Mobilidade populacional, sustentabilidade ambiental e vulnerabilidade social
Introdução
Em 1992, quando da realização da Conferência das Nações Unidas para Meio
Ambiente e Desenvolvimento, a demografia como disciplina não tinha a
importância que mais tarde assumiria para o estudo do ambiente. Um dos
primeiros desafios para os demógrafos, quando identificaram um lugar no debate
além da polêmica sobre as conseqüências do rápido crescimento populacional, foi
confrontar a visão quase unânime dos ativistas e cientistas ambientais de que o
problema era população demais e recursos de menos. Embora o tamanho da
população e as taxas de crescimento não sejam assuntos irrelevantes, o enfoque
exclusivo nestes temas deixou os especialistas em questões demográficas à
margem do debate. Atribuir a crise ambiental a esse fator era simplificar as
análises demográficas, especialmente considerando as tendências declinantes
observadas desde os anos 70.
Essas tendências tornam-se mais evidentes a cada censo de população. As taxas
de crescimento populacional têm declinado em todos os países latino-americanos,
freqüentemente a ritmos históricos sem precedentes. Taxas de crescimento por
períodos de cinco anos, de 1950 a 2050, estimadas pela Comissão Econômica para
América Latina e o Caribe (Cepal), revelam o considerável declínio já observado
e a redução esperada para a primeira metade do novo século (ver Quadro_1).
Considerando o momentum do crescimento populacional, a fecundidade de reposição
' esperada para 2025 ' demorará para ser traduzida em crescimento zero. Por
outro lado, vale notar que esses dados supõem que o declínio de fecundidade
terminará quando chegar à taxa de 2,1 filhos por mulher, embora esta não tenha
sido a experiência daqueles países que já alcançaram essas taxas. Como o
declínio de fecundidade na América Latina pode ser semelhante àquele da Europa,
é perfeitamente possível que o crescimento zero seja alcançado antes do que se
espera.
O crescimento urbano também tem reduzido sua velocidade. Em três quartas partes
dos 20 países latino-americanos as taxas de crescimento urbano alcançaram seu
ponto máximo nos anos 50 e 60; em dois países (Bolívia e Nicarágua), nos anos
70, e em três (Paraguai, Haiti e Honduras) nos 80. Em todos os países grandes
houve um declínio especialmente marcado nas taxas de crescimento urbano entre
os anos 70 e 80. As projeções das Nações Unidas para o período 1995-2005
confirmam essa tendência. Entre 1980 e 2005 as taxas de crescimento urbano
terão declinado regularmente em todos os países menos a Bolívia, El Salvador,
Guatemala e Nicarágua, onde pequenos movimentos ascendentes ainda são
esperados. Esse declínio universal ainda não produziu um padrão homogêneo na
região. Espera-se que as taxas de crescimento para o período 2000-2005 variem
de 0,9% ao ano no Uruguai a 4,2% ao ano em Honduras (Cunha, 2002).
O declínio das taxas de urbanização, por outro lado, foi acompanhado por
mudanças importantes na estrutura familiar. Envelhecimento da população,
redução do tamanho da família e novas formas de casamento têm levado a unidades
domésticas multigeracionais menores e ao aumento do número de domicílios
unipessoais. Entre os anos 80 e 90 o tamanho médio dos domicílios declinou em
todos os países da região (Naciones Unidas, 2001, p. 148-149) e hoje flutua
entre 5,1 pessoas por família em Honduras e 3,2 no Uruguai. A taxa de
crescimento dos domicílios é hoje maior que a taxa de crescimento da população.
A mudança nos padrões de consumo que isso representa terá importantes efeitos
ambientais. As taxas declinantes de crescimento populacional não são nenhuma
panacéia para a qualidade ambiental.
Essa desativação da bomba populacional, há muito esperada pelos demógrafos,
levou a uma atitude de laissez-faire em relação aos problemas de população e
ambiente. A disciplina demoraria muitos anos para perceber que sua contribuição
poderia ir além daquela questão. Eventualmente, os impactos recíprocos entre os
fatores ambientais e a saúde ou entre o uso de recursos e os processos de
distribuição populacional seriam reconhecidos como questões importantes com
conteúdo demográfico. Os esforços para lidar com esses temas nos anos 90
levaram os demógrafos a ampliar seu campo de ação sobre as relações população-
ambiente.
Para os demógrafos, com sua afinidade com os grandes números em níveis gerais
de análise, não foi fácil tratar variáveis ambientais. O progresso viria com
estudos locais que permitem a identificação das condições ecológicas, que têm
uma imensa variação de um lugar a outro. Exemplos de investigações localizadas
que começam a surgir são a pesquisa de Provencio e Carabias (1993) em quatro
zonas ecológicas do México rural; o planejamento de Pezzoli (1998) para a
sustentabilidade ecológica da Cidade do México; o trabalho de Lutz, Prieto e
Sanderson (2000) na península de Yucatán e uma série de estudos coordenados por
Hogan no Brasil (Hogan, 1996; Hogan, Cunha e Carmo, 2001; Hogan et al., 2001).
Estudos de bacias hidrográficas (Hogan, 1996; Ezcurra et al., 1999), por
exemplo, têm reforçado a política de delimitar zonas econômico-ecológicas como
um instrumento de planejamento fundamental. O zoneamento significa o
reconhecimento de que a vocação socialmente determinada de algumas regiões é a
de serem centros de agricultura e indústria modernas. Nestes casos, o dano
ambiental deve ser controlado e minimizado, mas ninguém sugere que essas
regiões sejam reflorestadas tal como eram há 200 anos. Áreas intactas, por
outro lado, têm sido objeto de intensos esforços de preservação. A capacidade
de carga de uma região específica, nessa perspectiva, depende da determinação
social e política do lugar que ocupa no marco das metas maiores de uma
sociedade.
Distribuição populacional e ambiente: P->A
Vista, fundamentalmente, como uma causa de mudança ambiental, a migração começa
a receber a atenção necessária (Hogan, 1993). Como apontam Zaba e Clarke (1994,
p. 13),
a migração, em seu sentido mais amplo, inclui processos tais como a
urbanização, o turismo e a migração pendular, os quais podem mudar
radicalmente a relação entre população nativa ou residente e seu meio
ambiente.
Apesar de sempre presente na discussão de processos de distribuição
populacional, a questão dos recursos naturais apenas recentemente tornou-se o
centro das atenções na investigação sobre regiões específicas (Hogan, 1998).
De maneira geral, existe considerável desacordo sobre a relevância da mudança
ambiental para a migração. Alguns pesquisadores caracterizam as condições
ambientais como simplesmente mais um dos push factors que influenciam as
decisões de migrar. No presente artigo, defendo a idéia de que o estudo da
relação entre mobilidade e ambiente não é simplesmente uma extensão dos estudos
de migração, que incorporam mais uma dimensão, senão uma exigência de uma nova
situação histórica na qual as relações entre homem e natureza são
qualitativamente diferentes. O termo mobilidade é usado como um conceito mais
amplo que migração, já que considera que uma parte crescente dos movimentos da
população com impactos sociais, econômicos, políticos e ambientais não pode ser
caracterizada como "mudanças de residência permanentes ou semipermanentes"
(Lee, 1966), senão como movimentos circulatórios ou temporais de curta duração.
Não estão incluídos, por exemplo, os movimentos contínuos e aqueles
dos trabalhadores migrantes, para quem não há residência durante um
período prolongado, assim como mudanças temporárias, como aqueles
deslocamentos às montanhas durante as férias de verão. (Lee, 1966)
Isto é, Lee não incluía os movimentos que hoje assumem uma importância
crescente. Na América Latina, os movimentos migratórios que ocuparam a atenção
dos especialistas nas décadas recentes (movimentos inter-regionais e rural-
urbanos) perderam sua força. Algumas regiões em desenvolvimento podem estar
menos urbanizadas, mas em todos os lugares a revolução urbana está em marcha e
a urbanização contínua é uma das previsões demográficas mais consensuais. A
década atual será testemunha da transição da população mundial a uma população
predominantemente urbana. Se a transição de um período marcado por
transformações seculares na distribuição populacional para um período de
"acomodação" significa mais ou menos migração, o tempo nos dirá. De qualquer
maneira, é cada vez mais evidente que uma gama de movimentos diferenciados, os
quais têm conseqüências importantes para a sociedade, caracteriza o mundo
contemporâneo (Hogan e Cunha, 2001).
A discussão sobre migração e ambiente implica tratar da distribuição dos
recursos naturais no território, do uso histórico destes recursos por parte das
populações humanas e de seu esgotamento ou degradação. Também significa tratar
das conseqüências de mudanças ambientais provocadas pela mobilidade humana.
Embora este tema estivesse presente na investigação demográfica desde os
trabalhos clássicos de Ravenstein (1885) e Everett Lee (1966), que mencionam os
recursos naturais nas suas discussões sobre migração, o ambiente físico era
tratado geralmente como algo estático, como um recurso a ser explorado ou um
obstáculo a ser superado. Enquanto os recursos naturais foram percebidos como
ilimitados (uma hipótese incorreta em teoria, mas que é um forte elemento da
ideologia desenvolvimentista), era possível ignorar os ciclos ecológicos
dinâmicos sem sérias conseqüências para a compreensão das mudanças econômicas e
demográficas.
O que altera a importância do fator ambiental nos estudos de mobilidade
populacional é a percepção dos limites dos recursos naturais, representados,
antes de tudo, pelo desaparecimento da fronteira. O esgotamento de solos no
Vale do Paraíba e a "marcha" do café para o Oeste Paulista, por exemplo, foram
seguidos por outros esgotamentos e outras marchas. Hoje esta resposta
demográfica não é mais possível. As fronteiras se foram. E se a concentração da
propriedade da terra ainda deixa espaço para o assentamento de grandes
contingentes populacionais, isso não muda o fato de que a terra é finita.
Os primeiros estudos demográficos do ambiente refletiam uma visão da relação
entre a mobilidade da população e o ambiente que encarava as questões
ambientais como mais um fator a ser considerado na explicação da migração. Os
problemas relacionados com os recursos naturais eram vistos como tendo chegado
a um ponto capaz de interferir nos processos de distribuição populacional. Já
não podiam ser considerados como fato res secundários ou estáticos de menor
importância.
Logo começam a aparecer estudos de problemas isolados, os quais abriram novas
perspectivas de investigação e se multiplicaram em anos recentes. Dentre eles
destacam-se:
Na Região Metropolitana de São Paulo, os movimentos pendulares
diários da população entre o centro e a periferia são um mecanismo
para a distribuição de bons empregos: não somente no centro, mas
inclusive na periferia (com sua deficiente infra-estrutura
ambiental), os residentes do centro, que desfrutam de uma melhor
qualidade ambiental nos seus bairros de residência, têm os melhores
empregos. A migração pendular permite que esse padrão de amenidades
ambientais persista (Hogan, 1992).
No centro petroquímico de Cubatão, uma combinação de deslocamentos
diários para trabalhar, seleção migratória, maior rotatividade e
segregação residencial indica que a população que sofre as
conseqüências da contaminação do ar é um segmento desfavorecido
economicamente. A pirâmide social truncada (resultado dos padrões de
migração) também significa que Cubatão não tem grupos sociais com uma
cultura de organização política suficiente para provocar a ação
corretiva por parte do Estado (Hogan, 1993).
Em alguns contextos latino-americanos, durante os anos 80, a
inversão das tendências de crescimento foi bem recebida como um sinal
de esperança de melhoria da qualidade de vida urbana. Mas a queda das
taxas de crescimento foi muito desigual em diferentes áreas, algumas
das quais cresceram a taxas de 8-9% anualmente (em particular, as
áreas de proteção a mananciais). A poluição de rios locais e de
represas não foi corrigida e o racionamento de água persiste em
muitas grandes cidades (Marcondes, 1999).
No "Vale do Aço", em Minas Gerais, uma urbanização periférica
fragmentada, provocada pela flexibilização na localização dos fatores
de produção, condena os trabalhadores de muitas indústrias a viverem
em pedaços de território urbanizados, isolados das indústrias e de
outras cidades, com uma infra-estrutura ambiental mínima (Costa,
1995).
Na Zona Leste de São Paulo e nas favelas de São Paulo e Campinas, a
dialética perversa entre condição socioeconômica e distribuição de
população reserva as zonas de inundação para os segmentos mais pobres
da população (Taschner, 2000; Torres e Cunha; 1994; Torres, 1997).
O desenvolvimento turístico em regiões pristinas traz consigo a
inserção na cultura globalizada à custa da degradação socioambiental
(Lopes Junior, 1997). O desenvolvimento turístico acelerado opõe os
turistas aos migrantes que mudaram para aquelas regiões em função da
demanda de serviços desses turistas, e os dois grupos à população
nativa. Todos perdem: os nativos, seu modo de vida tradicional; os
migrantes, a tranqüilidade e proximidade da natureza que pensavam ter
encontrado; e o ambiente (Luchiari, 1992 e 1997; Ferreira, 1996).
Populações agrícolas que vivem em unidades de conservação e nos
"buffer zones" do entorno movem-se livremente para explorar os
recursos naturais, com conseqüências ainda imprevisíveis para a
integridade ambiental dessas áreas (Rodrigues, 1995; D'Antona, 1997).
O crescimento urbano desordenado procede a um ritmo acelerado, até
independentemente do crescimento da população. Nas áreas
metropolitanas dos Estados Unidos na década de 80, mesmo as zonas
onde a população não cresceu aumentaram sua superficie urbanizada a
uma média de 18% (Pendall, 1999). O "urban sprawl" é também visível
em algumas regiões brasileiras, onde igualmente tem conseqüências
ambientais importantes (Ojima, 2005).
A identificação e o estudo de ambientes em situações de risco, ou regiões
ecologicamente frágeis (terras semi-áridas ou montanhosas, os trópicos úmidos,
entre outras), são uma maneira útil de analisar as conseqüências
socioambientais de movimentos populacionais. O turismo, como um tipo de
movimento populacional muitas vezes com conseqüências socioambientais
devastadoras, merece mais pesquisas. Estudos dessas áreas ecologicamente
frágeis mostrarão que "há uma imensa variação geográfica na pressão
populacional, o que pode ter pouca relação com a densidade de população" (Zaba
e Clarke, 1994, p. 20). Quer dizer, todos os aspectos dos diferentes processos
de mobilidade populacional que têm sido examinados e sistematizados ao longo
dos anos têm uma dimensão ambiental. São fatores de atração, expulsão e
retenção; fatores de mudança e estagnação; segregação residencial; ocupação de
novas terras e esgotamento de velhas terras; migração sazonal na agricultura;
migração pendular; turismo.
Para uma perspectiva ambiental da mobilidade populacional
Com o aprofundamento da crise ambiental, a percepção dos limites dos recursos
naturais muda a nossa leitura da relação entre sociedade e natureza e
transforma a problemática da inter-relação entre mobilidade populacional e
ambiente. Agora temos duas perspectivas sobre essa relação e duas ordens de
perguntas. A incorporação da dimensão ambiental aos estudos de mobilidade
populacional foi somente o primeiro passo de um esforço para responder ao
desafio que a questão ambiental representa. Como temos visto, os estudiosos da
migração aceitaram esse desafio e deram início a uma bibliografia que está
dirigida a vários aspectos dessa questão. Levando a noção de limites à sua
conclusão lógica, um novo nível de análise se abre.
Para a presente discussão existem dois limites de interesse: por um lado, os
recursos naturais e a resiliência dos sistemas naturais e, por outro, a
transição demográfica. Quanto a esse último fator, é claro que no futuro
previsível a migração será o componente mais dinâmico da dinâmica demográfica.
Embora as taxas de fecundidade total tenham caído de seis para dois filhos, ou
até um filho, agora só podem cair, no extremo, a zero. Do mesmo modo, as taxas
brutas de mortalidade, baixando de 35 ou 40 para 10 ou 5, agora só podem cair,
no extremo, a zero. Esses limites matemáticos, embora não correspondam aos
limites sociais e fisiológicos, revelam o estreito espaço para variação no
longo prazo. Para a localização da população no espaço, porém, a lógica
numérica não é um fator limitante. Para o uso e preservação dos recursos
naturais, então, a mobilidade populacional é o fator demográfico mais
significativo. Onde a população vive, trabalha e descansa sempre terá um
impacto sobre a natureza, e vice-versa.
Terra e água são os maiores exemplos da finitude dos recursos naturais. Mesmo
que os avanços tecnológicos possam diminuir a quantidade de terra necessária
para a produção de alimentos, não podem aumentar a superficie da Terra. E a
água, elemento básico da vida, já mostra sinais de ter alcançado seus limites.
Considerar a volatilidade e imprevisibilidade da mobilidade populacional torna-
se, pois, crucial para garantir a sustentabilidade. E os limites ambientais
sinalizam a necessidade urgente de conciliar esses limites com a distribução
das atividades humanas no espaço. Assim, surge uma nova ordem de perguntas para
as ciências populacionais. O que se exige é uma nova teoria da organzação
social do espaço, que comece com a idéia de que os recursos naturais são
finitos.
Em muitas regiões, é o recurso água que representa o limite para o crescimento.
Soluções tradicionais para responder à demanda incluem obras de engenharia que
transportam o precioso líquido de áreas mais bem providas. Em regiões ricas em
água como a América do Sul, a questão relevante seria o custo dos projetos de
engenharia necessários. Ou não? Desviar a água de uma região para outra
encontra, atualmente, resistência política, o que tem frustrado grandes
projetos na California, na Flórida e no Texas. Em São Paulo, o Sistema
Cantareira, que leva 31 m3/seg de água de uma bacia vizinha à Região
Metropolitana de São Paulo, não contaria, hoje, com as mesmas facilidades
encontradas para sua implantação nos anos 70, quando foi construído. Em todo
lugar, é claro que essa solução não é mais viável.
Outras soluções técnicas incluem o uso mais eficiente da água, reduzindo o
desperdício e tratando os efluentes urbanos para permitir sua reutilização.
Mudanças nos hábitos da população também ajudam a economizar água. As novas
agências de bacia, que cobrarão para o uso da água, acelerarão a adoção dessas
soluções. O potencial combinado dessas medidas é enorme e sua viabilidade
afasta cenários catastróficos. Mas toda a gama de ações propostas somente
comprará tempo para a transição a um uso mais sustentável da água.
O que isso significa, para qualquer região específica, é que o tipo de
atividade econômica sustentável ' e conseqüentemente o tamanho da população '
tem limites. As atividades que usam água intensivamente terão de ser removidas
para áreas apropriadas, especialmente a agricultura irrigada.
As conseqüências dessa percepção para o padrão de distribuição populacional
devem ser consideradas regionalmente. Em primeiro lugar, compreender as
relações sociedade-natureza nesse contexto suscita a necessidade de repensar a
unidade apropriada de análise. O que se requer é uma unidade territorial onde
seja possível observar a dinâmica da natureza e que, ao mesmo tempo, seja
relevante para a organização social. Os limites municipais, por exemplo, podem
ser adequados para a análise das políticas econômicas e sociais, mas
insuficientes para captar os ciclos hidrológicos relevantes de um município
determinado. Considerando a importância dos recursos hídricos para as
atividades humanas, não surpreende que as bacias tenham surgido como uma
unidade de planejamento ambiental.
Quando o recurso estratégico é diferente, outra delimitação territorial será
necessária. A preservação da biodiversidade de uma floresta úmida, por exemplo,
e os problemas de conflitos entre agricultores, grupos indígenas, turistas,
homens de negócio etc. implicam que a delimitação territorial terá de dar conta
não só das espécies que são os objetos das políticas de preservação, como
também dos ecossistemas onde habitam essas espécies, dos grupos sociais
envolvidos e das atividades econômicas que causam impactos sobre esses grupos e
essas espécies.
Na prática, a importância dos recursos hídricos está gerando uma nova estrutura
administrativa que pode ser adaptada para o estudo e manejo de outros recursos.
Mas o ponto, aqui, é que distintos territórios terão diferentes limites
dependendo dos recursos em questão. Já que não são sistemas fechados, esses
limites não são absolutos. Do ponto de vista da sociedade em seu conjunto, o
equilíbrio necessário encontrar-se-á na definição das diferentes vocações
ecológico-econômicas dos diversos territórios dos quais ela é composta. Essas
não são vocações puramente naturais, já que o uso da terra no novo milênio é o
produto das forças sociais ao longo da história. Considerando que todos os
valores não podem ser maximizados no interior de cada unidade territorial, o
planejamento econômico-ambiental é a solução inevitável para maximizar os
interesses da sociedade. A alternativa é reduzir a qualidade de vida e a
qualidade ambiental até seu mínimo denominador comum em todo o território.
Algumas áreas, considerando suas vocações econômico-ecológicas socialmente
determinadas, poderão receber mais população e outras, menos. Não podemos,
simultaneamente, preservar a biodiversidade e a beleza natural de regiões
intactas e reproduzir o mesmo estilo de desenvolvimento que caracteriza as
regiões economicamente mais avançadas. A capacidade de absorver contingentes
populacionais varia de acordo com os recursos naturais presentes na região, com
o acesso a recursos extraterritoriais e com o lugar que a região ocupa em uma
divisão territorial do trabalho social. Esse lugar terá de ser negociado na
esfera da sociedade no seu conjunto, o que significa uma negociação permanente.
Esse segundo campo para os estudos da relação entre mobilidade populacional e
ambiente continua escassamente ocupado. Pesquisas em andamento em São Paulo
(Hogan, 1996; Carmo, 2001; Cunha, 2004) buscam avançar nessa direção. Um estudo
do Consejo Nacional de Población de México (Conapo, 1997) focaliza a
distribuição populacional, o crescimento econômico e a qualidade ambiental
neste país e procura identificar microrregiões cuja base de recursos naturais
sustentaria, no longo prazo, as atividades econômicas capazes de criar emprego.
O objetivo é identificar aquelas áreas que poderiam reter ou absorver
população. Em Maurício, Lutz (1994) desenvolveu um modelo das inter-relações
entre população, desenvolvimento e ambiente com o objetivo de criar
instrumentos de planejamento. Mas ainda há poucos estudos de demografia que
analisam a questão da mobilidade populacional no contexto dos limites que o
fator ambiental estabelece para o conjunto de ecorregiões da sociedade em geral
(ver Hogan, 2001, para um esforço inicial).
Em parte, isso se deve à complexidade da tarefa. Mas também se deve à falta de
consenso sobre os limites dos recursos e as conseqüências para a mobilidade.
Para as questões específicas mencionadas na primeira parte deste texto, não é
necessária uma mudança de paradigma. Para incorporar o fator ambiental à
análise de aspectos da mobilidade populacional é requerido apenas que
reconheçamos que esse fator já assumiu uma importância considerável na
qualidade de vida de populações contemporâneas. Mais difícil é aceitar que o
desenvolvimento sustentável esteja baseado em limites ambientais e disso tirar
as conclusões lógicas acerca do uso da terra. Essa perspectiva orienta muitos
ambientalistas mas ainda poucos demógrafos.
Padrões e processos de distribuição populacional e a vulnerabilidade de
migrantes: A->P
A migração também pode ser uma conseqüência de mudança ambiental. Izazola e
Marquette (1995) estudaram mulheres de classe média cujas famílias abandonaram
a Cidade de México para viverem em cidades menores do interior, em busca de uma
melhor qualidade de vida. Ou seja, a poluição do ar na capital foi um fator
importante na decisão de migrar. A dimensão desse fenômeno em outros países é
desconhecida, embora, seguramente, a qualidade ambiental figure entre os
motivos daqueles que trocam as grandes cidades por uma vida mais tranqüila em
lugares menores. Parte desse movimento migratório implica um movimento diário
até o lugar de trabalho, algumas vezes de grande número de trabalhadores
(Hogan, 1993). A erosão e desgaste de solos também provocam a migração rural-
urbana, um processo pouco estudado desta perspectiva.
Uma primeira abordagem para captar esta dimensão das relações população-
ambiente foi o conceito de populações em situação de risco. Considerando que as
conseqüências da deterioração ambiental não são percebidas de maneira igual por
distintos grupos sociais, nem são sentidas de maneira uniforme ao longo de todo
o território, as categorias usuais na análise demográfica nem sempre são
capazes de revelar essas conseqüências. A localização de muitas favelas, por
exemplo, as expõe a inundações sazonais (e a um aumento na incidência de
doenças tais como a leptospirose) e a deslizamentos provocados por chuvas
fortes. Desastres considerados como naturais têm sido estudados por muito tempo
sob diversas perspectivas e oferecem importantes elementos para a análise da
vulnerabilidade de populações específicas. Blaikie et al. (1994), por exemplo,
investigam as maneiras pelas quais populações ganham acesso a recursos nessas
situações de risco.
Torres (1999) examinou as situações ecológicas de bairros afetados por
inundações e as características sociodemográficas dos seus residentes, tendo
concluído que "a noção de risco muda de grupo social a grupo social, como
também com o tempo". Para ele, a tarefa do analista é buscar conexões entre
risco e condição socioeconômica, no sentido de entender uma dinâmica
socioambiental complexa. A idéia de risco implica a existência de um agente
ameaçador e de um agente receptor.
A busca de conceitos para elaborar um novo paradigma terá de ir além da análise
demográfica tradicional. As interfaces da demografia com outras ciências
ajudarão a entender o novo lugar de fatores populacionais naquilo que E.O.
Wilson chamou de o "environmental century". Mesmo a sustentabilidade, como a
meta maior, ainda é um conceito abstrato que serve mais para orientar a nossa
visão do futuro do que para elaborar hipóteses de pesquisa. Mas o senso comum e
a exploração intuitiva, na história da ciência, eventualmente dão lugar a
conceitos mais sistematizados e mais cuidadosamente definidos. No mesmo
universo teórico da sustentabilidade onde também encontramos termos ainda
imprecisos como qualidade de vida e qualidade ambiental, risco, hazard
(perigo), vulnerabilidade são conceitos que abordam a questão do outro
(negativo) lado da moeda. Esse último termo encontra-se em várias disciplinas
no campo ambiental e, embora ainda falte um consenso conceitual, capta
dimensões que ainda não foram delimitadas com clareza (Marandola Junior e
Hogan, 2004a, 2004b e 2004c; Hogan e Marandola Junior, 2005).
Ao se traçar o vínculo entre mobilidade populacional e ambiente, a flecha
causal geralmente tem ido de população a ambiente (P->A). Os efeitos da
concentração de população sobre a integridade ecológica do território e a
necessidade de equilibrar com cuidado a distribuição territorial à base de
recursos começam a ser incorporados à análise demográfica, como vimos acima.
Mas a relação A->P é de importância igual ou até maior. O conceito de
vulnerabilidade é útil para destrincharmos essa relação. A vulnerabilidade nos
ajuda a diferenciar o impacto do risco do perigo objetivo em si mesmo.
Nesta como em outras áreas de análise ambiental, um dos primeiros desafios dos
estudiosos é o desenvolvimento de conceitos apropriados. Agregar significados
mais densos a conceitos tomados do discurso não-científico, conectá-los a
marcos teóricos mais amplos, é inevitável. Vulnerabilidade e risco são
conceitos desse tipo. Foram escolhidos por estudiosos de questões ambientais
porque têm uma ressonância que o nosso vocabulário tradicional não possui.
Permitem-nos, em particular, associar características dos mundos natural e
social, um requisito imposto pelas realidades ambientais. É necessário ir além
do sentido comum na construção de uma sociologia ambiental ou uma demografia
ambiental.
Existem pelo menos dois aspectos da vulnerabilidade que são relevantes aqui:
vulnerabilidade de lugar e vulnerabilidade de grupos sociais. A primeira é mais
apropriada para a discussão anterior e a segunda é especialmente útil para
desemaranhar as relações entre os impactos sociais e ecológicos da mudança
ambiental sobre pessoas. Os geógrafos seguiram as duas direções, e até agora
não há consenso conceitual nesse campo. A cara da moeda que nos interessa nesta
seção é a vulnerabilidade dos indivíduos ou grupos diante dos fatores
ambientais. Sabemos que a mudança ambiental (escassez ou degradação de
recursos) afeta diferentes grupos de maneira diferente. Impactos ambientais não
são democráticos, igualmente compartilhados por todos.
As lógicas do industrialismo e do consumismo produzem, simultaneamente,
estresse ambiental e padrões socioespaciais que localizam a vulnerabilidade em
grupos sociais específicos. Ao examinarmos a dimensão espacial dos processos
socioeconômicos e demográficos, percebemos que a distribuição desigual dos
serviços urbanos é um componente importante da vulnerabilidade socioambiental.
A segregação espacial, o crescimento das favelas e a exclusão social são
diferentes aspectos da falta de acesso a estilos de vida modernos. A falta de
acesso a bens de consumo é acompanhada pela falta de acesso aos serviços
públicos, situação agravada pelas condições de vida destas populações
vulneráveis. A compreensão da vulnerabilidade como um processo que envolve
tanto a dinâmica social como as condições ambientais será aprofundada em
estudos de caráter local, em lugares específicos.
Muito do trabalho analítico sobre o desenvolvimento centrado na análise de
vulnerabilidade e risco foi levado a cabo em contextos nos quais a escassez de
alimentos é o problema central. Especialmente na África, a vulnerabilidade das
populações rurais às secas e à perda de colheitas motivou esforços para afinar
os conceitos necessários à análise, previsão, prevenção e mitigação desses
eventos. Em outras regiões, outros fatores serão mais importantes. O caráter
urbano da América Latina, por exemplo, leva-nos a examinar o impacto sobre o
bem-estar de problemas tais como o acesso limitado à água tratada, ao
tratamento de esgotos, à coleta e disposição adequada de resíduos domésticos e
à pavimentação de ruas; a suscetibilidade a inundações e deslizamentos e a
poluição do ar. Esses fatores representam ameaças à vida e, também, a exposição
a uma ampla gama de enfermidades disseminadas pelo ar e pela água.
A falta de consenso sobre definições apropriadas tem levado muitos
pesquisadores, como Liverman (1990), a ampliar seu enfoque: ser vulnerável à
seca significa carecer de defesas ambientais, tecnológicas, econômicas ou
políticas contra esses impactos. Cutter (1996), em sua revisão do conceito,
identifica 18 definições diferentes, agrupando estas definições em três
categorias: vulnerabilidade como uma condição preexistente; como uma resposta
moderada e como um risco de lugar. Essa última definição incorpora
características sociodemográficas e econômicas da população como aspectos
intrínsecos de vulnerabilidade. A vulnerabilidade está "geograficamente
centrada" mas com efeitos diferentes de acordo com a capacidade de autoproteção
da população.
Neste artigo, trata-se o risco da forma tradicional na demografia e na
epidemiologia, em termos probabilísticos (um risco de 20% de ser afetado por um
perigo específico); perigo é o fato físico, concreto (inundação, contaminação,
seca) e vulnerabilidade incorpora condições sociais e econômicas que predispõem
certos indivíduos ou grupos a uma maior ou menor suscetibilidade ao perigo (ver
os mencionados textos de Marandola Junior e Hogan para uma revisão sistemática
desses conceitos). Isso é diferente do debate atual travado na literatura da
sociologia ambiental sobre sociedade de risco, que considera outras dimensões
relacionadas à compreensão das mudanças sociais ao nível macro na época
"industrial tardia" ou "pós-industrial" (ver, por exemplo, Giddens, 1991; Beck,
1992). Aqui nosso interesse é mais modesto: caracterizar suscetibilidades às
condições negativas do ambiente por parte dos indivíduos, grupos ou categorias
sociodemográficas, de acordo com suas diferentes situações sociais, econômicas,
políticas e culturais. Para este propósito, trabalhos recentes realizados por
geógrafos e pesquisadores da saúde (especialmente sobre HIV-Aids), dirigidos à
identificação das condições mediadoras entre um perigo objetivo e suas
conseqüências, são um ponto de partida útil.
Mas o que isso tem a ver com a mobilidade populacional? A migração em si é um
fator que aumenta a vulnerabilidade? Certamente. A falta de conhecimento do
novo lugar e as fracas ou inexistentes redes sociais se combinam com a pobreza
e baixos níveis de escolaridade para colocar maiores cargas ambientais sobre os
migrantes. A pobreza de um migrante é agravada por sua falta de conhecimento,
que o expõe à água poluída, a sistemas primitivos de disposição de esgoto e de
resíduos sólidos e a uma tendência a buscar residência em zonas propensas a
inundações ou deslizamentos. Esses migrantes pagam um preço muito mais alto que
outros ' talvez igualmente pobres, mas com mais tempo de residência na área. As
redes sociais de antigos residentes urbanos são mais complexas e os protegem
melhor (reduzem sua vulnerabilidade a) desses perigos ambientais. A falta de
habitação de baixo custo afeta mais diretamente os novos migrantes, já que os
bairros pobres tradicionais não podem acomodar os recém-chegados, que vão
buscar um lugar nas periferias urbanas, onde há uma infra-estrutura ainda mais
precária. Isto é igualmente verdadeiro para os migrantes rurais que se dirigem
às fronteiras agrícolas. A grande incidência de malária no país ocorre em áreas
recentemente abertas, onde os novos migrantes estão expostos a riscos
intensificados por sua ignorância sobre algumas medidas simples de proteção. A
inexperiência com diferentes tipos de solos e climas leva à degradação dos
ambientes locais e ao fracasso de agricultores familiares que não conseguem se
estabelecer na região.
Quais são os fatores que poderiam mitigar a vulnerabilidade de novos migrantes?
A vulnerabilidade promove a migração? A migração diminui a vulnerabilidade
daqueles que ficam?
Considerações finais
Esse intenso processo de periferização experimentado pelas cidades latino-
americanas provocou sérias conseqüências ambientais e sociais como a degradação
dos recursos naturais e da qualidade do ambiente; descontinuidades na rede de
infra-estrutura urbana; o agravamento dos problemas sociais na periferia; o
comprometimento das finanças públicas com os crescentes custos da urbanização;
o estabelecimento de espaços segregados dirigidos exclusivamente à população de
baixa renda, entre outros. Estas populações são aquelas com menores recursos
para se protegerem dos riscos ambientais.
O que pode ser feito? Não há nenhuma tábula rasa. Nosso ponto de partida
somente pode ser o ambiente natural e construído de hoje. O planejamento da
distribuição espacial não pode ser pensado como um equilíbrio racional de
população às qualidades naturais de ecossistemas locais, ignorando séculos de
história econômica e demográfica. O ponto é: o que podemos fazer, na situação
atual, para minimizar a degradação ambiental e maximizar a qualidade de vida?
As soluções incluem:
Zoneamento aos níveis meso (bacias) e micro (cada cidade). Como
unidade de planejamento, a bacia está se tornando uma alternativa
viável diante das decisões fragmentadas e isoladas de cada cidade. Se
não houver empenho em definir o uso da terra em todos os níveis, o
futuro será uma extensão das alarmantes tendências atuais.
Acabar com os incentivos fiscais como ferramenta de municípios para
atrair investimentos, responsáveis por provocar a competição
desordenada, caótica, que não respeita as considerações ambientais.
Universalização de serviços urbanos como o acesso a água tratada e
a coleta e tratamento de esgoto.
Administração integrada do transporte, o que não se deve limitar à
construção de novas rodovias, que somente reforçarão as tendências
atuais.
Administração integrada dos recursos hídricos.
Essas soluções dependem de dois problemas relacionados de distribuição. Uma
maior densidade em centros já estabelecidos, junto com o zoneamento, pode
interromper o urban sprawl e facilitar a construção de infra-estrutura
sanitária para todos os segmentos da população.
São sinais de mudança os novos arranjos institucionais que podem afetar o uso
da terra, como as agências e comitês de bacia, secretarias e conselhos
municipais e estaduais de meio ambiente. As condições existem para um
planejamento mais integrado do transporte e do desenvolvimento regional, o que
poderia dirigir a espacialização da concentração populacional. Não há, porém,
nenhum sinal concreto de que essas instituições estejam a ponto de propor
medidas efetivas para o ordenamento do uso da terra. As opiniões das elites e
do público em geral não mostram a saliência desses problemas. A existência de
indicações positivas e negativas para a implementação de um planejamento
efetivo do uso do solo faz do resultado uma incerteza.
Neste início do século XXI o mundo encontra-se no limiar de uma era de pós-
transição demográfica. Com as taxas de fecundidade convergindo para um nível de
reposição, o crescimento populacional em muitos países em desenvolvimento
terminará em um futuro próximo. De fato, não há nenhuma razão para esperar que
o declínio de fecundidade vá segurar-se ao nível de reposição, como não o fez
na Europa; os mesmos fatores indicados para explicar a baixa fecundidade nesse
continente têm sido apontados para explicar as tendências atuais na América
Latina.
Este é claramente o futuro que os demógrafos previram quando se formulou a
teoria da transição demográfica, em meados do século XX. Embora o caminho da
transição tenha sido diferente nos distintos países, e continuará sendo
diferente, as considerações de longo prazo sobre o desenvolvimento sustentável
deverão dar conta de uma população em torno de dez bilhões de pessoas. A
sustentabilidade demográfica nessa nova situação adquire um novo significado.
E não serão o tamanho da população ou as taxas de crescimento que ocuparão o
centro da atenção. O manejo prudente da sustentabilidade implica, para a
dinâmica demográfica, um ajuste cuidadoso da distribuição da população à base
de recursos naturais de um determinado território. Esse ajuste não será feito
com considerações técnicas sobre os recursos, senão com a definição social do
papel de cada unidade do mosaico de ecossistemas da sociedade. Todos os fatores
que contribuem para uma compreensão da dinâmica da mobilidade populacional
devem receber mais atenção para alcançarmos esse ajuste da distribuição da
população.
O campo de estudos de população e ambiente tornou-se consideravelmente mais
complexo na década de 90. Para os demógrafos, os desafios são vários: refinar
os conceitos "guarda-chuva", tais como qualidade ambiental, qualidade de vida,
sustentabilidade e vulnerabilidade; repensar as unidades de análise para captar
a dinâmica ecológica; incorporar novos recursos técnicos para abordar aspectos
globais e redimensionar a extensão do fenômeno ecológico. Os estudiosos de
população compartilham muitos desses desafios com outros especialistas. Em
alguns aspectos, têm uma vantagem ' o tratamento de escalas temporais, por
exemplo. A julgar pela crescente bibliografia neste campo, os demógrafos
aceitaram estes desafios.