Geração e gestão do valor por meio de métricas baseadas nas perspectivas do
capital intelectual
1. Introdução
A gestão do valor é um tema de grande importância não só como instrumento de
avaliação de empresas, mas também como ferramenta para tomada de decisão. O
objetivo primordial de uma organização é otimizar a geração de valor, focando
não só desempenho financeiro, mas também a performance nas vertentes social e
ambiental, o denominado triplo bottom-line.
No entanto, ainda são utilizados critérios de mensuração (financeiros)
amplamente fundamentados no capital tangível e voltados para uma economia
essencialmente industrial, ao mesmo tempo que os fatores tradicionais de
produção, como capital físico, matéria-prima e mão de obra (na acepção pura e
simples do termo) representam uma parte cada vez menor do processo de criação
de riqueza.
Para fazer frente a esse aparente paradoxo, discutir-se-á, como questão de
pesquisa deste trabalho, se a geração de valor de mercado por empresas
brasileiras é impactada pelos componentes do capital intelectual.
Autores como Edvinsson e Malone (1997) e Sveiby (1997) consideram que o hiato
entre o valor patrimonial e o valor de mercado das empresas evidencia a
importância dos ativos intangíveis, sujeitando-se eles ao contexto e à
conjuntura.
Bond e Cummins (2000) destacam que inferir o valor dos intangíveis por meio da
diferença entre o valor de mercado e o valor contábil pode ser falacioso e cria
um raciocínio circular: os princípios contábeis a respeito dos ativos
intangíveis são insatisfatórios, o que dificulta a avaliação dos intangíveis e,
con-
sequentemente, das empresas por parte dos participantes do mercado. No entanto,
assumindo-se eficiência de mercado, o preço de um ativo traduziria o valor
presente do fluxo de caixa esperado a ser gerado pela empresa, a diferença
entre o valor contábil e o valor de mercado seria, então, explicada, em grande
parte, pelos ativos intangíveis. Tais autores questionam se "poderia uma
justificativa tão simples explicar algo que nem mesmo somos capazes de
mensurar?" (BOND e CUMMINS, 2000, p.72, tradução nossa).
Naturalmente, parte desse hiato deve-se à diferença entre o valor de mercado e
o custo histórico sob o qual alguns ativos são contabilizados podendo, ainda,
haver diferenças intertemporais e ajustes decorrentes de impairment tests. Mas,
mesmo assim, a razão entre o valor patrimonial e o valor de mercado - price-to-
book value - das empresas é frequentemente utilizada como proxy da intensidade
dos ativos intangíveis em uma empresa.
Controvérsias à parte, o fato é que elementos desenvolvidos internamente pela
empresa, como sistemas de informação, redes, marcas e conhecimento representam
uma importante parcela do valor de uma companhia e tornaram-se fatores críticos
de competitividade por parte das organizações. Ativos fixos continuam exercendo
fundamental importância, mas é exatamente a combinação dos dois tipos de ativos
que é capaz de gerar valor.
Existem duas dificuldades intrínsecas ao estudo de ativos intangíveis. A
primeira delas diz respeito à sua definição e à classificação dos tipos de
ativos intangíveis existentes. Por exemplo, muitos autores consideram capital
intelectual e capital de conhecimento como sinônimos da expressão ativos
intangíveis (LEV, 2001; STEWART, 2001), enquanto outros consideram que capital
intelectual e capital de conhecimento são tipos de ativo intangível (REILLY e
SCHWEIHS, 1999). A outra dificuldade diz respeito à apuração do valor gerado
por esses ativos - devido à própria natureza dos intangíveis, estes são de
difícil mensuração. Não há na literatura um consenso a respeito da melhor
metodologia a ser utilizada ou uma técnica que seja amplamente utilizada e,
portanto, consagrada no meio acadêmico (ROOS et al., 1997; REILLY e SCHWEIHS,
1999).
Apesar das limitações teóricas, parece razoável sugerir que, se a presença de
ativos intangíveis está entre os fatores que determinam o fluxo de caixa futuro
de empresas, então a gestão adequada desses recursos influencia a geração de
valor por parte dessas empresas.
Perante essa proposição, empresas que empregam métricas de gerenciamento
baseadas em perspectivas múltiplas teriam por diretriz a otimização do valor de
uma maneira ampla, não se concentrando apenas nos indicadores financeiros (que
permanecem importantes).
2. Relevância e delimitação do estudo
A ausência de consenso no meio acadêmico acerca da conceituação e da
metodologia de avaliação de ativos intangíveis tem diversas implicações
negativas para empresas intensivas nesses recursos: penalização em seu custo de
capital, difícil obtenção de recursos e estabelecimento de contratos de seguro
devido à ausência ou insuficiência de colaterais, espaço para o comportamento
oportunista de insiders, entre outros (AMIR e LEV, 1996; ABODY e LEV, 2000).
Tendo em vista oportunidades de negócios com elevadas expectativas de
crescimento, o setor de Private Equity e Venture Capital incorre em um elevado
custo de seleção e monitoramento de investimentos (RIBEIRO e TIRONI, 2007).
Contudo, nem todos os investidores estão dispostos a investir em obtenção de
informações sobre ativos intangíveis. Kayo e Famá (2004) apontam que empresas
intangível-intensivas apresentam menor nível de endividamento, apesar de não
demostrarem maior nível de risco, o que poderia sinalizar uma dificuldade de
acesso aos mercados de capitais por parte dessas empresas.
Na mesma vertente, Barth, Kasznik e McNichols (2001) realçam a importância da
informação gerada por analistas de mercado quando são enfocadas as empresas
intensivas em capital intelectual, visto que a emissão de pareceres
especializados contribuiria para diminuir a assimetria decorrente da não
identificação do fair value dos intangíveis nas demonstrações societárias
tradicionais.
Respectivamente ao contexto brasileiro, Neves (1996) já alertava para a
importância da razão MV/BV (Market Value-to-Book Value) no apreçamento de
ativos, muito embora não tenha identificado suporte teórico em profundidade.
Não obstante, Serenko, Bontis e Grant (2009) apontam, em busca de identidade e
corpo de conhecimento para a área, a existência de 2.175 artigos publicados
sobre gestão do capital intelectual e seus entrelaçamentos com gestão do
conhecimento, com o Brasil ocupando a décima sexta posição na produção de
pesquisas afins. É importante ter em mente os achados dos autores sobre a
importância da produção de praticantes para dar contorno ao corpo de
conhecimento.
No contexto brasileiro, e tomando por base unicamente os trabalhos apresentados
no Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração
(EnANPAD) entre 1997 e 2009, identificaram-se 65 estudos que abordam
especificamente questões vinculadas à gestão do capital intelectual.
Os resultados do presente estudo poderão estimular a discussão sobre gestão do
desempenho a partir de perspectivas voltadas para destacar o valor do capital
intelectual, além de motivar os gestores brasileiros a prover informações mais
detalhadas e padronizadas a respeito de seus ativos intangíveis, diminuindo a
assimetria informacional e possibilitando o fomento a empresas inovadoras,
intensivas em conhecimento e demais ativos imateriais.
3. Ativos Intangíveis e Capital Intelectual
O termo tangível vem do latim tangere, que significa tocar. Logo, intangível é
aquilo que não pode ser tocado, por não possuir um corpo físico. No entanto,
conforme salientam Schmidt e Santos (2002), classificar ativos intangíveis como
ativos que não podem ser tocados seria incorreto, uma vez que ativos como
duplicatas a receber e aplicações financeiras são exemplos de ativos que não
são tangíveis, mas são classificados como tal.
Do ponto de vista contábil, ativos são direitos a benefícios futuros sob o
controle da organização. Essa definição, dada por Hendriksen e Breda (apud
SCHMIDT e SANTOS, 2002), é bastante ampla e, para refinar o critério de
inclusão de um agente na categoria de ativo, os ativos devem também obedecer
aos seguintes requisitos: possuírem relevância na tomada de decisões, serem de
mensuração suficientemente confiável e te-
rem valor preciso.
Aí reside a dificuldade de tratamento dos ativos intangíveis em balanços
contábeis: apesar de serem de grande importância na tomada de decisões e serem
capazes de gerar benefícios futuros, nem sempre é possível realizar uma
mensuração suficientemente confiável dos retornos futuros que eles gerarão a
seus proprietários.
Reilly e Schweihs (1999) colocam que, para ser considerado um ativo intangível,
um fenômeno econômico deve atender aos seguintes requisitos:
* estar sujeito à identificação específica e à descrição reconhecível. Caso
contrário, não passaria de uma ideia, um conceito, uma característica ou
um elemento de um ativo;
* estar sujeito à existência e à proteção legal, tanto para pleitear por
seus direitos de propriedade quanto para responder pelas consequências
geradas pelo ativo intangível;
* estar sujeito ao direito de propriedade privada e esse direito deve ser
legalmente transferível, seja separadamente, seja em conjunto com outros
ativos tangíveis ou intangíveis;
* haver alguma evidência objetiva ou manifestação real da existência do
ativo intangível (como contrato, licença, documento de registro, manuais,
listagens etc.), a fim de atender aos requisitos da possibilidade de
transferência e de proteção legal, mencionados acima;
* ter sido criado em um momento ou evento identificável;
* estar sujeito à destruição ou ao término em determinado momento ou como
resultado de algum evento identificável.
Aqueles autores alegam que alguns elementos imateriais de fato influenciam o
valor de ativos intangíveis, mas não poderiam, por si sós, ser considerados
ativos. Alguns exemplos desses elementos intangíveis são: participação de
mercado, alta lucratividade, falta/presença de regulação, posição monopolista,
presença de barreiras à entrada de concorrentes, potencial de mercado,
presença/ausência de liquidez, controle (ou ausência de controle) proprietário,
entre outros.
Sveiby (1997) propõe que os ativos intangíveis sejam divididos em competência
dos empregados, estrutura interna e estrutura externa. Segundo esse autor, é
impossível conceber uma empresa sem pessoas e, embora não sejam de propriedade
da empresa, os empregados e seus conhecimentos devem ser considerados ativos em
face do fato de a competência dos empregados incluir a capacidade de agir em
uma ampla variedade de situações para criar tanto ativos tangíveis quanto
intangíveis. A estrutura interna é formada por patentes, conceitos, modelos,
sistemas de computação e sistemas administrativos. Sveiby (1997) também inclui
nessa categoria o espírito e a cultura organizacionais. A estrutura externa é,
por sua vez, formada pelos relacionamentos com clientes e fornecedores,
destacando nesses, como importantes fatores, a marca e a reputação ou imagem da
companhia.
No modelo de Edvinsson e Malone (1997), para enquadramento do capital
intelectual, o capital do cliente é parte integrante do capital estrutural. A
outra parte do capital estrutural é formada pelo capital organizacional que,
por sua vez, inclui o capital de inovação e o capital de processo.
Para Reilly e Schweihs (1999), os atributos que tornariam oportunos os ativos
intangíveis como geradores de valor seriam: a possibilidade de seu proprietário
obter benefícios econômicos, seja na forma de um aumento da receita, seja na
forma de uma redução de custos; e a capacidade de contribuir positivamente no
valor de outros ativos tangíveis ou intangíveis com os quais se associa.
Stewart (2001) fundamenta-se na classificação de Edvinsson e Malone, porém
posiciona o capital formado por afinidade e proximidade com clientes e
fornecedores no mesmo nível do capital humano (formado por talento, habilidade
e conhecimento das pessoas) e do capital estrutural (formado por patentes,
processos, banco de dados, redes etc.). Segundo Stewart (2001), os três tipos
de capital intelectual estariam presentes em todas as empresas, embora a ênfase
em sua utilização varie em cada uma delas.
Para M'Pherson e Pike (2001), as interações entre os componentes tangíveis e
intangíveis de cada tipo de ativo deveriam ser salientadas. Segundo os autores,
os modelos tradicionais de classificação de ativos representam o capital
intelectual como uma estrutura hierárquica, conforme demonstrado na figura_1.
Esse arranjo não seria, porém, aparentemente, suficiente para expressar a
dinâmica de criação de valor porque nele os elementos hierárquicos nas duas
árvores seriam abordados como segregados e independentes; os domínios tangível
e intangível estariam sendo mensurados por padrões desgastados historicamente;
e cada elemento representaria um valor que, combinado por simples adição,
contribuiria para o valor final da empresa.
Ballow, Burgman e Molnar (2004) propõem uma classificação mais ampla, que
inicialmente segrega os ativos de acordo com o tipo. Segundo os autores, os
ativos podem ser classificados como contábeis tradicionais (monetário e físico)
ou como capital intelectual (relacional, organizacional e humano).
Adicionalmente, cada tipo de ativo é classificado de acordo com seu
reconhecimento - tangível ou intangível. Em outras palavras, esse modelo de
classificação considera que cada um dos tipos de ativo identificados contém um
componente tangível e um componente intangível.
O modelo de Ballow, Burgman e Molnar (2004) ainda alerta para o fato de que uma
parcela pequena dos ativos-chave da empresa está registrada na célula superior
esquerda do quadro_1 - atualmente o principal foco dos esforços de gestão - e
para a necessidade de incorporar uma visão abrangente sobre os ativos para a
tomada de decisão.
Com efeito, mesmo para o mapeamento e avaliação do capital intelectual,
existiriam elementos tangíveis que afetam a geração de valor e que, mesmo não
sendo de difícil visualização ou de evidente constatação de materialidade,
deixam de ser abrangidos pelos procedimentos tradicionais das contabilidades
financeira e gerencial, potencializando efeitos de assimetria de informações.
A maior parte de estudos que analisa evidências empíricas da criação de valor
por meio de ativos intangíveis limita-se a investigar se há ou não influência
dos ativos intangíveis - representados, por exemplo, pela razão entre o valor
contábil e o valor de mercado (price-to-book value) - no valor de mercado da
empresa ou na volatilidade dos preços das ações. Não têm, portanto, o objetivo
de mensurar o valor dos ativos intangíveis de uma maneira global ou atribuir
valor aos diferentes tipos de ativos intangíveis.
Baglieri et al. (2001) mostram que, assim como a escolha da conceituação de
ativo intangível a ser adotada, a metodologia de avaliação de intangíveis a ser
escolhida depende, em parte, da finalidade da avaliação de intangíveis. Se o
objetivo for ordenar a prioridade de projetos a serem implementados em uma
organização, é possível incorporar critérios mais subjetivos à análise; no caso
de uma avaliação que vise comparar o impacto de ativos intangíveis no valor de
diferentes empresas, ela pode esbarrar na possibilidade de acesso a informações
confidenciais.
Gelb e Siegel (2000) investigam se empresas intensivas em ativos intangíveis
sinalizam valor a seus investidores e acionistas por meio da recompra de ações
e pagamento de dividendos, como uma maneira de compensar a falta de informações
relevantes sobre o valor de seus ativos intangíveis em seus registros
contábeis. Os resultados mostraram-se positivos para empresas com elevados
níveis de gastos em publicidade e em pesquisa e desenvolvimento, que controlam
por tamanho, desempenho, alavancagem, liquidez e Q de Tobin.
Outro tipo de ativo intangível objeto de diversos estudos é a reputação da
empresa - enquanto Friedman (1962) considera a responsabilidade social uma
"doutrina fundamentalmente subversiva", Ullman (1985) afirma que não
há relação alguma entre performance social e financeira. Cornell e Shapiro
(1987) encontram, entretanto, relação positiva entre responsabilidade social
corporativa e resultados financeiros, mostrando que comportamentos socialmente
irresponsáveis podem gerar custos implícitos para a empresa.
Sanchés e Sotorrío (2007) propuseram uma metodologia qualitativa para verificar
se o desempenho financeiro é influenciado pela reputação. Os resultados
encontrados sugerem que a reputação impacta os resultados financeiros de
maneira positiva, mas não linear. Em outras palavras, haveria um limite na
capacidade de geração de valor por meio do aumento da reputação, imagem e
prestígio da empresa.
Quanto aos impactos da presença intensiva de esclarecimentos e declarações
sobre o capital intelectual nas demonstrações societárias, enquanto Singh e Van
der Zahn (2009) apontam a criação de expectativas não confirmadas de valor
durante as Inital Public Offering (IPO) - ofertas públicas iniciais de ações -,
Alwert, Bornemann e Will (2009) obtêm evidências de que a existência de
informações tornaria mais homogênea as percepções de analistas de mercado sobre
o risco de um empreendimento.
Em um contexto de mudanças e exigências crescentes, Burgman e Roos (2007)
apontam que a necessidade e a demanda por informações publicadas a respeito do
capital intelectual de organizações complexas seriam pautadas por forças de
mercado, dentre as quais se destacam:
* o aparecimento de modelos de negócio diferentes dos até aqui surgidos, em
grande parte derivados da cadeia de valor;
* a natureza específica dos fundos e tipos de investidores (mútuos, pensão,
hedge);
* o papel desempenhado pelas agências de avaliação de risco;
* o aprimoramento das demonstrações financeiras e regimes de governança
corporativa.
Quando enfocado o momento de transição das práticas contábeis no Brasil, à
vista da necessária harmonização com as práticas e procedimentos previstos pelo
International Financial Reporting Standards (IFRS) - padronização internacional
de relatórios financeiros -, Arruda (2009) identificou em empresas brasileiras
listadas no Nível 2 de Governança Corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo
(Bovespa) a maior concentração de itens informados no campo do capital externo
- equivalente à visão de M'Pherson e Pike (2001) para capital de relacionamento
-, concluindo que haveria preocupação dos gestores em ampliar o acesso do
mercado de capitais às informações sobre o capital intelectual de modo a tornar
mais efetivo o processo de atribuição de valor e formação de carteiras.
4. Balanced Scorecard
O Balanced Scorecard (BSC) foi desenvolvido para fazer frente a um problema de
avaliação de desempenho, uma vez que, segundo Kaplan e Norton (1992), os
índices financeiros por si sós não refletiriam as atividades criadoras de valor
das empresas - consequência da crescente importância da gestão e exploração dos
ativos intangíveis.
Kaplan e Norton (1992) propõem que à tradicional perspectiva financeira sejam
integrados três elementos não financeiros: a perspectiva do cliente, a
perspectiva dos processos internos e a perspectiva do aprendizado e do
crescimento. Além disso, os indicadores também seriam balanceados entre curto e
longo prazo, entre ocorrência e tendência e entre perspectivas internas e
externas de performance. Dessa forma, o BSC permite que a companhia faça o
acompanhamento dos resultados financeiros de curto prazo enquanto monitora o
progresso no desenvolvimento de capacidades (capabilities) e ativos intangíveis
que fomentam o desempenho financeiro futuro.
Além de focar a mensuração de indicadores, o BSC busca também traduzir a visão
e a estratégia das empresas num conjunto abrangente de objetivos e medidas de
performance, servindo de base para um sistema de gestão estratégica (KAPLAN e
NORTON, 1996). A fim de gerenciar os objetivos, os indicadores do BSC precisam
estar integrados à cadeia de relações causais que definem e retratam a história
da estratégia do negócio. À medida que a estratégia toma a forma de um conjunto
de hipóteses de causa e efeito, o sistema de medição busca tornar explícitas as
relações (hipóteses internas) entre os objetivos e, consequentemente, entre as
medidas que permeiam as quatro perspectivas do BSC.
Com relação ao gerenciamento dos ativos intangíveis, Kaplan e Norton (2004)
buscam reforçar sua relevância: se o valor deriva cada vez mais dos ativos do
conhecimento, seria de vital importância mensurá-los com o devido destaque, já
que executivos e funcionários tenderiam a dedicar maiores níveis de atenção
para aquilo que é posto em voga pelos mecanismos de controle. Fundamentalmente,
não seria possível fazer uma boa gestão sobre itens que não estivessem sob
acompanhamento permanente, nem seria possível medir aquilo que não fosse
perfeitamente descrito.
A aplicação concreta do Balanced Scorecard para otimizar a gestão do valor com
base nos intangíveis e no capital intelectual é retratada por Bose e Thomas
(2007) ao estudarem em profundidade a trajetória da cervejaria australiana
Fosters. Nesse caso, o BSC permitiu trazer visibilidade e maior gerenciamento
da sinergia de valor dos intangíveis, anteriormente disperso e subutilizado.
5. Definição constitutiva e operacional das Métricas de Valor baseadas nas
perspectivas do Capital Intelectual
Em estudo exploratório de Rezende (2006), foram discutidas as possibilidades de
alcance de valor superior com base no alinhamento estratégico, na adoção do
Balanced Scorecard e na gestão do capital intelectual. Tratava-se de pesquisa
empírica conduzida entre junho e dezembro de 2005, com adesão de 95
questionários validados, representando uma taxa de resposta efetiva de 7,6%.
Com base no bloco de assertivas para caracterizar o desempenho das observações
a partir do enfoque de performance balanceada, no qual os sujeitos da pesquisa
manifestavam sua percepção quanto ao desempenho comparativo entre a organização
e seus principais competidores, foram computadas métricas ex ante, a partir de
escalas aditivas fundamentadas em dimensões teóricas, e métricas ex post, a
partir de dimensões latentes.
As métricas ex ante foram apuradas a partir de médias aritiméticas simples das
pontuações da escala correspondente à percepção dos respondentes, conforme
categorização apresentada na tabela_1. Também foram operacionalizados dois
construtos a partir da soma vetorial das dimensões para compor a expressão de
capital intelectual e do valor total, visto que, mesmo a formação de valor
ocorrendo pela integração de fluxos e fontes nas diversas dimensões do capital
intelectual, cada dimensão precisa ser tratada com um eixo exclusivo:
* Índice de Capital Intelectual: ICI = (ICH2 + ICR2 + ICO2 )(1 / 2);
* Índice de Valor Total: IVT = (ICI2 + ICF2)(1 / 2).
As métricas ex post foram obtidas a partir do composto de respostas dos
sujeitos, de modo a considerar a variabilidade inerente aos casos estudados,
tendo por recurso a redução do bloco performance balanceada a suas dimensões
latentes (HAIR, ANDERSON e TATHAM, 2005), conforme consta na tabela_2. As
expressões de capital intelectual e valor total também foram operacionalizadas
por meio de somas vetoriais.
No quadro_2, página 59, apresenta-se a comparação do aproveitamento das
respostas para composição das métricas ex ante e ex post. É notável que,
diferentemente de aspectos comuns à revisão de literatura, diversas assertivas
foram deslocadas pela redução às dimensões latentes para o campo do capital
humano, caracterizando maior complexidade para estudo de fluxos e fontes de
valor que estejam mais fortemente atrelados às competências individuais (ROOS
et al. 1997; SVEIBY, 1997; STEWART, 2001).
Posteriormente, as distribuições dos índices ex ante e ex post foram
padronizadas com base no escore Z e as observações foram então hierarquizadas
em três agrupamentos, permitindo identificar conglomerados de empresas com
comportamentos distintos no tocante à geração de valor (quadro_3, página 59). O
processo de agrupamento hierárquico das observações foi testado com base no
poder explicativo de funções de classificação discriminantes para os três
clusters em cada linha de estudo (tabela_3, página 59) e dispersão das
observações (figura_2, página 60).
A tipologia de empresas afins às dimensões teóricas do capital intelectual foi
obtida a partir da soma vetorial dos itens pesquisados no bloco de variáveis
performance percebida- de acordo com taxonomia de Stewart (2001) -, enquanto os
tipos afins às dimensões latentes foram obtidos com base na ortogonalização das
variáveis do mesmo bloco de proposições (REZENDE, 2006; REZENDE e NOGUEIRA,
2010).
6. Procedimentos metodológicos
Em sequência às conjecturas sobre a criação de valor a partir do capital
intelectual, neste estudo buscou-se verificar se o ponto de vista dos sujeitos
da pesquisa vai ao encontro da apreciação feita pelo mercado de capitais, sendo
desenvolvidos os questionamentos e testes de hipóteses apresentados no quadro
4, página 60.
A amostra tratada representa empresas brasileiras de grande complexidade e
repercussão (tabelas_4 e 5, página 61), levando-se em conta a performanceentre
os anos de 2002 a 2004.
Para respeitar a janela temporal de análise e permitir que os retornos de
mercado pudessem ser comparados, foram ana-
lisadas informações sobre o valor de mercado, o retorno das ações e o valor
patrimonial das empresas da amostra nesse mesmo período.
As percepções sobre performance organizacional foram operacionalizadas a partir
da percepção dos executivos de topo sobre o desempenho relativo de cada
organização em relação aos principais concorrentes para itens de um placar
balanceado hipotético e comum.
Foi aplicado filtro posterior para empresas brasileiras listadas na Bovespa,
compondo estrato não probabilístico ou por conveniência que, segundo Boyd e
Westfall (1984), corresponde ao método de amostragem em que a possibilidade de
escolher certo elemento da população é desconhecida.
As empresas do estrato ora estudado apresentam os seguintes limites inferiores
e superiores:
* faturamento - entre R$ 21 e R$ 150.453 milhões;
* patrimônio - entre R$ -95 e R$ 69.874 milhões;
* mão de obra - entre 300 e 195.836 colaboradores;
* valor agregado - entre R$ 30 e R$ 195,84 mil por colaborador.
As informações do mercado de capitais necessárias para a realização do estudo -
preços diários de fechamento das ações e dados contábeis das empresas estudadas
- foram obtidas na base de dados Economática.
O estudo apresentado no presente artigo, quanto aos objetivos é classificado
como exploratório (VERGARA, 1997), devido ao pequeno número de trabalhos
existentes sobre a participação dos componentes do capital intelectual na
geração de valor e ao ineditismo do protocolo adotado para cômputo dos índices.
Gil (1991, p.43) afirma que o estudo exploratório volta-se para
* "desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em
vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis
para estudos posteriores".
O estudo é de caráter descritivo (VERGARA, 1997), apontando como os componentes
do capital intelectual interagem e como seriam agrupadas as empresas da amostra
quanto à geração de valor.
Quanto aos meios de investigação utilizados, o estudo é de caráter
bibliográfico, devido à pesquisa realizada para a fundamentação teórica sobre
ativos intangíveis e balanced scorecard e também na metodologia, e documental,
pois as informações necessárias para a sua elaboração foram obtidas de fontes
secundárias, por meio de periódicos, artigos, revistas e por meio de bases de
dados compiladas (VERGARA, 1997).
Bento e Ferreira (1982) destacam que o tipo de contribuição que um pesquisador
pretende oferecer deve ser compatível com o estágio em que se encontram as
investigações sobre o tema. Por tratar-se de um estudo que parte de resultados
sugestivos encontrados na literatura, os resultados da pesquisa podem ser
classificados como preditivos. Dessa forma, a pesquisa detecta que certos
aspectos se associam a determinadas características, mas não é possível afirmar
que tais aspectos tenham nexo causal.
7. Operacionalização e resultados
Analisando-se a base de dados original, das 95 empresas observadas foram
selecionadas aquelas com papéis negociados na bolsa de valores entre os anos de
2002 e 2004, totalizando 37 empresas. Esse primeiro critério de filtragem foi
adotado, entre outros motivos, pela utilização da média da razão entre o valor
de mercado e o valor patrimonial (price-to-book value) como proxy para geração
de valor - Pergunta 1.
Para testar as hipóteses de 1 a 6, foi estimada a correlação não paramétrica
entre a geração de valor de mercado e cada um dos construtos vinculados à
gestão de valor nas organizações estudadas. A operacionalização de tais itens
alinha-se ao cerne dos estudos de Kaplan e Norton (1992; 1996; 1997; 2001;
2004): a obtenção de padrão diferenciado de desempenho de longo prazo, capaz de
materializar a estratégia e gerar valor consistentemente superior ao dos
concorrentes, por meio da gestão balanceada da performance.
Os testes de hipóteses em resposta à Pergunta 1 foram conduzidos com o emprego
de variáveis afins ao modelo geral de enfoque de gestão balanceada de
performance proposto por Kaplan e Norton (2004) e operacionalizadas por Rezende
e Nogueira (2010), conforme consta na tabela_6.
Para resposta às Perguntas 2 e 3, registradas no quadro_4, foram analisados
dois grupos de segmentos homogêneos obtidos por meio de procedimentos de
conglomerização distintos, conforme descrito no tópico 5, de maneira a
verificar se os dife-
rentes níveis de performance das organizações se traduzem em maiores níveis de
apreciação (price-to-book value) e retorno no mercado acionário, o que levou à
realização de testes de diferença de médias para as hipóteses 7 a 10.
A análise proposta para investigar a associação entre a geração de valor de
mercado, medida pelo price-to-book value médio da empresa, e a performance da
organização, tendo em conta não só o índice de capital financeiro, mas também
os componentes do capital intelectual - capital de relacionamentos, capital
organizacional e capital humano -, permitiu a identificação de associação
positiva e significativa entre geração de valor em cinco dos seis índices
analisados (para p < 0,05), como pode ser observado na tabela_7, sendo
consideradas apenas as empresas cotadas em bolsa com registro de movimentação
em 31 de dezembro dos anos aqui retratados.
O índice de capital financeiro mostrou-se positivamente correlacionado ao
price-to-book value médio (0,495) para p < 0,05, levando à rejeição de H0,1.
Dentre os índices componentes do capital intelectual, somente o índice de
capital humano não apresentou correlação significativa, levando à rejeição de
H0,4. O índice de capital de relacionamento e o índice de capital
organizacional mostraram-se correlacionados ao price-to-book value médio, sendo
possível rejeitar H0,2 e H0,3para p < 0,05.
Mesmo sem registrar associação com os componentes índice de capital
organizacional e índice de capital humano, foi identificada correlação
significativa para p < 0,05 entre o price-to-book value e o índice de capital
intelectual, levando à rejeição de H0,5.
O índice de valor total, que engloba tanto o índice de capital financeiro
quanto os componentes do capital intelectual, também apresenta correlação
estatisticamente significante com o price-to-book value médio, levando, com p <
0,05, à rejeição de H0,6.
Em resposta às Perguntas 2 e 3, e utilizando-se o teste não paramétrico de H de
Kruskall-Wallis com apoio do SPSS, foram estimadas as diferenças de médias
(tabela_8) entre os segmentos homogêneos previamente identificados, resultando
em estatísticas significantes para os conglomerados "dimensões
latentes" e"dimensões teóricas do capital intelectual". Tais
resultados levaram à rejeição de H0,7 e H0,9, em favor da existência de
diferenças de médias significativas para p < 0,05, e à aceitação das hipóteses
nulas 8 e 10.
Analisando as empresas da amostra quanto ao price-to-book value médio no
período de 2001 a 2005, verifica-se uma média de 1,61 e, partindo-se para uma
análise cluster a cluster, observa-se que, à medida que se move dos
conglomerados de baixa geração de valor para os de alta geração de valor, o
price-to-book value médio sobe.
Analisando as empresas da amostra quanto ao retorno acionário no período de
2002 a 2004 (37 observações), identificou-se retorno médio de 0,96% no período,
sendo constatado, na análise cluster a cluster, o mesmo padrão de crescimento
do retorno à medida que se move dos conglomerados de baixa geração de valor
para os de maior geração de valor.
8. Discussão
Kaplan e Norton (2001) afirmam que, na ausência de ferramentas para fazer
frente às novas fontes e estratégias de criação de valor - baseadas em
intangíveis -, as empresas teriam dificuldades para gerenciar o que fosse
difícil de descrever e medir.
De maneira a agregar novas dimensões para além da financeira, Kaplan e Norton
(1992) enfatizam a ideia da gestão de performance com base em perspectivas
múltiplas e integradas, como placar de indicadores para acompanhar a
implementação da estratégia (KAPLAN e NORTON, 1996) e sistemática ampla de
gerenciamento do valor (KAPLAN e NORTON, 2001; 2004).
Na questão basilar deste estudo buscaram-se evidências de associação entre a
geração de valor a mercado e a percepção dos gestores quanto à performance
quando abordada a partir do enfoque de gestão balanceada e dos componentes do
capital intelectual.
Verificou-se que, à exceção do índice de capital humano, todos os demais
fatores correlacionam-se significativamente com o price-to-book value médio,
resultados compatíveis em grande parte com a proposta de Kaplan e Norton.
Em seguida, propôs-se investigar a presença de níveis diferenciados de geração
de valor em empresas com perfis diferenciados quanto às práticas de alinhamento
estratégico e gerenciamento de performance.
Foram constatadas diferenças de médias estatisticamente significativas,
apresentando indícios de que empresas que atuam com mais efetividade sobre os
componentes de capital intelectual, além do capital financeiro, originariam
mais valor (com base no price-to-book value médio, em dois dos quatro
procedimentos de conglomerização para p <0,05) e teriam retornos superiores no
mercado acionário (em dois dos quatro procedimentos de conglomerização para p
<0,05 e em um para p < 0,10).
Agregando a informação sobre a utilização efetiva ou não do BSC (tabela_9), os
padrões de retorno acionário continuam coerentes com a ordenação dos segmentos
homogêneos tipo para caracterizar a geração de valor no tocante aos melhores
níveis de gerenciamento da performance:
* de forma geral, o retorno é superior nas empresas que adotam o BSC;
* tanto para as empresas que adotam o BSC, quanto para as que não adotam, o
retorno é decrescente conforme padrão de geração de valor do cluster;
* por procedimento de hierarquização, nos conglomerados que adicionam ou
sustentam valor, o retorno acionário aparenta ser superior nas empresas
que adotam o BSC;
* para as empresas que destroem valor, a adoção do BSC possivelmente não
afetaria o alinhamento organizacional.
Tomando-se como base os achados de Arruda (2009) sobre as empresas do Nível 2
de Governança, verifica-se para a escala aditiva de mensuração do capital
intelectual (tabela_1), dimensões teóricas, a repetição de maior atribuição de
valor ao capital de relacionamento. De outra forma, para a escala ex post
(tabela_2), dimensões latentes, identifica-se uma atribuição de valor ampliada
para o capital humano. Em ambos os casos, destacam-se skills afins ao
enquadramento hodierno da competitividade das organizações, com destaque para
relações e competências precedendo as finanças e operações.
9. Considerações Finais
O vínculo entre a gestão de ativos intangíveis e geração de valor constitui um
tópico complexo e que necessita ainda de estudos mais em profundidade até que
seu corpo de conhecimento esteja efetivamente consolidado. Neste artigo,
somaram-se esforços na tentativa de compreender tais associações e contribuir
para a contextualização à situação brasileira.
Empresas que empregam métricas de gerenciamento ba-
seadas em perspectivas múltiplas têm em mente a maximiza-
ção do valor de uma maneira ampla, não se concentrando apenas nos indicadores
financeiros.
Neste estudo, investigou-se a associação entre a geração de valor, o padrão de
alinhamento estratégico e a percepção dos gestores quanto aos resultados da
performance balanceada. A proxy para geração de valor foi o price-to-book
value.
Adicionalmente, averigou-se se empresas com perfis diferenciados quanto às
práticas de alinhamento estratégico e gestão de performance apresentam níveis
diferenciados de price-to-book value e se obtêm resultados diferenciados no
mercado acionário.
Quanto às dimensões latentes da performance balanceada identificadas por
Rezende (2006), verificou-se que, embora o índice de capital organizacional e o
índice de capital humano não estejam significativamente correlacionados, os
construtos de capital intelectual e valor total correlacionam-se
significativamente com o price-to-book valuemédio do período.
Ao investigar a presença de níveis diferenciados de geração de valor com base
na razão valor de mercado sobre valor contábil em empresas com perfis
diferenciados, os testes não paramétricos (Kruskall-Wallis H) constataram
diferenças de médias estatisticamente significantes em dois dos quatro
procedimentos de conglomerização.
Ficou ainda evidenciado que empresas com perfis diferenciados quanto às
práticas de gestão de performance apresentam diferentes níveis de retorno
acionário.
Nesses casos, portanto, a percepção de performance sob a ótica do mercado
acionário estaria parcialmente em sintonia com a dos gestores.
Uma das limitações deste estudo diz respeito à questão temporal - para obter
informações adicionais sobre as empresas das amostras e tirar eventuais
dúvidas, seria necessário recorrer ao mesmo agente que respondeu ao
questionário em 2005, o que nem sempre é possível. Além disso, por tratar de
informações sobre o período de 2002 a 2004, o respondente poderia deixar-se
influenciar pela situação corrente da empresa.
O tamanho da amostra também foi outra limitação encontrada, pois, apesar de a
amostra original conter 95 empresas, apenas 37 atenderam aos critérios exigidos
para a realização do estudo. Dada a taxa de resposta efetiva encontrada por
Rezende (2006) - 7,6% -, retornar a campo tornar-se-ia praticamente inviável.
Quanto à escolha da proxy para geração de valor, em futuros estudos seria mais
robusto utilizar o gradiente do price-to-book value no lugar da média do price-
to-book value, porém seria necessária uma série de MV/BV mais longa e maior
número de casos estudados. Novas correntes de pensamento têm dedicado especial
atenção à utilização de métricas de valor agregado por colaborador alocado como
padrão para performance corporativa num sentido mais amplo.
Outro ponto a ser evidenciado como limitação está no desalinhamento entre
geração de valor percebida internamente e geração de valor reconhecida pelo
mercado introduzida pela utilização do período de 2001 a 2005 para avaliar o
price-to-book value, enquanto o questionário respondido pelos agentes diz
respeito ao período 2002 a 2004. Períodos mais longos, com a utilização de
análise longitudinal ou cross-sectional trariam mais robustez aos achados e
permitiriam melhores condições de generalização.
A contribuição deste estudo concentra-se na identificação da associação entre a
geração de valor a mercado e os índices de capital financeiro e índices do
capital intelectual e na presença de retornos de mercado superiores em empresas
com perfis diferenciados quanto às práticas de gerenciamento de performance.
Além disso, ainda com a necessidade de testes com amostras maiores e por prazos
mais longos, foi identificado alcance de maior retorno de mercado para empresas
listadas nos grupamentos homogêneos em que há um processo interno mais cuidado
quanto à geração de valor (empresas do tipo 1 e do tipo 2 de geração:
capabilities oriented e equities oriented).
Fundamentalmente, o estudo reforça empiricamente as proposições seminais a
respeito das categorias estabelecidas para a geração de valor (entre outros,
EDVINSSON e MALONE, 1997; ROOS et al., 1997; SVEIBY, 1997; STEWART, 1999) em
vista dos achados para o processo de redução das variáveis de pesquisa sobre
performance balanceada às dimensões latentes, resultando em quatro fatores
distintos com autovalores superiores a 2 e Alphas de Cronbach superiores a
0,75.
Nesse aspecto em particular, verificou-se grande sintonia entre a distribuição
das variáveis segundo a teoria e o processo de análise fatorial das respostas
dos sujeitos (95 observações), com a manutenção de 13 das 17 variáveis em suas
categorias originais (quadro 2): capital financeiro, capital de
relacionamentos, capital organizacional e capital humano.
As possibilidades de continuação dessa linha de estudo passam pela ampliação da
base de empresas analisadas, pela realização de estudos cross-sectional para
verificar a evolução dos retornos no mercado acionário à medida que as empresas
analisadas ganhem maior experiência com relação ao uso do Balanced Scorecard e
tornem a ferramenta mais difundida entre seus colaboradores e pelo
aperfeiçoamento de métricas e escalas capazes de mensurar a performance
balanceada e atuar como proxies de geração de valor para os diversos atores do
mercado.u