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BrBRCVHe0047-20852006000400004

BrBRCVHe0047-20852006000400004

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0047-2085
ano2006
Issue0004
Article number00004

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Consulta de enfermagem a pacientes alcoolistas em um programa de assistência ao alcoolismo

Introdução As primeiras atividades de enfermagem no Brasil foram desenvolvidas pelos jesuítas, e as Santas Casas serviram de modelo para a sua implantação. A partir de 1852, as irmãs de caridade passaram a fazer parte do quadro de atendentes das Santas Casas cuidando dos doentes nos hospitais e dos escravos, das criadas e dos familiares nos lares (Gama et al., 1988).

No Brasil, a institucionalização da enfermagem foi lenta, bem como nos outros países do mundo. Em 1890, surgiu a primeira tentativa de profissionalização com a criação da escola profissional para enfermeiros e enfermeiras (Escola Alfredo Pinto), com o curso de dois anos, cuja finalidade era trabalhar com hospitais do governo, civis e militares. Entretanto o grande impulso da enfermagem brasileira ocorreu em 1922, com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública, no qual o diretor Carlos Chagas solicitou a assistência da Fundação Rockfeller para organizar, no Brasil, uma escola e um serviço de enfermeiras de saúde pública. A Escola de Enfermagem do Departamento Nacional de Saúde Pública começou a funcionar em 1923 e, três anos depois, passou a denominar-se Escola Ana Nery. Em 1937 foi incorporada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (Gama et al., 1988).

Em 1973 foi regulamentada a Lei 5.905, que dispõe sobre a criação dos Conselhos Federais e Regionais de Enfermagem (COFEN e COREN), órgãos disciplinadores do exercício da profissão de enfermagem e das demais profissões compreendidas nesse serviço.

Com a aprovação da nova lei do exercício profissional em 1986 (Brasil, 1986; Brasil, 1986; Adami et al., 1989), a consulta de enfermagem foi legitimada como atividade privativa do enfermeiro, possibilitando a sua atuação nos contextos intra e extra-hospitalar, com o propósito da educação em saúde.

Para Campedelli (1990), a consulta de enfermagem é uma atividade exclusiva do enfermeiro, que, usando de sua autonomia profissional, assume responsabilidade quanto à ação da enfermagem a ser prestada nos problemas detectados e em nível de complexidade da intervenção: a) cuidados diretos e indiretos necessários; b) orientações indicadas para a situação; c) encaminhamento para outros profissionais (quando a competência de resolução do problema fugir do seu âmbito de ação). Portanto o procedimento requer o desenvolvimento de habilidades para a tomada de decisão, de forma a proporcionar uma assistência integral e eficaz.

Essa assistência não deve ser centrada na doença nem no indivíduo hospitalizado, mas em todas as pessoas que, ante os seus conflitos e dificuldades, venham mostrar, por seu comportamento, a necessidade de ajuda.

Para que isso ocorra, recomenda-se que os profissionais de enfermagem em saúde mental estejam preparados para uma ação abrangente nesse tipo de clientela, tendo em vista que as complicações ocorridas são causadas por fatores biológicos, psicológicos, sociais e econômicos.

A assistência a usuários de álcool foi efetivada em nosso país através do Programa Nacional de Controle dos Problemas Relacionados com o Consumo do Álcool (PRONAL) (Brasil, 1987), no qual temos a atenção à saúde dirigida de forma específica para essa problemática, bem como a participação de diversos profissionais da saúde na assistência ao alcoolista e aos seus familiares.

Entretanto esse programa foi implementado por gestores públicos no Distrito Federal e nos estados de Amazonas, Maranhão, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul.

No Espírito Santo, o início dessa atividade ocorreu em 1985, com a criação e implantação do Programa de Atendimento ao Alcoolista do Hospital Cassiano Antônio Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo (PAA/HUCAM/UFES), através de um projeto de pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (Siqueira, 1985). Em 1987 o projeto tornou-se efetivamente um programa especial da extensão da universidade. Hoje ele é pioneiro na estruturação de uma proposta interdisciplinar e na oferta de uma metodologia assistencial de enfermagem ao alcoolista e a seus familiares, assim como é considerado, pela Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), referência no tratamento ambulatorial para todo estado (Macieira et al., 1993).

No PAA/HUCAM/UFES, a intervenção é desenvolvida através de uma equipe técnica composta por serviço social, medicina, enfermagem e psicologia (Macieira et al., 1992), que assistem o alcoolista e seus familiares de forma tanto individual quanto grupal, tendo o enfermeiro um papel essencialmente educativo.

Segundo Pillon e Nóbrega (2001), esse papel educativo auxilia na quebra de crenças, preconceitos e superação da negação do problema, possibilitando o desenvolvimento de um plano assistencial individualizado, com intervenções educativas e aconselhamentos.

Portanto o alcoolismo, além de ser bastante antigo e disseminado, é também um dos mais graves problemas de saúde pública dos grandes centros civilizados, o que preocupa os profissionais da saúde, tanto envolvidos com pesquisa quanto aqueles dos programas de tratamento.

Com a implantação do PRONAL (Brasil, 1987), a atenção à saúde passou a ser dirigida especificamente a essa clientela, com a participação de diversos profissionais da saúde na assistência ao alcoolista e a seus familiares.

O processo de formação do enfermeiro está voltado para a saúde coletiva, abrange tanto a saúde pública quanto a mental e associa-se à constatação científica (Ramos e Wortowitz, 2004) de que, no mundo atual, cerca de 90% da população adulta consome algum tipo de bebida alcoólica. Além disso, entre os bebedores, 10% irão apresentar uso nocivo (abusivo) e outros 10%, a dependência (alcoolismo).

Percebe-se que o uso do álcool vem causando considerável prejuízo à saúde de todas as populações, e, sendo essa uma droga lícita, não restrições para seu consumo, afetando homens e mulheres de diferentes grupos étnicos, independentemente de classe social, econômica ou mesmo idade.

Finalmente, desde 2001, com a implantação da Política Nacional Antidrogas (PNAD) (Brasil, 2001), observa-se maior incentivo a estudos e pesquisas que permitam incrementar o conhecimento sobre as drogas (lícitas e ilícitas), com enfoque na prevenção, no tratamento, na recuperação e na reinserção social dos dependentes de drogas.

Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo descrever e analisar as atividades desenvolvidas pela enfermagem na consulta dirigida a alcoolistas atendidos no PAA/HUCAM/UFES.

Métodos O estudo foi desenvolvido no PAA/HUCAM/UFES, no período de agosto de 2002 a julho de 2004, a partir de um levantamento das consultas de enfermagem realizadas com pacientes alcoolistas no período de janeiro a dezembro de 2002.

O atendimento no programa ocorre de segunda a quinta-feira, das 13h às 17h, no ambulatório de clínica médica do hospital universitário, onde são agendadas diariamente consultas iniciais e de retorno.

O PAA/HUCAM/UFES possui como proposta de trabalho uma atuação interdisciplinar composta pelos profissionais das áreas de serviço social, medicina, enfermagem e psicologia, tendo como objetivo a prestação de assistência ao alcoolista e a seus familiares (Macieira et al., 1992). Além disso, o programa integra a proposta desenvolvida pelo Núcleo de Estudos sobre Álcool e outras Drogas (NEAD) no âmbito assistencial (Macieira et al., 2002).

A assistência oferecida aos pacientes e seus familiares é realizada com metodologia própria através das seguintes etapas: 1) reunião de sala de espera; 2) entrevista com o serviço social; 3) consulta médica; 4) consulta de enfermagem; 5) atendimento psicológico; 6) grupos de ajuda mútua (GAM), como Alcoólicos Anônimos (AA), AL-ANON e ALATEEN.

Na consulta de enfermagem, pacientes e familiares são abordados através de uma visão holística (Barbosa et al., 1998), procurando-se trabalhar a educação em saúde a partir dos problemas decorrentes de uso, abuso e dependência do álcool.

A metodologia da assistência de enfermagem baseia-se nas teorias de enfermagem de Horta (Horta, 1979) e Orem (George et al., 2000), que têm como metas o atendimento das necessidades humanas básicas centradas no autocuidado do paciente.

A avaliação descritiva e a análise das atividades desenvolvidas pela enfermagem no PAA/HUCAM/UFES foram realizadas em dois momentos. No primeiro, aplicamos um instrumento (Anexo) que permitiu a análise retrospectiva nos prontuários dos pacientes atendidos em 2002, sendo levantados os seguintes dados: identificação, grau de severidade, participação em GAM, tipo de apoio, orientações sobre autocuidado, orientações alcoolismo-doença. Num segundo momento, esses dados foram submetidos a uma análise qualiquantitativa, sendo que, na análise quantitativa, foram empregadas medidas de tendência central e, na qualitativa, consideraram-se as etapas da consulta desenvolvidas pela enfermagem.

Resultados Foram atendidos, nas consultas de enfermagem, 201 pacientes no período estudado, sendo realizadas 603 consultas, das quais 28,7% constituíram o primeiro atendimento e 71,3%, os retornos. O estudo abrangeu pacientes procedentes da região metropolitana, sendo que 28% (54 pacientes) são oriundos da capital do estado do Espírito Santo.

Observa-se na Tabela_1 que a prevalência de pacientes do sexo masculino representou 94% (189 pacientes) da amostra estudada, sendo apenas 6% do sexo feminino; 50,6% (82 pacientes) casados; 24,6% (40) solteiros; 11,1% (18) divorciados; 2,4% (quatro) viúvos. Com relação à procedência, 54 pacientes (27,9%) residem em Vitória e apenas um em Guarapari.

Na Tabela_2 verificamos maior apoio familiar (61,1%) durante o seguimento, apesar de o apoio de amigos (11,6%) e do empregador (3,5%) representar um suporte muito importante, ou seja, facilitar a adesão ao tratamento. O apoio individual, ou seja, "o paciente procurou o programa por iniciativa própria", embora pequeno (5,5%), é o que gera mais resultados positivos no tratamento.

Além disso, obtivemos relatos de outros tipos de apoios (4,5%). Os GAMs são possibilidades alternativas para o seguimento do paciente alcoolista e seus familiares, e entre eles foram destacados a Reunião de Sala de Espera (RSE) (82%) e o AA (18%).

Na Tabela_3 encontramos a avaliação do grau de severidade da síndrome de dependência do álcool (SDA), em que 73,6% dos pacientes possuem grau grave, 19,2% moderado e apenas 3% leve.

As orientações fornecidas durante a sistematização da assistência de enfermagem são apresentadas na Tabela_4, na qual citações referentes às necessidades humanas básicas (NHB), o autocuidado, e ao alcoolismo como doença: a SDA.

Na Tabela_5, num total de 201 indivíduos alcoolistas, observou-se que 114 (57%) eram fumantes, cinco (2,5%) faziam uso de maconha e a mesma proporção de indivíduos usava cocaína. Foi constatado, nesse estudo, que 75 (37,3%) faziam uso apenas do álcool.

Discussão Observa-se na Tabela_1 que a prevalência de pacientes do sexo masculino representou 94% (189 pacientes) da amostra estudada, constatando-se apenas 6% do sexo feminino. A relação homem:mulher encontrada foi de 15:1, resultados superiores aos achados de Macieira et al. (1993), Ramos et al. (1997), Barros et al. (2000) e Palma et al. (2002). Em decorrência do baixo percentual de pacientes do sexo feminino que acessam e aderem ao tratamento (Zilberman, 1998), percebemos uma necessidade de diferenciar a assistência ao público feminino devido às dificuldades encontradas em participar de um programa em que o predomínio é de indivíduos do sexo masculino. Apesar desse resultado, "pequenos acesso e aderência", a literatura demonstra que o comportamento de beber nas mulheres vem aumentando. Esse crescimento está associado às mudanças de comportamento social e à entrada da mulher no mercado de trabalho e na vida política.

Embora o costume de beber entre as mulheres tenha aumentado à medida que a sociedade se tornou mais permissiva com esse comportamento, essa permissão não modificou a maneira estereotipada e preconceituosa com que a sociedade encara a embriaguez feminina, vista como um comportamento não adequado do ser feminino, que é focalizado através de atributos como docilidade, fragilidade, afetividade (Ramos, 1997), representando, portanto, ainda um desafio para maiores avanços na área de tratamento.

Nossos achados (Tabela_1) demonstram também que os casados constituem 50,6% (82 pacientes), enquanto os solteiros aparecem com 24,6% (40) da amostra estudada; 11,1% (18 pacientes) são divorciados e apenas 2,4% (quatro) são viúvos. Esses dados corroboram os achados de Macieira (1993), Ramos (1997), Barros (2000) e Palma (2002), apresentados em estudos anteriores.

Os resultados deste estudo em relação à idade concordam com os achados de Ramos (1997), em que o grupo etário mais atingido pelo problema do alcoolismo é aquele compreendido entre 40 e 60 anos, sendo nessa faixa que os problemas de abuso e dependência ficam mais evidentes.

Na Tabela_2 verificamos maior apoio familiar (61,1%) durante o seguimento, o que representa papel fundamental na adesão ao tratamento do alcoolista, assim como uma recuperação mais rápida, que o contexto familiar pode representar também obstáculos para enfrentamento do problema, principalmente no relacionamento matrimonial e com os filhos. Apesar de o apoio de amigos (11,6%) e do empregador (3,5%) representar um suporte de significado semelhante, notamos que ainda necessita de ampliação de ações para maior envolvimento desses setores na recuperação e na reinserção social. Verificamos também que o apoio individual, ou seja, quando "o paciente procurou o programa por iniciativa própria", apesar de pequeno (5,5%), gera mais resultados positivos.

Os outros tipos de apoio (4,5%) encontrados neste estudo estão relacionados a instituições religiosas, bem como cumprimentos de ordem judicial, casos encaminhados e seguidos através da Justiça Terapêutica (2004), que é um programa judicial para atendimento integral do indivíduo envolvido com drogas lícitas e ilícitas utilizado para evitar a imposição de penas privativas de liberdade ou até mesmo multa, deslocando o foco da punição para a recuperação biopsicossocial do autor da infração.

Ramos et al. (1997) consideram os GAMs possibilidades alternativas para o seguimento do paciente alcoolista e de seus familiares. O AA (2002) trabalha na recuperação individual e na manutenção da sobriedade dos alcoolistas que procuram ajuda na irmandade, não se envolve nos campos de pesquisa sobre alcoolismo, de tratamento médico ou psiquiátrico, na educação ou em propaganda de qualquer espécie, embora seus membros, particularmente, possam participar de tais atividades. Nossos achados demonstram que 82% dos pacientes participaram da RSE, um tipo de grupo de situação com ajuda mútua através de depoimentos, estímulos, etc. Esse resultado foi bastante positivo como suporte para o tratamento, que, através da formação de vínculos com o serviço, propicia maior adesão à metodologia de intervenção. Apesar de amplamente recomendada pela literatura, a participação em grupos como o AA foi reduzida (18%), necessitando ser ampliada.

Existem, na literatura especializada (George, 2000; Raistrick, 1983; Jorge e Masur 1986), vários questionários padronizados que são utilizados para o diagnóstico do alcoolismo. No PAA/HUCAM/UFES é utilizado o questionário Short Alcohol Dependence Data (SADD), formulado por Rastrick (1983) e traduzido, no Brasil, por Jorge e Masur (1986) (Anexo). Esse questionário objetiva avaliar o grau de severidade da SDA e deve ser utilizado em casos de alcoolismo identificados. Ele compreende 15 questões com quatro alternativas de respostas, às quais se atribuem de 0 a 3 pontos, nessa ordem: nunca ' 0 ponto; poucas vezes ' 1 ponto; muitas vezes ' 2 pontos; sempre ' 3 pontos. Somando-se o total de pontos alcançado pelos indivíduos ao responder o questionário, podemos classificá-lo da seguinte forma: 1 a 9 pontos: baixa dependência; 10 a 19: média dependência; 20 a 45 alta dependência. A avaliação da severidade da dependência do álcool de um paciente poderá ser útil para a indicação do tratamento adequado (Barros, 2000). Nesse sentido encontramos no programa 73,6% dos pacientes com o grau grave, 19,2% moderado e apenas 3% de leve severidade da SDA. O maior percentual para o grau grave está de acordo com os achados de Ramos et al. (1997) e ratifica a importância do enfrentamento do problema e de ações de promoção da saúde e prevenção de agravos através da atenção primária.

As orientações fornecidas durante a sistematização da assistência de enfermagem estão apresentadas na Tabela_4, na qual citações referentes às NHB e ao alcoolismo como doença.

Segundo a teoria de Horta (1979), as NHBs são universais, portanto comuns a todos os seres humanos; o que varia de um indivíduo para o outro são suas manifestações e as maneiras de satisfazê-las ou atendê-las. E, na teoria de Orem, "preconiza-se que a enfermagem deve agir a partir das necessidades individuais dos pacientes, no sentido de manter a vida e promover saúde, prevenir doenças e lutar contra seus efeitos" (Hoga, 1993).

Essas orientações tiveram ênfase no autocuidado e foram implementadas através da teoria de Orem, especialmente modificações de hábitos de vida (alimentação, hidratação, sono/repouso, atividades físicas, lazer, ocupação, vida socioespiritual, etc.). Segundo Campedelli (2000), autocuidado é uma abordagem orientada à saúde numa visão holística. Refere-se à prática de atividades que os indivíduos iniciam e desempenham pessoalmente em seu próprio benefício para manter a vida, a saúde e o bem-estar. Alcançar o autocuidado é um processo cujas atividades são apreendidas e que, por isso, tem relação direta com as crenças, os hábitos, as práticas culturais e os costumes do grupo ao qual pertence o indivíduo que o pratica. Nesse processo de alcance do autocuidado, os objetivos da assistência derivam das necessidades e das preferências do próprio indivíduo, e não das percepções do profissional.

Nas orientações para o autocuidado na primeira consulta, priorizou-se a diminuição dos sinais e sintomas da síndrome de abstinência, conforme recomendado por Edwards (1976), sendo estimulada a educação em saúde (Pillon et al., 1991) através dos seguintes enfoques: hidratação (21,6%), alimentação (20,8%), atividade física (15,4%), recreação (8,9%), cuidados socioespirituais (11,6%), higiene (8,1%), sono/repouso (7,2%) e atividade ocupacional (5%).

Entretanto não foi contemplada de forma sistemática a sexualidade (1,5%).

Nas orientações para o autocuidado das consultas de retorno, predominaram os seguintes enfoques: alimentação (22,3%) e hidratação (19,6%), atividade física (17,4%), atividades socioespirituais (13,2%), recreação e sono/repouso (7,8%), higiene (4,6%), ocupação (5,7%) e sexualidade (1,5%). Nossos achados demonstram a necessidade de maior atenção aos padrões sono/repouso e recreação e atividade ocupacional, pois são fatores facilitadores da recaída. Além disso, o incentivo à higiene e à sexualidade deve ser priorizado, não apenas como cuidados corporais do paciente, mas também como um reforço à sua auto-estima e à adesão a um novo estilo de vida, uma vez que o abuso de álcool é um dos principais fatores de risco para o surgimento de várias doenças crônicas não- transmissíveis (Rego et al., 1990).

As orientações sobre o alcoolismo como doença foram implementadas na primeira consulta através das atividades educativas desenvolvidas pela enfermagem, com enfoque no conceito (58,8%), na epidemiologia (21,9%), na ajuda especializada (9,8%), nas implicações do álcool sobre o organismo (5,1%) e nas complicações orgânicas (1,2%). as orientações de retorno visam um aprofundamento sobre a SDA, conforme recomenda a quarta revisão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) (1995), sendo abordados: sucesso do tratamento (18,1%), ação no organismo (20,1%), ajuda especializada (11,1%), motivos para beber (10,7%), epidemiologia (7,2%), prevenção da recaída (14%), estágios de intoxicação (5%) e complicações orgânicas (3%).

De acordo com Chaieb e Castellarin (1998), quanto maior a dependência da nicotina, tanto maior o consumo de álcool. Ainda segundo esses autores, o álcool exerce um estímulo inespecífico em várias áreas comportamentais, aumentando o consumo de cigarros.

Na Tabela_5, num total de 201 indivíduos alcoolistas, observou-se que 114 (57%) eram fumantes, cinco (2,5%) faziam uso de maconha e a mesma proporção usava cocaína. Constatou-se, neste estudo, que 75 (37,3%) faziam uso apenas do álcool.

Embora o alcoolismo entre mulheres seja minoritário em relação aos homens, têm sido observados crescimento da dependência alcoólica entre o público feminino e, conseqüentemente, necessidade de ampliação das ações destinadas a essa clientela (Bertolote, 1999).

Conclusão A manutenção da abstinência do álcool nos pacientes do PAA/HUCAM/UFES tem sido desenvolvida na consulta de enfermagem através do atendimento prioritário das NHBs (teoria de Horta), concentrando a atenção de enfermagem no autocuidado (teoria de Orem), com maior ênfase em alimentação, hidratação e atividades físicas, social, espiritual e recreacional. As orientações educativas sobre sexualidade, atividade ocupacional, higiene e sono/repouso necessitam ser ampliadas, bem como o encaminhamento para os GAMs existentes na comunidade.

A educação em saúde sobre a SDA desenvolvida pela enfermagem no PAA abrange, prioritariamente, o conceito, a epidemiologia e as conseqüências da problemática, oferecendo orientações iniciais para um melhor entendimento do paciente sobre sua doença e orientações no seguimento quanto à ação do álcool no organismo, sucesso do tratamento e motivos que levam o paciente a beber.

Dessa forma a enfermagem vem propiciando condições facilitadoras por meio de uma informação qualificada e contínua que visa a manutenção da abstinência do álcool e a reformulação no estilo de vida e que resulte numa melhor reinserção do usuário na sociedade.

Nesse contexto, o profissional de saúde deverá ter consciência da importância social do uso do álcool e de como isso pode estar presente no âmbito do trabalho, além de saber identificar situações relacionados com o alcoolismo.

Deverá também investigar o uso de álcool em seus pacientes de maneira interessada e respeitosa (Ramos et al., 1997).


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