Crescimento populacional, ocupação e desemprego dos jovens: a experiência
recente da Região Metropolitana de Porto Alegre
Introdução
Os jovens constituem um dos grupos populacionais mais afetados pela incidência
do desemprego, conforme mostram muitos estudos. Em face dessa constatação, o
avanço no conhecimento sobre o seu processo de inserção no mercado de trabalho
parece ser condição necessária para enfrentar de forma adequada o fenômeno do
desemprego juvenil.
A literatura identifica diversas causas para explicar a situação de maior
adversidade relativa dos jovens no mercado de trabalho, entre as quais
destacam-se: ausência de experiência anterior de trabalho; formação educacional
inadequada; maior sensibilidade do emprego e do desemprego juvenil ao
comportamento cíclico das economias; e efeito do tamanho relativo da coorte
juvenil sobre seu status no mercado de trabalho.
Este artigo está voltado, fundamentalmente, para a última questão anteriormente
referida: trata-se de investigar o quanto a evolução do tamanho relativo da
população juvenil, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), afetou a
ocupação e o desemprego desse grupo populacional no período 1993-2004. A
relevância desta questão no presente é evidenciada tanto pelo fato de que
diversos estudos (BERCOVICH e MADEIRA, 1990; MUNIZ, 2002; BERCOVICH e MASSÉ,
2004) têm apontado a ocorrência do fenômeno de uma onda jovem1 no país e em
suas principais regiões metropolitanas, nos anos 90, quanto pela correlata
tendência de elevação da incidência do desemprego entre os jovens no período em
foco.
Crescimento populacional e os efeitos do tamanho relativo da coorte sobre a
situação dos jovens no mercado de trabalho
O ritmo de crescimento populacional é um dos fatores que determinam o tamanho
da força de trabalho de uma economia. Nesse sentido, a dinâmica demográfica
pode se constituir em elemento que contribui para pressionar o mercado de
trabalho, pois um crescimento populacional elevado requer maior capacidade de
geração de emprego pela economia para absorver produtivamente as pessoas que
ingressam no mercado de trabalho.
No caso específico da população jovem,2 seu ritmo de crescimento e tamanho
relativo são recorrentemente apontados como fatores que influenciam suas
condições de inserção no mercado de trabalho, nas diferentes experiências
nacionais (KORENMAN e NEUMARK, 1997; O'HIGGINS, 1997; OIT, 2000). Ou seja, o
crescimento acentuado da população jovem em determinados períodos e o aumento
do tamanho da respectiva coorte constituir-se-iam em potenciais agravantes das
suas dificuldades de inserção no mercado de trabalho. Em consonância com essa
compreensão, uma das hipóteses formuladas pela literatura para explicar a
situação dos jovens no mercado de trabalho está, justamente, vinculada à
expansão do tamanho da sua coorte (KORENMAN e NEUMARK, 1997; O'HIGGINS, 1997;
MUNIZ, 2002). Assim, a hipótese da expansão da coorte (cohort crowding
hypothesis) propugna que o aumento do tamanho relativo da população juvenil
exerce efeitos adversos sobre o emprego e o desemprego desse grupo populacional
no mercado de trabalho. Dessa forma, espera-se que a ocorrência desse fenômeno,
em determinados períodos, venha a deteriorar a situação desse grupo
populacional no mercado de trabalho.
No que diz respeito à experiência dos países da OCDE, os trabalhos revistos por
Korenman e Neumark (1997) indicam a validade desta hipótese. De acordo com a
síntese de resultados desses estudos proposta pelos autores, "Parecem existir
evidências de um efeito adverso do tamanho da coorte sobre o desemprego, o
emprego e os salários juvenis, através de inúmeros países" (KORENMAN e NEUMARK,
1997, p. 7).
Esses autores também desenvolveram uma investigação própria sobre este tema,
referente a uma amostra de 15 países da OCDE, para o período de 1970 a 1994.
Inicialmente, por meio de uma análise gráfica individualizada dos países, eles
concluíram, tentativamente, que:
Primeiro, as taxas de desemprego juvenis parecem responder às
mudanças no tamanho relativo da coorte juvenil na forma predita pela
hipótese da expansão da coorte. Por outro lado, as taxas de emprego
juvenis parecem, pelo menos algumas vezes, moverem-se na direção
oposta, caindo enquanto o tamanho relativo da coorte declina, ou não
são relacionadas com o tamanho relativo da coorte (KORENMAN e
NEUMARK, 1997, p. 13).
Assim, por meio da análise gráfica, os autores só parcialmente conseguiram
encontrar indícios da validade da hipótese de expansão da coorte, em particular
no que se refere aos seus efeitos adversos sobre a taxa de desemprego juvenil.
No âmbito desta mesma pesquisa, foram estimados modelos econométricos com
diferentes especificações para testar a hipótese do efeito da expansão da
coorte sobre as taxas de desemprego e de emprego dos jovens, tendo os autores
adotado o procedimento de montar um painel com os dados de sua amostra de 15
países da OCDE (KORENMAN e NEUMARK, 1997). De acordo com o modelo preferido
pelos autores, foi estimada uma elasticidade do efeito da expansão da coorte
sobre a taxa de desemprego juvenil de 0,6, estatisticamente significativa,
enquanto no caso da taxa de emprego, embora a elasticidade do efeito da
expansão da coorte tivesse o sinal esperado, ela era muito pequena (-0,03) e
não possuía significância estatística (KORENMAN e NEUMARK, 1997, p. 18). Ou
seja, os resultados econométricos corroboraram a análise gráfica desenvolvida
anteriormente pelos autores de forma individualizada para os países.
O estudo de Korenman e Neumark (1997) também segmentou a população jovem por
sexo, com o propósito de analisar a possibilidade de existência de diferenças
do efeito da expansão da coorte entre os dois segmentos. De acordo com os
resultados dos modelos estimados pelos autores, as mulheres jovens evidenciaram
uma maior elasticidade da expansão da coorte sobre sua taxa de desemprego,
comparativamente à dos homens. Este resultado os levou a concluir que:
as mulheres jovens suportam um peso desproporcional do desemprego
quando a coorte juvenil é maior. Nossa interpretação desse resultado
é que os empregadores tendem a contratar os homens jovens primeiro, e
voltam-se para as mulheres jovens quando as condições de oferta são
limitadas (KORENMAN e NEUMARK, 1997, p. 20).
No tratamento do tema que é objeto de investigação neste artigo, é preciso
assinalar que, nas últimas duas décadas do século 20, ocorreu um pequeno
declínio da proporção de jovens em relação à população mundial, passando de 19%
em 1980 para 17,5% em 2000 (OIT, 2000, p. 4; UN, 2003, p. 76). Esta redução foi
um fenômeno que se deu de forma generalizada no âmbito internacional, com
exceção da África (OIT, 2000, p. 4). Não obstante essa tendência comum, deve-se
ter presente que, conforme o nível de renda dos países, é diferenciado o
tamanho relativo da população juvenil em comparação à população total. Assim,
nos países de renda mais baixa, os jovens correspondiam, em 2000, a 19,5% da
população e, naqueles de renda mais alta, a somente 13,2% (UN, 2003, p. 76).
Com isso, pode-se perceber que a pressão demográfica por eles exercida sobre o
mercado de trabalho coloca-se de forma distinta de acordo com o nível de
desenvolvimento das nações, sendo mais intensa naquelas relativamente mais
pobres.
O declínio da proporção de jovens na população constitui uma das dimensões do
processo de transição demográfica3 nos diferentes países. A esse respeito, no
que se refere especificamente à experiência latino-americana, o Celade4 propôs
a seguinte classificação dos países quanto ao estágio desse processo (DIEZ DE
MEDINA, 2001, p. 16-17):
transição avançada ' compreende os países que registram taxas de
crescimento de suas populações de 1,0% ao ano ou inferior,
mortalidade infantil moderada ou baixa e um grau de urbanização alto.
Neste caso encontram-se Argentina, Chile, Cuba e Uruguai;
plena transição ' corresponde aos países que evidenciam taxas de
crescimento populacional de cerca de 2,0% ao ano e taxas de
mortalidade e de natalidade infantis em declínio. Aqui estão
incluídos Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Panamá,
Peru, República Dominicana e Venezuela;
transição moderada ' nesta situação encontram-se países com taxas
de crescimento populacional de 3,0% ao ano, que apresentam
mortalidade infantil em queda e uma população jovem com natalidade
elevada, além de grande proporção da população no meio rural. Neste
grupo estão El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Paraguai;
transição incipiente ' refere-se aos países que apresentam
crescimento populacional da ordem de 2,5% ao ano, com taxas de
mortalidade e natalidade infantis muito elevadas e persistentes,
grandes proporções de crianças e jovens na população, bem como com a
maior parte das suas populações residindo no meio rural. Nesta
situação encontram-se a Bolívia e o Haiti.
No que diz respeito à população jovem, seu ritmo de crescimento vem se
desacelerando na América Latina desde os anos 70 (DIEZ DE MEDINA, 2001, p. 17).
Assim, enquanto na primeira metade daquela década a população jovem crescia a
uma média anual próxima a 3,3%, nos anos 90 seu crescimento havia declinado
para 1,4% ao ano. A par dessa tendência, a proporção de jovens na população
total latino-americana reduziu-se levemente, passando de 20,1% em 1980 para
19,5% em 2000 (DIEZ DE MEDINA, 2001, p. 18).
Conforme aludido anteriormente, o Brasil encontra-se em plena transição
demográfica, com ritmo de crescimento populacional em declínio. Nos anos 70, a
população do país crescia a uma média anual de 2,5%, diminuindo para 1,9% na
década de 80 e para 1,6% na de 90 (IBGE, Censos Demográficos, 1970, 1980, 1991
e 2000). Já a evolução do segmento jovem apresentou, neste mesmo período,
diferenças importantes em relação à da população total: seu ritmo de
crescimento caiu mais intensamente entre as décadas de 70 e 80 (de 3,0% ao ano
para 1,2% ano), mas voltou a se elevar na de 90 (para 2,0% ao ano) (IBGE,
Censos Demográficos, 1970, 1980, 1991 e 2000). Com isso, a proporção de jovens
sobre a população total do país, que havia declinado de 21,1% para 19,5%, entre
1980 e 1991, registrou pequena elevação para 20,1%, em 2000 (IBGE, Censos
Demográficos 1980, 1991 e 2000).
Quando se abordam os efeitos do crescimento populacional sobre a situação dos
jovens no mercado de trabalho, um fenômeno relevante é o das descontinuidades
demográficas (BERCOVICH e MADEIRA, 1990; MUNIZ, 2002; BERCOVICH e MASSÉ, 2004).
Tais descontinuidades caracterizam-se pelo crescimento desigual dos diferentes
grupos etários ao longo do tempo e por mudanças bruscas no tamanho de coortes
sucessivas (BERCOVICH e MADEIRA, 1990, p. 610). De particular interesse para o
trabalho que está sendo ora desenvolvido, Bercovich e Madeira (1990, p. 619)
identificam dois momentos que seriam representativos desse fenômeno no país,
por elas denominado de onda jovem: o primeiro, mais intenso, observado entre
1965 e 1980, e o segundo, mais tênue, ocorrido de 1990 a 2000. Em ambos os
períodos, portanto, esperar-se-iam condições de maior adversidade para os
jovens no mercado de trabalho, devido à expansão do tamanho da sua coorte.
Caberia ainda destacar que as descontinuidades demográficas identificadas pelo
estudo de Bercovich e Madeira (1990), para o caso brasileiro, constituem um
fenômeno eminentemente urbano, sendo observadas com maior intensidade nas
regiões mais desenvolvidas do país. Isto indica que elas possuem também
vínculos com processos migratórios para as áreas urbanas e relativamente mais
desenvolvidas.
O estudo de Muniz (2002) buscou combinar o fenômeno das descontinuidades
demográficas com a hipótese da expansão da coorte juvenil para analisar a
situação desse grupo populacional no mercado de trabalho metropolitano
brasileiro. Este trabalho focalizou as seis regiões metropolitanas do país em
que é realizada a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, utilizando-se uma
série de dados anuais cuja cobertura era a do período 1982-2000. A par destes
aspectos, o estudo desagregou a população jovem por faixas etárias (15 a 19 e
20 a 24 anos) e sexo. Quanto aos resultados obtidos por esse trabalho, o efeito
do tamanho relativo da coorte de jovens sobre a taxa de ocupação deste grupo
populacional apresentou o sinal esperado (negativo) e era estatisticamente
significativo, tanto para os jovens de 15 a 19 anos quanto para os de 20 a 24
anos, assim como para ambos os sexos, confirmando plenamente a hipótese que
estava sendo testada. Já na especificação que utilizava a taxa de desemprego5
dos jovens como variável dependente, os resultados encontrados no estudo foram
menos conclusivos: para os jovens de 20 a 24 anos, o efeito do tamanho relativo
da coorte juvenil evidenciava o sinal esperado (positivo), mas era
estatisticamente significativo somente para os homens; no caso daqueles de 15 a
19 anos, o efeito do tamanho relativo da coorte juvenil possuía o sinal
negativo para ambos os sexos, implicando a rejeição da hipótese do efeito do
tamanho relativo da coorte sobre a taxa de desemprego dos jovens desta faixa
etária.
Na próxima seção deste estudo, a hipótese da expansão da coorte será retomada e
testada para avaliar a situação dos jovens no mercado de trabalho da RMPA,
particularmente no que se refere às taxas de ocupação e de desemprego desse
grupo populacional.
Tamanho da coorte, ocupação e desemprego dos jovens: a experiência recente da
RMPA
O propósito desta seção é testar a hipótese do efeito do tamanho da coorte
juvenil sobre a ocupação e o desemprego desse grupo populacional na RMPA. Para
tanto, o estudo vale-se da base de dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego
(PED-RMPA), sendo o período de cobertura do trabalho o de 1993 a 2004.6
Tendências da população juvenil e de sua inserção no mercado de trabalho da
RMPA7
A população jovem na RMPA aumentou de 485 mil para 630 mil pessoas, entre 1993
e 2004 (Gráfico_1). Em termos de sua composição por sexo, constata-se que o
contingente de mulheres jovens, que era levemente superior ao de homens jovens
em 1993, havia sido superado ao final do período: em 2004, o segmento masculino
correspondia a 319 mil indivíduos, enquanto o feminino equivalia a 311 mil. Não
obstante esta mudança na composição por sexo da população juvenil na RMPA, em
que os homens jovens passaram a ser majoritários, a participação de cada um dos
sexos na população juvenil mantinha-se bastante próxima ao final do período,
configurando uma situação praticamente paritária entre ambos.
Entre 1993 e 2004, o ritmo de crescimento do segmento jovem, com uma taxa média
anual de 2,4%, foi superior ao da população total na RMPA, com 1,6% ao ano
(Gráfico_2). Essa diferença de ritmo de crescimento entre a população jovem e a
total pode ter contribuído para a ocorrência de uma onda jovem na região
metropolitana, nos anos 90, conforme identificada pelo estudo de Bercovich e
Madeira (1990) para a realidade do país.8 No caso específico da população
jovem, os dados contidos no Gráfico_2 também revelam que os indivíduos de sexo
masculino evidenciaram crescimento populacional mais intenso do que os de sexo
feminino, diferentemente do que ocorreu entre a população total.
Em face dos comportamentos descritos, houve aumento da proporção de jovens na
população total da RMPA, passando de 15,7%, em 1993, para 17,1%, em 2004
(Gráfico_3). Cabe recuperar, como foi visto na seção anterior deste trabalho,
que uma tendência semelhante a essa também foi identificada quando da
comparação dos Censos Demográficos de 1991 e 2000, pois a proporção de jovens
na população total do país também se elevou levemente naquele período.
No âmbito do mercado de trabalho da RMPA, o nível de engajamento da população
juvenil na força de trabalho manteve-se idêntico quando se comparam o início e
o final do período em análise (Gráfico_4). Assim, a taxa de participação dos
jovens no mercado de trabalho da região, que era de 70,3% em 1993, encontrava-
se exatamente neste mesmo patamar em 2004.
No que diz respeito à intensidade de engajamento dos jovens em atividades
laborais na RMPA, conforme a segmentação por sexo, alguns aspectos necessitam
ser destacados (Gráfico_4). Os homens jovens evidenciavam taxas de participação
(74,8%) mais elevadas do que as mulheres jovens (65,7%) no mercado de trabalho
da região, em 2004. Todavia, a tendência deste indicador foi discrepante entre
estes dois grupos populacionais ao longo do período, pois, enquanto para os
homens jovens ocorreu declínio da taxa de participação, para as mulheres jovens
o indicador em análise mostrou elevação. Com isso, o diferencial de taxas de
participação entre os sexos, que era desfavorável em 21,2 pontos percentuais
para as mulheres jovens em 1993, havia se reduzido para 9,1 pontos percentuais
em 2004. Esta mudança no padrão de inserção no mercado de trabalho entre os
sexos, em que se intensifica o engajamento das mulheres em atividades
produtivas, corresponde a um movimento mais amplo que vem ocorrendo no âmbito
do mercado de trabalho local, conforme identificaram outros estudos (GALEAZZI
et al., 2002; MARQUES et al., 2004).
O nível de ocupação dos jovens apresentou tendência de elevação na RMPA, no
período em análise, tendo passado de 268 mil ocupados em 1993 para 313 mil em
2004, o que correspondeu a um crescimento de 16,8% (Gráfico_5). A análise por
sexo identifica que ocorreu tendência de elevação tanto para os homens quanto
para as mulheres, mas um pouco mais intensa para o segmento feminino: entre
1993 e 2004, o contingente de mulheres jovens ocupadas aumentou de 111 mil para
133 mil pessoas, com um crescimento de 19,8%, enquanto o de homens jovens
ascendeu de 157 mil para 180 mil, com aumento de 14,6%.
Ainda no que se refere à ocupação juvenil na RMPA, sua composição por sexo
apresentou pequena alteração entre o início e o final do período em análise,
devido à performance ocupacional relativamente melhor do sexo feminino,
conforme visto anteriormente. Assim, as mulheres jovens, que correspondiam a
41,4% da ocupação juvenil da região em 1993, passaram a representar uma
proporção levemente superior em 2004 (42,5%). Já os homens jovens, como
decorrência, recuaram de 58,6% na ocupação juvenil em 1993 para 57,5% em 2004
(Gráfico_6), permanecendo, não obstante esta pequena mudança, claramente
majoritários entre os ocupados deste grupo populacional na RMPA.
Uma das características mais marcantes da inserção dos jovens no mercado de
trabalho é a elevada incidência do desemprego, conforme identificam muitos
estudos (O'HIGGINS, 1997; OIT, 2000 e 2004; POCHMANN, 2000; TOKMAN, 2003). No
caso da RMPA, constata-se que a taxa de desemprego juvenil não só é muito
elevada, como também apresentou aumento acentuado ao longo do período, passando
de 21,4% em 1993 para 29,3% em 2004 ' ou seja, neste último ano, praticamente
30 em cada 100 jovens que estavam no mercado de trabalho metropolitano se
encontravam na situação de desemprego (Gráfico_7). Pode-se também constatar,
observando-se todo o período, que ocorreram dois momentos em que o desemprego
juvenil se atenuou: imediatamente após a implementação do Plano Real (1994 e
1995); e posteriormente à desvalorização cambial de 1999 (2000-2002).
No que diz respeito à taxa de desemprego juvenil por sexo, observou-se
tendência semelhante de elevação deste indicador para homens e mulheres na
RMPA, no período analisado (Gráfico_7). A par deste aspecto, destaca-se que as
mulheres jovens evidenciavam maior incidência do desemprego do que os homens
jovens, sendo suas taxas de desemprego em 2004 de 34,8% e 24,7%,
respectivamente. Deve-se ter presente que esta maior incidência do desemprego
sobre as mulheres jovens constitui um padrão no caso latino-americano (OIT,
2000), o qual se confirma plenamente nas diversas regiões metropolitanas do
Brasil (DIEESE, 2001, cap. 6; MUNIZ, 2002). Pode-se também perceber que ocorreu
uma deterioração relativa do desemprego entre as mulheres jovens em comparação
aos homens jovens no mercado de trabalho metropolitano, pois o diferencial
desfavorável às primeiras de incidência do desemprego elevou-se de 6,3 pontos
percentuais em 1993 para 10,1 em 2004.
A combinação dos movimentos descritos neste trabalho, de elevação do
engajamento das mulheres jovens no mercado de trabalho e de redução no caso dos
homens jovens, por um lado, e de aumento mais acentuado do desemprego entre as
mulheres jovens em comparação aos homens jovens, por outro, fez com que se
ampliasse a proporção de indivíduos de sexo feminino no contingente de jovens
desempregados na RMPA (Gráfico_8). Nesse sentido, as mulheres jovens, que
representavam 50,7% dos desempregados desse grupo populacional na região em
1993, haviam atingido 54,6% em 2004, com a conseqüente redução da proporção de
homens desempregados, de 49,3% para 45,4% nesses mesmos anos.
A trajetória ascendente do desemprego juvenil na RMPA está vinculada a uma
capacidade relativamente modesta de absorção de mão-de-obra pelo mercado de
trabalho local, em decorrência do baixo dinamismo econômico do período. Esta
compreensão encontra respaldo no Gráfico_9, no qual são cotejadas as taxas
médias anuais de crescimento da população economicamente ativa (PEA), da
ocupação e do contingente de jovens desempregados na RMPA, no período 1993-
2004. Conforme pode-se constatar, a PEA juvenil evidenciou crescimento de 2,4%
ao ano, bastante superior ao da ocupação juvenil, de 1,4% ao ano, com o que o
desemprego entre os jovens se elevou a uma taxa média anual muito superior, de
5,4%. Quando se contrasta o comportamento destas variáveis, segundo sexo,
verifica-se que as mulheres jovens tiveram uma performance relativamente melhor
do que os homens jovens em termos de crescimento da ocupação. Não obstante,
como a PEA elevou-se bem mais entre as mulheres jovens do que entre os homens
jovens, isto implicou um ritmo de crescimento mais acelerado do contingente de
mulheres jovens desempregadas (6,1% ao ano), comparativamente ao de homens
jovens desempregados (4,6% ao ano), deteriorando a situação relativa das
primeiras no mercado de trabalho metropolitano.
A estimação do efeito do tamanho relativo da coorte sobre a ocupação e o
desemprego dos jovens na RMPA
A partir da compreensão de que ocorreu uma onda jovem no país e em suas regiões
metropolitanas nos anos 90, procura-se estimar os efeitos do tamanho relativo
da coorte juvenil sobre a ocupação e o desemprego desse grupo populacional na
RMPA.
Considerando este propósito, foram especificados dois modelos econométricos
para estimar os efeitos do tamanho relativo da coorte juvenil.9
Modelo 1
___________________________________________________________________________
|Ln OJt = a Ln CJt + b Ln OAt + et, onde: |
|OJt : taxa de ocupação dos jovens no ano t, definida pela divisão do |
|contingente de ocupados deste grupo populacional pela sua respectiva PEA; |
|CJt: tamanho relativo da coorte juvenil no ano t, definido pela divisão da|
|população juvenil pela população adulta; |
|OAt : taxa de ocupação dos adultos no ano t, definida pela divisão do |
|contingente_de_ocupados_deste_grupo_populacional_pela_sua_respectiva_PEA.__|
Observação: as variáveis foram transformadas em logaritmos naturais.
Modelo 2
___________________________________________________________________________
|Ln DJt = a Ln CJt + b Ln DAt + et, onde: |
|DJt : taxa de desemprego dos jovens no ano t, definida pela divisão do |
|contingente de desempregados deste grupo populacional pela sua respectiva |
|PEA; |
|CJt: tamanho relativo da coorte juvenil no ano t, definido pela divisão da|
|população juvenil pela população adulta; |
|DAt: taxa de desemprego dos adultos no ano t, definida pela divisão do |
|contingente de desempregados deste grupo populacional pela sua respectiva |
|PEA._______________________________________________________________________|
Observação: as variáveis foram transformadas em logaritmos naturais.
No que diz respeito ao Modelo 1, a hipótese é de que o tamanho relativo da
coorte juvenil exerça um efeito negativo sobre a taxa de ocupação dos jovens,
ou seja, um aumento da coorte implicará uma redução da taxa de ocupação
juvenil. Quanto ao Modelo 2, a hipótese é de que o tamanho relativo da coorte
juvenil tenha um efeito positivo sobre a taxa de desemprego deste grupo
populacional, no sentido de que o seu aumento elevará o desemprego entre os
jovens.
Conforme pode-se também observar, existe uma segunda variável explicativa tanto
no Modelo 1 quanto no Modelo 2, que são a taxa de ocupação e a de desemprego
dos adultos, respectivamente. Seguindo a orientação de outros trabalhos sobre
este tema (KORENMAN e NEUMARK, 1997; O'HIGGINS, 1997; MUNIZ, 2002), a inclusão
destas variáveis explicativas nos dois modelos tem o propósito de capturar o
efeito da demanda agregada da economia sobre as taxas de ocupação e de
desemprego dos jovens, constituindo-se, portanto, em proxies que procuram
controlar os efeitos do nível de atividade econômica sobre as variáveis
dependentes.
Nesse sentido, espera-se, no Modelo 1, que o aumento da taxa de ocupação dos
adultos implique elevação da taxa de ocupação dos jovens, pois a economia se
encontraria, nestas condições, com maior nível de atividade. Já noModelo 2, um
aumento da taxa de desemprego dos adultos deverá implicar uma elevação da taxa
de desemprego dos jovens, pois a economia, supostamente, estaria com um nível
de atividade mais reduzido. Por último, cabe destacar que ambos os modelos
foram estimados para o total da população jovem e por sexo, com o propósito de
tentar identificar se existem efeitos diferenciados do tamanho relativo da
coorte juvenil sobre os homens jovens em comparação às mulheres jovens no
mercado de trabalho metropolitano.
Os resultados básicos da estimação do Modelo 1 podem ser observados na Tabela
1. Tomando-se a população jovem da RMPA como um todo, constata-se que a
estimativa do coeficiente do tamanho relativo da coorte juvenil (-0,902) tem o
sinal esperado, sendo estatisticamente significativa ao nível de 5%, o que
sugere a confirmação da hipótese que está sendo testada. É interessante também
destacar o quanto é importante a situação macroeconômica para a determinação do
nível ocupacional dos jovens, o que é capturado no modelo pela estimativa do
coeficiente da taxa de ocupação dos adultos (1,639), estatisticamente
significativa ao nível de 1%: ou seja, trata-se de um efeito de magnitude
superior ao do tamanho relativo da coorte juvenil. No que se refere à população
juvenil como um todo e à estimação do Modelo 1, caberia ainda assinalar que o
seu poder de explicação é bastante elevado, pois o coeficiente de determinação
é de 0,845.
No que diz respeito ao Modelo 1, passa-se agora a apresentar os resultados da
sua estimação para a população juvenil da RMPA, segundo sexo (Tabela_1). As
estimativas dos coeficientes do tamanho relativo da coorte juvenil têm o sinal
esperado (negativo) tanto para homens como para mulheres, sendo
estatisticamente significativas ao nível de 5%, o que corrobora a hipótese
central deste estudo. É interessante destacar, não obstante, que o efeito do
tamanho relativo da coorte juvenil é bem mais acentuado no caso das mulheres
jovens em comparação ao dos homens jovens, o que sugere uma condição de maior
fragilidade entre as primeiras no mercado de trabalho metropolitano.
Quanto ao efeito exercido pela taxa de ocupação dos adultos, cujo papel no
modelo é o de capturar o nível de atividade econômica, pode-se destacar os
seguintes aspectos: tanto entre os homens jovens quanto entre as mulheres
jovens, as estimativas dos coeficientes desta variável têm o sinal esperado
(positivo), sendo ambas estatisticamente significativas ao nível de 1%; o
efeito estimado desta variável explicativa sobre a taxa de ocupação de cada um
dos sexos também é de maior magnitude do que o do tamanho relativo da coorte
juvenil; e, dado que a estimativa do efeito da taxa de ocupação dos adultos é
maior na regressão relativa às mulheres jovens, se depreende que estas são
atingidas mais intensamente pelas flutuações do nível de atividade econômica.
Finalmente, quanto ao poder de explicação do Modelo 1 para cada um dos sexos,
registre-se que o coeficiente de determinação na regressão relativa aos homens
jovens (0,895) é mais elevado do que o da regressão relativa às mulheres jovens
(0,776).
Os resultados básicos da estimação do Modelo 2 podem ser conhecidos por meio da
Tabela_2. Iniciando pela apresentação dos resultados da regressão relativa ao
total da população jovem na RMPA, constata-se que a estimativa do coeficiente
do tamanho relativo da coorte juvenil (0,435) tem o sinal esperado, sendo
estatisticamente significativa ao nível de 1%. Também no Modelo 2 a situação
macroeconômica, apreendida pela taxa de desemprego da população adulta, tem um
efeito de maior magnitude sobre a taxa de desemprego dos jovens: o coeficiente
estimado desta variável é de 0,755, estatisticamente significativo ao nível de
1%. Assinale-se que também neste caso o poder de explicação do modelo é
elevado, pois o coeficiente de determinação é de 0,924.
No que diz respeito à estimação do Modelo 2, seus resultados, quando se efetua
a segmentação da população jovem por sexo (Tabela_2), mostram que a estimativa
do coeficiente do tamanho relativo da coorte juvenil tem o sinal esperado
(positivo), sendo estatisticamente significativa ao nível de 1% para ambos os
sexos. Caberia destacar que, no caso em análise, embora persista uma diferença
desfavorável às mulheres jovens em relação aos homens jovens, esta é
relativamente menor do que a observada no Modelo 1.
Quanto às estimativas do efeito do nível de atividade econômica sobre as taxas
de desemprego dos jovens, por sexo, apreendidas no Modelo 2 pela taxa de
desemprego dos adultos, para ambos os sexos estas têm o sinal esperado
(positivo), sendo estatisticamente significativas ao nível de 1%. Também neste
caso, o efeito estimado desta variável explicativa é de magnitude superior ao
do tamanho relativo da coorte juvenil. Embora apresentando uma menor diferença,
aqui se reafirma uma situação relativamente desfavorável para as mulheres
jovens, pois estas são mais atingidas por uma conjuntura macroeconômica
adversa, capturada pela taxa de desemprego dos adultos. Por último, é
importante registrar que o poder de explicação das regressões relativas a ambos
os sexos é elevado, ainda que no caso dos homens jovens o coeficiente de
determinação (0,941) seja superior ao das mulheres jovens (0,861).
Em síntese, os resultados da estimação dos modelos indicam a confirmação da
hipótese que organiza este trabalho, pois foram encontrados os efeitos
previstos do tamanho relativo da coorte juvenil sobre a ocupação e o desemprego
deste grupo populacional na RMPA, no período enfocado. Não obstante, a
estimação dos modelos também chamou a atenção para a importância do nível de
atividade econômica para a situação dos jovens no mercado de trabalho, cujos
efeitos são até mesmo de maior magnitude sobre a ocupação e o desemprego. Tal
resultado, assinale-se, vai ao encontro do que revelaram trabalhos abordando
esta mesma questão nos países da OCDE e nas regiões metropolitanas
brasileiras.10
Considerações finais
Este estudo procurou analisar os efeitos do tamanho relativo da coorte juvenil
sobre a ocupação e o desemprego deste grupo populacional na RMPA, no período
1993-2004. Conforme foi mostrado no trabalho, o contingente de jovens cresceu
em ritmo mais intenso do que a população total da RMPA no período em foco, o
que se vincula à ocorrência de uma onda jovem no país na década de 90, com
ênfase especial em suas áreas metropolitanas. Esse fenômeno teve como
conseqüência uma elevação da proporção de jovens na população total da RMPA,
entre 1993 e 2004.
No âmbito do mercado de trabalho da RMPA, embora a taxa de participação dos
jovens não tenha permanecido constante ao longo do período, quando se
compararam o seu início e o seu final, verificou-se que este indicador manteve-
se exatamente no mesmo patamar. Por sua vez, foram distintas as evoluções do
grau de engajamento no mercado de trabalho dos homens jovens em relação às
mulheres jovens: enquanto os primeiros apresentaram tendência de declínio em
sua taxa de participação, as últimas evidenciaram tendência de elevação,
reduzindo-se, assim, o diferencial de engajamento na força de trabalho entre
ambos.
A ocupação juvenil registrou crescimento relativamente modesto na RMPA no
período, revelando uma baixa capacidade de absorção de mão-de-obra pela
economia local. Dado que este crescimento foi amplamente superado pelo da força
de trabalho deste grupo populacional, isto implicou um agravamento do
desemprego entre os jovens, o qual cresceu em ritmo muito mais acelerado no
período. Cabe mencionar que as mulheres jovens tiveram desempenho, em termos de
crescimento do nível de ocupação, levemente superior ao dos homens jovens. Não
obstante, como a força de trabalho feminina cresceu em ritmo mais acelerado do
que a masculina, isto implicou aumento muito mais intenso do desemprego entre
as mulheres jovens, com o que a sua situação relativa se deteriorou no mercado
de trabalho metropolitano.
Os resultados da estimação dos modelos econométricos indicaram a confirmação da
hipótese do efeito do tamanho relativo da coorte juvenil sobre a ocupação e o
desemprego deste grupo populacional, no mercado de trabalho da RMPA. O efeito
do tamanho relativo da coorte juvenil mostrou- se de maior magnitude no caso da
taxa de ocupação, demonstrando uma maior sensibilidade desta em comparação à
taxa de desemprego, o que remeteria à necessidade de estudos posteriores, para
que sua causa fosse plenamente conhecida. No que se refere à segmentação da
força de trabalho juvenil por sexo, os resultados da estimação dos modelos
indicaram que as mulheres jovens são mais intensamente afetadas pelo efeito do
tamanho relativo da coorte juvenil do que os homens jovens, respaldando o
entendimento de que os indivíduos de sexo feminino se encontram em situação de
maior fragilidade no mercado de trabalho metropolitano. Por último, em
consonância com outras pesquisas, a estimação dos modelos indicou que o nível
de atividade econômica tem efeitos de maior magnitude sobre a ocupação e o
desemprego dos jovens, o que reforça a compreensão de que a performance
macroeconômica é de grande relevância para as perspectivas deste grupo
populacional no mercado de trabalho.