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BrBRCVHe0034-71672014000400601

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variedadeBr
ano2014
fonteScielo

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Velhice para os adolescentes: abordagem das representações sociais INTRODUÇÃO A longevidade da população é um fenômeno mundial que determina repercussões na vida das pessoas, bem como no sistema de saúde, no campo social, econômico e político. Esse fato alerta os governantes para elaboração de instrumentos e políticas que assegurem os direitos efetivos da pessoa idosa. Estimulam, ainda, os pesquisadores na busca de estratégias para um envelhecimento e velhice saudável, segundo as condições de cada pessoa, pesquisando e implementando mudanças na prática clínica, e, ainda, sensibilizando a sociedade para o rompimento de barreiras, com vistas a inovações no processo de cuidado da vida.

Sabe-se que a expectativa de vida da população no Brasil aumentou em cerca de três anos entre 1999 e 2009, de 6,4 milhões para 9,7 milhões. Em termos percentuais, a proporção de idosos na população subiu de 3,9% para 5,1%. Em compensação, no mesmo período, caiu o número de crianças e adolescentes de 40,1% para 32,8%, estreitando o topo da pirâmide etária brasileira(1).

Atualmente, a expectativa de vida do brasileiro é de 73,1 anos. Entre as mulheres são registradas as menores taxas de mortalidade, pois elas representam 55,8% das pessoas com mais de 60 anos. No período avaliado, a expectativa de vida feminina passou de 73,9 anos para 77 anos; e, entre os homens, de 66,3 anos para 69,4 anos(1).

Mesmo com a comprovação do aumento da parcela populacional de idoso; as tecnologias cosméticas, arquitetônicas e as voltadas para o meio ambientes continuam marcadamente direcionadas para o público jovem, sem considerar a velhice como evento comprovado e importante para discussão e projeção de novos manejos e possibilidades com abordagens positivas da velhice. Além disso, a cultura da mobilidade, da flexibilidade, da efemeridade e da provisoriedade elege o adolescente como alvo. A ele são imputadas tais qualidades e sobre ele é que, principalmente, vão-se realizar esses desígnios da contemporaneidade e as subjetivações pertinentes(2).

Neste sentido, entende-se que apreender como os adolescentes representam a velhice é relevante para alavancar eventos importantes que viabilizem a compreensão, mudanças de comportamentos, noções, ideias e sentimentos dos adolescentes em relação à velhice. Ainda, estimula e amplia debates esclarecedores para prepará-los para a própria velhice proporcionando um novo olhar para o estilo de vida e o desejo de envelhecer. Nas discussões, possivelmente estarão em pauta crenças e preconceitos ancorados em estereótipos negativos sobre o tema. Entretanto, viabiliza explicar, definir, refinar conhecimentos objetivados a respeito da velhice, revelados pela apreensão de suas representações sociais. Considera-se, ainda, que as pessoas sofrem a pressão das representações dominantes na sociedade e é nesse meio que elas constroem os saberes e exprimem seus sentimentos.

As representações sociais diferem de acordo com a sociedade em que nascem e são moldadas(3). Elas caracterizam os conhecimentos e crenças dos grupos sociais, e no caso dos adolescentes, possibilitam identificar além das marcas subjetivas, os modos compartilhados de pensar, e de forma particular os complexos processos da realidade nos quais os seres humanos estão envolvidos, uma vez que os adolescentes são influenciados pelos pensamentos e ações dos outros componentes de seu grupo social e do meio em que vivem(4).

As representações sociais são uma forma de conhecimento socialmente organizado e partilhado, que tem objetivo prático e colabora para a constituição de uma realidade comum a um grupo social, podendo ser denominada como saber de senso comum ou ainda saber natural. Esta forma de conhecimento é distinta, entre outras, do conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo legítimo da própria ciência. Tem relevância para a vida social que indica processos cognitivos encarnados nas interações sociais(5).

A Teoria das Representações Sociais possibilita um diagnóstico de formas de perceber a realidade compartilhada pelos grupos fornecendo subsídios para organizar atuações profissionais(6). Essa atuação poderá ser planejada a partir da obtenção de dados de pesquisas, o que justifica a aplicação deste referencial neste estudo.

Este estudo se justifica, sobretudo pela relevância social da investigação, pois investiga grupo dos adolescentes sensibilizando-os a pensar sobre a velhice numa sociedade em que a juventude é enaltecida cotidianamente. Além disso, contribui para o aprofundamento de discussões na área de estudo sobre a velhice e idoso e das representações sociais, gerando subsídios para novos elementos a serem estudados e discutidos por outros pesquisadores.

Assim, objetivou-se com o estudo apreender as representações sociais de adolescentes de uma escola pública e de uma privada sobre a velhice e compará- las entre esses dois grupos.

METODOLOGIA Pesquisa do tipo qualitativa, exploratória e descritiva, fundamentada na Teoria das Representações Sociais com abordagem processual.

A pesquisa foi realizada em uma escola pública e uma privada, ambas localizadas na cidade de Fortaleza - CE, nos meses de maio e junho de 2012. Participaram 60 adolescentes, sendo 30 da escola pública e 30 da privada.

A pesquisadora compareceu aos campos para obter autorização das respectivas direções, mediante entrega de cópia do parecer de aprovação do Comitê de Ética.

Após esta autorização, foi feita a ambientação com visitas aos adolescentes em sala de aula, explicando-lhes os objetivos e a metodologia da pesquisa. Buscou- se nessas visitas a compreensão de todos no tocante ao retorno do documento de autorização dos pais, deixando claro que sem o referido documento não seria possível a participação na pesquisa. Foi-lhes entregue a documentação para autorização dos pais, o termo de consentimento livre e esclarecido para os maiores de 18 anos e o termo de assentimento para os menores.

As entrevistas foram realizadas de forma individual em sala designada para a pesquisa pelos diretores das respectivas escolas, e os adolescentes que receberam o termo de autorização dos responsáveis assinado e que aceitaram participar da pesquisa foram convidados para a coleta de dados nos momentos de não ocorrência de aulas ou quando os mesmos estavam fora de sala de aula, em tempo livre.

Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada, cujo instrumento continha duas partes: a primeira constitui-se do levantamento de dados sociodemográficos dos participantes (sexo, idade, ano do curso no ensino médio, renda familiar, local de moradia e, ainda, se residia com idosos).

Conhecer os participantes e como eles se inserem em um determinado contexto e nos grupos sociais é relevante para os estudos das representações sociais, uma vez que essas se sustentam nos grupos sociais, nas suas formas de explicar o fenômeno. A segunda parte, da aplicação de questões referentes à velhice, explorando o que o adolescente pensava sobre a velhice e suas ações frente ao idoso.

As entrevistas foram gravadas digitalmente e logo depois transcritas, para preservar a fidedignidade das falas. O tempo para cada entrevista foi, em média, de 20 minutos. Os dados referentes à comunicação não verbal, tais como: silêncio, fácies de dúvida, mexer no cabelo, risos entre outros aspectos, foram registrados em diário de campo e serviram para complementar as discussões.

A escolha pela entrevista como técnica de coleta de dados se justifica porque possibilita ao investigador descobrir pontos de vista sobre os fatos sociais da realidade da vida cotidiana, que se constrói e se transforma nas relações intergrupais. O roteiro semiestruturado aplicado à pesquisa de representações sociais deve ter questões que abordem o fenômeno, avançando na exploração de seus aspectos particulares e concretos até o geral e abstrato, possibilitando a exposição de conteúdos com informações, imagens, mitos, crenças, opiniões e características tipificadoras do fenômeno investigado. Nesta pesquisa explorou- se o envelhecimento, a velhice e idoso, os afetos e a dimensão das práticas e das ações dos adolescentes frente ao fenômeno(7).

Captar a dimensão prática nos estudos de representações sociais é importante porque elas são construções sociais de conhecimento que se originam nas conversações interindividuais ou intergrupais, sendo sempre uma unidade do que as pessoas pensam e do modo como o fazem(4-5).

Tabela 1 Distribuição dos adolescentes de escola privada e pública, segundo sexo, idade, religião e renda familiar. Fortaleza, 2012  Itens Escola Privada EscolaPública Total f % f % f % Sexo              Feminino 22 73,3 15 50,0 37 61,7  Masculino 8 26,7 15 50,0 23 38,3 Idade              14 -16 anos 21 70,0 9 30,0 30 50,0  17- 19 anos 9 30,0 21 70,0 30 50,0 Religião              Católica 22 73,3 14 46,7 36 60,0  Evangélica 3 10,0 9 30,0 12 20,0  Espírita 2 6,7 5 16,6 7 11,7  Não possui 3 10,0 2 6,7 5 8,3 Renda Familiar              1-3 sm* 7 23,3 26 86,6 33 55,0  4-6 sm 10 33,3 2 6,7 12 20,0  7-9 sm 3 10,0 - - 3 5,0  10-12 sm 1 3,4 - - 1 1,7  13-15 sm 2 6,7 - - 2 3,3  Não sabe 7 23,3 2 6,7 9 15,0 *sm = salário mínimo, equivalente a R$622,00.

Os dados sociodemográficos dos adolescentes foram submetidos a tratamento estatísticos por frequência simples e percentual, e organizados em tabelas. Os dados resultantes das entrevistas foram submetidos à análise de conteúdo temática, considerada como um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens(8).

A análise consistiu nas etapas que se seguem: A pré-análise ocorreu com a leitura flutuante do corpus, de forma livre, de modo a identificar as categorias em potencial para posterior levantamento, ou seja, preparação do material; A exploração do material correspondeu à decomposição do corpus, com recorte, inventário, categorização, codificação e descrição das categorias. A composição da unidade de análise consistiu no momento de imersão e definição das categorias emergentes (empíricas) a partir da decomposição do corpus, seguindo-se sua codificação. Nessa pesquisa foram definidas as seguintes unidades de análise: a frase como unidade de registro (UR) e o parágrafo como unidade de contexto. O tratamento e interpretação dos resultados obtidos obedeceu às fases de significância dos temas e inferência sobre os mesmos(8).

Por fim, os resultados da análise foram discutidos com base na TRS, bem como na literatura vigente sobre velhice e pessoa idosa.

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (CEP/UECE), sendo aprovado sob o 11223077-6, ano 2011.

RESULTADOS Caracterização dos participantes Durante o período investigado havia um total de 2000 adolescentes matriculados nas escolas estudadas, sendo 500 adolescentes da privada, 1500 da pública, destes 60 participaram, o que equivaleu a 3% do universo de adolescentes encontrados.

Quanto ao sexo, houve a prevalência de indivíduos do sexo feminino, com 61,7%, enquanto 38,3% são do sexo masculino. Na categoria estudantes de escola privada, 73,3% dos participantes são do sexo feminino e 26,7% do sexo masculino. na categoria estudante de escola pública a divisão entre os sexos foi equivalente, 50% para cada sexo.

O grupo estudado constitui-se de 60 adolescentes, com amplitude de idade entre de 14 aos 19 anos, sendo a maioria de 14 a 16 anos para a escola privada e 17 a 19 anos para os da escola pública. Em relação à religião, 73,3% são católicos, especialmente aqueles da escola privada. Os adolescentes da escola pública apresentaram maior variabilidade nas religiões, porém predominou a católica, com 46,7%.

Quanto à renda familiar mensal verifica-se uma variedade. Famílias recebem de um a 15 salários mínimos, considerando os cenários de estudo para aqueles que estudam na escola privada, predominou de quatro a seis salários, com 33,3%, para um a três salários dos que estudavam na pública, com 26%.

Categorias Temáticas Com a aplicação da técnica de análise de conteúdo apreendeu-se um total de 90 unidades de registro, constituindo três categorias e 12 subcategorias.

A categoria 1 concentra maior número de subcategorias e de unidades de registro, possibilitando o detalhamento percentual de seus dados, a partir das respostas dos adolescentes das escolas investigados.

A categoria 1 é composta por oito subcategorias: memórias de vida, fato positivo da vida, fase natural da vida, momento de dificuldades, período de descanso, ser dono de si, finitude e infantilização, com um total de 78 UR.

Identifica-se entre os adolescentes da escola pública (AEPu) que maior diversidade de conteúdo linguístico, visto que somente em suas falas identificou-se as subcategorias: dono de si, finitude e infantilização em relação aos adolescentes que estudam em escola privada (AEPr).

Na categoria 2, denominada tratamento dado ao idoso obteve-se duas subcategorias:exigência de bom tratamento e desvalorização do idoso, com um total de nove UR, o que representa 10% do total das unidades. Na primeira subcategoria, das quatro UR, três foram de falas do grupo de AEPr e uma daqueles AEPu; na segunda categoria referida, uma UR para AEPae quatro para AEPu. Embora em menor número, esta categoria reflete a preocupação dos entrevistados com a forma com que os idosos estão sendo tratados em seu meio social.

A categoria 3, reconhecimento de si como sujeito em processo de envelhecimento, foi formada apenas com o discurso dos adolescentes do escola privada, na qual selecionou-se uma UR para a subcategoriameu futuro e duas UR para a subcategoria negação da velhice.

Reconhece-se, a partir do perfil demográfico, que os adolescentes da escola privada pertencem a famílias que têm renda familiar mais favorável em relação a escola pública, por isso existe a preocupação com as condições profissionais e financeiras no futuro, revelando a incidência de aspectos socioculturais nas representações sociais.

DISCUSSÃO Representações sobre velhice Esta categoria engloba as unidades de análise temáticas nas quais os participantes descrevem seus conhecimentos, ideias e opiniões acerca da velhice. Estas estão ancoradas no convívio com o idoso na família ou na comunidade, pela influência da mídia, da escola, do comércio e do meio social em que frequenta, ou seja, no movimento do senso comum. Neste sentido, compreende-se que o senso comum está continuamente sendo criado e re-criado em nossa sociedade, especialmente, onde o conhecimento científico e tecnológico está popularizado(9).

Os adolescentes representam a velhice como uma fase natural e positiva da vida, visto que é uma fase em que a pessoa é dona de si e possui autonomia. Para esses adolescentes a velhice é representada por um tempo de recordações e memórias do passado, é um período de descanso, mas ao mesmo tempo uma fase de vida em que se enfrenta muitas dificuldades, a finitude e proximidade com a morte.

Na subcategoria memórias de vida revela-se que os adolescentes elaboram ideias sobre a velhice por meio da experiência partilhada com idosos residentes no mesmo domicílio pelo diálogo, trocas de conhecimentos e a história de vida do idoso. Assim, tendem a associar a velhice com memória de vida que pode ser apreendida pelo discurso acerca das experiências relatadas pelos seus avós ou, ainda, pelo reconhecimento das conquistas e ensinamentos vivenciados pelos idosos, no contexto familiar. Seus relatos de conhecimento e sabedoria partilhados e ensinados para os mais jovens pode transformar suas ideias sobre a velhice(9).

Pode-se pensar que a experiência e a sabedoria adquiridas ao longo dos anos fazem dos idosos referenciais importantes tanto para os jovens quanto para a sociedade em geral, que acabam por ser desconsiderados ou renegados ao esquecimento, diante de uma sociedade que valoriza apenas o presente, o novo e o transitório(3).

A velhice é o período em que ocorrem os declínios físicos inerentes à idade e o idoso busca o equilíbrio entre as limitações e potencialidades para utilizar e otimizar suas habilidades e capacidades para vivenciar esta etapa da vida objetivado na fala dos adolescente como fato positivo da vida.

As representações sociais serão formadas e compartilhadas na comunicação travada na interação social cotidiana e todos os ocupantes desse universo são participantes ativos na construção deste conhecimento (as representações sociais). O meio onde os adolescentes convivem influenciam nas suas representações de maneira dinâmica(3).

Dentre a diversidade dos depoimentos, destaque para as 12 UR que colocaram a velhice como uma fase positiva, especialmente, para os adolescentes da escola privada com nove destas 12 UR, situação influenciada também pelas condições sociais que estes adolescentes vivem. Esse evento pode ser explicado pela condição financeira, o que torna a velhice mais fácil de ser encarada. Essa representação da velhice determina também o tipo de relação que a família, célula dessa sociedade, estabelecerá com seus idosos.

Pode-se afirmar que a simbologia das representações sociais determina a forma como a sociedade encara o processo de envelhecimento, o valor dado ao indivíduo que envelhece e ao velho, que se explicam pela subcategoria fase natural da vida. Igualmente pontuada pelos dois grupos estudados e que revelam a velhice como processo natural da vida de todo ser humano, sendo entendida como algo inevitável e passivamente aceita. Reconhecem os adolescentes que a velhice é uma fase natural da vida da qual a pessoas não conseguem escapar, mesmo com toda evolução científica e tecnológica. Objetivam que o ser humano nasce, cresce, amadurece, envelhece e morre.

Aponta, ainda, a velhice marcada por momentos de dificuldades, nessa subcategoria os discursos mostram noções, ideias e opiniões de que a velhice é fato ruim, visto que eles a ancoram nas doenças e perdas físicas e sociais. A ancoragem é um processo de enraizamento, um porto seguro para a representação e seu objeto. Através da classificação e da nomeação, o objeto antes estranho, inexistente e ameaçador é ancorado, ou seja, é categorizado(4).

A velhice deve ser compreendida em sua totalidade, pois além de um fato biológico, é um fato cultural. Por vezes, é vista como um acontecimento ruim, mesmo para as pessoas bem sucedidas, uma vez que a decadência física posta por ela salta aos olhos, visto que o ser humano apresenta as mudanças impostas pelo avanço da idade(10). Por esse motivo os adolescentes consideram que é também um período de descanso.

Neste sentido, os AEPu tomaram a dianteira nesse pensar destacados em suas falas que caracterizavam a velhice como um momento dedicado ao descanso do corpo e da alma, traduzido por eles como período de descanso. Esta subcategoria reflete o reconhecimento dos estudantes pelo trabalho dos idosos dedicado a sociedade. Embora a mídia divulgue a necessidade de participação ativa e social dos idosos, os adolescentes em suas experiências e realidades, bem como o contato com os mais velhos, observam que o idoso se mantém trabalhando para proporcionar melhores condições de vida aos seus familiares. Os adolescentes reconhecem que na velhice o corpo necessita de repouso, pelas muitas atividades realizadas. Verifica-se, portanto, que as representações são perpassadas por aspectos tanto cognitivos, quanto afetivos, assumindo uma característica atributiva, à medida que influencia, organiza ou determina cognições ou comportamentos avaliativos(9).

As representações sociais se formam e são compartilhadas na comunicação travada na interação social cotidiana e todos os ocupantes desse universo são participantes ativos na construção deste conhecimento(4). Neste ínterim, observa-se que as três subcategorias, dono de si, finitude e infantilização foram criadas a partir das respostas de apenas adolescentes da escola pública, demonstrando que os processos constitutivos das representações na sociedade contemporânea são multifacetados. Assim, um mesmo objeto pode ter representações infinitas, dependendo do grupo de pertença do sujeito, visto que a sociedade atual tem uma identidade polímera(2).

Quando os adolescentes falam sobre a independência e que ser dono de si, as consideram como características naturais e peculiares que a velhice proporciona às pessoas, mostra que construiu representações fundamentadas em imagens e significados que apontam uma dinâmica entre presente e futuro, pois sua fase atual, da adolescência, é marcada pela dependência dos pais, logo, ele projeta na velhice o momento em que será livre, que não precisará dar satisfações a ninguém. A dependência, a dedicação à família e o cuidado ao outro, vividos no passado, juventude/adulto, são substituídos no presente, velhice, por situações de saúde que os levam a cuidar de si. Ao contrário do que poderia sugerir; a velhice traz uma independência e uma dedicação a si jamais experimentadas(11).

Os adolescentes também relacionaram a velhice à morte, pois segundo eles a velhice não tem mais sentido, a não ser morrer. Partilhar consensualmente desse significado, familiarizando-se da velhice por meio do sentido da morte prejudica a imagem da velhice e do idoso e do próprio processo de envelhecimento entre os adolescentes. No processo de representar, o universo consensual é aquele em que cada um de nós busca se sentir em casa, protegido de discordâncias, incompatibilidades e incoerências(4). Por outro lado, a novidade é aceita para dinamizar, avivar e renovar o diálogo, as conversações. Aquilo que é familiar serve como ponto de referência preferido, servindo como base de comparação com tudo o que ocorre e é observado.

Além de relacionar a velhice ao fim da vida, os adolescentes citaram uma forma de violência difícil de ser reconhecida, mas presente na sociedade, que é a infantilização do idoso. Dizer que chegar a velhice é voltar a ser criança ou tratar o idoso como uma criança, mesmo praticando este tratamento em nome do carinho e do bem cuidar é uma forma de privar o idoso da possibilidade de comandar sua própria vida e, ainda, de reconhecê-lo como cidadão e dono de sua própria história. Tal fato é observado no excesso de zelo que o paralisam, tratando-o com uma benevolência irônica, falando-lhe em linguagem infantil, e até mesmo trocando, por trás dele, olhares de entendimento(3).

Tratamento dado ao idoso Esta categoria aborda o trato que o idoso merece ou recebe da sociedade, traduzindo o reconhecimento dos adolescentes sobre o direito de que todas as pessoas têm ao bom trato, que traduz respeito e educação social. O não respeito a isso é visto por eles como desvalorização do idoso, indicando ser estes os elementos que compõem esta categoria um bom caminho de investimento para se trabalhar a cidadania do idoso junto aos adolescentes e também a sua humanização, uma vez que o bom trato guarda relações com os aspectos humanizadores das relações sócio-pessoais e também profissionais(12).

Como mostrado na Tabela_2, esta categoria teve nove UR, as quais versaram sobre a preocupação do adolescente com a forma que o idoso vem sendo tratado na sociedade em que ele vive. Como afirma a TRS, os indivíduos e grupos são pensadores ativos, autônomos, produzem e comunicam suas representações no seu meio social, e com isso influenciam decisivamente suas relações na vida diária.

Tabela 2 Distribuição das categorias e subcategorias sobre velhice elaboradas por adolescentes de escola privada e pública. Fortaleza-CE, 2012  Categorias Subcategorias CodificaçãNº de unidades de registro 1) Representações sobre velhice - 1. Memórias de vida MV - 19 RSV - 78 RSV   2. Fato positivo da FPV - 12   vida   3. Fase natural da FNV - 18   vida   4. Momento de MD - 16   dificuldades   5. Período de descanso PD - 5     6. Dono de si DS - 3     7. Finitude F - 4     8. Infantilização I - 1   2) Tratamento dado ao idoso -TDI 1. Exigência de bom EBT - 4 TDI - 9 tratamento   2. Desvalorização do DI - 5   idoso 3) Reconhecimento de Si como 1. Meu futuro MF - 1 RCSPE - 3 sujeito em processo de 2. Negação da velhice NV - 2   envelhecimento (RSSPE) Tabela 3 Distribuição numérica e percentual das subcategorias apreendidas na categoria 1 sobre velhice, elaboradas por adolescentes de escola privada e pública. Fortaleza-CE, 2012  Subcategorias ESTUDANTES AEPu* AEPr** Total   n % n % n % Total 38 100,0 40 100,0 78 100,0 Memórias de vida 8 21,0 11 27,5 19 24,4 Fato positivo da vida 3 7,9 9 22,5 12 15,5 Fase natural da vida 9 23,8 9 22,5 18 23,0 Momento de dificuldades 6 15,8 10 25,0 16 20,5 Período de descanso 4 10,5 1 2,5 5 6,4 Ser dono de si 3 7,9 - - 3 3,9 Finitude 4 10,5 - - 4 5,1 Infantilização 1 2,6 - - 1 1,2 *AEPu: adolescente de escola pública **AEPr: adolescentes de escola privada A subcategoria exigência de bom tratamento obteve maior número de registros pelos AEPr, em virtude das inúmeras vezes que lhe foi ensinado, em casa e na escola, sobre o respeito que se deve ter aos mais velhos. O bom tratamento atribuído ao idoso diz respeito à consideração que estes adolescentes sentem pelos idosos, contribui no combate ao preconceito etário e proporcionam o entendimento entre as diferentes gerações. Tal evento pode ser marcadamente visto pela religião católica fortemente presente nesse grupo de adolescentes da escola privada.

O art. , título I, do Estatuto do Idoso discute sobre a obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público no assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, ao respeito e à convivência familiar e comunitária(13). Quando as políticas de defesa do idoso não são atendidas pela sociedade, automaticamente ocorre o desrespeito e a desvalorização ao idoso ,subcategoria que obteve cinco UR e quatro destas advindas de estudantes da escola pública. Tal evento demonstra que esse grupo de adolescentes presencia no cotidiano tal desvalorização, citado por eles, na concretização de atos exemplificados como a não liberação, pelos mais jovens, de assentos prioritários nos ônibus, a dificuldade de acessibilidade na cidade, o baixo valor da aposentadoria, as longas filas de espera para atendimento e o desconhecimento da sociedade dos direitos dos idosos. Fatos que influenciam os mais jovens e objetivam atitudes negativas acerca da velhice.

A velhice, mesmo distante para os adolescentes, constitui um tema que reporta as pessoas a sentimentos e pensamentos que envolvem questões temidas por muitos: a passagem do tempo, doenças, limitações, morte, perdas, solidão e, assim, se torna um assunto que causa certa resistência e temor(14). É, hoje, uma realidade que não pode ser ignorada na maioria das sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento, tornando-se temática relevante do ponto de vista científico e de políticas públicas, mobilizando pesquisadores e promotores de políticas sociais, na discussão do desafio que a longevidade humana está colocando para as sociedades(15).

A sociedade industrial é maléfica para a velhice. [...] a sociedade rejeita o velho, não oferece nenhuma sobrevivência a sua obra e perdendo a força de trabalho ele não é produtor nem reprodutor. Apenas suas propriedades e acumulação de bens, defendem-no da desvalorização de sua pessoa(16).

Desta forma, o declínio funcional torna o idoso mais suscetível a novas alterações na saúde, comprometendo ainda mais sua independência. O delineamento deste contexto denota a relevância do assunto uma vez que a questão do envelhecimento deve ser tratada como um problema em razão de sua frequência, morbidade e do alto custo para os serviços de saúde, essa representação é disseminada pelos grupos sociais(17).

Reconhecimento de si como sujeito em processo de envelhecimento Nesta categoria os adolescentes trazem as representações de si, visualizando-se como sujeito que envelhece. Assim, ao pensar em velhice eles se autorrepresentam como alguém que envelhece e que no futuro se encontrará com o destino inevitável de "ser/estar velho".

Esta categoria agrega duas subcategorias contrárias: meu futuro e negação da velhice. As representações dessa categoria emergiram apenas das falas do grupo de adolescentes da escola privada. Esse grupo entende que se deve aproveitar o presente e usufruir das boas condições financeiras que seus responsáveis oferecem e negam a possibilidade de discutir a velhice, prezam tão-somente no meu futuro. Percebeu-se a partir desta subcategoria que o adolescente da escola privada está mais preocupado com seu futuro, sua profissionalização, constituição familiar e principalmente com sua condição financeira. Para eles o presente é objeto de constante questionamento, enquanto seus investimentos subjetivos são potencialmente capitalizados para o futuro.

O adolescente vive no campo das virtualidades, o que o move à reflexão acerca do que pode vir a ser, buscando integrar suas experiências passadas, desenvolvendo a consciência de ser autor de seu próprio destino(3). Nesse sentido, não se identificam na velhice. Nas falas objetivam que a velhice não é desejada por eles, porém, nos outros parece interessante pelas características apresentadas.

Os participantes deste estudo não se reportam a velhice como algo da vida. A velhice somente é vista no outro, no mais velho, que concretiza as características negativas de velhice, objetivando a velhice num grupo específico, diferente daquele de que faz parte. Neste contexto percebe-se também a negação da velhice.

Foram apenas duas UR para a subcategoria em questão, o que corresponde a 2,6% do total, porém é importante que se-jam pontuadas as dissonâncias e particularidades, pois a construção da representação do objeto, a velhice, está sendo elucidada diante de uma abordagem psicossociológica dos sujeitos adolescentes, e isto implica em valorizar o pensamento dos sujeitos que vivem aquele momento.

A velhice é associada a doenças, fraqueza, fragilidade e, aliados a essas perdas, ocorre a negação e o medo que os adolescentes têm dessa etapa da vida, pois quando questionados se queriam chegar à velhice, relataram não querer ficar velho ou ter medo da velhice, em virtude das limitações que ocorrem ao longo desse processo, o que se caracterizou como a negação da velhice. Tais manifestações foram percebidas por meio de risos, desvio de olhares e uso de expressões confirmativas por parte dos adolescentes, como , na tentativa de obter a aderência do entrevistador às suas afirmações.

Para eles a velhice é uma fase difícil, por conta dos preconceitos e rejeição que as pessoas sofrem. É o momento em que a pessoa se depara com a morte, a perda de pessoas queridas e a perda do trabalho e das relações que ele propiciava(11). Identificou-se que ao falarem sobre as características negativas do envelhecimento, os adolescentes manifestavam certo desconforto por meio do silêncio, passagem das mãos pelos cabelos e/ou do desvio de olhar.

Os adolescentes veem aspectos positivos e negativos na velhice, sendo os positivos manifestados quando dizem respeito a conseguir passar por tantos anos e dificuldades e continua-rem vivendo, ter mais experiência, acumular coisas boas e ter recordação do que passou e mais calma para viver. Aspectos positivos repousam no pensamento de que a velhice deve ser vivida como momento de descanso e de se aproveitar, de colher aquilo que a pessoa semeou, plantou durante sua vida.

Em relação aos aspectos negativos, estes estão ligados à debilidade física, doenças, fragilidade, não ter a mesma disposição que outrora e a proximidade da morte. A fragilidade do ser humano acometido por alguma doença, e dependente de outro, potencializa ainda mais a dificuldade de tomar decisões autônomas e deposita nos provedores do cuidado a responsabilidade de ver esse sujeito como pessoa com necessidades, valores, experiências e intenções próprias(10).

CONSIDERAÇÕES FINAIS As representações da velhice para os adolescentes se organizam baseadas em elementos que a consideram como uma fase natural da vida, em que o idoso deve ter o descanso merecido em face da trajetória vivida. Traz aspectos positivos e negativos, sendo o positivo traduzido pela independência (ser dono de si) e os negativos pela finitude. A independência, finitude e características de infantilização do idoso estão presentes nas representações dos adolescentes da escola privada, sendo esta uma diferença importante entre os dois grupos.

Outro aspecto interessante do estudo é que somente os adolescentes da escola privada falaram sobre si na velhice, reconhecendo-se como sujeito nesse processo, mas abordando-a como algo para o futuro, ou seja, houve uma negação em relação a si e reconhecimento acerca da velhice do outro. Nesse contexto, as preocupações foram relativas às questões financeiras para o próprio sustento e de suas famílias. A negação retratou o medo de viver com limitações, em face do declínio biológico e das doenças que podem ocorrer nesta fase.

Viver com idosos fez com que os adolescentes estabelecessem intercâmbio de conhecimentos e conhecessem suas histórias de vida, contribuindo para aproximar as gerações, o que influencia na construção de suas representações, sendo esta uma importante faceta das representações de adolescentes que conviviam com pessoas idosas em seus domicílios.

Os dois grupos de adolescentes mostraram preocupações com o tratamento que é dado aos idosos na sociedade, haja vista que este foi um elemento que incidiu em suas representações. Se por um lado eles consideram que os idosos precisam ser bem tratados, por outro observam que desvalorização em relação a sua pessoa.

Houve tendência majoritária de discursos com elementos positivos sobre a velhice, nos conteúdos de representações produzidas por adolescentes da escola privada, podendo ser indicativo de que a situação financeira na velhice influa nas condições do envelhecimento, diminuindo algumas das dificuldades enfrentadas pelos idosos mais carentes.

A representação social da velhice não se configura uma representação social autônoma, mas dependente da representação social do idoso, ambas imbricadas de tal forma que muitos participantes quase não conseguiram distingui-las. Sem dúvida, é mais fácil compor uma definição sobre o idoso do que sobre a velhice, na medida em que aquele assume um caráter mais concreto, real, visível, que define e objetiva as características que a velhice assume, sendo mais fácil formar concepções dele do que da velhice, que é algo abstrato, que diz respeito a uma categoria criada socialmente para se demarcar o período em que as pessoas ficam mais envelhecidas.

Apesar de atualmente as questões sobre a velhice serem mais bem difundidas na sociedade, a análise das representações sociais nos apresentou um panorama não muito animador de como se configura o envelhecimento para aqueles se-res que ainda viverão este processo, visto que ainda possuem uma formação pessoal enraizada de preconceitos e de valores negativos sobre a velhice. Sendo assim, cabe à Enfermagem, como prática social, ser parceira, junto às escolas, na perspectiva de uma educação gerontológica, buscando sensibilizar os adolescentes por meio da reflexão-ação sobre sua vida e seu curso natural, de forma a construir novas ideias e significados para velhice. Com isso, a Enfermagem pode contribuir para uma melhor compreensão dos processos relacionais entre as gerações, ajudando a enfrentar e superar preconceitos e desvalorização da velhice e do idoso.

Os processos constitutivos das RS são bastante complexos e a sequencia de pensamentos dos adolescentes trazem conceitos plurais, mas, mesmo existindo várias acepções (umas mais aproximadas, outras nem tanto) é possível identificá-las como sendo: dinâmicas, explicativas; abarcando aspectos culturais, cognitivos e valorativos; possuindo dimensão histórica e transformadora.

Os processos de objetivação e ancoragem dão origem às representações sociais e, ao tornarem o estranho familiar, favorecem também o estabelecimento de elementos comuns ao grupo. Na análise da ancoragem social do posicionamento dos adolescentes, estes mostraram explicações ético-morais para a questão do envelhecimento, havendo um código comum que permite a comunicação entre os membros de um mesmo grupo, favorecendo a (re)construção coletiva da realidade social e proporcionando o posicionamento do sujeito diante do universo social de forma a dominar o mundo com o qual interage. Essas características das representações sociais colaboram na sua conceituação e objetivação.

O estudo tem limitações relativas à sua abrangência e amplitude, uma vez que a amostragem foi de somente 30 adolescentes de cada escola de uma dada cidade do nordeste do Brasil. Em face disso, outros estudos devem ser realizados com maior número participantes e também com comparações entre regiões, de modo que se possa captar nuances características das diversas realidades socioculturais sobre o fenômeno da velhice.

Portanto, a tentativa de apreender as representações sociais da velhice sob a ótica dos adolescentes não se encerra com esta pesquisa, mas entende-se que os resultados aqui mostrados possam servir de subsídios para outras voltadas ao mesmo objeto.


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