Idosos em situação de rua ou vulnerabilidade social: facilidades e dificuldades
no uso de ferramentas computacionais
INTRODUÇÃO
As circunstâncias que levam um indivíduo à situação de rua são múltiplas,
dentre as quais são prevalentes o desamparo, os desafetos familiares, as
enfermidades, a perda de atividade laboral. A maneira como os moradores de rua
sobrevivem, também são diferentes, e se configuram como trabalhos
diversificados e precários. O único fator comum a todos, e que os unifica em um
mesmo grupo social é a situação de rua que os expõe ao perigo e a condição sub-
humana em que vivem(1).
A sucessão dos dias na rua faz com que o idoso vivencie um processo progressivo
de perdas que interferem expressivamente em questões ligadas à autoestima,
autonomia, independência, saúde mental e qualidade de vida, por ter que
depender de instituições assistenciais para realizar sua higiene pessoal,
conseguir o mínimo necessário de alimentos e, consequentemente, a manutenção da
saúde(2).
Dentro dessa perspectiva de intervenção, as organizações não governamentais e
as instituições de assistência social, desempenham um papel fundamental na
tentativa de tirar o idoso da situação de rua ou vulnerabilidade social e
reinseri-lo na sociedade, devolvendo assim sua dignidade e autoestima.
A vulnerabilidade e desigualdade social no Brasil são realidades prementes,
pois existe uma carência de serviços essenciais, relacionados à saúde e
assistência social, voltados para os idosos. Nessa perspectiva, percebe-se que
o desenvolvimento de políticas públicas com vistas ao incremento do
envelhecimento ativo e da qualidade de vida dos idosos ainda é incipiente, fato
que leva à necessidade de empreendimentos por parte das organizações não
governamentais, dos profissionais das mais diversas áreas e da comunidade(3).
Fugir do assistencialismo e promover a reintegração da população de rua na
sociedade, objetivando assim a autonomia e independência social, implica em
valorização do ser humano, melhoria da qualidade de vida, resgate da dignidade
e da autoestima. Para que isso aconteça de forma efetiva, é necessário realizar
estudos e, a partir das evidências, desenvolver e implementar políticas
públicas pautadas nessa realidade.
Existem poucos estudos desenvolvidos por enfermeiros abarcando a temática do
idoso em situação de rua, sendo, portanto, necessário que se estimule a
inserção desse profissional em atividades de assistência e cuidado a esses
indivíduos. Essa vivência por parte dos enfermeiros exigirá um aporte teórico
consistente, fazendo emergir assim, a necessidade de se desenvolver pesquisas
que fundamentem a prestação de cuidados apropriados à realidade do morador de
rua(2).
Em um estudo de revisão bibliográfica(4) cujo escopo foi identificar a produção
cientifica de enfermagem relacionada à temática do idoso, os autores
identificaram maior prevalência de pesquisas relacionadas às necessidades do
idoso no espaço hospitalar, onde predominam as investigações com foco na
assistência curativa e poucas pesquisas relacionadas à promoção da saúde e
prevenção das doenças. Ficou evidente nessa revisão a necessidade de ampliar os
estudos que envolvam o idoso, sua autonomia e independência do ponto de vista
do processo de cuidar na Enfermagem na perspectiva da promoção da saúde e do
alcance da qualidade de vida na velhice.
A falta de estudos sobre o contexto em que vivem os idosos em situação de rua e
a falta de informações sobre as características sociodemográficas dessa
população, como um fenômeno social, representa uma lacuna na literatura. Esse
fenômeno precisa ser alvo de estudos, pois traz em seu bojo a realidade da
mudança do perfil demográfico e os problemas para reinserir a população de rua
na sociedade, os desajustes na estrutura econômica, a diminuição da oferta de
postos de trabalho, mão de obra especializada e o desprezo da sociedade pelo
homem como sujeito de direitos(2).
O aumento da população de rua faz emergir a necessidade de estudos voltados
para as condições em que vivem esses grupos, seus arquétipos socioculturais, as
crenças, os costumes, forma de sobrevivência, e assim, pensar sobre as
possibilidades de intervenção por parte de profissionais de diversas áreas que
se ocupam dessas questões, como os educadores, os assistentes sociais e
profissionais da saúde(3). Dentre os profissionais de saúde, destacamos
particularmente a atuação do enfermeiro, eixo principal para suporte do
cuidado.
O enfermeiro tem um papel importante no atendimento ao idoso, principalmente
nas questões gerontológicas, com a efetivação da assistência, por meio de
ferramentas computacionais e o uso do computador para acompanhamento e
orientação dessa população de maneira remota. Essas ferramentas permitem criar
ambientes que podem ser usados no combate à exclusão social dos idosos, uma vez
que possibilitam o aprendizado contínuo, a difusão e transferência de
informações e conhecimentos(5).
Diante do exposto, entendemos que desfrutar dos benefícios oferecidos pelas
instituições assistências é um subterfúgio para minimizar a dura realidade
vivida pelos idosos, a qual caracteriza a vulnerabilidade da rua. Essa
realidade vivida por muitos idosos carece de investigação e intervenção por
parte dos enfermeiros. Assim, consideramos relevante identificar as facilidades
e dificuldades encontradas por idosos em situação de rua ou vulnerabilidade
social, no uso do computador ou internet.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo qualitativo do tipo exploratório. A pesquisa exploratória
visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo
explícito ou construir hipóteses(6). Assim sendo, pode envolver levantamento
bibliográfico, entrevistas com pessoas que têm experiências práticas com o
problema pesquisado, pesquisa bibliográfica ou estudo de caso(6).
O local de estudo foi uma Organização não Governamental (OnG) situada na região
do Brás, na cidade de São Paulo-SP. A Instituição agrega várias casas, dentre
elas a Unidade onde o estudo foi realizado, a qual atende idosos do sexo
masculino, em situação de rua e vulnerabilidade social com o objetivo de
prepará-los para a autonomia pessoal e social.
O estudo foi realizado com cinco idosos e o número de sujeitos participantes
foi determinado pelos seguintes critérios de inclusão: apresentar sessenta anos
ou mais; fazer uso do computador e/ou internet; estar presente no dia da coleta
de dados e concordar em participar do estudo assinando o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista, a partir da pergunta
norteadora "Descreva as facilidades e dificuldades encontradas quando usa o
computador ou internet". Para a entrevista solicitamos a autorização para que a
mesma fosse gravada, sendo posteriormente transcrita e analisada.
Os dados foram analisados utilizando-se a técnica de Análise de Conteúdo, que é
um conjunto de instrumentos metodológicos que se aplicam aos "discursos" mais
diversos e têm como meta a indução, a dedução e a conclusão(7).
Para garantir o anonimato dos participantes, na apresentação dos dados, eles
foram identificados com numerais sequenciais de 1 (um) a 5 (cinco). Os recortes
do discurso de cada sujeito foram codificados sequencialmente a partir do
número 1 (um) precedido por um ponto. E as facilidades e dificuldades foram
respectivamente identificadas com as siglas Fac. e Dif. Desta maneira, os
recortes dos discursos relativos às facilidades estão identificados com a sigla
"Fac." e as dificuldades com a sigla "Dif.", o primeiro numeral após a sigla
corresponde ao sujeito e o segundo numeral precedido pelo ponto corresponde ao
recorte do discurso.
Da análise dos discursos emergiram duas categorias relacionadas àsfacilidades
sendo elas: Categoria 1: Esclarecendo dúvidas; Categoria 2: Interagindo com a
máquina e usando ferramentas digitais; Subcategoria 1: Usando programas e
dispositivos; Subcategoria 2: Navegando na internet. Em relação às dificuldades
emergiram três categorias nominadas: Categoria 1: Limitação física ou
cognitiva; Categoria 2: Ausência de instrutor; Categoria 3: Falta de
conhecimento para interagir com a máquina e usar ferramentas digitais.
O projeto deste estudo é um desmembramento do projeto principal intitulado
"Tecnologia e qualidade de vida do idoso", submetido ao Comitê de Ética e
Pesquisa da Universidade Cidade de São Paulo - UNICID, tendo sido aprovado em
07 de abril de 2010, Protocolo n° 13496882 CAAE 0012.0.186.000-10, seguindo
assim as recomendações de Resolução do Conselho Nacional de Saúde, quando se
pesquisa com seres humanos.
RESULTADOS
A. Facilidades no uso do computador ou internet
Em relação às facilidades encontradas pelos idosos no uso do computador ou da
internet, emergiram dos discursos duas categorias, a categoria dois apresenta
duas subcategorias.
Categoria 1: Esclarecendo dúvidas
Após o agrupamento dos discursos pudemos observar que alguns deles convergiam
para o mesmo ponto, a facilidade para esclarecer dúvidas em relação ao uso do
computador ou acesso à internet facilitando assim a acessibilidade.
Dos discursos emergiram como facilitadores do processo de aprendizagem, o uso
de manuais e a presença de monitores, colaborando e esclarecendo as dúvidas,
enriquecendo o aprendizado e favorecendo a inclusão digital. Esses discursos
estão apresentados a seguir.
[...] eu vou entrar e não sei, então eu primeiro pesquiso, pergunto
para o técnico antes de entrar [...]. (Fac.1.1)
[...] eu não tenho muita dificuldade, e quando surge pergunto para o
técnico como, por exemplo: lidar com o teclado [...]. (Fac.1.7)
Sempre tem uma e outra pessoa que nos tira algumas duvidas, mas não é
uma pessoa específica [...]. (Fac.3.5)
[...] desde que eu tenho outras dificuldades tem um livro disponível
que posso consultar, no caso se tiver um instrutor eu peço uma
explicação e ele vem e me explica [...]. (Fac.2.3)
Categoria 2: Interagindo com a máquina e usando ferramentas digitais
Nesta categoria ficou evidente que quando o idoso é estimulado ocorre um
enriquecimento em sua aprendizagem, despertando-o para novas descobertas e
diferentes maneiras de trabalhar com o computador e com as ferramentas
digitais.
A curiosidade e a proatividade permitiram que os idosos trilhassem com mais
facilidade os caminhos para a inclusão digital. A comunicação por meio das
ferramentas eletrônicas foi considerada como de fácil interação e usabilidade.
Esses fenômenos emergiram da fala dos idosos e estão descritos abaixo.
Não tive muitas dificuldades porque eu tinha curiosidade de aprender
[...]. (Fac.3.1)
Não tenho dificuldades, hoje já domino. (Fac.3.6)
Eu aprendi a mexer no computador por conta própria, eu ia às empresas
e mexia e aprendi. (Fac.4.1)
[...] eu abro e fecho com segurança, os e-mails [...]. (Fac.1.5)
[...] receber e-mail eu achei fácil [...]. (Fac.2.1)
[...] mandar um e-mail também é fácil [...]. (Fac.2.2)
[...] sei escrever cartas [...]. (Fac.5.1)
[...]responder pesquisas que aparecem na internet [...]. (Fac.5.3)
[...] Hoje me comunico com meus dois filhos pelo Facebook [...].
(Fac.3.2)
[...] eu entro no Facebook [...]. (Fac.3.9)
[...] agora já aprendi um pouquinho. Então quando não sei alguma
coisa ou não entendo, entro no Google [...]. (Fac.3.3)
[...] sei entrar no Google tradutor pois na internet aparece vários
nomes e as vezes em inglês. (Fac.3.4)
Os discursos apresentados abaixo evidenciam a habilidade desenvolvida para
manusear o mouse, a capacidade de modificar o fundo de tela e aumentar o
tamanho da fonte no texto que será lido, demonstrando assim, destreza na
interação com a máquina e a superação de eventuais dificuldades de ordem física
ou cognitiva, impostas pelo processo de envelhecimento físico.
[...] não tenho dificuldades de mexer no mouse [...]. (Fac.5.4)
[...] sei colar fundo de tela [...]. (Fac.5.5)
[...] quando eu abro um site e tenho dificuldades com o tamanho da
letra eu vou lá e aumento [...]. (Fac.5.6)
[...] escolher o tamanho da letra, da folha que vai imprimir, no
cantinho e baixo e está escrito diminuir e aumentar a letra eu vou lá
e faço, ponho 100% e vou aumentando é bem fácil [...]. (Fac.5.7)
Subcategoria 1: Usando programas e dispositivos
A facilidade para abrir e fechar programas e dispositivos pode ser observada
nos discursos a seguir, evidenciando que uma vez aprendida ou desenvolvida a
nova habilidade, essas são plenamente incorporadas aos saberes e habilidades já
sedimentados, embora os idosos possam ter mais dificuldades ou ser mais lentos
para aprender coisas novas ou desenvolver novas habilidades. Os relatos dos
idosos encontram-se a seguir.
[...] todos os programas eu abro e fecho com segurança [...].
(Fac.1.4)
[...] sei ligar e desligar o computador com facilidade, sei tirar o
pen-drive, e faço legalzinho para não dar pane, não danificar o
computador [...]. (Fac.1.6)
As facilidades são ligar e desligar o computador, aguardar abrir,
certo que às vezes isso demora um pouco. [...]. (Fac.2.4)
[...] no inicio eu precisava marcar em uma folha de papel minha senha
que eu não conseguia gravar, não sabia como entrar no computador
tinha que marcar tudo no papel, até que hoje faço rapidinho.
(Fac.3.8)
[...] entrar em jogos [...]. (Fac.5.2)
Subcategoria 2: Navegando na internet
A subcategoria dois expressa a facilidade de alguns dos sujeitos para navegar
na internet, e demonstram no nosso entender que os idosos se apoderaram desse
conhecimento e fazem uso do mesmo para buscar textos para leitura e estudo, ler
jornal, com o intuito de se manter atualizados e fazer compras.
Consigo procurar textos [...]. (Fac.3.7)
As facilidades foram muitas, bastante, ler jornal, [...] estudo, se
quero saber alguma coisa eu vou direto e leio [...]. (Fac.1.2)
[...] pesquisa de compras [...]. (Fac.1.3)
B. Dificuldades no uso do computador ou internet
A partir dos discursos dos idosos foi possível identificar três categorias que
representam as dificuldades encontradas por eles no uso do computador ou
internet.
Categoria 1: Limitação física ou cognitiva
A idade avançada, a lentidão no processamento das informações e a diminuição na
capacidade de retê-las, se apresentam como um dificultador da aprendizagem,
suscitando um empenho maior e mais tempo de treinamento para acessar a internet
e as redes sociais. Esses momentos podem ser observados nas falas descritas a
seguir.
A dificuldade está mais mental, no caso a gente já está com certa
idade então fica mais difícil. (Dif.2.1)
[...] tem coisa que no caso você tem que treinar várias vezes [...].
(Dif.2.2)
[...] as maiores dificuldades que tive foram as gravações dos nomes
das redes sociais, porque não começa direto na internet, então tinha
dificuldade de gravar aqueles nomes e sites que tinha que entrar
[...]. (Dif.3.2)
Categoria 2: Ausência de instrutor
Na categoria dois emergiu como dificuldade, a falta de um instrutor para
orientar e auxiliar nos problemas de manuseio da máquina, no uso das
ferramentas digitais para fazer pesquisas. Esse momento pode ser observado nos
relatos abaixo.
[...] pois se eu não sei não vou mexer. (Dif.1.1)
[...] às vezes eu tinha acesso ao computador, mas não tinha uma pessoa para me
ensinar [...]. (Dif.3.1)
No momento estamos sem o professor que ficava nos orientando [...] agora
ficamos a maior parte do tempo só [...]. (Dif.3.3)
[...] então fico parado, pois não sei o que fazer e vou perguntar para quem,
não tem ninguém para ensinar. (Dif.3.13)
[...] a maior dificuldade é a falta de pessoas para nos auxiliar na hora de
mexer [...]. (Dif.4.1)
[...] falta de acompanhamento [...]. (Dif.4.3)
[...] sinto falta de alguém que me ajude desenvolver melhor minhas pesquisas,
aqui há falta de monitores. (Dif.4.5)
Categoria 3: Falta de conhecimento para interagir com a máquina e usar
ferramentas digitais
A falta de conhecimento para interagir com a máquina, usar programas ou navegar
na internet é um impeditivo para a acessibilidade.
Os relatos a seguir exemplificam os problemas e dificuldades:
No inicio minha maior dificuldade era mexer com mouse, clicar com o
dedo direito e esquerdo, aquela setinha, eu não tinha habilidade de
mexer com a mão, tipo mexer no botão, apertar e clicar, não conseguia
ver a flecha quando mexia no mouse com a mão [...]. (Dif.3.4)
[...] tem programas que não sei mexer, como por exemplo, fazer uma
planilha [...]. (Dif.3.5)
[...] hoje só consigo um pouco fazer convites, foi o que aprendi, o
instrutor me ensinou [...]. (Dif.3.6)
[...] ele ensinou outras coisas, mas não consigo desenvolver sozinho,
tipo fazer umas coisas mais coloridas, uma árvore de natal, mas só
não consigo fazer sozinho [...]. (Dif.3.7)
Não sei [...] copiar e colar, é isso que preciso aprender. (Dif.3.14)
Eu tenho e-mail no Yahoo, mas não sei como entrar em outros e-mails
como Gmail, Terra [...]. (Dif.3.10)
[...] eu preciso desenvolver a pesquisa e tenho dificuldade, se eu
não souber não vou pra frente com a pesquisa [...]. (Dif.1.2)
A maior dificuldade é quando estou no computador e não sei o que
fazer para seguir com a pesquisa [...]. (Dif.3.12)
Tenho dificuldades de manipular o equipamento [...]. (Dif.4.2)
[...] os computadores aqui sempre têm vírus e não sei como fazer
[...]. (Dif.4.4)
Enviar um link para outros, baixar e arquivar documentos da internet, publicar
no mural e se comunicar de forma síncrona no Facebook, são dificuldades citadas
neste estudo.
[...] mandar um link já fica mais complicado, é o que eu estou
começando a aprender agora[...]. (Dif.2.3)
[...] não sei baixar da internet para arquivar no computador [...].
(Dif.3.8)
[...] colar no Facebook eu preciso ainda aprender também mandar para
outra pessoa [...]. (Dif.3.9)
[...] eu entro no Facebook, mas não sei como mandar mensagens em
particular às vezes quero mandar uma mensagem para uma pessoa que não
interessa as outras como mandar mensagens de natal para meus filhos,
é isso que quero aprender mandar apenas para a pessoa específica e
não para todos [...]. (Dif.3.11)
DISCUSSÃO
Realizar pesquisas em instituição que visa o cuidado e a promoção social de
idosos em situação de rua ou vulnerabilidades social é muito importante para a
determinação de políticas públicas e das atividades oferecidas a essa
população, que englobam a questão da inclusão digital que permite o resgate da
dignidade, da autoestima, de relacionamentos familiares distantes e empodera o
indivíduo.
Com relação às facilidades no uso do computador ou internet, consideramos que a
inclusão digital traz como benefícios aos idosos, tanto na dimensão individual
quanto na social, a manutenção da memória, a superação de dificuldades
cognitivas e o resgate ao sentido de pertença à sociedade contemporânea.
Corroborando essa visão, estudos(5,8-10) citam como benefícios do uso das
tecnologias da informação e comunicação pelos idosos, o resgate da autoestima,
a aproximação com familiares e amigos distantes e o restabelecimento de
relações sociais contemporâneas, a superação de dificuldades físicas, a melhora
no desempenho cognitivo e consequente resgate da dignidade.
Com relação às facilidades de esclarecer dúvidas é condição facilitadora no
processo de aprendizagem do uso do computador e acesso à internet o auxílio dos
monitores e a interação com os pares se ajudando mutuamente(11-13).
A possibilidade de consultar um manual com orientações gerais para usar o
computador e a internet também emergiu na fala de um dos participantes do
estudo. Esse manual de orientações seria uma opção na ausência de um instrutor.
Resultado semelhante aparece em estudo(11) com idosos que teve como objetivo
identificar condições facilitadoras e limitadoras no uso do computador nas
aulas de informática, em uma Universidade Aberta à Terceira Idade. Os idosos
sugeriram como condição facilitadora, a criação de manual com instruções
básicas que possibilitem suplantar as barreiras para operar o computador na
ausência do instrutor.
A importância da curiosidade é ressaltada como um dos motivos que induz o idoso
a se interessar pelo uso da internet e suas ferramentas; essa mesma curiosidade
aumenta a capacidade de aprender informática e de encontrar possibilidades de
uso de cada uma das ferramentas computacionais(14).
Em estudo(5) exploratório com 55 idosos que frequentavam um Telecentro na
Cidade de São Paulo, os autores identificaram uma pequena parcela (5,5%) que
referiu ter aprendido a usar o computador no trabalho e 3,6% que aprenderam a
usar o computador sozinho.
As aptidões desenvolvidas ao longo da vida, como a datilografia e o contato
anterior com equipamentos eletrônicos, se apresentam como condição facilitadora
para os idosos no processo de aprendizagem da informática(11).
A competência no uso do correio eletrônico para receber ou enviar mensagens,
participar de pesquisas, frequentar as redes sociais de relacionamento pessoal
para se comunicar com parentes, amigos, e usar ferramentas de busca para
esclarecer dúvidas apareceram nos discursos de alguns dos sujeitos. Essas
habilidades demonstram a apreensão do conhecimento sobre o uso das ferramentas
da internet e a inserção dos idosos no mundo digital através da comunicação,
que consideramos a forma mais elementar de se fazer presente em um determinado
espaço, seja ele real ou virtual.
Para a maioria das pessoas, mandar uma mensagem pelo correio eletrônico é
apenas um momento de comunicação, mas para o idoso, receber uma mensagem
eletrônica tem um valor diferente; é o momento em que ele se sente lembrado por
outros(14).
Um estudo(12) afirma que é o interesse que impulsiona a apreensão do
conhecimento e, ainda, que o grande interesse do idoso que busca um curso de
informática é a internet, para desenvolver pesquisas e consultas, mas muito
mais do que isso, eles anseiam a comunicação através do correio eletrônico e do
MSN®.
O uso de buscadores em pesquisas, do correio eletrônico, dos comunicadores
instantâneos como o MSN® e das redes sociais de relacionamento pessoal para
manter contato com familiares e amigos, ou mesmo fazer novas amizades, foi
identificado em estudos(5,10) com idosos que frequentavam cursos de
informática.
Destaca-se que o grau de escolaridade do idoso interfere na capacidade de
compreensão de uma palavra ou texto, principalmente palavras mais eruditas ou
termos estrangeiros incorporados ao vocabulário corrente, principalmente os
ligados ao uso do computador ou internet. Em um estudo(12) descritivo
etnográfico baseado em observação participante, os autores identificaram que
dentre os participantes de uma oficina de inclusão digital, grande parte dos
alunos apresenta dificuldade na compreensão de termos estrangeiros, no entanto,
essa dificuldade é contornada com o uso do Google® para buscar o significado do
vocábulo.
A maior parte dos idosos inicia o curso de informática sem ao menos ter noção
de como ligar o computador e, após dois meses, sentem-se orgulhosos de
conseguir ligar o computador, navegar na internet e utilizar as ferramentas
digitais(12).
Para dominar o computador e o uso das ferramentas da internet é preciso
treinamento, fato ressaltado em estudos(11-12) onde os participantes da
pesquisa referiram o treinamento em casa como condição favorecedora do processo
de aprendizagem.
Usar o computador com a finalidade de estudar, ler jornal, se manter atualizado
e fazer compras é relatado em dois estudos(5,10). Esse comportamento de busca
de informações por meio da leitura, e principalmente do uso das ferramentas
computacionais, se apresenta como exercício de estimulação da memória e da
capacidade de assimilação de novos conhecimentos.
As dificuldades no uso do computador ou internet estão relacionadas a eventos
de ordem física ou cognitiva que dificultam a interação do idoso com a máquina.
Esses eventos dizem respeito à diminuição da capacidade para memorizar e
resgatar as informações que permitem ligar o computador e acessar a internet,
assim como a hipoacusia, a diminuição da acuidade visual e os problemas
articulares são ocorrências de ordem física relatados pelos idosos(13).
Ressaltamos que os eventos de ordem física ou cognitiva são dificultadores e
não impeditivos do processo de aprendizagem dos idosos.
Estudos(11-12) afirmam que grande parte dos idosos que frequentam cursos de
informática não tem nenhuma vivência anterior com o computador, sendo este fato
gerador de diversos temores, como, por exemplo, quebrar o equipamento por não
saber como usá-lo de forma correta, tornando necessário, portanto, a presença
de um monitor.
Na Categoria 3: Falta de conhecimento para interagir com a máquina e usar
ferramentas digitais, emergiram dificuldades relacionadas à falta de habilidade
para trabalhar com os botões do mouse, perceber o indicador do cursor, executar
procedimentos tecnicamente rotineiros como copiar e colar, acessar ferramentas
como o e-mail, avançar em uma pesquisa ou mesmo, procedimentos mais complexos,
como fazer planilhas, desenvolver trabalhos gráficos e escanear a máquina para
eliminar vírus.
Na interação do idoso com o computador, os erros estão presentes, e a maioria
deles acontece em função da pouca intimidade com o equipamento, principalmente
com a sensibilidade do mouse durante seu manuseio e a localização da seta para
posicionar o cursor, caracterizando-se assim como um dificultador do
aprendizado(12-13).
A disposição dos ícones que possibilitam abrir, baixar, salvar, anexar ou
enviar anexos, e ainda ter a certeza de que a mensagem foi enviada com sucesso
foi identificada como dificultador na interação com as ferramentas digitais
(14).
CONCLUSÃO
Apesar de composto por cinco sujeitos participantes, entendemos que o objetivo
do estudo foi atingido, pois emergiram dos discursos as facilidades e
dificuldades dos idosos em situação de rua ou vulnerabilidade social, no uso do
computador ou internet. Os resultados vão ao encontro do descrito em estudos
nacionais desenvolvidos com idosos não caracterizados como em situação de rua
ou vulnerabilidade social e podem contribuir em pesquisas futuras.
A metodologia se mostrou adequada ao objetivo do estudo. Assim, emergiram como
facilidades a presença de monitores, que colaboravam e esclareciam as dúvidas
propiciando o aprendizado e favorecendo a inclusão digital. Também foi exposto
que a possibilidade de consultar um manual com orientações gerais para usar o
computador e a internet seria uma opção na ausência de um instrutor.
Em relação à interação com a máquina e a usar ferramentas digitais, ficou
evidente que, quando o idoso é estimulado, ocorre um enriquecimento em sua
aprendizagem e que a curiosidade e a proatividade facilitam o caminho para a
inclusão digital.
A competência no uso do correio eletrônico, no manuseio ferramentas de busca e
frequência nas redes sociais de relacionamento pessoal, demonstrou a apreensão
do conhecimento sobre as ferramentas da internet e a inserção dos idosos no
mundo digital por meio da comunicação, bem como a representação de que esse
momento tem um valor diferente para o idoso, em que ele se sente lembrado por
outros.
Quanto às dificuldades, foi relatado que a lentidão no processamento das
informações e a diminuição na capacidade de retê-las suscitaram um empenho
maior e mais tempo de treinamento para acessar a internet e as redes sociais,
fatos que não foram impeditivos do processo de aprendizagem dos idosos. Emergiu
ainda como dificuldade e impeditivo para a acessibilidade, a falta de um
instrutor para orientar e auxiliar nos problemas de manuseio da máquina, no uso
das ferramentas digitais para fazer pesquisas, a falta de conhecimento para
interagir com a máquina e usar programas ou navegar na internet.
Como contribuições, este estudo reafirma a lacuna existente em relação às
pesquisas desenvolvidas por enfermeiros, voltadas para essa parcela da
população idosa. Os estudos podem contribuir com evidências que direcionem a
formulação de políticas públicas voltadas para os idosos em situação de rua ou
vulnerabilidade social e a inserção do enfermeiro nos espaços de promoção
social.
Sugerimos novos estudos sobre o contexto em que vivem os idosos em situação de
rua ou de vulnerabilidade social e sua inclusão digital, pois contribuirão com
propostas de intervenção por parte de profissionais de diversas áreas como os
educadores, profissionais da saúde especialmente o enfermeiro, e assistência
social. Desta forma a participação de Organizações não Governamentais e de
instituições de assistência social pode tirar o idoso da situação de rua ou
vulnerabilidade social e inseri-lo na sociedade, devolvendo assim sua dignidade
e autoestima.