Proposição de um modelo exploratório dos fatores relevantes para o desempenho
profissional do CIO brasileiro
1. INTRODUÇÃO
Chief Information Officer (CIO) é o nome dado atualmente ao responsável pela
tecnologia da informação (TI) de uma organização. Sua atuação como profissional
é recente no Brasil, já que o uso de TI nas empresas brasileiras, de forma mais
abrangente, inicia-se nos anos 1970.
Segundo vários autores, a posição do CIO é de extrema importância para as
organizações, uma vez que ele deve colaborar para alinhar a estratégia
organizacional com a TI (EARL, 1989; BANKER, HU e PAVLOU, 2006), ajustando a TI
às necessidades do negócio (GROVER, 1993).
A partir dos anos 1980, em função das transformações que a TI provocou no mundo
dos negócios, a figura do CIO passou a ter mais influência nas organizações
(SYNNOTT e GRUBER, 1981). A competição à qual as empresas estavam submetidas
passava então a ter, também, características decorrentes da evolução
tecnológica, com todas as suas facilidades e complexidades (BENJAMIN, DICKINSON
e ROCKART, 1985; GALAS e MARQUES, 2006).
Nesse novo ambiente, as empresas passam a enxergar a TI como uma área não
apenas de apoio, mas também estratégica. Assim, a função do responsável pela TI
passa a ser revestida desse novo tipo de atribuição, agregando-se a seu perfil
' tradicionalmente técnico ', características de "homem de negócios" (SYNNOTT,
1987; LANCIT, 2001). O CIO seria, portanto, um dos principais elementos de
ligação entre o negócio e a TI em constante transformação (EARL, 1989). Ele
deve ajustar a TI às necessidades do negócio (GROVER, 1993; KITZIS e BROADBENT,
2005) e colaborar para garantir a otimização dos custos e a redução dos riscos
na adoção de tecnologias da informação (BORITZ e LIM, 2007).
Sob essa ótica mais estratégica da TI, as organizações passam a desejar um
executivo-chefe de TI que não possua apenas características técnicas, mas que
também agregue características gerenciais (LANCIT, 2001). Assim, tornou-se cada
vez mais importante para o CIO deter como característica básica determinado
equilíbrio entre duas vertentes: a técnica e a gerencial (IGBARIA, GREENHAUS e
PARASURAMAN, 1991). Desse modo, esse profissional, cujas atribuições são cada
vez mais complexas, percebe que nem sempre suas características eminentemente
técnicas são suficientes para enfrentar os desafios de um dia a dia baseado em
transformações (BENJAMIN, DICKINSON e ROCKART, 1985; LOOGMA, UMARIK e VILU,
2004). A dualidade revelada por suas características técnicas e, ao mesmo
tempo, gerenciais, a necessidade do entendimento do contexto organizacional, a
percepção da dosagem adequada de inovação e também a responsabilidade pelas
mudanças culturais proporcionadas pelo uso da TI são algumas das pressões às
quais esse profissional passa a ser constantemente submetido (CHATTERJEE,
RICHARDSON e ZMUD, 2001).
Este trabalho surgiu como uma oportunidade de apresentar, ao universo dos CIOs
brasileiros, um modelo de fatores relevantes para seu desempenho profissional.
Nele pretende-se oferecer a esses profissionais uma visão relevante acerca
desses fatores, que lhes permita ter um melhor entendimento do contexto
organizacional em que se encontram.
Sojer, Schlåger e Locher (2006) alertam que há bem poucos trabalhos recentes
que oferecem uma visão sistêmica acerca dos fatores relevantes para o
desempenho profissional do CIO. Com isso, eles questionam se os estudos já
realizados ' em sua maioria anteriores ao ano 2000 ' ainda permanecem atuais
(SOJER, SCHLÄGER e LOCHER, 2006). A essa provocação ' compor uma visão
atualizada e sistêmica acerca dos fatores relevantes associados ao desempenho
profissional do CIO ', adiciona-se a necessidade de adaptação desses trabalhos
à rea- lidade brasileira.
Dessa forma, nesta pesquisa procura-se discorrer sobre as características
básicas necessárias ' técnicas ou não ' ao desempenho profissional do CIO,
segundo os próprios CIOs e a literatura acadêmica, visando propor um novo
modelo de fatores relevantes para o desempenho profissional do CIO brasileiro.
Em outras palavras, seu objetivo principal é identificar quais são as
principais características que o CIO deve ter ' na percepção do próprio CIO '
para o desempenho de suas funções na realidade empresarial brasileira.
O artigo está estruturado em cinco seções. Após esta introdução, na seção 2
apresenta-se o referencial teórico utilizado. Em seguida, na seção 3, os
procedimentos metodológicos adotados são detalhados. A partir daí, na seção 4,
apresentam-se a análise de dados e o modelo exploratório dela oriundo.
Finaliza-se o artigo na seção 5 com observações finais, as quais abrangem as
conclusões do trabalho, suas implicações acadêmicas e gerenciais, as limitações
da pesquisa em questão e a proposta de uma agenda de pesquisa associada a esse
tema.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. OChief Information Officer 'CIO
Chief Information Officer (CIO) é a denominação utilizada para designar o
principal executivo de TI de uma organização. Embora possua diversas
nomenclaturas, em função das particularidades e cultura de cada empresa, esse
termo, utilizado de maneira genérica (LEPORE, 2000), evidencia a importância
adquirida pela TI no mundo corporativo. Segundo Kitzis e Broadbent (2005), o
CIO é o responsável por identificar as informações e tecnologias necessárias à
organização para, então, entregar os serviços correspondentes. De fato, o
conceito de CIO é muito abrangente e sua nomenclatura varia de organização para
organização (LEPORE, 2000). Assim sendo, neste trabalho considera-se CIO aquele
profissional responsável pela TI de uma organização, ou de parte dela.
A busca pela competitividade, dentro de um ambiente novo com características de
forte evolução tecnológica, induziu as organizações a revestirem o responsável
pela área de TI de um novo tipo de atribuição. Esse profissional, além de
expertise tecnológica até então característica da função, teria também de
demonstrar características gerenciais (SYNNOTT, 1987). Deveria ser aquele
profissional que faria a integração entre a linguagem dos negócios e a
crescente necessidade de adaptação da empresa ao mundo tecnológico, garantindo
a ela os níveis de competitividade e inovação demandados por uma economia em
mudança (EARL, 1989). Em outras palavras, segundo Grover (1993), esse
profissional seria um dos principais responsáveis pelo alinhamento de TI com o
negócio da empresa.
2.2. Atributos relevantes ao desempenho profissional do CIO: frameworks
existentes
Segundo Galas e Marques (2006), a garantia de alinhamento de TI à estratégia
corporativa deve guiar o desenvolvimento de atribu tos relevantes ao desempenho
profissional do CIO. Para isso, atributos sociais e intelectuais são
necessários. Os atributos intelectuais garantem a qualidade do alinhamento, na
medida em que validam metodologias e estratégias. Já os de cunho social têm seu
foco nas relações humanas necessárias a esse alinhamento (REICH e BENBASAT,
2000). Além dos tradicionais atributos técnicos, passa a ser também necessário
ao CIO desenvolver atributos profissionais associados à comunicação, negócios,
gerenciamento de pessoas e planejamento estratégico (ROCKART, 1982).
Dessa forma, Ravarini et al. (2001) indicam três bases de conhecimento para o
desenvolvimento desses atributos necessários, baseando-se em Boyatzis (1982) e
Spencer e Spencer (1993): o que fazer' conhecimento da empresa, de suas
metodologias e do trabalho a ser desempenhado em seu contexto; como fazer '
conhecimento técnico propriamente dito; como ser ' valores relacionados às
relações pessoais.
Nesse sentido, Laplante e Bain (2005) oferecem cinco ti- pologias que reúnem os
principais atributos estratégicos associados ao CIO. Esses agrupamentos,
identificados também por Cash e Pearlson (2004), são os seguintes: estrategista
de negócio; estrategista de TI; advogado/promotor de tecnologias; agente de
mudanças; e líder funcional.
Para este trabalho, foram analisados seis frameworks associados aos atributos
relevantes para o desempenho profissional do CIO, obtidos a partir da
literatura acadêmica internacional, os quais são a seguir detalhados. Esses
frameworks formaram a base para a consolidação dos atributos-chave associados
ao desempenho profissional dos CIOs, os quais foram usados no questionário de
pesquisa desenvolvido e aplicado, conforme explicado na seção seguinte.
2.2.1.Framework de Earl (1996)
O framework pioneiro de Earl (1996) torna-se interessante para este trabalho,
na medida em que investiga elementos relativos à sobrevivência do CIO na
organização. Assim, características individuais/pessoais do CIO são
relacionadas a aspectos relativos a seu desempenho. O desenvolvimento desses
atributos pelo CIO é fator crítico para sua sobrevivência na organização (EARL,
1996). Nesse sentido, pode-se inferir que as características fundamentais a
serem desenvolvidas pelos CIOs coincidem com aquelas necessárias à sua
sobrevivência.
O framework de Earl (1996) apresenta dez atributos relevantes para o desempenho
profissional do CIO, a seguir detalhados. Cada um deles recebeu a designação
Er.i (i=1,10).
Er.1 Conhecimento de TI
Reflete o conhecimento técnico necessário ao CIO.
Er.2 Experiência em sistemas
A experiência em sistemas de informação desponta como atributo
relevante ao desempenho do CIO. Esse atributo está relacionado,
portanto, à formação e à experiência pregressas do CIO.
Er.3 Credibilidade
Indica a garantia de desempenho da área de TI. Esse atributo está
relacionado à capacidade do CIO em gerir os indicadores dessa área,
controlar seu orçamento e atender adequada e tempestivamente às áreas
usuárias. Ele reforça a visão de que a organização terá da área de TI
e de seu próprio CIO.
Er.4 Visão compartilhada
Refere-se ao alinhamento da visão de TI relacionada às necessidades
da organização e aos esforços constantes em perseguir propósitos
comuns.
Er.5 Planejamento proativo
Indica a necessidade de criação de um planejamento de TI integrado
(alinhado) ao planejamento estratégico da companhia.
Er.6 Atitude da organização em relação à TI
Indica como o CIO leva a organização a enxergar a TI ' que
expectativas tem e que contribuições dela espera.
Er.7 Construção de relacionamentos
Indica a capacidade do CIO em conquistar aliados e/ou patrocinadores
para as iniciativas de TI. Revela o networking interno promovido e
cultivado pelo CIO.
Er.8 Relacionamento com o Chief Executive Officer (CEO)
Indica um tipo de relacionamento específico construído com o
principal executivo da organização. É um facilitador para o
reconhecimento do CIO no grupo e para o apoio financeiro e moral para
as iniciativas de TI. Além disso, manifesta-se como uma garantia do
alinhamento de TI às estratégias do negócio.
Er.9 Habilidades sociais
As habilidades relacionadas ao trabalho em equipe, à comunicação e à
motivação do time compõem este atributo.
Er.10 Sensibilidade
A percepção do que é importante para a empresa em dado momento é a
característica básica deste atributo. Além da definição das
prioridades e da noção da viabilidade dos custos de TI, o CIO será
mais bem-sucedido se tiver sensibilidade quanto ao momento certo de
ousar ou recuar.
2.2.2. Framework de Periasamy e Seow (1998)
Segundo Periasamy e Seow (1998), o CIO deve posicionar a TI organizacional num
contexto de negócios, planejando e suportando o desenvolvimento, transformação
e redesenho de processos de negócios. Assim, de uma forma holística, o CIO deve
ser responsável por criar um ambiente que possa suportar os objetivos
corporativos.
O framework de Periasamy e Seow (1998) apresenta cinco atributos relevantes
para o desempenho profissional do CIO, a seguir detalhados. Cada um deles
recebeu a designação Ps.i (i=1,5).
Ps.1 Conhecimento do negócio
Este atributo avalia a necessidade de entendimento, pelo CIO, do
contexto em que a TI atua, de forma a poder propor/manter seu
alinhamento com o negócio.
Ps.2 Versatilidade e sagacidade
Ter sensibilidade para propor soluções inovadoras e, ao mesmo tempo,
relevantes à organização nas circunstâncias em que ela se encontra,
compõe a base deste atributo.
Ps.3 Competência técnica
Indica as habilidades técnicas necessárias ao CIO.
Ps.4 Gerenciar, interagir e motivar a equipe
A liderança interna do CIO é apontada como um atributo essencial ao
alcance dos objetivos de TI.
Ps.5 Manter bom relacionamento com pares, equipe e parceiros
externos
As características do CIO relativas a seu relacionamento
interpessoal, necessárias à condução das atividades de TI, são
avaliadas por este atributo.
2.2.3. Framework de Ravarini et al. (2001)
Este modelo (RAVARINI et al., 2001) procurou identificar quais os atributos
necessários ao CIO para o melhor aproveitamento das novas tecnologias, com o
intuito de obter um melhor desempenho corporativo. O framework emergiu a partir
dos dois frameworks anteriores e das respostas a um questionário submetido a
CIOs predominantemente europeus.
O framework de Ravarini et al. (2001) apresenta 12 atributos relevantes para o
desempenho profissional do CIO, a seguir detalhados. Cada um deles recebeu a
designação Rv.i (i=1,12).
Rv.1 Habilidades interpessoais
Manter os relacionamentos com a equipe e consultores externos.
Rv.2 Visão holística
Enxergar a empresa como um todo.
Rv.3 Visão de longo prazo
Avaliar as consequências das decisões de longo prazo, bem como as
oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias.
Rv.4 Liderança efetiva
Estabelecer objetivos e congregar toda a empresa para atin- gi-los.
Rv.5 Propensão a inovar
Manter-se atualizado de forma a poder avaliar as novas oportunidades
de TI para o negócio.
Rv.6 Conhecimento gerencial
Conhecimento, por parte do CIO, de modelos gerenciais e de
ferramentas de gestão.
Rv.7 Conhecimento do negócio
Conhecimento, por parte do CIO, dos processos, dos fluxos de
informação, das competências necessárias à equipe e das atividades do
negócio.
Rv.8 Conhecimento do ambiente de negócio
Reconhecer o ambiente e o momento que o negócio atravessa.
Rv.9 Conhecimento técnico
Conhecimento técnico, por parte do CIO, das oportunidades oferecidas
por TI e de suas funcionalidades.
Rv.10 Expertise técnica
Vivência profissional do CIO.
Rv.11 Capacidade de planejamento
Capacidade do CIO em desenvolver planejamento de TI capaz de suportar
o negócio.
Rv.12 Capacidade de avaliar os impactos organizacionais
Capacidade do CIO de avaliar os impactos econômicos e organizacionais
de TI.
2.2.4. Framework de Tagliavini et al. (2004)
Da mesma forma que no frameworkdescrito anteriormente, os autores (TAGLIAVINI
et al., 2004) buscaram identificar o conjunto de atributos necessários ao CIO '
técnicos e gerenciais ' para conduzir esforços de TI que fossem efetivos à
organização e que tivessem impacto positivo no desempenho corporativo. Para a
construção deste framework, além da análise dos frameworks anteriores, foram
consultados 158 CIOs italianos, estabelecendo-se cinco atributos associados ao
desempenho do CIO, os quais interferem fortemente nas atividades de TI de uma
organização. Cada um desses atributos, a seguir detalhados, recebeu a
designação Ta.i (i=1,5).
Ta.1 Gerenciamento de RH
Atividades relacionadas à contratação de pessoal de TI, treinamento
(profissionais de TI e/ou usuários), integração das equipes de TI e
desenvolvimento das pessoas.
Ta.2 Gestão estratégica de TI
Capacidade de estabelecer soluções de TI, avaliando as oportunidades
estratégicas do negócio.
Ta.3 Gerenciamento de operações de TI
Capacidade de gerenciar adequadamente a operação de TI.
Ta.4 Gestão dos relacionamentos de TI
Capacidade em desenvolver relações com a organização, pares,
usuários, consultores e acadêmicos. Da mesma forma, capacidade de
promover a TI.
Ta.5 Gestão organizacional de TI
Entender as contribuições da TI ao desenvolvimento da organização.
2.2.5. Framework de Kitzis e Broadbent (2005)
Dadas as novas condições enfrentadas pelos CIOs, Kitzis e Broadbent (2005)
buscaram identificar as dez prioridades desse profissional nestes tempos. Este
framework apoiou-se na pesquisa anual do Gartner, que busca identificar as
agendas e prioridades de negócio, estratégicas, técnicas e gerenciais de CIOs
do mundo todo. Em 2004, o estudo do Gartner reuniu mais de 950 respondentes. O
framework desenvolvido a partir desses resultados apontou os principais
atributos associados ao CIO, indicando a necessidade de um perfil mais
proativo.
O framework de Kitzis e Broadbent (2005) apresenta dez atributos relevantes
para o desempenho profissional do CIO, a seguir detalhados. Cada um deles
recebeu a designação Kb.i (i=1,10).
Kb.1 Liderança
Influenciar tanto sua equipe como seus pares.
Kb.2 Conhecimento dos fundamentos do negócio
Conhecer o ambiente em que o negócio está inserido.
Kb.3 Visão de TI alinhada ao negócio
Identificar como a TI pode acelerar o alcance das metas es-
tratégicas corporativas.
Kb.4 Moldar a TI segundo as expectativas
Identificar as expectativas das demais áreas, para formar a base das
políticas de TI.
Kb.5 Governança
Estabelecer um modelo de governança que garanta a credibilidade da
TI.
Kb.6 Integração entre as estratégias de negócio e de TI
Garantir que os projetos de TI estejam ligados à estratégia
corporativa.
Kb.7 Estrutura enxuta
Estabelecer uma estrutura de TI utilizando processos, gerenciamento
estratégico de TI e embasamento financeiro.
Kb.8 Cultura de alta performance
Manter o perfil da equipe de TI adequado às necessidades
corporativas.
Kb.9 Gerenciamento de riscos
Gerenciar adequadamente os riscos associados à TI na organização.
Kb.10 Linguagem de negócios
Comunicar as contribuições de TI à organização, em linguagem de
negócios.
2.2.6. Framework de Lane e Koronios (2007)
Com o propósito de confirmar empiricamente os frameworks teóricos existentes na
literatura e apresentados anteriormente, Lane e Koronios (2007) realizaram uma
pesquisa on-line com a participação de 46 CIOs. A principal descoberta foi uma
nova ênfase dada às características mais voltadas às competências de negócio e
estratégicas sem, no entanto, deixar de lado aquelas mais técnicas, voltadas às
atividades gerenciais.
O framework de Lane e Koronios (2007) apresenta 14 atri- butos relevantes para
o desempenho profissional do CIO, a seguir detalhados. Cada um deles recebeu a
designação Lk.i (i=1,14).
Lk.1 Liderança
Influenciar a organização ' pares e equipe ' para o alcance de seus
objetivos.
Lk.2 Planejamento estratégico da infraestrutura de TI
Desenvolver um planejamento estratégico de TI, alinhado ao plano
estratégico de negócios.
Lk.3 Alinhamento com o negócio e inovação
Suprir o negócio com inovações tecnológicas que sejam pertinentes ao
momento/contexto organizacional.
Lk.4 Gerenciamento de recursos humanos de TI
Manter e contratar recursos de TI.
Lk.5 Gestão dos relacionamentos
Relacionar-se adequadamente com as demais áreas da organização,
permitindo viabilizar ações/projetos de TI.
Lk.6 Orçamento e controle
Gerenciamento financeiro adequado da área de TI, buscando a
viabilização dos investimentos necessários.
Lk.7 Governança e adequação às regulamentações
Atender às regulamentações e criar padrões de governança que ofereçam
transparência aos investidores e ao governo.
Lk.8 Relacionamento com fornecedores
Estar atualizado em relação a produtos e/ou tecnologias emergentes,
de modo a permitir que a organização possa obter um maior
aproveitamento dos recursos oferecidos pelo fornecedor.
Lk.9 Segurança da informação/continuidade de negócios
Gerenciar adequadamente os riscos associados à TI.
Lk.10 Gestão de processos de negócio
Buscar oportunidades de melhoria nos processos de negócio, por meio
da utilização de TI.
Lk.11 Gestão de projetos
Conhecer modelos de gestão de projetos de TI.
Lk.12 Gestão da arquitetura de TI
Manter a operação de TI adequada às necessidades corporativas.
Lk.13 Gestão do conhecimento
Manter o conhecimento essencial ao negócio na organização
(relativamente aos sistemas informatizados).
Lk.14 Medição de valor agregado ao negócio
Utilizar métricas como justificativa para os investimentos de TI,
relacionando-as às metas do negócio.
2.3. Consolidação dos atributos relevantes para o desempenho profissional do
CIO
A partir dos frameworks apresentados, 56 atributos foram identificados, o que
levaria ao desenvolvimento de um questionário on-line com 56 perguntas em
escala Likert, como explicado na seção a seguir. Lane e Koronios (2007)
argumentam que questionários com elevado número de perguntas têm pouca
probabilidade de serem preenchidos por CIOs, dada sua dinâmica profissional.
Dessa forma, criou-se um grupo focal (RUEDIGER e RICCIO, 2004) composto por
seis CIOs que, em fevereiro de 2009, se reuniram para buscar uma consolidação
dos atributos identificados, analisando se possuíam algum tipo de redundância
entre si, isto é, se apontavam para o mesmo tipo de característica desejada
para o CIO.
Assim sendo, o grupo focal concluiu que os 56 atributos poderiam ser
consolidados em 25, conforme consta no quadro na página 313. Esses 25 atributos
relevantes ao desempenho profissional do CIO foram, então, transformados em
questões no questionário de pesquisa elaborado e usado para coleta de dados,
como explicado no tópico a seguir.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1. Coleta dos dados
Conforme dito anteriormente, elaborou-se questionário eletrônico com 25
perguntas, a ser distribuído pela Internet, a partir dos atributos consolidados
apresentados no quadro da página 313. Isto é, cada atributo foi considerado uma
variável manifesta ' indicador ', mensurável via uma única pergunta respondida
pela amostra de respondentes. Assim, na ausência de uma escala testada para
avaliar a variável latente desempenho profissional do CIO brasileiro, adotou-se
o procedimento em questão.
O público-alvo da pesquisa ' detalhado a seguir ' foi convidado a preencher o
questionário, por meio de convite realizado por e-mail, o qual direcionava o
respondente para site próprio para web survey. Segundo Emory e Cooper (1991),
considerando-se a dificuldade de agenda dos CIOs, essa abordagem é considerada
a melhor para esse tipo de público, o que é corroborado por Lane e Koronios
(2007).
As questões foram submetidas aos respondentes em escala do tipo Likert. Essa
escala obriga os participantes a indicarem seu grau de concordância com os
estímulos a que estão submetidos em cada uma das questões (MALHOTRA, 2006).
Ain-da segundo Malhotra (2006), uma das principais vantagens des- se tipo de
escala é ser fácil de construir, de aplicar e de ser en- tendida pelo
respondente.
A escala Likert normalmente utilizada tem cinco/sete categorias de respostas,
variando de "discordo totalmente" a "concordo totalmente" (MALHOTRA, 2006).
Entretanto, foi empregada uma escala com apenas quatro categorias de resposta,
com o propósito de eliminar o elemento neutro ' evitando-se que esse elemento
fosse usado em caso de dúvida do respondente ', conforme apresentado a seguir:
o atributo em questão não é relevante para o desempenho
profissional do CIO;
o atributo em questão oferece pouca relevância para o desempenho
profissional do CIO;
o atributo em questão é relevante para o desempenho profissional do
CIO;
o atributo em questão é imprescindível para o desempenho
profissional do CIO.
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As questões referentes aos dados demográficos foram for- muladas de maneira a
identificar o porte da empresa em que o CIO exerce sua função e o tempo de
experiência do respondente como CIO. Os valores foram apresentados em faixas,
de forma a facilitar seu preenchimento, evitando-se possíveis constrangimentos.
Além dessas questões, os respondentes foram também indagados se teriam formação
em TI e se ainda estariam atuando como CIO.
Em resumo, a parte demográfica do questionário conteve as seguintes quetões:
Tempo total de permanência como CIO (considerando-se o somatório do
tempo como CIO em todas as empresas em que trabalhou): menos de 5
anos, de 5 a 10 anos, de 10 a 15 anos e acima de 15 anos.
Faturamento da empresa (considerando-se o maior faturamento de
todas as empresas nas quais tenha sido CIO): abaixo de R$ 250
milhões, entre R$ 250 milhões e R$ 750 milhões, entre R$ 750 milhões
e R$ 1,5 bilhão e acima de R$ 1,5 bilhão.
Região do Brasil em que atua.
Permanece como CIO presentemente?
Sua formação é em TI?
Primeiramente, o questionário foi aplicado em caráter de pré-teste, como sugere
Malhotra (2006), a três CIOs e a um outro profissional não CIO, com o propósito
de validar o entendimento das questões propostas.
Todas as questões foram configuradas como obrigatórias, de forma que o
respondente não pudesse pular nenhuma. Além disso, o formulário foi estruturado
de tal maneira que cada respondente só pudesse responder uma vez ao
questionário, eliminando a possibilidade de distorções por respostas repetidas.
O questionário foi, então, submetido para resposta entre 5 e 22 de março de
2009. Utilizaram-se dados secundários a partir da relação de CIOs participantes
do fórum de CIOs brasileiros e/ou cadastrados como tal na base de dados da
revista CIO Magazine, totalizando 1.986 profissionais cadastrados como CIOs no
Brasil. A partir dessa amostra, foram enviados e-mails convidando-os a
participar da pesquisa em questão e a preencher o web surveydesenvolvido, tendo
sido obtidas 112 respostas de diferentes CIOs brasileiros, sendo 111 respostas
consideradas válidas.
3.2. Tratamento dos dados
A partir dos dados coletados, foi então aplicada a técnica estatística de
análise fatorial exploratória, via método dos componentes principais e rotação
Equamax (HAIR JR. et al., 1995), para propor um modelo exploratório dos fatores
relevantes ao desempenho profissional dos CIOs brasileiros.
A análise fatorial é uma técnica estatística multivariada, cujo propósito é a
redução e sumarização dos dados. A partir dela, é possível analisar a
dependência entre as variáveis de interesse (geralmente representada pelas
correlações ou covariâncias entre essas variáveis) e tentar explicá-las por
meio de um número pequeno de variáveis hipotéticas (fatores), obtidas como
função das variáveis originais. Além disso, é possível saber o quanto cada
fator está associado a cada variável e o quanto o conjunto de fatores explica
da variabilidade geral dos dados originais (HAIR JR. et al., 1995)
Esse procedimento foi escolhido, uma vez que é utilizado para examinar "todo um
conjunto de relações interdependentes" (MALHOTRA, 2006, p.548). De fato, no
caso desta pesquisa, o modelo exploratório de fatores relevantes ao desempenho
profissional do CIO, proposto a partir dos resultados obtidos da análise
fatorial exploratória, sugere uma característica de interdependência entre os
indicadores de desempenho do CIO, sem a necessidade de haver uma variável
dependente. Assim, a análise fatorial exploratória permite verificar a validade
e a confiabilidade do modelo proposto.
A ferramenta de apoio utilizada para a análise estatística foi o SPSS
(Statistical Package for the Social Sciences), versão 15.0.
4. ANÁLISE DOS DADOS E MODELO EXPLORATÓRIO PROPOSTO
4.1. Perfil dos respondentes
No que tange ao tempo de permanência dos respondentes na função de CIO,
observa-se que a maior concentração de CIOs respondentes se situou na faixa de
5 a 10 anos (36,07%), e 47,96% dos CIOs respondentes possuíam tempo de
experiência menor ou igual a 10 anos, conforme demonstrado na tabela_1.
[/img/revistas/rausp/v47n2/a11tab01.jpg]
4.2. Porte das empresas
Analisando-se o faturamento das empresas nas quais os CIOs respondentes
trabalham (ou trabalharam) vis-à-vis seu tempo de permanência na função (tabela
2), percebe-se que a concentração de CIOs experientes (acima de 15 anos) é a
única que não diminui conforme aumenta o porte da empresa. Além disso, por meio
do teste não paramétrico do qui-quadrado com duas categorias de empresas
(abaixo e acima de R$ 750 milhões de faturamento), para evitar-se elementos de
cela inferiores a 5 (STEVENSON, 1986), verificou-se não haver diferença
significativa na concentração de CIOs respondentes por porte de empresa, a um
nível de significância de 5% (estatística teste de 2,35 e 1 grau de liberdade).
4.3. Formação em TI
A partir da tabela_3, pode-se avaliar a concentração dos CIOs respondentes de
acordo com sua formação e segundo o tempo de permanência na função. Nota-se que
a maioria dos CIOs respondentes tem formação em TI ' 70% ', enquanto os outros
30% não têm. Daqueles que possuem formação em TI, a maior concentração se dá no
intervalo entre 5 e 10 anos como CIO. Assim, os dados sugerem que a formação em
TI, ou sua exigência, é recente como o é a própria função de CIO. Para os CIOs
que não possuem formação em TI, verifica-se maior concentração no intervalo
entre 10 e 15 anos na função.
4.4. Análise fatorial exploratória
Os 25 atributos levantados na pesquisa, transformados em indicadores para o
desempenho profissional do CIO brasileiro, foram adotados na pesquisa como as
perguntas do questionário. Os agrupamentos resultantes da análise fatorial são
os fatores de análise e refletem os fatores relevantes para o desempenho
profissional do CIO brasileiro.
Inicialmente, foram realizados testes de avaliação quanto a possíveis
tendenciosidades e quanto à confiabilidade dos dados. Com esse propósito e
considerando-se os indicadores associados ao construto desempenho profissional
do CIO brasileiro, foi calculado o coeficiente alpha de Cronbach, cujo
resultado foi igual a 0,776, demonstrando adequada consistência interna da
escala criada (MALHOTRA, 2006). O alpha de Cronbach foi também testado após a
exclusão de cada uma das variáveis, possibilitando assim avaliar se houve
melhora na validade interna da escala. Para todas as variáveis, os resultados
obtidos foram maiores do que 0,7 ' o que, segundo Malhotra (2006), denota
consistência nos dados.
A primeira avaliação efetuada foi a matriz de correlação, em que é possível
verificar se a análise fatorial atende como método estatístico adequado para o
estudo. Complementarmente, foi aplicada a estatística Kaiser-Meyer-Olkin (KMO),
que indica a adequação da amostra, avaliando se os dados originais viabilizam a
utilização da análise fatorial de forma satisfatória. Para que esse teste
suporte que os fatores encontrados não explicam satisfatoriamente as variações
dos dados originais, é preciso que o Measure of Sampling Adequacy (MSA)
apresente um grau de explicação menor do que 0,5 (HAIR JR. et al., 1995). Como
essa medida apresentou MSA igual a 0,666, entende-se que a amostra apresenta um
grau de explicação razoável (0,5 < MSA < 0,7).
Outro teste foi aplicado para avaliar se existe relação suficiente entre as
variáveis, justificando assim a utilização de análise fatorial ' o teste de
esfericidade de Bartlett. O resultado esperado, de forma a não rejeitar a
análise fatorial, é uma significância menor ou igual a 0,05 (HAIR JR. et al.,
1995). Para esse teste, a significância encontrada foi 0,000, indicando que o
agrupamento das variáveis é possível.
Uma vez admitida a viabilidade da análise fatorial, avaliou-se o poder de
explicação dos fatores em cada uma das variáveis analisadas, por meio da matriz
de correlação anti-imagem, em que a diagonal principal indica se uma variável é
significativa para participar da análise. Analisando a matriz de correlação
anti-imagem obtida, identificaram-se duas variáveis pouco significativas para o
agrupamento, apresentando valores da diagonal principal menores que 0,5, o que
sugere sua exclusão do modelo, uma vez que elas poderiam estar dificultando um
agrupamento mais consistente. Assim sendo, com o intuito de melhorar a
explicação das variáveis por meio dos fatores, duas variáveis foram excluídas:
"identificar o momento certo para oferecer novas tecnologias" (0,277) e "estar
atualizado tecnologicamente" (0,364).
Foram refeitas, então, as aplicações dos testes para somente 23 variáveis,
gerando considerável melhora geral no modelo. Obteve-se, então, a matriz de
comunalidade para identificar o grau de explicação de cada variável nos fatores
selecionados. A matriz de comunalidade obtida revelou contribuição discreta
(valor menor que 0,5) da variável "contratação, treinamento, integração e
desenvolvimento das pessoas" (relativamente a TI), a qual foi também excluída
do modelo.
Um novo agrupamento foi feito para as 22 variáveis e o número de fatores foi
estabelecido quando a explicação da variância por meio dos fatores ultrapassou
70%. Assim, selecionaram-se dez fatores, obtendo-se uma explicação total da
variância de 73,23%. O teste de esfericidade também mostrou ser possível a
aplicação da análise fatorial às variáveis analisadas (Sig. = 0,000).
Obteve-se novamente, então, a matriz de correlação anti-imagem para as 22
variáveis remanescentes. Para esse formato de agrupamento, todos os testes
apresentaram resultados satisfatórios, permitindo a aprovação da análise
fatorial. Entretanto, ao criar os agrupamentos das variáveis por meio da
rotação Equamax (cujo objetivo é minimizar o número de fatores necessários para
explicar cada variável e maximizar a explicação das variáveis dentro de um
único fator), observou-se que três variáveis apresentaram-se sozinhas, cada uma
em seu fator. Nesse caso, para não se ter um fator unitário, é preferível que a
variável do fator seja excluída da análise fatorial. Optou-se, então, pela
execução dos testes na seguinte ordem:
excluir uma variável por vez e executar a análise fatorial;
excluir duas variáveis por vez e executar novamente a aná- lise;
as três variáveis são excluídas e uma nova análise é feita.
Dessa vez, porém, a escolha do número de fatores foi feita para 60% da
variância total explicada, pois manter 70% da variância total permitiria
selecionar diversos fatores para um número pequeno de variáveis. Como
resultado, as variáveis excluídas da análise foram "ter experiência em gestão
de projetos" e "manter um modelo de governança de TI", levando à manutenção de
20 variáveis. Dessa forma, a seleção de sete fatores obteve uma explicação
total da variância de 63,23% (tabela_4).
Por meio do teste de Kaiser-Meyer-Olkin (tabela_5), nota-se que o grau de
explicação dos dados a partir dos fatores encontrados descreve de maneira
satisfatória as variações dos dados originais. O teste de esfericidade também
mostrou ser possível a aplicação da análise fatorial às variáveis analisadas
(Sig. = 0,000).
[/img/revistas/rausp/v47n2/a11tab05.jpg]
Todas as comunalidades encontram-se acima de 0,5, demonstrando uma explicação
aceitável das variáveis, e outras, ainda, acima de 0,7, demonstrando boa
explicação (tabela_6).
Foi efetuada novamente a rotação via método Equamax, gerando-se a matriz dos
fatores rotacionados (tabela_7).
Sete fatores foram então encontrados, cada um correspondendo a um fator
relevante para o desempenho profissional do CIO, adotando-se para eles a
seguinte nomenclatura:
Fator 1 ' Visão do negócio;
Fator 2 ' Suporte à organização via TI;
Fator 3 ' Capacidade de influenciar a organização;
Fator 4 ' Capacidade técnica;
Fator 5 ' Networking externo;
Fator 6 ' Gestão da operação de TI;
Fator 7 ' Visão inovadora do uso de TI.
4.5. Modelo exploratório dos fatores relevantes para o desempenho profissional
do CIO brasileiro
Como modelos são tentativas humanas de representação da realidade (STEVENSON,
1986) e cada um oferece visões distintas do mesmo objeto (YIN, 2005), é
possível, portanto, realizar uma triangulação dos frameworks apresentados
anteriormente, visando à proposição de um modelo exploratório (VERGARA, 2005;
YIN, 2005).
A partir das análises efetuadas surgiu o modelo exploratório da figura da
página 320, composto por sete fatores analisados na sequência.
5. OBSERVAÇÕES FINAIS
A partir dos resultados da análise fatorial e do modelo exploratório proposto,
apresentado na figura da página 320, os sete fatores relevantes para o
desempenho profissional do CIO no contexto brasileiro, encontrados nesta
pesquisa, são a seguir comentados.
5.1. Visão do negócio
Este fator de sucesso evidencia a necessidade que o CIO tem de perceber o
ambiente em que se encontra. O ambiente de negócios, neste caso, é enfocado
tanto do ponto de vista da organização (interno) quanto do mercado (externo).
Ele pressupõe que o CIO consiga entender e relacionar-se com a organização, o
que é corroborado por Luftman (2000).
A capacidade de expressão associada a esse fator (Kb.10) refere-se à
competência apontada no modelo de Kitzis e Broadbent (2005), quanto à
necessidade de o CIO comunicar as contribuições de TI à organização. Conforme
Henderson e Venkatraman (1993), o CIO precisa demonstrar para a organização
quais são os benefícios esperados/apurados ante os investimentos propostos/
efetuados em TI. Para tanto, ele precisa saber expressar-se de forma acessível
aos demais executivos e investidores, o que sugere que o seja em uma linguagem
de negócios. Tal fato sugere a necessidade de o CIO ter uma visão clara do
negócio em que atua, sem a qual tal comunicação não seria eficaz.
5.2. Suporte à organização via TI
Este fator de sucesso desponta como agregador do maior número de variáveis,
demonstrando uma forte necessidade de o CIO brasileiro entender sua
organização. Essa percep- ção da necessidade de adaptação da área de TI à
organização a que pertence está de acordo com Laurindo et al. (2001), quando
afirmam que o alinhamento de TI com o negócio de- pende das características
corporativas e da estrutura organiza- cional.
Como elementos necessários à compreensão do papel que a TI deve desempenhar na
organização, emergem os relacionamentos internos e a capacidade de estabelecer
ações e planejamentos adequados à organização como um todo. Esses fatores
apresentam-se como garantia ao alinhamento de TI ao negócio e ao suporte de TI
às demais áreas funcionais.
O cuidado com a sustentabilidade econômico-financeira da organização também se
manifesta neste fator por meio da preocupação com os possíveis riscos derivados
das ações de TI e do relacionamento do CIO com os prestadores de serviço e com
a própria equipe.
5.3. Capacidade de influenciar a organização
Este fator agrega elementos de liderança e financeiros, caracterizando a
capacidade que o CIO deve ter de influenciar a organização, fazendo-se valer de
embasamento financeiro. Ele reflete a função estratégica do CIO como um
advogado/promotor de tecnologias (LAPLANTE e BAIN, 2005).
Como foi visto anteriormente, há um grau de incerteza decorrente dos volumes de
investimento normalmente envolvidos em TI (POWELL, 1992). Em função de todos
esses riscos e incertezas, um rigor financeiro e analítico nas avaliações tem
sido uma tendência crescente (PEET, 1998 apud TINGLING e PARENT, 2002).
Associado a isso, existe também a dificuldade em identificar as contribuições
de TI para a organização (PRESTON, LEIDNER e CHEN, 2008), o que justificaria a
necessidade de controles e uma abordagem financeira.
A liderança do CIO surge aqui como um elemento necessário ao alinhamento entre
TI e as estratégias de negócio (FARRELL, 2003). Essa característica pode tanto
facilitar quanto inibir esse alinhamento (PRESTON, LEIDNER e CHEN, 2008). De
fato, o perfil de liderança do CIO, segundo Preston, Leidner e Chen (2008), é o
que permite a diferença entre uma TI acomodada e meramente operacional e uma TI
orquestradora, em que os investimentos são potencializados.
5.4. Capacidade técnica
Indica a necessidade que o CIO brasileiro tem de garantir os serviços de TI ou
sua capacidade de entrega e consequente credibilidade perante a organização
(EARL, 1996). Portanto, as competências técnicas do CIO permanecem necessárias
ao adequado exercício de sua função, o que é corroborado por Applegate e Elam
(1992), ainda que o atributo "estar atualizado tecnologicamente" tenha sido
eliminado do modelo exploratório, por ser pouco significativo para o
agrupamento, o que talvez denote a necessidade de aperfeiçoamento da pergunta a
ele associada, em trabalhos futuros.
5.5. Networking externo
A preocupação do CIO brasileiro em manter relacionamentos externos à
organização manifesta-se neste fator-chave. A busca pela legitimação das ações/
projetos de TI justifica a importância deste fator. Em um universo de mudanças
e de necessidade de investimentos muitas vezes elevados (POWELL, 1992), o CIO
busca legitimar a escolha a ser feita, tomando como referência a utilização
anterior do produto em outras organizações e caracterizando, assim, um
isomorfismo mimético (TINGLING e PARENT, 2002). Isso decorre, em grande parte,
da tentativa de reduzir as incertezas, buscando maiores informações sobre os
produtos existentes (ACKOFF, 1967).
Dessa forma, segundo Lane e Koronios (2007), os fornecedores de TI apresentam-
se como uma fonte de atualização quanto a produtos e tecnologias. Esse
relacionamento também permite ao CIO obter um melhor aproveitamento dos
recursos disponíveis (LANE e KORONIOS, 2007).
5.6. Gestão da operação de TI
A união entre os elementos operacionais, de relacionamento e de planejamento,
relativos a este fator, evidencia o que afirma Lancit (2001), quando aponta o
CIO como um profissional que agrega, além de características técnicas, aquelas
de cunho também mais estratégico. Comprova-se, dessa forma, a exigência atual
de habilidade nos inter-relacionamentos pessoais, contraposta àquele perfil
unicamente técnico (LOOGMA, UMARIK e VILU, 2004).
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Os CIOs brasileiros demonstraram, a partir de suas respostas, a preocupação de
conjugar as duas características básicas: a técnica e a gerencial, conforme
proposto por Igbaria, Greenhaus e Parasuraman (1991). Ou ainda, como afirmam
Abraham et al.(2006), mesmo tendo sido submetidos a uma formação normalmente
técnica, os CIOs foram também desenvolvendo habilidades gerenciais ao longo de
suas vidas profissionais.
Além disso, este fator indica a capacidade de liderança que o CIO precisa ter
para manter sua equipe adequada às necessidades organizacionais. Ele precisa,
portanto, ser um líder funcional (LAPLANTE e BAIN, 2005).
Uma vez que o CIO é o responsável por identificar as in- formações e
tecnologias necessárias à organização para poder entregar os serviços
correspondentes (KITZIS e BROADBENT, 2005), ele precisa compor e manter sua
equipe, de forma a obter os resultados esperados.
5.7. Visão inovadora do uso de TI
Oferecer inovações tecnológicas que favoreçam o negócio é o que resume este
fator. O CIO surge aqui como agente de mudanças, como sugerem Laplante e Bain
(2005).
A escolha de novas tecnologias a serem empregadas refletir-se-á não só na
eficiência operacional da TI, mas também no próprio diferencial competitivo da
organização a que estão associadas (McRARY, 1995).
A preocupação dos CIOs em adequar as iniciativas de TI às estratégias de
negócio (HENDERSON e VENKATRAMAN, 1993) também fica demonstrada neste fator.
Este fator situa-se entre as principais tarefas a serem desempenhadas pelo CIO,
segundo Sojer, Schlåger e Locher (2006): habilitar/conduzir inovações e criar/
possibilitar vantagens com- petitivas.
5.8. Implicações acadêmicas e gerenciais
A primeira implicação que emerge desta pesquisa diz respeito ao próprio CIO
brasileiro, supostamente o principal beneficiário do presente trabalho. Ele
poderia direcionar a própria capacitação profissional para os fatores
relevantes apresentados. Em outras palavras, a partir do modelo exploratório
proposto, o CIO poderia examinar o papel que está desempenhando na organização
à qual pertence. O modelo exploratório de fatores relevantes para o desempenho
profissional do CIO brasileiro poderia ser, assim, um roteiro para avaliação de
pontos a desenvolver. Para isso, o CIO poderia refletir sobre cada um dos
fatores e sobre seus reflexos em sua organização. Um exame das experiências
anteriores, à luz desse modelo, poderia ser também de grande valia.
As organizações, por sua vez, também poderiam utilizar o modelo exploratório de
fatores relevantes ao desempenho do CIO brasileiro, como uma forma de avaliar a
própria concepção da TI e como sua estrutura vem influenciando a forma de
atuação do CIO.
Além disso, profissionais de recursos humanos, empresas de recrutamento,
seleção, treinamento e consultorias de TI poderiam, também, valer-se do modelo
de fatores-chave proposto. Tal modelo, complementarmente, poderia ser de grande
utilidade como direcionador de ferramentas de capacitação dos CIOs nas empresas
e para o próprio processo de recrutamento e seleção.
Neste trabalho, oferece-se ainda material para uma possível revisão de
currículos acadêmicos relacionados à formação básica dos profissionais de TI. O
conteúdo das ementas poderia ser orientado segundo as necessidades apontadas
pelos CIOs, tal como representadas no modelo exploratório proposto.
5.9. Limitações da pesquisa
Algumas limitações devem ser consideradas ao avaliar-se o presente trabalho, já
que, como todo trabalho de pesquisa, este também apresenta suas limitações
epistemológicas, que devem ser consideradas ao se analisarem os resultados
finais.
A primeira limitação diz respeito à não consideração das características da
organização em que se encontra o CIO, as quais poderiam exercer influência nos
fatores relevantes para seu desempenho profissional (PRESTON, LEIDNER e CHEN,
2008). De fato, o alinhamento TI-Negócio depende tanto do CIO quanto da
organização (LUFTMAN, 2000), o que neste estudo não foi considerado. Assim, não
foi avaliada a visão das organizações quanto à tecnologia da informação,
evidenciando-se tão somente a visão do próprio CIO quanto aos fatores
relevantes para seu desempenho profissional. Além disso, não foi apurado o
nível de autonomia e de reporte do CIO. Dessa forma, não foi possível
determinar se a quem o CIO responde poderia interferir na importância atribuída
aos fatores relevantes estabelecidos.
A segunda limitação refere-se aos seis frameworks escolhidos e utilizados no
referencial teórico. Eles podem não esgotar a totalidade dos frameworks
relativos aos fatores relevantes associados ao desempenho profissional do CIO
existentes na literatura acadêmica mundial, tendo sido selecionados pelos
autores a partir de busca em bases de dados bibliográficas.
Outra limitação da pesquisa diz respeito à consolidação dos 56 atributos,
obtidos a partir do referencial teórico, em 25, pela detecção de superposições
entre eles pelo grupo focal desenvolvido. Tal decisão foi tomada em virtude do
número excessivo de perguntas a serem respondidas na web pelos CIOs vis-à-
vissua dinâmica profissional (ver, por exemplo, EMORY e COOPER, 1991 e LANE e
KORONIUS, 2007). O fato real e constatado de, numa população de 1.986
respondentes, obterem-se 111 questionários válidos a partir de 25 perguntas dá
a dimensão do que poderia ter ocorrido se fosse adotado um questionário na web
com 52 perguntas. Assim, embora limitante, optou-se por essa abordagem
metodológica.
Ademais, utilizaram-se como respondentes apenas os pró- prios CIOs, o que pode
caracterizar-se como um viés do trabalho. Seria de todo interessante que os
demais stakeholders pudessem também expressar sua posição acerca dos atributos-
chave para o desempenho profissional dos CIOs de suas respectivas organizações.
Finalmente, o número de respondentes da pesquisa, embora adequado à análise,
evidenciou uma grande concentração de CIOs na região Sudeste, o que pode
ocasionar uma distorção quando o modelo for aplicado a outras regiões
brasileiras. A ausência de respondentes da região Norte evidencia esse fato.
Além disso, é possível que a amostra obtida não seja suficientemente
representativa da população dos CIOs brasileiros, já que tal informação não é
conhecida com precisão.
5.10. Estudos futuros
O presente trabalho pode desdobrar-se numa série de estudos futuros, seja a
partir do modelo exploratório proposto, seja no desdobramento de suas
conclusões. Assim, novos frameworks existentes poderiam ser incorporados ao
modelo exploratório proposto ou novas pesquisas e análises poderiam utilizar-se
dos resultados desta investigação.
Outro fato merecedor de atenção foi o descarte de alguns atributos que
contrariam o senso comum hoje institucionalizado na área de TI. Isto é, os
indicadores "estar atualizado tecnologicamente", "ter experiência em gestão de
projetos" e "manter um modelo de governança de TI" parecem ir contra o
mainstream brasileiro. Os profissionais de TI cada vez mais se certificam como
gestores de projetos (CIOs incluídos), cada vez mais as empresas buscam
implantar modelos consagrados de governança de TI, como Information Technology
Infrastructure Library (ITIL), Control Objetives for Information and Related
Technology (COBIT) etc., e a própria rapidez da inovação tecnológica demanda
dos CIOs uma constante atualização acerca das novas tecnologias existentes.
Dessa forma, outras perguntas associadas a esses atributos ou mesmo a busca de
outro conjunto de respondentes poderia atestar se tal eliminação se justifica
ou não.
Adicionalmente, análises qualitativas, que tomam como base o modelo
exploratório proposto, poderiam aprofundar as questões aqui levantadas. Assim,
cada fator relevante poderia ser discutido e analisado por CIOs ou pelos demais
elementos organizacionais com eles envolvidos ' superiores, fornecedores, pares
e funcionários.
Além disso, pesquisas que busquem abordar os aspectos relativos às organizações
em que o CIO atua poderiam gerar desdobramentos na compreensão do modelo
exploratório desenvolvido. Isto é, a incorporação no modelo exploratório do
nível de amadurecimento tecnológico da organização, do nível de reporte do CIO
e da percepção dos demais stakeholders (usuários, fornecedores, clientes etc.)
sobre o desempenho profissional do CIO poderia enriquecê-lo.
Por fim, regressões ou outras abordagens causais (como equações estruturais)
poderiam ser aplicadas, buscando identificar variáveis dependentes que pudessem
ser explicadas pelos fatores relevantes aqui apontados. Proporcionalizar o
tempo de atuação do respondente como CIO, em relação a seu tempo total como
profissional de TI, poderia ser uma proxy para mensurar a variável dependente
do modelo exploratório ' o desempenho profissional do CIO. Outros aspectos
relacionados à organização, como seu segmento de atuação, poderiam ser também
acrescentados ao modelo exploratório como variáveis moderadoras.
Como se pode ver, há ainda bastante caminho a percorrer nesta área de pesquisa.
Assim, espera-se ter contribuído, neste trabalho, para dar um passo adiante na
compreensão dos fatores relevantes associados ao desempenho profissional do CIO
brasileiro.