Portfolio de produção agropecuária e gestão de riscos de mercado nas
cooperativas do agronegócio paranaense
1. INTRODUÇÃO
O agronegócio é um setor dinâmico e muito importante para a economia do Brasil.
Ele emprega uma parcela significativa da mão de obra e contribui de forma
efetiva para a composição do Produto Interno Bruto (PIB) e para o saldo da
balança comercial brasileira. Segundo Guilhoto, Furtuoso e Barros (2000), a
tradição econômica do País no agronegócio deve prevalecer no futuro devido,
sobretudo, à disponibilidade de seus vastos recursos naturais. A grande
disponibilidade de áreas agricultáveis ainda inexploradas no Brasil,
inexistente na maioria dos países, conjugada com o crescimento mundial da
demanda por alimentos, cria um cenário positivo para o agronegócio nacional.
Logo, a importância e a representatividade do agronegócio para a economia
nacional evidenciam a necessidade de estudos que visam à constante modernização
da administração do setor e ao aumento da produtividade.
Visando à maior segurança na projeção de suas rendas, os produtores rurais
organizam-se em grupos, como cooperativas, para aumentar suas possibilidades de
produção e renda por meio da união de esforços. O incentivo primário para os
produtores formarem uma cooperativa é a possibilidade de diminuição dos riscos
na produção e na rentabilidade. No Brasil as cooperativas agroindustriais
possuem alta representatividade e participação na produção e comercialização de
produtos agropecuários, absorvendo grande parte da produção. Segundo a
Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), existem cerca de 1.500
cooperativas agroindustriais, que empregam por volta de 124 mil trabalhadores e
possuem 880 mil associados. As cooperativas participam com 41,53% da receita
total gerada no agronegócio, e os estabelecimentos que estão associados a
alguma cooperativa apresentam rentabilidade maior do que a média nacional:
Brasil – R$ 123 por hectare, dos quais os não cooperados representam R$ 92 por
hectare e os cooperados, R$ 237 por hectare (OCB, 2007). A participação das
cooperativas na produção de alguns itens também é representativa, conforme
informações da OCB (2007): milho, 17%; café, 28%; soja, 30%; suínos, 32%;
algodão, 39%; leite, 40%; trigo, 62%. Essa alta participação nas atividades do
agronegócio posiciona essas organizações como importantes players do setor, por
isso as cooperativas e suas especificidades não devem ser ignoradas em estudos
que visem a melhorias na gestão do agronegócio, sobretudo se o interesse for
relacionado à eficiência econômica.
A eficiência econômica é definida no contexto deste trabalho como o trade-off
entre retorno e risco, ou seja, a combinação de atividades na qual o produtor
obtém o máximo resultado econômico em determinados níveis de risco aceitáveis –
medidos pela variabilidade da margem bruta e que definem a principal fonte dos
riscos de mercado. Na produção rural, a desconsideração dos riscos leva a
decisões que não possuem aderência à prática dos produtores. Todavia, nas
cooperativas agroindustriais, os recursos econômicos e sociais devem ser
investidos de forma alinhada aos objetivos cooperativistas. Nesse contexto
surge a preocupação em harmonizar objetivos econômicos juntamente com a
doutrina cooperativista. Segundo Antonialli (2000), um dos grandes desafios das
cooperativas é conseguir equilibrar os interesses econômico, social e político
de seus membros. O interesse econômico está relacionado ao crescimento da
cooperativa e dos empreendimentos dos cooperados. O interesse social refere-se
aos serviços e benefícios que se esperam da cooperativa quando alguém se
associa a ela. O interesse político normalmente leva a disputas internas pelo
poder e representatividade da cooperativa perante a comunidade. A incapacidade
da cooperativa em equilibrar esses interesses pode levar à falta de
competitividade e a situações gerenciais complexas. Esse quadro de referência
levanta questões pertinentes a respeito da capacidade da cooperativa em
sobreviver em um ambiente de globalização e competição e, ao mesmo tempo,
harmonizar a dimensão política com a racionalidade econômica.
Neste estudo, tem-se por objetivo desenvolver uma avaliação da gestão dos
riscos de mercado do agronegócio e sua relação com o cooperativismo. Com o uso
do modelo de análise E-V de Markowitz, como ferramenta de medição e avaliação
dos riscos de mercado, foi analisado o portfolio de produção agropecuária do
estado do Paraná e gerada uma fronteira de eficiência que permitiu definir
opções de portfolios eficientes. Utilizando esses portfolios seria possível
otimizar a relação retorno-risco e consequentemente melhorar a gestão dos
riscos de mercado no agronegócio do estado. Para tanto, seria necessário fazer
alterações nos níveis de produção de alguns itens. Alguns aspectos sobre a
viabilidade dessas alterações são discutidos quanto à possível influência que
as cooperativas poderiam exercer e quais principais motivos influenciariam a
não adesão às propostas. A análise dos motivos permite avaliar se a doutrina
cooperativista poderia exercer algum tipo de influência sobre a gestão dos
riscos de mercado do agronegócio no Paraná por meio de opções de
diversificação. Também foi avaliado o comportamento geral das cooperativas
perante os riscos, a importância e a relevância atribuídos a um conjunto de
fontes de riscos de mercado e estratégias gerenciais para sua gestão. Os
resultados evidenciam que nem todas as cooperativas se engajam efetivamente na
prática da gestão dos riscos de mercado, restringindo-se apenas ao
acompanhamento das informações referentes a cotações e níveis de oferta e
demanda das commodities.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os conceitos de risco e incerteza têm sido largamente utilizados na teoria
econômica, na qual normalmente se distinguem com base no conhecimento sobre a
probabilidade de ocorrer a renda ou o uso dos recursos. O risco é caracterizado
por situações que ocorrem com probabilidade conhecida; e a incerteza, por
situações em que a probabilidade de ocorrência do fenômeno não pode ser
antecipada. Nos empreendimentos empresariais, o risco pode incidir em diversas
áreas. Em termos gerais, sob a ótica econômica, a empresa espera obter retornos
proporcionados por suas atividades, de acordo com sua função utilidade. Tais
atividades possuem seus resultados sujeitos a certos eventos, por isso
geralmente existe um grau de incerteza sobre a efetivação desses resultados. O
risco pode ser esse grau de incerteza quanto ao retorno esperado ou a
probabilidade de ocorrência de perdas indesejadas (financeiras ou não). No
entanto, embora a administração de riscos seja defendida por muitos
administradores e economistas, nem todas as empresas se engajam efetivamente
nessa prática (FRENKEL, HOMMEL e RUDOLF, 2000).
No agronegócio, algumas fontes de riscos, como instabilidade climática e
surgimento de doenças e pragas, são próprias da atividade. Outros tipos de
riscos, como o de mercado ou os institucionais, apesar de também estarem
presentes no contexto empresarial, no agronegócio assumem importâncias e
características diferenciadas. Devido à variedade dos riscos no agronegócio e
às particularidades inerentes a cada tipo de produtor rural, não há uma
estratégia gerencial única comum a todos os produtores, que enfrentam tipos
diferenciados de riscos e necessitam de ferramentas variadas para seu
gerenciamento (USDA, 2007).
Alguns estudos evidenciam que a percepção dos produtores quanto à importância e
à influência de cada tipo de risco em suas operações pode variar muito,
dependendo do tipo de empreendimento e da região em que se encontram. Assim
como também variam as estratégias gerenciais adotadas para evitar e diminuir as
consequências dos riscos (PATRICK et al.,1985; HARDWOOD et al., 1999; FLATEN et
al., 2005; PINOCHET-CHATEAU et al., 2005; HARDAKER et al., 2007; HEIDELBACH,
2007; USDA, 2007; MOREIRA, 2009). Frequentemente, em estudos no campo da
economia rural os tipos de riscos mais abordados são os riscos de mercado
(FRENKEL, HOMMEL e RUDOLF, 2000). Isso se justifica em parte pela
disponibilidade de métodos de modelagem e avaliação desses riscos, sobretudo os
relacionados à teoria da utilidade, que adotam a programação matemática para
seu tratamento.
No contexto cooperativo, verifica-se que as cooperativas agroindustriais, além
de operarem em um ambiente intrinsecamente arriscado, também estão expostas a
altos graus de riscos financeiros e de mercado. De acordo com Manfredo e
Richards (2007), diversas situações geram esses tipos de riscos para as
cooperativas, que normalmente focalizam suas atividades em poucos produtos e/ou
operam em regiões geograficamente limitadas e/ou utilizam pequenos canais de
vendas. Muitas cooperativas também operam em arranjos do tipo pool (com
compartilhamento das perdas), em que a produção de seus membros deve ser
vendida em determinado tempo pré-estipulado. Apesar de ser interessante aos
membros, que se liberam das preocupações com o tempo de mercado, esse tipo de
arranjo limita a possibilidade de a cooperativa manter estoques e vendê-los
quando o preço for mais atrativo. Tudo isso implica altos níveis de riscos de
mercado. Além disso, normalmente as cooperativas operam com pequenas margens,
não possuem acesso a recursos via mercado de capitais e têm necessidade de
distribuição de sobras financeiras a seus membros. Essas características exigem
que a cooperativa apresente altos graus de alavancagem e, por conseguinte,
apresente também altos níveis de riscos financeiros.
De acordo com Zeuli (1999), as estratégias para uma cooperativa agroindustrial
diminuir os riscos na disponibilidade de oferta de matéria-prima para sua
produção e na variabilidade de sua renda, seriam, respectivamente, a expansão
geográfica de seus membros e a diversificação da linha de produtos ofertada ao
mercado. A primeira alternativa tem como vantagem a contribuição para a
possibilidade de diversificação da produção da cooperativa por meio do aumento
do número de fornecedores, mas implica maiores custos logísticos. A segunda tem
como vantagem a diminuição dos riscos, mas implica maiores investimentos e
custos de produção. Entretanto, um dos maiores obstáculos para a adoção dessas
medidas, que visam à melhor gestão dos riscos e à consequente eficiência
econômica, é o possível conflito com os objetivos cooperativistas. Aumentar o
número de associados pode implicar aumentar também os problemas relacionados à
governança da cooperativa. Diversificar o portfolio de produção pode acarretar
a perda do foco estratégico da cooperativa e o conflito com a resistência geral
dos membros contra mudanças.
No Brasil, dentre as características marcantes do cooperativismo, podem ser
citados os ramos de atuação da cooperativa. Uma cooperativa agropecuária no
Brasil pode ser, ao mesmo tempo, caracterizada como cooperativa de compra, de
venda, de produção e de crédito. Dada a variedade de atividades que uma
cooperativa pode desenvolver, os riscos que incidem em suas operações são de
vários tipos e advêm de diversas fontes. Além disso, no Brasil as cooperativas
ainda são consideradas organizações que possuem funções sociais e, apesar de
ser um pré-requisito para o desempenho social, o desempenho econômico nem
sempre é devidamente alcançado, aumentando assim a incidência de riscos
financeiros.
Alguns autores têm se dedicado a estudar qual a capacidade da cooperativa em
gerenciar os diversos riscos a que está sujeita (ZEULI, 1999; FERREIRA, 2002;
MANFREDO e RICHARDS, 2007; MOREIRA, 2009). Com relação ao risco de mercado, por
exemplo, verifica-se que uma das estratégias mais aceitas para seu
gerenciamento é a diversificação da produção e/ou das atividades. Entretanto,
no contexto cooperativista, verifica-se que essa estratégia não é facilmente
aplicável, pois a cooperativa não possui a mesma flexibilidade da empresa
mercantil para efetuar mudanças em seu portfolio (FERREIRA, 2002; MOREIRA,
2009).
3. METODOLOGIA
Para avaliar a gestão dos riscos de mercado do agronegócio e a influência das
cooperativas, inicialmente foram feitas a análise do portfolio de produção
agropecuária do estado do Paraná (com análise do histórico de produção) e a
análise de séries históricas, para avaliar a variabilidade das margens brutas
de cada atividade (preço recebido pelo produtor subtraído dos custos variáveis
de produção). O período de tempo considerado foi de 1996 a 2006, sendo
calculadas as margens brutas mensais para cada atividade. A variabilidade das
margens brutas foi utilizada como proxy para a medição dos riscos.
As séries históricas de preços pagos ao produtor foram obtidas na Secretaria da
Agricultura e Abastecimento do Paraná/Departamento de Economia Rural (Seab/
Deral). As séries históricas de estimativas de custos de produção foram obtidas
no Deral, na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e nos Anuário da
Agricultura Brasileira (Agrianual) e Anuário da Pecuária Brasileira (Anualpec),
ambos divulgados pela FNP Consultoria & Agroinformativos. Os valores foram
atualizados pela variação do Índice de Preços por Atacado – Disponibilidade
Interna (IPA-DI), divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). As séries
históricas de produção foram obtidas no Deral, no Anualpec e na Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Para selecionar a combinação ótima de atividades produtivas que maximize a
margem bruta do agronegócio do Paraná, foi utilizada a programação linear. Na
função-objetivo foram utilizadas como coeficientes as margens brutas médias do
período de 1996 a 2006. Para as restrições, foram utilizadas, considerando o
período analisado, faixas de valores mínimos e máximos para a produção e a área
de cada atividade. Para as atividades relacionadas a lavouras (soja, milho,
feijão, café, trigo, cana, fumo, mandioca, batata, tomate, laranja e uva), o
cálculo da área necessária para produção foi feito considerando-se a
produtividade alcançada em 2006 (produção total dividida pela área colhida).
Todavia, apesar de muitos trabalhos utilizarem apenas a programação linear para
resolver o problema da combinação ótima de atividades agropecuárias, esse
instrumental torna-se inadequado sem a consideração dos riscos. Isso porque ele
tende a produzir soluções extremas (de canto) ou apenas soluções que envolvem
altos graus de especialização, o que não se verifica na realidade do produtor
rural. A análise dos riscos foi incorporada por meio da análise E-V (retorno-
variância) de Markowitz (MARKOWITZ, 1952). Essa análise tem por objetivo
minimizar a variância total de um portfolio. No contexto de modelagem de um
portfolio de produção, o objetivo torna-se a minimização da variância total das
margens brutas históricas do conjunto de atividades considerado no estudo. Essa
variância pode ser calculada por
![](/img/revistas/rausp/v46n4/a01v46n4for1.jpg)
em que Xj é o nível da j-ésima atividade e σjk é a covariância das margens
brutas totais das j-ésimas e k-ésimas atividades (quando j = k, σjk é a
variância da margem bruta da atividade j). Segundo essa equação, que define a
variância das margens brutas, verifica-se que a variância total pode ser
expressa pela variabilidade dos retornos individuais das atividades e pela
covariância entre eles.
Para a utilização do modelo E-V, inicialmente foi feita a análise de séries
históricas para estimar a variabilidade da margem bruta das atividades
(proxypara medição dos riscos). A variabilidade das margens brutas foi
calculada por meio da variância. O modelo foi resolvido com o auxílio de
técnicas paramétricas, o que possibilitou a geração da fronteira de eficiência
econômica (retorno-risco). A seguir são apresentados o modelo e os
procedimentos usados para a geração da fronteira:
[/img/revistas/rausp/v46n4/a01v46n4for2.jpg]
em que fj é a margem bruta esperada da j-ésima atividade e λ é o coeficiente de
parametrização. A função objetivo do modelo é quadrática quando j = k, por isso
deve ser revolvida por um algoritmo de programação quadrática. O somatório da
primeira restrição representa a acumulação da multiplicação entre as margens
brutas esperadas ( fj) e os níveis das atividades correspondentes (Xj),
determinando assim a margem bruta total esperada E. Essa soma deve ser igualada
ao parâmetro λ. Parametrizando λ do valor mínimo possível para E (margem bruta
total) até o valor máximo encontrado no modelo de programação linear, é
encontrada uma sequência de soluções que relaciona margens brutas totais e
variâncias totais, considerando-se as restrições impostas ao modelo. O valor
mínimo para E foi calculado segundo as restrições de produção mínima para cada
atividade (menor nível de produção de cada atividade no período analisado).
Para cada valor de λ, há um valor de margem bruta total E tal que a variância
total V é mínima. Esse conjunto de pares, segundo Hazell e Norton (1986),
define a fronteira de eficiência, cuja ordenada equivale às margens brutas
totais, e a abscissa, às variâncias relacionadas (proxy para o risco).
Depois de construída a fronteira de eficiência, foi possível verificar em qual
posição a produção de 2006 se encontra em termos de retorno-risco. Essa
verificação ocorreu por meio da avaliação da posição relativa da produção de
2006 (níveis de produção verificados nesse ano) em relação à fronteira de
eficiência. Também foram analisados os níveis de produção de 2005, 2004, 2003 e
2002 e posicionados os pontos no espaço retorno-risco, permitindo assim uma
comparação com o desempenho de 2006. Com a análise retorno-risco, foi possível
avaliar quais seriam as alterações necessárias no portfolio de produção de
produtos agropecuários do estado do Paraná visando à máxima eficiência. Tais
alterações teriam como consequência uma mudança nas preferências de produção e,
consequentemente, afetariam a operação das cooperativas agropecuárias do
estado. Para avaliar qual seria a disposição das cooperativas para incentivar
as alterações propostas junto a seus cooperados e quais seriam os motivos para
a não adesão a elas, foi enviado um questionário e feitas entrevistas
semiestruturadas com os gestores das cooperativas. O questionário foi dividido
em cinco partes:
• identificação e caracterização da cooperativa – com base em
Barreiros (2005);
• comportamentos gerais da cooperativa perante o risco – com base em
Heidelbach (2007);
• percepção das fontes de riscos e respostas gerenciais para gestão
dos riscos das cooperativas – com base em Patrick et al. (1985),
Hardwood et al. (1999), Flaten et al. (2005) e Pinochet-Chateau et
al. (2005) e em entrevistas com especialistas e envolvidos nas
atividades do agronegócio do estado e nas cooperativas;
• percepção das fontes de riscos e respostas gerenciais para gestão
dos riscos dos cooperados – também com base nas mesmas referências da
terceira parte do questionário;
• influência de alguns fatores na decisão de não investir ou
incentivar a produção de alguns itens do agronegócio – com base em
Jerônimo, Maraschin e Silva (2006), Gimenes e Gimenes (2007) e nos
cenários de portfolios eficientes gerados pela análise E-V.
Para avaliar a consistência e a facilidade de entendimento dos conceitos e
questionamentos propostos no questionário, foi feito um pré-teste com um
técnico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), com três
especialistas do agronegócio e com quatro professores de administração que se
interessam pelos temas investigados. Para analisar as respostas, foi feita uma
análise descritiva dos dados. Dada a quantidade de respostas, não foi
necessário nenhum tratamento estatístico mais avançado. Todas as questões foram
avaliadas quanto às médias e à dispersão das respostas.
No questionário foi apresentada uma lista de motivos que poderiam influenciar a
decisão da cooperativa em não investir ou incentivar a produção dos itens
analisados no modelo de eficiência econômica gerado. O objetivo foi avaliar,
dentre algumas características particulares da doutrina cooperativista, se as
cooperativas estariam dispostas a incentivar mudanças no portfolio de produção
agropecuária de seus membros e quais motivos poderiam influenciar essa decisão.
Também foi solicitado que fossem consideradas as hipóteses de viabilidade
técnica e econômica, a capacidade de absorção da cooperativa e a possibilidade
de expansão geográfica para os casos em que não há vocação regional para a
cultura. Essas hipóteses foram levantadas a fim de tentar isolar os motivos
para não investir ou incentivar a produção, direcionando-os apenas aos motivos
listados. Para cada motivo, foi perguntado qual o grau de influência – pouca ou
muita. Além disso, também foi feita uma análise sobre a percepção de gestores
de quatro cooperativas acerca dos resultados apresentados na análise referente
ao escopo de produção proposto pelos dois cenários gerados pelo modelo, com o
objetivo de verificar a aderência entre a teoria e a prática dos negócios. No
questionário enviado também foi apresentada uma lista de fontes de riscos de
mercado e respostas gerenciais para a gestão desses riscos.
O questionário foi enviado às 65 cooperativas agropecuárias que constavam do
cadastro da Ocepar. Houve retorno de 14 questionários, representando uma
amostra de 21,5%. Conforme os dados da organização, em termos de faturamento, a
amostra representa aproximadamente 52% do faturamento das cooperativas do
estado e, em termos de cooperados, a quantidade de associados ativos representa
33% do total de cooperados do estado. Nas cooperativas da amostra, verifica-se
alta absorção da produção dos cooperados, com a maioria recebendo mais de 70%
da produção. No questionário foi solicitado o preenchimento por um gestor,
diretor, superintendente ou pelo presidente da cooperativa. No quadro_1,
apresentam-se as funções dos respondentes. Verifica-se que dentre eles houve
uma participação significativa da alta administração, representada pelos
diretores presidentes, diretor executivo, diretor superintendente, gerentes e
pelos presidentes. Apenas uma das cooperativas não respondeu a essa questão.
[/img/revistas/rausp/v46n4/a01v46n4q1.jpg]
4. REGIÃO DO ESTUDO E VARIÁVEIS DO MODELO E-V
A avaliação inicial do portfolio de produção agropecuária do Paraná foi feita
com base na análise do relatório anual do Departamento de Economia Rural
(Deral), da Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná (Seab), denominado de
Valor Bruto da Produção Agropecuária Paranaense. Na tabela_1 são apresentados o
valor bruto da produção (VBP) agropecuária do Paraná no ano-base 2005/2006 e a
variação na participação de cada grupo nos últimos dez anos.
Embora a produção agropecuária do estado seja variada (509 itens compõem o VBP
do estado), 70,05% do VBP são formados por apenas 17 itens. Esses produtos, por
serem os mais representativos da produção agropecuária paranaense, foram
utilizados como variáveis no modelo. Na tabela_2, página 331, são apresentados
os produtos utilizados como variáveis e a representatividade de cada um no VBP
de 2005/2006. Cada grupo e subgrupo de culturas do agronegócio, desenvolvidas
no estado, ficaram representados por esses itens, com exceção do grupo de
produtos florestais (por não haver dados históricos de preços e custos) e do
grupo floricultura (por ter uma representatividade muito baixa com relação ao
valor bruto da produção). Os itens feijão e fumo foram considerados,
respectivamente, de forma separada como feijão preto e de cor e fumo galpão e
fumo estufa, devido às cotações diferenciadas de preços pagos ao produtor. Por
esse motivo, o modelo teve no total 19 variáveis.
5. ANÁLISE DO PORTFOLIO DE PRODUÇÃO DE COMMODITIES
No agronegócio verifica-se, frequentemente, uma migração importante para
culturas com maior rentabilidade quando da ocorrência de crises em outras
culturas. Entretanto, os preços dos produtos agrícolas refletem o equilíbrio
entre oferta e demanda e normalmente um produto que está apresentando boa
rentabilidade em determinado momento pode estar subofertado em relação a sua
demanda potencial. Assim, o aumento da oferta ocasionado pela migração da
produção pode derrubar os preços e prejudicar os produtores recém-chegados à
cultura. Nesse caso, uma das consequências da variação dos níveis de produção é
a variabilidade das margens brutas, uma vez que a variação na oferta influencia
diretamente os preços pagos ao produtor (AGRIANUAL, 1998). No período de 1996 a
2006, verificou-se grande variação do nível de produção agropecuária no estado
do Paraná para os 19 itens analisados no estudo. Na tabela_3, página 332, são
apresentados os níveis de produção dos itens no período.
Verifica-se que para alguns itens a variabilidade dos níveis de produção foi
bem acentuada, com destaque para soja (que teve produção ascendente até o ano
de 2003), milho (com quebras de produção em 2002 e 2005), café (quebras em 2001
e 2005), trigo (decrescimento da produção entre 1996 e 2000 e instabilidade nos
anos seguintes). Os motivos para a variabilidade nos níveis de produção são
diversos, entre eles podem-se citar a variação climática, incluindo falta ou
excesso de chuvas, a variação dos níveis tecnológicos, a disponibilidade de
crédito e o nível de endividamento dos produtores, a variação na demanda e nos
preços. A maximização do modelo de programação linear usado no estudo também
apresenta variações significativas nos níveis de produção de alguns itens, com
relação aos níveis de produção alcançados em 2006. Verifica-se um potencial de
crescimento da margem bruta total em torno de 36% como consequência do ajuste
dos níveis de produção de alguns dos itens.
No modelo otimizado (apresentado e comentado na tabela_4, página 334, na coluna
Máx. PL), considerando os níveis de produção de 2006, os itens com margem
esperada favorável (positiva) tiveram a produção aumentada ou estável tendo
como limitante a área máxima histórica (para os itens de lavoura) ou a produção
máxima histórica. Os itens com margem esperada desfavorável (negativa) tiveram
a produção diminuída até o parâmetro de área mínima histórica ou produção
mínima histórica. A margem esperada foi calculada pela média das margens brutas
históricas do período de 1996 a 2006. Os itens milho, trigo, leite e ovos
apresentaram margem esperada negativa.
A incorporação do risco na análise do portfolio de produção ocorreu por meio da
matriz de covariância das margens brutas mensais dos itens durante o período de
análise (1996 a 2006), definindo a análise E-V (retorno-risco). Com a
incorporação dos riscos foi possível traçar a fronteira de eficiência,
relacionando retorno e risco e definindo os portfolios eficientes. O gráfico da
página 333 apresenta a fronteira de eficiência gerada e os pontos
correspondentes às produções de 2002 a 2006, o ponto da máxima eficiência para
2006 e o ponto com a produção máxima possível, determinada pelo modelo linear.
Com base no histórico de produção foram posicionados no espaço retorno-risco os
pontos referentes aos portfolios de produção dos anos de 2002 a 2006,
considerando a margem bruta total alcançada (E) e a variância total (V) dos
portfolios em cada ano. Assim, foi possível comparar o posicionamento da
produção de cada ano e as possíveis variações viáveis visando à máxima
eficiência (riscos de mercado medidos pela relação retorno-risco). Verifica-se
que, para o ano de 2006, seria possível reduzir consideravelmente o risco
(variância total) mantendo-se o mesmo nível de rentabilidade. Além disso, para
um nível de risco semelhante, seria possível aumentar a rentabilidade também de
forma significativa. Com exceção dos anos de 2002 e 2003, os demais
apresentaram níveis próximos de risco, registrando-se em 2004 a maior margem
bruta total. O ano de 2002, comparado à fronteira de eficiência da situação de
2006, foi o que apresentou a melhor relação retorno-risco. Em outras palavras,
o portfolio de produção foi o mais eficiente economicamente em termos de gestão
de riscos (comparando-se com os resultados de 2006).
Na tabela_4, página 334, apresentam-se, com os valores expressos em milhares, o
portfoliode produção de cada ano analisado na fronteira e as possíveis
variações do portfoliode 2006 visando à eficiência econômica. Com exceção de
leite e ovos, cujas unidades de medida são, respectivamente, mil litros e
dúzias, os demais itens utilizam toneladas como unidade de medida.
Comparando-se a situação de 2006, a produção real (coluna 2006 R) poderia ter
uma redução de 37,8% da variância total (risco) com a mesma margem bruta total
se o portfolio de produção fosse o indicado pela produção eficiente (coluna
2006 E). Com relação à produção máxima indicada pelo modelo de programação
linear (coluna Máx. PL), para um nível de risco praticamente estável (-2,3%),
seria possível aumentar a margem bruta total de 2006 em torno de 36%. Os
percentuais de variação, que indicam quais seriam as mudanças no
portfoliorealizado de 2006 (2006 R) visando ao portfolio eficiente (2006 E),
apontam para a diminuição na produção das culturas que possuem maior
variabilidade nas margens brutas e/ou apresentam baixa ou negativa margem
esperada, considerando o período de 1996 a 2006. Os anos de 2004, 2005 e 2006
apresentaram um nível de risco (V) semelhante, com 2004 apresentando maior
margem bruta total. Para verificar quais seriam as mudanças necessárias nos
portfolios de 2002 a 2005, visando à máxima eficiência em termos de retorno-
risco, seria necessário traçar a fronteira de eficiência individual para cada
um dos anos.
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Para os itens mais representativos do VBP do estado (soja, frango e milho), as
cooperativas apresentam graus alto, baixo e médio, respectivamente, de absorção
da produção. Para o cenário de diminuição do risco (diminuição de 37,8% na
variância total do portfolio) com manutenção da margem bruta total, por meio de
mudanças dos níveis de produção indicados em 2006 R para os níveis indicados em
2006 E, verifica-se que, dentre os itens que deveriam ter sua produção
diminuída, as cooperativas absorvem a produção de soja, milho, feijão, trigo,
mandioca e leite. Dentre os itens que deveriam ter sua produção aumentada, as
cooperativas absorvem a produção de café, suínos, frango e batata. Dentre os
itens em que não há histórico de absorção da produção e que poderiam impactar
na melhoria retorno-risco, destaca-se o item uva. Para o cenário de aumento da
margem bruta total (+36,3%) com manutenção do risco (diminuição de apenas 2,3%
na variância total do portfolio), por meio de mudanças dos níveis de produção
indicados em 2006 R para os níveis indicados em Máx. PL, verifica-se que,
dentre os itens que deveriam ter sua produção diminuída, as cooperativas
absorvem a produção de milho, trigo e leite. Dentre os itens que deveriam ter
sua produção aumentada, as cooperativas não absorvem a produção somente de
bovinos e uva.
É possível verificar que, para ambos os cenários avaliados, a variação nos
níveis de produção (para mais ou para menos) teria algum impacto na atividade
cooperativa. Nesse caso as alterações no portfolio de absorção das cooperativas
poderiam impactar na relação retorno-risco da produção agropecuária do estado
do Paraná e, considerando que as cooperativas poderiam incentivar tais
alterações, consequentemente, elas teriam condições de auxiliar na gestão dos
riscos de mercado do agronegócio no estado.
Entretanto, cabe ressaltar que os resultados que relacionam as variações
necessárias para partir do portfolio realizado em 2006 em direção aos
portfolios eficientes levam em consideração somente as visões econômica e
racional que embasam o modelo de Markowitz (análise E-V). Sob outras
perspectivas, tais como a social ou a de estratégia de mercado, por exemplo,
tais variações certamente seriam inviáveis. No contexto das cooperativas, a
racionalidade econômica poderia conflitar com as dimensões política e social,
fortemente presentes na doutrina cooperativa. Além disso, grandes alterações
nas preferências de produção dos itens considerados na análise poderiam
implicar grandes investimentos na estrutura produtiva das cooperativas.
Todavia, qualquer movimento rumo à diminuição da variabilidade do resultado
econômico do agronegócio influencia diretamente a segurança dos produtores
rurais, sobretudo os de pequeno porte que são maioria no Brasil.
6. GESTÃO DOS RISCOS DO AGRONEGÓCIO NAS COOPERATIVAS
Para investigar como as cooperativas avaliam os riscos a que estão sujeitas e a
prática de sua gestão, foi enviado um questionário com questões sobre o
comportamento geral da cooperativa perante os riscos, a percepção quanto à
importância das fontes de riscos para as operações da cooperativa e de seus
associados, as estratégias preferenciais para a gestão dos riscos e a
disposição para incentivar as alterações propostas no modelo de análise de
eficiência econômica, visando à melhoria geral da relação retorno-risco do
agronegócio paranaense. Nesta seção serão apresentados alguns resultados dessa
enquete, com ênfase nos aspectos relativos à gestão dos riscos de mercado. O
detalhamento dos resultados e da estrutura do questionário pode ser obtido em
Moreira (2009).
6.1. Comportamentos gerais das cooperativas perante o risco
Com o intuito de verificar como os respondentes percebem o comportamento geral
da cooperativa perante situações de riscos, foram apresentadas as questões
constantes na tabela_5, a qual também apresenta a média geral e o desvio padrão
das respostas. As questões foram apresentadas com possibilidades de respostas
segundo uma escala Likert, variando de discordo plenamente (1) a concordo
plenamente (5).
Na questão 1, os respondentes concordam que o risco pode ser uma oportunidade
em vez de pura ameaça, podendo ser traduzido em possibilidades de vantagem
competitiva. As respostas a essa questão conflitam com as respostas dadas às
demais. Em outras palavras, se os respondentes consideram que o risco pode ser
uma oportunidade em vez de pura ameaça, seria de esperar que estivessem mais
dispostos a assumir riscos financeiros e de mercado (questões 2 e 3).
Na questão 2, a média geral demonstra tendência à indiferença quanto à
possibilidade de a cooperativa assumir mais riscos de mercado. Ou seja, os
respondentes não consideram que sua cooperativa se diferencie das outras, em
termos de adoção de medidas que possam acarretar mais riscos de mercado.
Entretanto, devido ao alto valor do desvio padrão, verifica-se alta
variabilidade nas respostas. Na questão 3, a média geral demonstra tendência a
discordar da afirmação. Segundo os respondentes, sua cooperativa não está
disposta a assumir mais riscos financeiros que as outras, o que pode ser
considerado como uma característica de aversão ao risco ou conservadorismo. Na
questão 4, verifica-se tendência à indiferença quanto à proposição de inovações
gerenciais e de relacionamento entre cooperativa e cooperados. Na questão 5, a
média geral demonstra tendência à indiferença quanto à afirmação proposta, mas
o desvio padrão alto indica alta variabilidade nas respostas. Isso significa
que algumas cooperativas tendem a ser mais pioneiras quanto à adoção de
inovações tecnológicas, enquanto outras tendem a ser mais conservadoras. Na
questão 6, que objetivou medir de forma geral qual o grau de aversão ao risco,
a média geral das respostas indica tendência à aversão.
A análise das questões 1, 2 e 3 sugere uma diferenciação quanto ao tipo de
risco mais aceito pelas cooperativas. Em outras palavras, na questão 1, os
respondentes consideram que o risco pode ser traduzido em vantagem competitiva,
sugerindo que o risco pode ser considerado também como oportunidade ao invés de
pura ameaça. As respostas à questão 2 corroboram essa percepção com relação aos
riscos de mercado, sugerindo que as cooperativas estão mais dispostas a assumir
esse tipo de risco se isso for traduzido em possibilidade de diferenciação.
Entretanto, na questão 3, os respondentes de forma geral demonstram certo grau
de aversão aos riscos financeiros. Isso pode ser explicado pela dificuldade de
capitalização das cooperativas. A maior aceitação pelos riscos de mercado pode
ser explicada pelas características inerentes ao agronegócio, no qual a
variabilidade de preços e produção é parte integrante do dia a dia dos
produtores. Quanto ao grau de pioneirismo ou conservadorismo em relação à
adoção de inovações gerenciais, tecnológicas e de relacionamento, verifica-se
alto grau de heterogeneidade, constatado na análise das respostas das questões
4 e 5.
6.2. Importância dos riscos de mercado e relevância das respostas gerenciais
A tabela_6 apresenta uma relação de fontes de riscos de mercado que podem
afetar as operações das cooperativas. As respostas foram relativas ao grau de
importância que as cooperativas atribuem a cada fonte de risco. As questões
foram apresentadas com possibilidades de respostas segundo uma escala Likert,
variando de nada importante (1) a muito importante (5). São apresentadas as
médias gerais das respostas juntamente com sua variação relativa. A variação
nos preços de venda dos produtos foi o risco considerado como mais importante,
apresentando-se como quase unanimidade entre as cooperativas. A variação nos
preços da matéria-prima para produção da cooperativa e diminuição da demanda
pelos produtos da cooperativa, também foram consideradas como muito
importantes. Quanto ao risco de baixa diversificação, concentração em poucos
canais de distribuição e limitação da atuação geográfica da cooperativa,
verifica-se que a importância atribuída a essas possíveis fontes de riscos não
foi uma unanimidade. Outra fonte de risco que está relacionada à baixa
diversificação, que também foi considerada importante, é oriunda do foco em
produtos de baixo valor agregado (commodities).
Comparando-se esses resultados com os de outros estudos que tiveram como objeto
de pesquisa os produtores rurais diretamente e não as cooperativas – tais como
os estudos de Patrick et al. (1985), Flaten et al. (2005), Pinochet-Chateau et
al. (2005) e Heidelbach (2007) –, é possível verificar uma conformidade entre a
percepção dos riscos considerados como mais importantes. Nesses estudos também
é possível destacar a variação de preços como principal fonte para os riscos de
mercado. Essa similaridade de resultados aponta para a relevância de estudos
mais aprofundados sobre o risco nas cooperativas e não apenas diretamente com
os produtores rurais. A identificação e o entendimento da variedade de riscos a
que uma cooperativa está sujeita em suas operações podem contribuir para a
melhoria da administração e desempenho desse tipo de organização.
Além do grau de importância de cada fonte de risco, também foi investigado o
grau de relevância que pode ser atribuído para cada resposta gerencial possível
para lidar com os riscos de mercado. Na tabela_7, página 337, consta a
classificação das respostas gerenciais. As questões foram apresentadas com
possibilidades de respostas segundo uma escala Likert, variando de nada
relevante (1) a muito relevante (5). A resposta gerencial considerada como mais
relevante foi o uso de informações de mercado. Isso reflete a alta importância
atribuída à variação de preços e à variação dos níveis de demanda como fontes
de riscos. Para fazer frente a essas variações, as estratégias de uso de
informações de mercado – como subsídios para planejamento, diversificação dos
mercados de exportação, uso de contratos de futuros (hedge) e diversificação da
linha de produtos e atividades – podem ser consideradas como altamente
relevantes. Outras respostas gerenciais consideradas como relevantes são a
diversificação de mercados e a consolidação da marca da cooperativa em mercados
regionais e mais abrangentes (no estado e no País). Verificou-se uma tendência
à indiferença quanto ao foco para vendas em mercados regionais.
Na tabela_8, página 337, apresenta-se a classificação das respostas gerenciais
que a cooperativa poderia adotar para auxiliar seus cooperados. A oferta de
instrumentos de gestão dos riscos por parte das cooperativas para seus membros
pode gerar valor e aumentar a taxa de retenção (Manfredo e Richards, 2007).
Todas as respostas gerenciais são consideradas relevantes e estão ao alcance
das operações da cooperativa, cujo intermédio para facilitar a contratação de
instrumentos de hedge e o apoio ao uso de informações de mercado podem auxiliar
os cooperados a planejar melhor a produção e a comercialização de seus
produtos. Entretanto, embora o uso de informações de mercado seja uma prática
bastante comum e valorizada nas cooperativas, a contratação de instrumentos de
hedge não é muito comum, devido, sobretudo, à baixa disponibilidade desse tipo
de instrumento no mercado brasileiro de commodities.
6.3. Aderência das cooperativas às sugestões de alteração de portfolios
Para avaliar se as cooperativas estariam dispostas a incentivar as alterações
propostas no modelo de análise retorno-risco desenvolvido nesta pesquisa,
visando à melhoria da eficiência econômica do agronegócio paranaense, no
questionário enviado às cooperativas foram apresentados alguns motivos que
poderiam influenciar as decisões das cooperativas em relação a mudanças nos
seus portfolios e foi perguntado qual o grau de influência de cada motivo. Os
motivos e os objetivos investigados nos questionários encontram-se no quadro_2,
página 338.
A tabela_9, também na página 338, reproduz, de forma resumida, os cenários de
eficiência econômica gerados por meio da análise E-V e apresentados na tabela
4, com os itens que deveriam ter seu nível de produção aumentado pelos
objetivos ilustrados nos cenários. A tabela também inclui a lista dos motivos
que exerceriam muita influência na decisão em não investir ou incentivar a
produção desses itens. Para diminuir a variância total do portfolio de produção
agropecuária do estado do Paraná, mantendo-se o mesmo nível de margem bruta
total (cenário 2006 E), seria necessário aumentar a produção de café, frangos,
bovinos, suínos, batata e uva; além de diminuir ou manter o nível de produção
dos demais itens. Para maximizar a margem bruta total, mantendo-se quase o
mesmo nível de risco (cenário Máx. PL), seria necessário aumentar a produção de
soja, feijão, café, mandioca, frangos, bovinos, suínos, batata e uva; além de
diminuir ou manter o nível de produção dos demais itens.
O item soja é o que sofreria menor influência dos motivos listados na decisão
em não investir ou incentivar sua produção. Os motivos comuns a todos os itens
(exceção soja) em ambos os cenários foram os motivos 5 e 6. Em outras palavras,
a incompatibilidade com o foco estratégico e com o histórico de produção da
cooperativa seria o que mais influenciaria a decisão de não investir ou
incentivar a produção.
No cenário de diminuição da variância total para o mesmo nível de margem bruta
total (cenário 2006 E), além dos motivos 5 e 6, os motivos 2 e 7 também foram
os mais citados, ou seja, o desequilíbrio entre os objetivos econômicos e
sociais da cooperativa e possíveis resistências a mudanças por parte dos
cooperados seriam os motivos com muita influência em não investir ou incentivar
a produção de bovinos, suínos, batata e uva. Nesse cenário, para os itens café
e uva, que deveriam sofrer as maiores alterações no nível de produção, os
motivos comuns para não investir ou incentivar a produção são os relacionados à
incompatibilidade com o foco estratégico e com o histórico de produção da
cooperativa.
No cenário de maximização da margem bruta total com pequena alteração da
variância total do portfolio (cenário Máx. PL), os itens que deveriam sofrer as
maiores alterações em seu nível de produção são feijão, café, batata e uva. Os
motivos relacionados às características distintivas das cooperativas, os
motivos 1 e 2, influenciariam a decisão em não investir ou incentivar a
produção de mandioca, suíno, batata e uva. O destaque na análise desse cenário
é a indicação do motivo 7 para quase todos os itens, ou seja, a possível
resistência por parte dos cooperados poderia inviabilizar esse cenário.
Verifica-se que, para todos os itens listados, existe pelo menos um indicativo
de influência de algum dos motivos avaliados. Os motivos mais citados foram a
incompatibilidade com o foco estratégico da cooperativa e a não promoção do
progresso econômico aos cooperados. Entretanto, verificam-se graus
diferenciados de influência de cada um dos motivos listados. Os motivos que
apresentaram maior influência foram os relacionados à incompatibilidade com o
foco estratégico da cooperativa e com o histórico de produção da cooperativa e
possíveis resistências a mudanças por parte dos cooperados. Para os demais
motivos, o grau de influência é considerado menor.
Para aprofundar a análise de como as cooperativas avaliam e gerenciam os riscos
de mercado, foram conduzidas entrevistas semiestruturadas com gestores de
quatro cooperativas agroindustriais do Paraná. O roteiro da entrevista incluiu
perguntas a respeito das práticas da cooperativa na gestão dos riscos de
mercado, das percepções gerais sobre as propostas dos dois cenários de
portfolios eficientes gerados na análise E-V e dos possíveis motivos que
poderiam influenciar a decisão em não investir ou incentivar a produção de
itens do agronegócio, com principal ênfase aos produtos avaliados no modelo. As
respostas permitem avaliar qual seria a disposição dessas cooperativas para
incentivar a diversificação e quais motivos mais influenciariam a inviabilidade
dessa prática.
Inicialmente, foi solicitado ao respondente que indicasse quais seriam os
motivos gerais que poderiam influenciar a decisão em não investir ou incentivar
a produção dos itens do modelo. A pergunta foi feita de forma aberta. Neste
primeiro passo, o motivo relacionado a restrições técnicas foi o mais citado.
Em todas as citações, não se verificou nenhum motivo relacionado a
inconsistências entre os objetivos econômico e social das cooperativas. Todos
os respondentes enfatizaram que, havendo viabilidade técnica e econômica, não
haveria restrição quanto à produção de nenhum item que promovesse o progresso
econômico dos cooperados e da cooperativa.
Na sequência, foi apresentado o mesmo conjunto de motivos investigados nos
questionários enviados, apresentados no quadro_2. O objetivo foi investigar a
possível influência de outros motivos não relacionados à viabilidade técnica e
que são relacionados a características particulares da organização cooperativa
e aos objetivos econômico e social. Para análise dos motivos, foi perguntado:
"Existe algum item do agronegócio em que a cooperativa não estaria disposta a
investir ou incentivar a produção em decorrência dos motivos abaixo?".
A análise dessa parte da entrevista permitiu avaliar com maior detalhamento
quais seriam alguns dos motivos que poderiam influenciar as decisões de
diversificação. Os principais motivos que poderiam implicar o fracasso das
propostas visando à maior diversificação, como principal resposta gerencial aos
riscos de mercado, estão relacionados à viabilidade técnica e econômica, à
experiência do histórico de produção das cooperativas e a possíveis
resistências a mudanças por parte dos cooperados. Essas constatações estão em
conformidade com o que foi levantado por meio dos questionários discutidos
anteriormente. Segundo os respondentes, alguns aspectos marcantes da doutrina
cooperativa, como compromisso e objetivos sociais, não exerceriam grande
influência nas decisões relacionadas à diversificação. Esses resultados
reforçam outra pesquisa realizada em cooperativas do estado do Paraná que
concluiu, ao entrevistar os cooperados, ser o aspecto econômico e comercial o
principal motivo que leva o produtor rural a ingressar e manter-se na
cooperativa. Ou seja, a despeito da doutrina cooperativista, a cooperativa
posiciona-se a partir do que espera o cooperado, e ele prioriza a manutenção e
a expansão de sua renda ao desenvolvimento social (SILVA e SALANEK FILHO,
2009).
7. CONCLUSÃO
Neste artigo, apresentam-se uma análise do portfolio de produção de agronegócio
do estado do Paraná, as opções para melhorar a gestão dos riscos de mercado
(análise retorno-risco) e a possível influência das cooperativas agropecuárias
nesse contexto. Por meio da análise retorno-risco com a utilização do modelo E-
V de Markowitz, foi possível traçar uma fronteira de eficiência que permitiu
gerar dois cenários de portfolios eficientes. Em um dos cenários seria possível
diminuir consideravelmente o risco associado aos níveis de produção do
portfolio de 2006. Em outro cenário, seria possível aumentar a margem bruta
total mantendo-se praticamente estável o nível de risco.
Considerando as características dos produtores rurais quanto à aversão ao risco
e os princípios econômicos de geração de valor financeiro, é possível
considerar duas estratégias básicas para aumento de valor nas atividades do
agronegócio: aumentos nas expectativas de retorno sobre os investimentos e
redução na variação dessas expectativas (risco). Todavia, verifica-se que essas
estratégias não configuram atividades triviais. No estudo apresentado neste
trabalho, por exemplo, seriam necessárias grandes alterações nos níveis de
produção das atividades consideradas de maior risco e/ou com margem bruta média
de baixa atratividade. No entanto, segundo os gestores das cooperativas, tais
alterações poderiam ser inviáveis devido ao foco estratégico das cooperativas e
ao alto grau de resistência a mudanças por parte dos produtores rurais.
Resumindo, com a análise dos questionários e das entrevistas, verifica-se que,
no contexto paranaense, os principais motivos que poderiam inviabilizar
propostas de mudanças no portfolio, visando à máxima eficiência econômica em
termos de retorno-risco, estão relacionados ao foco estratégico da cooperativa,
às restrições técnicas e às resistências dos cooperados. Os motivos
relacionados aos princípios doutrinários e aos objetivos econômico e social da
cooperativa, que efetivamente diferenciam esse tipo de organização das empresas
mercantis, receberam um grau menor de influência. Isso denota uma visão mais
racional por parte das cooperativas, em detrimento das possíveis influências da
doutrina cooperativista nas decisões. Por isso, pode-se inferir que as
especificidades da organização cooperativa, refletidas na doutrina ou nos
objetivos econômico e social, exerceriam pouca influência na adoção de
respostas gerenciais visando à diversificação como forma de melhoria da relação
retorno-risco. Em outras palavras, a doutrina cooperativa, no contexto das
cooperativas do Paraná, pouco influenciaria a gestão dos riscos de mercado por
meio desse instrumento. Os resultados da pesquisa sugerem que a tensão entre a
dimensão política e a racionalidade econômica na gestão cooperativa não é tão
preponderante e não exerce muita influência na gestão dos riscos do agronegócio
paranaense.