Sistemas de informação como indicadores de qualidade na saúde. Uma revisão de níveis de
abordagem
1. Sistemas de Informação em Enfermagem
Os SIS estão em permanente evolução, o que torna inevitável a necessidade de
disponibilizar sistemas capazes de se configurarem para uma utilização da informação
orientada à qualidade e aos resultados (Pinto, 2009). Em particular, um sistema de
informação em enfermagem (SIE) é definido para documentar e apoiar os cuidados
prestados ao utente/família, comunicar com outros departamentos hospitalares,
recuperar dados dos pacientes e impedir o uso indevido da informação (Freixo &
Rocha, 2014; Pinto, 2009). Para Sousa (2005) os SIE servem de suporte legal dos
cuidados de enfermagem, dão visibilidade aos contributos do processo de enfermagem,
facilitam a gestão, promovem a avaliação e a continuidade do cuidado. Os SIE devem
dar resposta às necessidades dos enfermeiros: incluir a classificação de enfermagem,
reduzir a duplicidade de dados e aumentar a acessibilidade à informação. Os registos de
enfermagem devem incorporar as necessidades de cuidados ao utente, as intervenções
de enfermagem e seus resultados (Rocha & Rocha, 2013).
A importância dos registos em enfermagem é evidente em assegurar a continuidade
dos cuidados, por permitirem um acesso a todas as informações do paciente de modo
seguro e confidencial (Lima et al., 2011). Os SIE permitem elaborar diagnósticos
personalizados, documentar os procedimentos e melhorar a qualidade da assistência
(Lima & Melo, 2011). Os registos podem ser assim indicadores de qualidade dos cuidados.
Através de uma auditoria aos registos eletrónicos de enfermagem é possível analisar
os cuidados prestados, repercussões e custos envolvidos. A auditoria de enfermagem é
um instrumento de controlo de qualidade do trabalho da equipa. Assim, os cuidados de
enfermagem podem ser avaliados pelos registos eletrónicos (Setz & D’Innocenzo, 2009;
Hesbeen, 2001; Martins et al., 2008).
1.1. Sistemas de Informação para a Qualidade dos Cuidados de Enfermagem
A continuidade do cuidado é um dos aspetos que permite avaliar a qualidade dos
serviços de saúde, o que comprova a importância que esta dimensão tem em toda a
dinâmica dos cuidados (Mota et al., 2014). Os SIE desempenham um papel fulcral na
avaliação da qualidade, pois permitem aceder em tempo útil aos registos recolhidos,
processados e documentados pelos enfermeiros. Definir qualidade não é simples,
ao avaliar a excelência de um produto ou serviço (Ascenção, 2010; Bastos & Saraiva,
2009). O conceito de qualidade foi desenvolvido durante a era industrial e foi adaptado
à saúde por Avedis Donabedian1. Na saúde, envolve as dimensões: estrutura (recursos
materiais, equipamentos e humanos); processo (relação entre o paciente e o prestador);
e resultados (produto final da assistência prestada). Qualidade em saúde pode ser
definida como a prestação de cuidados de saúde acessíveis e equitativos, com um nível
profissional ótimo que tenha em conta os recursos disponíveis e alcance a adesão e
satisfação do utente (PNS, 2012-2016). Trata-se de uma exigência de todos os envolvidos
nos cuidados de saúde; é hoje uma dimensão incontornável na prestação de cuidados.
<Nota/>1 Médico armênio reconhecido como o precursor do método de avaliação de qualidade na saúde.
Desenvolveu um quadro concetual para o entendimento da avaliação da qualidade em saúde a
partir dos conceitos de estrutura, processo e resultado.
Pode ser influenciada pela formação profissional, número de profissionais por turno e
estruturas das organizações. A melhoria da qualidade do cuidado deve fazer parte do
dia-a-dia de cada um na realização de suas tarefas (Ascenção, 2010). Por isso, a avaliação
da qualidade deve englobar todos os elementos da equipa multidisciplinar envolvida.
Em particular, os cuidados de enfermagem têm como finalidade a contínua melhoria da
prestação, bem como definir estratégias para alcançar tal melhoria com base no custo-benefício. A qualidade deve ser vista como um processo contínuo, estando diretamente
relacionada com a qualidade da informação disponível (Mota et al., 2014). Para fazer
face a estas necessidades, existem várias ferramentas que contribuem para a melhoria
contínua da qualidade exigida aos hospitais (Bastos & Saraiva, 2009). A nível hospitalar,
a certificação poderá ser requerida a nível departamental, isto é, cada um dos serviços
hospitalares (imunologia, laboratório, pediatria, etc.) pode desenvolver um sistema
individual de gestão da qualidade solicitando em seguida uma auditoria com vista a obter
uma certificação ISO2. O facto de uma organização se encontrar em conformidade com
a norma significa que possui uma abordagem sistemática para a gestão dos processos
orientada a que os produtos ou serviços prestados respondam às expetativas dos clientes.
Segundo a ordem dos enfermeiros, a implementação de SI na área de enfermagem deve
respeitar a norma ISO18104. Esta norma facilita os conceitos de diagnóstico e ações de
enfermagem de modo a favorecer a sua manipulação nos SI.
A aplicação de questionários sobre a qualidade é outra ferramenta que os hospitais
podem utilizar para avaliar os cuidados de enfermagem através dos registos. A qualidade
pode ser avaliada através de auditorias aos processos de enfermagem. A sua função não é
somente identificar falhas ou problemas, mas também apontar sugestões e soluções que
promovam a qualidade dos cuidados (Setz & D’Innocenzo, 2009). O processo eletrónico
do doente abrange todos os cuidados prestados e deve transparecer todas as intervenções.
O cuidado de enfermagem é complexo, abrangente e desafiador e os enfermeiros estão
expostos a situações clínicas difíceis (Sasso et al., 2013). O processo de enfermagem tem
tido os SI como grande aliado através da redução do tempo de documentação e registo
clínico, da discussão dos casos e busca contínua de evidências nos dados. O maior
desafio é determinar que informação o enfermeiro necessita de registar para promover a
continuidade e qualidade do cuidado, uma vez que o volume de informação cresce. Com
os SIE, podem organizar e determinar quais os registos essenciais para a promoção do
cuidado. O resumo mínimo de dados em enfermagem representa a primeira tentativa de
padronizar os dados essenciais para a prática de enfermagem. Entende-se por resumo
mínimo de dados o conjunto mínimo de elementos de informação, com definições e
categorias uniformes específicos da enfermagem, que satisfaz as necessidades dos
utilizadores (Barra & Sasso, 2011; Ordem dos Enfermeiros, 2007).
Os SIE são ferramentas que permitem otimizar o fluxo de trabalho e a eficácia do
cuidado através do aumento do conhecimento dos profissionais, melhor articulação
e comunicação entre as instituições e diminuição do tempo de espera pelo utente
(Azevedo, 2010). Contudo, ainda existem dificuldades na sua implementação tais como:
pouca adesão dos enfermeiros (por défice de conhecimento das TI), não envolvimento
dos enfermeiros na implementação dos SI e elevados custos dos mesmos.
<Nota/>2 International Organization for Standardization.
1.2. Sistema de Informação como Indicador de Qualidade dos Cuidados
Tendo em conta que o maior grupo profissional da área da saúde são os enfermeiros, é
assim o grupo que mais decisões toma e atos regista. Pela especificidade de suas funções,
produzem mais informação clínica sobre os pacientes (Pinto, 2009). A prática diária da
profissão de enfermagem encontra-se diretamente relacionada com a aquisição, análise
e interpretação de informação com uma constante necessidade de documentar dados
inerentes à prestação de cuidados (Pinto, 2009). A necessidade de maior acessibilidade
para continuidade do cuidado entre diferentes contextos (hospital, centros de saúde)
esteve na origem da construção de plataformas de informação de enfermagem (Azevedo
& Sousa, 2012). A introdução dos SIE constitui uma mais-valia na profissão de
enfermagem, dando visibilidade aos contributos dos cuidados de enfermagem para os
ganhos em saúde das populações.
Os registos são a base de toda a metodologia de trabalho em enfermagem, pelo que
devem ser rigorosos e completos. Reforçam assim a autonomia e a responsabilidade
profissional (Martins et al., 2008). O sistema de avaliação de desempenho da carreira
de enfermagem indica que existe deficiente desempenho se há incumprimento do dever
de registo sistematizado dos cuidados de enfermagem. A implementação dos SIE veio
preencher uma lacuna existente na profissão. Perante estes factos, um suporte dos SIE
direcionado para os resultados poderá constituir um indicador de qualidade do trabalho
de enfermagem e de saúde. Indicador de qualidade é um instrumento que permite
verificar se os objetivos propostos foram ou não alcançados (D’Innocenzo et al., 2006).
Santos e Rennó (2013) referem que indicadores são medidas de desempenho, ou seja,
instrumentos com foco no resultado esperado e no processo de obtenção de resultados
na qualidade do serviço. A finalidade dos indicadores é analisar as condições do serviço
e compará-las com os padrões estabelecidos, contribuindo para a busca de excelência.
Um indicador é um dado que gera informações sobre assuntos que merecem atenção e
que possibilita a mudança de comportamentos de modo a atingir os objetivos propostos.
As administrações hospitalares devem adotar indicadores de qualidade para avaliar a
qualidade dos cuidados aí prestados. Alguns desses indicadores são: rotatividade dos
funcionários, absentismo, taxa de ocupação hospitalar, tempo médio de internamento,
índice de satisfação do utente, entre outros.
O Serviço Nacional de Saúde Português é um dos melhores do mundo, de acordo com
um estudo do Boston Consulting Group (BCG). Contudo, existem ineficiências de que o
BCG faz recomendações, uma das quais passa pela alteração do modo de financiamento
hospitalar através de modelos orientados a resultados (Simões, 2015). Os indicadores
produzidos pela integração dos SI têm aqui um papel fundamental. A literatura evidencia
que a maioria dos indicadores utilizados para avaliar os cuidados de enfermagem está
associada à estrutura e ao processo (Caldana et al., 2013), ou seja, ao que se relaciona
com os cuidados diretos ao utente (Almeida & Fontes, 2013). Torna-se importante que
os enfermeiros aprofundem seus conhecimentos sobre os SIE (Pinto, 2009). As revisões
sistemáticas de literatura na área podem ser o elo de ligação entre a pesquisa sobre SI e
a prática clínica, no sentido de conhecer a perspetiva dos mesmos como indicadores de
qualidade dos cuidados.
2. Referencial Metodológico
Com base nas características da problemática referida, os principais objetivos do
presente trabalho são: 1) identificar vantagens e desvantagens dos SIS, em particular
na enfermagem, para a qualidade dos cuidados e 2) avaliar se tais sistemas podem
ser indicadores de qualidade. A investigação realizada enquadra-se no domínio da
metodologia de revisão sistemática da literatura. Existem duas categorias de revisão:
as revisões narrativas e as revisões sistemáticas, tendo características e objetivos
diferentes. As revisões narrativas são apropriadas para descrever a história ou
desenvolvimento de um problema, bem como para discutir o assunto do ponto de vista
teórico. Não informam a metodologia de busca, nem critérios utilizados para a seleção
dos artigos. A revisão sistemática é uma atividade fundamental para a prática baseada
na evidência, pois condensa o conhecimento fracionado num único estudo, permitindo
ao investigador uma cobertura mais ampla do que obteria com a realização de um estudo
clínico (Pocinho, 2008).
O método de revisão sistemática da literatura é uma metodologia rigorosa, proposta para
identificar os estudos sobre um tema em questão, aplicando critérios explícitos de busca
(Sampaio & Mancini, 2007; Gomes & Caminha, 2014). O investigador utiliza uma metodologia
clara e bem definida, planeada para responder a uma pergunta específica usando métodos
para identificar, selecionar, avaliar criticamente e analisar os dados. Pode estar ancorada
em pesquisas qualitativas ou quantitativas, dependendo do objetivo de estudo. Uma revisão
sistemática deve estar ancorada nos princípios metodológicos de uma revisão da literatura
com base nas orientações da Colaboração Cochrane3. Esta estabelece sete passos para a
realização de uma revisão sistemática: 1) formulação da pergunta, 2) localização e seleção
dos estudos, 3) avaliação crítica dos estudos, 4) recolha de dados, 5) análise e apresentação
dos dados, 6) interpretação e 7) atualização da revisão (Pocinho, 2008):
1. Formulação da pergunta: o primeiro passo a ser dado no início de qualquer estudo é estabelecer o que se deseja pesquisar. Questões mal formuladas podem
conduzir a decisões obscuras sobre o que incluir na revisão.
2. Localização e seleção dos estudos em bases de dados: esta etapa realiza-se em bases de dados eletrónicas, revistas, livros. É necessário selecionar as bases
eletrónicas adequadas à temática da saúde.
3. Avaliação crítica dos estudos: durante a seleção dos estudos, a avaliação dos títulos e dos resumos identificados na busca inicial deve obedecer aos critérios
de inclusão e exclusão definidos no protocolo de pesquisa. Os critérios de inclusão e exclusão são definidos com base na pergunta a investigar.
4. Recolha de dados: etapa na qual é recolhido um conjunto de informações sobre cada estudo selecionado; feita depois da identificação e seleção dos estudos. A
sistematização é importante para evitar enviesamentos. A qualidade da revisão sistemática depende da validade dos estudos incluídos nela.
<Nota/>3 Organização criada para responder à necessidade de organizar de forma sistemática os
resultados de investigação em saúde, de modo a facilitar a tomada de decisões médicas e ajudar a
compreender em que campo é necessária mais investigação.
5. Análise e apresentação dos dados: com base nas semelhanças entre artigos, os dados são agrupados para a obtenção de conclusões. Cada um destes
agrupamentos deve ser pré-estabelecido, evitando a tendenciosidade. Os artigos incluídos podem ser apresentados numa tabela que destaque suas características
principais como: autores, ano de publicação, metodologia, variáveis dependentes e principais resultados.
6. Interpretação dos dados: a interpretação de resultados deve ser feita levando em conta a questão em estudo (estabelecida no primeiro passo).
7. Atualização da revisão: manter a revisão sistemática atualizada de acordo com novas pesquisas que surgem sobre o tema.
A secção seguinte aplica cada um dos passos anteriores de realização de uma revisão
sistemática, sobre a questão e objetivos propostos, segundo as orientações da abordagem
Cochrane. Também foram consideradas as orientações da abordagem PRISMA4 (Moher
et al., 2009) que refere a importância dos termos de pesquisa, da sistematização dos
critérios de inclusão/exclusão, da tabela de artigos selecionados e da frequência de
expressões (Prisma checklist). Seguir as abordagens de referência permite melhorar a
qualidade e rigor das revisões sistemáticas e meta-análises. É de realçar que a meta-análise é o método estatístico utilizado na revisão sistemática para integrar os resultados
dos estudos incluídos (Castro, 2001).
3. Investigação Realizada
3.1. Questão de Investigação
A primeira decisão ao preparar uma revisão sistemática da literatura é determinar o
seu enfoque. Muitas vezes os enfermeiros deparam-se com situações para as quais não
possuem conhecimentos suficientes para a prestação de cuidados. Assim, a formulação
de questões bem estruturadas permite diminuir incertezas relacionadas com a atividade.
Esta etapa é muito importante visto que guia todo o processo metodológico. A questão
que queremos explorar está relacionada com os seguintes aspetos complementares: 1)
identificar vantagens e obstáculos aos SI para a qualidade dos cuidados de enfermagem,
e 2) avaliar como os SI contribuem como indicador de qualidade dos cuidados prestados.
A revisão sistemática será conduzida no sentido de discernir até que ponto se discute esta
problemática e se abordam os SIE com base nos resultados, isto é, na sua capacidade de
produzirem indicadores para a qualidade dos cuidados e serviços.
3.2. Descritores
Tendo em conta a questão atrás proposta, a pesquisa de publicações nas bases de dados
foi realizada de acordo com os seguintes descritores: “sistemas de informação em saúde”;
“sistemas de informação em enfermagem”; “qualidade dos cuidados de enfermagem”;
“indicadores de qualidade dos cuidados” (e sinónimos em inglês e espanhol). Por sua
vez, o operador booleano ‘AND’ permite encontrar artigos que reúnam duas ou mais
ideias. Isto significa que ambos os termos deverão surgir algures no artigo.
<Nota/>4 Conjunto mínimo baseado em provas de itens para realizar revisões sistemáticas e meta-análises. Pode ser usado como base para realizar revisões sistemáticas de investigação sobre
intervenções na saúde (estudos de diagnóstico, estudos de observação, etc.).
3.3. Critérios de Inclusão e Exclusão
O que distingue uma revisão sistemática de uma narrativa é a especificação de critérios,
sendo importante a delimitação dos mesmos no início da revisão. Foram considerados
os seguintes critérios de inclusão:
••Artigos publicados em português, espanhol ou inglês no período de 2009 a 20135.
••Todas as categorias de artigo.
••Artigos com resumo e texto completos.
••Artigos contendo nos seus títulos ou resumos os descritores supra mencionados.
••Artigos dirigidos a profissionais de saúde.
Quanto aos critérios de exclusão, foram excluídos do estudo: os artigos dirigidos a
outros profissionais (educadores de infância, etc.); artigos que fazem apenas uma breve
descrição dos SI (definição, funcionalidade, software); e artigos que, após leitura do
texto, não referem vantagens/desvantagens dos SI nem mencionam indicadores de
qualidade em saúde.
3.4. Pesquisa Eletrónica
As revisões sistemáticas de literatura requerem uma pesquisa ampla e objetiva de
modo a identificar o maior número de estudos. A identificação e seleção dos estudos
respeitaram as recomendações estabelecidas pelas abordagens Cochrane e PRISMA
(Moher et al., 2009). A recolha de dados decorreu entre Março e Agosto de 2013. A
pesquisa foi efetuada nas plataformas SCIELO e EBSCO (bases de dados CINHAL e
MEDLINE). A primeira plataforma foi acedida através do portal da Biblioteca Virtual de
Saúde e a segunda através da Ordem dos Enfermeiros.
4. Seleção de Artigos
A seleção dos artigos baseia-se em critérios previamente estabelecidos, consistindo
em duas fases: 1) leitura do título e resumo (abstract) dos artigos encontrados (nesta
fase efetua-se uma pré-seleção de artigos potencialmente importantes para a revisão);
e 2) leitura integral dos estudos selecionados. Decidir sobre os artigos que devem ser
incluídos na revisão está refletido na sequência da figura 1.
Após a seleção final dos 18 artigos, foi efetuada uma nova leitura para a recolha das
expressões ou palavras mais frequentes (tabela 1) tendo por base os objetivos do
presente trabalho. Os dados foram assim organizados com base em duas categorias,
para depois se proceder à análise dos mesmos: sistemas de informação para a qualidade
dos cuidados em enfermagem; e sistemas de informação como indicador de qualidade
dos cuidados/serviços.
<Nota/>5 Este período tem a ver com o prazo de um projeto em que este trabalho se insere.
Figura 1 – Seleção dos Artigos Relevantes
Questão de investigação
Expressões ou palavras
Frequência
objetivos dos SI em enfermagem
rapidez de acesso
disponibilidade
facilidade de acesso
clareza
vantagens e desvantagens dos SIE
otimização do espaço físico
tomada de decisão
comunicação entre profissionais
poucos conhecimentos de TI
sistema sujeito a falhas
sistema inoperante
qualidade dos cuidados de
enfermagem
avaliação dos cuidados de enfermagem
qualidade dos registos
podem ser auditados
pouco tempo para o cuidado direto
processos individualizados
personalização do cuidado
Tabela 1 – Frequência e seleção de expressões/palavras
Posteriormente procedeu-se a uma leitura minuciosa de cada artigo e agruparam-se os
mesmos por similaridade de conteúdo. Os documentos utilizados neste estudo são de
caráter público e de livre acesso. A tabela 2 agrupa os aspetos realçados pela revisão e
análise de conteúdo, separando-os por níveis: 1) gestão/operação; 2) avaliação/auditoria
ou 3) indicadores/decisão. Podemos constatar que são em maior número os artigos sobre
o papel e relevância dos SIS/SIE para a gestão eficiente dos cuidados. Seguem-se, em
menor número, os trabalhos que estudam os SIS/SIE numa perspetiva mais analítica,
em termos de avaliação de resultados e contributo dos registos eletrónicos (melhor
diagnóstico/qualidade do cuidado). E ainda em menor número estão os estudos sobre o
contributo dos SIS/SIE em delinear indicadores para a tomada de decisão (estratégias
de informação e desempenho em saúde). Esta tabela sugere assim uma importância
crescente dos SIS/SIE como indicadores de qualidade dos cuidados prestados em saúde
e enfermagem. Ressalta-se o facto de que vários dos artigos em revisão, nos três níveis
indicados, referem-se a Portugal refletindo também a importância desta vertente
‘Nível’ abordado
Aspetos focados (relacionados com a presente investigação)
gestão/operação (8 artigos)
os SI disponibilizam de forma rápida e segura as informações necessárias aos profissionais de saúde. Todas as áreas que venham a trabalhar com a
saúde podem usufruir dessas informações. São ferramentas que garantem constante atualização, fácil acesso e planeamento dos processos de
enfermagem. Aumentam a eficiência dos serviços (informações em tempo útil). Um obstáculo é o financiamento para promover o desenvolvimento
e implementação de SI. E ainda há algumas resistências à adesão e utilização de SI
avaliação/auditoria/registo paciente (6 artigos)
os registos eletrónicos permitem agilizar dados de modo a fazer diagnósticos e avaliar as intervenções. Permitem ainda avaliar a
produtividade e qualidade do cuidado prestado. Os registos eletrónicos promovem a continuidade do cuidado, pois os dados estão disponíveis
em tempo real. A auditoria permite detetar problemas nos registos de enfermagem, por meio de relatórios de avaliação, orientando a equipa a
melhorar registos
indicadores/decisão (4 artigos)
um sistema informatizado de indicadores de enfermagem permite armazenar dados pertinentes no processo de enfermagem e
disponibiliza-los para avaliação de resultados. Daí os enfermeiros têm a responsabilidade de gerir o seu serviço por resultados. Os indicadores
permitem avaliar, planear e organizar as atividades, fornecendo informação para a tomada de decisão
Tabela 2 – Níveis abordados nos artigos objeto de análise de conteúdo
5. Análise e Discussão
5.1. Sistemas de Informação para a Qualidade dos Cuidados de Enfermagem
Ao analisar os estudos inseridos nesta categoria, verificou-se que os SI são uma
ferramenta de apoio à gestão e eficiência das atividades. Os SI promovem a qualidade
dos cuidados, pela atualização da informação nos serviços e na gestão dos recursos.
Trazem vantagens ao nível da qualidade da informação (qualidade dos registos) e dos
processos (cumprimento das etapas de enfermagem). Os enfermeiros consideraram
que os SIE são importantes para um bom desempenho diário. O impacto da formação
especializada na aceitação dos SIE é relevante: um maior grau de formação sobre a
CIPE incentiva os enfermeiros a aceitar os SI. Outro fator que favorece essa aceitação é
envolver ativamente os profissionais nos processos de mudança.
O uso de SI permite aceder ao processo eletrónico do doente, elaborar diagnósticos
e criar intervenções com base nos mesmos. Tais sistemas diminuem a ocorrência de
erros, salvaguardando a segurança do utente de saúde. Os enfermeiros referem que as
informações estão disponíveis de forma mais ampla e ágil para tomada de decisão e
cuidado personalizado. Assim, os SIE promovem a personalização do atendimento e
a eficácia do cuidado. Diminuem o tempo gasto a recolher informação e melhoram a
comunicação entre os elementos da equipa. Assim, os SIS/SIE permitem integrar uma
‘base de conhecimento’ a partir dos dados registados no processo do doente. Fornecem
informações em tempo real que permitem prestar o cuidado atempado.
Os registos de enfermagem constituem uma fonte de investigação e documentação legal
pois permitem avaliar os cuidados prestados. Um défice de registos dificulta o exercício
da profissão e a auditoria de enfermagem para avaliação da qualidade dos cuidados. Os
SI têm um importante papel em reduzir as disparidades no sistema de saúde. Contudo,
existem limitações à sua implementação tais como pouca familiaridade dos enfermeiros
com tecnologias e com eventuais falhas nos sistemas. O sucesso de implementação dos
SI depende do envolvimento ativo dos profissionais de saúde. E os enfermeiros devem
primar pela qualidade dos registos que efetuam (Sousa et al., 2012).
5.2. Sistemas de Informação como Indicador de Qualidade dos Cuidados
A aplicação de indicadores de qualidade para avaliar a prestação de cuidados de
enfermagem envolve aspetos relacionados com as atividades desenvolvidas entre
enfermeiros e utentes. Nos estudos analisados nesta categoria, foi possível verificar que
os bons registos eletrónicos contribuem para a continuidade do cuidado e segurança
do utente. Podem assim funcionar como indicadores de qualidade, pela avaliação dos
cuidados de forma sistemática. Nesse sentido, ajudam a priorizar casos e alertam para
aspetos que podem passar despercebidos (criação de sistemas de alerta, indicação de
situações críticas).
A qualidade dos cuidados pode ser avaliada por indicadores de ordem técnica,
ambiental, relacional e ética. Ao nível institucional, o uso de indicadores reflete maior
reconhecimento, respeito profissional, equipas melhor informadas, menor tempo de
internamento, melhor gestão dos recursos materiais, aumento da satisfação do utente e
família. Isso contribui para diminuir os custos da instituição e do SNS. Os indicadores
são instrumentos que funcionam como uma medida que pode ser usada como guia para
monitorizar a qualidade dos cuidados e serviços prestados. Sinalizam divergências e
atuam como alerta para aspetos que necessitam ser mudados (Vituri & Matsuda, 2009).
A melhoria da qualidade é um processo amplo, dinâmico e requer do profissional de
enfermagem conhecimentos baseados na evidência. O controlo da qualidade pode ser
alicerçado nos indicadores e está relacionado com o desempenho das pessoas, satisfação
do cliente e cultura organizacional. A monitorização de indicadores necessita do SIE,
pois a enfermagem possui um complexo conjunto de dados relativos à sua atividade.
Para avaliar bem os resultados dos cuidados de enfermagem é necessário fazer registos
fidedignos que traduzam a realidade dos cuidados prestados pela equipa. É com base
nisto que é fulcral padronizar um conjunto mínimo de dados para que os registos de
enfermagem possuam sequência lógica, descrevam a situação clínica do utente e
demonstrem as intervenções efetuadas para atender às suas necessidades reais.
6. Conclusão
O controlo de qualidade e desempenho constitui uma das maiores preocupações de um
sistema de saúde. Os estudos analisados evidenciam a relevância dos SI como um suporte
às práticas de enfermagem. Disponibilizam informações de forma fácil e segura, sendo
uma ferramenta de apoio à gestão. Promovem a personalização do cuidado e repensam
os cuidados prestados. Os estudos aqui comparados referem que as organizações de
saúde onde existem SIE promovem a qualidade e continuidade dos cuidados (Cunha et
al., 2010). A maioria dos artigos revistos evidenciam que os SIE permitem uma constante
atualização do processo do utente, fomentando a personalização do cuidado, o acesso de
outros profissionais e redução do risco de acessos não autorizados (Lima et al., 2011).
Atualmente os SIS constituem uma fonte indispensável de suporte à decisão e prática
clínica, contribuindo para aumentar o conhecimento, segurança e eficiência do processo
de saúde (Pinto, 2009; Mota, 2010; Guedes, 2011). Isso depende da qualidade com que
os dados são produzidos e partilhados no SI. A avaliação da qualidade dos cuidados
passa indiscutivelmente pela qualidade dos registos (Azevedo, 2010). Uma lenta ou
insuficiente atualização dos SIE e a possibilidade de ficarem inoperantes contribuem
para uma atitude menos favorável à sua utilização. A qualidade dos cuidados pode ser
auditada através dos registos efetuados. Por isso, os enfermeiros devem primar por
registos completos e detalhados, essenciais para a prática baseada na evidência (Santos
& Rennó, 2013).
Os SIE permitem um acesso mais produtivo a indicadores de enfermagem (Labbadia et al.,
2011). No entanto, a revisão feita permite constatar que ainda existe um longo caminho a
percorrer pois a enfermagem tem um grande desafio que é a falta de enfermeiros plenamente
envolvidos com os SIE. Outra dificuldade, apontada pelo BCG, é a falta de modelos de atuação
orientados por resultados (Simões, 2015). Estas dificuldades podem estar relacionadas
com alguma falta de integração ou incompatibilidade existente entre vários SI em saúde e
enfermagem (Mota, 2010). Da revisão feita, destacamos assim duas importantes vertentes
dos SIS/SIE: 1) permitem integrar uma ‘base de conhecimento’ a partir dos registos do
processo do doente; e 2) têm um papel relevante na produção e atualização de indicadores de
desempenho para a qualidade dos cuidados. A participação e envolvimento dos enfermeiros
deve ser incentivada, pois é um dos principais grupos de atores da saúde, de forma a incutir
a responsabilidade e potencial da correta utilização dos SIE.