A gestão da qualidade em serviços de informação no Brasil: uma nova revisão de
literatura, de 1997 a 2006
Introdução
Na literatura nacional e internacional, os serviços de informação têm
participado de iniciativas relacionadas à gestão da qualidade, principalmente
pela influência das instituições mantenedoras que, ao se integrarem a programas
de qualidade, envolvem diretamente esses serviços em seus conceitos e
fundamentos ou através da iniciativa dos próprios profissionais de informação
que vislumbram uma oportunidade para melhoria e avanço dos serviços prestados.
Independente da razão que leva um serviço de informação a buscar, na gestão da
qualidade, parâmetros para melhorar suas atividades e evoluir as práticas
gerenciais implantadas, destaca-se a progressiva preocupação demonstrada em
inúmeras pesquisas realizadas, nos relatos de experiência e nos estudos
teóricos e acadêmicos que vêm sendo divulgados e que estão contribuindo
diretamente para evidenciar que a gestão da qualidade já ocupa lugar de
destaque na teoria de administração dos serviços de informação.
No Brasil, datam do início da década de 1990 os primeiros relatos sobre a
aplicação da qualidade em serviços de informação que eram, basicamente,
comunicações sobre a aplicação de fundamentos da qualidade nesses serviços.
Alguns desses trabalhos são pioneiros, pois adaptaram aos serviços ferramentas
até então utilizadas na indústria, com todas as dificuldades de adequação e até
mesmo de entendimento. Dessa fase, destacam-se Areco (1992), Belluzzo e Macedo
(1993), Pinto (1993), Rocha e Gomes (1993), Rocha Filho (1995), Silva et al
(1995), Vergueiro (1995) e Barbalho (1995 e 1996). Essa primeira fase da
literatura nacional, período compreendido entre o início da incidência do tema
na literatura nacional especializada e o final de 1996, foi estudada por Valls
e Vergueiro (1998), tendo sido então elaborado um panorama geral, visando a
contribuir para a sistematização do tema no país e possibilitar, também, uma
reflexão teórica, uma vez que os autores identificaram que a literatura
publicada até então não apresentava uma base sólida, com o tema, de forma
geral, sendo abordado isoladamente, sem uma sistematização mais aprofundada.
De 1997 até o presente ano, a evolução nas organizações foi acentuada, em razão
das mudanças sociais e econômicas da última década e certamente a administração
dos serviços de informação sofreu alterações em razão da necessidade de
melhoria dos serviços prestados e da elevação dos níveis de qualidade
oferecidos aos seus usuários. Nesse sentido, o objetivo do presente artigo é
complementar a revisão de literatura publicada em 1998 e apresentar um novo
panorama, com trabalhos publicados e divulgados a partir de 1997, objetivando
contribuir para o avanço das discussões a respeito da aplicação da gestão da
qualidade em serviços de informação no Brasil e adicionar um novo estudo
teórico sobre o tema.
Aplicação dos conceitos de gestão da qualidade em serviços de informação no
Brasil
Na revisão divulgada em 1998, a partir da análise da literatura disponível,
foram apresentadas algumas considerações:
Forte tendência de aplicação isolada das metodologias de gestão da
qualidade nos serviços de informação, sem uma relação direta com
projetos de qualidade total nas organizações;
O conceito de qualidade geralmente vinha sendo apresentado de forma
pontual, relacionando-se muito mais com fazer bem feito do que com o
conceito proposto pela gestão da qualidade total;
A pouca literatura disponível estava mais centrada em relatos de
experiências, muitas vezes sem suporte teórico.
Podemos concluir que as tendências identificadas são resultantes do próprio
estágio em que o tema estava sendo estudado no país, de maneira exploratória e
pioneira, e que, a partir desses trabalhos e de suas recomendações, muitos
outros pesquisadores e dirigentes de serviços de informação passaram a estudar
o tema, ampliando sua base teórica e, principalmente, analisando e criticando
sua aplicabilidade à prestação de serviços de informação. Além disso, é
possível evidenciar estudos acadêmicos sendo publicados, indicando que a
questão da qualidade, até então abordada de maneira pragmática, ganhava aos
poucos espaço nas escolas e faculdades de biblioteconomia e ciência da
informação, como tema de estudos e análises teóricas mais aprofundadas.
Observa-se, também, as escolas de engenharia de produção abordando a prestação
de serviços de informação e validando suas pesquisas em bibliotecas,
principalmente ligadas a universidades. Destacam-se, neste contexto, os estudos
acadêmicos de Barbalho (1995), Ferreira (1997), Valls (1998), Santos (2000),
Vergueiro (2000), Xavier (2001), Amboni (2002), Andrade (2004) e Barbêdo
(2004).
Dando prosseguimento à reflexão teórica sobre o tema e visando analisar as
tendências da literatura nacional a partir de 1997, apresenta-se, a seguir, uma
nova revisão de literatura nacional contendo artigos técnicos, trabalhos
apresentados em eventos científicos da área e dissertações e teses do campo
ciência da informação e demais áreas relacionadas. Foram consultadas fontes
oficiais e espera-se que o máximo de trabalhos tenham sido incluídos, com o
objetivo de traçar o panorama pretendido. Além disso, foram incluídos, neste
levantamento, alguns trabalhos publicados por autores nacionais em publicações
internacionais, pois entende-se que, independente do canal de divulgação, essas
obras representam a tendência da literatura nacional. Novamente, reitera-se que
a intenção desta análise não é a de julgar a relevância ou qualidade dos
trabalhos, mas, antes de tudo, estudálos no contexto dos demais trabalhos, com
a intenção de contribuir para o avanço dos estudos sobre administração de
serviços de informação. É interessante destacar que, na revisão publicada em
1998, foram analisados dez trabalhos e, na presente revisão, sessenta e oito,
considerando-se este um incremento expressivo. Entende-se que ele reflete a
própria tendência da ciência da informação, que avançou muito nos últimos anos,
principalmente nos temas relacionados à administração de serviços de
informação, como reflexo do avanço das práticas gerenciais que, com todas as
mudanças sociais e econômicas, também vem passando por rápidas e profundas
alterações em todos os tipos de organizações.
Uma análise preliminar dos trabalhos demonstra algumas tendências ou enfoques
na literatura nacional, que serão apresentadas a seguir, obedecendo a ordem
cronológica de publicação dos trabalhos, dentro de cada bloco temático.
Análises teóricas e práticas sobre a aplicação da gestão da qualidade em
serviços de informação (abordagem genérica)
Os principais autores destes enfoques são: Medeiros et al(2000), Vergueiro
(2000), Silingovschi (2001), Amboni (2002), Silva (2002), Vergueiro (2002),
Longo e Vergueiro (2003), Amboni (2004), Nunes e Silva (2004) e Zanela (2005).
Dois eixos se destacam: a modernização das práticas gerenciais e a liderança.
a) modernização das práticas gerenciais
A análise das tendências sobre a aplicação da gestão da qualidade em serviços
de informação evidencia uma certa predisposição por parte dos dirigentes destes
serviços em modernizar as práticas gerenciais utilizadas, buscando inclusive
novas formas de organização do trabalho, muito mais focado no atendimento das
necessidades dos usuários, em contraposição à disponibilização de documentos e
informações de forma passiva. Não se trata, todavia, de um modismo sem
fundamentação, mas de uma orientação para incorporar muitos anos de experiência
das bibliotecas em atividades ligadas ao marketing, ao planejamento, à gestão
por objetivos, ao controle de custos, à análise funcional etc. A gestão da
qualidade, de forma geral, vem incorporando e reorientando todos estes
componentes de maneira integrada, tendo como base a filosofia da melhoria
contínua de cada processo implantado e uma orientação à satisfação do cliente
(GÓMEZ HERNÁNDEZ, 2002, p. 65).
Além disso, este interesse pode ter sido motivado pela identificação de uma
certa deficiência nos métodos de administração das bibliotecas brasileiras,
traduzida em uma "carência de instrumentos gerenciais que permitam o
levantamento e avaliação do desenvolvimento dos trabalhos e que possibilitem um
controle maior da qualidade dos serviços prestados" (MEDEIROS et al,2000,
s.n.). Tradicionalmente, os serviços de informação vêm atuando como
depositários de dados e informações e o grande avanço tecnológico das últimas
décadas impulsionou a implantação de sistemas de informação que, de forma
geral, agilizam a troca de informações e principalmente o acesso aos acervos.
Recentemente, o interesse volta-se não somente aos serviços oferecidos em si,
mas à qualidade percebida pelo cliente desses serviços e, principalmente, aos
recursos utilizados para mantê-lo em pleno funcionamento (incluindo infra-
estrutura, pessoal, equipamentos, acervo etc). A busca por novas práticas
gerenciais e a preocupação com a melhoria dos serviços e produtos oferecidos,
portanto, evidencia a gestão da qualidade como uma alternativa viável para ser
estudada, adaptada e aplicada, como demonstram os vários relatos disponíveis
nos trabalhos analisados. A qualidade, enquanto filosofia gerencial, tem a
intenção de atenuar a diferença entre o que o Serviço de Informação oferece e o
que, de fato, o cliente espera deste serviço (ABREU e ANDALIA, 1998, p. 80).
Nesse sentido, como destacam Longo e Vergueiro:
Por suas características de adaptabilidade e transformação, a gestão
da qualidade pode representar uma alternativa viável para que os
serviços de informação ofereçam resposta apropriada às exigências de
um novo tempo, considerando principalmente as características de um
país em desenvolvimento e as implicações àqueles serviços situados na
esfera da administração pública (2003, p. 40).
De forma geral, a opção dos serviços de informação pela gestão da qualidade
pode ser resultado de vários fatores, como aponta Narcisa de Fátima Amboni:
a) da liderança, ou seja, esta deve ser autêntica em todos os níveis
da biblioteca, assim como ter uma postura pró-ativa para facilitar a
descoberta de novas oportunidades junto ao meio.
b) de um sistema de informações sobre qualidade em serviços. As
bibliotecas precisam estabelecer um processo de pesquisa sobre a
qualidade em serviços que forneça informações oportunas e importantes
para subsidiar o processo de tomada de decisão.
c) da estratégia de serviços, com que os gestores podem avaliar o que
deve ser aprovado e recusado. A estratégia serve como guia de
orientação. Uma estratégia de serviços capta o que os usuários
valorizam nos serviços prestados pelas bibliotecas.
d) do nível de comprometimento dos colaboradores internos e externos
com os princípios da excelência em serviços. As bibliotecas como
organizações prestadoras de serviços definem a sua razão de ser a
partir da estratégia de serviços. A estratégia orienta e energiza a
organização na criação de valor para os usuários.
e) de uma estratégia tecnológica na implementação da estratégia de
serviços. A tecnologia é uma ferramenta básica à implementação da
estratégia e para a qualidade dos serviços, em particular.
f) da estrutura e da tecnologia como fatores vitais à implementação
da estratégia de serviços. Entretanto, as bibliotecas precisam de
pessoas com atitudes, conhecimentos e habilidades necessárias para
tornar a estratégia uma realidade.
g) dos níveis de confiabilidade, surpresa, recuperação e integridade,
dentre outros fatores como por exemplo, cortesia, responsividade,
acesso, credibilidade, rapidez de resposta, segurança, comunicação e
competência que refletem as condições atuais das dimensões internas
(liderança, propósitos, processos, acervo, pessoal, instalações
físicas, orçamento e finanças e tecnologia), as externas diretas
(usuários, fornecedores, concorrentes, grupos regulamentadores) e as
externas indiretas (demografia, tecnologia, legal, política, social,
econômica) existentes nas bibliotecas [...] (2004, s.n).
Neste cenário, os serviços de informação tendem a rever seu papel diante das
Instituições mantenedoras (universidades, empresas privadas, fundações,
institutos etc) que passam a exigir, no mínimo, alinhamento aos objetivos
estratégicos, otimização de recursos e níveis de qualidade que justifiquem a
própria manutenção do serviço. Adicionalmente, é necessária uma nova postura
com os clientes direto (os usuários dos serviços) que assumem cada vez mais um
papel ativo e exigente, fazendo parte do processo e posicionando-se, muitas
vezes, de maneira crítica em relação a ele. Para que este reposicionamento
tenha êxito, entretanto, é necessário que alguns paradigmas sejam quebrados.
Talvez o mais importante esteja relacionado ao fato do profissional da
informação, em geral, acreditar que conhece as necessidades dos clientes e que
ele mesmo (o fornecedor de serviços) está apto a direcionar o planejamento e a
execução dos produtos e serviços oferecidos, sem que seja dada ao cliente a
chance sequer de se posicionar. Nesse sentido, "os profissionais da informação
parecem entender que seus clientes não têm uma idéia muito clara daquilo que
querem e nem condições de avaliar corretamente o que recebem"(VERGUEIRO, 2002,
p. 84).
b) Liderança
Obviamente, além da modernização das práticas gerenciais, os profissionais
devem rever sua postura profissional, já que, na nova abordagem da prestação de
serviços, os fornecedores são transferidos do papel de protagonistas para o de
coadjuvantes, sem perder, obviamente, sua função e importância. Cabe, portanto,
aos dirigentes dos serviços de informação, analisar sua própria equipe para
identificar necessidades de treinamento e educação formal, além de proporcionar
o desenvolvimento de novas habilidades e competências necessárias para o
atendimento direto ao cliente, contribuindo para a elevação de seu nível de
satisfação. A motivação e o alinhamento da equipe são vitais para a consecução
dos objetivos relacionados à melhoria da qualidade, pois se torna de "extrema
importância o comprometimento e o envolvimento de todos os níveis funcionais da
organização, onde todos têm um papel a desempenhar, no esforço de garantir a
qualidade nos serviços de informação" (SILINGOVSCHI, 2001, s.n.). Dessa forma,
acentua-se e se evidencia o papel da liderança, para que a gestão da qualidade
possa ser entendida e de fato aplicada. A predisposição para a mudança, assim
sendo, deve estar presente na liderança para que ela impulsione e encoraje sua
equipe para as demais mudanças, por exemplo, no nível operacional, técnico e
administrativo. Nesse sentido:
O sistema de liderança de uma biblioteca, que tem o compromisso com a
qualidade em sua gestão, é o que promove o comprometimento
profissional de seus colaboradores e possibilita a formação de um
ambiente institucional propício ao desenvolvimento, concedendo
autonomia decisória e construindo cadeias de comando leves e ágeis
(com poucos níveis hierárquicos) (AMBONI, 2002, p. 176).
Através de uma liderança efetiva e de uma equipe capacitada e ciente do seu
papel e de suas responsabilidades, o serviço de informação terá o ambiente
mínimo necessário para implantar iniciativas ligadas à gestão da qualidade.
Obviamente o entorno dessas iniciativas é muito maior e depende do ambiente
externo da própria Instituição mantenedora, da provisão de recursos, do público
ao qual se destina etc., sendo que cada serviço está inserido em uma cultura
organizacional, com todos seus pontos favoráveis e desfavoráveis e cada caso
deve ser analisado a partir desses pontos, utilizando-se, conseqüentemente, de
estratégias eficazes e de um planejamento muito bem estruturado para que os
projetos possam ser implantados, alcançando os objetivos pretendidos. Em
contrapartida, existem também as dificuldades internas, as chamadas barreiras
mentais e organizacionais que, certamente, serão encontradas durante a
implantação de um processo de mudança originado da implantação da gestão da
qualidade em serviços de informação, por exemplo: medo da mudança, apego
excessivo a regras, descrença dos funcionários, burocracia, medo de perder
poder e centralização das lideranças. Essas barreiras não podem ser
subestimadas, devendo ser identificadas e, na medida do possível, transpostas
para que o processo como um todo possa fluir conforme o planejado e os
resultados possam ser obtidos. Como destacam Longo e Vergueiro a esse respeito:
Implantar com sucesso a gestão da qualidade em serviços de informação
significa entender as barreiras e os conflitos gerados e aprender a
gerenciá-los de forma eficiente e eficaz, procurando reduzir a
ansiedade dos seres humanos e conduzindo-os a um processo de melhoria
contínua. As pessoas têm que estar convencidas e não ser obrigadas a
acreditar -, que esse tipo de gestão implicará em vantagens pessoais
(e para a organização) apreciáveis. Acima de tudo, essas vantagens
são traduzidas em crescimento pessoal (2003, p. 53).
Logo, conclui-se que não existem fórmulas prontas e muito menos receitas
préconcebidas para que uma mudança desse porte e com tantas variáveis possa
concretizarse. Entretanto, considera-se que, uma vez definida a gestão da
qualidade como o caminho a ser seguido, ela seja implantada de forma
estruturada e, principalmente, mantendo o foco das atividades, tendo o apoio da
alta direção e sendo constantemente avaliada, para que os objetivos possam ser
alcançados da melhor forma possível, respeitando sempre a natureza e cultura do
serviço de informação.
Estudos e experiências práticas relacionadas especificamente ao estabelecimento
de padrões de avaliação e indicadores da qualidade
Os principais autores desta tendência são: Vergueiro e Belluzzo (1997),
Vergueiro et al(1998), Vergueiro et al (1999), Linguanotto et al(2000),
Vergueiro e Carvalho (2000a e 2000b), Vergueiro e Carvalho (2001), Fonseca et
al (2002), Ramos (2002), Sampaio et al (2002a e 2002b), Vergueiro e Carvalho
(2002b), Andrade (2004), Fonseca et al (2004), Rebello (2004), Sampaio et al
(2004b) e Rozados (2005a e 2005b).
Observamos, neste caso, que há um interesse particular por iniciativas ligadas
ao estudo, estabelecimento e avaliação de padrões que possam identificar,
concretamente, que os resultados estão sendo alcançados, especialmente os
ligados à satisfação do cliente. Esta tendência está alinhada ao princípio da
gestão da qualidade relacionado à tomada de decisões baseada em fatos, que
coloca a administração de serviços de informação em um patamar contemporâneo,
em que fatos concretos auxiliam o gerenciamento do serviço e o realinhamento de
metas e atividades de acordo com os resultados efetivamente alcançados.
Entende-se que o "estabelecimento de padrões consistentes é condição essencial
para implantação de um programa de garantia de qualidade em bibliotecas, cujos
critérios de qualidade devem ser detectados e resolvidos mediante o
estabelecimento de alvos" (RAMOS, 2002, s.n.). Da mesma forma, tem-se claro que
alvos e metas concretas de desempenho devem ser estabelecidos e perseguidos
como forma de aumentar a eficácia e eficiência dos serviços prestados; além
disso, o estabelecimento de medidas de desempenho confiáveis pode auxiliar na
avaliação dos serviços de informação de maneira isenta e baseada em métodos
científicos. Nesse sentido,
Para que se obtenha a garantia da qualidade na implantação de um
programa nas bibliotecas, é necessário que os bibliotecários
desenvolvam padrões, medidas e indicadores dentro de suas unidades,
tendo como alvo as necessidades dos usuários como também promovam a
sensibilidade da equipe, implantando treinamento contínuo para que
executem bem suas atividades técnicas rotineiras, utilizando-se
adequadamente das estatísticas como parâmetros de avaliação para
determinação de indicadores bons ou ruins, através da interação com
seus clientes, transformando suas expectativas em medidas
quantitativas e qualitativas (ANDRADE, 2004, p. 105).
Adicionalmente, a pesquisadora Helen Beatriz Frota Rozados, em revisão de
literatura realizada especificamente sobre indicadores aplicados à avaliação
dos serviços de informação, afirma:
Percebe-se, em nível mundial, que o cada vez mais crescente incentivo
pela busca da qualidade total nas unidades de informação, está
fazendo com que aumente a preocupação com a definição e a utilização
de indicadores apropriados, que auxiliem na avaliação e na gestão
destes serviços. Os indicadores de desempenho, por medirem eficiência
e eficácia, fatores que estão diretamente ligados à satisfação do
usuário-cliente, têm sido os escolhidos por unanimidade, entre os
autores e pesquisadores do tema. Concorda-se com esta escolha por se
crer que o fim maior da gestão da qualidade é a satisfação do
usuário-cliente e que a excelência desta satisfação só pode ser
alcançada através de serviços eficientes e eficazes. Por outro lado,
a busca pela excelência exige o sistemático levantamento de dados e
informações, com a finalidade não somente de avaliar os serviços,
mas, principalmente, utilizá-los como elementos do planejamento
estratégico. Nesta perspectiva, entendem-se indicadores de desempenho
como uma ferramenta para mensurar a satisfação do usuário e a
qualidade dos serviços, com vistas à avaliação e à tomada de decisão
(2005a, s.n).
Além dos trabalhos teóricos, destacam-se, neste enfoque, dois projetos bastante
citados na literatura nacional:
a) Indicadores da qualidade em serviços de informação: validação em
bibliotecas universitárias da área odontológica no Estado de São
Paulo (USP, UNESP e UNICAMP). Este projeto representa uma pesquisa
inovadora na área e colabora para que a definição de indicadores
possa constituir-se em estratégia viável visando à qualidade de
processos e serviços nos serviços de informação de países em
desenvolvimento. Divulgado em: Vergueiro e Belluzzo (1997), Vergueiro
et al (1998), Vergueiro et al (1999), Vergueiro e Carvalho (2000a e
2000b), Vergueiro e Carvalho (2001) e Vergueiro e Carvalho (2002b).
b) Estudos iniciais e relato da implantação de um programa de
avaliação da qualidade - PAQ - nas bibliotecas universitárias do SIBI
/ USP. O PAQ apresentou-se como elemento de aproximação entre o
usuário e as bibliotecas, além de ser viável e necessário para a
gestão das bibliotecas do sistema. Divulgado em: Linguanotto et al
(2000), Sampaio et al (2002a 2002b), Rebello (2004) e Sampaio et al
(2004b).
Iniciativas ligadas ao estudo do cliente e ao estabelecimento de produtos e
serviços segundo sua ótica
Principais autores: Baptista (2000), Vergueiro (2000a, 2000d e 2000c), Xavier
(2001), Martins et al (2002), Igami et al (2004) e Salasário (2004).
Como não poderia deixar de ser, nesta tendência observam-se trabalhos
relacionados ao estudo do cliente, o que é bastante natural, uma vez que a
gestão da qualidade tem este foco. Contudo, o relevante na literatura estudada
é o destaque para a ótica do cliente, ou seja, espera-se entender e captar as
suas reais expectativas, buscando atendê-las e, antes de tudo, entendê-las.
Torna-se importante registrar que o estudo de usuários é uma linha de pesquisa
clássica na área da ciência da informação, porém, o que pode ser ressaltado nos
trabalhos citados é a premissa de que ninguém melhor do que o próprio cliente
para definir suas necessidades e o nível de qualidade do serviço recebido:
É fundamental, na qualidade em serviços, sua dimensão técnica
(produtos ou resultados do serviço O QUE) e a dimensão funcional do
processo (COMO o serviço é entregue), bem como a compreensão da
relação fundamental entre o que é a qualidade esperada (expectativas
do cliente) versus a qualidade experimentada (percebida pelo cliente)
(MARTINS et al, 2002, s.n.).
Um estudo interessante foi desenvolvido e divulgado em Vergueiro (2000a, 2000c
e 2000d) em que o autor exemplifica, através de estudos de casos fictícios,
situações em que a opinião do profissional da informação diverge da opinião do
cliente, ou seja, o fornecedor tem plena convicção de ter desempenhado bem o
seu papel, porém esta não é a opinião de quem recebe o serviço. Esta
contradição é muito elucidativa, pois resume a idéia da qualidade percebida,
que depende muito mais de elementos subjetivos do que se pode imaginar:
Uma forma um pouco mais natural de inserir a preocupação com os
clientes nos serviços é, talvez, identificar casos em que a visão que
eles possuem sobre a qualidade do serviço e aquela possuída pelos
bibliotecários mostram-se nitidamente discordantes, causando algum
tipo de diferença de opinião entre eles (muitas vezes, até mesmo um
choque de personalidades). Tradicionalmente, os profissionais da
informação, tanto os de bibliotecas universitárias como os de outros
tipos de bibliotecas, experimentam situações diversas que envolvem
relações de conflito ou desconforto com seus clientes. Dependendo da
situação, essas relações podem ser bem ou mal resolvidas, mas sempre
deixam como resultado um impacto negativo sobre o serviço que às
vezes leva anos para ser totalmente absorvido (VERGUEIRO, 2000d, p.
52).
Um outro aspecto desta análise é que não basta conhecer o que o cliente quer,
mas principalmente poder oferecer o que ele precisa. Sabemos que os serviços de
informação, de uma maneira geral, têm avançado muito nas últimas décadas em
vários aspectos, porém, existem serviços com insuficiência de recursos básicos,
como por exemplo, mão-de-obra e, neste caso, toda a base teórica disponível não
tem espaço para sua aplicação. Além desse aspecto, a "melhor maneira de
proporcionar um atendimento de qualidade é conhecendo bem o usuário, conhecendo
o propósito da Instituição e os produtos e serviços que se está oferecendo"
(BAPTISTA, 2000, s.n.). Outro estudo de destaque nesta linha foi o desenvolvido
por Xavier (2001), que estudou estratégias de serviço voltadas à satisfação do
cliente, realizando um contraponto entre a teoria e a prática, através de
pesquisa realizada em Bibliotecas Universitárias das Universidades Estaduais
Paulistas. Nesse sentido,
embora uma biblioteca possa operar continuamente em um nível
aceitável de qualidade, a sobrevivência e validação do seu desempenho
dentro da Instituição dependerá, fortemente, do grau de qualidade que
os seus usuários lhe atribuem (IGAMI et al, 2004, s.n).
Uso de ferramentas e metodologias relacionadas a conceitos e fundamentos da
gestão da qualidade em serviços de informação
As principais ferramentas ou conceitos desta tendência da literatura
especializada no período, com seus respectivos autores, são: QFD: Ferreira
(1997) e Barbêdo et al (2003); 5S - Vanti (1999) e Ferreira (2002);
Benchmarking Suaiden e Araújo Júnior (2001), Empreendedorismo e Gestão da
Qualidade Gomes Filho e Honesko (2004); Endomarketing e 5S - Bonetti e
Machado (2005) e Rebello (2005); Momentos da verdade e outras técnicas - Gomes
Filho (2001 e 2002); Objetivos organizacionais Silva (2000b); Teoria de
Garvin Barbêdo e Turrioni (2003b); Teoria de Deming Pinheiro e Costa
(2000).
Especificamente em relação ao uso de técnicas, ferramentas ou metodologias para
o aprimoramento dos serviços de informação, foram identificados vários relatos
eminentemente práticos; entretanto, é necessário destacar que, comparados com a
revisão de literatura publicada em 1998, os estudos posteriores, em alguns
casos, foram pioneiros e até mesmo ousados, por absorver conceitos da
engenharia da produção à realidade dos serviços de informação, com forte
fundamentação teórica e, principalmente, com um enfoque prático através das
validações realizadas em organizações prestadoras de serviços de informação.
Destacam-se, neste comentário, os trabalhos de Vanti (1999), Barbêdo et al
(2003), Suaiden e Araújo Júnior (2001), Barbêdo e Turrioni (2003b) e Gomes
Filho e Honesko (2004). Estes trabalhos, em conjunto com os demais citados e
analisados anteriormente, decididamente contribuíram para o avanço da base
teórica em relação aos estudos sobre a aplicação de gestão da qualidade em
serviços de informação, de maneira fundamentada e com alto grau de rigor
técnico, o que colaborou de forma irrefutável para o avanço da ciência da
informação.
Estudo da teoria de processos e sua aplicação em serviços de informação
Destacam-se os trabalhos de Santos (2000), Silva (2000a), Santos et al (2003),
Reis e Blattmann (2004) e Valls (2004).
A partir de 2000 podemos identificar uma nova linha de pesquisa nos estudos
publicados, relacionada à análise da teoria de processos e sua aplicação em
serviços de informação. Destaca-se o trabalho publicado por Silva (2000a) que
não é diretamente relacionado à gestão da qualidade, mas que pode ser
considerado como introdutório ao tema em razão de sua excelente revisão de
literatura e apresentação didática. A autora realiza uma revisão histórica das
formas de organização do trabalho, do taylorismo aos dias atuais,
contextualizando os serviços de informação neste sentido, que contribui para
introduzir um tema que vem sendo abordado por outros pesquisadores da ciência
da informação, analisando as características e facetas da prestação de serviços
de informação, conforme salientam SANTOS et al:
O setor de prestação de serviços tem crescido continuamente na
economia mundial. Diante dessa situação, a comunidade acadêmica e os
profissionais das diversas áreas do conhecimento começaram a voltar
suas atenções para as particularidades da gestão de serviços. A busca
de melhoria da qualidade, tão comum em empresas industriais, passou a
ser prioridade também nas organizações prestadoras de serviços.
Assim, a gestão de processos passa a ter papel crucial nas
organizações de serviços, principalmente para as organizações
voltadas à prestação de serviços de informação, como no caso das
bibliotecas (2003, p. 85).
A análise sistemática das organizações, advinda da teoria de processos, prevê
uma nova forma de enxergar as atividades em operação destacando a eficiência do
processo, ou seja, como a atividade é realizada ao longo de todas as etapas,
não somente o resultado final do produto ou serviço, que pode ter sido oneroso
em vários aspectos. Essa análise sustenta a otimização dos processos que podem
ser gerenciados de maneira integrada, compartilhando os recursos,
principalmente os humanos e tecnológicos, além do próprio mapeamento de seu
impacto no resultado final dos serviços prestados (VALLS, 2004). Trata-se de
abordagem perfeitamente aplicável aos serviços de informação e a literatura
analisada destaca que os processos devem ser o centro das atenções dos
dirigentes desses serviços:
Os processos precisam ser detalhadamente estudados e projetados,
verificar o que é imprescindível e, acima de tudo, precisam ser
compreendidos por todos para haver uma visão geral e profunda do que
está acontecendo e em benefício de quem (REIS e BLATTMANN, 2004, p.
15).
Adicionalmente, a literatura analisada apresenta relatos sobre a análise de
técnicas e metodologias para que este estudo possa ser realizado, como
divulgado em Santos (2000) e Santos et al (2003).
Certificação de serviços de informação segundo padrões estabelecidos.
Destacam-se os seguintes trabalhos: Barbalho (1997), Vergueiro e Carvalho
(2002a), Barbêdo e Turrioni (2003a), Vergueiro e Carvalho (2003), Barbêdo
(2004), Martins e Lotti (2004), Saad et al (2004), Valls (2005) e Walter
(2006).
A certificação de sistemas de gestão da qualidade implantados direta ou
indiretamente em serviços de informação é um aspecto da preocupação com a
qualidade que apresenta evidente avanço no Brasil, ainda que modesto. Um dos
primeiros trabalhos relacionados a este tema foi o estudo de Célia Regina
Barbalho (1997) sobre a aplicação do modelo inglês de certificação (National
Health Service) em serviços de informação. Segundo a autora, em razão de sua
característica de prestação de serviços, os serviços de informação possuem um
caráter próprio, o que implica uma relação complexa com seus clientes, uma vez
que os serviços de informação são intangíveis, heterogêneos e simultâneos, o
que favorece a necessidade de implantação de um modelo de gestão da qualidade
(Ibid., p. 53).
Especificamente sobre a certificação de serviços de informação, foi realizada
uma pesquisa que procurou verificar a utilização de programas de qualidade nas
bibliotecas universitárias brasileiras, para identificar as instituições
envolvidas em processos de busca de qualidade, em um primeiro momento, com base
no modelo NBR ISO 9000 e, em seguida, em razão do insucesso na localização de
serviços de informação certificados com base na NBR ISO 9001, direcionando o
estudo para os prêmios de qualidade nacionais sob o ponto de vista de sua
aplicação como passo inicial para a certificação da qualidade em bibliotecas
universitárias. Essa pesquisa foi divulgada em Vergueiro e Carvalho (2002a e
2003). Segundo os autores, a certificação de serviços de informação,
especificamente de bibliotecas universitárias, encontrava-se em fase
embrionária, porém, independente deste fato, a "busca da certificação
configura-se como uma alternativa possível, desde que as gerências, equipes e,
principalmente, as instituições mantenedoras das bibliotecas universitárias
estejam engajadas no processo" (Id., 2002a, s.n).
É importante registrar que os primeiros serviços de informação brasileiros
certificados com base na NBR ISO 9001 datam do final de 2002 e a literatura
especializada começa a abordar esta tendência, inicialmente com a dissertação
de mestrado cujo estudo de caso foi realizado na primeira biblioteca
certificada no Brasil, a Biblioteca Mário Henrique Simonsen, da Fundação
Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro (BARBÊDO; TURRIONI, 2003a, e BARBÊDO, 2004).
Uma outra implantação pioneira, a da Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal, do
Supremo Tribunal Federal, foi relatada em detalhes, apresentando um panorama
sobre a implantação da ISO 9001:2000 em um serviço de informação, registrada em
Walter (2006). Complementando esta abordagem, vários estudos teóricos foram
divulgados, com destaque para os de Martins e Lotti (2004) e Valls (2005), este
último resultado de vasta pesquisa realizada para elaboração de tese de
doutorado, cujo tema principal foi a aplicação da gestão da qualidade em
serviços de informação no Brasil. Uma outra experiência prática de destaque é
relatada em Saad et al (2004), que descreve a experiência da Divisão de
Biblioteca e Documentação -DIBD-, da Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz -ESALQ-, da Universidade de São Paulo na aplicação do modelo de gestão
proposto segundo os critérios do Prêmio Paulista de Qualidade de Gestão -PPGQ-.
A experiência da DIBD é muito relevante, pois este serviço de informação, em
razão de sua excelência, foi agraciado com a medalha de bronze no PPGQ de 2003,
fato que comprova a aplicabilidade e principalmente a importância da
modernização das práticas de gestão em serviços de informação brasileiros.
Abordagens específicas
Destacam-se neste tema os trabalhos sobre: Auditoria interna Moretti e Pereira
Júnior (2004); Capacitação em qualidade Sampaio et al (2004a); Gestão de
pessoas Castro Filho e Vergueiro (2004); Participação do profissional da
informação em sistemas da qualidade Valls (1998) e Psicologia organizacional
Delpizzo (2005).
Todos esses trabalhos evidenciam o avanço do tema, que, especificamente a
partir de 2000, reflete o avanço da aplicação deste modelo de gestão nas
organizações ligadas ao gerenciamento de informação. O avanço da gestão da
qualidade nos serviços de informação parece ter motivado os dirigentes destes
serviços e os pesquisadores a se aprofundarem em assuntos relacionados, cuja
importância tem sido destacada na literatura analisada. Também se destaca um
estudo anterior, relacionado especificamente a participação dos profissionais
da informação nos sistemas da qualidade (VALLS, 1998), dissertação de mestrado
que analisou um novo espaço de atuação para esses profissionais, principalmente
nos serviços de informação especializados inseridos em organizações já
envolvidas em programas formais relacionados à gestão da qualidade.
Considerações finais
Concluindo a revisão de literatura nacional, podemos citar, além das questões
temáticas já abordadas, outros fatos relevantes:
dos trabalhos analisados, cerca de 50% representam experiências eminentemente
teóricas, o que altera favoravelmente o panorama da revisão publicada em 1998,
em que a abordagem era quase que exclusivamente prática. É óbvio que o enfoque
pragmático é muito importante para o avanço do tema, mas se entende que a
proliferação de estudos teóricos fundamenta o tema na literatura nacional, que
avança do estágio exploratório para um estágio de maturidade em que há uma
diversificação de pontos de vista e de abordagens;
em relação ao tipo de serviço de informação analisado, os estudos se
concentram quase que exclusivamente em bibliotecas universitárias (mais de 70%
dos trabalhos). Nota-se que estudos referentes a serviços de informação ligados
a Instituições privadas, fundações ou órgãos públicos são praticamente nulos.
Esse fato pode ser considerado contraditório, pois a grande ocorrência de
certificações com base na NBR ISO 9001 e outros programas ligados à gestão da
qualidade pode ser observada em empresas de caráter privado e, neste caso, seus
serviços de informação não estão sendo envolvidos, pelo menos na literatura
especializada nacional;
diferente do panorama de 1998, que destacou a ocorrência de iniciativas
isoladas sem fundamentação teórica, considera-se que a literatura nacional
evoluiu muito no período pós-1998, principalmente pela ocorrência de estudos
acadêmicos desenvolvidos na área de ciência da informação e de engenharia de
produção.
Entende-se, portanto, que os estudos referentes à aplicação da gestão da
qualidade em serviços de informação no Brasil têm se mostrado em crescente
evolução, dos primeiros trabalhos publicados até os dias atuais, como pode ser
observado na literatura analisada. Espera-se que a presente revisão de
literatura possa, de forma direta, apoiar outros pesquisadores do tema,
engrandecendo desta forma este tema na literatura nacional e oportunizando sua
aplicação prática em serviços de informação.