Recolha, preservação e contextualização de objectos digitais para dispositivos
móveis com Android
1. Introdução
A existência de objectos digitais no nosso dia-a-dia tem tido, ao longo dos
últimos anos, um enorme crescimento. Estes podem ser concebidos como artefactos
compostos tendo em conta três elementos essenciais: conteúdo, metadados e a sua
relação com outros objectos (Saidis & Delis, 2007). Os objectos digitais
podem assumir os mais variados tipos, retratando grande parte da nossa vida
pessoal e profissional, e representam toda informação digital presente em
dispositivos electrónicos como: computadores, telemóveis,smartphones, tablets,
entre outros. Esta informação digital é extremamente importante, para as
pessoas que utilizam estes dispositivos, e ao mesmo tempo muito delicada e
frágil. Se não tomarmos as devidas precauções, a qualquer momento pode-se
perdê-la, e em alguns casos nada se pode fazer para contrariar a situação. É
extremamente importante permitir aos detentores (utilizadores) de objectos
digitais formas de os preservar. Assim, o utilizador consegue não só manter
todas as suas memórias de sempre e para sempre, mas também dar o seu contributo
para a passagem de conhecimento de geração em geração. É humanamente impossível
recordar todos os acontecimentos que vão emergindo ao logo da vida, e como Sem
memórias não há história(da Costa, 2007), é crucial investir afincadamente
nesta área. Com a sociedade maioritariamente digital em que vivemos hoje em
dia, e a avançar a passos largos para se tornar inteiramente digital, é
gritante a necessidade de preservar todo o material digital que dispomos, caso
contrário, torna-se um pedaço da nossa história pessoal e universal que se
perde.
Da necessidade de evitar a perda de informação digital surgiram os repositórios
digitais (Heery & Anderson, 2005). Neles é possível armazenar colecções de
objectos digitais, e que podem ser acedidos e recuperados para utilização
imediata ou posterior. Um repositório digital suporta mecanismos de importação,
exportação, identificação e armazenamento de objectos digitais. Para além
disso, um repositório digital oferece ao utilizador uma interface permitindo-
lhe aceder ao conteúdo que pretende. O uso de repositórios digitais traz
benefícios a todos, até mesmo ao meio ambiente, evitando o consumo de alguns
recursos naturais que tendem a escassear. A utilização vigorosa de repositórios
digitais poderia contribuir para o atenuar deste problema, diminuindo a
necessidade dos utilizadores preservarem os seus dados/conhecimentos em papel.
A necessidade de preservar a informação digital inerente à flexibilidade de
armazenamento de qualquer tipo de objecto digital despoletou o aparecimento dos
repositórios digitais pessoais. Estes permitem ao utilizador guardar os seus
objectos digitais garantindo-lhe alguma capacidade de armazenamento e um
controlo de acesso bastante prudente. Um utilizador quando recorre a este tipo
de serviço pretende armazenar os seus dados para consulta e utilização a curto
e longo prazo. Os repositórios digitais pessoais permitem a preservação
controlada e persistente do nosso material digital, possibilitando o seu acesso
em qualquer momento e em qualquer lugar, por quem de direito. A segurança dos
dados é inteiramente assegurada, dado que só terão acesso as pessoas que o
utilizador permitir e os conteúdos que este definir.
Tendo a preservação dos nossos objectos digitais assegurada, levanta-se a
questão: Será que conseguimos lembrar o seu contexto? O contexto, também
designado como Context Awereness na literatura (Mehra, 2012), (Abowd, Ebling,
Hung, Lei, & Gellersen, 2002), (Dey, 2001), (Pascoe, 1998), pode ser visto
como uma análise ao contexto pessoal, social, histórico, físico, ambiental,
posicional, etc., de um objecto digital. Resumidamente, o contexto de um
objecto digital é tudo aquilo que fomenta o seu surgimento, a forma como é
usado e interpretado, a que propósito foi concebido, o que influenciou a sua
criação, local do evento, a sua relação com os outros objectos, entre outros.
Segundo Arellano (Arellano, 2004) uma aplicação cuja finalidade recai sobre a
preservação de informação deve ter sempre presente o seu conteúdo, estrutura e
contexto. É muito útil termos os nossos dados preservados, mas também é
indispensável saber o seu contexto, para ao longo dos anos ser possível fazer a
reconstrução da imagem mental do objecto digital.
Tal como é ilustrado na Figura_10, este projecto tem como principal objectivo
recolher alguns objectos digitais e guardá-los num repositório digital pessoal
presente na Cloud. Esta recolha é efectuada num dispositivo móvel com sistema
operativo Android. Sempre que possível, é adicionada alguma informação que
permita contextualizar cada objecto digital. É possível colocar no repositório
os mais variados tipos de informação, como por exemplo: SMSs, contactos,
histórico de chamadas, bookmarks, imagens, emails, páginas Web visitadas, lista
de compromissos, entre muitos outros. Todo o material digital é preservado e
sempre que o utilizador pretender tem total acesso a ele, independentemente do
sítio, do tempo, do sistema operativo e do dispositivo de acesso. Existe ainda
a liberdade de poder partilhar os seus conteúdos digitais com amigos, usando
para isso as redes sociais (Facebook, YouTube, Flickr, Linkedin, entre outros),
ou simplesmente permitir o acesso de determinada pessoa ao seu repositório
digital pessoal.
Este projecto engloba diversas áreas de desenvolvimento, exigindo a integração
de tecnologias bastante distintas. No entanto, a área móvel merece especial
atenção, devido ao seu elevado crescimento e actual impacto na sociedade. Desta
forma, este trabalho é desenvolvido a pensar nas pessoas e nos seus interesses,
sendo que os dispositivos móveis contêm uma grande quantidade de informações
pessoais altamente sensíveis. Então, neste contexto, deve-se desenvolver uma
aplicação que tenha em conta esta delicadeza e ajude a preservar os conteúdos
presentes nos dispositivos móveis. A aplicação CoBy (Contextualized Backup and
Restore) foi desenvolvida para recolher alguns dos objectos digitais presentes
em dispositivos móveis Android (smartphone ou tablet), contextualizá-los, e
enviá-los para o repositório digital pessoal, tal como é exposto na Figura_11.
Neste caso específico, e numa abordagem inicial, para além do contexto a que um
objecto digital está sujeito, adicionou-se o contexto de geo-localização. A
informação digital é guardada numa base de dados local (backup) no cartão de
memória do dispositivo móvel e/ou enviada para o repositório, já devidamente
contextualizada. Também é dada a possibilidade de restaurar (restore) os dados
do repositório ou do cartão de memória de volta para o dispositivo móvel
(Ottaviani, Lentini, Grillo, Di Cesare, & Italiano, 2011). Esta
funcionalidade é extremamente importante caso haja uma mudança ou furto do
smartphone ou tablet. Desta forma, o utilizador pode voltar a ter todo o seu
conteúdo digital de volta no dispositivo móvel. O repositório digital pessoal
disponibiliza ainda, ao utilizador uma interface (página Web) para visualização
do seu conteúdo. Este pode ser visto sobre a forma de timeline temporal, tendo
capacidade de filtragem de informação usando alguns parâmetros, como por
exemplo a geo-localização.
Desenvolveu-se a aplicação direccionada para dispositivos móveis com Android.
Esta escolha deveu-se ao facto deste sistema operativo estar neste momento com
a maior cota de mercado mundial (Gartner, 2012). E prevê-se que esse
crescimento se acentue ainda mais(Darwin, 2012).
2. Trabalho relacionado
Ao longo da história o homem foi desenvolvendo formas de preservar a sua
informação, recorrendo a pinturas, fotografias, manuscritos, livros, entre
muitas outras coisas. Mas, devido à evolução da tecnologia, foi surgindo outro
tipo de informação, que contribuiu para a sociedade da informação em que se
vive actualmente, amplamente rodeada de conhecimento digital. Foi igualmente
necessário o desenvolvimento de ferramentas de salvaguarda deste tipo de dados.
Na área móvel esta preocupação torna-se acrescida devido à elevada
vulnerabilidade dos seus objectos digitais. A pensar nesta questão, inúmeras
aplicações foram desenvolvidas.
O sistema operativo Android disponibiliza uma aplicação designada Play Store,
onde é possível obter todas as aplicações disponíveis no Google Play, a loja de
aplicações do Android. Foi efectuada uma pesquisa usando a Play Store de um
dispositivo móvel em busca de aplicações que permitissem efectuar backup e
restore de dados. O resultado dessa pesquisa está ilustrada na Tabela_1 onde se
encontram representadas as mais usadas. À semelhança da aplicação CoBy, todas
elas disponibilizam funcionalidades de backup e restore dos dados, à excepção
da aplicação Backup Contacts que apenas permite fazer backup. A ausência da
funcionalidade de restore torna esta aplicação limitada.
A capacidade de fazer backups automáticos é uma funcionalidade muito útil para
este tipo de aplicações. Liberta o utilizador da necessidade de o realizar
manualmente, que poderia conduzir a alguma perda de informação, caso o
utilizador não se recordasse de o fazer com alguma regularidade. Esta
funcionalidade está presente na aplicação CoBy, contrariamente ao que acontece
por exemplo nas aplicações Backup Contacts, Mobile Backup II e Super Backup.
Trata-se de uma funcionalidade que transmite uma maior confiança e segurança ao
utilizador.
Analisando as aplicações retratadas na Tabela_1, observa-se a existência de
duas abordagens distintas no que toca aos dados alvo. Existem aplicações que
centram as suas atenções apenas num tipo específico de dados, como é o caso da
SMS Backup & Restore, Call Logs Backup & Restore, Backup Contacts, etc.
Assim como existem outras, que à semelhança da aplicação CoBy, são bastante
mais abrangentes permitindo simultaneamente o backup e restore de objectos
digitais distintos. Um bom exemplo disso são as aplicações: SMS Backup +, JS
Backup, Mobile Backup II e Backup Master, etc. A capacidade de fazer backup e
restore de vários objectos digitais, numa só aplicação, confere-lhe uma grande
versatilidade, evitando a necessidade do utilizador instalar uma aplicação por
cada tipo de dados.
Dentro das aplicações estudadas, os dados de backup podem ser armazenados em
locais distintos, sendo eles o cartão de memória do dispositivo móvel, um
repositório pessoal e/ou uma conta de e-mail. O local de armazenamento de
informação mais comum é o cartão de memória. Mas, se perdermos o dipositivo
móvel, ou se houver um furto do mesmo, o facto de termos um backup dos nossos
dados no cartão de memória do dispositivo de nada serve, pois a informação
perder-se-á. A salvaguarda de dados num repositório pessoal é indispensável e
está presente nas aplicações JS Backup e Backup Contacts. A aplicação CoBy
oferece um repositório semelhante, mas com funcionalidades acrescidas. Os
ficheiros de backup são colocados no repositório pessoal não só para efectuar o
restore posterior, mas também permite ter os dados permanentemente
sincronizados. Os dados presentes no dispositivo móvel vão corresponder aos
dados que estão armazenados no repositório pessoal. Esta funcionalidade permite
que o repositório tenha sempre a versão mais actual do estado do dispositivo
móvel. O acesso ao repositório pode ser feito em qualquer altura e em qualquer
lugar, por qualquer sistema operativo.
A capacidade de preservar informação é evidente em todas as aplicações da
Tabela_1, mas nenhuma delas proporciona ao utilizador a possibilidade de
filtrar os dados que pretende conservar. Existem sempre objectos digitais que a
sua preservação não é desejada. Esta funcionalidade encontra-se apenas presente
na aplicação CoBy.
Contrariamente às restantes, a aplicação CoBy, permite recolher informações
extras relativas ao contexto de um objecto. Para além do contexto comum usado
(data, hora, destinatário, etc.), esta aplicação permite recolher o contexto
geo-espacial do objecto. Trata-se também de uma característica única desta
aplicação.
Naturalmente, todas as aplicações tem os seus pontos fracos e fortes. A
aplicação CoBy distingue-se positivamente das restantes, sobretudo ao nível da
geo-contextualização, filtragem de informação e a preservação da informação num
repositório digital pessoal com funcionalidades acrescidas.
3. Modelo e arquitectura
Na Figura_12 está representado o modelo que pode ser usado para a criação de
aplicações de recolha, preservação e contextualização de objectos digitais, no
qual a aplicação Coby representa o seu protótipo.
A aplicação CoBy tem a capacidade de recolher, preservar e contextualizar, numa
fase inicial, objectos digitais do tipo SMSs (Short Message Service), chamadas
e contactos. O utilizador tem a possibilidade de fazer backups automáticos para
o cartão de memória (SD card, Secure Digital Card) do seu dispositivo móvel ou
para o seu repositório digital pessoal presente na Cloud(Figura_13). Sempre que
o utilizador pretender restaurar as suas SMSs, histórico de chamadas ou
contactos de volta no dispositivo, pode fazê-lo não só a partir do backup
existente no seu cartão SD, como também do repositório digital pessoal. Para o
fazer a partir do repositório só precisa de uma ligação à Internet activa. Os
dados enviados para o repositório ou guardados no cartão SD já se encontram
devidamente contextualizados. Esta aplicação integra funcionalidades como
obtenção da localização do utilizador, persistência de dados no dispositivo e
consumo de Web-services.
Para o sistema operativo Android existem algumas tecnologias que dão suporte à
geo-localização, sendo designadas por Location Providers (Zhuang, Kim, &
Singh, 2010), (Meier, 2010), (Kumar, Qadeer, & Gupta, 2009). Nesta
aplicação, a localização pode ser obtida usando três formas distintas: GPS
(Global Positioning System); Network Location Provider (engloba Cell-ID e Wi-
Fi);Triangulação por Cell-ID.
GPS (Kaplan & Hegarty, 2006), (Djuknic & Richton, 2001) é um sistema de
navegação por satélite que permite fornecer algumas informações a um receptor,
nomeadamente a sua posição geográfica. Este representa o método mais preciso de
obtenção da localização. Usando Network Location Provider,a localização é
obtida, não só, através da informação vinda das estações-base da operadora
móvel, mas também dos pontos de acesso Wi-Fi aos quais o dispositivo se
encontra ligado. Este representa o método mais rápido de obter a localização. O
Cell-ID(Trevisani & Vitaletti, 2004) indica a posição da antena à qual o
dispositivo se encontra ligado, e trata-se da forma de localização menos
precisa.
Um objecto digital por si só já tem agregadas informações de contextualização,
como é o caso da data, hora, destinatário, etc. Neste projecto, a
contextualização adicional, consiste em associar informação de geo-localização
ao objecto digital, no momento em que o utilizador o recebe, envia ou cria. Os
parâmetros de informação de geo-localização usados para a contextualização são
os seguintes: Latitude; Longitude; GSMCell-ID; GSM Area Code; Morada. Para a
localização do utilizador no momento em que recebeu, enviou ou criou um
contacto, SMS ou chamada, é apurado se este possui o GPS activo. No caso
afirmativo, é usado este sistema de geo-localização. No caso negativo, é
investigado se tem o Network Location Provideractivo. Se tiver, usa esse
provider para se localizar. Se o GPS e Network Location Providerse encontrarem
ambos inactivos é usada a localização por Cell-ID, que se encontra
permanentemente activa, e permite saber aproximadamente a localização do
utilizador. Se dispuser de todos os providers activos, é dado preferências ao
de GPS, seguidamente do Network Location Provider, por questões de precisão. A
geo-codificação (obtenção da morada a partir das coordenadas) só é obtida,
imediatamente, se o utilizador tiver acesso à Internet (GSM ou Wi-Fi). Caso o
utilizador não tenha uma ligação à Internet no momento em que surgiu o objecto
digital, é guardado na base de dados da aplicação CoBy apenas as coordenadas
(GSM Cell-ID + GSM Area Codee/ou latitude + longitude). A geo-codificação é
conseguida posteriormente quando o utilizador já tiver oportunidade de se ligar
a uma rede Wi-Fi ou GSM.
A duração da bateria dos dispositivos móveis é um dos grandes problemas com que
os programadores e utilizadores se deparam. É essencial que se desenvolvam
aplicações que de alguma forma, consumam menos recursos energéticos possíveis.
No que toca à geo-localização é estabelecido um compromisso entre o consumo de
bateria e a precisão de localização.
Outro aspecto que implicaria um consumo exaustivo dos recursos energéticos do
dispositivo móvel seria a existência de um serviço para detectar a chegada de
SMSs ou chamadas. Colmatou-se esse problema usando para isso o conceito de
Broadcast Receiver para despoletar o serviço (Shu, Du, & Chen, 2009), e foi
utilizado neste caso, a pensar nesta questão. Este activa o serviço só quando
recebe um determinado evento, neste caso a recepção de uma SMS ou uma chamada,
evitando a necessidade de ter um serviço a correr permanentemente.
A detecção do envio, recepção ou criação de uma SMS, chamada, ou contacto é
feito usando abordagens diferentes, tal como é ilustrado na Tabela_2. Sempre
que, ao dispositivo móvel chega uma SMS ou uma chamada existe um Broadcast
Receiver que detecta a sua chegada, usando o sistema de notificações do
Android, e onde é possível aceder ao seu conteúdo. O Broadcast Receiver activa
um serviço que irá obter a localização do utilizador usando os sistemas de geo-
localização disponíveis no dispositivo móvel, no momento. Quando o utilizador,
envia uma SMS, efectua uma chamada ou cria um contacto existe um
ContentObserver que detecta esse acto. Assim que este é notado, o serviço
responsável pela obtenção da geo-localização é activado e o utilizador é
localizado.
Seguidamente é guardado na base de dados da aplicação CoBy toda informação de
geo-localização que se conseguir apurar. É criada uma tabela semelhante à
ilustrada na Figura_14 por cada grupo de objectos digitais. Na base de dados da
aplicação CoBy é unicamente guardada informação relativa à geo-localização.
Todo o restante conteúdo da SMS, contacto ou chamada não está presente nesta
base de dados, devido ao facto de se encontrarem acessíveis a partir das bases
de dados do Android, evitando desta forma redundância de informação. Caso o
utilizador apague um dos seus objectos digitais, a informação de geo-
localização relativamente a esse objecto é mantida na base de dados da
aplicação CoBy, mas com a indicação de que este foi apagado. Desta forma o
utilizador sabe que apagou o objecto e tem acesso ao seu contexto, apenas
desconhece qual o seu conteúdo. Tem também a possibilidade de não o fazer, e
apagar toda a informação relativa ao objecto que previamente apagou na base de
dados do Android.
De forma a persistir os dados localmente no dispositivo móvel, a plataforma
Android disponibiliza uma abstracção designada Content Provider(Hashimi,
Komatineni, & MacLean, 2010),acedido através de cursores de uma forma
espectável e independentemente da fonte de dados utilizada. Para usar os
padrões nativos deste sistema operativo, foi utilizada uma base de dados
SQLite1 para guardar os dados localmente, construindo-se um Content
Providerpara facilitar o acesso aos mesmos (Owens, 2006). O timestamp que
representa a data e o tempo de determinado evento, funciona como chave primária
em todas as tabelas da base de dados da aplicação CoBy. Pois, dois objectos
terão sempre timestamps diferentes. O ID do objecto só é obtido posteriormente,
por pesquisa na base de dados do Android, e por comparação dos timestamps.
Desta forma é possível identificar um objecto inequivocamente, nas duas bases
de dados.
Na aplicação CoBy o utilizador tem total controlo sobre os seus dados. Existem
opções que permitem uma vigilância afincada sobre aquilo que o utilizador
pretende ou não enviar para o repositório digital pessoal, assim como aquilo
que pretende ou não preservar no cartão SD do dispositivo móvel, como backup. A
aplicação CoBy sincroniza-se com o repositório digital pessoal usando para isso
um Web-service REST(Cobârzan, 2010), (He, 2003) que consome e produz dados no
formato JSON(JavaScript Object Notation)2. Na Figura_15 encontra-se
representada a estrutura dos objectos JSON comum aos vários tipos de objectos
digitais que são enviados para o Web-service. Consoante o tipo de objecto
digital, existem alguns campos comuns e outros específicos de cada tipo de
dados. A título de exemplo, na Figura_16 está ilustrado o formato completo de
um objecto JSON do tipo SMS, constituído pelos seguintes campos:
* Object Type: identificador do objecto (SMS, Contactos, Chamadas, etc.);
* Created Time: identifica a data e hora da criação;
* Address, longitude, latitude, Cell-ID: informação de localização;
* Own Contact: identifica o número do cartão de onde surgiu o objecto;
* Person Contact: representa o número da pessoa com a qual se está a
estabelecer contacto.
* Source: indica se a mensagem foi recebida ou enviada;
* Body: representa o corpo da SMS propriamente dito;
Caso o utilizado achar que não precisa de preservar os seus objectos no
repositório digital pessoal, pode simplesmente usar esta aplicação para fazer
backup e restore a partir do cartão SD do seu dispositivo móvel. Mas se houver
uma perda ou furto do mesmo, toda a informação perder-se-á.
A utilização de um repositório digital pessoal como plataforma de armazenamento
remoto é um dos traços distintivos da aplicação CoBy. Um repositório digital
pessoal, mais do que uma plataforma intermédia onde os objectos digitais ficam
armazenados à espera de serem restaurados para um dispositivo móvel é uma
plataforma que permite organizar e relacionar diferentes tipos de objectos
digitais provenientes de várias plataformas e aplicações (Sousa, Pereira, &
Martins, 2012). O repositório digital pessoal é responsável por interpretar as
estruturas JSON utilizadas pela aplicação CoBy de forma a criar uma
representação semântica dos objectos digitais recebidos, e de forma inversa é
responsável por recriar as estruturas JSON a partir da representação semântica
do objecto digital quando comunica com a aplicação CoBy. A representação
semântica de um objecto digital é armazenada numa embedded triple-store(baseada
na base de dados Neo4J3), e é determinada por uma ontologia (que se encontra em
desenvolvimento de forma a ser capaz de lidar com tipos adicionais de objectos
digitais). A ontologia que está a ser desenvolvida é fortemente influenciada
pela ontologia CIDOC CRM (Group, 2011) com extensões para descrever eventos
associados ao ciclo de vida dos objectos digitais, ao próprio repositório
digital pessoal, e para descrever os vários tipos de objectos digitais que um
utilizador pode armazenar no repositório digital pessoal. O uso desta ontologia
permite classificar de forma consistente os objectos digitais, estabelecer as
suas propriedades, e descobrir relações entre diferentes objectos digitais,
tornado assim possível que o utilizador do repositório digital pessoal tenha a
noção da forma como, por exemplo, uma determinada SMS se encaixa com outras
formas de conversação digital (mensagens instantâneas, emails, etc.) mantidas
com um contacto. Nem todos os objectos digitais podem ser armazenados de forma
eficiente somente com recurso à sua descrição semântica. Objectos digitais com
conteúdos binários, como por exemplo imagens ou músicas, são armazenados no seu
formato binário nativo, tendo a sua representação semântica uma propriedade
(URL para a representação nativa) que permite o acesso ao objecto digital no
formato original.
As capacidades de classificação e organização de objectos digitais individuais
distinguem um repositório digital pessoal das soluções de backup e restore com
funcionalidades de armazenamento na Cloud, que normalmente criam arquivos com
conjuntos de objectos digitais que têm de ser restaurados para um dispositivo
compatível de forma a ficarem novamente acessíveis ao utilizador.
4. Análise da Aplicação
Subsistem muitas aplicações para Android que, tal como a aplicação CoBy,
englobam funcionalidades de backup e restore de SMSs, contactos e histórico de
chamadas. Na Tabela_3 encontra-se ilustrada a comparação entre a aplicação CoBy
e as aplicações mais usadas no Google Play, e que de alguma forma dispõe de
funcionalidades comuns. Será apenas sobre estas que será efectuado algum juízo
de valor nesta secção.
A existência de aplicações que possibilitem backup e restore para e ou a partir
do cartão de memória do dispositivo móvel já é uma realidade bastante clara, e
é uma característica comum a todas as aplicações retratadas na Tabela_3, com a
excepção das aplicações SMS Backup+ e Backup Contacts. Os backups podem ser
efectuados manualmente ou automaticamente. No caso em que esta tarefa é feita
manualmente, pode existir alguma perda de informação. É bastante ineficaz para
o utilizador ter de desencadear um backup sempre que recebe ou cria um objecto,
ou quando achar que é necessário. Acabando por fazê-lo, mas com intervalos
temporais muito espaçados, correndo o risco de perder informação nesse período
de tempo. Os backups automáticos são bastante mais eficazes, libertando o
utilizador da preocupação de salvaguardar os seus dados periodicamente, tendo
neste caso, a possibilidade de definir na aplicação quando e de quanto em
quanto tempo o pretende fazer. Esta funcionalidade está presente não só na
aplicação CoBy, como também em todas as restante, com a excepção das aplicações
Backup Contacts, Mobile Backup II e Super Backup: SMS & Contacts.
Tudo aquilo que é guardado com o objectivo de ser preservado deve sofrer um
controlo integral por parte do utilizador. Existem sempre objectos digitais em
que a sua preservação pode não ser desejada. A aplicação CoBy fornece ao
utilizador este controlo bastante pormenorizado, permitindo-lhe preservar
unicamente aquilo que pretender. Trata-se de uma funcionalidade única da
aplicação CoBy.
Já existem aplicações que de alguma forma permitem o armazenamento e a
preservação de dados na Cloud. Algumas delas só disponibilizam essa
funcionalidade para o e-mail. Três bons exemplos disso são as aplicações SMS
Backup & Restoredesenvolvido por RITESH SAHU, Super BackupeSMS Backup + que
permitem a exportação dos dados para uma conta de e-mail. Tornando-se confuso e
pouco objectivo para o utilizador. As aplicações CoBy, JS Backup, Backup
Contacts e MyBackup Pro são bastante mais inovadoras neste aspecto, pois
permitem a ligação a um repositório digital pessoal onde a informação se
encontra organizada, estruturada e privada. Os repositórios usados por estas
aplicações são: DropBox, SugarSync ou Google Docs.
Nenhuma das aplicações ilustrada na Tabela_3 permite qualquer tipo de geo-
contextualização de informação. Trata-se de uma funcionalidade única da
aplicação CoBy, permitindo ao utilizador preservar não só o conteúdo mas também
o local em que os objectos digitais surgiram.
A aplicação CoBy consegue englobar funcionalidades como: recolha, preservação e
contextualização de vários tipos de objectos digitais (SMSs, contactos,
histórico de chamadas); geo-localização dos objectos; armazenamento da
informação em locais distintos (cartão SD e repositório pessoal); sincronismo
dos dados com o repositório; backups automáticos e restore para/do cartão SD e
repositório pessoal; preservar apenas objectos digitais do interesse do
utilizador; interface gráfica de acesso aos dados no dispositivo móvel e no
repositório. Nenhuma das restantes conseguem integrar na sua totalidade as
funcionalidades presentes na aplicação CoBy. Mas aquilo que de facto, se pode
considerar inovador, é a geo-contextualização dos objectos, possibilitando ao
utilizador legitimar o surgimento dos mesmos, bem como a possibilidade de
garantir a sua preservação num repositório digital pessoal.
5. Conclusões
Neste artigo apresentou-se a aplicação CoBy como protótipo de um modelo de
recolha, preservação e contextualização de informação. Esta aplicação demonstra
uma elevada utilidade para utilizadores de dispositivos móveis. Trata-se de uma
aplicação com capacidade de backupautomático e restorede SMSs, contactos e
histórico de chamadas, devidamente contextualizados. O utilizador pode fazer
uma cópia de segurança e restauro não só para o seu repositório digital com
também para cartão de memória do seu dispositivo. A sua ligação a um
repositório digital pessoal permite colmatar o problema da acelerada
obsolescência inerente às diversas tecnologias e softwares que vão surgindo.
Assim, vê-se garantida a preservação persistente e continuada do material
digital, sem receio de perda, detioração ou corrupção dos mesmos. A
contextualização permite ao utilizador a criação de uma imagem mental
inteligível de tudo aquilo que o rodeava quando recebeu, criou ou enviou o
objecto digital. Permitindo, desta forma não só preservar o conteúdo
propriamente dito, mas também a imagem mental circundante. Com esta aplicação,
o utilizador consegue salvaguardar as SMSs, contactos e/ou chamadas que achar
que tem relevância para tal e dar um grande contributo para a escrita da sua
própria história, não só pessoal mas também profissional.
Com um método semelhante ao descrito para as SMSs, contactos e chamadas, a
aplicação CoBy irá permitir não só a recolha, preservação e contextualização
destes objectos, mas também de imagens, emails, fotos, bookmarks, músicas,
calendário, etc. Em suma, todo o material digital disponível no dispositivo
móvel e que seja do interesse do utilizador preservar. Serão também efectuados
testes de usabilidade de forma a tornar a aplicação mais robusta. Futuramente,
a aplicação CoBy será extensível a outros sistemas operativos móveis.