O ensino de procedimentos de política de indexação na perspectiva do
conhecimento organizacional: uma proposta de programa para a educação à
distância do bibliotecário
Introdução
A política de indexação dentro de um sistema de informação deve ser entendida
como uma filosofia pertinente aos objetivos de recuperação da informação e não
somente como uma lista de procedimentos a serem seguidos durante a realização
da indexação. Isso nos leva a refletir sobre a indexação não somente do ponto
de vista do processo, da operação técnica, mas sim da biblioteca como uma
organização, pois a tarefa da indexação só terá sentido uma vez norteada e
respaldada por essa filosofia. Dessa maneira, estaremos inserindo a indexação
no contexto administrativo da biblioteca e não a relegando a um contexto
meramente de cunho técnico, dessa maneira, valorizando-a.
Os sistemas de informação são compostos por partes interligadas (inserção de
documentos, classificação, catalogação, indexação etc.) com objetivo comum de
disponibilizar a informação da melhor maneira possível. Nota-se, portanto, que
a indexação e, por conseguinte, sua política, é uma das partes desses sistemas
e, como tal, deve integrar também o planejamento global dos sistemas de
informação como um parâmetro de sua administração no contexto gerencial.
Sob o ponto de vista do sistema de recuperação da informação, a indexação é
reconhecida com sua parte mais importante dentro dos procedimentos realizados
para o tratamento da informação, pois condiciona os resultados das estratégias
de busca. Nesse contexto, o indexador tem como função compreender o documento
ao realizar uma análise conceitual que represente adequadamente seu conteúdo,
de modo que ocorra correspondência entre o índice e o assunto pesquisado pelo
usuário. Para isso, existem os manuais de indexação que devem refletir a
política de indexação do sistema de informação e a realidade de trabalho do
indexador.
Devido à literatura escassa sobre política de indexação, procurou-se obter por
meio da experiência do indexador mais subsídios sobre o tema.
Utilizando como metodologia a leitura como evento social/protocolo verbal em
grupo, nosso objetivo é contribuir, de forma teórica, com a literatura sobre
política de indexação.
De maneira prática, apresentamos algumas propostas de ensino de política de
indexação direcionadas a alunos de graduação e pós-graduação, além de uma
experiência de educação à distância com vistas à formação do bibliotecário em
serviço.
Essa experiência é representada pelo curso à distância Política de indexação em
sistemas de informação, ministrado a bibliotecários indexadores das três
universidades estaduais paulistas Universidade de São Paulo - USP - ;
Universidade Estadual Paulista UNESP - e Universidade Estadual de Campinas -
UNICAMP - integrantes do Sistema CRUESP/Bibliotecas.
Política de indexação
No Brasil, em 1985, Marília Vidigal Carneiro em seu artigo, atualmente
considerado um clássico para os estudos sobre política de indexação, apontou os
principais elementos de política de indexação e as variáveis a serem
consideradas para o seu estabelecimento em um sistema de informação. Desde
então, as pesquisas sobre política de indexação ficaram estagnadas, sendo
retomadas por Guimarães (2000) e Rubi (2003; 2004).
Em âmbito internacional, podemos destacar o trabalho do espanhol Cubillo (2000)
que trata sobre as mudanças e continuidades das organizações de gestão do
conhecimento. O referido autor ressalta que na sociedade da informação o
tratamento documentário assume uma dimensão estratégica, uma vez que o
documento é o representante ou substituto das idéias, e por isso a importância
e urgência da implantação de política de indexação. No nosso ponto de vista,
entendemos que um dos motivos pelo qual os estudos sobre política de indexação
ficaram defasados por 15 anos diz respeito, principalmente, ao modo como a
indexação é vista dentro da biblioteca: muitas vezes, somente como um processo
técnico que não necessita de procedimentos sistematizados para identificação de
assuntos, somente de uma leitura rápida para identificar e extrair os termos
para representar o conteúdo. Desse modo, a implantação de uma política de
indexação é considerada desnecessária.
É preciso que as bibliotecas percebam a importância da indexação em todo o
ciclo documentário, considerando-a como parte da administração, compreendendo
que a indexação necessita de parâmetros que guiem os indexadores no momento de
tomadas de decisões minimizando subjetividade e incertezas durante o processo
de indexação, reconhecendo, portanto, a importância em se implantar uma
política de indexação.
Além disso, consideramos a política de indexação, em tempos de inovações
tecnológicas, deixou de ser localizada para se tornar também globalizada.
Devemos isso ao fato de que a automação das bibliotecas permitiu que os
catálogos, antes locais e restritos a determinada comunidade, se tornassem
disponíveis através da Internet, atravessando fronteiras geográficas. No nosso
ponto de vista, essa visibilidade do catálogo fez com que fosse necessária a
adoção de critérios de qualidade para a recuperação da informação, sendo a
política de indexação um deles.
De acordo com Carneiro (1985, p. 221) uma política de indexação
[...] deve servir como um guia para tomada de decisões, deve levar em
conta os seguintes fatores: características e objetivos da
organização, determinantes do tipo de serviço a ser oferecido;
identificação dos usuários, para atendimento de suas necessidades de
informação e recursos humanos, materiais e financeiros, que delimitam
o funcionamento de um sistema de recuperação de informações.
Lembrando que a política de indexação deve estar inserida no contexto
administrativo da biblioteca, Carneiro (1985) apresenta os seguintes requisitos
imprescindíveis ao planejamento de um sistema de recuperação de informação ao
se estabelecer uma política de indexação:
a identificação da organização à qual estará vinculada ao sistema
de indexação (contexto);
a identificação da clientela a que se destina o sistema
(destinatário);
os recursos humanos, materiais e financeiros (infra-estrutura).
Podemos considerar, portanto, que a política de indexação está inserida em dois
contextos complementares:
a ) contexto sociocognitivo do indexador: a política de indexação, as
regras e procedimentos do manual de indexação, a linguagem
documentária para representação e mediação da linguagem do usuário e
os interesses de busca dos usuários;
b) contexto físico de trabalho do indexador e dos gerentes o sistema
de informação. (FUJITA, 2003).
Kobashi (1994, p. 17-19) destaca que as atividades de coleta, tratamento e
difusão da informação não são neutras, pois são realizadas dentro de
instituições informacionais e, por essa razão, é necessário que se faça uma
análise rigorosa do contexto no qual se insere o sistema documentário. Assim, a
autora também esclarece que a política de tratamento e recuperação da
informação está condicionada a características dos sistemas documentários:
necessidades do usuário;
instituição onde se desenvolve
domínio tratado;
recursos humanos, físicos e financeiros disponíveis;
produtos e serviços;
relação custo/desempenho.
Nesse contexto também, segundo Guimarães (2000), o estabelecimento de uma
política de indexação contribuirá para que o usuário e o documento deixem de
ser sujeito e objeto para se tornarem dois sujeitos que interagem, uma vez que
o usuário estará sempre recriando o documento e, por conseqüência, alimentando
novamente o sistema.
Conforme afirmado anteriormente, a política de indexação não deve ser vista
como uma lista de procedimentos a serem seguidos, mas sim como uma filosofia a
ser adotada pelo sistema de recuperação da informação. No entanto, segundo
Carneiro (1985), os seguintes elementos devem ser considerados na elaboração de
uma política de indexação:
a) Cobertura de assuntos: assuntos centrais e periféricos cobertos
pelo sistema;
b) Seleção e aquisição dos documentos-fonte: extensão da cobertura do
sistema em áreas de assunto de seu interesse e a qualidade dos
documentos, incluídos no sistema;
c) Processo de indexação:
c.1Nível de exaustividade: todos os assuntos apresentados
no documento são identificados durante a indexação e
traduzidos em uma linguagem documentária;
c.2 Nível de especificidade: somente os assuntos realmente
tratados no documento são identificados, de maneira
específica;
c.3 Escolha da linguagem: a linguagem de indexação afeta o
desempenho de um sistema de recuperação de informação tanto
na estratégia de busca (estabelece a precisão com que o
técnico de busca pode descrever os interesses do usuário)
quanto na indexação (estabelece a precisão com que o
indexador pode descrever o assunto do documento). Portanto,
a partir de estudos do sistema, deve-se optar entre
linguagem livre ou linguagem controlada e linguagem pré-
coordenada ou pós-coordenada;
c.4 Capacidade de revocação e precisão do sistema:
exaustividade, revocação e precisão estão relacionadas.
Quanto mais exaustivamente um sistema indexa seus
documentos, maior será a revocação (número de documentos
recuperados) na busca e, inversamente proporcional, a
precisão será menor;
d) Estratégia de busca: deve-se decidir entre a busca delegada ou
não;
e) Tempo de resposta do sistema;
f) Forma de saída: é o formato em que os resultados da busca são
apresentados. Tem grande influência sobre a tolerância do usuário
quanto à precisão dos resultados. Deve-se verificar qual a
preferência do usuário quanto à apresentação dos resultados;
g) Avaliação do sistema: determinará até que ponto o sistema satisfaz
as necessidades dos usuários.
Guimarães (2000, p. 55) lembra que Carneiro (1985, p. 55) apresenta muitos dos
elementos contemplados por Foskett (1973) e ressalta a importância de outros
três aspectos apresentados pelo referido autor como complementares ao estudo
sobre política de indexação. São eles:
a) Capacidade de consulta a esmo (browsing): torna-se necessário
pensar a respeito da interface dos sistemas de busca, revelando, de
maneira fácil e direta, a estrutura temática que os organiza;
b) Garantia literária (literary warrant): diz respeito a linguagem de
indexação, suas representações de conceitos realmente utilizados pela
comunidade usuária em questão;
c) Formação do indexador: em termos de conhecimento das áreas de
assunto dos documentos; da metodologia de indexação; das
características da linguagem documentária e de suas habilidades
lingüísticas.
Guimarães (2000, p. 54-55) acrescenta aos elementos compilados por Carneiro em
1985 alguns dados referentes à realidade atual dos sistemas de informação
quanto à:
Cobertura de assuntos: aspectos como a conversão retrospectiva de
dados e a compatibilidade de linguagem de indexação entre integrantes
de um mesmo sistema cooperativo;
Seleção e aquisição de documentos-fonte: aliar procedência
(especialmente no que diz respeito a sites), ao custo, à língua etc.
Reconhecendo a importância que a política de indexação tem ao permear todo o
processo do ciclo documentário, desde a coleta da informação até sua
recuperação e disseminação, torna-se necessário que ela esteja descrita de
maneira clara e objetiva e ao alcance de todos aqueles que contribuem para o
desenvolvimento desse ciclo dentro do sistema de informação. Sobre isso,
Guimarães (2000, p. 55-56) afirma que
[...] uma política só poderá ter continuidade e aperfeiçoamento no
decorrer dos anos se devidamente registrada em documentos, de modo a
que se possa ter clareza (independentemente dos elementos humanos) do
conjunto de decisões tomadas, suas razões e seu contexto.
Em razão disso, consideramos que a política de indexação de um sistema de
informação pode ser observada por meio de diagnósticos de infra-estrutura
física, de serviços e de recursos humanos como também por meio de sua
documentação oficial, como o manual de indexação.
Responsável pelo processo de indexação, o indexador realiza a análise de um
texto com fins de indexação. Essa análise, segundo Fujita (1999), está
diretamente vinculada com sua concepção de análise adquirida através de sua
formação educacional e da política de indexação do sistema onde está inserido.
Dessa maneira, podemos afirmar que o manual de indexação para o indexador deve
ser um instrumento real de trabalho e norteador dos princípios de indexação
adotados pelo sistema de informação a fim de que seja garantida a consistência
na indexação.
Em estudos realizados (RUBI, 2000; FUJITA, 2003; RUBI, 2004), observamos a
realidade de bibliotecas que trabalham com áreas específicas do conhecimento,
fazendo parte de sistemas de informação (energia nuclear; odontologia;
agricultura) e também aquelas que não participam deste tipo de sistema
(medicina; direito).
Notamos que os problemas enfrentados pelos bibliotecários destas instituições
são os mesmos, independente do tamanho e da área de assunto coberta pela
instituição. Eles dizem respeito principalmente aos procedimentos de indexação;
ao manual de indexação, muitas vezes inexistente; à falta de política de
indexação; à atualização da linguagem documentária; à utilização eficiente de
software; à capacitação dos usuários e à falta de um grupo de estudos sobre
indexação. Devido a essas dificuldades, à escassa literatura sobre política de
indexação e à importância da indexação sob o ponto administrativo e gerencial
da biblioteca, procuramos novos caminhos através da cultura e do conhecimento
organizacional, uma vez que um sistema de informação não deixa de ser uma
organização, e pretendemos transpor essa realidade administrativa para os
serviços de recuperação dos sistemas de informação.
O conhecimento organizacional para política de indexação em sistemas de
recuperação da informação
Um sistema de informação pode ser considerado um tipo de empresa que,
geralmente, não visa lucro direto, mas agrega valor à informação ao adquiri-la
e processá-la tecnicamente de forma a torná-la disponível. Portanto, de maneira
mais ampla, podemos considerar o sistema de informação como uma organização.
Sob esse ponto de vista, Tamayo (1998), que trabalha com estudos sobre cultura
organizacional, esclarece que existem duas abordagens principais que podem ser
utilizadas no estudo dos valores organizacionais: a partir dos documentos
oficiais da empresa e a partir de observações sobre como os valores são
percebidos pelos empregados. No nosso caso, elementos de política de indexação
são os valores peculiares de cada sistema de informação que estão expressos
oficialmente em manuais de indexação e expressam a visão do dirigente sobre
como deve proceder todos os centros subordinados ao sistema de informação.
Esses valores existentes nos documentos oficias da organização foram observados
por meio dos manuais de indexação, documentos oficias dos sistemas de
informação, onde estão descritos formalmente os elementos de política de
indexação, os valores orientadores do sistema (RUBI; FUJITA, 2003). Convém
esclarecer que não é de nosso interesse estudar cultura organizacional dentro
do sistema de informação sob a perspectiva da administração. Mas,
comparativamente, é o caso dos manuais de indexação dos sistemas de informação
nos quais se verificaram as regras/diretrizes que norteiam o trabalho dos
indexadores dos sistemas de informação.
Enveredando ainda pela área da administração, encontramos também os estudos a
respeito do conhecimento tácito e do conhecimento explícito, objetos de estudos
da gestão do conhecimento e que, por definição, atende aos nossos interesses de
pesquisa.
Nonaka e Takeuchi (1997, p. 65) explicam que
A criação do conhecimento organizacional deve ser entendida como um
processo que amplia organizacionalmente o conhecimento criado pelos
indivíduos, cristalizando-o como parte da rede de conhecimento da
organização. (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 65, grifo dos autores).
Utilizando definições estabelecidas por Michael Polanyi (1966), Nonaka e
Takeuchi (1997, p. 65) distinguem dois tipos de conhecimentos complementares:
conhecimento tácito e conhecimento explícito.
O conhecimento tácito é pessoal, específico ao contexto e, assim
difícil de ser formulado e comunicado. O conhecimento explícito
refere-se ao conhecimento transmissível em linguagem formal e
sistemática. (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 65).
Nota-se, portanto, que identificar e compartilhar conhecimento explícito não é
tarefa difícil, pois este é claro e estruturado podendo ser representado
facilmente por meio de procedimentos, linguagem, documentos, bancos de dados
etc. A maior dificuldade está na identificação e compartilhamento do
conhecimento tácito, o que exige um intenso contato pessoal, pois se refere ao
conhecimento subjetivo, às experiências, habilidades e intuições acumuladas
pelo indivíduo ao longo de sua vida.
Nonaka e Takeuchi (1997) partem do pressuposto que o conhecimento é criado por
meio da interação entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. Por
isso, estabelecem quatro modos diferentes de conversão do conhecimento:
socialização: de conhecimento tácito em conhecimento tácito;
externalização: de conhecimento tácito em conhecimento explícito;
combinação: de conhecimento explícito em conhecimento explícito;
internalização: de conhecimento explícito para conhecimento tácito.
A socialização, segundo os referidos autores (1997, p. 69) "[...] é um processo
de compartilhamento de experiências e, a partir daí, da criação do conhecimento
tácito como modelos mentais ou habilidades compartilhadas."
A externalização é um processo de criação do conhecimento perfeito, na medida
em que o conhecimento tácito se torna explícito, expresso na forma de
metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos. (NONAKA;TAKEUCHI, 1997,
p. 71).
A combinação, para os referidos autores, é um processo de sistematização de
conceitos em um sistema de conhecimento em que os indivíduos trocam e combinam
conhecimentos através de documentos, reuniões, conversas ao telefone ou redes
de comunicação computadorizadas.
"Finalmente, a internalização é o processo de incorporação do conhecimento
explícito no conhecimento tácito. Está relacionada ao aprender fazendo."
(NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 77).
Convém ressaltar aqui o alerta que os autores fazem sobre a necessidade da
verbalização e diagramação do conhecimento sob a forma de documentos, manuais
ou histórias orais para que o conhecimento explícito se torne tácito, para que
a documentação ajude os indivíduos a internalizarem suas experiências,
aumentando seu conhecimento tácito e para facilitar a transferência do
conhecimento explícito para as outras pessoas, ajudando-as a vivenciar a
experiência dos outros. Sobre isso, Nonaka e Takeuchi (1997, p. 83) explicam
que "A função da organização no processo de criação do conhecimento é fornecer
contexto apropriado para facilitação das atividades em grupo e para a criação e
acúmulo de conhecimento em nível individual."
Portanto, pode-se afirmar que o conhecimento explícito dentro do sistema de
informação é composto por sua documentação oficial e que, especificamente no
caso do serviço de indexação, por seu manual de indexação. Já o conhecimento
tácito é aquele inerente a cada indivíduo que atua no sistema de informação,
como o gerente e o próprio indexador. É esse conhecimento que nos interessa
observar, por meio da leitura como evento social/protocolo verbal em grupo,
pois nem sempre o que está descrito nos documentos oficiais (manual de
indexação) é praticado pelos funcionários (indexadores). Além disso, a
utilização da metodologia propiciará, de acordo com os autores citados, um
contexto apropriado para a reunião de indexadores e gerentes para o
desenvolvimento de uma atividade em grupo.
Devemos lembrar, porém, que os pressupostos teóricos referentes aos conceitos
de externalização, socialização, combinação e internalização descritos por
Nonaka e Takeuchi (1997) dentro da área de cultura organizacional não
apresentam novidade por si mesmos, uma vez que, inseridos no contexto de evento
social de leitura/protocolo verbal em grupo (reunião de pessoas para o
desenvolvimento de uma atividade em grupo) ecoam as idéias preconizadas por
Vygotsky (1981 apud NARDI, 1999) e disseminadas por seus seguidores.
Com ênfase no contexto escolar, Vygotsky (NARDI, 1999, p. 27) apresenta sua
noção de zona de desenvolvimento proximal (ZDP). Ela concorre para o
desenvolvimento do indivíduo ao oferecer um elemento importante para a
compreensão sobre como ocorre a interação ensino-aprendizagem/desenvolvimento:
as situações que criam contexto para aprendizagem, para o desenvolvimento, são
as que envolvem interações assimétricas entre um aprendiz e um indivíduo mais
experiente. Portanto, para este trabalho, pode-se afirmar que, segundo os
pressupostos Vygotsky (NARDI, 1999) e de seus seguidores, a interação propicia
a externalização, a socialização e a combinação, uma vez que os indivíduos
participantes estão reunidos com objetivo de construir conhecimento a partir
das discussões suscitadas pelo texto e por outros participantes. A
internalização também ocorre, porém, de acordo com Vygotsky (NARDI, 1999) é um
fenômeno em que o sujeito internaliza o conhecimento adquirido na interação com
outros participantes, apropria-se dele e passa a agir e/ou pensar como o outro.
No nosso caso, devemos adiantar que não foi possível verificar essa apropriação
de conhecimento por qualquer dos participantes pelo fato de que a realização da
leitura como evento social/protocolo verbal em grupo ter tido duração média de
2 horas.
Após esse esclarecimento, ressaltamos que nossa proposta foi observar como a
política de indexação da instituição é percebida pelos indexadores e gerentes,
para elaboração de um manual de indexação que seja realmente condizente com a
sua realidade de trabalho, facilitando, desse modo, a tarefa de indexação
considerada tão importante em sistemas de informação.
Os manuais de indexação dos sistemas de informação têm como finalidade
uniformizar os procedimentos de indexação realizados pelos indexadores. Sob
esse ponto de vista, e nos apropriando das razões apontadas por Chinelato Filho
(1997) que justificam a elaboração de um manual, pode-se afirmar então que um
manual de indexação em um sistema de informação é importante devido:
À grande amplitude do sistema, uma vez que sua filosofia é reunir
em uma base de dados toda a literatura sobre determinado assunto
produzida pelos países cooperantes;
À complexidade da tarefa de indexação e à necessidade de
uniformização de seus procedimentos por parte de todos os centros
cooperantes;
Ao registro dos procedimentos adotados para que, em caso de novo
funcionário, a indexação possa continuar sendo realizada da mesma
maneira.
O manual de indexação de um sistema de informação constitui sua documentação
oficial, está descrito em ordem lógica de etapas a serem seguidas para a
análise de assuntos, fornece as regras, diretrizes e procedimentos para o
trabalho do indexador e, principalmente, contem os elementos constituintes da
política de indexação adotada por um sistema de informação. Portanto, o manual
é um dos meios pelo qual a política de indexação de um sistema de informação
poderá ser observada. Dessa maneira, pode-se considerar que um manual de
indexação deve ser uma condensação de três tipos:
a) Manual de operação ou procedimentos: pois ele deve descrever a
atividade de indexação, dar instruções sobre a realização dessa
tarefa e proporcionar métodos que possibilitem sua execução de
maneira uniforme;
b) Manual de política: o manual deve descrever, de maneira geral e
filosófica, as políticas a serem seguidas pelos indexadores no
momento da indexação, coordenando, assim, esforços de todos os países
cooperantes para que o objetivo do sistema de informação seja
alcançado;
c) Manual de organização: deve servir como um repositório das
experiências acumuladas dos indexadores mais antigos, a serem
aproveitadas para facilitar o treinamento dos mais novos, podendo,
com isso, constituir-se num manual de consultas.
Conforme a maneira como os manuais de indexação vêm se apresentando, pode-se
afirmar que eles contemplam somente a combinação entre os dois primeiros tipos
de manuais: de operação e de política. E é justamente no manual da organização
que o conhecimento tácito do indexador deverá se tornar explícito, criando
assim novos conhecimentos dentro do sistema de informação e servindo como
instrumento de trabalho do indexador e fonte de informação para treinamento de
novos profissionais.
Porém, como ter acesso ao conhecimento tácito do indexador?
Lembrando o que os autores Nonaka e Takeuchi (1997) afirmaram sobre a função da
organização no processo de criação do conhecimento, que é fornecer contexto
apropriado para facilitação das atividades em grupo e para a criação e acúmulo
de conhecimento em nível individual, utilizaremos para investigação do
conhecimento tácito dos indexadores uma abordagem metodológica que consideramos
adequada a esse fim: a leitura como evento social/protocolo verbal em grupo.
Subsídios do conhecimento organizacional para a política de indexação: o uso da
leitura como evento social/ protocolo verbal em grupo
Para obtenção de subsídios do conhecimento organizacional dos indexadores sobre
a política de indexação do sistema de informação onde atuam, utilizamos como
metodologia a leitura como evento social/protocolo verbal em grupo.
De acordo com Nardi (1999) a origem da prática de leitura como evento social/
protocolo verbal em grupo está na metodologia introspectiva do protocolo verbal
nos moldes de Ericsson e Simon (1987), um instrumento de coleta de dados
introspectivos originalmente utilizado para coletar informações sobre processos
mentais utilizados pelos indivíduos na realização de qualquer tipo de tarefa.
O protocolo verbal, de acordo com os referidos autores, fornece informações
sobre passos de processamento individual, tais como verbalizações espontâneas,
seqüência de movimentos com os olhos, exteriorizando seus processos mentais e
mantendo a seqüência das informações processadas.
O modelo proposto por Ericsson e Simon (1987) prevê que a informação recém-
apreendida pelo processador central é mantida na memória de curto prazo por
algum tempo e é diretamente acessível para processamento subseqüente, enquanto
que na memória de longo prazo a informação precisa ser recuperada antes de ser
relatada. Dessa forma, as informações coletadas em relatos verbais são as
recém-apreendidas, diretamente acessíveis para processamento subseqüente.
Nardi (1999, p. 38) apresenta seu ponto de vista sobre as possibilidades de
interação social e cultural que se abrem numa leitura. O leitor pode interagir
não só com o autor do texto, como também com outros leitores que tenham tornado
explícitas suas interpretações anteriores do mesmo texto, com outros autores de
outros textos que, de alguma forma, se relacionam ao texto sendo lido etc.
Para Bloome (1993), a visão de leitura como processo social e cultural sugere
que a leitura possa incluir vários indivíduos interagindo entre si e com o
texto ao mesmo tempo; evento em que as pessoas comunicam idéias e emoções,
controlam outras pessoas, controlam a si próprias, alcançam objetivos sociais
tais como: estabelecer ou reforçar relações sociais; posicionar-se socialmente,
externar angústias, objetivos esses que podem tornar-se mais importantes do que
atribuir significado ao texto.
A nossa opção pela utilização da leitura como evento social/protocolo verbal em
grupo deve-se principalmente ao fato de que esta metodologia possibilita a
explicitação do conhecimento organizacional dos indexadores, o que subsidiará a
política de indexação revelando aspectos do sistema de informação importantes
para a indexação de documentos.
Realizamos duas coletas de dados com indexadores de dois diferentes contextos:
de bibliotecas universitárias, que indexam para organização e acesso de seu
próprio acervo bibliográfico (área temática direito) e bibliotecas
universitárias com indexação vinculada a um sistema de informação de âmbito
internacional (Sistema de Informação Especializado em Odontologia - SIEO).
A seguir, apresentamos os subsídios do conhecimento organizacional discutidos
pelos indexadores durante a leitura como evento social/protocolo verbal em
grupo:
a) Automação de bibliotecas;
b) Avaliação de serviços/Usuários;
c) Avaliação do Sistema de Informação Especializado em Odontologia;
d) Capacitação do usuário;
e) Critérios para indexação de periódicos;
f) Formação continuada do indexador;
g) Linguagem/terminologia;
h) Manual de indexação;
i) Procedimentos para indexação;
j) Recursos humanos e financeiros;
k) Softwares/ Sistema de Informação Especializado em Odontologia;
l) Valorização profissional do indexador.
Sobre o conhecimento do indexador, verificamos que, de maneira geral, as
preocupações dos indexadores são as mesmas: o usuário, a linguagem
documentária, o serviço de referência, entre outras. No entanto, de acordo com
seu contexto de trabalho, algumas preocupações ficam mais latentes:
a) Indexadoras da biblioteca universitária vinculada ao SIEO:
as maiores dificuldades relatadas estão na tradução dos termos
identificados durante a indexação para os descritores da linguagem
documentária, devido à falta de atualização que acompanhe as mudanças
na área de odontologia, e nos softwares utilizados. Como os núcleos
básicos estão subordinados ao sistema de informação maior, no caso o
Centro Coordenador do SIEO, que, por sua vez, está subordinado à
BIREME, essas dificuldades são agravadas pois as soluções não
dependem dos núcleos básicos e, sim, de mudanças políticas. O que
ocorre, muitas vezes, é que os núcleos básicos, por meio da
experiência de seus indexadores, encontram soluções para suas
dificuldades que não são passadas para outros núcleos. Isso ocorre
não por má vontade dos núcleos;
observa-se uma falta de comunicação efetiva entre a rede em que a
maior prejudicada é ela própria através de seus indexadores, gerentes
e, principalmente, os usuários;
foram mais específicas em relação a problemas inerentes à
indexação.
b) Indexadoras da biblioteca universitária que não faz parte de um sistema de
informação:
a maior dificuldade está relacionada com a falta de um grupo de
apoio, alguém para trocar experiências sobre o serviço de indexação.
Consideramos que esse aspecto está relacionado à falta de
estabelecimento de uma política de indexação que permeie todo o
processo da indexação. Além disso, elas demonstraram grande
preocupação com os usuários;
apresentaram problemas enfrentados durante a realização da
indexação, porém de forma mais geral.
Observando os turnos de análise, notamos que a recorrência e a contundência de
determinados assuntos são resultados do contexto de trabalho das indexadoras.
No entanto, observa-se que os problemas existem independentemente do tamanho da
biblioteca, sendo este mais um aspecto a ser considerado para o estabelecimento
de uma política de indexação.
Todas as participantes apresentaram algumas soluções para os problemas
relatados, tais como: capacitação do usuário para melhor utilização das bases
de dados; sintonia entre os serviços de indexação e referência para melhor
adequação da terminologia empregada; avaliação pessoal da indexação por meio de
comparações entre diferentes serviços de indexação, consulta ao especialista
para melhor utilização dos termos, entre outras.
Nota-se, portanto, que os indexadores criam conhecimentos novos, por meio da
experiência de cada um. No entanto, esse conhecimento, que ainda é tácito,
inerente a cada indivíduo, se não for documentado, expresso de alguma maneira
como, por exemplo, um manual de indexação, não se torna explícito,
dificultando, assim, a geração de novos conhecimentos por parte do sistema de
informação.
Essa metodologia proporcionou troca de informações e experiências o que,
segundo as indexadoras, não ocorria de maneira satisfatória. Além disso,
retomando o que Nonaka e Takeuchi (1997) propõem a respeito da criação de novos
conhecimentos, pudemos proporcionar um momento para atividades em grupo e para
a criação e acúmulo de conhecimento em nível individual.
O grande investimento do sistema de informação deve ser feito no indexador por
meio de treinamento constante, formação continuada e grupos de estudos, uma vez
que sejam relatadas deficiências na formação acadêmica sobre indexação e a
falta de grupos para discussão a respeito do tema. Não podemos esquecer,
conforme os resultados da leitura como evento social/protocolo verbal em grupo,
que, quem possui o conhecimento sobre a indexação, é o indexador e somente ele
poderá iniciar e dar continuidade aos processos de construção de novos
conhecimentos sobre a indexação e, consequentemente, sobre sua política, dentro
do sistema de informação. Nota-se que a reunião das indexadoras para discussão
de um texto resultou em trocas de experiências e soluções práticas para seu
trabalho não encontradas em manual algum.
É necessário que tanto os grandes sistemas de informação quanto bibliotecas que
não estão vinculadas a qualquer sistema tenham a preocupação em documentar tudo
aquilo que é criado em sua organização. Porém, mais necessário ainda, é a
criação de redes de comunicação eficientes entre os indexadores, para que haja
o compartilhamento de conhecimento, tomando o indexador como fonte de
informação para o início da espiral da construção de novos conhecimentos pelo e
para o sistema de informação, resultando até mesmo em um manual de indexação
mais eficiente. Porém, não nos esquecendo que o indexador sempre estará à
frente do manual, com o seu conhecimento.
A este respeito, considerando a importante função do indexador na formação da
política de indexação de um sistema de informação, sugere-se um novo aspecto a
ser incorporado aos elementos de política de indexação descritos por Carneiro
(1985) e Foskett (1973):
consulta do indexador: verificar junto ao indexador as dificuldades
enfrentadas durante a realização de seu serviço e as soluções encontradas por
meio de sua experiência para que possa servir de subsídio para atualização do
manual de indexação.
Teorias e práticas de ensino de política de indexação na perspectiva do
conhecimento organizacional
Tendo em vista os subsídios identificados por meio da leitura como evento
social/protocolo verbal em grupo sobre o conhecimento organizacional de
política de indexação dos indexadores de sistemas de informação, pretendemos
finalizar este trabalho com algumas propostas práticas para o ensino de
política de indexação dirigidas a alunos de graduação e pós-graduação, além de
profissionais que já atuam no mercado de trabalho, utilizando para isso o
próprio conhecimento organizacional do aluno.
Dessa maneira, pretendemos divulgar a importância do estabelecimento de uma
política de indexação e contribuir, de maneira prática, com a área de
biblioteconomia, em especial, a indexação, apresentando o curso à distância
Política de indexação em sistemas de informação realizado com bibliotecários
indexadores das universidades estaduais paulistas que fazem parte do Sistema
CRUESP/Bibliotecas: Universidade de São Paulo (USP); Universidade Estadual
Paulista (UNESP) e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Com a duração de cinco semanas, o curso tem a seguinte ementa e objetivos:
Ementa: a política de indexação enquanto decisão administrativa estratégica
para otimização de serviços e racionalização de processos em sistemas de
recuperação da informação: sua função e metodologia no âmbito de sistemas de
recuperação da informação.
Objetivos:
Demonstrar a importância do estabelecimento de uma política de
indexação para o sistema de recuperação da informação.
Familiarizar o profissional com os elementos de política de
indexação e com os manuais de indexação.
Conscientizar o profissional sobre a importância do indexador para
o desenvolvimento da política de indexação
Os módulos, apresentados semanalmente, foram baseados na dissertação de Rubi
(2004) e estruturados tendo em vista uma seqüência lógica de conhecimento que
resultasse em um produto final: a elaboração de um manual de indexação.
a) Módulo 1: O contexto administrativo de bibliotecas universitárias
e seu papel na socialização do conhecimento:
O enfoque foi feito a partir do contexto em que se
encontra a biblioteca universitária, seus aspectos
administrativos e sua função enquanto agente da
socialização do conhecimento, principalmente na era da
informação digital (FUJITA, 2005).
b) Módulo 2: A cultura organizacional na gestão de conhecimento:
Apresentamos os elementos que constituem a cultura
organizacional de uma organização (TAVARES, 1996; TAMAYO,
1998) e os trouxemos para a realidade das bibliotecas,
verificando sua importância e influência na rotina de
trabalhos dos indexadores.
c) Módulo 3: Elementos para uma política de indexação em perspectiva
gerencial de sistemas de informação:
Demonstramos a importância do estabelecimento de uma
política de indexação para bibliotecas e apresentamos os
elementos constituintes dessa política na visão de autores
como Carneiro (1985) e Guimarães (2000).
d) Módulo 4: Observação de procedimentos de indexação e do
conhecimento organizacional com aplicação de Protocolo Verbal;
Apresentamos a metodologia de coleta de dados
introspectivos nos moldes de Ericsson e Simon (1987) e
Nardi (1999) para identificação de procedimentos de
indexação e do conhecimento organizacional sobre política
de indexação.
e) Módulo 5: A política de indexação e elaboração do manual de
indexação
o enfoque foi sobre os tipos de manuais existentes em uma
organização, suas formas e funções, a apresentação dos
manuais de indexação de sistemas de internacionais de
informação e, principalmente, como fazer do manual de
indexação uma ferramenta de trabalho eficaz para o
indexador e a biblioteca.
Ao final de cada módulo foi solicitado um exercício sobre o tema proposto. Para
solução de dúvidas e esclarecimentos, contamos com a ferramenta chat em que a
professora teve a possibilidade de se reunir uma vez por semana com os alunos
para debate e solução de dúvidas. Além disso, um momento importante para o
curso foi uma aula presencial.
Como visto anteriormente, além da leitura como evento social/protocolo verbal
em grupo, a política de indexação pode ser observada e avaliada por meio da
análise dos manuais de indexação e da aplicação de questionários a
bibliotecários dos sistemas de informação. Por isso, esse tipo metodologia pode
se apresentar como um exercício para a observação dos elementos de política e
sua importância para o sistema a que serve, como veremos a seguir.
Atualmente, alguns manuais de indexação estão disponíveis na Internet, como por
exemplo, o da BIREME3, o do AGRIS4, o do ERIC5, o que facilita o acesso às
informações sobre a política de indexação desses sistemas de informação. O
exercício, que pode ser realizado individualmente ou em grupo, consiste na
busca desses manuais de indexação na Internet e na sua análise quanto ao
formato (disposição das informações,layout, facilidade de manuseio) e ao
conteúdo, levando-se em consideração os elementos que, por definição de
Carneiro (1985) e Guimarães (2000), compõe a política de indexação dos sistemas
de informação. A seguir, formula-se um quadro comparativo desses elementos
explicitando as características de cada um dos sistemas de informação e gerando
uma discussão a respeito da necessidade e importância de uma política de
indexação bem estabelecida.
Posteriormente, solicita-se a elaboração de uma política de indexação para uma
biblioteca determinada, lembrando que este documento deverá conter os elementos
de política de indexação pertinentes à realidade da biblioteca escolhida. No
caso de alunos que não atuam em qualquer tipo de sistema de informação, esse
exercício pode ser realizado com a colaboração de um bibliotecário que atue na
área por meio de estudo de caso, entrevistas e/ou questionários. Alunos que já
atuam em algum sistema de informação, independentemente do setor, pode ser
elaborado (ou aperfeiçoado) um manual para a própria instituição, onde o
bibliotecário tem maior facilidade de acesso às informações, além de constituir
sua realidade de trabalho.
Realizamos as duas experiências com êxito em duas instituições distintas com
grupos de alunos de graduação do curso de biblioteconomia que ainda não atuam
na área e alunos bibliotecários atuantes de pós-graduação stricto senso em
indexação.
No caso dos alunos de graduação, solicitou-se a elaboração da política de
indexação para uma determinada biblioteca. Houve a utilização de entrevistas
para obtenção dos elementos de política de indexação, além do histórico da
instituição.
Para os alunos do curso de especialização, foi solicitada a análise comparativa
de manuais disponíveis na Internet e, a seguir, a elaboração de um manual de
indexação com o histórico da instituição onde trabalham, os elementos de
política de indexação e, além disso, a metodologia utilizada para a realização
da indexação, uma vez que esse serviço era executado por eles.
Outro tipo de exercício diz respeito à avaliação da política de indexação em
que se solicita aos alunos uma avaliação da política de indexação do sistema de
informação em que trabalham. Neste caso, o exercício foi realizado com
bibliotecários que fazem parte do Sistema de Bibliotecas das Universidades
Estaduais Paulistas (CRUESP/BIBLIOTECAS) e que atuam no processamento técnico,
especificamente, no serviço de indexação e a conscientização dos profissionais
em estabelecer uma política de indexação.
Além de identificar e avaliar a política de indexação de sistemas de
informação, há, também, a possibilidade de se verificar, por meio de
questionário, a política de indexação adotada por serviços de análise de
bibliotecas. Nossa experiência foi a aplicação de questionário aos gerentes de
duas bibliotecas universitárias da área de medicina e educação que realizam
indexação de artigos de periódicos em base de dados local. Com isso objetivou-
se conhecer o profissional responsável pela indexação nesta base de dados
local; verificar quais os critérios utilizados para selecionar os periódicos a
serem indexados, além do software e da linguagem documentária utilizada; tomar
conhecimento sobre a existência de um manual de serviço e a periodicidade de
atualização da base de dados.
Outro tipo de questionário pode ser elaborado tendo como objetivo observar o
perfil do indexador e o conhecimento que este profissional tem a respeito da
política de indexação presente no seu local de trabalho. Neste caso, o
questionário foi direcionado a indexadores que trabalham em bibliotecas
universitárias que fazem parte de um sistema de informação integrado na área de
odontologia. Desse modo, objetivou-se observar os procedimentos de indexação;
verificar em que medida o manual de indexação auxilia o indexador minimizando
suas dificuldades durante o processo de indexação; conhecer sua opinião sobre o
manual e a política de indexação.
Considerações finais
Diante desses exemplos práticos observamos que seus resultados demonstraram a
importância de se estabelecer a política de indexação, as características e
diferenças entre vários tipos de sistemas de informação e por quê a indexação
deve ser analisada do ponto de vista administrativo do sistema, uma vez que os
resultados da indexação, e de sua política, serão observados na recuperação da
informação.
Consideramos que o indexador é ponto de partida para a geração do conhecimento
organizacional sobre política de indexação dentro dos sistemas de informação
onde atua e este é o motivo principal pelo qual o indexador deve ser
valorizado.
Uma das formas de valorização desse profissional seria o investimento na sua
educação constante e permanente, seja em cursos de pós-graduação ou em cursos
de atualização profissional.
Tendo em vista as constantes mudanças nas áreas do conhecimento que o
bibliotecário deve acompanhar e que refletirá no seu modo de indexar, é preciso
que a atuação profissional também mude com o respaldo da teoria e do próprio
conhecimento organizacional do indexador que deverá ser aproveitado na espiral
de geração de novos conhecimentos para a instituição. Além disso, não podemos
nos esquecer daquele profissional que está sendo formado pelas escolas de
biblioteconomia. Quais estão sendo as práticas adotadas para o ensino de
indexação e política de indexação na graduação? Esta questão certamente
influenciará a prática profissional desse profissional no mercado de trabalho.
Assim, consideramos importante e necessária, a recomendação de novas práticas
de ensino que compreendam tanto aquele profissional que ainda está em formação
quanto aquele que já atua em sistemas de informação.