e a avaliação.
Dentre os que não finalizaram o curso, alguns apontaram como motivo a falta de
tempo e problemas com o computador e com o provedor de acesso à internet. Esses
resultados, se comparados aos demais apresentados, indica que a escolha
intencional dos sujeitos e o convite pessoal podem resultar em um retorno maior
das respostas(16).
Autores apontam dificuldades na utilização de internet para pesquisa
científica. Os principais limitadores são dificuldade em estabelecer contato ou
selecionar os sujeitos que atendam aos critérios de inclusão do estudo e a taxa
de retorno que se apresenta muito baixa(17). Mesmo utilizando-se de estratégias
como e-mails e cartas para lembrar os sujeitos da necessidade de encaminhar a
resposta, o retorno foi pequeno, embora dentro do esperado.
Em Curitiba, a realização da consulta de enfermagem é uma tarefa cotidiana dos
profissionais, na ordem de 2,5 consultas/dia e entre 1,27 e 1,41 consulta/
usuário para um trimestre avaliado por um estudo. O uso da CIPESC® foi avaliado
positivamente, pois, apesar de facultativo, apresentou um indicador de 21% de
uso nas consultas realizadas no município no período de abril a julho de 2005.
Isto é resultado de um processo de instrumentalização realizado pela Secretaria
Municipal de Saúde, visando à aproximação dos enfermeiros com os sistemas
classificatórios, anterior à implantação da CIPESC® e busca da melhoria da
saúde e qualidade de vida da população proporcionada por uma assistência à
saúde de qualidade(10). Esses dados demonstram que o uso de ambientes
computacionais é um desafio para instituições e profissionais, o que pode
justificar, junto com outros aspectos, a baixa participação dos profissionais
neste estudo e em outros semelhantes. Embora os profissionais utilizem o
prontuário eletrônico diariamente, nem sempre se sentem à vontade para explorar
outros ambientes.
Este cenário, porém, deve se modificar em pouco tempo, visto que, no contexto
de globalização e de rápidos avanços tecnológicos, as competências para uso de
ferramentas computacionais têm se desenvolvido cada vez mais cedo, na
universidade, ou mesmo antes, resultando em uma expressiva mudança no mundo do
trabalho. Já foi constatado que estudantes de enfermagem apresentam fluência
digital e expressivo interesse no uso de ambientes virtuais(2), embora se
ressalte a importância do ensino da Informática em Enfermagem durante os cursos
de graduação(18).
Após o encerramento do período de coleta de dados, que foi de junho a agosto de
2010, os resultados foram extraídos da base de dados do instrumento, tabulados
em planilha Excel® e submetidos ao tratamento e análise com base nos
referenciais adotados pelo estudo.
CONCLUSÃO
Este estudo teve o objetivo de apresentar um relato de experiência no uso de um
instrumento de coleta de dados primários disponibilizado pela web para
enfermeiros que atuam na Atenção Básica.
Durante a execução do projeto, foram identificadas facilidades tais como a
possibilidade de abordar um grande número de potenciais sujeitos da pesquisa,
além de oferecer um instrumento em ambiente semelhante ao utilizado pelos
profissionais nas consultas de enfermagem que realizam na prática cotidiana do
município. Entretanto, algumas dificuldades também foram encontradas, como
endereços eletrônicos errados, baixa taxa de resposta e necessidade de reenvio
do instrumento buscando um maior número de participantes.
Questiona-se a relação da fluência digital dos pesquisados e a participação na
pesquisa. O baixo índice de participação pode indicar pouca familiaridade e
insegurança no manuseio de ambientes e ferramentas diferentes daquelas usadas
no cotidiano profissional. Entretanto, acredita-se que esse panorama esteja em
franca modificação diante dos avanços tecnológicos que têm ocorrido e da
crescente inclusão digital de jovens, adultos e idosos.
De maneira global, considerou-se que o uso do instrumento pela web foi positivo
e mesmo o baixo retorno de respostas não comprometeu os resultados visto que se
tratava de um estudo qualitativo (estudos de caso). É importante observar que
nos estudos onde há necessidade de uma amostra numerosa de sujeitos da
pesquisa, devem ser cuidadosamente verificadas outras estratégias de abordagem
e sensibilização, pois tanto neste estudo como em outros que utilizaram a mesma
metodologia, a abordagem por meio digital ou por carta não demonstrou alta
eficácia.
Levando em conta que o uso dos meios digitais e informatizados está em franca
expansão e os estudantes de graduação já estão sendo formados neste contexto,
espera-se que, em um futuro próximo, os profissionais dominem as ferramentas
computacionais e façam delas instrumentos de atuação no cotidiano dos serviços
de saúde.