A reforma neoliberal da educação superior no Chile em 1981
Introdução
Este artigo analisa o impacto da reforma da educação superior de 1981 no
sistema universitário estadual chileno, detendo-se em um de seus principais
eixos ' estrutura do financiamento público ', a partir do qual são
identificadas suas conseqüências mais relevantes no que diz respeito à
orientação do sistema e de seus principais atores institucionais.
A temática do financiamento da educação universitária e a ação direta do Estado
neste âmbito adquiriram complexidade e relevância cada vez maiores no plano
internacional, o que, no caso do Chile, é bastante significativo, já que desde
o final da década de 1970 as autoridades assumiram sem contrapeso "o mercado"
como a política econômica do país, incluindo todos os setores (exceto a
defesa). Como conseqüência, o Estado reduziu sua influência no setor
educacional e passou a financiar a ação de setores privados como executores de
suas políticas.
De outro ângulo, é significativo que mesmo depois da queda do regime militar
muitos temas de interesse público não foram discutidos em esferas mais amplas
da sociedade, pelo contrário são considerados conhecidos, aceitos ou
rejeitados, sem uma discussão mais detida. A falta de uma busca sistemática da
opinião pública, mesmo depois de treze anos de reinstaurada a democracia no
país, atinge também a discussão a respeito do financiamento da educação tanto
em seu nível mais técnico, como também ideológico, o que facilita manter como
"verdade" muitos dos conceitos "antiestado" sustentados pelo neoliberalismo,
sem que se faça uma revisão crítica de suas idéias, salvo em reduzidos círculos
intelectuais.
Este artigo pretende refletir sobre o impacto gerado pela reforma educacional
de 1981 não só na estrutura de financiamento do sistema universitário, mas
também, fundamentalmente, nas orientações relacionadas nessa estrutura,
revisando as razões que sustentam que o Estado deva financiar suas
universidades, por intermédio das quais realiza a provisão direta dos diversos
serviços educativos, antecedentes que, finalmente, permitem discutir o papel do
Estado nesse mercado.1
Em particular, este trabalho se reporta à esfera universitária, uma vez que, no
Chile, o ensino básico e médio, diversamente do ensino superior, é obrigatório,
e, portanto, o Estado deve atender a todas as demandas neste setor, inclusive
empregando agentes particulares como executores, para cumprir com seu dever
junto à população.
Atualmente, o sistema universitário chileno apresenta 65 instituições agrupadas
em dois conjuntos que, por sua vez, implicam diferentes opções de
financiamento. No Conselho de Reitores, encontram-se as instituições mais
antigas e de maior tradição (16 estaduais e 9 particulares), que recebem a
maior parte do financiamento estatal. As outras fazem parte do grupo chamado de
"extra-conselho" ' incluem as universidades privadas, criadas a partir de 1981,
e que têm acesso a fundos públicos específicos.
A concepção da reforma do sistema universitário chileno
Em 1981, o regime militar realizou uma grande mudança no sistema educacional
como um todo, o que também envolveu a educação universitária. O sistema
universitário nacional em vigor até 1980 tinha como modelo o financiamento da
oferta e previa a ação direta do Estado na educação;2 a partir de 1981, foi
substituído por um modelo com componentes de financiamento da demanda.
A transformação, realizada sob um regime autoritário, foi imposta em escala
nacional, sem que houvesse participação ou poder de decisão dos autores
envolvidos. Naquela ocasião, o contexto político chileno distinguia-se pela
falta quase total de participação da população nas decisões nacionais e, no
plano econômico, pela implantação do modelo de livre-mercado, centrado na
necessidade de introduzir doses crescentes de competitividade3 em cada um dos
setores da atividade econômica, aumentando sobremaneira a participação de
setores privados, com o objetivo de diminuir a estrutura estatal e as
responsabilidade do Estado na produção de bens e serviços.
Essa mudança de modelo na área educacional não se fez com base em uma discussão
pública, nem em um diagnóstico que comprovasse o fracasso do modelo de subsídio
e a necessidade urgente de mudá-lo. A revisão da literatura da época revela a
carência de estudos que expliquem, de forma absoluta, a decisão adotada (Jofré,
1988). Em conseqüência, pode-se afirmar que a mudança na modalidade de
financiamento público da educação obedeceu fundamentalmente a uma decisão
política das autoridades do país em aplicar sem restrições o modelo econômico
de livre-mercado em âmbito nacional, que abarcou o conjunto dos setores da
sociedade, inclusive o educacional.
Essa situação foi acompanhada de uma reformulação do sistema educacional
nacional, o que implicou tanto reformas estruturais, como mudanças nos
mecanismos do financiamento. Das oito universidades financiadas pelo Estado
formaram-se 25 centros universitários. Desde então, a partir dessas oito, foram
criadas novas universidades, incorporando-se, além disso, outras de origem
nitidamente privada.4 Isso gerou, em pouco mais de dez anos (1981-1994), um
sistema universitário estruturado sobre a base de setenta instituições, que,
depois de falências, fusões e surgimento de novas corporações, se estabilizou
em torno de 65 instituições. Conforme já assinalado, o Estado financia sob
igual modelo seus dezesseis centros, inclusive nove universidades particulares,
que fazem parte do "Conselho de Reitores".
O panorama criado pela reforma de 1981 implicou também a definição de alguns
cursos "exclusivos" ' primeiramente doze cursos aos quais se agregaram mais
tarde outros cinco ' para serem ministrados pelas universidades (DFL 1/80,
Artigo nº 12). Essa situação gerou, a médio prazo, a criação de uma nova
estratificação do sistema universitário. Além disso, esse processo foi
complementado desde o início pela criação de novas instâncias legais, os
institutos profissionais (IP), cuja orientação é a formação de profissionais
que apresentam componentes técnicos ou uma base de aplicação sólida, e os
centros de formação técnica (CFT), dirigidos fundamentalmente à formação de
subtécnicos.
A reforma considerou diferentes critérios de alocação do financiamento do
Estado ao sistema universitário,5 fenômeno que, devido aos mecanismos
empregados para a redução, por volta de 1982, de uma porcentagem significativa
da contribuição do Estado, trouxe consigo outras conseqüências diretas, como,
por exemplo, a vinculação do financiamento das escolas aos resultados do
sistema de seleção para o ingresso nas universidades,6 ' Prova de Capacitação
Acadêmica (PCA) e, atualmente, Prova de Seleção Universitária (PSU). Isso gerou
distorções nos critérios de admissão que até hoje não se conseguiu solucionar
(Donoso, 2003).
Nesse contexto, a educação superior viu-se diante de uma nova organização
estrutural, isto é, uma estratificação muito mais definida, com entidades que
amparam segmentos sociais e com diversas opções de formação e de localização.
Portanto, dificilmente se pode falar em um mercado homogêneo, ao contrário,
trata-se de vários mercados heterogêneos, compostos por submercados, onde se
relacionam e negociam diferentes forças e tensões. Assim, há um mercado
elementar ' os centros de formação técnica, seguidos pelos institutos
profissionais, algumas universidades privadas e algumas universidades privadas
e públicas ', e o mercado que comporta algumas universidades públicas e
estaduais, que, por sua vez, varia segundo a localização geográfica (região ou
província).
Apesar dessas mudanças de forma, é possível sustentar que a educação
universitária chilena sempre existiu sob o paradigma da modernização. Desde a
fundação da Universidade do Chile (meados do século XIX) até os nossos dias,
não há uma mudança na concepção desse modelo. O que tem variado são os enfoques
históricos dessa concepção, os quais transitaram entre os ideais de uma
universidade em parte napoleônica, em parte medieval, passando pelas teorias
positivistas, desenvolvimentistas, até chegar às idéias de livre-mercardo da
atualidade.
Por essa razão é plausível perguntar se houve mudança na base dessa concepção
ou se estamos em uma situação fora da modernidade. A educação universitária
esteve orientada para ajustar os perfis institucionais aos novos tempos e é por
isso que em certos momentos se fala em "universidade em crise" ou "educação em
crise". As mudanças no sistema universitário ocorreram, basicamente, na
velocidade do ajuste às demandas, ao grau de influência de suas diferentes
unidades, às variações que acontecem na cultura organizacional em relação à
mudança e à inovação e, ainda, nas relações mantidas pela universidade com o
sistema educacional como um todo. De outro lado ' como afirma A. Gehlen ', as
premissas da Ilustração caíram por terra, somente suas conseqüências permanecem
(apud Habernas, 1985). Ou seja, a modernidade, como forma cultural primária,
deixou de existir.
A modernidade pode ser entendida ao menos sob dois pontos de vista, a saber, no
sentido filosófico e cultural, e no âmbito das leis funcionais da sociedade, da
economia e do Estado, em que a ciência e a técnica passam a ser o referencial
de estabilidade no contexto de um mercado onisciente, transparente e perfeito.
A modernização como concepção sustenta os processos da política educacional
desde o final do primeiro quarto do século XX até os nossos dias. Ao longo de
todos esses anos e apesar das críticas recebidas a educação universitária tem
ocupado um lugar privilegiado, como uma racionalidade exemplar, mesmo quando as
políticas educacionais impulsionadas pelo Estado nem sempre refletem tal
relevância. Nas concepções que imperam em nossa sociedade, a universidade é,
sem dúvida, um fenômeno cultural de envergadura, vinculado estreitamente ao
surgimento, no século XX, de importantes setores sociais de nível médio que
reconhecem na educação um papel preponderante para a obtenção de vantagens
sociais, culturais e econômicas. Trata-se precisamente do referente que vem
confirmar a racionalidade intrínseca ao sistema.
O sucesso dessa concepção de maior relevância nas últimas décadas reside na
reforma da educação superior, impulsionada em 1981. Isto propiciou um conjunto
de condições que geraram profundas mudanças tanto na estrutura como na própria
concepção da educação superior. O sistema universitário iniciou uma rápida
trajetória em direção a uma nova racionalidade modernizadora, que se expressa
de diferentes maneiras. Ao mesmo tempo, as mudanças incorporaram novas energias
mediante o replanejamento de aspectos da vida universitária que pareciam
praticamente intocáveis.
Em suma, as mudanças caracterizam-se pela passagem, em menos de uma década, de
uma estrutura fechada e barroca para um mercado aberto, liberalizado, em seu
mais lato sentido, e aparentemente sujeito aos controles dos mesmos agentes.
Trata-se do pressuposto de que existe uma racionalidade intrínseca ao mercado
que se realiza plenamente por meio deste e não pelo Estado, ou seja, é a
interação livre de concepções individuais que, em seu conjunto, reflete a
racionalidade do real e a realidade da razão (tudo que é racional é real; tudo
que é real é racional).
Esse processo ' não de todo sincronizado ' deixou pendentes algumas discussões
decorrentes do confronto de projetos distintos em um mercado que, mesmo
suportando idéias divergentes, não aceita definitivamente a geração de
paradigmas alternativos. Aí reside o principal fator indicador e operador das
reiteradas crises que enfrenta.
Estado e mecanismos de financiamento das universidades
O regime militar considerou desde seu início, em 1974, que o acionamento do
Estado se baseava no princípio de fornecimento de subsídios, e não na visão do
Estado como benfeitor. Esse aspecto, consistente com a visão de mercado
projetada pela economia neoliberal (Novak, 1999), implicou a mudança do papel
do Estado, de seus critérios e instrumentos de operação, elementos que serão
analisados a seguir.
Papel representado pelo Estado no campo educacional
Com a reforma de 1981, a universidade deixou de ser sinônimo de educação
superior, abrindo-se a uma gama de níveis e possibilidades.7 As mudanças mais
notáveis podem ser observadas na desorganização do sistema ' ampliação da
categoria das instituições de educação superior, incremento do número de
instituições em cada um dos níveis do sistema e aumento e diferenciação da
oferta de cursos e de vagas.
A efetivação das propostas da reforma gerou duas novas categorias de
classificação institucional: universidades "derivadas" e universidades
"privadas". As primeiras constituíram-se a partir das sedes regionais que
mantinham as duas universidades estaduais ' Universidade do Chile e
Universidade Técnica do Estado. Esse processo, alguns anos depois, também
incluiu a Pontifícia Universidade Católica do Chile, que se separou de suas
sedes, adquirindo autonomia e conservando o caráter de instituição pública com
financiamento estadual. O segundo grupo formou-se de maneira inteiramente nova.
As instituições de caráter privado não possuem financiamento direto do Estado,
o que não acontece no caso das seis universidades privadas (quatro católicas e
duas laicas) anteriores à reforma, as quais, paradoxalmente, mesmo sendo
privadas, são identificadas com a função pública que cumprem.
Nesse contexto, podemos afirmar que o Estado passou a ser um ator secundário
nesse campo, com exceção ' conforme já se salientou ' que ele mantém um
conjunto de universidades, as quais financia parcialmente, juntamente com
outras universidades privadas.
O papel passivo desempenhado pelo Estado no cenário da educação universitária
deve-se, entre outros motivos, ao fato de que a legislação da reforma lhe
impediu uma ação mais efetiva, ainda que pareça que ele não tenha buscado, ou
não pôde conseguir, uma participação mais decisiva no setor,8 devido a
problemas de financiamento adicionais que tal fato poderia implicar. Pode-se
dizer que o Estado se auto-restringiu, atribuindo-se um papel secundário, não
apenas por razões político-ideológicas que sustentam a reforma de 1981, mas
também, e sobretudo, pela questão financeira mais direta.
Instrumentos de financiamento
Como foi esboçado, a reforma mudou os critérios de atribuição dos recursos
financeiros ao sistema universitário. Até 1980, o Estado sustentava,
praticamente em sua totalidade, as oito universidades do sistema, mediante a
aplicação do "modelo de subsídio para a oferta", o qual se caracterizava pela
provisão de montantes fixos às unidades educacionais, independentemente do
total de alunos matriculados. Esse subsídio costumava ser determinado sobre a
base do orçamento de anos anteriores, acrescido da correção inflacionária e dos
aportes centralizados em parcelas específicas para equipamento e infra-
estrutura (Donoso, Schmal, 2002).
Esse procedimento de financiamento conferia uma grande estabilidade a essas
universidades, principalmente porque sua base de cálculo estava constituída por
padrões históricos ajustados progressiva e marginalmente, sem gerar incertezas
de curto prazo. Além disso, permitia programar atividades com prazos mais
largos, independentemente da estrutura de custos, desde que não estivesse
implícito mudanças bruscas e não programadas nessa estrutura. Do ponto de vista
técnico, exigia um esquema de administração básico, simples e reduzido. Com
efeito, não necessitava de maiores exigências operacionais, nem de informação
para seu funcionamento.
Os novos instrumentos sustentam-se em um paradigma alternativo, a saber, o
"financiamento da demanda", ainda que, na prática, tenham combinado ambos os
modelos, resultado dos "ajustes". As mudanças (DFL Nº 4/1980) dividiram o
aporte financeiro total basicamente em dois instrumentos ' Aporte Fiscal Direto
(AFD), que recebe as 25 universidades do Conselho de Reitores, e Aporte Fiscal
Indireto (AFI), que recebe qualquer instituição de educação superior, de acordo
com o número de alunos matriculados em meio dos 27.500 melhores pontos
registrados nas provas do sistema de seleção. A lei assinala que, para melhorar
a competência, deveriam ser gradualmente transferidos os fundos do AFD ao AFI,
até alcançar participações equivalentes. De fato, isto não ocorreu, entre
outros motivos, porque em 1982 foi congelado o orçamento para as universidades,
o que, até o novo governo democrático, não se reverteu de maneira significativa
(Sanfuentes, 1990).
Ademais, já existem ou são criados fundos licitáveis, seja para projetos de
pesquisa ' Programa Estadual de Pesquisa (Fondecyt e outros fundos setoriais)
', seja para projetos de desenvolvimento tecnológico (Fontec, Fondef), seja
para outros fundos dirigidos à melhoria da qualidade (Mecesup),9 a maior parte
dos quais requer algum tipo de contraparte e está, além do mais, habilitada
para universidades reconhecidas pelo Estado, isto é, do Conselho de Reitores,
ou, no caso das universidades privadas, "extra-conselho", que devem ter plena
autonomia.
Nessa estrutura, as taxas pagas pelos estudantes (matrículas e mensalidades)
transformaram-se em uma importante fonte de financiamento, chegando ao extremo
de, atualmente, os preços de cursos equivalentes possuírem uma diferença menor
do que as registradas há dez ou quinze anos (CSE, 2000-2003). As taxas que,
antes da reforma, se diferenciavam pelo nível socioeconômico dos alunos
deixaram de seguir essa condição, liberando as instituições que recebem verbas
estaduais no sentido de estabelecer taxas vinculadas ao nível que consideraram
apropriado. No caso dos alunos provenientes de famílias com baixos níveis de
renda, gerou-se um sistema de crédito universitário ou crédito fiscal (hoje,
fundo solidário)10 que contribui de maneira significativa no sistema
educacional, embora, muito provavelmente, seja insuficiente, dada a demanda
cada vez maior desse crédito, fruto da grande expansão da matrícula no sistema
universitário, que se duplicou em menos de cinco anos e que certamente se
duplicará antes do final da década ' estima-se em torno de um milhão o total de
estudantes para 2010 (Brunner e Elacqua, 2003).
O financiamento via AFD foi pensado como uma contribuição para o
desenvolvimento de pós-graduação e pesquisa, tarefas que não têm razão de serem
"pagas". Em contrapartida, a lógica do instrumento de financiamento via AFI
reside na suposição de que para "melhorar a qualidade" de uma instituição, ela
deve apresentar atrativos diferenciados. Portanto, o postulado de pontuações
mais altas se orientaria para as instituições de melhor qualidade. Isso sem
entrar no mérito a respeito do conceito de qualidade na educação, cuja
avaliação se encontra "sob a guia da mão irreversível do mercado", argumento
útil para fundamentar o inexplicável.
Que razões avalizam a idéia de que o Estado deva financiar suas universidades?
A discussão desse ponto é central para os objetivos deste trabalho. Há diversas
maneiras de abordagem. A partir de uma visão econômica, por exemplo, ou a
partir dos princípios sociais que regem o governo de uma sociedade democrática.
Ainda que entre ambos haja elementos sinérgicos, as ênfases são diferentes.
Antes de analisá-los, contudo, é importante recapitular alguns aspectos.
Primeiramente, os princípios que sustentam a mudança do papel do Estado, de
"benfeitor a subsidiário", têm implicações severas na forma pela qual se
organizam os instrumentos financeiros do Estado nesse campo. Em segundo lugar,
essa mudança significa deixar de projetar, executar e financiar senão todas,
mas grande parte das iniciativas docentes, assumindo, pois, um papel
secundário, sem se comprometer, contudo, com o financiamento de instituições
particulares, as quais passariam a desenvolver tarefas outrora implementadas
pelo Estado. Em terceiro, isso permite questionar, no setor da educação
universitária, o papel do Estado como "executor" e, portanto, se é relevante a
existência de instituições públicas em pleno exercício de funções que as
particulares são capazes de realizar.
Dessa forma, discutir esse tema é essencial para se compreender a política
educacional, uma vez que demonstra os critérios aos quais se inclui.
O debate segundo a concepção econômica
A primeira consideração que avaliza, no caso chileno, o financiamento do Estado
às universidades é de caráter histórico. Até a fundação da Universidade do
Chile (1842), o que se poderia denominar "o sistema universitário nacional" era
bastante incipiente. A tentativa de se criar a Universidade Pencopolitana e,
depois, a Universidade de San Felipe, cujo funcionamento foi muito irregular
(Labarca, 1939; Jobet, 1970; Vial, 1987), evidencia que, antes da Universidade
do Chile, o movimento universitário nacional não teve nenhum incentivo. O apoio
governamental foi decisivo (Serrano, 1993) para que essa universidade
enfrentasse a tarefa com sucesso, o que também se estendeu à Universidade
Técnica do Estado; ambas até 1981, eram públicas. Essas instituições tiveram um
papel decisivo na massificação do sistema universitário chileno, já que o poder
de influência das outras universidades, quando se considera o número de
matrículas ' exceto em parte a Universidade de Concepción ', era muito menor.
Em segundo lugar, na década de 1950, o Estado financiou de modo significativo
as outras seis universidades, apesar de terem um caráter privado. Isso
demonstra que, sem o apoio sistemático e relevante do Estado, dificilmente o
país teria alcançado o padrão de desenvolvimento e formação de seus recursos
humanos a que finalmente chegou, o que reforça o argumento de que o
financiamento governamental na esfera da educação, agora estendido ao conjunto
das universidades, foi fundamental.
A terceira consideração é também de índole histórica, mas apresenta condições
de ordem legal. Os instrumentos legais que regularam a reforma de 1981
estabeleceram clara e expressamente os critérios de financiamento dos centros
universitários que teriam ou não subsídios do Estado (Conselho de Reitores,
1981), pois até esse momento todas as universidades recebiam verbas estatais. A
partir de então, as novas universidades de origem particular não mais
receberiam apoio do Estado. O argumento usado foi próprio da economia de
mercado, e portanto não se entende por que houve "uma mudança nas regras do
jogo", gerando incerteza e instabilidade, ainda mais quando as normas iniciais
eram de conhecimento geral, mesmo antes de serem incorporadas ao mercado.
O quarto argumento liga-se diretamente ao arcabouço econômico. O financiamento
da educação pelo Estado se justificava basicamente pelos reflexos positivos
numa sociedade moderna. Assim, seria vantajoso subsidiar este bem, a fim de que
os indivíduos sem condições de pagar os estudos pudessem ir à escola ou aqueles
que não considerassem importante o acesso à educação mudassem de opinião. Tal
argumentação é válida para a análise da rentabilidade social do investimento
educacional na pré-escola, no ensino fundamental e médio, mas em relação ao
ensino superior há fatores mais complexos envolvidos. Chega-se ao extremo de se
considerar o investimento nos níveis básicos do sistema educacional mais
rentável; no entanto ' muito além das especulações metodológicas sobre a forma
pela qual são medidos os benefícios educativos e suas concatenações (Hanushek,
2002) ' é indubitável que um país necessite de profissionais e graduados em
diversas disciplinas, de forma a que o princípio geral continue sendo válido,
independentemente das condições circunstanciais a esse respeito.
Uma extensão desta consideração pode ser inversamente formulada. Por que os
agentes privados institucionais não investem em educação com a mesma freqüência
e montante como o fazem no setor público, apesar das conseqüências externas que
possam surgir a esse respeito? Certamente isso está relacionado à apropriação
dos benefícios proporcionados pela educação, de forma que essa dimensão se
torna relevante e deve ser considerada.
Ademais, a educação tem um papel ativo como instrumento de redução das
injustiças e das diferenças sociais (privadas e públicas). Reconhece-se que a
educação formal tem um papel importante no que diz respeito aos incrementos da
mobilidade social e, por isso mesmo, à redução das desigualdades
socioeconômicas (Sapelli, 2002). Assim, o Estado procura corrigir tais
diferenças subsidiando, de alguma forma, a educação em seus diferentes níveis
(Donoso e Schmal, 2002a).
As desigualdades sociais são consideradas "imperfeições do mercado" e, no atual
esquema dominante, tenta-se corrigir esse problema de maneira indireta, via
impostos, subsídios e regulações, ou por meio de produção e fornecimento
diretos do bem/serviço, que geram reflexos positivos na sociedade e benefícios
sociais. No entanto, essa escolha está limitada, porque a despesa pública em um
setor específico, no caso a educação, deve competir com outros setores que
também demandam recursos e que também têm um impacto positivo, embora nem
sempre devidamente quantificado, como saúde, habitação, seguridade social,
entre outros. Além disso, a despesa pública destinada ao setor educacional deve
ser partilhada ' e isso implica uma competição interna ao setor ' entre a
educação universitária e os níveis pré-escolar, fundamental, médio, de adultos
etc.
Ao analisar a distribuição dos recursos públicos às universidades, deve-se
abordar, ainda, a questão da provisão do serviço educativo por meio direto
(universidades estadual) ou indireto (universidades particulares).
Em termos gerais, as principais fragilidades "do mercado educacional
universitário" são:
A valorização social conferida à disponibilidade da sociedade para
debater e trocar idéias e dirimir de modo civilizado os conflitos é
substantivamente maior do que a particular.
Quem passa para a educação superior já se encontra apto para se
incorporar ao mercado de trabalho, e, portanto, de ter recursos que
complementem a renda familiar. Mas estando na universidade, tais
recursos passam a competir com gastos em função de uma eventual renda
futura, fato que na prática, em muitas famílias de baixa renda,
obriga a protelar a educação dos filhos.
A indisponibilidade de um mercado de crédito de massa associado à
educação superior, devido ao risco elevado causado pela incerteza
acerca do término bem-sucedido dos estudos e pelas possibilidades de
recuperação do crédito outorgado, dada a dificuldade de poder
sustentar irrefutavelmente o emprego futuro dos que concluíram o
curso.
Os impactos positivos no âmbito da pesquisa, particularmente no
campo das ciências básicas, das ciências sociais, das ciências
humanas, das artes e das letras, não apresentam resultados tão
satisfatórios quanto as taxas apresentadas por outros setores. Isto
é, seu custo/oportunidade é muito menor e, portanto, pode ser
usufruído pela sociedade sem que isso implique uma redução do
consumo, em particular.
Esses problemas resultam em um investimento privado abaixo do que a sociedade
como um todo demanda, e cuja envergadura é dada pela valorização que se faz de
cada uma dessas imperfeições. Vale dizer que não existem estudos que apontem
para a direção de quantificar a valorização social da educação universitária,
em virtude, talvez, da dificuldade de se realizar tal medição.
Esses pontos débeis do mercado reforçam a necessidade de intervenção do Estado
no campo da educação, o que é expresso nos requerimentos de financiamento
público de alguns centros de formação universitária, mas isso não quer dizer
necessariamente um fornecimento direto do serviço educacional por parte do
Estado.
A razão de ser das universidades estaduais reduziu-se a âmbitos muito
específicos, obrigadas pela necessidade de competir por financiamento público e
privado. De fato, em seus orçamentos, o componente público é cada vez menor em
comparação ao privado. Nesse sentido, pode-se falar na "privatização" das
universidades públicas, uma vez que dependem cada vez mais do setor privado.
Simultaneamente, as universidades privadas aspiram a quotas cada vez maiores de
financiamento público, e a lógica mercantil predominante segue nessa direção.
O espaço restrito deste artigo não permite a análise de todos os problemas que
esse tema incita. Portanto, é lícito perguntar: O que justifica que alunos
provenientes de famílias de baixa renda não tenham acesso ao crédito
universitário se entram numa instituição de educação universitária "extra-
conselho", mas o tem caso cursem uma universidade pública? Esse tema se esgota
na discussão do financiamento dos estudos universitários? A universidade só é
vista como a docência de pré-graduação?
A partir da concepção social
Sustentamos que a atual visão da política de financiamento da educação
universitária pública no Chile está desligada, fundamentalmente, dos aspectos
mais relevantes de formação de recursos humanos de nível superior, assim como
das principais solicitações de apoio em matéria de estudos e investigação,
sobretudo aquela associada ao desenvolvimento.11
A atual alocação de recursos financeiros para as universidades do Conselho
baseia-se em uma concepção histórica de destinação de verbas. Em outras
palavras, "congelou-se a realidade" em um determinado momento e, ao mesmo
tempo, o considerou sob um ponto de vista tecnocrático, empregado para alocar
recursos, o que de alguma forma não relaciona os mecanismos de alocação
financeira com os resultados alcançados pelas escolas,12 reduzindo
perigosamente a visão do tema à discussão do montante de recursos alocados ao
setor universitário público, sem penetrar plenamente na sua esfera mais
complexa, a saber, seu impacto na qualidade e na eqüidade da formação e do
trabalho científico tecnológico (pesquisa) associado a essas escolas.
Argumenta-se a esse respeito que há necessidade de se abordar a um só tempo as
melhorias de qualidade da formação e da eqüidade social e os aportes ao
desenvolvimento. Entretanto, esses aspectos costumam se apresentar como sendo
de igual importância, mas com escassa interdependência. Não obstante a
qualidade e a eqüidade serem fenômenos diferenciáveis, eles têm sido
hierarquizados de forma que os desafios reais de melhoria de qualidade
(excelência) se relacionem mais com a eficiência no uso dos recursos educativos
do que com seu fornecimento e sua aplicação em um campo definido do
desenvolvimento que vai além da docência direta.
Assim, a qualidade de uma instituição está associada aos êxitos de seus
estudantes, considerados antes um resultado individual que um êxito pessoal-
social. Isso contradiz o sentido de "bem público" da educação, uma vez que
enfatiza a apropriação privada dos benefícios e reduz significativamente a
dimensão da eqüidade quase ao âmbito assistencial, distanciando-a das visões
que apresentam a educação de qualidade como um direito de todo estudante.
Dessa forma, os resultados da formação universitária são explicados por
esquemas dominantes "de mercado", como efeito de oscilações individuais, e não
pelo fornecimento de condições adequadas para cumprir com as obrigações
estudantis. Ou seja, privatizam-se tanto o êxito como o fracasso na
universidade (Gentile, 1997, p. 61), muito mais do que se atribui esses
resultados às políticas públicas empreendidas neste setor, sobretudo aquelas
que concernem à eqüidade.
Estamos falando de princípios quando nos referimos à eqüidade ' não se trata
apenas de um tema que, para evitar conflitos sociais extremos, deva ser
considerado.
Assumir a sociedade de mercado como "injusta" implica estabelecer critérios
(políticas) destinados à sua correção. Isso vale tanto do ponto de vista
econômico, como, certamente, do social. Rawls (1995, 1999) sustenta que as
instituições sociais devem responder a um pacto ou contrato social, no qual
indivíduos racionais acordam dois princípios aceitáveis por todos. O primeiro
diz respeito à "liberdade" ' cada pessoa tem o mesmo direito ao mais extenso
sistema de liberdades básicas, distribuídas em partes iguais, compatível com um
sistema similar de liberdades para todos. O segundo assume que as desigualdades
econômicas e sociais devem ser estruturadas de forma a proporcionar maiores
benefícios aos que têm menor poder aquisitivo. Pretende, ainda, determinar
quando e em que quantidade a desigualdade pode ser justificada. Para Rawls, a
desigualdade é produto da forma pela qual são distribuídos os bens sociais
primários ' direitos, liberdade, oportunidades, poderes, assim como renda e
ativos ' que permitem aos cidadãos aumentar a sua possibilidade de sucesso no
sentido de concretizar seu projeto de vida.
Essa idéia contém um elemento essencial ainda que condicionado a restrições: a
desigualdade tem fundamento socioético quando se emprega para beneficiar os de
menor poder aquisitivo. Portanto é necessária para maximizar as expectativas
dos que se encontram em pior situação na escala social. Trata-se de um caso
especial do princípio de distribuição eqüitativa que prescreve a divisão
igualitária dos bens primários sociais se, e somente se, existir uma
distribuição alternativa que redunde em um benefício maior para os menos
favorecidos. Se a sociedade dispõe de uma opção mais proveitosa para a
população de baixa renda, em princípio a desigualdade estaria justificada
(Rawls, 1995, p. 281).
Em conseqüência, o Estado responderia à sua vocação para reduzir a iniqüidade,
dado que na atual conjuntura os menos favorecidos socialmente têm, em geral,
acesso à educação de alta qualidade, contudo têm mais dificuldade para entrar
na universidade (Donoso, 2003).
Nesse sentido, quando se assume que a educação é um bem público, com base nas
premissas de Rawls, Fullan (1999) e Latapi (1993), compreende-se o sentido da
existência de universidades públicas, já que garantem a preservação e o
desenvolvimento de interesses e valores comuns, que privilegiam o benefício da
maioria, em especial dos mais desfavorecidos. O Estado, portanto, valida a
educação como um bem de fornecimento público; em contrapartida, quando se trata
de instituições particulares, em razão da diversidade, a visão em relação à
educação é outra, o que não deixa de ser legítimo.13 Dessa forma, pode-se falar
em coexistência de ambos os fornecimentos do serviço educativo somente se o
sistema público permitir o acesso de todos os cidadãos.
Quando se tem em mente a pesquisa e seu aporte ao desenvolvimento, levando em
conta que os impactos sociais positivos do tornar-se universitário não são de
todo relevantes para as instituições particulares, daí seu interesse reduzido
em apoiar "a pesquisa nesse âmbito", é mais forte ainda a necessidade de
estudar os problemas que afetam os mais desfavorecidos (e os mecanismos de
correção das desigualdades sociais), uma vez que o interesse dos particulares
não se associa à rentabilidade social dessas tarefas. Isso reforça sobremaneira
a importância de que o Estado, como executor, tenha uma participação direta
neste âmbito, inclusive como um princípio que salvaguarde a diversidade social.
Aqui, a visão social está relacionada à concepção econômica, marcando o
conjunto de desafios associados aos efeitos das políticas públicas. Conforme
vimos, o tema da qualidade da educação é tributário da idéia de eqüidade,
explícita ou implicitamente, e esta com a visão de justiça. Ademais, os
resultados de desempenho escolar associam-se fortemente aos níveis
socioeconômicos e culturais da população (capital social e cultural), aspecto
que pode travar ou potencializar, segundo o caso, os efeitos da intervenção
educacional (Brunner e Elacqua, 2003).
Assim, para construir uma sociedade mais justa e combater a força regressiva
das variáveis socioculturais nos grupos mais vulneráveis, são requeridas
estratégias que combinem fatores que incidam sobre a eqüidade socil ecultural.
O excessivo otimismo sobre o papel da educação como elemento-chave do
desenvolvimento, próprio dos anos de 1960, cedeu espaço para visões mais
realistas acerca das possibilidades efetivas de se "romper" com o círculo da
pobreza via educação, no sentido de reduzir a distância entre capital social,
cultural, econômico e educacional entre os diversos grupos sociais, por meio de
políticas públicas direcionadas a essa finalidade (Sen, 2000).
Tais políticas, por sua vez, devem estar inseridas em uma estratégia geral que
contemple a superação de desequilíbrio estrutural de nossa sociedade entre
produção e reprodução de desigualdades econômicas e sociais, lato sensu, e
aquelas provenientes do desenvolvimento da cultura democrática centrada em
valores universais de eqüidade, justiça social e cidadania, para o qual se
requer uma reestruturação dessas políticas.
Os desafios acerca da elaboração de políticas públicas no campo educacional de
nível superior residem na importância de se alcançar um consenso básico sobre o
tipo de educação necessária e quais são as estratégias requeridas para sua
implantação. Ou seja, uma política específica de financiamento que contemple a
revalorização e a compreensão da educação em função de benefícios que reporta
como bem público; vale lembrar a relevância nesse processo do enfoque à
pesquisa e à formação educacional.
Financiamento e mecanismo das universidades públicas: um tema em aberto
O profundo impacto da reforma da educação superior de 1981 no sistema
universitário estatal chileno não pode ser restrito a uma discussão técnica dos
processos envolvidos no financiamento público. A reforma implicou uma
transformação radical acerca do papel social dos centros estatais e públicos
não só porque introduziu a lógica econômica de livre-mercado, mas também porque
o Estado assumiu um papel passivo, apoiado em parte por uma legislação
deficiente. Além disso, as escolas e as autoridades do país não discutiram a
lógica imposta; não existem parâmetros consensuais de avaliação, ajustam-se as
variáveis ao modelo fixado segundo o grau de sucesso alcançado.
Entretanto, em uma perspectiva de longo prazo, o mercado não é um aliado
eficiente. Os prazos exíguos que lhe são peculiar, os desajustes elementares
que censura e o alto custo que representa para as pessoas a desigualdade de
informação denotam uma estrutura complexa que requer um agente avaliador, neste
caso o Estado, que salvaguarde os interesses comuns e particulares.
A visão neoliberal do Estado reduziu o mecanismo de suas instituições a uma
situação que atenta contra a eqüidade. Alguns centros universitários do Estado,
no desespero de compreender as leis do mercado, esqueceram suas raízes
histórico-sociais. É preciso, pois, recuperar os espaços públicos de debate e
análise dos problemas sociais.
Dessa forma, há fortes razões para que, de um lado, o Estado tenha suas
próprias universidades e as financie devidamente e, de outro, que estas
forneçam serviços educativos de bom nível no que concerne à graduação, à pós-
graduação, à pesquisa, à extensão e à assistência no nível técnico.
Assumir esta visão é compreender que a "máxima paretiana" de implementar
medidas que beneficiem a todos, sem no entanto postergar alguém, é um argumento
impossível de se cumprir e, não apenas isso, é a própria camisa de força do
Estado, quando considerado um ideal. De outro lado, é evidente que "o custo de
conveniência" ' princípio-chave de economia ' também não poderá ser cumprido.
Por isso mesmo, a ação do Estado requer razões fundamentadas em princípios que
ultrapassem uma concepção meramente econômica e assumam critérios societários '
vértices-chave da discussão aqui empreendida.
Notas
1 Até 1980, falar no Chile de sistema universitário e sistema de educação
superior era a mesma coisa. A partir de 1981, o sistema de educação superior
envolveu universidades, institutos profissionais e centros de formação técnica.
2 Esta situação envolveu todo o sistema educacional, incluindo a educação
primária e secundária.
3 A reforma, segundo foi anunciado ao público, tinha como premissa a
necessidade de introduzir elementos de competitividade na educação
universitária, alinhada com políticas similares na educação básica e média. Por
esta via, pretendia-se incrementar níveis de eficiência nesse campo, mas não se
especificou de forma ampla os indicadores de eficiência empregados.
4 No início, foram criadas universidades e institutos profissionais do Estado,
entretanto logo a pressão de alguns grupos sociais de comunidades regionais fez
com que entidades de menor porte se tornassem igualmente universidades.
5 Incorporou-se aí a decisão de diminuir progressivamente a contribuição
estatal até alcançar 50% do que o Estado fornecia em 1980.
6 No Chile, existe um sistema único de avaliação dos candidatos às vagas
universitárias do Conselho, baseado em um conjunto de três provas obrigatórias,
prestadas simultaneamente uma vez ao ano.
7 A Lei Orgânica Constitucional de Ensino, de 9 de março de 1990, define como
instituições de ensino superior universidades, academias superiores das Forças
Armadas, Carabineiros e Investigações, institutos profissionais e centros de
formação técnica.
8 Como agente financiador de uma fração do sistema universitário, o Estado
renunciou a ter um papel ativo em relação à possibilidade de dar orientações
concretas acerca das prioridades requeridas pelo bem comum da sociedade,
apoiando ou estimulando programas que, não obstante serem objeto de pouca
demanda no mercado, são relevantes para o desenvolvimento do país e da
sociedade.
9 Crédito conferido pelo Banco Mundial para este fim.
10 Sistema caracterizado por ser de baixo interesse, ao qual se resignam os
alunos que comprovem não possuir recursos econômicos suficientes. Inicialmente,
o fundo teria um aporte do Estado, porém depois deveria se auto-sustentar.
Entretanto, 22 anos após sua implementação, isso ainda não ocorreu.
11 Isso implica também em reconhecer que não há um único projeto-país e
tampouco se dispõe de uma política de Estado nessa área que tenha a ver com a
formação de técnicos, profissionais, pós-graduados, nem com o desenvolvimento
científico tecnológico mais além da "excelência". Ou seja, não existem fundos
temáticos relevantes nesse campo.
12 Isso compreende a necessidade de se dispor de indicadores ajustados às suas
linhas de base e não somente aos padrões de desempenho final.
13 O mesmo processo de globalização mostra que o Estado é a única instituição
capaz de "defender" os valores e os interesses dos diversos grupos sociais,
sobretudo os mais desfavorecidos, argumento que também segue a lógica de Rawls.
Quando o Estado se esquiva dessa tarefa, a sociedade fica indefesa, o que abre
espaço a explosões político-sociais.