Corrupção nas organizações privadas: análise da percepção moral segundo gênero,
idade e grau de instrução
1. INTRODUÇÃO
O combate à corrupção por meio de boas práticas de governança corporativa tem
sido associado à noção de responsabilidade social empresarial. O décimo
princípio do Pacto Global das Nações Unidas estabelece que "as empresas devem
combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina"
(CGU, 2009, p.6). Reduzir os riscos relacionados às condutas antiéticas dos
profissionais aumenta a competitividade das empresas, pois a gestão dos riscos
preserva a imagem corporativa interna e externa, diminui a probabilidade de
fraudes internas e gera ambiente mais seguro. A corrupção, em suas diversas
formas, compromete o desenvolvimento do mercado e reduz possibilidades de
lucratividade consistente no longo prazo.
O uso de instrumentos como código de ética e de conduta, canal de denúncia,
desenvolvimento de controles internos, procedimentos internos de divulgação de
temas relacionados à corrupção, análise de aderência ética dos profissionais e
parceiros comerciais é crescentemente utilizado pelas organizações na busca de
diferenciais no mercado (CHERMAN e TOMEI, 2005). Adicionalmente, o Artigo 404
da Lei norte-americana Sarbanes-Oxley, de 2002, aponta para o mesmo caminho, e
as empresas norte-americanas são obrigadas a segui-la em qualquer parte do
mundo. A adequação das organizações aos comportamentos éticos dos profissionais
e candidatos e a identificação, a mitigação, a análise das consequências e a
prevenção das atitudes inadequadas é uma tarefa difícil para as organizações,
mas, ainda assim, necessária.
A busca pela aderência entre a ética individual e a coletiva é denominada
compliance, termo anglo-saxão originário do verbo to comply, que significa agir
de acordo com uma regra, um pedido ou um comando. Compliance é o dever de
cumprir, de estar em conformidade e fazer cumprir regulamentos internos e
externos impostos às atividades da instituição (MORAIS, 2005). Discutir
compliance exige compreender a natureza e a dinâmica da corrupção nas
organizações.
A conduta de acordo com a regra (compliance) ou a corrupta possuem várias
causas e são influenciadas pelas circunstâncias. Na raiz da conduta corrupta ou
da compliance está a percepção moral, a compreensão do indivíduo sobre o
significado de sua atitude ante a moral e as regras organizacionais.
Como pressuposto, a corrupção nas organizações é sistêmica. O subsistema de
corrupção é complexo e de difícil desarticulação. Para uma ideia geral da
abrangência, Nielsen (2003) identificou 12 pontos dignos de nota:
•existe um subsistema de reciprocidade, destrutivo e parasita, de ganho mútuo
nas redes exclusivas de corrupção;
•extorsão por funcionários públicos é um problema muito maior que suborno, uma
vez que indica uma possível fragilidade na estrutura estatal;
•comportamentos de corrupção parasita podem envolver comportamentos produtivos,
o que serve para apoiar ainda mais o subsistema de corrupção;
•armadilhas pequenas do cotidano e violações éticas podem cooptar reformadores
em potencial, além de ser usadas como armas contra eles;
•muitos dos agentes da rede de corrupção, pessoal e indi-vidualmente, podem ser
muito agradáveis, generosos, di-vertidos, inteligentes e, até mesmo, corajosos,
enquan-to, ao mesmo tempo, podem também ser parasitas e destru-tivos;
•leis socialmente populares, mas não realistas, são aprovadas para gerar
popularidade política e oportunidades de extorsão ou suborno;
•há conexões de corrupção entre os partidos políticos e a polícia e as
ramificações do governo responsáveis por autuar, julgar e legislar;
•há conexões de corrupção entre os partidos políticos e os relatos de
potenciais cães de guarda (vigilantes) e instituições de pesquisa, como as
auditorias, a mídia jornalística, as universidades e associações profissionais;
•exigências de grandes financiamentos de campanha envolvem candidatos da
reforma e/ou seus familiares e correligionários em relações problemáticas de
financiamento;
•participação na corrupção de ganho mútuo é oferecida a reformadores
potencialmente eficazes;
•conflitos com incentivos dos principais agentes do setor pú-blico resultam em
equívocos nos regulamentos/regras e relaxamento na supervisão, e isso não é o
mesmo que desregulamentação ou retirada do controle governamental;
•programas de resgate nacionais e/ou internacionais ser-vem para manter o
sistema corrupto, enquanto, ao mesmo tempo, forçam medidas de austeridade para
a classe média e a baixa.
Apresenta-se o histórico do debate sobre corrupção e das três gerações de
pesquisa sobre o tema, nos quais se ressal-tam as dificuldades teóricas e
práticas de conceituar e me-dir corrupção. A discussão sobre compliance, por
sua vez, expressa o empenho de autores e gestores em impedir a corrup-ção e
promover atitudes éticas nas organizações e, por esse motivo, apesar dos
limites metodológicos, procuram avançar no entendimento das causas do problema,
entre elas a percepção moral.
Os dados disponíveis para a pesquisa aqui relatada sobre percepção moral
apontavam para a necessidade de entender as relações entre gênero, nível de
instrução, idade e percepção moral. Realizou-se pesquisa quantitativa como
estratégia de primeira abordagem ao fenômeno da percepção moral, descrita no
tópico Metodologia. Pesquisas qualitativas futuras poderão avançar no
entendimento das variáveis isoladas, bem como suas relações com a cultura
organizacional.
Utilizaram-se as expressões ética e moral como sinônimos. Dadas as limitações
quanto ao tamanho do presente artigo, não se discutiu ética como tema
específico, privilegiaram-se a apresentação e a análise dos dados.
2. CORRUPÇÃO: CONCEITOS, INDICADORES E PESQUISA
A corrupção era tratada na literatura acadêmica com brevidade, fornecia
material para anedotas e cochichos sociais, mas não era vista como problema a
enfrentar por meio de políticas e reformas específicas (SPECK, 2000), mas
considerada um lubrificante da economia, cuja existência era benéfica. Quando
muito, economistas (LEFF, 1964) observavam a corrupção como possível causa de
alguns prejuízos para a eficácia econômica, todavia, como fato de pouco impacto
na ordem das coisas, não era digna de estudo e muito menos de intervenção.
Na perspectiva da literatura utilizada neste estudo, a corrupção deve ser
encarada como um dos principais problemas organizacionais. A sociedade começa a
ver a corrupção como um entrave para o desenvolvimento sustentável,
reconhecendo que provoca ineficiência, incentivos errados para os investimentos
econômicos e desestímulo à população na busca pelo bem comum, gerando, ainda,
altos custos econômicos, sociais e políticos. O impacto econômico da corrupção
é reconhecido como significativo e, "se a corrupção é importante
economicamente, então se torna importante medi-la" (ABRAMO, 2005, p.33-37).
A literatura compreende desde a busca superficial pelo entendimento dos
escândalos, até reflexões sofisticadas sobre as relações entre falhas
individuais e a estrutura organizacional. Tradicionalmente, as análises
qualitativas não foram complementadas por medição da ocorrência dos fenômenos
definidos como de corrupção, tais como o grau de corrupção em certos países,
regiões ou instituições, ou por perguntas complexas sobre a causalidade entre
corrupção, desenvolvimento, cultura política, perfil das instituições políticas
e administrativas, entre outros aspectos mensuráveis (SPECK, 2000).
Para viabilizar o estudo da corrupção, é preciso ir além do economicismo,
considerando que atores econômicos reais se pautam não somente pela busca de
seus interesses, mas também pelo oportunismo, que consiste na busca do
interesse próprio mesmo em detrimento do coletivo (WILLIAMSON, 1996). A visão
supostamente neutra de que a análise econômica não necessita observar e
considerar possíveis desvios de comportamento ético (bastaria a pressuposição
de maximização do lucro) (DEMSETZ, 1995) não apreende o fenômeno da corrupção.
Ainda no campo teórico-pragmático, que desqualifica a corrupção como problema
prioritário, há análises formadas a partir das definições de racionalidade
limitada e plena. A racionalidade limitada expressa que o agente, ao decidir,
está condenado ao conhecimento limitado das informações relevantes, assim, suas
decisões são apenas satisfatórias, jamais ótimas (SIMON, 1997). A racionalidade
plena, por oposição, supõe acesso perfeito às informações e, portanto, decisões
ótimas. Se as análises assumem o pressuposto de ausência de oportunismo e
presença de racionalidade limitada, a corrupção não é relevante, pois não
haveria má-fé nas transações, no máximo equívocos provocados pela racionalidade
limitada. Se o pressuposto é oportunismo e a racionalidade plena, agentes
controladores saberiam prevenir o oportunismo (ou má-fé) e instituir sistemas
perfeitos para impedir atos corruptos. No mundo do faz de conta da ausência de
oportunismo e da racionalidade limitada, ou do oportunismo associado à
racionalidade plena, surge o campo teórico denominado economia dos custos de
transação.
Para a economia dos custos de transação, no mundo real é necessário admitir o
potencial oportunismo dos agentes econômicos e, por isso mesmo, desenhar
estruturas de monitoramento e de controle das atividades dos envolvidos nas
transações organizacionais (de acordo com seu grau de sensibilidade), das quais
decorrem custos de operação (ZYLBERSZTAJN, 2002).
Granovetter (1985) considera a economia dos custos de transação como uma
concepção subsocializada, que não compreende, literalmente, as relações
pessoais e suas consequências na intervenção e na mitigação dos atos de má-fé.
No outro extremo, o autor utiliza a expressão supersocialização, segundo a qual
a confiança pode substituir os dispositivos de controle (assumindo que o
indivíduo racional seria motivado a agir pelos interesses da coletividade). O
pressuposto da subsocialização leva a propostas impraticáveis, não haver um
sistema de monitoramento e controle à prova de quaisquer atos de má-fé ou, pelo
menos, impraticável quanto ao custo que esse pseudossistema exigiria para sua
execução (poderia ser mais oneroso que o objeto segurado). A crença na
supersocialização também carece de viabilidade quando se considera a
complexidade das necessidades humanas, mesmo assumindo que um mínimo de
confiança nas relações interpessoais deva existir.
A moralidade generalizada encontra guarida na teoria defendida por Arrow
(1974), para o qual, durante o desenvolvimento da sociedade, são estabelecidos
acordos para possibilitar o convívio, o que, por sua vez, garante a existência
do grupo. Espinoza (apud DAMÁSIO, 2003) defende que o homem, por motivações
biológicas, tende a agir eticamente com o intuito de preservação da espécie,
age naturalmente para o bem coletivo, propiciando um ambiente no qual o
convívio é possível. Os acordos entre as necessidades individuais e coletivas
podem ser implícitos, por meio de normas sociais ou culturais, ou explícitos,
materializados em normas e regras formais (arcabouço do ordenamento jurídico)
(LYNN, 1990).
O debate sobre as motivações da conduta humana é antigo e inconclusivo, tornado
clássico em autores como Rousseau (1978) e Hobbes (2004). Ainda que não se
resolva o dilema da natureza humana, se oportunista ou altruísta, pondera-se
que é adequado procurar uma síntese das diferentes contribuições na área de
compliance: a promoção de certo grau de confiança, o uso de instrumentos de
controle e o cuidado com sistemas que mesmo involuntariamente incentivem
condutas corruptas ajudam a lidar com o problema da corrupção.
Quanto a esse último grupo, promoção involuntária de corrupção, destacam-se o
uso abusivo ou inadequado de recompensas por desempenho e as formas precárias
de contratação. Escândalos de falências fortemente determinados por corrupção -
como os casos Enron, Banco Panamericano, WorldCom, Lehman Brothres e Fannie Mae
- estão associados a pagamento por desempenho aos principais executivos.
Contratos de trabalho precários, por sua vez, não contribuem para a formação de
vínculos e relações de confiança (PERILLO e AMORIM, 2011). O uso contínuo
desses recursos de gestão ou de modelo de negócio (contratos precários) pode
ser incorporado pelo sistema corrupto nas organizações, como fraude sistemática
de indicadores de desempenho e não investimento em capacitação.
Na primeira década do século XXI, o debate sobre corrupção aumentou e ganhou
densidade. Os indicadores mais utilizados para quantificar a corrupção são: os
escândalos relatados na mídia; as condenações contabilizadas nas instituições
ligadas à esfera penal; as informações obtidas em pesquisas entre cidadãos
(SPECK, 2000). O primeiro indicador origina-se nas notícias expostas pela
grande mídia. A quantificação carece de solidez, pois dependerá do grau de
liberdade de imprensa do país e de quanta imparcialidade os jornalistas locais
desfrutam nas questões noticiadas e, principalmente, nos eventos não
noticiados. Assim, países ditatoriais e/ou com mídia corrompida provavelmente
terão bons índices de não corrupção.
O segundo indicador - condenações penais - utiliza dados de órgãos
investigativos e punitivos, como ministério público, polícia, comissões
parlamentares de inquéritos, entre outros. Ressalta-se que comportamentos
associados à corrupção são mais sofisticados do que os crimes comuns: a
investigação é mais difícil, e as informações obtidas podem ser subestimadas.
No Brasil, não há avaliação sistemática dos casos processados pelos tribunais,
dificultando a construção dos indicadores de corrupção dessa natureza. Além
disso, as tipificações jurídicas são diferentes entre os países, fragilizando
análises comparativas internacionais. Essas fragilidades devem ser consideradas
quando se analisa o fenômeno da corrupção nas empresas privadas brasileiras:
segundo pesquisa da Transparência Brasil de 2003, realizada com 94 empresas
situadas no Brasil, a expressiva maioria das empresas respondentes (63
empresas, ou 67% da amostra) já foi vítima de fraudes, e apenas 40% dessas
empresas vítimas de corrupção iniciou ação judicial (ABRAMO, 2004).
Por fim, o terceiro indicador - informações obtidas por meio de pesquisas de
opinião - investiga junto aos cidadãos o grau e a extensão da corrupção na
sociedade, as percepções morais sobre o fenômeno e o conceito de corrupção e,
até mesmo, as experiências dos cidadãos com as práticas de corrupção. Tanto
quanto nos dois indicadores anteriores, há problemas no levantamento das
informações, não obstante seja o modelo mais utilizado, acumulando três
gerações de pesquisas (SPECK, 2000).
A primeira geração de pesquisas investiga diferentes visões sobre a corrupção,
sem dar conta de uniformizar seu conceito. Segundo Brei (1996), a dificuldade
de consenso sobre o conceito de corrupção deve-se à inserção do tema em
distintos campos disciplinares, o que confere ao fenômeno significados
variados, ainda que seja imprescindível a junção do Direito, da Ciência
Política e da Administração (no mínimo) para a correção das distorções nas
instituições nas quais há corrupção (SPECK, 2000). Partindo dessa advertência,
neste estudo não se restringirá à definição de corrupção como o uso de bens
públicos para fins privados (NYE, 1967). Posta exclusivamente nesses termos, a
definição encerra discrepância entre o legalismo da afirmação e a prática
observada em diversos estudos empíricos. Note-se que a corrupção não é
praticada apenas pelo funcionário público, mas também pelo particular. Segundo
o Grupo de Trabalho do Pacto Empresarial pela Integridade contra a Corrupção, é
realmente muito difícil definir todas as situações que podem ser classificadas
como corrupção. De todo modo, o referido grupo exemplifica, mesmo que não
exaustivamente, um rol dos crimes de corrupção estabelecidos pelos mais
diferentes países: pagamento de suborno no âmbito do país ou em transações
comerciais internacionais, tráfico de influência, abuso de poder,
enriquecimento ilícito, suborno no setor privado, lavagem de dinheiro e
obstrução da justiça.
Consideradas as dificuldades teóricas, assume-se neste trabalho a definição de
corrupção como
"relação social (de caráter pessoal, extramercado e ilegal) que se
estabelece entre dois agentes ou dois grupos de agentes (corruptos e
corruptores), cujo objetivo é a transferência de renda dentro da
sociedade ou do fundo público para a realização de fins estritamente
privados. Tal relação envolve a troca de favores entre os grupos de
agentes e geralmente a remuneração dos corruptos ocorre com o uso de
propina ou de qualquer tipo de pay-off, prêmio ou recompensa" (CGU,
2009, p.60).
Tomando o ordenamento jurídico brasileiro apresentado no Artigo 186 do Novo
Código Civil (BRASIL, 2003), ato ilegal ou ilícito é
"aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral".
Note-se que, a despeito da legítima polêmica sobre a definição de corrupção, no
âmbito legal, dá-se a delimitação do fenômeno, motivo pelo qual se escolheu a
definição da CGU. Adicionalmente, a definição da CGU, complementar à do Novo
Código Civil, serve para avaliar organizações públicas e privadas. Não se tem a
tranquilidade de utilizar uma definição que apreenda todos os aspectos da
corrupção, o que leva, a cada análise, a cotejar o conceito ao contexto ou, na
recomendação de Bezerra (1995), a aprofundar a análise das dimensões sociais,
históricas e culturais nas quais estão envolvidos os atores.
Heidenheimer (1970), mesmo não trabalhando com dados empíricos, propõe um tipo
de investigação no qual conceitua a corrupção segundo as percepções dos atores
sociais, classificando-as em: corrupção preta - quando a lei e a norma social
coincidem, ou seja, há sinergia entre as percepções da sociedade com a norma
jurídica vigente; corrupção branca - quando a lei tipifica determinado ato como
crime, mas há uma tolerância ou mesmo discordância dessa tipificação pela
sociedade; corrupção cinza - quando não há consenso de que determinado ato seja
ou não considerado como execrável. Conforme Speck (2000), a tese de
Heidenheimer foi empiricamente comprovada por Peters e Welch (1978) ao
identificarem que a definição de corrupção varia conforme o caso estudado.
Ampliando essa visão, Robertson et al. (2002) conceituam uma situação na qual
um indivíduo pode decidir entre uma opção ou outra, sem que qualquer delas seja
considerada certa ou errada em termos éticos, dependendo assim do contexto e da
visão, e denominaram-na como um dilema ético.
A segunda geração de investigação da corrupção é chamada de identificadores dos
riscos de investimentos. Em meados da década de 1980, empresas buscavam
indícios de grau de corrupção como um dos indicadores para auxiliar as
ferramentas de decisão no investimento em determinado país. Para Abramo (2005),
essa mensuração direta é um problema intransponível, pois os atos de corrupção
são secretos, e os atores identificados como corruptos dificilmente confessam
os detalhes de suas transações ilícitas, restando apenas indicadores indiretos,
aos quais o autor tece severas críticas.
Tome-se a medida indireta mais conhecida - índice de percepções de corrupção da
Transparency International (TI), indicador compilado a partir de outros
indicadores, todos referentes às opiniões de pessoas ligadas às corporações
transnacionais sobre o nível de corrupção que elas imaginam vigorar em um país.
A primeira objeção é que não há garantia alguma de que as opiniões colhidas
para confeccionar o índice sejam independentes entre si. A imprecisão
intrínseca a esse índice (e de outros de mesma inspiração) é a segunda crítica
de Abramo (2005). Como exemplo, o índice de 2004, no qual se observa que o
intervalo de confiança médio dos 146 países relacionados é 0,92, quer dizer,
mais de 9% da escala de zero a dez. Outra crítica a essas pesquisas é não
abordarem de forma direta e prática a ética das instituições desses países
(ABRAMO, 2005).
Speck (2000) questiona a validade dos índices indiretos pela origem, pondo em
dúvida a confiabilidade dos órgãos que elaboram tais pesquisas: essa linha foi
seguida nos anos 1980 por empresas de consultoria e de avaliação de riscos de
investimentos globais. Essas informações baseiam-se em percepções de
especialistas da área e as unidades de observação são países e não indivíduos,
assim sendo há o risco das informações distanciarem-se sobremaneira da teoria
imposta nas normas legais e das normas sociais presentes nas relações
interpessoais (SPECK, 2000).
A terceira geração de pesquisa surge por volta dos anos 1990 com o propósito de
superar os resultados das pesquisas de indicadores de corrupção considerados
inócuos, isso porque a simples constatação que determinado país era melhor ou
pior do que o outro para se investir agregava pouco valor. A nova proposta de
pesquisa baseia-se não somente na identificação dos problemas que a corrupção
pode causar, como também pretende buscar estratégias para solucionar ou mitigar
os atos corruptos e suas consequências. As abordagens valorizam: medidas
educativas e punitivas, direcionando o enfoque para os incentivos positivos e
negativos que afetam o indivíduo; a busca por resultados por meio de reformas
no sistema político e econômico; identificar causas estruturais ou
institucionais da corrupção. Esse tipo de pesquisa espera propiciar maior
conscientização dos agentes envolvidos que porventura não despertaram para o
tema; auxiliar a definição de prioridade de áreas e medidas que exijam
intervenção mais urgente; proporcionar monitoramento constante da corrupção e
consequente inibição da mesma (SPECK, 2000).
A pesquisa apresentada no presente artigo alinha-se no grupo denominado como a
última geração de pesquisa, uma vez que propõe identificar as possíveis
variáveis que interfiram no grau de flexibilidade de percepção moral do
indivíduo e sua aderência à visão ética adotada por empresas privadas
brasileiras.
O campo de análise da corrupção é vasto, ainda marcado por problemas
conceituais. Não obstante, as organizações estão expostas ao problema da
corrupção, precisam identificá-lo, controlá-lo e preveni-lo. Daí o
desenvolvimento de compli-ance, tema que procura avançar na produção de
indicadores e de ações para lidar com a corrupção nas organizações.
Na base da compliance está a percepção moral, isto é, o quanto o indivíduo
compreende o contexto e suas atitudes na perspectiva moral, capaz de discernir
certo e errado. Julga-se que melhorar a compreensão sobre os elementos com
impacto na percepção moral do indivíduo contribui para melhorar os instrumentos
de controle da corrupção e de promoção dos comportamentos éticos.
3. METODOLOGIA
O presente trabalho é exploratório (COLLIS e HUSSEY, 2005). Busca-se aprofundar
o conhecimento de fatores que influenciam a compliance organizacional.
Utilizou-se análise estatística descritiva (BABBIE, 2003) de dados secundários
cedidos pela ICTS Global, empresa internacional de consultoria, especializada
em redução de riscos ao patrimônio, reputação, informações e vida, incluindo a
prevenção de fraudes e perdas. O banco de dados analisado é de propriedade da
ICTS Global; na análise, será resguardada a confidencialidade da identidade dos
participantes e de suas respectivas organizações.
Realizaram-se análises de dados dimensionadores de um dos três indicadores do
índice de análise de aderência à ética empresarial (AAEE) da ICTS Global. O
índice visa identificar o nível de conformidade ética do indivíduo, tanto
colaborador como candidato, relativamente à conduta ética esperada nas
organizações privadas brasileiras, propiciando-lhes o desenvolvimento e a
implantação de planos adequados para proteção da exposição a riscos
operacionais e para reforço do ambiente ético.
Os indicadores analisados estão contidos no índice de percepção moral de
entendimento da visão do indivíduo ante as hipóteses de conflitos éticos. Os
indicadores estão explicados no quadro_1 e resultam de 140 questões realizadas
por meio de questionários e entrevistas individuais, em ambiente empresarial,
seguindo uma escala de 1 = baixo, 2 = médio e 3 = alto potencial de risco de
não aderência à ética empresarial, conforme se observam exemplos de questões no
quadro_2.
Quadro 1
Variáveis Estudadas e Seus Significados do Banco de Dados AAEE
Fonte: Banco de Dados AAEE - ICTS Global Ltda. (2009).
Quadro 2
Exemplos de Questões para as Variáveis Estudadas do Banco de Dados AAEE
[/img/revistas/rausp/v48n1/05q02.jpg]
Fonte: Banco de Dados AAEE - ICTS Global Ltda. (2009).
A pesquisa analisada trata de amostra não probabilística por conveniência,
realizada entre os anos de 2004 e 2008, com funcionários e candidatos de 74
empresas privadas situadas no Brasil. Realizando o teste de normalidade de
Anderson-Darling, considerando nível de confiança de 95%, margem de erro de
1,71% para mais ou menos e trabalhando com uma proporção de 0,005, uma vez que
a verdadeira proporção (p) é desconhecida, o número final de indivíduos
pesquisados totalizou 7.574. Entretanto, para analisar a variável idade, 117
pesquisas foram descartadas por problemas de preenchimento, restando 7.457;
para analisar a variável instrução, 1.107 pesquisas foram descartadas por
problemas de preenchimento, restando 6.467. O software estatístico utilizado
para realização de tais análises foi o Minitab 2006. A demografia dos
pesquisados está detalhada na tabela_1.
Tabela 1
Compilação da Demografia do Banco AAEE
[/img/revistas/rausp/v48n1/05t01.jpg]
Notas:
* Não Graduado: Primeiro, Segundo e Terceiro Graus incompletos.
** Graduado: Terceiro Grau completo e Pós-Graduação.
Fonte: Banco de Dados AAEE - ICTS Global Ltda. (2009).
Conforme é possível observar, a concentração de respon-dentes está no segmento
de atacado e varejo (47,2%), seguido da área de serviços e holdings financeiras
(23,3%). Há concentração de respondentes com nível de decisão tática (45%). Os
participantes estão concentrados na faixa salarial entre R$1.001,00 e
R$7.000,00 (66,3%). A maioria dos responden-tes é funcionária (62,9%), mais da
metade deles (54,7%) está na organização há mais de um ano. A maioria (69,2%)
dos respondentes é do sexo masculino, todos são maiores de 18 anos de idade,
quase metade (48,3%) possui entre 25 e 34 anos de idade. Para fins de análise
deste trabalho, na variável idade denominou-se como jovens os profissionais com
idade abaixo de 34 anos e de adultos aqueles acima dessa idade. São graduados
43,5% (escolaridade de Terceiro Grau completo e/ou Pós-Graduação). Devido à
grande concentração dos participantes estar na região Sudeste do País (77,4%),
separaram-se os estados de São Paulo e Rio de Janeiro da região Sudeste.
Desconsideraram-se os estados nos quais foram aplicados menos que cinco
processos de pesquisa.
A demografia do presente banco de dados apresenta uma considerável dispersão
quanto a gênero, idade e grau de instrução formal dos pesquisados, variáveis
analisadas neste estudo. Destaca-se, ainda, que representam a maioria desse
público jovens com idade entre 25 e 34 anos que, como poderá ser observado
posteriormente, são mais flexíveis a dilemas éticos e podem ser sensibilizados
pelas organizações. De maneira similiar, mas com maior frequência, podem-se
observar os indicadores quanto aos participantes não graduados, estes também em
sua maioria e, também, mais sensíveis a dilemas éticos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na tabela_2 apresentam-se a média e os testes-t das diferentes médias dos
respondentes masculinos e femininos, e nela podem ser observadas diferenças
significativas em seis dos dez indicadores de percepção moral do banco de dados
de AAEE da ICTS Global, sendo alguns muito mais significativos do que outros
(por exemplo, denúncia e atalhos).
Tabela 2
Análise Comparativa entre a Variável Gênero e os Indicadores de Percepção Moral
[/img/revistas/rausp/v48n1/05t02.jpg]
Notas:
*** p<0,01.
** p<0,05.
* p<0,10.
Fonte: Banco de Dados AAEE - ICTS Global Ltda. (2009).
Os respondentes femininos tendem a hesitar mais em denunciar atos antiéticos
cometidos por colegas de trabalho, bem como a encobrir erros cometidos por
esses colegas. Daí, surgem indagações: Esse tipo de comportamento ocorre pelo
receio de comprometer-se com tais denúncias? E, ainda, como consequência, essa
omissão ocorre pelo receio de sofrer represálias de qualquer ordem por parte
dos denunciados? Sugerem-se estudos futuros objetivando o entendimento das
causas de esse comportamento ser mais evidente no gênero feminino.
Os respondentes masculinos tendem a ter maior disposição na adoção de atalhos
antiéticos para atingir metas pessoais, assim como já o fizeram no passado,
mais do que as mulheres. Tendo em vista que nas empresas privadas brasileiras
ainda há maior número de homens ocupando altas posições hierárquicas
comparativamente às mulheres, poder-se-ia supor que essa diferença se justifica
pela alta competitividade no mundo corporativo? Ainda, poder-se-ia concluir que
o aumento demasiado de pressão para o alcance de metas suscita tendência à
manipulação de resultados? Novamente, está-se diante de fenômenos para os quais
se considera necessário realizar futuras pesquisas.
Há ainda maior potencial a furto por parte dos respondentes masculinos e esses
tiveram maior incidente de demissão por problemas de integridade.
Na tabela_3 são apresentados a média e os testes-t das diferentes médias dos
respondentes não graduados e graduados; observam-se diferenças significativas
em cinco dos dez indicadores de percepção moral do banco de dados de AAEE da
ICTS Global (denúncia, convívio, potencial para furto e suborno), alguns mais
do que outros, em particular com destaque no potencial para furtos. Em todos os
cinco indicadores citados, os respondentes não graduados tendem a ter menor
percepção moral diante de escolhas de natureza ética.
Tabela 3
Análise Comparativa entre a Variável Instrução e os Indicadores de Percepção
Moral
[/img/revistas/rausp/v48n1/05t03.jpg]
Notas:
*** p<0,01.
** p<0,05.
* p<0,10.
Fonte: Banco de Dados AAEE - ICTS Global Ltda. (2009).
Resgatando a Pesquisa Social Brasileira realizada com uma amostra
probabilística de 2.363 entrevistas, no ano de 2002, uma das principais
conclusões é o fato de que há correlação entre o grau de instrução do
entrevistado e sua aceitação ao que chamou o autor de "jeitinho brasileiro",
difundido por DaMatta (1979) e Barbosa (1992). Para esses autores, é possível
minimizar o lapso entre a lei e/ou normas sociais e a prática dessas com o
aumento de escolaridade formal (ALMEIDA, 2007). A presente análise dos dados
corrobora essa visão, uma vez que se percebe relevante potencial para o descaso
com a ética por parte dos respondentes não graduados, quando comparado aos
graduados.
Na tabela_4 constam a média e os testes-t das diferentes médias dos
respondentes jovens (menores de 34 anos de idade) e dos adultos (maiores de 34
anos de idade), e nela podem ser observadas diferenças significativas em cinco
dos dez indicadores de percepção moral do banco de dados de AAEE da ICTS
Global; dois deles, potencial para furto e demitido, apresentam diferenças bem
mais significativas.
Tabela 4
Análise Comparativa entre a Variável Idade e os Indicadores de Percepção Moral
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Notas:
*** p<0,01.
** p<0,05.
* p<0,10.
Fonte: Banco de Dados AAEE - ICTS Global Ltda. (2009).
Observa-se que os respondentes jovens tendem a maior flexibilidade para o
convívio com pessoas desonestas e para furto, relativamente aos adultos. Uma
possível explicação para o fenômeno, a ser investigada por meio de pesquisa
qualitativa, seria que os profissionais mais jovens apresentam maior
fragilidade potencial por não possuírem maturidade e experiência tanto quanto
os adultos.
Os adultos tendem a revelar e/ou utilizar informações confidenciais da empresa
de forma indevida, bem como a adotar atalhos antiéticos para atingir objetivos
pessoais mais do que os jovens e há maior incidência de demissão por problemas
de integridade no grupo dos adultos. Esses comportamentos podem ser
justificados pelo maior tempo de carreira profissional a que foram submetidos,
comparados com os profissionais mais jovens. Novamente, está-se diante de
pontos para futuras pesquisas.
Na figura_1, pode-se comparar o impacto relativo nos indicadores de percepção
moral do banco de dados de AAEE da ICTS Global em relação às três variáveis
(gênero, idade e instrução). Observa-se certa homogeneidade entre as variáveis
e, no geral, a característica idade não é tão significativa quanto as outras
duas. Há certa complementaridade de informações que poderiam servir de alerta
para indicadores de maiores propensões e/ou fraquezas, dependendo do caso em
relação à fragilidade na percepção moral com base em gênero, instrução ou
idade.
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Figura 1: Análise Comparativa entre as Variáveis Gênero, Instrução e Idade com
os Indicadores de Percepção Moral Utilizando os Valores 1-p (Maior Corresponde
a Diferença Mais Significativa)
Finalmente, é importante observar, na figura_1, que certos indicadores, como
furto e suborno, possuem maior diferença entre as variáveis, indicando que a
conduta de acordo com a regra (compliance) ou a corrupta tiveram várias causas,
sendo influenciadas pelas circunstâncias. Já outros indicadores, como presentes
e culpa, estão mais vinculados à visão ética do indivíduo, sendo assim mais
suscetíveis a reflexões éticas que podem ser orientadas pelas organizações.
A análise de cluster (tabela_5) indicou cinco clusters no índice de percepção
moral, havendo grande similaridade entre os indicadores dos clusters 1
(denúncia, erros e convívio) e 4 (potencial para atalhos, presentes e suborno);
já os demais, entre si, não apresentam similaridades significativas. No
dendograma (figura_2), pode-se visualizar a disposição dos indicadores e
verificar o nível de similaridade entre eles; a análise de correlação pode ser
ponto de reflexão para estudos futuros, pois aponta para algumas indagações:
quanto ao cluster 1, será que o profissional assimila conviver com colegas de
trabalho que agem de forma antiética por não se sentir confortável em delatar
tanto erros como atos antiéticos? Ou ainda, não há lealdade para com os
objetivos da organização e sim a seus interesses e de seus colegas? Já em
relação ao cluster 4, pode-se inferir que não há grande diferenciação entre
recebimento de presentes e suborno para os profissionais pesquisados por
considerarem que não estão prejudicando a organização de forma direta? A
flexibilidade para tomada de atalhos antiéticos com objetivo de atingir metas
pessoais é a mesma para o recebimento de benefícios, tanto na forma de suborno
quanto na de presentes de stakeholders, uma vez que seus interesses preterem os
da organização? Já os demais clusters demonstram não existir muita padronização
dos indicadores verificados, o que também aponta para uma maior reflexão em
pesquisas qualitativas futuras.
Tabela 5
Análise de Clusters dos Indicadores de Percepção Moral
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Fonte: Banco de Dados AAEE - ICTS Global Ltda. (2009).
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Figura 2: Dendograma que Mostra o Grau de Similaridade Relativamente ao
Comportamento Geral dos Indicadores de Percepção Moral
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo, objetivou-se avaliar o impacto do gênero, da idade e do grau de
instrução na percepção moral dos indivíduos nas organizações. Na análise dos
dados levantou-se uma perspectiva alentadora: o grau de instrução amplia a
percepção moral do indivíduo. Alentadora, porque abre um curso prático de ação:
o investimento em capacitação ampla.
Reduções nos orçamentos para capacitação, formas precárias de contratação de
mão de obra e a prática de buscar profissionais de pouca instrução (e
remuneração menor) podem contribuir para a formação de grupos com menor
percepção ética e ampliar a possibilidade de problemas relativos à corrupção.
As organizações precisam não apenas declarar a corrupção como um problema
(BORINI e GRISI, 2009) e procurar combatê-lo, mas também investir na ampliação
da percepção moral do indivíduo, por meio do investimento na instrução que, por
sua vez, é mais ampla do que capacitar exclusivamente para a atividade
profissional em sua dimensão técnica.
Há vasta literatura sobre o suposto estilo feminino de atuar nas organizações.
Considera-se imprescindível que as pesquisas sobre as particularidades da
gestão feminina se amparem em pesquisas quantitativa e qualitativa, buscando
compreender as nuanças dos comportamentos femininos nos variados contextos. De
acordo com os dados desta pesquisa, as mulheres têm menor predisposição ao
furto, mas são menos dispostas à denúncia de comportamentos corruptos. Por quê?
O que temem? Como veem a situação? Na sociedade brasileira, legislação e
estrutura específicas para atender a denúncias de violência contra mulheres
ampliaram as denúncias feitas por elas. As organizações poderiam estudar e
aproveitar, com adaptações, tais experiências.
A juventude e a maturidade, de acordo com os dados desta pesquisa, têm impacto
na percepção moral e na disposição a condutas de atalhos (transgredir normas
para atingir objetivos). A informação sugere às organizações: primeiro,
compreender a existência do fato; segundo, preparar-se para lidar com ele.
Programas de trainees e estágios, por exemplo, poderiam lidar formalmente com o
problema potencial.
A análise da literatura apresentada alerta para a impossibilidade de
supersistemas de controle como instrumento para sanar a corrupção. Contudo, a
prática de compliance também contribui para o enfrentamento do problema - desde
Maquiavel (1973), sabe-se da importância da lei para a observância da ética.
Daí a necessidade de as organizações investirem em pro--gramas de promoção da
ética: elaboração de código de conduta, comunicação permanente, recrutamento
centrado na observância da ética, comitê de ética e controle interno.
Os códigos de conduta abrangem normas e diretrizes sobre valores éticos, e
comportamentos esperados pela empresa em situações específicas. A comunicação
permanente é composta por medidas educativas quanto aos valores expressos no
código de conduta e visa aproximar o grau de aderência entre os valores
organizacionais e os valores dos funcionários. O estabelecimento de sistema de
recrutamento centrado na ética prima por atrair, selecionar e reter
funcionários com os valores adotados pela organização. Trata-se de sistema de
fundamental relevância, uma vez que a não aderência pode facilitar a adoção de
comportamento sem compromisso com a ética, que privilegie interesses pessoais
em detrimento dos coletivos. O comitê de ética é responsável pela educação e
pelo monitoramento, em associação aos sistemas de controle. O sistema de
controle interno, por sua vez, objetiva reduzir possíveis vulnerabilidades
existentes nos processos, mitigar riscos e prevenir atos de corrupção.
A natureza desta pesquisa, marcada por polêmicas conceituais e metodológicas,
levou a constituir razoável elenco de indagações e pistas para novas pesquisas,
além das análises de correlação entre as variáveis estudadas (gênero, idade e
grau de instrução) e a percepção moral. Espera-se contribuir para o avanço da
reflexão sobre o tema corrupção nas organizações e, também, a utilização das
ferramentas de compliance.