Das Tecnologias e Sistemas de Informação à
Proposta Tecnológica de um Sistema de Informação
Para a Agroindústria: O Grupo Sousacamp
1. Introdução
A crescente utilização dos Sistemas e Tecnologias de Informação (STI) tem sido transversal
a todas as indústrias. Um dos setores onde esta utilização se tem verificado com maior
impacto, tanto ao nível do desempenho das organizações como na qualidade dos produtos
e serviços prestados, tem sido o setor agroindustrial (Gebbers & Adamchuk, 2010). Em
países tipicamente reconhecidos como desenvolvidos, as organizações pertencentes ao
referido setor de atividade fazem um uso contínuo de sistemas e tecnologias altamente
sofisticadas com o objetivo de não só gerir o seu negócio, mas também de controlar e
monitorizar permanentemente as suas produções, de forma a poderem obter a informação
necessária para uma otimização de recursos e incremento produtivo (Lopes & Melão,
2016; Sørensen et al., 2010; Sousa, Teixeira, & Gonçalves, 2011).
Ainda que a realidade descrita represente, um importante passo na adequação de um
setor de atividade a toda uma nova realidade social e económica, à luz da literatura
científica analisada, os modelos de referência para arquiteturas de sistemas de informação
associados à agroindústria não estão direcionados nem adequados às especificidades
de todos os tipos de produção agrícola. Esta realidade é ainda mais premente quando
direcionamos a nossa atenção para o setor de produção de cogumelos, cujos requisitos
tornam a implementação de um sistema de informação, adequado e que permita ganhos
de desempenho organizacional, bastante complexa (Branco, Gonçalves, Martins, &
Cota, 2015).
O sucesso de um Sistema de Informação (SI) depende, em grande parte, da arquitetura
que o suporta. A arquitetura de um sistema de informação é relevante pois todos os
SI estão inseridos num contexto, assim, as organizações assumem-se como entidades
em constante mudança e evolução. Este processo de mudança está inerentemente
dependente de um conhecimento da arquitetura que suporta cada um dos SI de uma
organização, pois só assim poderemos antecipar os impactos negativos muitas vezes
associados à mudança (Quartel, Steen, & Lankhorst, 2012).
Tendo em conta o anteriormente mencionado como algo crítico para o sucesso das
organizações do setor agroindustrial, em particular daquelas ligadas à produção de
cogumelo, assumiu-se como base para o presente projeto de investigação a inexistência
de uma arquitetura de sistema de informação direcionado a este setor. Desta forma,
apresentamos neste artigo a base conceptual de uma proposta tecnológica direcionada
ao setor, tendo por base o estudo de caso – o Grupo Sousacamp – como fonte de
informação e orientações críticas para o desenho da proposta.
1.2. Adoção de Sistemas e Tecnologias de Informação
Os sistemas e tecnologias de informação são, de há muito a esta parte objeto de estudo
por parte da comunidade académica e científica, cujo objetivo tem sido caracterizar
verdadeiramente as suas limitações e virtudes, e também a forma como estas mesmas
plataformas têm sido adotadas, tanto a nível individual como a nível organizacional
(Aversano, Grasso, & Tortorella, 2013; Branco et al., 2015). No que diz respeito ao
âmbito do presente trabalho, iremos focar a nossa atenção na adoção das STI ao nível
das organizações.
A literatura científica existente indica que a adoção dos STI é um tema bastante descrito,
sendo vários os modelos e teorias que visam caracterizar o referido processo de adoção
(Petter, DeLone, & McLean, 2013). Ainda assim, ao analisarmos de forma cautelosa a
adoção de STI ao nível das organizações percebemos que a descrição deste processo de
adoção não apresenta o mesmo nível de detalhe que o existente quando analisado ao
nível individual.
De acordo com T. Oliveira and M. Martins (2011) e Martins, Gonçalves, Oliveira, Pereira,
and Cota (2014), a teoria de Difusão da Inovação (DOI) apresentado por E. Rogers (2003),
a framework Tecnologia-Organização-Ambiente (TOE) apresentada por Tornatzky and
Fleischer (1990), a Teoria da Construção Institucional das Organizações de Scott and
Christensen (1995) e o modelo de Iacovou, Benbasat, and Dexter (1995) são as principais
teorias que caracterizam o processo de adoção de STI ao nível das organizações.
Com base em todos os trabalhos analisados, foi possível concluir que a construção de
um SI que sirva de suporte ao negócio de um grupo económico, terá seguramente de ser
feita tendo por base os padrões identificados pelos vários modelos e teorias de adoção
de tecnologia existentes.
2. Caracterização do Caso de Estudo – Grupo Sousacamp
O Grupo Sousacamp é composto na sua maioria por empresas do setor agroalimentar,
sendo a sua principal atividade a produção de cogumelos frescos (agaricus bisporus). O seu
mercado principal é a Península Ibérica, encontrando-se, atualmente, em expansão para
outras zonas geográficas, tais como: Norte de África e América Latina (Branco et al., 2015).
A primeira empresa do Grupo Sousacamp surgiu em 1989, na freguesia de Benlhevai,
concelho de Vila Flor, dedicando-se à produção, comercialização e distribuição de
cogumelos. A expansão do negócio, em 2007, esteve na génese do Grupo empresarial. A
sua verticalização e diversificação culminaram na criação de múltiplas empresas e de novos
centros de produção e transformação de cogumelos e de composto orgânico (Branco, 2014).
Na atualidade, a operação do Grupo contempla uma visão 360º dos processos
associados à produção de cogumelos, a saber: produção de substrato; produção, colheita
e preparação de cogumelos; expedição e logística e, reutilização do substrato, como
fertilizante e biomassa. A atividade é complementada pela comercialização de variadas
espécies de cogumelos e hortícolas, produzidos por terceiros. O mercado do Grupo
Sousacamp é composto pela sua presença em Portugal, onde é líder, e Espanha, onde
tem uma quota de mercado expressiva. Adicionalmente, com uma posição menor, está
presente nos mercados francês, alemão e holandês (Branco, 2014).
3. Proposta Tecnológica de Suporte Funcional ao Grupo Sousacamp
3.1. O Processo de Adoção de Tecnologia
É usualmente consensual reconhecer a influência direta dos STI no desempenho e
posicionamento das organizações face à concorrência (Pereira, Martins, Gonçalves, &
Santos, 2014; Rijo, Varajão, & Gonçalves, 2012). Devido ao forte crescimento, na última
década, o Grupo Sousacamp tem vindo a alinhar o seu SI com a estratégia do negócio e
modelo de governação. Este alinhamento pressupõe a correta adoção dos STI, indo ao
encontro dos fatores que tradicionalmente a afetam.
Tendo em consideração que o objetivo principal de planeamento e implementação de
um SI, fosse colateralmente acolhido e adotado por todo o Grupo, decidimos suportar a
proposta tecnológica apresentada, nas várias teorias e modelos de adoção de tecnologia
ao nível organizacional. Após análise detalhada, e à luz do apresentado por T. Oliveira
and M. F. Martins (2011), todo o esforço de relacionamento das teorias de adoção de
STI com o desenho de soluções tecnológicas, particularmente arquiteturas de SI, teve
por base a teoria da Difusão da Inovação (E. M. Rogers, 2003) e a Framework TOE
(Tornatzky & Fleischer, 1990).
3.1.1. Teoria da Difusão da Inovação (DOI)
A DOI é uma teoria que procura explicar como, porquê e a que ritmo novas ideias e
tecnologias se difundem pelas culturas. Segundo E. M. Rogers (2003) a difusão é um
processo através do qual a inovação é transmitida por determinados canais ao longo do
tempo para um conjunto de membros respeitantes a um sistema social.
Apesar da complexidade da teoria, esta identifica quatro componentes que afetam a
difusão de uma nova ideia: 1) Inovação - A inovação é uma ideia, prática, ou objeto
que é percebido como novo por um indivíduo ou outra unidade de adoção; 2) Canais
de comunicação - são o meio pelos quais as mensagens passam de um indivíduo para
outro; 3) Tempo - o período de inovação-decisão é o período de tempo necessário para
passar pelo processo de inovação-decisão. A taxa de adoção é a celeridade relativa à qual
uma inovação é adotada pelos membros de um sistema social; e 4) Sistema Social - é um
agrupamento de unidades inter-relacionadas que estão implicadas na resolução de um
problema para alcançar um objetivo comum.
Da decomposição da DOI, o processo de difusão da inovação está intrinsecamente
subordinado ao capital humano envolvido no processo. Desta forma, a adoção tem de
ser uma criação longitudinal a todo o sistema social para que a inovação possa persistir
ao longo do tempo como algo frutuoso e usável (Bradford & Florin, 2003).
No contexto das organizações as inovações são recorrentemente adotadas em função
de dois tipos de inovação-decisão: decisões grupais de inovação e decisões de inovação
fundamentadas no poder. O primeiro acontece quando a adoção de uma inovação é
resultado de uma anuência entre os colaboradores de uma organização. O segundo surge
quando a adoção de uma inovação é consequência da decisão de um conjunto reduzido
de colaboradores com grande poder dentro da organização (E. M. Rogers, 2003). O
processo de inovação na decisão na organização engloba colaboradores apelidados de
paladino, que lideram a adoção de uma inovação e quebram os obstáculos que possam
ocorrer à inovação (Bradford & Florin, 2003).
Ainda de acordo com o definido na DOI, as caraterísticas individuais do líder da
organização, as características internas da organização e a abertura do ecossistema em
que a organização está localizada, são os contextos a ter em conta quando analisamos o
processo de difusão da inovação.
3.1.2. Technology-Organization-Environment Framework (TOE)
A Framework TOE, apresentado por Tornatzky and Fleischer (1990), ainda que
visivelmente presente na literatura científica como uma teoria de adoção de tecnologia
ao nível das organizações, é considerada por vários autores como sendo uma evolução da
teoria da Difusão da Inovação. Considerada apropriada para analisar fatores contextuais
que afetam a adoção de distintas inovações (Wu & Subramaniam, 2009), vem sendo
utilizada por vários autores para estudar a adoção de STI ao nível das organizações
(Bosch-Rekveldt, Jongkind, Mooi, Bakker, & Verbraeck, 2011; Low, Chen, & Wu, 2011).
Segundo Hsu, Kraemer, and Dunkle (2006), o contributo da TOE vai além do auxílio
na compreensão da adoção de tecnologia por parte das organizações, pois permite
destacar a criticidade do meio envolvente à organização e dos relacionamentos que
esta estabelece com esse mesmo meio envolvente. Desta forma podemos dizer que a
framework TOE se apresenta como uma teoria que permite explicar três elementos
do contexto organizacional que influenciam as decisões de adoção de tecnologia (Teo,
Ranganathan, & Dhaliwal, 2006): 1) Contexto tecnológico - abrange as tecnologias que
são significativas para a organização. As tecnologias existentes são relevantes no processo
de adoção, pois apoiam a definição dos limites e a cadência da alteração tecnológica
que a organização consegue suportar. As tecnologias existentes, mas que ainda não são
utilizadas, também afetam a inovação, quer exibindo o limite do que é exequível, quer
exibindo à organização de que modo a tecnologia pode auxiliar a adaptar-se e a evoluir;
2) Contexto Organizacional - refere-se às propriedades e meios que a organização detém,
abrangendo as estruturas de união entre os membros, o processo de comunicação
dentro da organização, a dimensão da organização e o número de meios; e 3) Contexto
Ambiental – diz respeito ao setor e âmbito de negócio, à existência de fornecedores de
tecnologia e à regulação jurídica. Setores mais concorrenciais tendem a incitar a adoção
da inovação. Setores em célere alargamento tendem a inovar mais rapidamente do que
setores maduros.
3.2. O Processo de Adoção de Tecnologia no Grupo Sousacamp
O Grupo Sousacamp, como grupo empresarial em constante evolução, apresenta um
padrão de adoção de inovações tecnológicas que se apresentam como algo complexo.
Como forma de caracterizar o processo de difusão da inovação por todo o grupo, a
equipa de investigação utilizou a teoria da Difusão da Inovação, fazendo um paralelo
entre as variáveis independentes apresentadas na referida teoria e a realidade do Grupo.
O tipo de inovação-decisão mais prominente é o modelo de governação autoritária em
que a adoção e utilização de uma determinada inovação resulta da decisão de poucos
colaboradores com grande autoridade. Esta realidade, ainda que não considerada do
ponto de vista da gestão como a mais sensata, advém de uma centralização da decisão no
fundador do Grupo e nos principais órgãos funcionais da empresa-mãe.
Apesar da atividade do Grupo Sousacamp estar centrada na indústria agroalimentar,
que à partida num país como Portugal não é assumida como algo eminentemente
tecnológica, a produção de cogumelos é um processo em que a componente tecnológica
tem atualmente uma importância muito significativa. Em paralelo a esta realidade, o
plano estratégico do Grupo visa um investimento em STI como veículo para incrementos
em termos de competitividade e o uso eficiente de recursos. Esta dinâmica estimula
assim os colaboradores a participarem no processo de inovação.
A decisão de adotar inovações é um processo mental ao qual um indivíduo é exposto.
Esse processo inicia-se com a aquisição do conhecimento da inovação, seguido da
formação de uma atitude no sentido da inovação, a decisão de adotar, ou não, a inovação,
à implantação da nova ideia e, por fim, a confirmação da decisão de adoção da inovação
(Huff & McNaughton, 1991).
Segundo T. Oliveira and M. F. Martins (2011) e Branco (2014) a framework de adoção
de tecnologia TOE inclui o contexto ambiental da organização, o que permite explicar
melhor a adoção da inovação intraempresa, o que o converte num modelo mais
completo. Com base neste pressuposto e naqueles mencionados anteriormente, levamos
a cabo uma ação de matching entre aqueles que seriam os componentes do SI do Grupo
Sousacamp e a Framework TOE (Figura 1). Esta ação e a respetiva distribuição dos
referidos componentes pelos vários contextos apresentados pela TOE tiveram por base,
um enquadramento específico, sendo este detalhe descrito individualmente de seguida.
Figura 1 – Componentes do SI do Grupo Sousacamp analisados do ponto de vista da
Framework TOE (Branco, 2014)
Contexto Tecnologia
3.2.1. Infraestrutura
A infraestrutura de uma organização deve ser pensada para que consiga suportar a
homogeneidade das tecnologias existentes, garantido a centralização de conhecimento
e constante diminuição da sofisticação das tecnologias de informação e comunicação
utilizadas (Jansen, Brinkkemper, & Finkelstein, 2013). Esta abordagem tende a agilizar
a integração entre componentes do SI.
A centralização de recursos relevantes fomenta uma gestão centralizada e,
tendencialmente, uma redução de custos a toda a linha através da incorporação de
tecnologias, como servidores virtuais, cuja execução não requer a presença física de
especialistas. Desta forma, na presente proposta, a informação crítica encontra-se
no data center da sede da empresa, o que potencia não só uma política otimizada de
segurança, mas também uma recuperação de dados mais competente.
Em termos estruturais, a infraestrutura de telecomunicações foi desenhada em estrela
e suportada por Virtual Private Network (VPN), criando assim uma rede privada
transversal a todo o Grupo que permite não só a partilha horizontal de componentes por
todas as empresas, numa lógica de SI global (verticalização da gestão do Grupo), como
garante a escalabilidade do modelo.
3.2.2. Sistema de Monitorização e Notificações Integrado
O funcionamento otimizado de uma empresa obriga a um nível de preparação muito
considerável por parte dos seus colaboradores, para que estes possam responder de forma
célere a todos os possíveis eventos. Esta realidade é ainda mais crítica nas indústrias
de produção contínua, onde a existência de impreparação ou a falta de capacidades de
resolução de problemas podem levar a perdas muito significativas e impactos negativos
relevantes (Gonçalves et al., 2014).
Uma análise ao Grupo Sousacamp revela a existência de vários sistemas cuja natureza
obriga a uma constante monitorização e à existência de sistemas de notificação
que possam ser executados na ocorrência de desvios a um, ou vários, padrões de
funcionamento. Tal como foi possível constatar nas etapas iniciais de especificação da
presente arquitetura, a existência de custos elevados de manutenção deve-se, em grande
parte, à falta de informação atempada sobre o estado de falha de equipamentos críticos.
Tal como é mencionado por Branco (2014), “nas empresas do caso de estudo, é crítico
garantir a climatização dos túneis de produção de substrato e das salas de produção
de cogumelos, em particular, mas também monitorizar os sistemas complementares
como, por exemplo, aqueles que compõem a cadeia de frio. Qualquer atraso na
resposta a estas alterações pode invalidar o produto, tornando-o inútil”. Desta forma, a
existência de um sistema de monitorização e notificação assume um papel crítico não só,
na manutenção de um funcionamento mais linear do Grupo, como também, na redução
de custos inerentes à resolução de problemas inerentes ao seu próprio funcionamento.
3.2.3. Requisição de Manutenção
A existência de um órgão funcional responsável pela manutenção, composto por
pequenas equipas descentralizadas da sede do Grupo, forçou a criação de uma solução
no âmbito dos SI que permitisse uma abordagem verticalizada de suporte ao processo de
manutenção que fosse transversal a todo o Grupo.
Como solução para a necessidade de formalização e gestão de todos os pedidos de
manutenção, foi adicionado um componente de requisição de manutenção à arquitetura
proposta para que o SI possa apoiar toda a operacionalidade das ações de manutenção,
principalmente, no que diz respeito ao seu registo e rastreabilidade.
Contexto Organização
3.2.4. Intranet
Na última década o Grupo Sousacamp conseguiu atingir um nível de crescimento muito
significativo não só em volume de negócio, como também em número de colaboradores e
infraestrutura de suporte ao negócio, tendo este crescimento impactado de forma substancial
a operação do Grupo. Em virtude deste facto, a proposta de arquitetura apresentada foi
pensada englobando uma plataforma de desenvolvimento rápido de soluções que, de forma
linear, permitisse que os especialistas do Departamento de Sistemas de Informação tivessem
possibilidade de se focarem na componente funcional do negócio, em detrimento da
componente tecnológica. Desta forma, fica assente que a manutenção de dados organizados
e disponíveis transversalmente em todo o Grupo é um dos principais pilares do SI.
A necessidade de incrementar o desempenho dos processos de negócio do Grupo levou a
que um conjunto de evoluções tivessem que ser definidas. Um exemplo destas evoluções
é a implementação de um sistema de gestão documental que permita aos utilizadores
trabalharem sobre os mesmos documentos de forma colaborativa e em paralelo, sendo
o acesso a estes documentos gerido através de conjuntos de permissões atribuídas às
bibliotecas de cada um dos departamentos e de cada um dos projetos. Em paralelo ao sistema
de gestão documental foi também necessário definir um sistema de gestão de projetos que,
de forma célere e eficiente, permitisse uma gestão e controlo das várias tarefas especificadas
para cada um dos projetos, do nível de custos, qualidade, riscos, tempo, recursos humanos
e materiais, e definir prioridades, controlando assim o estado de cada um.
De forma a garantir uma centralização de todos os sistemas mencionados, foi incorporada
uma Intranet à proposta de arquitetura apresentada. Esta intranet é única e transversal a
todo o Grupo. No que diz respeito às ferramentas colaborativas disponibilizadas, a Intranet
do Grupo Sousacamp disponibiliza as seguintes: fóruns, wikis, blogs e questionários.
3.2.5. Gestão da Produção
Para controlar e tornar o mais eficiente possível a produção do Grupo, foi necessário
implementar um conjunto de sistemas de controlo de automação, garantindo assim
que todos os parâmetros inerentes ao processo produtivo (i.e.: temperatura, humidade,
ventilação, etc.) são controlados em tempo real. Ainda que o referido processo produtivo
incorpore bastantes automatismos, existem ainda várias fases da produção de cogumelo
cuja realização é feita de forma manual.
Apesar do controlo do processo produtivo ser crítico, a sua gestão do ponto de vista
funcional e administrativo também o é. Desta forma, a inexistência de um sistema de
controlo de produção que permita, aos colabores do Grupo que realmente desempenham
papeis de tomada de decisão, ter acesso a um conjunto de informações e dados de forma
simples, direta e contextualizada, iria ter graves implicações para o negócio.
Tal como é argumentado por Branco (2014), nos últimos anos vários esforços têm sido
desenvolvidos para a implementação de um sistema de suporte à produção totalmente
ajustado às necessidades do Grupo Sousacamp. Este esforço advém principalmente do
facto de as soluções existentes no mercado não se adequarem facilmente à realidade da
produção intensiva de cogumelo e à dinâmica funcional e estrutural do Grupo.
3.2.6. ERP
O histórico organizativo do Grupo Sousacamp, inicialmente meramente uma marca, sob
a qual se enquadravam diversas empresas independentes, tinha a sua gestão de recursos
feita através de vários Sistemas Integrados de Gestão (ERP) isolados em que cada um
destes geria a informação de uma única empresa. A formalização do Grupo e a unificação
das referidas empresas em torno do mesmo, tornou ainda mais evidentes as dificuldades
inerentes a tarefas de migrações de dados e incorporação transversal de regras de negócio.
Tendo em conta que a mudança de software ERP acarreta um esforço financeiro e um
conjunto de questões técnicas e funcionais de difícil exequibilidade, optou-se por adotar
uma configuração do SI e do ERP que fosse capaz de responder ao seguinte conjunto de
questões (Branco, 2014): “a) criação de normalizações ao nível dos códigos existentes,
padronizando desta forma as várias entidades que se relacionam com o Grupo; b)
imposição de uma política de preços transversal ao Grupo através de instituição de
um mecanismo de aprovação de preços; c) garantir a rastreabilidade de propostas
apresentadas aos clientes e definição de tabelas de preços de venda; d) garantir acesso
aos colaboradores a funcionalidades referentes ao pedido de material, quando estes
não possuem permissões diretas no ERP. Efetuar gestão dos pedidos, fomentando
a agregação de pedidos e a eficiência na relação com os fornecedores; e) dispor de
um serviço centralizado de análise de inventários que permita análises e correlações
periódicas independentes de qual a empresa do Grupo que está a originar os dados;
f) integrar um sistema de suporte à necessidade legal de controlo de assiduidade dos
colaboradores, que seja capaz de gerir as suas entradas e saídas; e g) disponibilizar
um repositório de contactos internos e externos ao Grupo”.
3.2.7. Serviço de Informação de Suporte à Gestão
A necessidade de manutenção de elevados níveis de eficiência e competitividade
fomentou a existência de um processo de tomada de decisão suportado por informação
atual e de qualidade, independentemente do crescente número de fontes de dados.
Ainda que a existência de dados e informação com qualidade seja importante, a sua fácil
utilização e interpretação torna o processo de decisão mais linear e incrementa a sua
fiabilidade. Desta forma, e para que os colaboradores não fossem forçados a dominar
ferramentas tecnológicas complexas, nem estivessem dependentes do departamento de
TI para a criação de quadros de pilotagem personalizados, foi desenhado um sistema
de Business Intelligence (BI) baseado numa abordagem de Self-service BI (SSBI). Esta
ferramenta, que tem por base as tradicionais tecnologias de BI, incorpora ainda outras
tecnologias que proporcionam aos utilizadores, sem conhecimentos técnicos em TI,
a capacidade de tomarem decisões devidamente suportadas, sendo este processo de
decisão enriquecido pelo contexto situacional, ou seja, os dados dizem respeito a um
problema específico do negócio, que tipicamente têm um tempo de vida reduzido para
um grupo de utilizadores específico (Turban, Sharda, Delen, & Efraim, 2007).
3.2.8. EDI Interno
Mesmo com todo o esforço de adaptação do software às necessidades das empresas do
Grupo, não é certo que todas as necessidades de cada empresa e dos vários departamentos
sejam colmatadas, sendo este um fator que leva por vezes as empresas a adaptarem-se
ao software ao invés de ser o inverso a acontecer.
De forma a ajustar o SI existente às questões associadas ao crescimento do Grupo,
foi necessário incorporar na arquitetura de SI proposta um componente que tivesse a
capacidade de otimizar a troca de documentos entre os vários atores e assim não só
melhorar os tempos médios de inserção de dados, como também reduzir a taxa de erro
associada à mesma.
Ainda que baseada numa implementação tradicional de um sistema EDI, o sistema
desenvolvido no âmbito do Grupo Sousacamp assume como principais argumentos a
seu favor os custos reduzidos, a segurança, o grau de adaptação ao processo de negócio
e, principalmente, o seu nível de integração com o SI já implementado.
3.2.9. Rede Social Interna
A dispersão geográfica das empresas do Grupo Sousacamp, bem como a existência
de competências funcionais em apenas algumas das empresas incentivou a procura
por complementos ao SI existente que permitissem aos colaboradores da empresa
interagirem entre si de forma colaborativa.
Desta forma, e seguindo as indicações de Branco (2014), para que uma rede social
interna possa ser bem sucedida deve conseguir dar resposta aos seguintes requisitos
funcionais: “a) Como proporcionar ao colaborador um local, gerido pelo próprio, que
lhe permitisse agregar informação dispersa?; b) Como acompanhar num ponto central
a atividade de colaboradores, serviços e projetos?; c) Como encontrar colaboradores
com responsabilidades ou competências numa determinada área?; e d) Como saber,
em tempo real, a disponibilidade dos colaboradores?”.
O componente Rede Social Interna foi desenvolvido como mecanismo de promoção da
divulgação de conhecimento por todo o Grupo de forma mais informal. Para que esta
ação seja o mais pessoal possível, todos os colaboradores possuem uma área individual
(perfil), onde estão disponíveis os seus interesses e atividades. Tal como nas redes
sociais tradicionais, as grandes vantagens da utilização deste tipo de tecnologia estão
diretamente relacionadas com a possibilidade de informalmente podermos estabelecer
relações com outros membros da rede (Martins et al., 2015).
3.2.10. Suporte ao Utilizador
Numa entidade que possui mais de 500 colaboradores uma das necessidades diárias
é a existência de um serviço de suporte ao utilizador que não só seja tecnicamente
capaz, mas que em paralelo esteja permanentemente disponível para resolver todos os
problemas referentes aos equipamentos existentes.
Mantendo o alinhamento com a restante organização funcional, o serviço de suporte ao
utilizador foi pensado para estar centralizado e ser disponibilizado transversalmente a
todas as empresas do Grupo. A eficiência, critério muito relevante neste tipo de serviço,
deve ser garantida através de uma formalização de todo o processo de suporte, desde
a notificação da existência de um problema até à confirmação da resolução do mesmo.
Desta forma, poderemos não só efetuar uma gestão clara de todo o procedimento como
podemos inclusive garantir a necessária rastreabilidade do mesmo.
Em termos funcionais e tecnológicos o serviço de suporte ao utilizador (tipicamente
denominados de help desk), fornece aos colaboradores do Grupo um contacto mais
direto com os membros do departamento de TI responsáveis pelas atividades técnicas de
suporte. Estes últimos são especialistas na área do suporte, sendo que o conhecimento
necessário para executar as tarefas inerentes seja de difícil aquisição.
Contexto Ambiente Externo
3.2.11. Sistema de Gestão Integrado para a Qualidade
Ao longo da última década o investimento do Grupo Sousacamp na melhoria contínua
nas suas atividades e processos de negócios (produtivos e administrativos) tem sido
muito significativo, e tem resultado numa adoção de normas e standards internacionais.
Esta adoção de certificações tem vindo a garantir a qualidade dos produtos e serviços,
a garantir das condições de segurança alimentar e higiene e a preservação do meio
ambiente envolvente.
Em termos práticos, para que seja possível manter um padrão de qualidade compatível
com os standards e certificações internacionais, é necessário o desenvolvimento de um
sistema de gestão da qualidade capaz de garantir que as atividades inerentes ao processo
produtivo e administrativo são executadas corretamente e em linha com os critérios
internacionais. Este sistema, cujas funcionalidades andam em torno da capacidade de
tratar reclamações (não conformidades, ações preventivas, corretivas e oportunidades
de melhoria), gestão de recursos hídricos e resíduos, legislação e controlo analítico e
metrológico, visa acima de tudo uma otimização do funcionamento do Grupo e assim
alcançar uma vantagem competitiva sobre a concorrência ao mesmo tempo que, ajuda
a maximizar os lucros.
3.2.12. Monitorização Ambiental
A legislação em vigor direcionada à proteção ambiental e as exigências nesta mesma área
apresentadas pelos standards e certificações internacionais, levou a que o Grupo tivesse de
adotar um conjunto de boas práticas alinhadas com os seguintes requisitos (Branco, 2014):
“a) Cumprimento legal e normativo (ISO 9001, ISO 22000 e ISO 14001); b) Melhoria da
eficiência energética; c) Redução do impacto ambiental; d) Monitorização de sistemas de
produção e apoio à produção; e) Suporte à manutenção preventiva dos equipamentos; f)
Resposta rápida em caso de avarias; e g) Suporte à tomada de decisão”.
Em termos práticos, o sistema de monitorização ambiental apresentado na atual proposta
de arquitetura de SI é composto por uma rede de sensores sem fios, instalada em todas as
empresas do Grupo, direcionada à medição constante de parâmetros como temperatura,
humidade, luminosidade e energia elétrica consumida. Esta medição permite, a todo
o momento, perceber qual o impacto ambiental que o processo produtivo está a ter e
atingir os dados necessários para uma tomada de decisão informada e suportada perante
as questões de natureza ambiental.
3.2.13. Controlo de Acessos
A regulamentação existente para a área da segurança alimentar forçou a que o Grupo
Sousacamp implementasse uma política de controlo de acessos às instalações de todas
as empresas que o compõem.
De forma a tornar este controlo de acessos um processo menos burocrático, mais
escalável e com uma maior capacidade de administração, o mesmo é feito através de
equipas de segurança a que foi dado acesso ao SI do Grupo para que possam efetuar o
registo de todas as entradas e saídas de pessoas e veículos. Este sistema de controlo de
acesso pode ainda ser um complemento ao sistema de registo e assiduidade através da
utilização de relógios de ponto e torniquetes.
4. Análise e Discussão da Solução Proposta
Para medrar é crítico inovar, pelo menos esporadicamente. No entanto, e apesar desta
corroboração, foi árdua na esfera deste projeto de investigação, decidir que tecnologias
adotar, quando as adotar e como governar o processo de implementação, de forma a
produzir valor para o negócio. Muitos destes obstáculos deveram-se à complexidade
do sistema e à mutação permanente de um conjunto alargado de variáveis de várias
categorias, ao qual se agregou um alargado conjunto de premissas de racionabilidade
sustentada numa fundamental análise custo-benefício.
4.1. Implicações Teóricas e Práticas
Observou-se que as tecnologias adotadas para cada contexto permitem um SI perfilado
com um modelo de gestão verticalizado, com muitas das proficiências fundamentais
centralizadas, mas suficientemente maleável para se adaptar a novas realidades.
Estas respeitam modelos estáveis, ou seja, amplamente instituídos e com um extenso
ecossistema de apoio, o que a largo prazo, concorre para a redução de dificuldades
decorrentes de inconciliabilidades tecnológicas e funcionais.
As tecnologias adotadas são elementos facilitadores da adequada especificação de uma
arquitetura de SI e do SI, avalizando estes o alinhamento com os requisitos do negócio,
evitando desta forma prováveis quesitos que especificamente provêm da carência desse
mesmo alinhamento.
Comprovou-se que a tecnologia adotada diminui o tempo empregue por parte dos
recursos humanos habilitados nas tarefas de manutenção. A incorporação de sistemas de
atualização automática ou com método de parametrização gráfica, simplifica e aprimora
o processo de suporte, tornando-o mais eficiente. Deste modo, os colaboradores têm
tempo acrescido para a concretização de atividades de maior retorno, o que se verte em
níveis de desempenho superior com o consequente ganho de eficiência.
De uma perspetiva teórica o atual trabalho expõe como contributo mais pertinente a
caracterização clara dos predicados intrínsecos a um SI de suporte ao setor de produção de
cogumelo, podendo ser adaptado e customizado para outras atividades relacionadas com
a indústria agroalimentar. No âmbito deste trabalho de investigação foi também possível,
à luz da literatura científica e técnica existente, atingir os argumentos de sustentação
necessários para que a proposta tecnológica apresentada possa ser considerada válida.
5. Conclusões
Ao longo dos últimos anos temos vindo a assistir a um crescimento muito significativo
do setor agroindustrial, sendo muito desse crescimento acompanhado de uma cada
vez maior utilização de sistemas e tecnologias de informação que suportam muitas
das atividades inerentes não só à gestão das organizações, mas também ao controlo
e maximização das próprias produções. Um exemplo claro deste crescimento muito
sustentado na utilização de STI tem sido o setor da produção de cogumelo, cujas
especificidades inerentes ao processo produtivo e logístico obrigam a um nível de
controlo e eficiência de recursos muito preciso.
Ainda que a produção de cogumelo represente a nível mundial um valor económico já
bastante considerável, não existia uma solução tecnológica transversal que se possa adequar
e ajustar dinamicamente às organizações que têm por atividade a produção de cogumelo.
Com o presente trabalho propusemo-nos especificar uma proposta tecnológica para um
sistema de informação que suportasse a atividade de uma organização produtora de
cogumelo, sendo que para isso utilizámos o Grupo Sousacamp como caso de estudo. A
proposta apresentada, composta por 13 blocos funcionais que se relacionam entre si de
forma altamente interativa, foi desenhada de forma ponderada e com suporte nas várias
teorias de adoção de tecnologia ao nível das organizações.
A nosso ver o presente trabalho representa não só um importante contributo não só
para as organizações do setor da produção de cogumelo, mas também para a ciência
pois ao longo da presente investigação são identificados um conjunto de requisitos e
características inerentes à produção do referido fungo que podem ser utilizados em
futuros trabalhos de investigação e desenvolvimento.