Determinação de forças actuantes em quebra-mares verticais e mistos
1. Introdução
A importância económica dos portos e o custo total das estruturas marítimas
levam a que o projecto das mesmas seja exigente, devendo apoiar-se em
ferramentas adequadas que permitam garantir, com segurança e economia, um
comportamento adequado aos fins em vista.
Uma parte importante do dimensionamento de uma obra marítima é a determinação
da resultante das forças actuantes e, relacionadas com estas, as deformações,
as tensões e as condições de estabilidade das diferentes partes da estrutura. O
estudo da estabilidade das estruturas pode ser dividido em dois grandes grupos:
* estudo da estabilidade dos elementos monolíticos (quebra-mares verticais,
mistos e superestruturas de quebra-mares de talude), cuja estabilidade
depende essencialmente da desaceleração da massa de água contra a estrutura;
* estudo da estabilidade de estruturas com mantos (ou banquetas, taludes, etc.)
compostos por blocos e cuja estabilidade depende essencialmente das
velocidades de refluxo da massa de água depois do impacto contra a estrutura.
Neste caso, o estudo da estabilidade dos mantos não se faz através do estudo
de cada elemento individualmente, mas sim do manto como um todo,
estabelecendo-se níveis aceitáveis de dano que normalmente são função do
número de blocos do manto que se movem ou caem.
Este artigo centra-se na resposta estrutural de quebra-mares verticais e mistos
aos esforços gerados pela agitação que os solicita.
A interacção da agitação, alterada pela presença da própria estrutura, com a
estrutura gera esforços a que esta deve resistir, pelo menos durante a sua vida
útil. A informação que existe na literatura sobre resultantes de forças
actuantes em quebra-mares verticais e mistos não é extensa. São também poucos
os estudos que analisam de forma aprofundada as limitações das fórmulas
existentes para o cálculo de forças em estruturas monolíticas, embora estas
fórmulas sejam a ferramenta mais utilizada pelos projectistas na fase de estudo
prévio. A modelação física é outra ferramenta disponível para apoio ao projecto
deste tipo de estruturas, muito utilizada na fase de projecto de execução, para
verificação do pré-dimensionamento, já que permite reproduzir a maioria dos
fenómenos físicos.
Neste artigo, após uma breve descrição do regime de forças a que a estrutura
pode estar sujeita, apresentam-se de forma resumida os métodos mais utilizados
para o cálculo das forças em quebra-mares verticais e mistos: as fórmulas
empíricas e semi-empíricas e a modelação física. Para o caso de quebra-mares
verticais, apresenta-se uma apreciação das fórmulas para o cálculo de forças
com base em dados medidos em protótipo. O artigo termina com algumas
considerações gerais e recomendações para melhorar a estimação de forças em
quebra-mares verticais com base na aplicação de fórmulas.
2. Regimes de forças
As forças que actuam sobre uma estrutura marítima podem ser classificadas em
dois grupos:
* Hidrostáticas, resultantes da pressão que o fluido em repouso exerce sobre a
estrutura, já que a estrutura se encontra total ou parcialmente submersa;
* Hidrodinâmicas, resultantes das variações de velocidade da massa de água
associada à agitação.
Existem outros tipos de forças que também solicitam a estrutura, mas que saem
fora do âmbito deste trabalho, que são as forças devidas à acção do vento, de
impactos de navios, sismos, tsunamis, etc.
A força hidrostática horizontal, Fh, resultante das pressões hidrostáticas, que
actua sobre uma estrutura que se encontra parcialmente submersa a uma
profundidade h é constante e dada por:
em que ρ é a massa volúmica do fluido, g a aceleração da gravidade e resulta da
distribuição de pressões, P(z), que um fluido em repouso exerce sobre os
contornos de uma estrutura, dada por:
onde z é a coordenada vertical, sendo zero no nível da água em repouso e
positiva no sentido ascendente.
As forças hidrodinâmicas dependem das características:
* do meio fluido, neste caso, da água (massa volúmica, ρ, viscosidade dinâmica,
µ e temperatura, T),
* da agitação marítima (altura de onda, H, período, T, ou o respectivo
comprimento de onda, L, à profundidade da água, h) e
* da obra (de uma dimensão característica, D, por exemplo, a dimensão
horizontal frontal da estrutura, e da frequência própria de oscilação da
obra).
As formulações a utilizar para o cálculo de forças dependem do regime de forças
a que a estrutura está sujeita. Na R.O.M.1.1, definem-se quatro regimes de
forças em função do perfil da onda quando esta alcança a estrutura com
incidência normal:
1. Regime estacionário: a obra está submetida à acção de uma onda
estacionária resultante da interacção da onda incidente com a reflectida.
O coeficiente de reflexão é aproximadamente igual à unidade e não ocorre
rebentação nem galgamento, portanto a dissipação e a transmissão são
desprezáveis. Neste caso a onda apresenta um ventre na parede (reflexão
total) e a distribuição de pressões varia em fase com o aumento da cota da
superfície livre na estrutura e que pode ser calculada a partir da teoria
de ondas que seja representativa da declividade, H/L, e da profundidade
relativa, h/L em causa.
2. Regime parcialmente estacionário: a onda está quase a rebentar e apresenta
uma frente plana e ligeiramente inclinada sobre a estrutura. A onda sobe
sobre a estrutura rapidamente, transformando o seu campo de velocidades,
exactamente antes de alcançar a estrutura, de uma direcção horizontal para
uma direcção vertical. É precisamente após o impacto que se geram os picos
de pressão de muito curta duração. A resultante das forças actuantes sobre
as estruturas que se encontram neste regime pode ser calculada mediante a
aplicação de teorias ou modelos que tenham em conta tanto o efeito da
rebentação sem impacto como o da reflexão. Há algumas aproximações semi-
empíricas que dão bons resultados para estas condições (por exemplo, Goda,
1974 ou Nagai, 1973); no entanto, é recomendável verificar a distribuição
de pressões por via experimental.
3. Regime com ocorrência de rebentação e impacto: a rebentação da onda sobre
a estrutura é a principal contribuição para a resultante das forças que
actua sobre ela. A onda alcança a estrutura durante o processo de
rebentação e o impacto dá-se com ar aprisionado entre a coluna de água e a
estrutura. Neste caso ocorre um primeiro pico de pressão de duração muito
curta seguido de uma forte oscilação com uma frequência muito elevada
(Peregrine, 2003). Existem modelos analíticos e numéricos que dão uma boa
aproximação da distribuição de pressões neste regime.
4. Regime de onda após a rebentação: As ondas alcançam a estrutura já
rebentadas, quer por efeito do fundo quer pela interacção da onda
incidente com a onda reflectida na obra, comportando-se como uma massa de
água turbulenta. Algumas aproximações semi-empíricas dão bons resultados
para estas condições; no entanto, é recomendável verificar a distribuição
de pressões por via experimental.
Entre estes regimes de forças encontram-se outros que incluem os modos de onda
em rebentação sem impacto e os modos de onda parcialmente estacionária.
Kortenhaus & Oumeraci (1998), com base em ensaios bidimensionais com
agitação irregular, propuseram o esquema que se apresenta na Figura_1 para
identificar as diferentes distribuições da resultante adimensional das forças
horizontais em função do tempo ao longo de um período de onda em estruturas
monolíticas. Como se pode observar, os regimes propostos por estes autores são
semelhantes aos descritos anteriormente, embora não incluam o regime
estacionário e incluam um regime com rebentação incipiente da onda ("slightly
breaking wave").
Em 1970, Nagai apresentou um gráfico (Losada et al., 1995), onde define as
regiões correspondentes a diferentes domínios dos perfis de pressões em função
da declividade da onda (H/L) e da profundidade relativa (h/L), Figura_2, e a
respectiva variação de pressões no tempo. As ondas na região sob a linha E
correspondem ao comportamento linear da distribuição de pressões, o que
corresponde ao regime estacionário.
Entre as linhas E e E começa a aparecer uma segunda harmónica que se faz sentir
inicialmente no fundo, (Figura_2a)e que, na linha E, já se faz sentir em toda a
coluna de água, (Figura_2b),correspondente ao regime quase estacionário.
Entre E e a linha que define a rebentação, os dois picos de pressão tornam-se
assimétricos, ficando o primeiro pico mais curto e mais alto, (Figura_2c)
Quando a onda rebenta na estrutura, dá-se um forte aumento do primeiro pico de
pressão, correspondendo ao regime em rebentação com impacto, (Figura_2d).
No caso de as ondas atingirem a estrutura após a rebentação, regime de onda
rebentada, ainda se observa o duplo pico de pressão, (Figura_2e), com uma
duração e intensidade que é função da distância entre o ponto de rebentação e a
estrutura.
Estes quatro regimes têm elementos comuns: em todos eles ocorrem dois picos de
pressão e a pressão máxima ocorre na proximidade do nível médio, onde o produto
da massa pela velocidade atinge o máximo e se transmite uma maior quantidade de
energia da agitação para a estrutura. O primeiro pico deve-se à desaceleração
da massa de água quando esta atinge a estrutura e passa de um movimento
essencialmente horizontal para um vertical, com a subida da massa de água na
face vertical da estrutura até atingir uma cota máxima. Quando esta massa de
água começa a descer, inicia-se uma acumulação de água em frente à estrutura
que dá lugar ao segundo pico de pressão. A relação entre os valores dos dois
picos de pressão difere consoante o regime de impacto, podendo ir desde valores
da ordem da unidade para o regime estático até valores muito superiores a este
para o regime em rebentação com impacto.
3. Modos de ruína e critérios de estabilidade
Considerando que a fundação (ou o manto onde a estrutura assenta) é estável e
não se altera devido à transmissão de esforços da estrutura quando sujeita à
acção da agitação, ou seja, não se considerando a ruína devida a assentamentos
ou outros aspectos relacionados com aspectos geotécnicas, os modos de ruína de
uma estrutura monolítica reduzem-se aos possíveis movimentos de deslizamento e
derrubamento.
Para analisar a estabilidade ao deslizamento e ao derrubamento, pode-se
considerar o equilíbrio estático do sistema, supondo que a acção é constante.
Assim, consideram-se diversas hipóteses simplificativas:
* As forças máximas instantâneas que actuam na estrutura são constantes no
tempo;
* O sistema estrutura-fundação é considerado rígido até ao momento anterior em
que se produz a ruína por deslizamento ou derrubamento, ou seja, não há
acumulação de dano mas somente ruína instantânea.
Normalmente, este método aplica-se considerando como caso mais gravoso aquele
em que a estrutura é infinita (isto é, considerando-se desprezável o efeito dos
contornos da estrutura), e a incidência é normal à estrutura. No âmbito do
projecto PROVERBS, admite-se que se pode utilizar este critério no caso de
todos os regimes de forças excepto naquele em que ocorre a rebentação directa
da onda (Oumeraci et al., 2001).
Considera-se aqui que as forças sobre uma estrutura vertical ou mista tem uma
componente hidrostática que actua dos dois lados da estrutura e na sua base, e
uma componente hidrodinâmica, resultante da acção da onda, ver Figura_3, que
actua apenas na base e a barlamar da estrutura, ou seja, considera-se que a
sotamar a componente hidrodinâmica é desprezável, se não ocorrer galgamento.
Uma vez calculadas as forças horizontais e de subpressão, estabelecem-se
coeficientes de segurança ao deslizamento, CSD, e derrubamento, CSV, que
relacionam os esforços favoráveis e desfavoráveis à estabilidade da estrutura.
Para que o sistema se considere estável, os coeficientes devem ser sempre
superiores a 1, embora usualmente se considerem valores entre 1,2 e 1,4.
O coeficiente µ é o coeficiente de atrito entre a estrutura e a base. Nagai
(1973), baseado em resultados de modelo físico e na experiência adquirida em
protótipo para quebra-mares mistos, sugere valores de µ entre 0,65 e 0,70 no
caso de haver deslocamento de blocos do manto em tempestades durante os
primeiros anos da obra, aumentando para valores entre 0,7 e 0,9 se o
deslocamento ocorrer passados mais de dois anos do final da construção da obra
e entre 0,80 e 0,90 no caso de não haver deslocamento de blocos do manto nos
primeiros anos da obra. Este autor sugere ainda o valor de 0,60 como valor a
utilizar em projecto e que está do lado da segurança. No cálculo de CSV, M
representa o momento associado a cada uma das forças e o peso representa o peso
total emerso.
O equilíbrio de forças que se apresentou é válido para agitação com incidência
normal à estrutura, onde as forças estão em fase ao longo de toda a estrutura.
Para o caso de agitação com incidência oblíqua, como é o caso da cabeça dos
molhes, o estudo deve ser feito considerando os efeitos tridimensionais, que aí
são especialmente relevantes.
Também se considerou, no equilíbrio estático, que as forças são constantes no
tempo. No caso de forças de impacto, isto é, grandes forças de curta duração,
este equilíbrio é demasiado rigoroso, já que o efeito destas forças é pequeno.
O equilíbrio dinâmico tem em conta a sucessão de respostas às acções que a
estrutura sofre. Esta resposta pode ser do tipo elástica, que corresponde a
movimentos oscilatórios de balanceamento, ou do tipo plástica, que corresponde
a movimentos permanentes de deslizamento e derrubamento. A sucessão de
respostas leva à degradação do sistema estrutura-fundação e propicía a ruína
progressiva da estrutura que, a longo prazo, pode levar à sua ruína total.
Para tratar o equilíbrio dinâmico do sistema não existe um único método, mas
diferentes aproximações, cada uma com as suas simplificações: considerar a
força estática mas a resposta da fundação elástica, ou a força dinâmica com
resposta elástica ou elasto-plástica da fundação. O método desenvolvido por
Korthenhaus e Oumeraci e compilado no projecto PROVERBS (Oumeraci et al., 2001)
considera uma aproximação estática para o projecto, ou seja, uma força estática
cuja resposta é equivalente à da força dinâmica que esta sofre e cujo valor
está relacionado com o da força dinâmica através de um parâmetro denominado
"factor de força dinâmica", que depende da duração da aplicação da força.
4. Determinação de fontes actuantes
4.1. Fórmulas empíricas e semi-empíricas
Para o cálculo das forças em quebra-mares verticais e mistos, o método mais
utilizado em projecto são as fórmulas empíricas ou semi-empíricas. Estas
fórmulas têm como grande vantagem a facilidade de utilização e são o elemento
mais utilizado na fase de estudo prévio de uma obra marítima. A sua principal
desvantagem deve-se a que a aplicação directa destas fórmulas está limitada a
estruturas de geometrias simples e a condições específicas de agitação e níveis
para que foram desenvolvidas. Outra limitação é o facto de todos os métodos
considerarem a estrutura como infinita e impermeável, não contemplando
possíveis efeitos que possam modificar as características da agitação que
incide sobre a estrutura, tais como a difracção na cabeça do molhe. Por serem
baseadas em ensaios em modelo reduzido, podem ainda estar afectadas por erros
devidos a efeitos de escala tais como os que resultam da não correta
consideração da porosidade do manto (Pérez-Romero et al., 2009).
Estas fórmulas apresentam algumas características comuns no cálculo das
pressões dinâmicas (ou das respectivas forças). Para quebra-mares verticais e
mistos (regimes estacionário, quasi-estacionário ou impulsivo), as forças
horizontais hidrodinâmicas (Figura_4), são calculadas considerando-se que:
* A pressão máxima, P1
- ocorre no nível de água em repouso (NMM) ou na o sua proximidade;
- é proporcional a o ρgHD, em que HD é a altura de onda no pé da estrutura,
ou seja, considerando o efeito da reflexão;
* A pressão diminui entre p1(z=0) e
- P3(z=-h) seguindo uma função de co-seno hiperbólico ou linear, no caso da
estrutura se encontrar em águas pouco profundas;
- P4(z=ηmax)=0, assumindo uma distribuição hidrostática de pressões.
Quanto às subpressões hidrodinâmicas, considera-se nas formulações que:
* a barlamar a pressão é igual à pressão horizontal obtida na base da estrutura
(Pu=p3);
* a sotamar (onde se considera que a água está em repouso), a pressão
hidrodinâmica é nula;
* a distribuição de pressões entre barlamar e sotamar é triangular.
Quanto aos fenómenos que podem alterar as forças na estrutura:
* a reflexão é considerada indirectamente quer no valor de HD quer no de ηmax;
* o galgamento, embora reduza as forças na estrutura, só é considerado através
da redução do nível máximo ηmax;
* a rebentação é considerada através de um aumento da pressão apenas na
proximidade do nível médio;
* a dissipação através de meios porosos que possam existir na base ou a
barlamar da estrutura não é considerada;
* a obliquidade da agitação é considerada em algumas formulações através da
alteração da altura de onda, considerando que as forças são apenas função da
componente da altura de onda perpendicular à estrutura.
* Assim, a resultante das forças hidrodinâmicas horizontais, Fh, e verticais,
Fv, é dada por:
onde Rc*=min(ηmax,hc) e B é a largura da estrutura. No caso de se considerar
que a distribuição de pressões é linear entre z=0 e z=-h, Fh é dada por:
Os correspondentes momentos vêm dados por:
Da mesma forma, no caso de se considerar que a distribuição de pressões é
linear entre a superfície (z=0) e o fundo (z=-h), Mh é dada por:
O domínio de aplicação de cada fórmula está relacionado com o regime de forças
e com os seus limites de aplicabilidade. Na Tabela_1 apresenta-se um resumo de
algumas das fórmulas ou formulações mais importantes ou mais utilizadas para
quebra-mares verticais e mistos.
Um dos aspectos importantes a definir aquando da aplicação das fórmulas é quais
os parâmetros de agitação a utilizar como representativos de um estado de mar,
já que muitas das formulações foram desenvolvidas para agitação regular. Na
Tabela_2 resumem-se os parâmetros a utilizar e os autores que os sugerem. O
ângulo θ representa o ângulo que a direcção de propagação da onda faz com a
perpendicular à estrutura, sendo por isso 0º no caso de agitação normal à
estrutura. H e T representam a altura de onda e o respectivo período, ηmax a
cota máxima de água alcançada pela onda e L o comprimento de onda. Hmax e Hs
representam as alturas de onda máxima e significativa, respectivamente, e H1/10
e H1/3 a média das alturas do décimo e do terço das ondas mais elevadas de um
registo, respectivamente e T1/3 e T1/10 a média do décimo e do terço dos
períodos das ondas mais elevadas de um registo, respectivamente.
O cálculo da resultante das forças impulsivas devidas à rebentação, assim como
a duração do impulso, são dos valores mais difíceis de quantificar e o próprio
processo em si ainda não é totalmente conhecido em profundidade. Não existe
actualmente uma metodologia fiável para o projecto de obras sujeitas a forças
impulsivas e os manuais sugerem que se evitem estruturas que estejam sujeitas a
este tipo de forças. Assim, para o seu cálculo utiliza-se frequentemente o
método de Goda modificado por Takahashi para ter em conta as forças impulsivas,
pese embora as suas limitações e a importância que este tipo de forças
impulsivas pode ter quer na estabilidade da estrutura quer, quando existe
banqueta de fundação, na estabilidade do manto de enrocamento da banqueta
(Cooker & Peregrine, 1992). Estas fórmulas, à semelhança da fórmula de
Minikin, multiplicam a pressão máxima por uma constante para ter em conta o
aumento de pressão devida à rebentação, ou seja, a rebentação é considerada
apenas através de uma alteração do perfil (aumento da pressão) na proximidade
do nível médio da água.
No âmbito do projecto PROVERBS, com base em dados de ensaios e de campo, foi
proposta uma metodologia para o cálculo de forças em estruturas verticais
sujeitas a forças impulsivas que determina um valor para essa constante. No
entanto, as resultantes das forças, mesmo para condições de agitação
semelhantes, dão valores com uma grande variabilidade. Recentemente, Cuomo et
al. (2011) propuseram uma fórmula para o cálculo de forças impulsivas baseados
em dados de ensaios em modelo físico, mas o seu domínio de validade é bastante
restrito.
No que se refere a forças impulsivas, é de destacar o trabalho de Peregine et
al. (1994) que, dado que as teorias de onda não conseguem explicar estes picos
impulsivos de pressão, propôs uma teoria de impulso que aclara melhor o
fenómeno e as suas características (Peregrine, 2003). Peregrine verificou que,
embora a pressão máxima se alterasse cada vez que se repetiam as condições que
provocavam um impulso de pressão, o impulso ou a força eram bastante mais
consistentes. Assim, uma vez conhecido o ponto de pressão máxima, o campo de
pressões apresentava um padrão simples, que decaía do máximo até uma pressão
próxima da hidrostática a uma distância igual a duas vezes a profundidade, no
pé da estrutura. Com base nesta teoria, avalia a pressão máxima devida ao
impulso ao redor do nível médio, dado pelo integral da pressão no tempo durante
o impacto. Considerando desprezáveis os termos convectivos na equação da
quantidade de movimento, o campo de pressões impulsivas satisfaz a equação de
Laplace e, com condições de fronteira adequadas, pode-se obter a solução em
termos de uma série de Fourier. Aqui, o impacto é considerado apenas como o
pico violento. Peregrine (2003) refere que o factor mais importante para a
força impulsiva é a forma da onda quando atinge a estrutura e que as maiores
pressões (e respectivas forças) ocorrem quando a onda atinge a estrutura, isto
é, quando, na rebentação, se inicia a formação da voluta (overturning). Nestes
casos, o pico de pressão é muito elevado e de duração muito curta, sendo
seguido de oscilações, relacionadas ou com a forma irregular da crista da onda
incidente ou com os efeitos do ar aprisionado (trapped) e do ar misturado com a
água (entrained). Finalmente aparece um segundo pico, de muito menor
intensidade, muito semelhante ao que surge no caso de interacção não violenta,
tal como se mostra na Figura_5.
No caso da onda atingir a estrutura após a rebentação, as forças hidrodinâmicas
acima do nível médio da água do mar, PSo, são proporcionais ao quadrado da
velocidade com que a frente da onda rebentada atinge a estrutura, C, que no
caso de pequenas profundidades toma o valor C=(ghb)1/2, e a correspondente
força é proporcional à altura de onda que atinge a estrutura, Hb. Assim, a
força depende da velocidade de impacto e da altura de onda no impacto, que por
sua vez depende do tipo de rebentação. Além da pressão de choque, PSo, devida
ao impacto da onda, a pressão tem também uma componente pseudohidrostática, Pr,
devida ao nível alcançado pela lâmina líquida durante o espraiamento.
Todas as formulações referidas até agora, com excepção da de Sainflou, permitem
calcular as forças a barlamar da estrutura ou as forças de subpressão. No
entanto, as forças a sotamar da estrutura podem ser importantes para a
estabilidade de um quebra-mar vertical. No âmbito do projecto PROVERBS foi
proposto majorar o valor obtido por Sainflou, multiplicando-o por uma constante
igual a 1,27, válido apenas no caso de fundos de aproximação com declive até 1:
50. No caso de forças impulsivas, um mecanismo importante de geração de fortes
forças a sotamar de uma estrutura é devido às "ondas" que galgam a estrutura e
atingem a área abrigada mergulhando sobre esta (Walkden et al., 2001). Estas
forças podem ser superiores às de barlamar e aumentar o risco de ruína por
derrubamento na direcção de barlamar. No entanto, não existem formulações para
o seu cálculo. Walkden et al. (2001) utilizaram a teoria de impulso proposta
por Peregrine para estudar este tipo de forças com resultados satisfatórios.
4.2. Modelação física
Na fase de projecto de execução de estruturas marítimas de maior envergadura
recorre-se frequentemente à modelação física, como forma de obter resultados
fiáveis e proceder à verificação do pré-dimensionamento da obra, criando
simultaneamente uma estrutura funcional, estável e económica. Os modelos
físicos permitem verificar se a solução proposta cumpre as imposições previstas
e permitem ainda obter informação de base para o possível desenvolvimento de
fórmulas semi-empíricas.
Em 2007, no âmbito do projecto europeu Hydralab III, foi publicado um relatório
onde se apresentam recomendações para a modelação física de quebra-mares de
talude, de forma a uniformizar os ensaios realizados nos diferentes
laboratórios e simplificar a troca de dados e a sua análise (Wolters, 2007).
Este trabalho baseia-se em trabalhos anteriores de diferentes instituições, tal
como o Rock Manual (CIRIA, 2006). Também foram analisados, em diferentes
projectos europeus e de forma detalhada, os principais erros cometidos nos
ensaios em modelo físico para alguns tipos específicos de estudos, como é o
caso do Projecto CLASH, em que foram analisados os galgamentos de estruturas
marítimas, do Projecto DELOS, que analisou ensaios de estruturas com cota de
coroamento baixa (low–crested) ou do projecto PROVERBS, em que foram analisados
os quebra-mares verticais.
No que se refere a quebra-mares verticais e mistos, o sistema mais utilizado em
ensaios em modelo físico para obtenção de forças é a utilização de sensores de
pressão instalados na estrutura. A força resultante é obtida integrando os
valores de pressão medidos numa determinada área. No caso de se pretender obter
informação acerca de picos impulsivos de força, esta só pode ser obtida por
medições detalhadas de pressão na face frontal da estrutura, com uma frequência
de aquisição muito elevada, superior a 1000Hz.
Wolters (2007) resume os vários métodos utilizados em modelos físicos para
avaliar a estabilidade da superestrutura de um quebra-mar, considerando os
modos de ruína por deslizamento e derrubamento:
1. Por medição da força global numa secção da estrutura utilizando uma mesa
de força ou um grupo de elementos de medição de força.
Este procedimento é utilizado frequentemente para medir a resultante das
forças horizontais, já que a qualidade das medições das forças de
subpressão pode ser baixa, por esta medição requerer que este elemento de
estrutura esteja suspenso e que não toque no enrocamento que está
imediatamente abaixo dele. A introdução de qualquer pequeno espaço pode
alterar as subpressões que actuam na base da estrutura, quer no seu valor,
quer na sua distribuição. O uso de uma espuma permeável para reduzir o
escoamento neste espaço pode ser suficiente se o escocamento/pressão não
alterar as características da transmissão, mas este processo introduz
também incertezas na medição.
2. Por medição das pressões dinâmicas na face frontal e na base da estrutura,
que podem ser integradas de forma a determinar as forças totais e calcular
posteriormente os respectivos momentos.
Este procedimento tem a vantagem de poder medir também as forças de
impulso na posição de cada sensor de pressão, caso se meça com uma
frequência de aquisição convenientemente escolhida. A desvantagem deste
método é que se obtêm apenas medições locais de pressão num número
reduzido de pontos, que são posteriormente integradas para obter as forças
e os respectivos momentos, podendo não incluir o ponto de pressão máxima.
Ao contrário do método anterior, as forças de subpressão são bem
representadas.
3. A secção da estrutura pode ser reproduzida com um peso reduzido de forma a
que haja semelhança das forças de fricção entre o manto e a estrutura,
entre o modelo e o protótipo.
Este procedimento é muito simples e pode ser muito útil para uma rápida
avaliação da segurança ao derrubamento e ao deslizamento, mas não identifica as
forças per si, apenas as forças de deslizamento.
O cálculo de forças em modelos físicos pode ser afectado por erros, que se
podem agrupar em:
* erros de construção do modelo;
* erros de medição e de medida e/ou análise de dados;
* erros devidos a efeitos.
Os erros de modelo têm origem na reprodução incorrecta de algumas
características do protótipo, tais como a geometria, a resistência mecânica dos
blocos e das características das ondas e das correntes, devido, por exemplo, às
condições de fronteira no modelo. Os erros de medição resultam da influência
das diferentes técnicas de medição ou dos diferentes sistemas de medição nos
resultados obtidos. Os erros de medida têm origem, por exemplo, na utilização
de equipamentos pouco precisos ou pouco apropriados às medições a efectuar e os
de análise de dados na incorrecta análise das medições obtidas. Os efeitos de
escala resultam da incorrecta reprodução no modelo à escala dos fenómenos de
interacção onda-estrutura do protótipo.
De entre estes, os mais gravosos e difíceis de evitar são os erros devidos aos
efeitos de escala. Para que todos os fenómenos envolvidos fossem bem
reproduzidos à escala, os números de Froude, Weber, Reynolds e Cauchy deveriam
ser os mesmos no modelo e no protótipo. No entanto, estes critérios não podem
ser satisfeitos simultaneamente.
Usualmente, em estudos que envolvam propagação e rebentação de ondas, o número
de Froude é o utilizado já que os efeitos de pressão, gravidade e inércia são
os mais relevantes. Consequentemente, as forças devidas à fricção (Semelhança
de Reynolds), os efeitos de elasticidade (Semelhança de Cauchy) e as forças de
tensão superficial (Semelhança de Webber) são desprezados na maioria dos
modelos físicos. Os erros resultantes do facto de se ignorar estes efeitos são
os chamados efeitos de escala. Na Figura_6 apresenta-se um resumo das leis de
semelhança que deveriam ser satisfeitas para cada um dos diferentes fenómenos
que ocorrem na interacção da onda com uma estrutura de protecção marginal
(Korthenhaus et al., 2005).
A propagação das ondas é bem modelada recorrendo à semelhança de Froude, já
que, como foi referido, os principais fenómenos que ocorrem na propagação estão
relacionados com as forças de pressão, de inércia e de gravidade.
No caso de escoamento em meios porosos, como é o caso dos quebra-mares de
talude ou de quebra-mares mistos, o efeito de escala mais gravoso é devido à
falta de semelhança do escoamento no meio poroso. Isto afecta outros processos
tais como as forças de subpressão, o espraiamento, o galgamento, a transmissão
e a reflexão e, possivelmente, também as forças nos blocos do manto.
No caso de quebra-mares verticais sujeitos à acção da rebentação de ondas, o
efeito de escala mais gravoso está relacionado com a incorrecta reprodução das
forças de impacto, principalmente devido à falta de semelhança do ar
aprisionado (trapped) e da mistura ar/água (entrained), ligada à rebentação.
Embora haja métodos que sugiram correcções desse efeito (por exemplo Kortenhaus
& Oumeraci, 1999), os modelos a grandes escalas, o mais próximas possíveis
do protótipo, são a melhor alternativa. Trabalhos recentes (Bullock et al.,
2007, Cuomo et al., 2010) mostram que escalas como a de Froude e a de Cauchy
não levam a uma reprodução correcta dos picos de pressão ou da sua duração.
Como a estabilidade de estruturas monolíticas não costuma ser afectada por
picos de pressão de curta duração, a escala de Froude pode ser utilizada,
obtendo-se valores do lado da segurança. No entanto, localmente, a estrutura
pode ser afectada por uma sucessão de picos de pressão levando a que o dano
possa progredir e levar à ruína da estrutura e daí a importância da correcta
modelação deste tipo de forças.
No caso das forças de arrastamento, existe uma gama de valores do número de
Reynolds para a qual o coeficiente de arrastamento é constante. Se se utilizar
a lei de semelhança de Froude, considerando que o campo de ondas é dominado
pelas forças de gravidade e inércia, é suficiente garantir que o nº de Reynolds
do modelo e do protótipo representam o mesmo regime de escoamento. O mesmo se
pode dizer com respeito ao número de Weber.
5. Avaliaçãção das fórmulas para a determinação de forçrças actuantes em
quebra-mares vertirticais
Os dados de protótipo são raros mas extremamente importantes, já que permitem
verificar a qualidade das previsões obtidas pela aplicação das fórmulas. Como
foi referido, as fórmulas existentes para o cálculo de forças em quebra-mares
verticais e mistos foram deduzidas com base em dados obtidos em ensaios
realizados em modelo físico reduzido, podendo por isso estar afectados por
erros devidos a efeitos de escala.
Nos últimos anos, algumas obras foram dotadas de sensores que permitiram obter
dados de pressões e, através destes, permitiram calcular forças nas estruturas.
Embora os dados obtidos em protótipo possam estar sujeitos a erros, são
certamente o método disponível mais fiável de obter forças em quebra-mares
verticais e mistos.
Um dos quebra-mares que foram monitorizados é o do porto de Gijón, situado no
Norte de Espanha, na zona central da costa Cantábrica. A ampliação deste porto
consistiu na construção de um novo quebra-mar de abrigo formado por três troços
principais, dos quais um é de tipologia vertical: o molhe Norte.
O molhe Norte tem 1565 m de comprimento e profundidades variáveis entre os 25 e
os 30 m. É composto por 33 caixotões de 32 m de altura por 32 m de largura e
51,8 m de comprimento. Os caixotões, de betão armado, O molhe Norte tem 1565 m
de comprimento e profundidades variáveis entre os 25 e os 30 m. É composto por
33 caixotões de 32 m de altura por 32 m de largura e 51,8 m de comprimento. Os
caixotões, de betão armado, estão apoiados sobre uma banqueta de fundação
enraizada à cota -24,75 m, constituída por enrocamento de 150-250 kg. Para
evitar a erosão da banqueta, foi construída uma berma composta por blocos
artificiais de betão de 90 ton. O galgamento é controlado por uma
superestrutura com coroamento à cota +24 m. Na Figura_7 apresentam-se as
principais características e dimensões do molhe. Neste molhe, foram
seleccionadas duas secções separadas de 260 m entre si (caixotões 20 e 25),
para a instalação de uma série de sensores de pressão (Vílchez et al., 2011b):
* 8 no paramento vertical do caixotão (P1-P8);
* 5 na superestrutura (E1-E5), para medir pressões frontais;
* 4 na base do caixotão (S1-S4), para medir subpressões.
Os sensores hidrodinâmicos instalados foram ligados à superfície para eliminar
a pressão atmosférica.
Com base nos dados medidos nestes sensores entre Janeiro e Março de 2010,
Vílchez et al. (2011b) analisou 126 estados de mar de uma hora de duração cada,
dos quais 7 corresponderam a temporais, considerando-se como temporal a
sequência contínua de estados de mar para os quais a altura de onda
significativa (Hs) ultrapassa os 3 m (Figura_8).
Para cada estado de mar, foram calculadas as características da agitação: a
altura de onda significativa, Hs, o período de pico do espectro, Tp e o ângulo
entre a direcção principal da agitação incidente e a perpendicular ao molhe, ß.
Na Tabela_3 apresentam-se as características dos sete temporais ocorridos no
período de estudo. Em nenhum dos casos analisados se observou rebentação das
ondas nem galgamento da superestrutura.
Para obter as pressões exercidas pela agitação marítima no molhe, efectuou-se
uma filtragem do sinal registado em cada um dos sensores de pressão, de forma a
eliminar a pressão hidrostática e extrair apenas as pressões hidrodinâmicas. Na
Figura_9 apresenta-se um exemplo de diagrama de pressões hidrodinâmicas
horizontais, Ph, e verticais, Pv, obtido num dos estados de mar medidos.
Da análise da variação das pressões hidrodinâmicas (Vílchez et al., 2011b),
obtiveram-se os seguintes resultados:
* A pressão máxima no nível médio do mar (NMM) de cada estado de mar (Pmax) é
proporcional ao valor máximo alcançado pela superfície livre na parede do
molhe (η), e é dada pela seguinte expressão: Pmax=ρgη, sendo ρ a massa
volúmica da água e g a aceleração da gravidade.
* A subpressão hidrodinâmica medida no sensor de pressão localizado no extremo
de sotamar da base da estrutura, PSB, não é nula e aumenta com a altura de
onda máxima, HMax, e com o período, T (ver Figura_10), ou seja, não se
verifica a hipótese de que a lei de subpressões dinâmica é triangular, como
admite a maioria das formulações de cálculo existentes.
A resultante das forças horizontais, Fh, foi obtida a partir da integração na
vertical dos valores instantâneos de pressão e a resultante das forças
verticais, Fv, por ajustamento linear das pressões medidas em cada instante e
em cada sensor da base, integrando a distribuição de pressões obtida ao longo
da base do caixotão (Figura_11).
Por último, em cada estado de mar seleccionaram-se as resultantes das forças
máximas horizontais e as correspondentes verticais e a distribuição de pressões
e subpressões que produzia a força máxima horizontal e a que produzia a força
máxima vertical (Vílchez et al., 2011b).
Os resultados mais importantes obtidos para este caso de estudo mostram que:
* Não há simultaneidade entre o valor máximo das resultantes das forças
horizontais e verticais, como sugere a maioria das fórmulas;
* Existe uma envolvente de pares de valores ou combinações de forças cujo
efeito sobre a estrutura pode ser tanto ou mais desfavorável que a combinação
das duas forças máximas.
Com base nestes dados foi possível analisar as fórmulas para o cálculo de
forças num quebra-mar vertical apresentadas no ponto 4.1. Assim, Vílchez et al.
(2011a) compararam as pressões e forças calculadas com base nos dados medidos
em Gijón e com base nas fórmulas de Fenton, Goda, Nagai e Sainflou para quatro
estados de mar, cujas características se apresentam na Tabela_4.
Nas Figuras_12, 13 e 14 apresentam-se as resultantes das forças horizontais,
Fh, e verticais (subpressões), Fv, a cota máxima de água alcançada pela onda de
projecto, ηmax, e a pressão no nível de referência (NMM), p1, respectivamente,
obtidas com a aplicação das fórmulas e com base nos dados medidos em Gijón para
os quatro estados de mar.
Da análise dos resultados destes estudos pode-se concluir que as principais
deficiências das formulações normalmente utilizadas na determinação das forças
actuantes em quebra-mares verticais são:
* O valor da cota máxima de água alcançada pela onda de projecto, ηmax, é
obtido unicamente a partir das características da agitação incidente, sem ter
em conta a influência de factores tão importantes como a geometria e a
disposição em planta do molhe. Este valor é fortemente sobrestimado por todas
as fórmulas, excepto a de Fenton, que é a que, em geral, se aproxima mais aos
valores medidos (ver Figura_13).
* Muitas destas formulações (Sainflou ou Nagai, por exemplo) não contemplam a
influência da obliquidade da incidência da agitação marítima, do comprimento
do molhe ou das dimensões e características do material granular onde ele
assenta, e estas podem alterar substancialmente as leis de pressões e
subpressões. Além disso, a incidência normal da agitação nem sempre é a mais
desfavorável em todas as secções da estrutura (Vílchez et al., 2011b), tal
como considera Goda na sua formulação.
* Considera-se uma lei de subpressões hidrodinâmicas triangular, com um valor
nulo de subpressão no extremo de sotamar da base do molhe, o que nem sempre
ocorre.
* As resultantes das forças máximas horizontais e verticais calculadas com as
fórmulas apresentam grande dispersão de resultados quando comparadas com os
dados medidos.
* Os valores de Fh, para estes casos, são subestimados pelas formulações de
Sainflou e Fenton, e sobrestimados pela de Nagai, enquanto os valores de Fv
são subestimados por todas as formulações (ver Figura_12). A formulação de
Goda é a que apresenta maior variabilidade de resultados.
* Para analisar a estabilidade considera-se a resultante das forças horizontais
máximas e assume-se que a resultante das forças verticais associadas também é
a máxima associada aquele estado de mar, o que nem sempre ocorre.
6. Considerações finais
Este artigo apresenta um resumo dos métodos mais utilizados para a determinação
das resultantes das forças actuantes em quebra-mares verticais e mistos: as
fórmulas empíricas e semi-empíricas e a modelação física.
As fórmulas empíricas ou semi-empíricas são o método mais utilizado no
projecto, que têm como grande vantagem a facilidade de utilização. A sua
principal desvantagem deve-se a que a aplicação directa destas formulações está
limitada a estruturas de geometrias simples e a condições específicas de
agitação e níveis de maré para que foram desenvolvidas. Além disso, algumas
destas fórmulas baseiam-se em hipóteses simplificativas que nem sempre são
válidas.
Os modelos físicos são um método bastante fiável para o cálculo de forças em
estruturas monolíticas e permitem reproduzir os fenómenos físicos sem as
simplificações inerentes aos modelos numéricos ou aos métodos analíticos. No
entanto são caros e morosos e podem estar afectados por efeitos de escala.
Os dados de protótipo são raros mas extremamente importantes já que permitem
verificar a qualidade das previsões obtidas pela aplicação das fórmulas. Com
base em dados de campo medidos no quebra-mar vertical do Porto de Gijón entre
Janeiro e Março de 2010, foi possível fazer uma apreciação das fórmulas para a
determinação das resultantes das forças actuantes em quebra-mares verticais e
verificar as principais deficiências destas fórmulas.
Com base nos resultados obtidos neste trabalho, foi possível definir os
seguintes critérios a ter em conta no dimensionamento de quebra-mares
verticais, de forma a optimizar o projecto e a garantir que a estrutura cumpre,
com segurança e economia, os requisitos de projecto:
* O valor da cota máxima alcançada pela onda de projecto (ηmax) é a principal
variável a ter em conta no dimensionamento já que a partir dela é possível
calcular a pressão máxima para o nível médio do mar de referência. Assim, o
seu valor deve ser obtido através da aplicação de modelos numéricos que
permitam conhecer correctamente a repartição de energia em frente à
estrutura, tendo em conta quer as características da agitação, quer as da
geometria da estrutura e as do escoamento nos mantos porosos da fundação.
* A pressão hidrodinâmica horizontal máxima, Pmax, pode ser calculada com base
na cota máxima alcançada pela onda de projecto (ηmax), através da expressão:
Pmax=ρgηmax ;
* A subpressão hidrodinâmica a sotamar da estrutura não é sempre nula, depende
da energia transmitida através dos mantos porosos. Quando o cálculo de
subpressões é feito com base em ensaios de laboratório, deve-se verificar se
o resultado está afectado por efeitos de escala, devido à reprodução
incorrecta das características do manto da fundação, nomeadamente da sua
porosidade. A correcção do tamanho do material dos mantos de forma a evitar
efeitos de escala pode permitir evitar os erros no cálculo das subpressões.
* Os modos de ruína devem ser verificados para as combinações de forças
horizontais e verticais cujo efeito seja o mais desfavorável.