Gestão do conhecimento ou gestão de organizações da era do conhecimento? Um
ensaio teórico-prático a partir de intervenções na realidade brasileira
INTRODUÇÃO
A transição da velha rigidez dos átomos para a fluidez dos bits nas
organizações vem suscitando inúmeras discussões a respeito da miríade de novas
terminologias, abordagens gerenciais e ferramentas criadas na denominada Era da
Informação ou Era do Conhecimento. Ao mesmo tempo, observa-se que os vultosos
investimentos realizados pelas organizações modernas no desenvolvimento de
sistemas de informação são direcionados quase que exclusivamente para a
tecnologia em si, enquanto pouca ou quase nenhuma atenção é dirigida à
informação, às pessoas e seus conhecimentos e à cultura organizacional.
Uma breve análise do cenário atual permite algumas constatações. Em primeiro
lugar, a emergência de um novo paradigma tecno-econômico baseado em informação,
conhecimento e inovação, junto com a constatação de que as organizações
contemporâneas têm investido, cada vez mais, em bens e ativos típicos da era
informacional (hardware, software, telecomunicações e redes) do que em bens e
ativos típicos da era industrial (máquinas e equipamentos para engenharia de
produção). Além disto, existe a percepção, por parte das cúpulas dirigentes das
empresas de que a informação e o conhecimento consolidam-se como os principais
fatores de diferenciação para a competitividade organizacional. Como
conseqüência, observa-se o surgimento de um sem fim de novas abordagens e/ou
ferramentas gerenciais atinentes às questões da informação e do conhecimento
nas organizações, sob a égide da área denominada gestão do conhecimento
organizacional. Dentre essas abordagens e/ou ferramentas, destacam-se as
seguintes: gestão de conteúdo, gestão integrada de recursos informacionais,
gestão estratégica da informação, gestão do capital intelectual, aprendizagem
organizacional, inteligência competitiva, ontologia e memória organizacionais,
dentre outros.
Nesse contexto de complexidade e mudanças, constata-se a existência de
indefinições conceituais e de toda uma controvérsia acerca da epistemologia da
área que vem sendo denominada de Gestão do Conhecimento ' GC - ou Knowledge
Management. Trata-se de uma deriva semântica pop-management ou de uma
verdadeira mudança conceitual? Seria este mais um caso de vinhos velhos em
garrafas novas ou significa de fato um repensar das estratégias e práticas de
gestão para as organizações da era do conhecimento?
A discussão terminológica acerca da GC alimenta-se da indefinição e de toda a
controvérsia sobre os conceitos e linhas divisórias entre dado, informação,
conhecimento e sabedoria - já de longe discutidas, sem consenso, no campo da
sociologia, filosofia, teoria organizacional, ciência da informação e ciência
da computação. Tal discussão epistemológica não é objetivo deste trabalho,
embora deva ser reconhecido que seu cunho filosófico seja relevante, instigante
e intelectualmente estimulante.
A problemática acima descrita motivou a realização de pesquisa com vistas a
responder as seguintes perguntas:
Uma vez que a informação e o conhecimento se consolidam como os
principais fatores de diferenciação para a competitividade
organizacional dos tempos atuais, como as organizações brasileiras
entendem, definem, implementam, praticam e avaliam a GC? Que
motivações as levaram a essas iniciativas e o que elas esperavam
alcançar?
Assim, o presente trabalho descreve as motivações, concepções, práticas
gerenciais, ênfases, métricas, indicadores e resultados de programas de GC em
três organizações atuantes no Brasil. Além de um esforço analítico e
descritivo, os autores propõem um modelo ou mapa conceitual integrativo.
Uma premissa deste ensaio é que o conhecimento só existe na mente humana e no
espaço imaginário entre mentes criativas em sinergia de propósitos. O
conhecimento, fora deste contexto, é visto como informação e a GC ganha terreno
a partir da compreensão de que sua terminologia é metafórica, uma vez que o
conhecimento é inerente aos seres humanos e não se transfere ou se compartilha
com facilidade ou espontaneidade.
Diversos autores têm discutido, direta ou indiretamente, questões relacionadas
ao conhecimento em ambientes organizacionais. Em Drucker (1993) encontra-se a
assertiva de que o conhecimento, em detrimento dos fatores de produção capital
e trabalho, é a fonte do único recurso significativo na sociedade pós-
capitalista. Davenport e Prusak (1998) acrescentam que a única vantagem
sustentável de uma empresa é o que ela coletivamente sabe, a eficiência com que
ela usa o que sabe e a prontidão com que ela adquire e usa novos conhecimentos.
Nessa mesma linha de argumentação, Stewart (1998) inicia seus trabalhos sobre o
capital intelectual afirmando que "a informação e o conhecimento são as armas
termonucleares competitivas de nossa era". Em contraposição, Senge (1990)
sugere que as empresas são incapazes de funcionar como organizações baseadas no
conhecimento e Stewart (2002), ao considerar excessivo o gasto das empresas em
programas de GC, afirma que as empresas falham em descobrir qual é o
conhecimento de que necessitam e em como administrá-lo.
Muitos pesquisadores enunciaram definições para a GC. Marchand e Davenport
(2004) reconhecem que há um grande componente de gestão da informação na GC e
que grande parte do que se faz passar por GC é, na verdade, gestão da
informação. Contudo, ainda segundo esses autores, a verdadeira GC vai, em
muitos sentidos, bastante além da gestão da informação, ao endereçar aspectos
como a criação e o uso do conhecimento. Wilson (2002) examinou a miríade de
conceitos atribuídos à GC, re-afirmando toda a polêmica e controvérsia
terminológica.
Apesar de toda a polêmica e controvérsia a respeito do termo gestão do
conhecimento, Alvarenga Neto (2002) concluiu, com base em sua pesquisa sobre
programas de GC, que essa área tem surpreendido aqueles que apostaram em um
modismo e tem se estabelecido como um consistente paradigma gerencial do século
que se inicia. A gestão estratégica da informação, considerada como ponto de
partida para a implementação de programas de GC, norteia e valida amplamente
outras atividades e outros temas vinculados à GC, como a gestão do capital
intelectual, a aprendizagem organizacional, a criação e transferência do
conhecimento, a gestão da inovação, as comunidades de prática e a inteligência
competitiva, dentre outros.
A partir dos recortes delineados, são dois os pressupostos deste trabalho. O
primeiro é que grande parte do que se convenciona chamar GC é, na verdade,
gestão da informação e a gestão da informação é apenas um dos componentes da
GC. Contudo, acredita-se que a GC vá além da pura gestão da informação por
incluir e incorporar outros aspectos, temas, abordagens e preocupações, como as
questões de criação, uso e compartilhamento de informações e conhecimentos,
além da criação de contextos organizacionais favoráveis, dentre outros.
Acredita-se que um modelo ou mapa conceitual integrativo de GC possa ser
formulado a partir de três concepções básicas, a saber: (a) uma concepção
estratégica da informação e do conhecimento; (b) a introdução de tal estratégia
nos níveis tático e operacional através das várias ferramentas e abordagens
gerenciais e (c) a criação de um espaço organizacional para o conhecimento, o
ba ou contexto capacitante, que constitui o conjunto de condições favoráveis
para o uso das melhores informações e dos melhores conhecimentos disponíveis..
O contexto: Era da Informação e Organizações do Conhecimento
A emergência de um paradigma tecno-econômico ' PTE - baseado em inovação,
informação e conhecimento, bem como a crescente consolidação de tecnologias
como a microeletrônica, a tecnologia de informação e as redes de computadores,
trazem à tona questões complexas e multifacetadas para as organizações
contemporâneas. Um PTE, de acordo Lastres e Albagli (1999), indica o resultado
do processo de seleção de uma série de combinações viáveis de inovações
(técnicas, organizacionais e institucionais), as quais provocam transformações
que permeiam e influenciam o comportamento de toda a economia.
Três características definem um conjunto de inovações que se encontram no cerne
de cada paradigma, a saber: (a) amplas possibilidades de aplicação; (b) demanda
crescente e (c) queda persistente do seu custo unitário. Em sintonia com essas
idéias, Castells (2000) sugere que essa mudança contemporânea de paradigma pode
ser vista como a transferência de uma tecnologia baseada principalmente em
insumos baratos de energia para uma outra que se baseia predominantemente em
insumos baratos de informação, os quais resultam do avanço da tecnologia
microeletrônica e de telecomunicações. Ao apontar para a economia
informacional, esse autor assevera a importância do conhecimento e da
informação ao destacá-los como principais características dos novos sistemas
econômicos avançados, transcendendo inclusive a importância econômica de outras
eras.
De acordo com Stewart (1998), o marco zero da era informacional ou do pós-
industrialismo, pelo menos no contexto da economia americana, é o ano de 1991.
A análise do autor tomou como base os dispêndios de capital nos Estados Unidos,
no período 1965-1991. Comparou-se o dispêndio das empresas americanas com bens
de capital típicos da era industrial com o dispêndio de capital com
equipamentos de informação, incluindo-se aí computadores e equipamentos de
telecomunicações. Conclui-se que, a partir de 1991, as empresas passam a gastar
mais com equipamentos que coletam, processam, analisam e disseminam informações
e menos com equipamentos típicos da era industrial, como máquinas e
equipamentos de engenharia de produção. Embora esses dados reflitam o contexto
da economia americana, a era informacional tem chegado, ainda que com certo
atraso e ineqüidades, a diversos países em desenvolvimento (ARUNACHALAM, 1999).
O desafio organizacional contemporâneo traduz-se em aprender a nadar em um
oceano de informações, prospectando e coletando informações relevantes para a
sobrevivência organizacional e para a compreensão de um ambiente de negócios
cada vez mais dinâmico e mutável. Destarte, reafirma-se que a evidência deste
novo paradigma sugere também a emergência de organizações cujos principais
fatores de competitividade sejam pautados no binômio informação-conhecimento.
Afinal, qual o significado de organizações do conhecimento ou organizações da
era do conhecimento? Para Garvin (1993), uma empresa baseada em conhecimento é
uma organização de aprendizagem que reconhece o conhecimento como recurso
estratégico e cria conhecimento que pode ser processado internamente e
utilizado externamente, aproveitando o potencial de seu capital intelectual,
onde o trabalhador do conhecimento é o componente crítico.
Os trabalhadores da organização do conhecimento são profissionais altamente
qualificados e com alto grau de escolaridade e, dentre suas habilidades,
destarte reunidas em modelos ou portfolios de competências de conhecimento,
destacam-se o desenvolvimento e a consolidação de boas habilidades
organizacionais, boas habilidades em tecnologia de informação e capacidade
analítica de solução de problemas. As habilidades cognitivas e as habilidades
comportamentais desses trabalhadores contribuem para a formação e o
fortalecimento de competências de conhecimento que, aliadas à criatividade e à
inteligência, conferem à organização atributos distintivos únicos e
específicos.
A ação organizacional tem suas origens na prospecção do ambiente organizacional
- interno e externo - em busca de informações relevantes para a compreensão dos
negócios, clientes e demais atores ambientais em suas interações complexas. Tal
informação pode reduzir ou aumentar a incerteza e, na hipótese da ocorrência da
última, cabe à organização a tarefa de promover rodadas sucessivas de
negociação e interpretação até que uma construção coletiva ou entendimento
compartilhado seja alcançado. A informação retida pelo processo de construção
de sentido vitoriosa na proposição ou melhoria de produtos e serviços e na
análise rigorosa, meticulosa e sistemática dos processos organizacionais. Tais
processos contribuem para a melhoria das decisões e resultam no comprometimento
organizacional com determinados cursos de ação.
Os benefícios da administração dos recursos e processos de informação para as
organizações do conhecimento são enumerados por Choo (1998). Segundo esse
autor, tais organizações (a) tornam-se capazes de adaptação às mudanças do
ambiente no momento adequado e de maneira, (b) empenham-se na aprendizagem
constante e (c) mobilizam o conhecimento e a experiência de seus membros para
gerar inovações.
De acordo com Sveiby (1998), as organizações do conhecimento possuem algumas
características precípuas. A primeira delas é a que se refere à qualificação do
corpo de colaboradores, responsáveis pela conversão de informação em
conhecimento, utilizando-se de suas próprias competências, com ou sem auxílio
de fornecedores de informação ou de conhecimento especializado. Uma segunda
característica dessas organizações é o fato de elas possuírem poucos ativos
tangíveis, ao passo que seus ativos intangíveis representam mais valor ou o
verdadeiro valor. O QUAD._1 ilustra essas idéias e demonstra que a
classificação dos ativos intangíveis obedece a uma estrutura tripartite,
constituída pela estrutura externa, estrutura interna e competência individual.
As organizações do conhecimento não são ilhas, e sim redes de nós e conexões
aparentemente sem limites que constituem redes de significações, conhecimentos
e negócios. Neste contexto organizacional, o conteúdo do trabalho também
experimenta mudanças significativas, uma vez que informação e conhecimento são
tanto a matéria prima quanto o resultado do trabalho.
Os produtos da organização do conhecimento são intensivos em conhecimento e,
via de regra, experimentam custos de desenvolvimento muito altos, custos de
produção relativamente baixos e custos marginais decrescentes. Por exemplo, as
mais recentes drogas da indústria farmacêutica possuem pouca matéria prima e
muito conhecimento embutido, resultado de processos de P&D intensivos e de
conhecimentos multidisciplinares combinados. Em contraste, a máquina a vapor,
uma inovação radical à sua época, demandava muita matéria prima, consumia horas
de trabalho em sua construção e continha relativamente pouco conhecimento
quando comparado ao conteúdo de conhecimento embutido nos produtos da
contemporaneidade.
Pereira (2002) propõe bases conceituais de um modelo de gestão para
organizações baseadas no conhecimento e seu ponto de partida é uma proposta de
arquitetura organizacional estruturada em quatro pilares, a saber: (a)
estratégia, que foca o conhecimento como a competência essencial da
organização; (b) estrutura, que busca a flexibilidade para a criação e
disseminação do conhecimento, (c) tecnologia/processos, que incluem as funções
de identificação, captura, seleção e validação, organização e armazenagem,
compartilhamento, acesso e distribuição, aplicação e criação do conhecimento e
(d) pessoas. Esse autor afirma ainda que tais funções são operacionalizadas
através de práticas de gestão do conhecimento, tais como a aprendizagem
organizacional, gestão do capital intelectual, inteligência empresarial, dentre
outros. Esses e outros temas serão também aprofundados em seções ulteriores do
presente trabalho. O QUAD2. abaixo, compara, de maneira sintética, os
princípios da organização do conhecimento com os princípios organizacionais do
paradigma industrial.
Feitas essas considerações, e partindo da premissa que organizações do
conhecimento são organizações voltadas para a gestão do conhecimento, explorar-
se-á o tema em maior profundidade nas linhas que se seguem.
Gestão do conhecimento: de deriva semântica a proposta de mapeamento conceitual
integrativo
Embora muita atenção acadêmica e profissional tenha sido devotada à GC na
última década, o conceito ainda não está plenamente consolidado. De fato, a
expressão aparenta ser usada de maneiras diferentes em vários domínios. Além
disto, cada domínio clama para si que a compreensão parcial do conceito
represente a sua articulação definitiva (DAVENPORT e CRONIN, 2000; ALVARENGA
NETO, 2002). A propósito dessa indefinição, Davenport e Cronin (2000) indagam:
trata-se de uma deriva semântica ou de mudança conceitual? Esses exploram o
conceito de GC no contexto da biblioteconomia e ciência da informação, a
engenharia de processos e a teoria organizacional.
O modelo de Davenport e Cronin (2000), aqui denominado tríade da GC, pode ser
utilizado para identificar conflitos ou embates territoriais e contribuir para
um entendimento coletivo entre os atores do espaço da GC nas organizações. No
primeiro domínio, o da biblioteconomia e ciência da informação, a GC é
predominantemente vista como gestão da informação. No segundo domínio, da
engenharia de processos, a GC é vista como a gestão do know-how e
freqüentemente igualada à tecnologia da informação. Por último, no domínio da
teoria organizacional, a GC implica uma mudança conceitual maior, ou seja, o
conhecimento deixa de ser visto como recurso e passa ser considerado uma
capacidade organizacional. Sob essa última perspectiva, o que é gerenciado não
é um recurso, mas o contexto que tal prontidão é manifestada e tal contexto é
visto como um espaço de interação entre os conhecimentos tácitos e explícitos
de todos os membros de uma organização.
Uma vez estabelecidos alguns fundamentos essenciais, aspectos introdutórios e
eixos temáticos, apresenta-se a proposta de um mapeamento conceitual
integrativo de gestão do conhecimento que pode ser expresso através da
convergência de três pilares: (a) o modelo proposto por Choo (1998), (b) a
idéia do contexto capacitante como sugerida por Von Krogh, Ichijo e Nonaka
(2001) e (c) a metáfora do guarda-chuva conceitual da GC.
Para Choo (1998), "organizações do conhecimento" são aquelas que fazem uso
estratégico da informação para atuação em três arenas distintas e imbricadas, a
saber: (a) sensemaking ou a construção de sentido, (b) criação de conhecimento,
por intermédio da aprendizagem organizacional e (c) tomada de decisão, com base
no princípio da racionalidade limitada de Herbert Simon. Construção de sentido,
no presente contexto, refere-se ao processo pelo qual as organizações resolvem
a ambigüidade que freqüentemente envolve as mensagens e sinais oriundos do
ambiente organizacional externo (WEICK, 1995)
Sob o aspecto de construção de sentido, Choo (1998) afirma que o objetivo
imediato do sensemaking é permitir aos membros da organização a construção de
um entendimento compartilhado do que é organização e o que ela faz. Reflexões
estratégicas devem ser feitas acerca da missão, da visão, dos valores e da
cultura organizacional e deve-se também abrir espaço para que as pessoas
construam significado para seus trabalhos e suas vidas. O objetivo de longo
prazo do sensemaking é a garantia de que as organizações se adaptem e continuem
a prosperar em um ambiente dinâmico através da prospecção do ambiente
organizacional em busca de informações relevantes que as permitam compreender
mudanças, tendências e cenários acerca de clientes, fornecedores, concorrentes
e demais atores ambientais.
As organizações enfrentam desafios como a redução da incerteza e o
gerenciamento da ambigüidade. Nesse contexto, a inteligência competitiva e do
concorrente, a monitoração ambiental, a prospecção tecnológica, a pesquisa de
mercado e atividades correlatas são iniciativas empresariais que têm como um de
seus objetivos a construção de sentido a respeito de questões para as quais não
existem respostas claras.
A criação do conhecimento é o processo pelo qual organizações criam ou
adquirem, organizam e processam a informação, com o propósito de gerar novo
conhecimento através da aprendizagem organizacional. O novo conhecimento
gerado, por sua vez, permite que a organização desenvolva novas habilidades e
capacidades, crie novos produtos e serviços, aperfeiçoe os antigos e melhore
seus processos organizacionais. O QUAD._3 apresenta uma visão comparativa de
modelos de criação de conhecimento, conforme autores selecionados.
O terceiro componente do modelo de Choo (1998) é a que se refere ao processo
decisório. Aqui, a empresa deve escolher a melhor opção dentre todas as que se
configuram e perseguí-la com base na estratégia empresarial. O processo
decisório nas organizações, conforme a visão de March e Simon (1975), é
caracterizado pelo princípio da racionalidade limitada. Esse princípio,
conforme Choo (1998) e March e Simon (1975) pode resumido com base no fato de
que: (a) o processo decisório é dirigido pela busca de alternativas que sejam
boas o bastante, em detrimento da busca pela melhor alternativa existente; (b)
a escolha de uma alternativa implica a renúncia das demais alternativas e a
criação de uma seqüência de novas alternativas ao longo do tempo e (c) uma
decisão completamente racional iria requerer informações além da capacidade de
coleta da empresa e também um processamento de informações além da capacidade
cognitiva dos seres humanos.
A criação do conhecimento organizacional é a ampliação do conhecimento criado
pelos indivíduos, se satisfeitas as condições contextuais que devem ser
propiciadas pela organização. Isso é o que VON KROGH, ICHIJO & NONAKA
(2001) denominam contexto capacitante. Sob essa ótica, a compreensão da palavra
gestão, quando da sua associação com a palavra conhecimento, não deve ser
entendida como sinônimo de controle. Este é um passo extraordinariamente
complexo, uma vez que crescemos, trabalhamos e aprendemos em uma sociedade
industrial, inserida em um modo de produção capitalista que impingiu à palavra
gestão, no contexto da práxis empresarial, o significado mais nefasto para a
palavra controle. Gestão, no contexto capacitante, significa promoção de
atividades criadoras de conhecimento em nível organizacional e a GC assume uma
nova perspectiva hermenêutica. Assim, gestão do conhecimento passa a significar
gestão para o conhecimento. A construção de um contexto capacitante, para
Nonaka e Takeuchi (1997) e Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2001), depende dos
seguintes fatores: intenção ou visão holística do conhecimento organizacional,
cultura e comportamento organizacionais, caos criativo, redundância, variedade
de requisitos, mobilização dos ativistas do conhecimento, autonomia e delegação
de poderes, além de questionamentos acerca da estrutura organizacional, layout
e hierarquia, dentre outros.
Finalmente, a metáfora do guarda-chuva conceitual da GC pressupõe que, debaixo
do mesmo, são abarcados vários temas, idéias, abordagens e ferramentas
gerenciais, concomitantemente distintas e imbricadas. Dentre essas, como já foi
dito, podem ser destacados a gestão estratégica da informação, gestão do
capital intelectual, aprendizagem organizacional, inteligência competitiva e
comunidades de prática, dentre outros. São justamente as inter-relações entre
esses vários temas que possibilitam e delimitam a formação de um possível
referencial teórico de sustentação, para a GC. Ou seja, defende-se aqui a idéia
de que a GC seja vista como uma área guarda-chuva. Assim, o feedback do modelo
se dá pela classificação dos temas inseridos no guarda-chuva dentro do modelo
de Choo (1998). A inteligência competitiva é uma iniciativa de sensemaking ou
construção de sentido, enquanto a gestão estratégica da informação e as
comunidades de prática se encaixam na temática de criação de conhecimento.
Uma vez apresentados alguns dos principais modelos associados à gestão do
conhecimento, serão apresentados, a seguir, visões e iniciativas concretas das
empresas no campo da GC.
A Gestão do Conhecimento em empresas que operam no Brasil
A estratégia de pesquisa qualitativa, aqui relatada, baseou-se em estudos de
casos múltiplos aplicados a estudos organizacionais e gerenciais (YIN, 2001;
EISENHARDT, 1989). O estudo foi feito em três empresas que já haviam
implantado, à época da pesquisa, programas de gestão do conhecimento. Essas
empresas são o Centro de Tecnologia Canavieira ' CTC -, a Siemens do Brasil, e
a PricewaterhouseCooper - PwC -.
A escolha das empresas é importante por mais de um motivo. Em primeiro lugar, a
literatura sobre gestão do conhecimento privilegia o relato de experiências
internacionais ' principalmente de empresas americanas, britânicas e japonesas.
Portanto, acredita-se que o presente estudo possa contribuir para um melhor
entendimento da nossa realidade nacional. Além disto, ao focalizar empresas
onde já foram implantados programas de gestão do conhecimento, a pesquisa
explora questões concretas a respeito dos objetivos, processos e resultados da
GC no contexto empresarial brasileiro. Todos os profissionais entrevistados
estão envolvidos direta ou indiretamente com tais programas, seja na qualidade
de dirigentes das empresas, como responsáveis pela GC ou como beneficiários de
tais programas.
As fontes de dados utilizadas na pesquisa foram, essencialmente, entrevistas
semi-estruturadas. Foram realizadas 17 entrevistas com profissionais atuantes
nos níveis estratégico, tático e operacional das empresas. Abaixo encontram-se
discriminados, por empresa, os cargos dos entrevistados.
Centro de Tecnologia Canavieira:
* Gestor do Conhecimento (líder do programa de gestão do conhecimento)
* Analista de Informações (membro da equipe de gestão do conhecimento)
* Diretor Superintendente (gestor de nível estratégico)
* Coordenador de Transferência de Tecnologia (gestor de nível tático)
* Coordenador de Tecnologia (gestor de nível tático)
* Consultora de Recursos Humanos (profissional de nível operacional).
Siemens do Brasil:
* Gerente de Gestão do Conhecimento e da Informação (líder do programa de
gestão do conhecimento)
* Membro da equipe de gestão do conhecimento Gerente de Recursos Humanos
(gestor de nível tático)
* Diretor Regional (gestor de nível estratégico)
* Gerente de Vendas (gestor de nível tático)
* Engenheiro de aplicação (profissional de nível operacional).
PricewaterhouseCooper
* Coordenador de GC para América do Sul e Central (líder do programa de
gestão do conhecimento)
* Gerente de Documentação e Informação (membro da equipe de gestão do
conhecimento)
* Diretora do Departamento de Auditoria e Recursos Humanos (gestor de nível
estratégico)
* Gerente Sênior de Consultoria Tributária (gestor de nível tático)
* Gerente de Auditoria (gestor de nível tático)
* Auditor Sênior (profissional de nível operacional).
As 37 questões do roteiro de entrevistas focalizaram aspectos relacionados com
a gestão do conhecimento nas empresas, dos quais merecem destaque os
motivadores para a implantação da gestão do conhecimento, a natureza do
relacionamento da GC com a estratégia empresarial, o processo de criação de
conhecimento, a natureza do processo decisório e os principais impactos
organizacionais da GC.
A investigação revelou que os principais motivadores para a GC nas organizações
estudadas podem ser resumidas nos seguintes aspectos: (a) inexistência de
práticas de compartilhamento e proteção de informações e conhecimentos, levando
à re-invenção da roda e à duplicação de esforços, (b) problemas com a coleta,
tratamento, organização e disseminação de informações, denotando ausência de
uma gestão estratégica da informação, (c) reconhecimento de que a informação e
o conhecimento são os principais fatores de competitividades dos tempos atuais
e (d) premência da criação de um contexto capacitante na organização como forma
de se lidar com questões culturais e comportamentais. Abaixo encontram-se
depoimentos dos entrevistados, nas empresas estudadas, os quais confirmam tais
constatações:
"[...]cada área da empresa tinha métodos idiossincráticos de
armazenamento, gestão e explicitação de conhecimentos. [...]a empresa
está hoje preocupada com o conhecimento porque ele é hoje o principal
fator de competitividade. [...] havia problemas na recuperação da
informação." (Coordenador de transferência de tecnologia do CTC)
"[...] trinta anos gerando tecnologia e, ao longo do tempo, com o
turnover ou aposentadoria, o conhecimento se perdia. [...]a perda de
conhecimento gerado era crítico: ineficientes na captura, pessoas
levavam seus arquivos próprios com elas..." (Diretor Superintendente
do CTC)
"[...]conhecimentos e informações importantes se perdiam e não eram
compartilhados." (Gerente de auditoria da PwC)
"[...]o maior ativo da PwC é o conhecimento das pessoas, fazer com
que o conhecimento de seus profissionais seja compartilhado."
(Diretora do departamento de auditoria e de recursos humanos da PwC)
"[...] acesso rápido aos conhecimentos da organização é um
diferencial competitivo." (Gerente de vendas da Siemens)
A pesquisa evidenciou a ausência de consenso acerca de uma definição para a GC
nas organizações estudadas. Contudo, alguns termos são comuns nos depoimentos
dos entrevistados. Esses termos recorrentes são: processo, informação,
conhecimento, inovação, explicitação, registro, compartilhamento, cultura
organizacional, acesso e utilização, dentre outros. Eis alguns trechos de
depoimentos que confirmam tal assertiva:
"[...] não há consenso sobre o que é ou deva ser GC na organização '
é um desafio. [...] GC é um processo, tem fases mas não tem fim.
[...] processo que visa facilitar compartilhamento, proteção de
ativos intangíveis, dentre os quais o conhecimento." (Gestor do
conhecimento do CTC)
[...] não é muito claro, mas é tudo aquilo que se gerencia para a
obtenção do conhecimento, inovação." (Diretor superintendente do CTC)
"[...] processo que contribui para colocar os conhecimentos dos
colabores em rede." (Diretor Regional da Siemens)
"[...] não é milagre, não é um 'knowledge unlocker plus'. É muito
mais uma mudança da filosofia da gestão estratégica da organização.
[...] ferramentas para colaboração e criar canais..." (Gerente de
gestão do conhecimento e da informação da Siemens)
"[ ] GC é processo, não tem fim. [...] processo para captura de todo
o conhecimento que permeia a empresa. [ ] disponibilizar, usar e
compartilhar para o bem da empresa." (Gerente de documentação e
informação da PwC)
"[ ]GC é como sustentar um ambiente onde há criação, desenvolvimento,
troca e disseminação de conhecimentos estratégicos para a organização
' é criar o contexto, é um processo que deveria permear todos os
processos de negócios da organização." (Coordenador de GC para
América do Sul e Central da PwC)
Em seguida, com o objetivo de verificar a proposta intitulada guarda-chuva
conceitual de GC, os entrevistados foram solicitados a responder quais eram os
aspectos, abordagens gerenciais e ferramentas considerados sob a égide da área,
programa ou projeto de GC, em suas respectivas organizações. As respostas foram
agrupadas nas seguintes categorias: (a) monitoração ambiental, inteligência
competitiva, pesquisa de mercado; (b) gestão estratégica da informação, gestão
eletrônica de documentos, mapeamento de processos, (c) gestão do capital
intelectual, competências, pessoas e ativos intangíveis; (d) comunidades de
prática, reais e virtuais, (e) aprendizagem organizacional, inclusive e-
learning; (f) apoio ao processo decisório e (g) criação de contexto favorável
ou capacitante:
"[...] sim, informações do exterior, produtos da concorrência,
tendências de mercado, clippings [...] há também uma coleta informal
feita por colaboradores que 'pinçam' algo no mercado e colocam na
intranet ' até mesmo boatos!" (Gerente de Vendas da Siemens)
"[...] a GC é área estratégica ligada à diretoria, levando
informações que subsidiam o processo decisório, é assessoria à
diretoria." (Gestor do conhecimento do CTC)
"[...] implementar uma rigorosa taxonomia para todo o conteúdo
organizacional." (Pesquisa documental, CTC, 2005)
Os entrevistados foram inquiridos acerca da ênfase ou aspectos prioritários da
GC em suas organizações. Observou-se que a fase inicial e ponto de partida para
quaisquer iniciativas de GC, que é gestão estratégica da informação, estava em
estágios de quase maturidade, com a consciência de que esse deve ser
considerado um processo permanente.
As organizações procuravam avançar para aspectos relativos ao compartilhamento,
à cultura organizacional e à criação de contextos capacitantes. Ressalta-se a
existência de várias iniciativas genuinamente brasileiras adotadas por tais
organizações neste sentido, que são o Momento Cultural no CTC e o Happy Hour do
Saber na Siemens. Tal iniciativa é
"[...] é uma prática informal de palestras, aonde são compartilhados
conhecimentos essenciais da organização de forma mais "tácita" e
espontânea. Trata-se de uma iniciativa local específica, que se
enquadra na política geral. As palestras tem duração de uma hora e
são ministradas por colaboradores da empresa. (todos podem ser
palestrantes: colaboradores, estagiários e terceiros)" (Pesquisa
Documental, Siemens do Brasil, 2005)
Os resultados demonstraram que a avaliação de práticas de GC, suas métricas e
indicadores, envolve um misto de elementos qualitativos e quantitativos. As
organizações pesquisadas adotaram posturas e práticas gerenciais avançadas,
como o Balanced Scorecard, também conhecido como marcador balanceado e o EVA,
ou valor econômico agregado. Como a GC adquire um significado de um repensar da
gestão para as organizações da era do conhecimento, as organizações deste
estudo, além de adotarem procedimentos já existentes, criaram também suas
próprias métricas e indicadores. Neste contexto, podem ser destacados a
mensuração do número de idéias por especialidade no CTC, o número de horas/ano
de educação continuada e capacitação pactuada com colaboradores na PwC, bem
como as mensurações das práticas de compartilhamento no CTC e na Siemens. Tais
métricas possuem ressonância de discurso nos valores organizacionais ' que
incluem termos como aprendizagem, compartilhamento e inovação - e nas práticas
de recrutamento, seleção, desenvolvimento e retenção de pessoas.
Outras iniciativas próprias na Siemens do Brasil, utilizadas para acompanhar
estrategicamente a evolução da GC, são o Strategic Skill Gap e o KS ENABLED.
Conforme dados obtidos mediante pesquisa documental na empresa, O Strategic
Skill Gap
"consiste em abrir o mapeamento estratégico dos produtos, das
soluções e dos serviços, nas dimensões da tendência de mercado e da
relevância para o negócio, em termos de competências estratégicas
essenciais para o domínio destes produtos, soluções e serviços. A
partir desta abertura, a organização avalia com os colaboradores, de
forma a saber se, para estas competências estratégicas, eles são sub-
qualificados, ou supra-qualificados. Os resultados deste mapeamento
permitem dirigir estrategicamente o investimento em aquisição de
conhecimento (ou seja, em formação), e facilitar práticas de job-
rotation (socialização de conhecimento).
Já a segunda métrica, conhecida na empresa como KS 'Enabled,
"...representa o quanto a organização partilha adequadamente o seu
conhecimento (por unidade de negócio e no geral). Para isso, são
medidas duas grandezas, que são a cultura e a prontidão para
compartilhar e o uso das práticas e infra-estruturas adequadas no
momento adequado. Um bom resultado no KS-enabled depende de um bom
resultado em ambos os valores (tais métricas são específicas de GC,
enquanto o BSC considera outros indicadores)".
Embora possam ser consideradas avançadas quanto ao uso de métricas
quantitativas direcionadas para a GC, as organizações estudadas afirmam que não
se pode avaliar a gestão do conhecimento somente sob uma perspectiva
quantitativa, uma vez que se está gerenciado mudanças culturais,
comportamentais e de atitudes.
Por fim, dentre os resultados auferidos pelas organizações em seus programas de
GC, destacam-se os seguintes: (a) a redução do ciclo de inovações e a
aceleração do tempo de entrega de soluções ao mercado, (b) ampliação da fatia
de mercado, aumento do portfolio de negócios e aumento da carteira de clientes,
(c) melhoria na colaboração entre as pessoas e equipes e facilidade de se
localizar competências, (d) diminuição do re-trabalho e redução de custos, (e)
preservação da memória organizacional e aumento da potência de aprendizagem
organizacional e (f) antecipação de movimentos estratégicos da concorrência.
CONCLUSÕES
Este artigo relata as motivações, concepções, práticas gerenciais, ênfases,
métricas, indicadores e resultados de GC em programas efetivamente implantados
em três organizações atuantes no Brasil. Com base nesses elementos, busca-se a
proposição de um modelo ou mapa conceitual integrativo. Tal proposta, longe de
buscar uma solução definitiva ou um modelo acabado, procura contribuir para a
formulação de um melhor entendimento do território da gestão do conhecimento,
bem como suas fronteiras e conexões. Elaborou-se, para esse fim, um mapa ou
modelo integrativo de GC adaptado daquele originalmente proposto por Choo
(1998). A FIG.1, abaixo, apresenta esta proposta de mapeamento conceitual
integrativo.
Outro aspecto que se procurou enfatizar no presente trabalho, considerado
fundamental para o avanço da pesquisa sobre GC, é o abandono da estéril
dissensão derivada de insolucionáveis discussões terminológicas.
As conclusões deste trabalho sugerem que não se gerencia conhecimento, apenas
se promove ou se estimula o conhecimento através da criação de contextos
organizacionais favoráveis. Assim, a GC assume o significado de uma gestão de e
para o conhecimento. Dessa forma, a GC revela-se como um repensar da gestão
para as organizações da era do conhecimento. De fato, GC significa gestão na
era do conhecimento. Tal afirmativa resulta do entendimento de que a informação
e o conhecimento constituem-se como os principais fatores de competitividade
dos tempos atuais para organizações e nações. Em outras palavras, as
organizações pesquisadas adotantes da GC não gerenciam o conhecimento na
acepção estrita e terminológica - apenas se capacitam para o conhecimento -
visto que reconhecem que o conhecimento só existe na mente humana e no espaço
imaginário entre as fronteiras de mentes criativas em sinergia de propósitos.
De fato, o conhecimento pode ser apenas promovido ou estimulado e, assim sendo,
o que se gerencia são as condições favoráveis à emergência do novo, que são
inovação, criatividade, aprendizagem e compartilhamento de informações e
conhecimentos relevantes; ou seja, o contexto capacitante.
A GC não se equivale à tecnologia de informação, embora possa ser vista como um
conjunto de práticas sustentadas pela TI. É fato que nem todas as iniciativas
de GC envolvem tecnologias, como se pode comprovar pelas iniciativas
genuinamente brasileiras relatadas neste artigo As conclusões da pesquisa aqui
relatada também sugerem que os principais desafios para as organizações
comprometidas com a GC são aqueles relativos à cultura organizacional,
comportamento humano e criação do contexto capacitante, além da premência da
criação de um conjunto de indicadores para se medir os retornos e benefícios de
GC.
Ressalta-se também que a GC é altamente política uma vez que, ao se tratar das
questões de informação e conhecimento, toca-se diretamente nas questões
atinentes ao poder no cerne da organização. É uma mudança de modelo mental, do
mote informação é poder para a máxima compartilhar é poder. GC requer gestores
do conhecimento e é um processo que não tem fim.
A discussão teórica acerca de uma segunda geração da GC, voltada ao capital
humano e à criação do contexto capacitante, já é realidade nas organizações
brasileiras estudadas. Tal confirmação revelou-se na seriedade e nos esforços
dessas organizações na construção e consolidação de tal contexto. Por fim, não
se observou grandes diferenças na GC em empresas de diferentes setores da
economia e diferentes atividades-fim. De fato, embora as organizações deste
estudo pertençam a diferentes setores da economia brasileira, seus programas de
GC são mais semelhantes do que diferentes no que se refere ao seu foco e
escopo.
Espera-se que novos estudos sejam realizados para a ampliação da pesquisa e a
investigação mais aprofundada de indicadores de desempenho concernentes a
avaliação de ativos intangíveis e patrimônios de conhecimento. Portanto,
sugere-se que futuros estudos a respeito dos processos de GC nas organizações e
de seus respectivos impactos nas pessoas, em especial os efeitos de natureza
comportamental.
Se, por um lado, o método de estudo de casos aqui adotado permite investigar em
profundidade uma enorme gama de processos organizacionais relacionados com a
gestão do conhecimento, não se pode desconhecer a fragilidade dessa abordagem
metodológica quanto à generalização de resultados. Portanto, além de se esperar
que futuros estudos focalizem outros contextos organizacionais e novas questões
relacionadas com o tema aqui explorado, recomenda-se a adoção de estratégias
metodológicas que sejam capazes de explorar ângulos complementares da gestão da
informação e do conhecimento em contextos organizacionais.