O trabalho autogestionário em cooperativas de produção: o paradigma revisitado
O debate sobre cooperativismo de trabalho e produção no movimento operário e
sindical, no final do século XIX, dividia aqueles que consideravam suas
possibilidades revolucionárias daqueles que acreditavam em seu caráter
reformista: um passo para a revolução socialista ou uma adesão aos princípios
capitalistas?
No final do século XX e início do XXI, o debate retorna em outros termos. As
experiências socialistas de modelo soviético não deram certo, a eliminação do
mercado mostrou ser ineficaz, e as transformações capitalistas mudaram o perfil
da classe trabalhadora. A crise da sociedade salarial ou do modelo fordista,
que agregou direitos sociais à relação de trabalho, reapresentou a necessidade
de buscar formas alternativas de organização do trabalho e de autonomia dos
trabalhadores, diante do crescimento do desemprego, da perda dos direitos
sociais do período anterior e do enfraquecimento do movimento sindical. A
proposta de cooperativismo de trabalho, juntamente com outras formas
associativas de organização dos trabalhadores, tem sido recuperada com o
objetivo de dar continuidade à luta por uma sociedade mais igualitária e
socialista, no novo contexto do desenvolvimento capitalista.
Entretanto, permanece a polêmica sobre a possibilidade efetiva de as
cooperativas se constituírem em avanço na direção da maior democratização do
trabalho, pela autogestão e posse coletiva dos meios de produção, superando
assim a subordinação ao capital. As cooperativas são percebidas também como uma
forma alternativa de empresa capitalista, na qual o trabalho autogestionário
termina por ser funcional pela flexibilidade que possibilita no uso da força de
trabalho, permitindo a redução de custos e aumentando a competitividade das
empresas. Esse debate recupera, em grande parte, a tese da degenerescência das
cooperativas, desenvolvida por Webb e Webb (1914), que previa, de forma
pessimista, que o sucesso das cooperativas significaria a eliminação da
democracia autogestionária e sua transformação em empresas capitalistas comuns.
Poderíamos acrescentar que, com a reestruturação produtiva e a formação das
redes empresariais, as cooperativas, embora não necessariamente se transformem
em empresas comuns, podem terminar integrando essas redes como parceiras
terceirizadas numa relação assimétrica, oferecendo força de trabalho a baixo
custo e apenas quando necessário. Em outras palavras, o debate reacende a
polêmica do século XIX sobre a existência de cooperativas falsas ' como linha
auxiliar do capital, e de cooperativas verdadeiras ' que assumem o caráter
autogestionário e solidário na perspectiva de emancipação dos trabalhadores.
Trazendo o debate para a situação brasileira atual, analisamos dois grupos de
cooperativas de trabalho e/ou de produção,1 ambos resultantes das mudanças do
capitalismo contemporâneo. No primeiro grupo, estão as cooperativas
"pragmáticas" (que podem incluir as chamadas "falsas cooperativas" ou
cooperfraudes), que funcionam terceirizadas para empresas e, em geral, foram
organizadas por essas mesmas empresas, ou ainda, integram programas estatais de
geração de renda, desvinculadas dos princípios do movimento cooperativista. No
segundo grupo, as cooperativas "defensivas", formadas a partir de movimentos de
trabalhadores para manutenção do emprego em fábricas em situação falimentar, ou
de programas governamentais de geração de renda para populações pobres. Estas
são apoiadas por sindicatos, ONGs e instituições da sociedade civil e
enquadram-se na proposta de "economia solidária", na qual os valores da
autogestão dos trabalhadores, o combate ao desemprego e o desenvolvimento
sustentável são norteadores. Nos dois grupos, predomina uma grande dependência,
seja de redes empresariais e órgãos públicos ' nas chamadas cooperativas
pragmáticas ', seja de órgãos públicos de fomento e instituições da sociedade
civil ' nos chamados empreendimentos solidários. Essa dependência afeta
diretamente a percepção dos trabalhadores sobre o trabalho autogestionário e
suas perspectivas futuras.
Neste artigo, pretendemos verificar as similaridades e as diferenças na
organização dessas cooperativas, recuperando algumas situações específicas no
Brasil e as dificuldades presentes na formação de uma cultura autogestionária
entre os trabalhadores, considerando que o trabalho nessas cooperativas, mais
que uma alternativa voluntária, responde a um quadro de desemprego estrutural.
Ao mesmo tempo, indagamos em que medida é possível construir uma alternativa de
produção e gestão do trabalho ao capitalismo inserida no mercado capitalista.
Recuperamos, então, a literatura e pesquisas recentes sobre o tema, nas quais
os numerosos "casos" apontam tendências em um quadro ainda em construção.
Recuperando o modelo
As cooperativas de trabalho e de produção surgem com o trabalho industrial e
com o movimento operário no século XIX. O movimento cooperativista fundou-se
inicialmente com os socialistas utópicos, que propunham a autogestão do
trabalho como reação defensiva ao desemprego e às condições vida e de trabalho
dos operários industriais. Com princípios democráticos e igualitários, propunha
o associativismo no trabalho ainda dentro do capitalismo ou como forma de
superar o capitalismo. O ano de 1844 é considerado o marco do movimento
cooperativista com a criação em Rochdale, perto de Manchester, Inglaterra, da
Rochdale Society of Equitable Pionner, uma cooperativa de consumo de operários
têxteis que se expandiu rapidamente com a abertura, em 1850, de uma cooperativa
de produção industrial ' um moinho ' e, em 1854, uma tecelagem e fiação.
O movimento não parou de crescer e em 1852, na Inglaterra, foi promulgada a lei
das Sociedades Industriais e Cooperativas, que passou a regular as relações das
cooperativas com o Estado. Em 1895, em Genebra, foi criada a Aliança
Cooperativa Internacional, que ratificou os princípios de Rochdale: a adesão
voluntária e livre de seus membros; a gestão democrática; a participação
econômica dos membros na criação e no controle do capital; a educação e a
formação dos sócios; a intercooperação no sistema cooperativista. Desde o
início, entretanto, surgiram denúncias da existência de falsas cooperativas,
uma das artimanhas de empresários para pagarem menores salários.
Embora originário do movimento operário e socialista de contestação ao capital
e constituindo-se em alternativa ao modelo de produção capitalista, o movimento
cooperativista foi apropriado também por propostas reformistas de inspiração
cristã, direcionadas à humanização das relações entre capital e trabalho.
Ora visto como alternativa ao capitalismo, ora como possibilidade dentro do
capitalismo, o cooperativismo marcou a esquerda da época. Marx (1977) destacou
o avanço do cooperativismo no combate ao capitalismo, mas ressalvava o risco de
os trabalhadores se autoexplorarem, dado o fato de serem patrões de si mesmos e
dadas as imposições do mercado à produção. À ambigüidade de Marx somou-se a
crítica de Luxemburg (1979), para quem o fato contraditório de os operários
desempenharem o papel de trabalhadores e patrões de si mesmos inviabilizaria as
cooperativas de produção, impondo-lhes escolher entre transformarem-se em
empresas capitalistas ou dissolverem-se.
Essa contradição deu origem à chamada "tese da degeneração das cooperativas" de
Webb e Webb (1914), os quais sustentavam que as democracias de produtores
terminariam por sucumbir às necessidades empresariais e se transformariam em
associações de capitalistas com a incorporação do lucro e a contratação de
trabalhadores assalariados. Uma outra crítica ao movimento afirma que as
cooperativas desviariam a atenção dos trabalhadores dos desafios mais amplos
apresentados pelo capitalismo, fazendo com que aceitassem os ditames do mercado
e permitissem a reificação dos seus interesses, que se voltariam contra os
próprios trabalhadores (Mandel, 1975; Clarke, 1977 apudBatstone, 1983). A
tensão existente entre democracia e eficiência estaria, dessa forma, entre os
motivos de sua inviabilidade.
Durante o século XX, esse debate contrapôs, no movimento socialista, a
perspectiva centralizadora do socialismo soviético às experiências
autogestionárias de inspiração socialista que frutificaram em países
capitalistas como França e Itália com forte apoio estatal. Louis (1986),
fazendo referência às cooperativas de trabalho européias da primeira metade do
século XX, formadas por trabalhadores sem qualificações e organizadas em
frentes de trabalho, afirma que elas raramente observavam princípios
cooperativistas e apenas mantinham-se em situações de crise e com ganhos
mínimos para os trabalhadores.
Mesmo assim, França e Itália mantiveram um movimento cooperativista
significativo durante todo o século XX. Ao analisar o caso italiano, Thornley
(1983) destaca três fatores implicados no crescimento das cooperativas de
trabalho e de produção no país. O primeiro seria a proximidade do movimento
cooperativista dos partidos políticos ' existem três confederações no país, a
Lega Nazionale delle Cooperative Mutue, fundada em 1893, com forte apoio de
socialistas e comunistas, a Confederazione Cooperative Italiane, de origem
católica, e a Associazione Generale delle Cooperative Italiane, vinculada aos
social-democratas e republicanos. O apoio dos diversos partidos e das
tendências políticas garantiram de forma contínua um suporte político às
cooperativas e suas confederações.
O segundo fator seria o forte apoio estatal no século XIX, que se manteve e se
fortaleceu no pós-1945,2 com exceção do período fascista durante o qual a Lega
e a Confederazione foram postas na ilegalidade. A constituição italiana incluiu
o reconhecimento das cooperativas como forma especial de empresa, fundadas no
princípio da mutualidade e apoiadas pelo Ministério do Trabalho e da Segurança
Social. As cooperativas gozam de isenção de taxas, condições especiais de
empréstimos bancários, facilidades de acesso a contratos de obras públicas,
assim como de incentivos a processos de recuperação de empresas falidas para
manter empregos. O apoio estatal e a proximidade dos partidos garantiram o
terceiro aspecto: as perspectivas comerciais favoráveis, por meio de contratos
com clientes nacionais e internacionais simpatizantes da causa cooperativista.
As cooperativas dos países socialistas, pela sua subordinação ao Estado, nunca
foram consideradas como tais, uma vez que os princípios cooperativistas de
adesão voluntária e autogestão não eram efetivamente observados. A experiência
iugoslava de socialismo de mercado parece ter mais se aproximado do ideal
cooperativista de autogestão dos trabalhadores, mas o planejamento estatal
permaneceu preponderante.3 Outra experiência a destacar é a do Kibutz
israelense, resultado do movimento sionista de migração para a Palestina e que
se constituiu em unidades de produção autônoma dentro do Estado de Israel. O
movimento, no entanto, foi afetado pela permanente economia de guerra do país.4
Por fim, no País Basco espanhol encontra-se o modelo de cooperativismo de
produção (atualmente múltiplo) formado por uma rede de cooperativas surgidas na
década de 1950 e reestruturadas nos anos de 1970, a partir dos novos parâmetros
de competitividade: Mondragón.5 O Complexo de Mondragón, que se constitui em um
dos principais produtores de eletrodomésticos de linha branca do país e de
carrocerias de ônibus, entre diferentes produtos, com filiais em outros países
inclusive fora da Europa, é visto como exemplo das possibilidades das
cooperativas, pautadas pelos princípios autogestionários e de intercooperação,
funcionando com uma rede e mantendo competitividade por meio de inovações
tecnológicas e organizacionais.6
A reestruturação econômica a partir de 1970, com o fechamento e o deslocamento
de fábricas, o declínio de regiões industriais, a abertura e a
internacionalização dos mercados, o colapso do socialismo de Estado, entre
outros fatores que irão compor o que chamamos de globalização, provocou a
retomada do cooperativismo como alternativa ao desemprego crescente, provocando
o renascimento do interesse sobre o tema e a multiplicação de empresas
cooperativas, agora consideradas em um novo momento do desenvolvimento
capitalista.
Reestruturação econômica e cooperativismo de trabalho e produção
A atual onda de empreendimentos cooperativos é resultante de duas situações
convergentes. A primeira delas refere-se à reestruturação econômica, à crise do
fordismo e ao surgimento do que os economistas da escola regulacionista chamam
de acumulação flexível. Esta implicou a reestruturação organizacional das
empresas a par de profundas inovações tecnológicas decorrentes da chamada
revolução informacional, com a eliminação de barreiras geográficas à produção,
a formação de empresas em rede, a terceirização de atividades, a
desregulamentação dos mercados, a flexibilização das relações de trabalho com a
eliminação de direitos sociais conquistados pelos trabalhadores, a partir da
segunda metade do século XX. O fechamento de fábricas e empresas, a
desregulamentação dos mercados de trabalho, o enfraquecimento do sindicalismo e
o desemprego foram algumas das conseqüências de impacto para os trabalhadores.
Outro aspecto desse ressurgimento são os movimentos contraculturais do final da
década de 1960, o desencanto com o capitalismo e com o socialismo de Estado, o
surgimento de movimentos ecológicos, feministas e de minorias, e a busca de
alternativas ante os modelos existentes. Numa perspectiva culturalista do
desenvolvimento são questionadas as mudanças econômicas como fator de progresso
e justiça social, além dos desastres ambientais de uma sociedade baseada no
industrialismo com a utilização de fontes de energia não renováveis e altamente
poluentes. Os resultados igualmente desastrosos de "engenharias sociais"
promovidas pelo Estado, e a crescente crise fiscal desse mesmo Estado, a defesa
da democracia e da maior participação da sociedade nas decisões constituem-se
em meio propício para o questionamento da ordem vigente dos dois lados do muro
de Berlim. As experiências associativas aparecem, mais uma vez, como
alternativa.
Nos países em desenvolvimento, também a partir dos anos de 1970, as
cooperativas foram propostas por órgãos internacionais como forma de engajar a
sociedade nos projetos de desenvolvimento e, dessa forma, aliviar as pressões
sobre o Estado. O caráter conservador da proposta se manifestava, na América
Latina, em sua utilização por governos militares para a resolução de problemas
agrários sem alterar as estruturas dominantes. Em países do subcontinente
indiano e da África, é forte a presença de cooperativas em programas estatais
de desenvolvimento, entretanto poucos deles observam os princípios do
cooperativismo, constituindo-se, sobretudo, em formas de geração de renda e
organização de produtores rurais.
Seja como alternativa de ocupação, manutenção de empregos ou de geração de
renda, o modelo associativo vem se multiplicando. Cornforth (1983) utiliza uma
tipologia para classificar as cooperativas de trabalho e produção, surgidas no
pós-1970, que reflete as mudanças econômicas, políticas e culturais do período.
Com algumas adaptações, podemos assim caracterizá-las: a primeira delas,
chamada Endowed Co-operatives são propostas advindas dos proprietários de
empresas. Nessas situações, as motivações empresariais variam desde idéias
socialistas cristãs, até o pragmatismo decorrente do interesse em se manter na
empresa, a falta de herdeiros, ou mesmo o risco de perda da empresa por
questões gerenciais, prejuízos econômicos etc. No geral, problemas financeiros
levam a essa situação. Constituem-se então em empresas autogestionárias, nas
quais os funcionários participam do controle acionário, que, no entanto, se
mantém ainda com os proprietários. A organização do trabalho pouco muda, e a
democracia no trabalho, que raramente existe, conserva a hierarquia anterior.
As cooperativas "defensivas", ou cooperativas "fênix" (Mellor, Hannah e
Stirling, 1988), são formadas pelos operários visando a manter os empregos a
despeito do fechamento ou da falência de fábricas e empresas. Geralmente, a
formação da cooperativa é o último recurso quando outras ações de recuperação
falharam. Resulta, assim, que essas cooperativas surgem com numerosos
problemas, além de apresentarem uma situação comercial difícil. As fábricas,
tecnologicamente defasadas e com baixa produtividade, perdem clientes e
mercados. A nova estrutura depende do investimento de trabalho dos operários,
boa vontade de clientes e fornecedores, além da ajuda efetiva de sindicatos e
de órgãos governamentais. A formação de uma cultura autogestionária é um
processo lento e complexo, e grande parte dos operários e do staff
administrativo abandona a cooperativa.
As cooperativas "alternativas" resultam de movimentos contraculturais dos anos
de 1960 e 1970, e seus membros são oriundos de classe média, bem educada, com
ideais democráticos, voltados mais a necessidades sociais do que aos lucros.
São predominantes nos países capitalistas avançados e são, na maioria das
vezes, editoras, livrarias, lojas de comida e/ou produtos naturais, de
informática, escolas de línguas e similares. Geralmente, organizam-se em
pequenos negócios com as dificuldades de sobrevivência inerentes a esse tipo de
empreendimento.
As cooperativas de "geração de renda" surgem com o crescimento do desemprego e
visam a criar empregos. Em períodos anteriores, constituíam-se em programas
governamentais de obras emergenciais vigentes em momentos de recessão
econômica, principalmente na Europa. Em países em desenvolvimento, inclui
programas propostos por agências de desenvolvimento que visam à organização de
cooperativas em comunidades carentes que, em geral, enfrentam problemas de
comercialização de seus produtos. Uma variação dessa estratégia são as
cooperativas voltadas à terceirização industrial e criadas por políticas
públicas de governos estaduais ou municipais, sindicatos, Igreja Católica e
outras instituições. São chamadas também de cooperativas "populares" e estão
voltadas igualmente aos desempregados e à população de baixa renda.
As cooperativas "pragmáticas" são cooperativas organizadas com o objetivo de
terceirizar atividades de empresas e reduzir custos. Nestas, não existe a
preocupação com democracia no trabalho ou autonomia do trabalhador. A
finalidade é o trabalhador organizar-se autonomamente e responsabilizar-se pelo
empreendimento, livrando a empresa das obrigações sociais. No geral, as
empresas garantem, por algum tempo, contratos de compra de produtos ou
serviços. São chamadas, ainda, de falsas ou pseudocooperativas por sua
desvinculação absoluta dos princípios cooperativistas. Funcionam, entretanto,
na manutenção de empregos ou na geração de renda em situações de privatização,
terceirização e, mesmo, de políticas públicas de apoio a investimentos
industriais.
A experiência brasileira recente
No Brasil, no período anterior à década de 1980, existiram várias experiências
de cooperativas de crédito, habitacional e agrícola. Será a partir da segunda
metade dessa década, contudo, que as cooperativas de trabalho e de produção
começarão a organizar-se e a ganhar visibilidade. A sucessão de crises
econômicas do final do período militar, as primeiras manifestações internas das
mudanças econômicas com a reestruturação produtiva de fábricas e empresas, a
adoção de políticas neoliberais no final da década constituem o cenário do
incremento do cooperativismo de trabalho no país.
O fechamento de fábricas e as tentativas de recuperação foram documentados por
diversos autores. Holzmann (2001) retratou o caso da fábrica de fogões Wallig,
no Rio Grande do Sul, que suspendeu suas atividades em 1984 e, a partir de
forte mobilização dos trabalhadores, constituiu duas cooperativas: uma mecânica
e uma fundição. Essas cooperativas foram viabilizadas após parte dos
trabalhadores se convencer das vantagens de abrir mão de direitos trabalhistas,
tornar-se patrões e, dessa forma, manter os empregos. Na fundição ficaram os
trabalhadores menos qualificados e, na mecânica, permaneceram os mais
qualificados. Em 1991, quando os proprietários ganharam judicialmente a posse
dos prédios, apenas a cooperativa mecânica permaneceu. Essa permanência pode
ser atribuída à maior escolaridade dos trabalhadores da mecânica e à situação
de mercado mais favorável, o que permitiu um melhor desempenho econômico da
cooperativa e uma maior adesão dos trabalhadores.
Outra situação de recuperação fabril desse período foi retratada por Nascimento
(1993) sobre a Tecelagem Mandacaru, em João Pessoa, Paraíba. Resultado de
grande mobilização social dos trabalhadores, o estado assumiu o controle da
empresa formando uma cooperativa e garantindo seu funcionamento (precário) até
seu fechamento no começo dos anos de 1990. Problemas de comercialização,
obsoletismo de equipamentos e ausência de cultura associativa condenaram o
empreendimento.
Além dessas experiências, que, embora não tenham sido únicas, estão
documentadas, outras cooperativas de geração de renda e recuperação de fábricas
foram organizadas com apoio de agências de desenvolvimento a partir do final da
década de 1970. Destas, destacamos dez cooperativas apoiadas pela InterAmericam
Fundation (IAF) no Norte e no Nordeste do país (Cavalcanti, 1988). A maioria
dos projetos poderia ser classificada como cooperativa de geração de renda em
comunidades sem alternativas de trabalho no Pará, Piauí, Ceará e Rio Grande do
Norte. Apenas uma delas, a COMTERN, no Rio Grande do Norte, foi constituída com
o fechamento de uma fábrica têxtil quando, influenciados pela experiência da
fábrica paraibana já mencionada, os trabalhadores organizaram uma cooperativa
por intermédio do sindicato.
As avaliações realizadas sobre os projetos de recuperação destacavam as
dificuldades da manutenção das cooperativas e as perspectivas restritas de
continuidade, uma vez que as relações com o mercado eram frágeis e todas tinham
problemas de comercialização de seus produtos. A exceção foi a fábrica
recuperada que produzia etiquetas tecidas e tinha apenas uma concorrente na
região, beneficiando-se da crise econômica pela qual passava o setor têxtil
como um todo. Além do aporte financeiro da IAF, a fábrica contou com a
liberação da hipoteca da maquinaria pelo Banco Estadual e ganhou na justiça uma
pendência com o então IAPAS, que exigia da cooperativa o pagamento dos débitos
da fábrica (Osório, 1988). Mesmo assim, a cooperativa não constava do registro
da Organização Estadual das Cooperativas em 1997 (assim como informações sobre
sua existência), o que pode indicar sua possível liquidação ou transformação em
empresa regular.
Com a abertura das exportações e a adoção de políticas neoliberais, durante o
Governo Collor a partir de 1990, o parque industrial brasileiro sofre profundas
transformações para enfrentar a competição internacional. Fábricas são
fechadas, setores inteiros são desnacionalizados e outros se reestruturaram.
Empresas públicas são privatizadas e o desemprego assume patamares elevados.
Nesse momento, podemos falar do início da atual onda de associativismo de
trabalho e produção no país.
No setor industrial, um marco do associativismo foi a falência da fábrica de
calçados Makerly, em Franca, e sua transformação em empresa autogestionária, em
1992, assessorada pelo Dieese, com a participação de técnicos oriundos do
movimento sindical paulista. A assessoria fundamentava-se na experiência dos
ESOPs (Employee Stocks Ownership Plans), programa do governo norte-americano
para os trabalhadores adquirirem ações das empresas, além das experiências de
associações comunitárias e do movimento sindical do ABC. Outros projetos de
recuperação de empresas falidas foram implementados, como a Cobertores
Parahyba, a Facit e a Hidro-Phoenix. Em 1994, foi organizado em São Paulo,
contando com a participação de representantes de seis cooperativas, o I
Encontro dos Trabalhadores de Empresas de Autogestão, no qual foi criado a
ANTEAG (Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e
Participação Acionária) para assessorar a formação de empresas solidárias
(Singer, 2002).7
A partir dos anos de 1990, temos a multiplicação de cooperativas "defensivas",
"fênix" ou com outras denominações para projetos de recuperação de empresas. A
diferença do período é o caráter de rede proposto pela associação, a assessoria
especializada e a adesão aos princípios de autogestão e democracia no trabalho
(ANTEAG, 2000; Sola, 2000; Nakano, 2000). Posteriormente, a ANTEAG começou a
trabalhar juntamente com o governo do Rio Grande do Sul na organização de
cooperativas resultantes do deslocamento e do fechamento de fábricas de
calçados, e com prefeituras como a de São Paulo.
Ao lado das propostas autogestionárias com fundamentação no movimento sindical,
na década de 1990, multiplicou-se também o que foi chamado de "falsas
cooperativas", cooperativas tradicionais ou cooperativas pragmáticas. Para
efeito deste artigo, as denominaremos "pragmáticas". As empresas capitalistas
regulares perceberam que poderiam terceirizar suas atividades de forma bastante
vantajosa se organizassem cooperativas para seus trabalhadores. Fazendas
produtoras de laranja no estado de São Paulo foram as primeiras a serem
denunciadas por essa prática. Do dia para a noite, surgiram cooperativas com
mais de mil trabalhadores para colher laranjas. Conhecidas como "coopergatos",
essas empresas utilizavam o intermediário ' o gato, aliciador de trabalhadores
' para organizar empresas cooperativas que as livrassem dos encargos
trabalhistas. A justiça interveio e esse procedimento foi abandonado.
Entretanto, com o crescimento da focalização das empresas (processo no qual
passam a dedicar-se ao produto principal, terceirizando os demais), inúmeras
empresas industriais e de serviços passaram a sugerir que seus trabalhadores
organizassem cooperativas para a realização de tarefas que elas deixariam de
realizar diretamente. Isto aconteceu com empresas elétricas, telefônicas,
bancos e indústrias. Mais que cooperativas com propostas autogestionárias de
autonomia dos trabalhadores, elas podem ser chamadas de "pragmáticas" ou, em
outros termos, voltadas à terceirização de atividades com o objetivo de reduzir
custos com a força de trabalho. E a aceitação pelos trabalhadores é igualmente
"pragmática": a manutenção de emprego.
Na perspectiva "pragmática", alguns governos estaduais, com a guerra fiscal
entre estados e municípios na busca de atração de investimentos industriais,
passaram a incluir no "pacote" de incentivos oferecidos às empresas que se
instalassem em seus territórios a terceirização industrial em cooperativas de
produção organizadas por instituições governamentais. Uma política de
desenvolvimento em consonância com os novos paradigmas produtivos. O estado do
Ceará, pioneiro na utilização desse processo, buscou atrair empresas de
trabalho intensivo, tais como as têxteis, as confecções e os calçados (de
origem gaúcha e paulista em sua maioria), as quais deveriam se instalar em
cidades do interior do estado. Com esse objetivo, a partir de 1994, foram
construídos centros de treinamento e organizaram-se cooperativas de produção
industrial em diversos municípios nos quais se instalaram escritórios de
empresas calçadistas e de confecções ao lado de galpões industriais de "suas"
cooperativas, com uma média de trezentos trabalhadores cada. Um conjunto de
cooperativas de confecção vinculado a uma fábrica de investidores "taiwaneses"
chegou a empregar 1.800 trabalhadores (Moreira, 1997). Em 1997, com denúncias
de trabalho assalariado disfarçado e a má gestão de algumas cooperativas, parte
delas foi fechada ou transformou-se em empresas regulares. Outras continuam
funcionando normalmente. A característica dessas cooperativas era trabalhar
como faccionistas de empresas na montagem de calçados e na finalização de
confecções, e as que permaneceram foram progressivamente se adequando aos
estatutos formais das cooperativas sem que as empresas abrissem mão do controle
da produção. O impacto dessas cooperativas em municípios sertanejos com uma
população média de 20 mil habitantes foi muito grande. Houve a criação de cem a
trezentos empregos diretos e foram observados reflexos positivos nas economias
locais fazendo com que, por algum tempo, os municípios disputassem a
implantação dessas cooperativas.
No caminho aberto pela experiência cearense, a Paraíba e o Maranhão tentaram,
com menor êxito, políticas semelhantes. Na Paraíba, a pressão da Procuradoria
da República fez o estado abandonar rapidamente essa política, que foi
anunciada, inclusive, no folder que visava a atrair empresas para o estado. A
autuação da maior cooperativa do estado, vinculada a uma fábrica paulista de
calçados (que anunciou no jornal a contratação de empregados para a
cooperativa), resultou na contratação de todos os trabalhadores pela fábrica.
No Maranhão, um grande projeto do mesmo grupo taiwanês que atuava no Ceará foi
implantado na cidade de Rosário, com a construção de um pólo industrial de
confecções que previa a criação de aproximadamente quatro mil empregos
"associados". A fábrica-cooperativa funcionou durante nove meses e chegou a
empregar novecentos trabalhadores; em seguida, entrou em uma crise que culminou
com o afastamento do grupo empresarial (Lima, 2002). No município de Lima
Campos, a expansão de uma empresa privada deu-se na forma de cooperativa. A
sugestão da transformação da fábrica em cooperativa foi do governo do estado, a
partir de programa de geração de renda denominado "Comunidade Viva", com a
criação de quinze "Grupos de Trabalhadores". Com isso a fábrica foi desativada
e foram criados os "Grupos de Trabalhadores" coordenados pela empresa e que
contavam, em 2003, com cerca de duzentos trabalhadores associados (Reis, 2003).
Outras experiências foram implantadas em municípios do Rio Grande do Norte e
Pernambuco, vinculadas a grupos políticos ou a fábricas em processo de
terceirização, e parte ainda continua funcionando, apesar da constante
fiscalização. Quando a cooperativa trabalha exclusivamente para uma empresa,
esta controla o processo produtivo, além de manter suas máquinas em regime de
comodato. Outras cooperativas, organizadas gerencialmente, buscam diversificar
contratos para evitar dependências. Nesses casos, contam com empréstimos do
Banco do Nordeste, além dos incentivos dos governos estaduais.
Antes de serem implementadas no Nordeste como "política social", experiências
semelhantes foram organizadas em outros países. Na Espanha, foram implantadas
principalmente na Galícia e na Andaluzia, regiões consideradas menos
desenvolvidas. Nestas, parcerias com grandes empresas (cadeias de lojas ou
indústrias), Igreja Católica e outros setores sociais organizaram cooperativas
de confecções, empregando principalmente mulheres que passaram a trabalhar "em
rede" para essas empresas dentro dos parâmetros da flexibilidade e da
competitividade internacional. Ao contrário de Mondragón, no País Basco, não se
formou um complexo cooperativo autônomo, mas se criaram redes de cooperativas
profundamente dependentes das empresas (Herranz e Hoss, 1990-1991; Baldacchino,
1990).
Em comum, nessas cooperativas, havia a presença formal da autogestão, com
conselhos fiscais e diretoria eleita, mas vinculadas às empresas primeiras. O
caráter pragmático refere-se à associação Estado-empresas na fórmula geração de
emprego e renda e, principalmente, redução de custos (Lima, 2002).
Cooperativas, sindicalismo e economia solidária
Num contexto de reestruturação econômica e reformas neoliberais no país, com a
redução do emprego formal, com o crescimento da informalidade, do chamado
desemprego estrutural e da decorrente desarticulação do sindicalismo, a busca
por alternativas deu-se, inicialmente, como reações a casos pontuais para a
manutenção de empregos. Observamos, em seguida, o envolvimento de sindicatos na
luta de operários ameaçados de desemprego devido ao fechamento de fábricas e, a
partir da mobilização dos trabalhadores, o apoio à formação de cooperativas. A
Federação Democrática dos Sapateiros do Rio Grande do Sul, filiada à CUT, com o
fechamento sistemático de fábricas no pólo calçadista do Vale dos Sinos, a
partir de 1995-1996, passou a apoiar a formação de cooperativas de produção e
de trabalho, por meio do aval a linhas de créditos destinadas à compra de
máquinas, à formação profissional, à assessoria e à formação de parcerias com
empresas.
O sindicato dos trabalhadores calçadistas do Ceará, num primeiro momento, em
1997, passou a combater a organização de "cooperativas pragmáticas" em campanha
contra a instalação de "falsas cooperativas" no interior do estado. A
reivindicação, na época, era eliminar as cooperativas por meio de seu
fechamento ou por sua transformação em empresa regular. A campanha contra as
cooperativas promovidas pelo sindicato provocou, inicialmente, a desconfiança
dos trabalhadores cooperados na atuação do Sindicato por considerarem uma
ameaça direta aos seus empregos. As empresas aumentavam essa desconfiança
ameaçando o fechamento das unidades fabris, em tese, as cooperativas (Lima e
Araújo, 1999).
Por largo tempo, os sindicatos não discutiram o problema dos trabalhadores
associados. Seja pelo seu número restrito, seja por não terem, até então, se
constituído em problema. Esses trabalhadores eram vistos como autônomos e,
portanto, fora do sindicato.
A partir do final de 1997, essa situação foi alterada com o início de
discussões mais sistemáticas, promovidas pela Central Única dos Trabalhadores,
que propunha o debate sobre as cooperativas, segundo os princípios da Economia
Solidária.
A maior visibilidade dos trabalhadores cooperados em países como a Itália,
França e Espanha fez com que, historicamente, conforme as especificidades
políticas nacionais, representantes sindicais participassem das cooperativas e
de suas federações. No caso espanhol, foram significativos os debate sobre a
presença sindical em Mondragón, no período pós-franquista, nos movimentos pela
equiparação de direitos entre trabalhadores associados e os trabalhadores
assalariados, e a possibilidade de sindicalização dos associados (White e
White, 1989).8
Segundo Singer, o conceito de Economia Solidária possui diversas acepções
(Economia Social, Economia Popular), mas conserva, em comum, a contraposição
entre a solidariedade e o individualismo competitivo predominante na sociedade
capitalista. Trata-se de organizações de produtores em forma de autogestão: na
igualdade de direitos de todos os membros; na propriedade comum do capital,
numa distribuição mais igualitária, bem como em sua gestão democrática. A
cooperativa seria, por excelência, o tipo ideal de empreendimento solidário,
voltado aos desempregados, aos trabalhadores em via de perder o emprego e aos
pobres. Constitui-se resposta à reestruturação econômica capitalista e às suas
conseqüências na precarização do trabalho e da vida social (Singer, 2000, 2002,
2003).
A retomada da idéia de cooperativismo considera, igualmente, as mudanças
tecnológicas e organizacionais das últimas décadas, a crise do fordismo e do
assalariamento e a adoção do trabalho flexível como novo paradigma da
organização da produção e do trabalho. A flexibilidade na organização do
trabalho é valorizada em seus aspectos positivos, considerando-se a maior
participação e autonomia do trabalhador na base, por meio das células de
produção e do trabalho em equipe bem como da valorização do conhecimento
operário. Os aspectos positivos terminam, contudo, por ser anulados em
decorrência da intensificação do trabalho, do desemprego e da exclusão social
ocasionados pela flexibilização.
A distinção entre o novo representado pelo cooperativismo solidário e o velho
representado pelo cooperativismo tradicional (leia-se as "cooperativas
pragmáticas") reapresenta a questão do cooperativismo "degenerado", que
abandonou os princípios do movimento cooperativista e se transformou apenas
numa variante das empresas capitalistas regulares. Recupera-se, assim, o debate
iniciado no século XIX em torno da tese da degenerescência das cooperativas.
A proposta de Economia Solidária foi incorporada ao movimento sindical. Em
1999, a CUT organizou em São Paulo, um seminário internacional sobre
desenvolvimento solidário, que culminou na criação da Agência de
Desenvolvimento Solidário, ADS, cujos objetivos eram criar novas oportunidades
de renda e trabalho em organizações de caráter solidário, contribuindo com
alternativas para um desenvolvimento social e sustentável, além de criar um
Sistema Nacional de Crédito Cooperativo, educar trabalhadores na perspectiva
solidária, viabilizar a inserção dos empreendimentos solidários no mercado,
difundir os princípios da economia solidária no mercado e criar um novo
cooperativismo (combatendo as falsas cooperativas). O Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC, em seu terceiro congresso, realizado no ano 2000, aprovou
resolução de incentivo ao cooperativismo como alternativa de trabalho e renda,
aprovou a associação dos cooperados ao sindicato e se propôs a apoiar a criação
de cooperativas de produção. A partir dos dois eventos, o movimento sindical
passou a responder a uma situação de fato: a multiplicação da produção na forma
de trabalho cooperado, na qual, em tese, o trabalhador desempenharia papel
central. Além disso, o Sindicato dos Químicos do ABC e um grupo de cooperativas
formaram a Unisol Cooperativas ' associação de defesa e apoio desses
empreendimentos por meio da busca de linhas de financiamento e promoção de
qualificação e requalificação profissional, voltadas ao trabalho associado e a
funções de assessoria semelhantes às da ANTEAG (Magalhães, 2001; Magalhães e
Todeschini, 2000; Singer, 2002).
Outra proposta implementada foi da formação das Incubadoras Tecnológicas de
Cooperativas Populares, criadas pela Coppe/UFRJ, com apoio da Finep e do Banco
do Brasil, voltadas à organização de empreendimentos comunitários. Em 1998, foi
lançado o PRONINC (Programa Nacional de Incubadora de Cooperativas), para
ampliar o número de incubadoras nas universidades e, a partir de 1999, foi
criada a rede de incubadoras vinculada à Fundação Unitrabalho. Esses programas
contaram com forte apoio da rede Cáritas brasileira e internacional,
instituição católica de apoio à ação social da Igreja (Singer, 2002).
Nesta perspectiva, o governo petista do Rio Grande do Sul criou, em 1999, o
Programa de Economia Popular e Solidária, dirigido pela Coordenação de Economia
Popular e Solidária (ECOPOPSOL), da Secretaria do Desenvolvimento e Assuntos
Internacionais (SEDAI), com apoio da ANTEAG. Desde então, foram criadas em
torno de 120 cooperativas, nos diversos ramos da produção e serviços. O
programa passou a apoiar cooperativas de produção industrial calçadistas do
"Vale dos Sinos", de pequenos produtores e agricultores, de assentados do MST,
redes de pequenos proprietários de comércio e serviços, e cooperativas
defensivas formadas por antigas indústrias que faliram (Cruz, 2001).
Entretanto, com a saída do Partido dos Trabalhadores do governo estadual do Rio
Grande do Sul, o programa perdeu prioridade.
Problemas que permeiam o modelo
O estudo das experiências de trabalho associado em cooperativas, em
empreendimentos solidários ou não, aponta para dificuldades inerentes a uma
proposta coletivista dentro do capitalismo. Tendo como referência as
cooperativas britânicas, Cornforth e Thomas (1990) destacam que, na cultura
individualista e materialista do capitalismo, o apelo do trabalho em
cooperativas, com o pressuposto da adesão voluntária e com objetivos sociais e
solidários, é muito baixo. Esse apelo aumentaria com a restrição de
alternativas decorrentes da reestruturação econômica e o desemprego, o que
explicaria o porquê do declínio do cooperativismo no auge do fordismo e sua
retomada atual.
Elementos culturais presentes no assalariamento, entendido como acesso a
direitos de cidadania, dificultam a compreensão de uma proposta autogestionária
na qual a divisão do trabalho entre os que pensam e os que fazem tenderia senão
a desaparecer, pelo menos, a diminuir. O fato de as cooperativas de produção
industrial terem no trabalho seu aspecto fundante e único capital dos novos
"proprietários" resulta numa intensificação do trabalho inicial nem sempre
compreendida e bem aceita. Some-se a isso a fragilidade econômica das
cooperativas, que usualmente resultam de empresas falidas ou de programas de
geração de renda decorrentes de movimentos sociais de trabalhadores ou da
redução pragmática de custos empresariais.
Nos casos de recuperação de fábricas falidas, a questão tecnológica é um
dilema. As empresas em crise falimentar deixam de investir em tecnologia e,
quando as cooperativas assumem o controle, geralmente encontram máquinas
obsoletas, às vezes danificadas, implicando dificuldades para os trabalhadores
levarem o empreendimento adiante. As referências a dificuldades dessa ordem são
recorrentes. Osório tratou dos teares recuperados pelos próprios trabalhadores
na cooperativa formada no Rio Grande do Norte como condição para a fábrica
voltar a operar (1988); Alves e Barroso deram um depoimento sobre problemas de
equipamentos antigos na Coopervest de Aracaju (2000), que limitavam a expansão
da produção; Tauile e Debaco (2002) destacaram os equipamentos antigos e
obsoletos, que fazem com que as empresas cooperativas nasçam com uma estrutura
de capital deficiente e sem capacidade de financiamento de capital de giro, o
que compromete sua viabilidade.
Situação semelhante é encontrada em algumas cooperativas pragmáticas que
funcionam como terceiras. Organizadas visando ao rebaixamento de custos, passam
a realizar trabalho de montagem e acabamento de produtos (no caso visto aqui,
calçados e confecções) com os equipamentos das fábricas cedidos em comodato aos
trabalhadores. A maquinaria, em alguns casos, chega a ter mais de vinte anos de
uso (Lima, 2002), mas atende ao objetivo da fase da produção, predominantemente
de trabalho intensivo, na qual os imperativos tecnológicos são menores. Nesses
casos, a substituição de máquinas deterioradas não constitui problema, pois as
cooperativas funcionam, na prática, como setores das empresas, e estas se
responsabilizam por questões que possam comprometer a produção. Usualmente, em
projetos financiados por órgãos governamentais, ao contrário, a maquinaria é
nova, comprada por meio de empréstimos de bancos estatais avalizados pelas
empresas ou mesmo pelos órgãos governamentais. Quando os empréstimos não são
pagos, geralmente por falta de encomendas das empresas, as máquinas podem ser
arrestadas, inviabilizando as cooperativas.
Quanto à participação e à democratização do trabalho, estas não se constituem
em prioridades para as cooperativas assim formadas. As assembléias de
trabalhadores existem formalmente para legitimar decisões já tomadas. A
organização do trabalho continua hierarquizada e os supervisores de fábricas
decidem efetivamente o dia-a-dia da produção e algumas cooperativas contratam
pessoal de gerência externo à cooperativa. Os diretores formais dessas
cooperativas limitam-se a gerir a disciplina dos trabalhadores a partir das
diretrizes e dos estatutos sugeridos pelas empresas. Os trabalhadores
cooperados operam conforme as linhas de montagem tradicionais (confecções e
calçados) com algumas variações. Eventualmente, há a instalação de ilhas de
produção com equipes de trabalhadores, consideradas mais eficientes por
possibilitar maior controle do trabalho realizado pelo operário e por
responsabilizá-lo, perante a equipe, pela qualidade do material produzido e, em
conseqüência, pelos ganhos de produtividade da equipe. Os treinamentos sobre
qualidade e inovações organizacionais concentram-se no pessoal de supervisão.
Raramente os trabalhadores entendem as características e peculiaridades de uma
cooperativa, considerando-a uma empresa semelhante às outras, exceto pela
inexistência dos direitos que a empresa convencional garante aos empregados.
Mesmo quando as empresas "parceiras" e os órgãos estatais oferecem cursos de
cooperativismo aos trabalhadores, raramente seus princípios e propostas são
assimilados. Os trabalhadores deparam-se com contradições entre os
ensinamentos, o treinamento e o discurso apresentados nos cursos e a efetiva
organização do trabalho vigente na cooperativa, geralmente taylorizada e
fortemente hierarquizada, com a onipresença da empresa primeira no controle do
processo de trabalho através de seus funcionários que "supervisionam" o
serviço.
A possibilidade de os trabalhadores se perceberem proprietários da empresa é,
portanto, restrita, apesar de estarem permanentemente sendo informados do
caráter coletivo do empreendimento para efeito de envolvê-los no trabalho.
Entretanto, dado que a organização do trabalho não difere daquela da empresa
tradicional, fica difícil para o trabalhador entender que a empresa é dele e
que existe alguma vantagem nisso.
Do ponto de vista desses trabalhadores cooperados, além de eles não terem
carteira assinada ' o que na cultura dos trabalhadores é um símbolo de inclusão
social ', a obrigação de dar conta das encomendas acarreta, muitas vezes,
trabalho ininterrupto. As licenças e outros benefícios dependem da existência
de fundos de reservas, previstos na legislação cooperativista, mas que
pressupõem o funcionamento regular e relativamente estável das cooperativas.
Como nem sempre isso acontece (mesmo com contratos de exclusividade com as
empresas), o recebimento de alguns benefícios ficam adiados até a cooperativa
"fazer caixa". Mesmo assim, existe uma tendência de as empresas pressionarem as
cooperativas para a manutenção de fundos de reserva a fim de evitar problemas
com a fiscalização das delegacias do Trabalho e da Procuradoria da República.
Algumas empresas, mais precavidas, obrigam as cooperativas a descontarem dos
ganhos dos cooperados o INSS, uma vez que os trabalhadores raramente o recolhem
por conta própria, dado as baixas retiradas mensais.
Assim, as injunções do dia-a-dia das cooperativas contribuem para que os
trabalhadores se identifiquem fortemente com as empresas "parceiras" e
raramente se percebam membros das cooperativas. Basta dizer que em pequenas
cidades nordestinas, para localizar as cooperativas, é necessário perguntar
sobre a "cooperativa da fábrica tal".
A participação nas cooperativas é vista negativamente pelos trabalhadores, para
quem a afiliação à cooperativa deve-se à falta de opção de empregos em sua
região. Afirmam que, sem dúvida, sua situação melhorou: antes trabalhavam no
meio rural ou viviam de expedientes urbanos, raramente com experiência de
trabalho assalariado. Mesmo assim, percebem a permanência na cooperativa como
temporária, até "arrumarem alguma coisa melhor", de preferência numa empresa
regular e com "direitos".
Em decorrência do caráter contraditório da organização das cooperativas
pragmáticas, a rotatividade dos cooperados é grande, embora se reduza naquelas
mais estáveis, nas quais a produção é continuada (algumas mandam para casa os
trabalhadores quando não têm encomendas), não atrasam pagamentos e observam
minimamente a legislação cooperativista.
Tais questões, embora reflitam uma forma específica de organização de
cooperativa, não lhes são exclusivas. Mesmo em cooperativas formadas a partir
de movimento de trabalhadores para recuperação de empregos, são grandes os
problemas de adaptação. Primeiro com a redução de quadros e com a rotatividade
que, em alguns casos, tendem a ser elevadas. Na formação das cooperativas, o
número de trabalhadores que aceitam continuar é reduzido, comparativamente ao
número de trabalhadores existentes anteriormente e que preferem procurar outro
emprego. O mesmo se pode dizer dos quadros mais qualificados que, em grande
parte, não aderem a proposta de cooperativa. Os que permanecem têm dificuldades
de entender a nova situação de autogestão, de serem trabalhadores e patrões ao
mesmo tempo. Assim, problemas de disciplina, de hierarquia e de participação no
processo de adaptação dos trabalhadores são freqüentemente encontrados.
Outros fatores contribuem para a falta de participação dos associados: um deles
estaria relacionado à baixa escolaridade da maioria dos trabalhadores; outro,
ao fato de inexistir o hábito de se manifestarem em assembléia, o que poderia
decorrer da reduzida confiança nas suas possibilidades de intervenção; ou,
ainda, o fato de considerarem que a administração não seria um problema deles
(Singer, 2002; Holzmann, 2001; Maciel e Souto, 2002; Maciel, 2002; Alves e
Barroso, 2000). Podemos destacar que a falta de instrução formal dos
trabalhadores afeta particularmente os que ocupam cargos de direção. Segundo
Tauile e Debaco (2002), mesmo com o conhecimento prático do processo produtivo,
a carência de conhecimentos técnico-organizacionais e de questões
mercadológicas aumenta as dificuldades no processo de construção de um corpo
técnico adequado aos desafios impostos pela proposta autogestionária e sua
inserção num mercado competitivo.
Em grande medida, os trabalhadores continuam agindo como empregados e nem
sempre percebem a diferença da cooperativa e da empresa com o patrão (Souto,
2002). Isso depende de como, no processo de organização e consolidação das
cooperativas, a questão hierárquica é resolvida. A participação restrita do
conjunto dos trabalhadores termina por cristalizar hierarquias, reproduzindo
situações anteriores à cooperativa, com a separação crescente do pessoal da
administração do pessoal da produção.9
A adesão de novos membros cria duas situações distintas com relação ao
envolvimento com o empreendimento cooperativo: a presença de trabalhadores
assalariados ou a aceitação de novos associados. A aceitação de novos membros
resulta em problemas de envolvimento com a cooperativa, já que os novos não
participaram das lutas de transformação das empresas em cooperativas e
apresentam um envolvimento menor. A contratação de assalariados cria um
dualismo entre os trabalhadores associados que enfrentam o dilema de serem os
patrões e, ao mesmo tempo, terem menos direitos que seus colegas assalariados
protegidos, em certa medida, pela legislação trabalhista.
A manutenção da divisão do trabalho tradicional é outro fator que compromete o
caráter democrático da gestão, assim como a disciplina pela incompreensão, por
parte de trabalhadores, do significado do trabalho cooperativo. Necessidades da
produção exigem, às vezes, horários fixos de início e término do trabalho e nem
sempre os trabalhadores, agora associados, entendem que a disciplina é condição
de funcionamento da cooperativa. Avanços na democratização interna e na
flexibilidade dos processos produtivos no trabalho, o trabalho em grupo e a
polivalência funcional podem agir no sentido de mudanças nessa divisão, embora
também apresentem a necessidade de especializações. Essas questões são
percebidas como uma necessidade de educação cooperativa permanente, o que
levaria, a médio e a longo prazo, à superação dessas barreiras.
Por fim, podemos destacar que o fato de as cooperativas trabalharem, em grande
parte, como terceirizadas para outras empresas reflete negativamente na sua
autonomia. Nas cooperativas pragmáticas, significa o atrelamento direto às
empresas parceiras. Se a vinculação é com uma empresa única, a situação pode
ficar mais grave. Nos anos de 1990, cooperativas cearenses ficaram quase seis
meses sem encomendas em função da crise Argentina, país para o qual a empresa
parceira destinava parte de sua produção. Com isso, os trabalhadores ficaram
todo esse tempo sem receber nada.
"Pragmáticas" ou "defensivas" a vinculação das cooperativas a contratos de
terceirização mantém uma relação de dependência entre a empresa primeira e a
terceira, o que pode ser generalizado a outras relações empresariais.
Geralmente a empresa determina a produção, como deve ser organizada, os padrões
etc. Um exemplo dessa situação em cooperativa defensiva é a Coopervest de
Aracaju em sua dependência inicial ao grupo Sellinvest, minimizada
posteriormente com a abertura de marca e lojas próprias.
A discussão a respeito do ciclo de vida das cooperativas é recorrente na
literatura sobre o tema, desde o final do século XIX. Fundamenta-se na
perspectiva da degeneração dos princípios, marcada pela erosão gradual da
democracia interna, pela contração de gerentes e trabalhadores assalariados, e
pela transformação progressiva em empresa regular. Na análise de experiências
internacionais, verifica-se um padrão variado de funcionamento das
cooperativas, tal qual existe nas empresas regulares. No caso das pequenas
cooperativas, estas enfrentam situações comuns a pequenas empresas, e sua
propensão ao fechamento decorre dos problemas de mercado típico de pequenos
negócios. No caso de cooperativas maiores, as situações são distintas.
Mondragón, o modelo de cooperativa adaptado aos tempos de reestruração
econômica, tem praticamente cinqüenta anos de funcionamento, assim como algumas
cooperativas francesas e italianas, em que pese à discussão sobre a observância
aos princípios do cooperativismo.
No Brasil, as cooperativas de produção industrial crescem em todos os formatos
a partir do final dos anos de 1980 e início da década seguinte. Parte delas
está completando dez anos de funcionamento com êxitos diferenciados, o que
dificulta as considerações sobre a viabilidade ou não de sua continuidade.
Entretanto, devemos destacar que esses empreendimentos têm recebido apoio cada
vez maior de instituições sociais, de ONGs, do Estado e até de empresas (embora
com objetivos diferenciados) diante do novo quadro econômico, o que pode
indicar uma tendência de crescimento.
Perspectivas
Embora as cooperativas apareçam historicamente no movimento operário como
possibilidade autogestionária e de democracia no trabalho, sua implementação
efetiva defronta-se com diferentes contradições e depende de injunções
políticas e econômicas: surgem sempre em momento de crise econômica e visam a
atenuar situações de desemprego. Para Quijano (2002), as regras que regem as
cooperativas são as do mercado e do salário, e o caráter de reciprocidade ou
solidariedade operaria externamente às relações de trabalho, a partir da
decisão consciente de seus membros. Essa consciência deriva de um processo
complexo, pois raramente significa uma situação de materialidade objetiva mais
satisfatória para seus membros do que a vivida anteriormente, o que explica o
desinteresse por esse tipo de empreendimento em momentos de estabilidade e
crescimento econômico. O caráter voluntário da adesão às cooperativas fica
comprometido em contextos de crise econômica, nos quais as possibilidades de
ocupação são reduzidas. Fica a questão se é uma alternativa à exploração
capitalista, ou à falta dessa mesma exploração.
Dois elementos presentes na organização das cooperativas destacam-se no debate:
a externalidade de seus organizadores, ou seja, a presença do Estado, de
sindicatos, ONGs e mesmo empresas; e sua heterogeneidade no espectro
ideológico, que vai de grupos empresariais a movimentos socialistas. Todos com
a perspectiva, de certa forma contraditória, de inserção no mercado. Haveria
uma lógica diferente na inserção, conforme a perspectiva ideológica? Falta
saber qual seria essa lógica.
As cooperativas atenderiam, dependendo de quem as organiza, desde rebaixamento
de custos para empresas, passando pela formação de novos empreendedores
capitalistas, até uma complexa democracia no trabalho. Ambas podem, de certa
forma, atender a propostas de geração de renda e de manutenção e criação de
empregos num contexto no qual estes estão se reduzindo. Daí o diferencial, como
assinalado por Quijano, estaria na disposição dos membros em participarem
desses empreendimentos e na sua adesão ideológica aos princípios
autogestionários.
Nesse quadro, o crescimento da economia solidária mostra uma saída possível,
uma política de desenvolvimento sustentável paralela às instituições
capitalistas regulares e, contraditoriamente, integrada a ela. Várias
cooperativas pragmáticas fecham quando são abandonadas pelas empresas primeiras
que as sustentam. O apoio a esses empreendimentos poderia alterar o quadro. O
combate explícito às cooperativas não solidárias talvez fosse mais efetivo se
considerasse a possibilidade de transformação de cooperativas não solidárias em
solidárias por meio da educação cooperativa de seus membros sobre os princípios
do cooperativismo e pelo debate democrático na sociedade.
A distinção entre cooperativas verdadeiras e falsas reintroduz, como afirmamos
no início, um debate secular, assim como retoma as questões sobre a sua
utilização pelo capital e a sua possível degenerescência. As transformações do
capitalismo, embora não tenham alterado seus fundamentos, alteraram as
perspectivas da luta dos trabalhadores pelo socialismo ou por formas mais
igualitárias de organização social. A discussão sobre mudanças na direção de
uma sociedade solidária nos marcos da sociedade capitalista pressupõe pensar um
processo de mudança cultural a médio e a longo prazo. Nesse ínterim, a criação
de uma cultura associativa é um processo possível, mas lento, o que indica que
as cooperativas refletirão, ainda por um bom tempo, a falta de opção dos
trabalhadores mais do que uma escolha efetiva pela autonomia e solidariedade. A
contraposição entre alternativa à espoliação do trabalho versus opção pela
autonomia solidária ganha relevo ainda maior ao considerarmos a funcionalidade
da organização de cooperativas em uma conjuntura de flexibilidade e crescente
fragilidade dos direitos sociais.
NOTAS
1 As definições de cooperativas de trabalho e de produção industrial não são
muito precisas. As de trabalho, segundo a Organização das Cooperativas
brasileiras reuniriam diversos tipos de profissionais para a prestação de
serviço para terceiros, e a de produção industrial organizariam a produção como
um todo, tal qual uma fábrica comum, onde o produto final é resultado do
trabalho coletivo (Lima, 1998). Utilizaremos os termos aqui como sinônimos.
2 Oakeshott (1978) refere-se à situação obscura das cooperativas italianas no
período fascista, que teriam recebido isenções de impostos e outras vantagens
do Estado.
3 Sobre a experiência iuguslava, ver Prasnikar e Prasnikar (1986).
4 Sobre os Kibbutz israelenses, ver Rosner (1991).
5 Sobre Mondragón, ver White e White (1989), Singer (2000) e Moye (1993).
6 Uma crítica ao modelo autogestionário de Mondragón é feita por Kasmir (1996).
7 Ver adiante a definição de economia solidária.
8 Kasmir faz referência às reclamações do sindicato sobre a baixa adesão dos
trabalhadores cooperados de Mondragón no movimento operário local (1996).
9 Situação igualmente encontrada por Kasmir em Mondragón (1996).