O "nó" dos fundos de pensão
CENA 1 São Paulo, meados dos anos 1990, um dia de semana normal na sede de um
sindicato de trabalhadores. O dirigente sindical recebe uma legião de antigos
sindicalizados que estão desempregados e com pouquíssimas chances de conseguir
nova colocação. Muitos deles, por já terem uma "idade avançada", ou seja, mais
de 40 anos, e principalmente por terem entrado no mercado de trabalho muito
cedo, aprendido seu ofício na própria prática e não terem tido tempo nem
disposições sociais para avançar na escolarização. Por mais calejado que o
nosso dirigente esteja, é exasperante não poder atender minimamente os colegas.
CENA 2 Na noite do mesmo dia o nosso dirigente sindical vai debater o "futuro
da previdência social" com especialistas do governo. Nossos "cientistas" da
previdência anunciam a reforma que acabará com o descalabro da aposentadoria
precoce, invocando todo o peso da racionalidade econômica e do bom senso
internacional. Diante da poderosa retórica dos "cientistas", nosso dirigente
lembra timidamente que os trabalhadores brasileiros começam sua vida
profissional muito cedo e têm dificuldades de se manter na força de trabalho
ativa depois dos 40 anos de idade. Ele recebe uma saraivada de golpes
retóricos: alguns diretos, dizendo que ele não sabe fazer contas de adição
simples, já que a previdência social não tem como pagar essas aposentadorias
"indevidas", e outros indiretos, provavelmente mais dolorosos, representados
pelos olhares de desdém daqueles membros da inteligência nacional. Sentindo-se
inconveniente, ele se cala e no resto da noite só ouve.
CENA 3 No dia seguinte nosso dirigente sindical recebe outros desempregados,
que contam a mesma história. Mas agora ele "já sabe" que nada pode ser feito
por eles e o melhor é intensificar as mudanças, para que esse período de
transição acabe logo e a economia, uma vez liberada do peso do descalabro
previdenciário, volte a gerar empregos maciçamente. Entre outras lições da
noite anterior, ele se dá conta de que também está na casa dos 40 anos e de
que, caso perca a posição no sindicato, terá pela frente problemas domésticos
insolúveis.
CENA 4 Alguns dias depois nosso líder sindical folheia apostilas enviadas pela
central sindical que falam sobre o futuro dos fundos de pensão, e enxerga aí
uma oportunidade. Impõe-se o princípio de que "não podendo vencer o inimigo o
melhor é aliar-se a ele". Ele pergunta a respeito na central à qual seu
sindicato se filia e acaba se encontrando com os mesmos expoentes da
inteligência nacional que o haviam desprezado. Só que agora eles o acolhem com
simpatia, dando-lhe boas-vindas ao mundo moderno. Em seguida lhe apresentam
várias oportunidades, ainda que muito disputadas, de receber um "convite" para
integrar conselhos de fundos sociais como o FAT e o FGTS e/ou dos diversos
fundos de pensão de empresas que fazem parte da base sindical. Quanto mais a
conversão do nosso sindicalista parecer sincera, mais ele terá apoio dos
"técnicos", que irão afiançar a "representatividade" e a "racionalidade" do
nosso ator.
CENA 5 Nosso dirigente sindical, feito representante dos trabalhadores nos
fundos que "lhes pertencem", começa a desfrutar as delícias sedutoras dos
"almoços de negócios", dos congressos e demais eventos realizados em hotéis de
luxo e ilhas paradisíacas (claro que são excelentes ambientes para a
concentração dos dirigentes de fundos de pensão nos áridos temas de escolha
entre diversas alternativas de investimentos e atuária). Ele continua se
importando com suas bases sindicais, mas tem cada vez menos tempo para elas.
Sobre a questão previdenciária, ele passa a se expressar na linguagem
financeira: inicialmente de maneira claudicante, mas com o tempo cada vez mais
confiante. Estamos diante de mais um converso à doxa econômica.
INTRODUÇÃO ANALÍTICA
Essa reminiscência trazida por uma pesquisa sobre os fundos de pensão
brasileiros realizada na segunda metade dos anos 1990 é aqui invocada para
assinalar uma característica essencial da vida econômica, mas ainda pouco
desenvolvida analiticamente. Trata-se de registrar e desenvolver a idéia de que
o vislumbre e a adoção de quaisquer soluções econômicas para os problemas com
os quais as sociedades se defrontam dependem dos espaços cognitivos nos quais
eles são discutidos1.
Os contornos dos espaços cognitivos são a matéria essencial da disputa política
na sociedade, e a partir dos resultados parciais desse contencioso as
sociedades irão descobrir, ou eleger, quais são seus problemas e como devem ser
pensados. Em relação ao "como", a luta se trava fundamentalmente em torno da
definição dos pólos positivo e negativo da significação dos eventos, das
capacidades diferenciais de apresentar e distinguir os contenciosos2. Tendo
isso em mente, tentarei explicar os contornos do "problema previdenciário"
brasileiro dos últimos anos, em especial o espaço aparentemente desproporcional
que a idéia de capitalização tem recebido em detrimento da sua "concorrente", a
de repartição.
INTRODUÇÃO TEMÁTICA
O chamado "sistema de capitalização" vem sendo considerado a solução para os
problemas previdenciários tanto no Brasil quanto nos demais países em que a
questão aparece. Por sua vez, o sistema de repartição, que normalmente é
anterior ao primeiro, tem sido sistematicamente tomado como a fonte dos
desequilíbrios econômicos e financeiros imputados ao envelhecimento da
população nacional e mundial. Dessa forma, substituir o segundo pelo primeiro
aparece como uma necessidade evidente para as economias que se querem
saudáveis. Por outro lado, as sociedades que se atrevem a não realizar essa
mudança são tachadas de retrógradas e se arriscam a receber sanções dos
mercados financeiros, as quais se manifestam na desconfiança quanto aos ativos
denominados na moeda local e na dificuldade de levantar empréstimos.
Em termos rápidos (e provisórios) e independentemente das qualidades
intrínsecas de cada sistema de aposentadoria, as sociedades são levadas a
adotar, ou pelo menos a tomar como tendência, a adoção do sistema de
capitalização. Duas forças poderosas e correlatas operam para produzir esse
resultado. A primeira se refere ao senso comum que enuncia reiteradamente a
"caducidade" da repartição sob o peso do envelhecimento da população e da
exaustão das finanças estatais em geral e previdenciárias em particular.
Governantes que ousem ir contra esse enunciado são rapidamente tachados de
retrógrados e recebem críticas veementes. O outro grande vetor é o
comportamento dos mercados financeiros: nos últimos anos, o mimetismo3 que
caracteriza as apreciações exaradas dessa entidade onipresente diz que países
que se mantenham no marco da reciprocidade, além de revelarem uma indisposição
geral ao progresso econômico e à necessária racionalidade econômica, sofrerão
no futuro crises econômicas inevitáveis, decorrentes do desequilíbrio
financeiro que seria necessariamente provocado pelo "descalabro
previdenciário".
O resultado desse sistema de forças é a tendência internacional a aceitar a
capitalização como solução e a repartição como problema. Neste texto procurarei
mostrar em linhas gerais como esse processo transcorre no Brasil contemporâneo.
Creio que o percurso investigativo, além de contribuir para a compreensão desse
problema na sua substancialidade, toca numa questão central para a compreensão
das linhas de força que explicam os contornos e a dinâmica do "campo do poder"4
que opera no Brasil contemporâneo. Isso porque o nosso problema nos transporta
sem apelações para o espaço financeiro nacional e internacional5. Afinal, no
tratamento da questão previdenciária a sociedade é obrigada a se haver com os
mercados financeiros e a acatar ou não seus ditames.
PROPOSTA DE CRONOLOGIA
Para tentar dar consistência sociológica à digressão, proponho uma cronologia
das formas de previdência vigentes no Brasil desde a instalação da colônia
portuguesa até o presente, com maior detalhamento nas fases que se aproximam da
situação atual. A cronologia da história dos fundos de pensão no Brasil começa
com uma "arqueologia" das formas adotadas para lidar com a questão das
incertezas da vida (e da morte) a longo prazo. Assim, apresento um esquema que
visa facilitar o entendimento dos dilemas apresentados no corpo central do
texto, sem evidentemente pretender que o esboço seja exaustivo e rigoroso.
Dessa maneira, teríamos as seguintes etapas:
Um primeiro tempo (T1) inicia-se no século XVI com a criação das
primeiras vilas implantadas pelos portugueses na Colônia, nas quais
aparecem as Irmandades da Boa Morte e as Santas Casas de Misericórdia,
produzindo um tecido associativo que se afigura como um possível traço
típico da colonização portuguesa.
A partir da segunda metade do século XIX inicia-se um tempo T2,
caracterizado pelo surgimento de associações de socorro mútuo, formadas a
partir de clivagens étnicas e profissionais.
Pode-se distinguir um terceiro tempo (T3) caracterizado pela formação dos
Institutos de Aposentadoria e Pensões, criados como braços do
sindicalismo "de Estado" ou "oficial" conduzido pelo varguismo.
Um quarto tempo (T4) é instaurado pelo golpe militar de 1964, em cujo
âmbito é criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS),
diretamente dirigido pelo governo federal, em oposição à gestão
associativista do período anterior.
Entrando na cronologia mais específica do problema contemporâneo, postulo
um tempo T5 que vai de meados dos anos 1970 a meados dos anos 80, quando
são criados os fundos de pensão a fim de complementar o INPS, superar as
formas de enquadramento e a "cultura" do serviço público direto e servir
de instrumento de gestão para renovar os quadros e fixar o pessoal.
Conforme veremos, tal superação não poderia ser e não foi completa,
transparecendo claramente a incorporação da herança patrimonial.
A evolução dos fundos gera um importante conjunto de contenciosos
identitários e econômicos, e o primeiro deles é a tensão entre
necessidade e direito. O funcionamento dos fundos fica a meio caminho
entre as lógicas patriarcal e financeira; por outro lado, passa a se
etiquetar de "sistema", e a principal conseqüência são as tentativas de
fixar a diferença específica dos fundos em relação ao "mercado". Temos
assim o tempo T6, que começa em meados dos anos 1980 e dura até o início
do governo Fernando Henrique Cardoso (1994).
O processo de privatização das empresas estatais, deflagrado na primeira
gestão FHC, produziu uma redefinição na lógica dos atores e questões
envolvidos. Os fundos de pensão se tornam centrais na cena econômica,
atraindo atores financeiros e sindicais. Internamente, o sistema avança
rumo à "capitalização pura" e ao patrocínio de causas como a da
governança corporativa e a da responsabilidade social/sustentabilidade.
Nota-se porém uma tensão entre a "lógica externa de mercado" e a "lógica
interna de funcionamento", mais compromissada com a reciprocidade. Essa
última fase corresponde ao tempo T7.
A fundação das Santas Casas de Misericórdia representa um traço marcante da
colonização portuguesa, chegando a ser considerada uma particularidade sua em
face de outros processos de expansão europeus. Essas entidades não só se
ocupavam dos doentes, mas também organizavam a distribuição de óbolos para os
órfãos, viúvas e demais necessitados6. Além disso, eram fonte de prestígio para
seus provedores e de crédito para os ricos da ordem colonial, funcionando como
"protobancos" e atraindo a cobiça dos estratos dominantes7. Constituem um traço
correlato dessa ordem urbana colonial as Irmandades da Boa Morte, por meio das
quais diversos grupos organizavam cotizações para prover gastos de
sepultamento8.
Saltando na cronologia, mas não na lógica, encontraremos as associações de
socorro mútuo, organizadas principalmente pelos imigrantes de diversas origens,
que visavam preparar seus aderentes para enfrentar os momentos aleatórios da
vida9. Podemos então afirmar que o Brasil carrega um relevante passado
previdenciário associativo (talvez o uso do termo "privado" seja extemporâneo),
cabendo uma boa análise histórica dessa circunstância.
Nossa história pula para a era da CLT getulista, quando surgem os Institutos de
Aposentadoria e Pensão ligados aos sindicatos oficiais, que irão generalizar e
oficializar a idéia de previdência no país. E uma das conseqüências do regime
implantado com o golpe militar de 1964 foi justamente o enfraquecimento do peso
dos sindicatos na vida nacional, retirando-se dessa esfera as funções de
previdência e saúde para colocá-las diretamente sob o controle do governo
federal, por meio da criação do INPS10. Creio que tal unificação deve ser
entendida como um dos aspectos das tentativas de intervenção nos mercados de
trabalho privados nacionais, as quais incluíram outras ações importantes, como
a instituição do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que
"precificava" as relações de lealdade/reciprocidade nas relações trabalhistas,
e o fim da distinção entre salário e ordenado, substituída pela diferenciação
interna entre salários de "horistas" e "mensalistas". Essa unificação abrirá um
duplo espaço simbólico para o aparecimento dos fundos de pensão. Mais
genericamente, a tentativa simbolicamente violenta de estabelecer a
equivalência entre os assalariados manuais e os funcionários burocráticos abria
espaço para o aparecimento de compensações que resgatassem o caráter "distinto"
dos últimos. No espaço mais específico da atuação governamental, a
transformação de diversas entidades públicas tanto federais quanto estaduais
e municipais em empresas estatais tornou a adoção dos fundos de pensão uma
compensação adequada para a perda do status e da aposentadoria integral,
tradicionalmente adjudicados à posição de "funcionário público".
Surgiram assim nossos fundos de pensão: nominalmente como figuras típicas da
ordem de mercado, como a sua própria denominação desejava indicar11, mas
carregando em seu funcionamento efetivo feixes de compromisso com a ordem da
reciprocidade, afinal tão próxima. Daí a hibridez que essas instituições
apresentavam: mais do que direitos, os cotistas tinham necessidades,
reconhecidas por uma espécie de senso comum da época, ainda a ser esclarecido.
Entre outros pontos, poderíamos assinalar que os benefícios auferidos como
aposentadoria ou pensão não guardavam uma relação precisa com a cotização
realizada: só eram contemplados os cotistas que se aposentavam mantendo vínculo
com a empresa patrocinadora (em detrimento da idéia da "portabilidade": a
possibilidade, recém-aberta, de o cotista transferir o seu pecúlio acumulado
antes da aposentadoria para outro fundo ou programa privado de complementação
de aposentadoria); para um mesmo montante de contribuição, as vantagens dos
cotistas masculinos, casados e com filhos eram maiores do que as dos cotistas
femininos, solteiros ou pertencentes às minorias sexuais (estas dificilmente
reconhecidas nas suas peculiaridades). Além disso, os cotistas que aderiram ao
fundo na sua gênese receberam consideráveis benefícios diferenciais.
Nesse primeiro momento (o tempo T5 da nossa cronologia geral) os fundos
representavam uma compensação pela aposentadoria integral perdida na
transformação das "repartições" em empresas. Além disso, justificavam-se como
instrumentos de gestão que ajudavam as empresas estatais a fixar o seu quadro
de pessoal qualificado numa conjuntura em que esse mercado de trabalho oferecia
oportunidades mais atraentes no setor privado. Subsidiariamente, na medida em
que podiam negociar os ingressos para seus pensionistas depois da
aposentadoria, facilitavam a implementação de políticas de renovação de
quadros, tornando as aposentadorias financeiramente atraentes.
Podemos falar numa segunda fase dos fundos (T6) quando a reiteração do seu
funcionamento acabou consolidando em seu âmbito de atuação um grupo bem
especificado de dirigentes, oriundos das equipes de direção das empresas
estatais que os patrocinavam. Dessa forma, os fundos se tornaram uma espécie de
exílio dourado, que aplacava as tensões das "guerras de palácio" típicas das
grandes empresas (em particular as estatais), em que o grupo ora dominante tem
força suficiente para impor seu mando na administração, mas não para demitir
seus oponentes12. A exemplo de outros agrupamentos de profissionais ligados ao
campo empresarial13, a consolidação desse grupo, que irá se autonomear
"sistema" (dos fundos de pensão), passa fundamentalmente pela criação de uma
entidade representativa, a Associação Brasileira de Previdência Privada
(Abrapp), que irá representá-los, educá-los e legitimá-los.
Nesse momento o "sistema" procura construir a percepção da sua diferença
específica. A idéia a ser fixada é a de que os fundos de pensão devem ter uma
lógica de investimentos distinta daquela seguida pelo mercado financeiro:
enquanto este fixa seu objetivo na lucratividade de curto prazo, implicitamente
especulativa, os fundos devem ter um horizonte mais amplo, pautado pelo longo
prazo do pagamento das aposentadorias e pensões, implicitamente condizente com
políticas virtuosas de desenvolvimento econômico e social. E os corolários mais
importantes dessa idéia são três: a gestão dos fundos de pensão é um ofício
diferente das funções bancárias ou do mercado financeiro em geral; eles devem
ter seu funcionamento apoiado pelo governo federal, em especial mediante um
tratamento fiscal privilegiado; os fundos de pensão são entidades independentes
e portanto devem ser regidos por uma lógica própria, desvinculada daquela que
emana das empresas que os patrocinam e também do mercado financeiro, para onde
se dirigem suas aplicações.
O terceiro tempo da cronologia dos fundos (T7 na cronologia geral) é marcado
pelo ataque geral à pretensão da diferença. Inicia-se no governo Collor, quando
seus acólitos tentam se apropriar daquelas entidades, vistas como provedoras de
recursos para empreendimentos das mais diversas qualidades. No início do
governo FHC, são os banqueiros (em especial os do novo ramo de bancos de
investimentos) que se fazem notar como "parceiros" dos fundos, particularmente
nos processos de privatização que agitaram o período. Um episódio emblemático
do gênero de parceria que os fundos de pensão das estatais foram obrigados a
aceitar no período foi o acordo entre vários deles e o Banco Opportunity na
criação do consórcio que participou do leilão da Telebrás, em 1998.
Em paralelo às investidas do assim chamado "mercado", as lideranças sindicais
também passam a demonstrar crescente interesse nos fundos, tentando fazer
passar por natural a extensão do seu mandato de representação trabalhista da
esfera sindical para a da previdência privada. O processo começa no setor dos
bancários e vai se espraiando para outros: petroleiros, eletricitários,
telefônicos etc. Assim é que o "sistema" ficou entre dois fogos: de um lado, a
argumentação proveniente do "mercado" insistia em que a formação técnica de
seus prepostos os qualificaria melhor para dirigir os fundos do que os membros
do "sistema", negando a pretensão da diferença específica proposta em T6; do
outro, as lideranças sindicais se anunciavam como os verdadeiros representantes
dos empregados das empresas (cotistas dos fundos). E houve ainda diversas
ocorrências de "fogo cruzado": no calor da luta para abrir espaços vimos
líderes sindicais apontando o caráter "amador" dos membros do "sistema" e os
representantes do mercado financeiro questionando a representatividade dos
dirigentes dos fundos.
Podemos identificar por fim um novo período em T7, caracterizado pela
inesperada e tácita aliança entre as duas ordens de atores indicadas no
parágrafo anterior. Essa aliança tem por pano de fundo doutrinário a
transformação dos nossos fundos de pensão em "verdadeiros" fundos à norte-
americana, praticando de maneira "pura" o princípio da capitalização. Um dos
principais instrumentos para tal realização é a instalação da chamada "boa
governança" corporativa14. O período começou a se esboçar no segundo mandato de
FHC, em torno da discussão da nova lei das sociedades anônimas. O projeto de
lei foi relatado pelo então deputado e economista Antonio Kandir, figura de
proa da defesa da política econômica daquele período e também ligado à Força
Sindical. Ao mesmo tempo, foi consideravelmente aditado pelo então deputado
petista Ricardo Berzoini, ex-sindicalista bancário, sobretudo nas cláusulas
referentes a direitos dos minoritários, de grande interesse para os fundos de
pensão, ansiosos por poder participar do destino das empresas em que investiam.
Extremamente operacionais na arena política que define o quadro de referência
para a atuação dos fundos, esses atores representam justamente a ponta-de-lança
dos grupos que pouco a pouco desalojam da direção dos fundos os membros do
antigo sistema.
Mas a faceta da história que se torna pública pela atenção da mídia tira a
nossa atenção de uma outra série de fenômenos, que dizem respeito ao
funcionamento interno dos fundos de pensão. Nosso "sistema" manteve o quanto
pôde uma configuração na qual os dirigentes dos fundos de pensão mantinham
direitos discricionários quanto à estipulação dos direitos dos cotistas. Assim,
aqueles que exibiam situações sociais "normais" recebiam toda a atenção
possível, enquanto qualquer situação destoante era sujeita a julgamentos de
valor por parte das autoridades do "sistema". Exemplificando: a viúva de um
casamento "oficial" era contemplada com a pensão de seu cônjuge sem nenhum
questionamento, mas se ele mantivesse uma família paralela ou mesmo já tivesse
se separado na prática e constituído outra família, ainda assim se outorgava a
integralidade da pensão à viúva "oficial"; casais homossexuais normalmente não
eram reconhecidos, a não ser que se reconhecesse a "sinceridade" da relação
que, em princípio, nossos dirigentes consideravam anômala; havia ainda enorme
resistência a outorgar aos viúvos de cotistas femininas os mesmos direitos
concedidos às viúvas. Enfim, os "direitos" não estavam claros... na ordem
moral. Podemos assim estender a tirada indignada de Francisco de Oliveira:
naquela configuração os cotistas mais pareciam girafas de zoológico, pois não
tinham direitos e sim necessidades, que eram arbitradas pelos dirigentes do
sistema.
Ao brandir a bandeira da capitalização, os desafiantes dos membros do "sistema"
acabaram granjeando muita simpatia da cada vez mais ampla constelação de
indivíduos que vivem situações conjugais não tradicionais. É que na
capitalização pura o cotista determina contratualmente seu sucessor,
independentemente de qualquer consideração conjugal ou moral, e os direitos do
sucessor são estipulados da mesma maneira, seja ele uma honrada viúva ou um
vicioso "bofe". Assim, na esfera das sensibilidades, podemos dizer que a
extensão da idéia de capitalização compõe bem com as noções de desenvolvimento
das individualidades e de respeito às diferenças. Na lógica das argumentações,
a capitalização pode ser entendida como uma expressão dos arrazoados
comerciais, enquanto a lógica que prevaleceu nos fundos no período anterior nos
remete aos arrazoados típicos da ordem doméstica ou patrimonial15. A primeira
lógica coaduna com os processos que chamamos de "financeirização",
"globalização" ou "sociedade em rede", enquanto a segunda tem um sabor
passadista16.
Dessa forma, tudo convergia para que os atores relevantes aceitassem a
capitalização como resposta evidente aos problemas previdenciários brasileiros,
deixando de lado a priori a possibilidade de aperfeiçoamentos no método da
repartição. Em termos deliberadamente contundentes, podemos dizer que se criou
uma configuração à Elias17, em que os atores acabavam por competir para ganhar
o prêmio de melhor defensor da capitalização.
O CUSTO DA ORTODOXIA
Dada a força dessa nossa "doxa", vamos às conseqüências de sua instauração. De
modo geral, ela transforma o problema social da previdência,
doutrinariamentesolucionado por uma presumida solidariedade entre gerações (a
geração "g", hoje no mercado de trabalho, paga com suas contribuições
previdenciárias a aposentadoria da geração anterior, "g ' 1", já retirada, e
tem por horizonte ser amparada no futuro, nos mesmos moldes, pela geração "g +
1"), num problema individual, solucionado pela criação ou fortalecimento dos
fundos e planos de pensão privados, nos quais cada indivíduo capitaliza suas
contribuições de acordo com suas conveniências e com o resultado financeiro
acumulado pela aplicação desses recursos18. O valor da aposentadoria é o
resultado de um cálculo financeiro relativamente simples e pactuado no início
do plano19. Em suma, na repartição todos dependem de todos, enquanto na
capitalização cada um é dono do seu nariz.
Confrontando a idéia de capitalização à de repartição, percebe-se que ela isola
o problema da previdência das outras esferas da vida. Dessa maneira, "resolve"
esse problema criando outros problemas20. Mas a magia social faz com que esses
últimos não ganhem nitidez no debate político nem direito de arena na esfera
intelectual. No caso brasileiro (descontando nossa cegueira institucional),
poderíamos em tese falar do problema da capitalização futura dos
empreendimentos financiados pelos fundos previdenciários. Na medida em que os
fundos necessitarão de recursos para o pagamento das pensões, pressionarão os
empreendimentos para distribuir dividendos, em detrimento de projetos de
investimentos que poderiam ser concebidos como aplicação dos lucros realizados.
Essa tendência seria mitigada se os fundos apresentassem altas taxas de
crescimento do número de aderentes, mas essa é uma hipótese improvável para os
fundos brasileiros, na medida em que são patrocinados pelas empresas estatais,
as quais apresentam tendência de diminuição do número de funcionários. Dessa
forma, é muito provável que venhamos a assistir a uma disputa entre velhos
avarentos a exigir pensões folgadas e jovens revoltados que não se contentarão
com as medíocres perspectivas de emprego e de carreira apresentadas pelos
empreendimentos, que não poderão se expandir.
Outras questões seriam decorrentes, por exemplo, da impossibilidade de a
sociedade regular os anunciados "problemas" oriundos da não-reposição
geracional dos contingentes de indivíduos21. Soluções relacionadas à oferta de
subsídios ou compensações para as mulheres ou famílias que contribuíssem para
inverter a curva demográfica considerada problemática ficariam
consideravelmente comprometidas. E volta o problema inicial das dificuldades da
manutenção do emprego no ocaso da vida produtiva. Sistemas de previdência
baseados na repartição podem conceber muito facilmente esquemas de pré-
aposentadoria que diminuem os impactos das dificuldades do mercado de trabalho.
Isso dificilmente se aplicaria a sistemas de capitalização, já que essa
situação, assim como a anterior, só pode ser resolvida mediante punções
explícitas de pecúlios e direitos dos demais membros da sociedade.
Além das disputas geracionais e intracortes que nossa "solução" deflagra,
lembremos também que a renda oriunda da capitalização está razoavelmente
assegurada no seu montante absoluto, mas não na sua proporção em relação à
renda nacional ou às necessidades dos cotistas. Uma punção excessiva da renda
nacional ou dos dividendos das empresas nas quais foram feitos os
investimentos, assim como exigências muito fortes de juros ou de "repactuação"
nas aplicações em títulos governamentais, podem caracterizar a renda
capitalizada como injustamente alta em relação àquela percebida pelas gerações
que estiverem trabalhando no momento considerado, bem como podem levar a
pressões institucionais contra o sistema de fundos de pensão. Ao contrário, uma
renda contabilmente correta mas insuficiente para manter os padrões de vida que
os pensionistas considerem adequados ou equivalentes aos de outros períodos
pode fazer que se sintam logrados, ainda que contabilmente não o sejam. No
primeiro caso, as condições institucionais adversas podem levar ao
desmoronamento das condições de possibilidade de manutenção da nossa "solução",
em grande parte baseada em incentivos fiscais que tornam os pecúlios
previdenciários mais atraentes que outras formas de acumulação financeira ou
imobiliária. No caso da renda insuficiente, poderemos ter diversos tipos de
pressão política equivalentes àquela deflagrada há pouco pelos "gray panthers"
norte-americanos22.
Em suma, a capitalização substitui a presumida solidariedade entre as gerações,
na qual se baseia a repartição, pela aparente indiferença produzida pela
neutralização contábil. Essa substituição é considerada "a" solução para o
problema previdenciário. Mas somente se continuarmos navegando no espaço
cognitivo que oblitera os problemas da capitalização. Em outra configuração, a
nossa maravilhosa solução introduz rigidez nas relações sociais e acaba virando
um imenso problema.
No mundo em que vivemos, porém, o espaço das soluções está totalmente tomado
pela idéia da capitalização. Décadas de "captura" do INPS e do INSS por
interesses escusos os mais diversos cercaram o sistema de repartição de um halo
de corrupção que torna muito difícil a descoberta das suas eventuais virtudes.
A forma como tratamos a suposta "bomba do envelhecimento" reitera a impressão
da caducidade da repartição. Se nosso líder sindical do início do texto
insistir em tentar aliviar o problema do desemprego dos seus coetâneos por meio
da aposentadoria "precoce", não irá muito longe. Se procurar referências ou
apoio de intelectuais, de sindicalistas de cúpula ou de qualquer outro
profissional, muito dificilmente os irá encontrar. Mas se aderir ao "bandwagon"
da capitalização, terá vida fácil. Além dos sinais de aprovação tácita ou
explícita à sua conduta, ele terá muita facilidade em encontrar assessoria para
sua retórica e seus projetos tanto na cúpula sindical quanto governamental,
para não falar nos inúmeros atores diretamente movidos por interesses
comerciais que pululam no negócio da previdência privada.
TRISTE CONCLUSÃO
O exemplo previdenciário mostra o estreitamento dos limites dos debates
econômicos que travamos contemporaneamente na sociedade brasileira. O
fortalecimento da "doxa" cultural e econômica produz um consenso culto e,
marginalmente, o nosso Parque Jurássico nacional. Quem está de fora do consenso
vai para o ostracismo do Parque. Como ele é inóspito, todos os que podem o
evitam. Quem lá está e põe a cabeça para fora se arrisca ao linchamento
intelectual. E com a cumplicidade provavelmente irrefletida, mas ativa de
seus intelectuais "mainstreamers" a sociedade perde a reflexividade sobre um de
seus grandes problemas. A repartição não é uma solução completa para os nossos
problemas. Dificilmente ela conseguiria incorporar as tensões individualizantes
que despontam na sociedade contemporânea. Talvez até pudesse, mas no
enquadramento cognitivo em que vivemos essa possibilidade está interditada pelo
clima cultural adverso.
A exemplo de outros problemas prementes de nossa sociedade, como o da
reconfiguração das empresas prestadoras de serviços públicos, o altar da
modernidade que montamos no Brasil recente cobra o seu preço, imolando boa
parte das idéias e dos seus idealizadores23. Ele o faz não só restringindo o
espaço das soluções possíveis, mas, ainda pior que isso, bloqueando o
progresso. A violência simbólica que faz calar as vozes dissonantes enfraquece,
mas não faz desaparecer as razões e os interesses associados à repartição. Seus
partidários não conseguem se defender diretamente, mas conseguem impedir que a
lógica da capitalização se realize integralmente. Uma maneira bastante
previsível de fazê-lo é evocar a associação capitalização/ganância financeira/
plutocracia, que desperta velhos fantasmas incrustados na cultura ocidental.
Essa linha de defesa muitas vezes é bem-sucedida na criação de clamor popular,
principalmente em períodos que se sucedem a crises econômicas graves. Mas é
desastrosa quanto à seqüência mnemônica que deflagra, jogando-nos na zona negra
do populismo antifinanceiro24 e negligenciando a possibilidade do
desenvolvimento de instrumentos de intermediação financeira que poderiam ajudar
a resolver diversos problemas recentes, tanto econômicos como sociais25.
É interessante notar a evolução da cena norte-americana em tempos de
fundamentalismo religioso e econômico. O projeto de transformar totalmente o
sistema de previdência social pública em capitalização, com a previsível
extensão da "solução" para outros países, chocou-se com a evidência de que
sociedade alguma pode realmente "precificar" as contas intergeracionais. Entre
outros motivos, porque seu montante é muito elevado quando expresso
monetariamente26. Além disso, porque no próprio mercado há quem avalie que a
introdução do risco financeiro nessa zona delicada da regulação social pode
levar a uma catástrofe em termos de legitimidade27. Por outro lado, a
maturidade dos fundos de pensão e de outros arranjos previdenciários baseados
na capitalização já está deixando clara a extensão dos problemas que esse
sistema também produz por exemplo, ao levar grandes empresas à insolvência28
ou por serem objeto de captura ainda mais indefeso do que a previdência
pública29. Enfim, já que internamente não conseguimos reunir energia social
suficiente para ir além da nossa doxa previdenciária, a importação das lições
norte-americanas não poderia nos salvar da mediocridade do debate que temos
acompanhado nos tempos recentes?
[*] Uma versão anterior deste artigo foi apresentada no Seminário Internacional
"Quantificação e Temporalidade", realizado no Museu Nacional da UFRJ em agosto
de 2005. Agradeço os comentários de Federico Neiburg
"desferidos" naquela ocasião. Agradeço também à Fapesp e ao CNPq pelo
financiamento das pesquisas que informam o texto.
[1] Cf. Fauconnier, Gilles. Espaces mentaux: aspects de la construction du sens
dans les langues naturelles.Paris: Minuit, 1984; Bourdieu,
Pierre. Les structures sociales de l'économie. Paris: Seuil, 2000; Boyer, Robert. "L'anthropologie économique de Pierre Bourdieu". Actes
de la Recherche en Sciences Sociales,nº 150, 2003, pp. 65-78.
[2] Cf. Bourdieu, Pierre. Méditations pascaliennes. Paris: Seuil, 1997.
[3] Cf. Orléan, André. Le pouvoir de la finance. Paris: Odile Jacob, 1999; MacKenzie, Donald e Millo, Yuval. "Constructing a market,
performing theory: the historical sociology of a financial derivatives
exchange". American Journal of Sociology, vol. 109, nº 1, 2003, pp. 107-4
[ STANDARDIZEDENDPARAG]
[4] Bourdieu, Pierre. La noblesse d'état: grandes écoles et esprit de
corps.Paris: Minuit, 1989.
[5] "As finanças são um dos melhores pontos de entrada para estudar os
mecanismos sociais, em particular, ainda que não exclusivamente, os mecanismos
políticos. A fecundidade desse ponto de vista se revela justamente nos
momentos, ou melhor, nas épocas de mudanças, quando o presente começa a morrer
e a se transformar em alguma coisa de novo" (Schumpeter, Joseph. A. The
economics and sociology of capitalism. New Jersey: Princeton University Press,
1991, p. 101).
[6] Cf. Mesgravis, Laima. A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (1599?-
1884): contribuição ao estudo da assistência social no Brasil. São Paulo:
Conselho Estadual de Cultura, 1977.
[7] Cf. Mello, Evaldo C. de. A fronda dos mazombos: nobres contra mascates '
Pernambuco, 1666-1715. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
[8] Ver http:_www.geocities.com/Wellesley/4328. Acesso em 20/10/ 2005.
[9] Cf. Luca, Tania R. de. Mutualismo em São Paulo: o sonho do futuro
assegurado. São Paulo: Contexto, 1990.
[10] Cf. Hochman, Gilberto. De inapiários a cardeais da Previdência Social: a
lógica da ação de uma elite burocrática. Rio de Janeiro: dissertação de
mestrado, Iuperj, 1990.
[11] E lembrando-nos da relação complexa que existe entre as soluções
taxonômicas, aparentemente vazias de conteúdo, e a imposição de novas lógicas
sociais.
[12] Norbert Elias nos fornece todos os instrumentos para o entendimento
sociológico das guerras de palácio em La société de cour (Paris: Calmann-Lévy,
1974).
[13] Cf. Grün, Roberto. A revolução dos gerentes brasileiros. São Carlos: Ed.
UFSCar, 1992.
[14] Cf. Grün, Roberto. "Fundos de pensão no Brasil do final do século XX:
guerra cultural, modelos de capitalismo e os destinos das classes médias".
Mana, vol. 9, no 2, 2003, pp. 7-38; "Convergência das elites e
inovações financeiras: a governança corporativa no Brasil". Revista Brasileira
de Ciências Sociais, vol. 20, no 58, 2005, pp. 67-90.
[15] Cf. Boltanski, Luc e Thévenot, Laurent. De la justification: les économies
de la grandeur.Paris: Gallimard, 1991.
[16] Cf. Boltanski, Luc e Chiapello, Eve. Le nouvel esprit du capitalisme.
Paris: Gallimard, 1999.
[17] Elias, Norbert. La société de cour, op. cit.; What is sociology? Londres:
Hutchinson, 1978.
[18] E a retórica dos arautos da capitalização nos lembra também que ao ampliar
o mercado de capitais a difusão da capitalização teria um forte efeito positivo
sobre a economia brasileira.
[19] É o que os especialistas chamam de "cálculo atuarial", que leva em conta a
expectativa de rentabilidade dos aportes realizados pelos interessados, seu
tempo de contribuição e sua expectativa de vida futura uma vez decretada a
aposentadoria, bem como cálculos análogos sobre seus dependentes. Não é por
acaso que assisti a discussões sobre a "sinceridade" de casamentos ou uniões
consensuais declaradas entre aposentados idosos e parceiras (muito mais
raramente parceiros) de idade muito menor. Estaríamos ante situações
"legítimas" ou de "free-riding"? Lembremos que no espaço "calculado" os
benefícios concedidos inesperadamente nessas situações acabam incidindo
negativamente nos resultados dos "mainstreamers", que terão de aumentar as suas
cotizações e/ou diminuir os seus benefícios. Assim, nossos dirigentes podem
perfeitamente justificar as suas ações que negam o direito dos "abusados" em
nome dos interesses da maioria dos cotistas. Por sua vez, os prejudicados (em
especial os homossexuais) podem dizer que na situação anterior eram eles que
contribuíam desproporcionalmente.
[20] Cf. Nikonoff, Jacques.La comédie des fonds de pension: une faillite
intellectuelle. Paris: Arléa, 1999.
[21] Há quem diga que se trata de um "falso problema", já que estaríamos
assistindo a uma evolução paralela do envelhecimento cronológico da população e
da melhora das condições de exercer atividades da população mais velha (cf.
Bourdelais, Patrice. L'âge de la vieillesse: histoire du vieillissement de la
population. Paris: Odile Jacob, 1997).
[22] Cf. Newman, Katherine. S. Falling from grace: the experience of downward
mobility in the American middle class.Nova York: Vintage Books, 1989.
[23] Cf. Grün, Roberto. "Apagão cognitivo: a crise energética e a sua
sociologia". Dados, vol. 48, no 2, 2005 (no prelo).
[24] Cf. MacKenzie e Millo, op. cit.
[25] Historicamente, temos o "atraso" no desenvolvimento do mercado de futuros
e derivativos nos Estados Unidos, causado pela prevenção popular contra a
especulação financeira que se seguiu à crise de 1929 (cf. ibidem). Em termos de
futuro, poderíamos pensar que o clamor antifinanceiro impediria a criação de
seguros que facilitassem a fricção entre ocupações diversas, o que é cada vez
mais previsível na "sociedade em rede", ou de instrumentos de crédito
imobiliário mais adequados à expectativa de carreiras profissionais com ganhos
incertos mas razoáveis no agregado.
[26] Cf. Leser, Eric. "La bataille sur la privatisation partielle du système
des retraites s'annonce décisive". Le Monde, 21/01/2005.
[27] Cf. Thomas Jr., Landon. "Wall St. lobby quietly tackles social security".
New York Times, 21/12/2004.
[28] Cf. "Executivo já resolveu diversos problemas da GM, mas ainda tem que
sanar 30 anos de erros: Wagoner terá como meta tapar o rombo do fundo de
pensões". Valor Econômico,17/02/2003; Walsh, Mary W.
"Investor's move raises pension questions". New York Times, 05/05/2005.
[29] Cf. Leser, Eric. "Sean Harrigan est contraint de quitter la tête du fonds
de pension américain Calpers". Le Monde, 02/12/2004; Walsh,
Mary W. "Calpers Ouster puts focus on how funds wield power". New York Times,
02/12/2004.