Validação de instrumento para avaliação da habilidade de mensuração da pressão
arterial
INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença de alta prevalência, com
natureza multifatorial e, muitas vezes, cursa de forma assintomática.
Configura-se como o principal fator de risco cardiovascular, de morbidade e
mortalidade, de forma que seu diagnóstico e controle precoce são enfatizados
como importante estratégia de saúde pública(1-2).
A medida precisa da pressão arterial (PA) é condição essencial para o
diagnóstico da hipertensão, pois a sua elevação é, normalmente, o primeiro
sinal da doença. Dentre os diversos métodos existentes para se determinar a PA,
o método indireto com técnica auscultatória é o procedimento mais utilizado,
considerado também como parâmetro que evidencia o controle ou não da
hipertensão arterial. Portanto, a realização correta e precisa do procedimento
é imprescindível nos programas de prevenção e tratamento de doenças
cardiovasculares(3).
Além de ser considerada padrão ouro no diagnóstico e tratamento da HAS, a
medida da pressão arterial configura-se como um padrão fisiológico
indispensável em toda avaliação diagnóstica, sendo um dos procedimentos mais
realizados no cotidiano das instituições de saúde por qualquer membro da equipe
multiprofissional, principalmente pela Enfermagem, seja em situações de
emergência ou em condições ambulatoriais(4). É imprescindível que os
profissionais possam detectar valores de PA com precisão e interpretá-los com
segurança(5). Apesar dis-so, a técnica auscultatória de pressão arterial é
considerada simples e de fácil execução, e assim, muitos acabam banalizando o
procedimento a ponto de torná-lo um autêntico ritual, cumprido cegamente, de
maneira desleixada e desinteressada(6).
A padronização da medida pressão arterial é uma preocupação antiga, pois, desde
1939, aAmerican Heart Association levanta discussões sobre o procedimento e
lança novas recomendações e diretrizes sempre que avanços na área são
descobertos(7). Apesar da existência de protocolos, a mensuração da PA ainda é
realizada de maneira não padronizada. A abordagem sistemática dos passos do
procedimento mediante um roteiro estruturado validado, do tipo checklist,
constitui-se em uma importante estratégia para auxiliar os profissionais de
saúde e, mais que isso, contribuir na formação de futuros enfermeiros(8).
Ensinar aos alunos de Graduação em Enfermagem, man-tê-los atualizados e,
principalmente, avaliá-los tem sido um grande desafio(8). Diante da importância
da mensuração da PA na prática da Enfermagem, é de suma importância avaliar a
habilidade técnica referente a este procedimento.
O conceito de habilidade está associado ao saber fazer, ou seja, à capacidade
de aplicar e fazer uso produtivo do conhecimento adquirido com vistas à
consecução de um propósito específico(9). A impossibilidade de não se poder
avaliar adequadamente a habilidade dos estudantes de graduação, futuros
enfermeiros, em relação ao procedimento de mensuração da PA pode culminar no
comprometimento dos valores obtidos, interferindo na avaliação clínica e
causando possíveis danos aos pacientes. Além disso, a avaliação torna-se
importante para que eles conheçam suas fragilidades teóricas e práticas e que,
assim, busquem capacitação para o exercício mais competente de sua profissão
(8,10).
Toda avaliação de aprendizagem requer a adequada forma de averiguar e medir a
evolução de quem está sendo avaliado, do seu desempenho, além de indicar os
reajustes necessários(11-12). Para tanto, mostra-se necessário o
desenvolvimento de instrumentos de avaliação respaldados em conhecimentos
científicos existentes(13).
O reconhecimento da qualidade dos instrumentos é aspecto fundamental para a sua
legitimidade e confiabilidade, o que reforça a importância do processo de
validação de conteúdo, o qual é composto por diversas etapas que visam coletar
evidências de que o instrumento realmente mede a variável a que se propõe e de
que é útil para a finalidade proposta(13). Duas etapas principais na validação
de conteúdo são: o desenvolvimento do instrumento, que abrange as fases de
identificação do fenômeno estudado, a produção dos itens do instrumento e a sua
construção; e o julgamento do instrumento realizado por juízes qualificados
(14).
Tendo em vista os problemas concernentes à medida da PA, as lacunas de
instrumentos para verificação da habilidade prática dos estudantes e
profissionais, bem como a preocupação com a padronização da medida, o estudo
teve como objetivo validar um instrumento para avaliação da habilidade dos
graduandos de enfermagem para mensuração da pressão arterial.
MÉTODO
Estudo metodológico, desenvolvido no período de junho a setembro de 2012, tendo
como foco a validação de conteúdo do instrumento sobre a habilidade dos
graduandos de enfermagem para mensuração da pressão arterial. A validade de
conteúdo se refere à análise dos itens que compõem o instrumento por juízes no
assunto, sendo a determinação de representatividade e extensão com que cada
item da medida comprova o fenômeno de interesse e a sua dimensão dentro daquilo
que se propõe investigar(15).
A pesquisa foi realizada em instituições de ensino de enfermagem, de nível
técnico e superior no Rio Grande do Norte, envolvendo docentes da Graduação e
de Nível Técnico em Enfermagem.
O estudo foi desenvolvido em duas etapas. A primeira envolveu a revisão da
literatura para elaboração do instrumento. Com base nessa etapa, foi
desenvolvido um roteiro de observação estruturado, do tipo checklist, composto
por 28 itens divididos em três blocos (observações iniciais, mensuração da
pressão arterial e observações finais), que correspondem aos passos
considerados importantes para se avaliar a habilidade técnica para mensuração
da pressão arterial.
Na segunda etapa, ocorreu a identificação e seleção da população alvo a ser
recrutada para participar como juízes, mediante um contato inicial com as
coordenações dos Cursos de Enfermagem de Universidades do Rio Grande do Norte.
Apresentaram-se a eles os critérios de inclusão para seleção dos participantes:
atuação na disciplina de semiologia e/ou semiotécnica há pelo menos um ano.
Foram identificados 34 docentes elegíveis, para os quais foi enviada uma carta
convite, por via eletrônica, contendo os objetivos e a justificativa do estudo.
Dos 34 docentes convidados, 28 aceitaram participar. O instrumento, um roteiro
do processo de avaliação do instrumento e o termo de consentimento livre e
esclarecido foram entregues pessoalmente a cada um destes. A avaliação de um
juiz estava incompleta, e assim foi considerada como uma perda, de modo que a
população alvo do estudo foi constituída por 27 juízes.
Os instrumentos foram avaliados por item e de forma global, considerando 10
requisitos: utilidade/pertinência, consistência, clareza, objetividade,
simplicidade, exequibilidade, atualização, vocabulário, precisão, sequência
instrucional de tópicos, devendo os juízes julgarem se o requisito estava
adequado, adequado com alterações ou inadequado. Os juízes também deveriam
designar, de forma escrita, sugestões a fim de que os itens pudessem ser
melhorados.
Após a avaliação, foi realizada a validação de conteúdo com aplicação do Índice
Kappa (K) para mensuração do nível de concordância e consistência dos juízes em
relação à permanência ou não dos itens do instrumento, levando em conta as
indicações de "inadequado" para os mesmos. O Índice Kappa é um indicador de
concordância ajustado que varia de "menos 1" a "mais 1" - quanto mais próximo
de 1 melhor o nível de concordância entre os observadores; sua distribuição e
os respectivos níveis de interpretação são: < 0,00= ruim; 0,00 a 0,20= fraco;
0,21 a 0,40= sofrível; 0,41 a 0,60= regular; 0,61 a 0,80= bom; 0,81 a 0,99=
ótimo; 1,00 =perfeito(16). Como critério de aceitação, foi estabelecida a
concordância superior a 0,61 entre os juízes.
Também foi utilizado o Índice de Validade de Conteúdo (IVC), que mede a
concordância dos juízes quanto à representatividade dos itens em relação ao
conteúdo em estudo(15), sendo calculado dividindo-se o número de juízes que
avaliaram o item como adequado/adequado necessitando de alterações pelo total
de juízes (avaliação por item), resultando na proporção de juízes que julgaram
o item válido(17).
Para calcular o IVC geral do instrumento foi realizada a soma de todos os IVC
calculados separadamente, dividido pelo número de itens(17). Como aceitável,
considerou-se índice mínimo de 0,75 tanto para avaliação de cada item como para
avaliação geral do instrumento.
Os dados foram organizados em planilha de dados eletrônica e exportados para um
software estatístico. Depois de codificados e tabulados, foram analisados por
meio de estatística descritiva. Os instrumentos foram reformulados de acordo
com as sugestões dos juízes.
O estudo obteve parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa/HUOL,
Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 0002.0.294.000-10.
RESULTADOS
Com relação aos juízes, 74,1% apresentavam como máxima titulação o mestrado
acadêmico e 63% exerciam a docência exclusivamente. A idade variou de no mínimo
de 25 anos e máximo de 57, média de 36,6 (± 9,0) anos. O tempo de experiência
na docência variou entre 1 a 34 anos, com média de 7,9 (± 8,0) anos. Quanto ao
tempo de experiência nas disciplinas de semiologia e/ou semiotécnica da
Enfermagem, variou entre 1 e 32 anos, com média de 5,5 (± 6,7) anos.
Em se tratando do processo de julgamento dos itens que compõem o checklist da
técnica de mensuração da pressão arterial, nenhum deles foi avaliado como
inadequado. Todos obtiveram concordância dentro do nível estabelecido (IVC >
0,75 e Kappa > 0,61). Os resultados são apresentados na Tabela_1.
Tabela 1 Julgamento dos juízes (n = 27) sobre itens do checklist da habilidade
para avaliação da técnica de mensuração da pressão arterial. Natal-RN, 2012
JULGAMENTO
Itens referentes à habilidade para a técnica de mensuração da pressão arteriAdequado Adequado c/
alteraçõesIVC Kappa
n % n %
1 OBSERVAÇÕES INICIAIS
1.1 Verifica dados no prontuário do usuário 26 96,3 1 3,7 0,96 0,93
1.2 Higieniza as mãos 27 100,0 - - 1,00 1,00
1.3 Seleciona o material e os instrumentos necessários 25 92,6 2 7,4 0,93 0,86
1.4 Identifica-se para o paciente e explica o procedimento a ser realizado 27 100,0 - - 1,00 1,00
2 MENSURAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL
2.1 Investiga possíveis condições fisiológicas e externas que possam altera24a88,9 3 11,1 0,89 0,79
mensuração da pressão arterial
2.2 Mantém o usuário em repouso 25 92,6 2 7,4 0,93 0,86
2.3 Mede a circunferência do braço do cliente 24 88,9 3 11,1 0,89 0,79
2.4 Verifica a posição do cliente 24 88,9 3 11,1 0,89 0,79
2.5 Seleciona o manguito adequado 25 92,6 2 7,4 0,93 0,86
2.6 Localiza artéria braquial por palpação 25 92,6 2 7,4 0,93 0,86
2.7 Ajusta o manguito selecionado no braço 26 96,3 1 3,7 0,96 0,93
2.8 Mantém o braço do usuário bem apoiado na altura do coração 27 100,0 - - 1,00 1,00
2.9 Posiciona os olhos no mesmo nível da coluna de mercúrio ou do manômetro 26 96,3 1 3,7 0,96 0,93
aneroide
2.10 Estima o nível da pressão sistólica 23 85,2 4 14,8 0,85 0,74
2.11 Desinfla o manguito rapidamente e aguarda antes de iniciar a medida 25 92,6 2 7,4 0,93 0,86
2.12 Faz a desinfecção da campânula e das olivas do estetoscópio 24 88,9 3 11,1 0,89 0,79
2.13 Posiciona o estetoscópio no ouvido 27 100,0 - - 1,00 1,00
2.14 Posiciona a campânula do estetoscópio sobre a artéria braquial 27 100,0 - - 1,00 1,00
2.15 Infla rapidamente o manguito 24 88,9 3 11,1 0,89 0,79
2.16 Procede à deflação lentamente 26 96,3 1 3,7 0,96 0,93
2.17 Determina a pressão sistólica 23 85,2 4 14,8 0,85 0,74
2.18 Determina a pressão diastólica 23 85,2 4 14,8 0,85 0,74
2.19 Procede à deflação do manguito 27 100,0 - - 1,00 1,00
2.20 Realiza novas medidas, se necessário 24 88,9 3 11,1 0,89 0,79
3 OBSERVAÇÕES FINAIS
3.1 Informa ao usuário o valor da pressão arterial verificado 25 92,6 2 7,4 0,93 0,86
3.2 Organiza o ambiente 27 100,0 - - 1,00 1,00
3.3 Higieniza as mãos 27 100,0 - - 1,00 1,00
3.4 Registra o procedimento no prontuário 27 100,0 - - 1,00 1,00
Conforme Tabela_1, do total de 28 itens no checklist, 9 apresentaram índice de
concordância perfeito (IVC=1,00; Kappa= 1,00).
No bloco da mensuração da pressão arterial, os itens onde houve maior número de
opinião de que eram considerados adequados, mas exigiam alterações foram:
investiga possíveis condições fisiológicas e externas que possam alterar a
mensuração da pressão arterial (item 2.1); mede a circunferência do braço do
cliente (item 2.3); verifica a posição do cliente (item 2.4); estima o nível da
pressão sistólica (item 2.10); faz a desinfecção da campânula e das olivas do
estetoscópio (item 2.12); infla rapidamente o manguito (item 2.15); determina a
pressão sistólica (item 2.17); determina a pressão diastólica (item 2.18);
realiza novas medidas, se necessário (item 2.20).
No Quadro_1, são apresentados os itens avaliados como "adequado com
alterações", os requisitos relacionados ao problema e as sugestões para
melhoria ou reformulação dos itens.
Quadro 1 Sugestões dos juízes acerca dos itens considerados adequados com
alterações para avaliação da habilidade para mensuração da pressão arterial.
Natal-RN, 2012
Itens Requisitos avaliados que exigiram alterações Sugestões dos juízes
* Detalhar no instrumento as condições fisiológicas e
Investiga possíveis condições fisiológicas e externas que possam alterarClareza; Sequencia instrucional dos tópicos. externas que possam alterar a mensuração da pressão
mensuração da pressão arterial arterial.
* Colocar o item no bloco das observações iniciais.
*Descrever mais detalhadamente como essa medição deve
Mede a circunferência do braço do cliente Consistência; Exequível; Sequência instrucional dosocorrer.
tópicos. * Etapa difícil de ser realizada nos serviços.
* O item deve ser colocado após o 2.4.
Verifica a posição do cliente Clareza; Vocabulário * Detalhar o posicionamento adequado do cliente.
* Reformular o item para: posiciona o cliente.
Estima o nível da pressão sistólica Clareza * Descrever detalhadamente a etapa, utilizando o termo
método palpatório.
Faz a desinfecção da campânula e das olivas do estetoscópio Sequência instrucional dos tópicos * O item deve ser inserido no bloco das observações
iniciais.
Infla rapidamente o manguito Clareza * Descrever detalhadamente a etapa.
Determina a pressão sistólica/ Vocabulário * Trocar o verbo "determina" por "identifica".
Determina a pressão diastólica
Realiza novas medidas, se necessário Atualização * Rever o intervalo de tempo entre as medidas na
literatura mais atual.
No parecer final dos juízes acerca do checklist, baseado nos 10 requisitos de
avaliação, todos os requisitos obtiveram índice Kappa bom e IVC > 0,75, como
mostra a Tabela_2. Desses, utilidade/pertinência e simplicidade receberam
escore máximo de concordâncias. Em contrapartida, os itens clareza, sequência
instrucional dos tópicos e vocabulário mereceram atenção especial, sendo
incorporadas as sugestões e observações dos juízes para a versão final do
instrumento.
Tabela 2 Parecer final dos juízes (n = 27) acerca do checklist de avaliação das
habilidades procedimentais da técnica de mensuração da pressão arterial. Natal-
RN, 2012
PARECER FINAL CHECK LIST
REQUISITOS Adequado Adequado c/ alteraçõeIVC K
n % n %
Utilidade/ pertinência 27 100,0 - - 1,00 1,00
Simplicidade 27 100,0 - - 1,00 1,00
Exequível 26 96,3 1 3,7 0,96 0,93
Objetividade 26 96,3 1 3,7 0,96 0,93
Atualização 26 96,3 1 3,7 0,96 0,93
Precisão 26 96,3 1 3,7 0,96 0,93
Consistência 25 92,6 2 7,4 0,93 0,86
Clareza 24 88,9 3 11,1 0,89 0,79
Sequência instrucional dos tópico24 88,9 3 11,1 0,89 0,79
Vocabulário 23 85,2 4 14,8 0,85 0,74
Na avaliação global, o checklist para avaliação das habilidades procedimentais
da técnica, de mensuração da pressão arterial obteve IVC de 0,94 e Kappa de
0,89.
DISCUSSÃO
Apesar dos profissionais de enfermagem serem os mais habituados com a
mensuração da pressão arterial(3), estudos evidenciam a realização do
procedimento de maneira incorreta, com erros ou omissão de cuidados básicos
durante a aferição(3,18) e lacunas no conhecimento teórico-prático, sugerindo
avaliação prática da execução do procedimento e elaboração de estratégias
específicas de acompanhamento dos enfermeiros, a fim de evitar defasagem do seu
conhecimento sobre o assunto(19).
A higienização das mãos, seja ela com água e sabão ou com soluções alcoólicas,
é prática reconhecida e recomendada no âmbito dos serviços de saúde, devendo
ser realizada corretamente antes e após todo e qualquer procedimento, incluindo
a mensuração da pressão arterial. Apesar de todas as evidências mostrarem a
importância das mãos na cadeia de transmissão das infecções hospitalares,
observa-se, na prática, a baixa adesão a essa técnica por parte dos
profissionais ou, quando ela é realizada, habitualmente é desenvolvida de forma
incorreta, principalmente em relação a sua duração(18).
Em um estudo com o objetivo de avaliar como a medida da pressão arterial é
realizada por profissionais, a explicação do procedimento ao paciente foi a
etapa mais realizada (97,1%) (3). Por mais que o contato inicial profissional/
cliente não interfira diretamente valores da mensuração da pressão arterial, o
ato do profissional se identificar ao cliente, explicitando seu nome e sua
função, bem como o procedimento a ser executado, de forma clara e simples, é
imprescindível para o esclarecimento de dúvidas e, consequentemente, para a
redução do medo e da ansiedade.
Essa medida toma proporções ainda maiores pela constatação de que o estado
emocional do cliente está diretamente relacionado a dois fenômenos conhecidos
como reação de alarme e hipertensão do jaleco branco, que levam ao aumento dos
níveis tensionais devido a resposta do cliente frente ao profissional de saúde,
principalmente o médico, que ainda lhe é pessoa estranha, ou mesmo devido à
ansiedade gerada pela expectativa de algum desfecho desconhecido e doloroso(6).
No bloco da mensuração da pressão arterial, os juízes sugeriram alterações em
alguns itens, entre eles "mede a circunferência do braço do cliente" e
"verifica a posição do cliente". Com relação ao primeiro item, alguns juízes
avaliaram-no como não exequível, uma vez que manguitos de diferentes tamanhos
não são encontrados habitualmente nos serviços de saúde. O uso do manguito com
tamanho inadequado em relação à circunferência do braço (CB) é uma das causas
mais discutidas de medida imprecisa da PA, podendo fazer com que ela seja super
ou subestimada. A razão da circunferência braquial/largura do manguito deve ser
em torno de 0,40 e o comprimento do manguito deve circundar de 80 a 100% da CB
(7).
Pesquisa mostra que 78,0% dos profissionais de várias categorias referiram não
dispor de manguitos de diferentes dimensões no seu ambiente de trabalho. Com
isso, ao serem avaliados durante o procedimento de mensuração da PA, a etapa de
seleção da largura do manguito adequada foi realizada por apenas 6,7% deles(3).
Outros estudiosos da área questionam se os profissionais da saúde seriam
capazes de selecionar tamanhos apropriados dos manguitos, mesmo se esses fossem
disponibilizados nas unidades médicas. Eles também constataram que apenas o
manguito padrão era disponibilizado nas enfermarias e que o pessoal responsável
pela compra desse equipamento não havia recebido orientações acerca da
possibilidade de adquirir outros tamanhos de manguitos já disponíveis no
mercado(20).
Quanto ao item "verifica a posição do cliente", além da alteração do
vocabulário foi sugerido que o posicionamento correto do cliente fosse mais bem
descrito. Durante a mensuração da PA, o cliente deve estar em posição sentada,
com dorso recostado na cadeira, pernas descruzadas e pés apoiados no chão, o
braço deve estar situado na altura do coração, descoberto, apoiado, com a palma
da mão voltada para cima e cotovelo ligeiramente fletido(7).
Em relação ao método palpatório, observa-se que, na prática, normalmente não se
realiza a estimativa da pressão sistólica por meio da palpação artéria radial.
Geralmente, o executor infla o manguito até um ponto decidido aleatoriamente
por ele mesmo e, em seguida, o desinfla fazendo a ausculta dos sons de
Korotkoff(21). Dessa forma, os juízes recomendaram melhorar a clareza do item
"estima o nível da pressão sistólica", descrevendo detalhadamente a técnica,
chamando atenção para o método palpatório.
O desconhecimento do método palpatório, em algumas ocasiões, pode levar a erros
na mensuração da PA, como por exemplo, na presença do hiato auscultatório, que
corresponde a um intervalo silencioso representado pela ausência da fase II da
escala de Korotkoff. Ressalta-se que caso a mensuração da pressão arterial não
inclua a estimativa da pressão sistólica, o observador pode, nos pacientes com
hiato auscultatório, não identificar corretamente o som correspondente à
pressão sistólica ou então superestimar a pressão diastólica(21).
Em Procedimentos Operacionais Padrão e outros planos de cuidados(22), consta
que a desinfecção da campânula e das olivas do estetoscópio deve ser realizada
antes do contato com o paciente, sendo recomendada a inserção desse item no
bloco das observações iniciais.
Nas etapas "infla rapidamente o manguito" e "realiza novas medidas, se
necessário", os juízes recomendaram, respectivamente, descrever detalhadamente
quanto à clareza e atualização, sendo especificado que o manguito deverá ser
inflado rapidamente até ultrapassar 20 a 30mmHg do nível da pressão sistólica
estimado no método palpatório, e que o intervalo de tempo entre as medidas na
literatura é em torno de 1 minuto, como recomendam as diretrizes da Sociedade
Brasileira de Cardiologia(7).
No bloco observações finais, três, dos quatro itens, apresentaram nível de
concordância perfeito. Desses, merece destaque o item "registra o procedimento
no prontuário", no qual deverão ser anotados os valores da pressão sistólica e
diastólica, o braço em que a PA foi medida, a posição em que o paciente se
encontrava e o tamanho do manguito utilizado. Vale salientar que não é correto
fazer aproximações ou arredondamentos dos números terminados em zero ou cinco
(4,7).
Pesquisa evidenciou a preferência pelo registro de valores com dígito zero para
a pressão arterial sistólica em 77,1% e para a pressão arterial diastólica em
74,3% das medidas(3). Essa prática pode induzir a falso dado de normotensão ou
de hipertensão arterial.
A mensuração da pressão arterial é um dos procedimentos mais realizados nos
serviços de saúde. No entanto, durante a sua realização por meio do método
indireto, se os cuidados básicos e indispensáveis em relação ao cliente, ao
equipamento, à técnica e ao registro dos valores não forem obedecidos, a falta
de precisão na medida da pressão arterial será inevitável e, consequentemente,
julgamentos imprecisos do estado de saúde da população poderão ser
estabelecidos.
Os índices obtidos no processo de validação de conteúdo do instrumento estudado
indicaram alta confiabilidade e fidedignidade do mesmo para a avaliação das
habilidades procedimentais na mensuração da pressão arterial pelos estudantes
de enfermagem. Ele pode ser útil também como estratégia de ensino, uma vez que
pode guiar claramente os estudantes quanto às etapas operacionais indicadas.
Podem ser identificadas, como limitações do estudo, a técnica de seleção dos
juízes, que restringiu o seu quantitativo e distribuição geográfica.
Considera-se ainda que este instrumento deva ser continuamente aperfeiçoado e
utilizado na formação e avaliação de outros profissionais. A expectativa é que
o instrumento validado seja divulgado e utilizado tanto pelas instituições
formadoras para avaliar seus alunos, tanto em laboratórios de habilidades ou em
campos de prática clínica, como também pelas instituições de saúde, mediante
programas de educação continuada com o intuito de promover atualização e
melhoria na capacidade técnica de sua equipe de profissionais.
CONCLUSÃO
O checklist para avaliação da habilidade dos graduandos de enfermagem para
mensuração da pressão arterial mostrou-se válido quanto ao conteúdo. Todos os
itens, separadamente, e o instrumento de forma global foram avaliados como
adequados para mensuração da habilidade para mensuração da pressão arterial, de
acordo com os requisitos determinados.
Do total de 28 itens no checklist, nove necessitaram de alterações,
principalmente no que diz respeito à clareza, sequência instrucional de tópicos
e vocabulário. Na avaliação global, o instrumento obteve IVC de 0,94 e Kappa de
0,89, bem superior do considerado aceitável. As sugestões dos juízes foram
acatadas, buscando o aumento da clareza dos itens, facilitando a leitura, o
entendimento e aplicabilidade dos instrumentos.