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EuPTCVAg0254-02231999000200002

EuPTCVAg0254-02231999000200002

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0254-0223
ano1999
Issue0002
Article number00002

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CESTIMATIVA PRECOCE DA PRODUÇÃO DE VINHO PELO MÉTODO AEROPOLINICO

INTRODUÇÃO A especificidade da produção Duriense, relativamente a outras regiões vitícolas, origina necessidades acrescidas do conhecimento antecipado do volume anual da colheita. Na RDD, confluem no mesmo espaço duas Denominações de Origem: Porto e Douro. Sendo o Vinho do Porto uma denominação de prestígio, é necessário proceder anualmente à quotização da sua produção.

No actual quadro institucional da RDD, a previsão da produção é uma informação indispensável para que, conjuntamente com outras variáveis, seja possível chegar à definição mais correcta possível do quantitativo de benefício no respeito do critério qualitativo subjacente e, na necessidade consequente de aprovisionamento de aguardente (volume de negócios entre 2 e 4 x 106 contos) (IVP, 1996).

A previsão da produção de vinho de uma região, requer basicamente dois tipos de informação: uma relativa à dimensão das superfícies em produção e que pode ser facultada pelos respectivos cadastros e, outra, proveniente das estimativas do rendimento.

Para o cálculo destas estimativas foram desenvolvidas diversas metodologias.

Umas - "modelos climáticos" - privilegiam o clima como origem das flutuações da produção (Gerbier e Remois, 1977; Terraja, 1981; Besselat, 1987; Besselat e Cour, 1990; Baugnet, 1991); outras - "modelos bioclimáticos" - baseiamse na estimativa precoce de um ou vários componentes biológicos da produção: de cachos, de bagos e peso dos bagos (Wurgler et al., 1955; May, 1961; Pofique e Ancel, 1982; Schneider, 1995).

A percepção da acção integrada dos factores anteriormente referidos, justificou o incremento da atenção dada a metodologias baseadas na análise da fracção polínica da atmosfera em locais estratégicos, actualmente utilizada com sucesso -em várias regiões vitícolas de Portugal, sendo designada por "Modelo Pólen".

Com efeito, a dosagem de pólen possibilita integrar dados climáticos, conhecidos anteriormente como factores responsáveis pelo volume da produção (incluindo os acidentes pré-florais), a superfície vitícola, o número de flores e as inflorescências presentes na altura da floração.

O método de captura e análise laboratorial do pólen, desenvolvido por Cour (1974), quando comparado com outros métodos de análise apresenta níveis superiores de pólen (Belmonte et al., 1988). A reduzida quantidade de pólen de Vitis, tem promovido a sua difusão para a previsão de colheitas em viticultura.

Dada a importância da previsão da produção para a RDD, a Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID) em colaboração com o Instituto do Vinho do Porto (IVP), suportaram, em 1992, os custos de instalação de dois postos de captação polínica na RDD, que se mantêm actualmente em funcionamento com excelentes resultados (Cunha, 1996). Em 1997, com apoio do PAMAF IE&D foi obtido o suporte financeiro para a continuidade dos estudos actualmente em curso.

MATERIAL E MÉTODOS Amostragem Os dados da produção vitícola da RDD, utilizados na construção do modelo, foram cedidos pela Casa do Douro e resultam do tratamento das declarações de produção dos viticultores, no período entre 1992 e 1998.

A amostragem polínica da atmosfera é realizada com os seguintes equipamentos: porta filtros (Labover) com interceptor de fluxo (Cata-vento).

As unidades filtrantes verticais de 400 cm2, são substituídas duas vezes por semana; estação de vento anemo-direccional (Cimel-Enerco 402), com dois sensores independentes para a quantidade e direcção do vento.

-Estes equipamentos estão instalados na Freguesia de Cambres a uma cota de 18 metros e na freguesia de Valença do Douro a uma cota de 7 metros

Estes dois locais permitem uma amostragem considerada representativa das estruturas fundiárias e produtivas, constituída por cerca de 82% da área total de vinha e de 86% da produção total da Região.

Actualmente, para cada local possuímos 7 pares pólen/produção, referentes às colheita de pólen durante as florações de 1992 a 1998. A quantidade de pólen captada em 1999, é utilizada para formular uma previsão.

No laboratório, os filtros são analisados segundo o método Cour (1974). Os resultados são apresentados utilizando diferentes unidades de referência para o estabelecimento da relação pólen/produção regional: grãos de pólen por cm2 de filtro ou por unidade filtrante (400 cm2) durante o período de exposição; grãos de pólen numa secção de fluxo de 1 m2 transportados por m3 de ar, considerando o comprimento da coluna de ar filtrado medida pelo anemómetro totalizador.

Utilizamos a média da quantidade de pólen ((pólen Régua + pólen Valença)/ 2), captado em ambas as estações. Para os anos em estudo, conseguimos melhores previsões da produção regional com o tratamento conjunto do pólen captado em ambas as sub-regiões do que a obtida com os valores de apenas um posto. Besselat (1990), refere que, em regiões inteiramente fraccionadas por vales, a colocação de vários postos analisados em conjunto, permite uma melhor constatação das variações anuais inter-regionais que a sua análise discreta. Na região do Champanhe, com um relevo acentuado, Panigai e Moncomble (1988) referem resultados idênticos.

Construção e validação do modelo Para a construção do modelo, procedeu-se à análise dos resíduos para testar a homogeneidade da variância e escolha do tipo de tendência. No caso de modelos lineares ou linearizáveis, os parâmetros são estimados pelo método dos mínimos quadrados, recorrendo ao programa SPSS versão 9.0. Uma vez obtida a estrutura do modelo, este poderá ser utilizado para efectuar previsões, isto é, para estimar variáveis endógenas associadas a valores das variáveis exógenas.

O posterior ajustamento foi analisado, por um lado, pelo coeficiente de determinação (R2) e também pelo desvio em valor absoluto entre os dados reais de produção e os dados ajustados à curva de regressão.

Para a avaliação da capacidade preditiva extramostral dos modelos recorremos à "multivalidação" (cross-validation) (Leamer, 1983) que consiste em eliminar uma observação da amostra e estimar o modelo com as restantes observações, para prever o dado não utilizado. A operação é repetida T vezes, deixando de fora de cada vez, um elemento diferente da amostra. A soma dos quadrados dos resíduos de predição, designa-se PRESS (Prediction Errors Sum of Squares). O modelo seleccionado é o que apresenta um menor valor da PRESS.

A generalização da aplicação do método poderá ocorrer a médio prazo, após o correcto estabelecido do ajustamento entre a intensidade de polinização e o volume de produção, para o qual é necessário um maior número de anos de observações.

RESULTADOS E DISCUSSÃO O comportamento do modelo emissor foi estudado recorrendo à análise da distribuição temporal das emissões polínicas. Para os dois locais da RDD a análise intra e inter anual da Figura 2, permite adiantar os seguintes comentários:

Em 1999 os primeiros filtros foram colocados na altura própria; As emissões polínicas em 1999, foram concentradas num período muito curto, primeira indicação de uma maturação homogénea; Em Cambres e Valença do Douro os períodos principais de polinização ocorreram entre os dias 24 e 27 de Maio; Neste período, verificaram-se temperaturas entre os 20 e 25º e ausência de precipitação, condições que permitiram um bom vingamento. Em observações de campo, verificamos uma dimensão dos cachos superior à média, com um elevado número de bagos vingados.

O gráfico de análise dos resíduos (Figura 3) mostra que a sua variância aumenta muito, com o aumento dos valores ajustados da produção, o que linearizado e ajustado para a RDD, sugere a existência de violação da hipótese de homogeneidade da variância.

Por este motivo, procedemos a uma transformação do tipo exponencial da produção. Para a estimação dos parâmetros do modelo pelo método dos mínimos quadrados ordinários, procedemos à sua linearização:

\ = β 0 H β[ ε ln \ = ln β 0 + β[ + ln ε \ = β 0 + β[ + ε

Considerando os anos utilizados na construção do modelo, a produção média foi de 1.103x103l, oscilando entre os 792x103l em 1998, valor que se aproxima da produção mais baixa do século e os 1.822x103l em 1996, valor próximo dos 1.960x103l de 1990 conhecido como a maior produção da RDD. A amplitude dos dados utilizados na construção do modelo, permite a formulação de previsões com este modelo, com um amplo intervalo de validação.

O modelo ajustado para a RDD pode ser consultado na figura seguinte.

Verifica-se que, não obstante o reduzido número de pontos considerado, o valor de R2 é muito significativo e o teste de multivalidação cruzada (PRESS/ SQD) dá-nos a indicação da elevada capacidade predictiva do modelo.

Os valores das capturas polínicas referentes a 1999 e ajustadas ao referido modelo, apontam para um valor médio de produção de vinho de 220.000 pipas de 550 L, sendo o intervalo de confiança da média (p<5%) de 166.000 a 260.000 pipas. Permitindo um maior risco de estimativa (p<10%), obtémse uma diminuição do intervalo de confiança da média para valores de 174.000 a 250.000 pipas.

A confirmação deste valor representa uma colheita para a RDD em 1999 cerca de 10% acima da média da região.

Por outro lado, na RDD observa-se um acentuado défice hídrico, acompanhado por elevados níveis de irradiância, temperatura e défice de pressão de vapor na fase pós floral. Para os meses de Abril a Setembro, que geralmente cobrem a fase activa do ciclo vegetativo, os valores de precipitação atingem cerca de 200mm ou seja apenas 20% do total de precipitação anual. Para os meses de Julho a Setembro (maturação), a precipitação média é de 50 mm sendo bastante inferior nas zonas mais orientais da RDD.

A informação climática anterior sugere uma forte influência dos factores pós florais no potencial de colheita determinado na floração. Todavia, o modelo apresentado permite explicar cerca de 93% das flutuações inter anuais da produção através da quantidade de pólen na floração, o que retira importância, até agora atribuída aos factores pós florais, nomeadamente a falta de água no período estival.

Na Régua, os valores de água no solo na década de Setembro (final da maturação), em 80% dos anos são iguais ou inferiores a 5,3% da capacidade de água utilizável (CAU(média)= 150mm) (Reis e Lamelas, 1988). Assim, embora se verifiquem níveis muito baixos de água no solo, a sua elevada frequência de ocorrência, dificilmente poderá ser considerada como uma variável concorrente à explicação das flutuações inter-anuais da produção.

Adicionalmente, a secura estival apenas pode ser conhecida, pouco tempo antes da vindima e a sua inclusão num modelo implica uma perda de oportunidade das previsões, que lhe retira qualquer utilidade.

CONCLUSÃO Apesar da forte heterogeneidade da Região: clima, castas, idade das vinhas, sistemas de implantação, orografia que dificulta a drenagem do pólen e déficit hídrico no período pós-floral mais acentuado que em outras regiões onde este método tem sido utilizado, a relação pólen/produção para os anos actualmente disponíveis apresenta uma tendência correcta.

A fiabilidade dos modelos testados, permite disponibilizar informação oportuna sobre a produção, passível de utilização como suporte de medidas orientadoras do sector.

Globalmente não podemos subestimar, para além dos resultados polínicos, a riqueza da informação de dados agronómicos e climáticos, conseguida através do seguimento dos protocolos de acompanhamento, que poderão ser elementos susceptíveis de melhorar a compreensão de certos fenómenos biológicos e, ainda fornecer elementos a outras metodologias complementares de previsão.


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