∫2. De Vegetatio Lusitana Notae: Sintaxonomia das comunidades da classe
Rosmarinetea officinalis na Super-Província Portuguesa-Sadense
∫2. De Vegetatio Lusitana Notae
Sintaxonomia das comunidades da classe Rosmarinetea officinalis na Super-
Província Portuguesa-Sadense
José Carlos Costa*, Jorge Capelo**, Mário Lousã***, Carlos Neto****, Salvador
Rivas-Martínez*****
Os calcários da Subprovíncia Portuguesa-Sadense (Província Lusitano-Andalusa
Litoral) encontram-se isolados e muito afastados de todas as outras áreas
calcícolas da Península Ibérica. O bioclima deste território é mediterrânico
pluvioestacional com carácter oceânico (sub-hiperoceânico a semi-hiperoceânico)
segundo a classificação bicromática da Terra de Rivas-Martínez (2007). A
conjugação destes factores faz com que a sua flora e vegetação sejam originais.
A ocorrência de diversos endemismos, principalmente nos solos decapitados
levou-nos a fazer uma proposta de revisão sintaxonómica para as comunidades de
Rosmarinetea officinalis do Sector Divisório Português e Distrito Arrabidense,
(únicos territórios calcícolas desta Subprovíncia):
ROSMARINETEA OFFICINALIS Rivas-Martínez, T.E. Días, F. Prieto, Loidi &
Penas 2002
Rosmarinetalia officinalis Br.-Bl. ex Molinier 1934
Ulici densi-Thymion sylvestris(Capelo, J.C. Costa, Espírito-Santo & Lousã
1993) J.C. Costa, Capelo, Lousã, Neto & Rivas-Martínez all. nova, stat.
nov. hoc loco
[basiónimo: Serratulo estremadurensis-Thymenion sylvestris Capelo, J.C. Costa,
Espírito-Santo & Lousã 1993]
Typus alliantia.: Salvio sclareoidis-Ulicetum densi Rivas-Martínez, Lousã, T.E.
ias, Fernández-González & J.C. Costa 1990 ex Capelo, J.C. Costa, Lousã
& Neto 1992 in Jornadas de Fitosociologia. Libro de resúmenes: 44-45.
Oviedo.
Diagnose: Comunidades camefíticas, em solos decapitados por vezes
descarbonatados, derivados de "terra rossa" resultante da alteração
de calcários dolomíticos ou margosos do Jurássico médio e terminal e do
Cretácico. Ocorre em bioclima sub-hiperoceânico a semi-hiperoceânico,
termomediterrânico a mesomediterrânico, maioritariamente sub-húmido
pontualmente seco ou húmido. Distribui-se pela Subprovíncia Portuguesa-Sadense.
Espécies características: Asphodelus lusitanicus(dif. al.), Avenula
lodunensissubsp.cintrana (dif. al.), Iberis microcarpa, Iris subbiflora,
Serratula estremadurensis, Sideritis hirsuta var. hirtula, Thymus sylvestris,
Ulex airensis(dif. al.),Ulex densus.
1. Salvio sclareoidis-Ulicetum densi Rivas-Martínez, Lousã, T.E. Días,
Fernández-González & J.C. Costa 1990 ex Capelo, J.C. Costa, Lousã &
Neto 1992
Associação sub-hiperoceânica, termomediterrânica a mesomediterrânica, sub-
húmida a húmida, em solos erosionados, derivados de calcários margosos
descarbonatados do Cretácico e Jurássico, do oeste do Divisório Português (em
zonas não muito afastadas do litoral entre o Tejo e o rio Alcoa [sul da
Nazaré]). Representa etapas mais degradadas do Arisaro-Quercetum broteroi.
Costa et al. (2001) propuseram a variante de Daphne maritima para as arribas
litorais, cujas diferenciais sãoDaphne gnidiumvar.maritima, Dactylis marina,
Calendula algarbiensis, Daucus halophilus, Carlina corymbosavar.major,
Helichrysum decumbens, Ononis ramosissima (quadro 1), sendo subserial doQuerco
cocciferae-Juniperetum turbinatae.
Transcrição do inventário tipo de Capelo et al. (1992), localizado no Vale do
Milho, entre a Várzea e Lourel (Sintra), 100 m2, características: 5Ulex densus,
3Bartsia aspera, 1Salvia sclareoides, 1Eryngium dilatatum, 1Carex hallerana,
1Asphodelus lusitanicus, +Anthyllis vulneraria subsp. maura; companheiras:
2Brachypodium phoenicoides, 1Quercus coccifera, 1Olea europeae var. sylvestris,
1Cistus salviifolius, +Rhamnus oleoides, +Rhamnus alaternus, +Asparagus
aphyllus, +Daucus crinitus, +Cistus crispus, +Pulicaria odora, +Carlina
corymbosa, +Urginea maritima, +Cheirolophus sempervirens, +Centaurium erythraea
subsp. grandiflorum, +Atractylis gummifera, +Plantago serraria, +Centaurea
pullata, +Brachypodium distachyon.
2. Teucrio capitati-Thymetum sylvestris Espírito-Santo & Capelo in Capelo,
J.C. Costa, Espírito-Santo & Lousã 1993
Associação semi-hiperoceânica, mesomediterrânica, sub-húmida a húmida, em solos
decapitados descarbonatados das serras calcárias cársicas e calcodolomíticas do
Divisório Português. Insere-se na série do Lonicero implexae-Querco
rotundifoliae sigmetum.
Transcrição do inventário tipo de Capelo et al. (1993) 106-107pp, localizado em
Molianos (Serra dos Candeeiros), 100 m2, W, características: 4Thymus
sylvestris, 2Teucrim capitatum, 1Ononis mitissima, 3 Avenula cintrana, +Salvia
sclareoides,+Anthyllis maura; companheiras: 2Cistus salviifolius, 2Sanguisorba
spachiana, 1Quercus coccifera, 1Pistacia terebinthus,1Helichrysum stoechas,
1Erica scoparia, 1Cistus crispus, 1Euphorbia portlandica, +Pistacia lentiscus,
+Quercus lusitanica, +Daphne gnidium, +Rubia longifolia, +Arisarum simorrhinum,
+Pulicaria odora, +Asparagus acutifolius,+Calluna vulgaris, +Serapias lingua,
+Orchis mascula, +Ophrys scolopax, +Carlina corymbosa, +Scabiosa
atropurpurea,+Blackstonia perfoliata.
3. Thymo sylvestris-Ulicetum densi (Capelo, J.C. Costa, Lousã & Neto 1993)
J.C. Costa, Capelo, Lousã, Neto & Rivas-Martínez ass. nov., stat. nov. hoc
loco
[Basiónimo: Salvio sclareoidis-Ulicetum densi Rivas-Martínez, Lousã, T.E. Días,
Fernández-González & J.C. Costa 1990 ex Capelo, J.C. Costa, Lousã &
Neto 1992 thymetosum sylvestris Capelo, J.C. Costa, Lousã & Neto 1992;
Thymo sylvestris-Ulicetum densiRivas-Martínez, Lousã, T.E. Días, Fernández-
González & J.C. Costa 1990 nom. inval. (art. 3b)]
Associação semi-hiperoceânica, termomediterrânica, seca a sub-húmida, em solos
decapitados de terra rossa de calcários dolomíticos, e de distribuição
arrabidense. Thymus sylvestris, Sideritis hirsuta var. hirtula, Helianthemum
marifolium, Santolina rosmarinifolia são diferenciais face ao Salvio
sclareoidis-Ulicetum densi (Quadro 1). Insere-se nas séries do Viburno tini-
Querco rivamartinezii sigmetum e Querco cocciferae-Junipero turbinatae
sigmetum.
Quadro 1 -Tabela sintética da aliançaUlici densi-Thymion sylvestris
Nº de ordem 1 2 3 4 5 6 7 8
Nº de inventários 24 8 10 1 11 7 17 7
Características e diferenciais
de associação
Stachys
algeriensis I . . . . . .
Ulex densus V V V 1 . . . .
Santolina
rosmarinifolia . . I . . . . .
Helianthemum
origanifolium . . I . . . . .
Thymus sylvestris . . V 1 V V V V
Sideritis
hirsutavar.hirtula . . IV 1 III . . II
Teucrium capitatum . . . . IV V V V
Helianthemum
violaceum . . . . + . . .
Quadro 1 ' Cont.
Nº de ordem 1 2 3 4 5 6 7 8
Nº de inventários 24 8 10 1 11 7 17 7
Características e diferenciais de
associação
Diferenciais da variante Daphne maritima
Koeleria vallesiana . . . . I . . .
Scabiosa turolensis . . . . I . . .
Dianthus
cintranussubsp.barbatus . . . . I . . .
Asperula
scabrasubsp.aristata . . . . . I . .
Orobanche latisquama . . . . . . . I
Daphne
gnidiumvar.maritima . V . . . . . .
Dactylis marina . V . . . . . .
Calendula algarbiensis . IV . . . . . .
Daucus halophilus . IV . . . . . .
Carlina
corymbosavar.major . IV . . . . . .
Helichrysum decumbens . III . . . . . .
Ononis ramosissima . III . . . . . .
Características e diferenciais da Ulici densi-Thymion sylvestris
Salvia sclareoides V V V 1 + . I III
Bartsia aspera I I I . I . . .
Avenula cintrana . . III . III . II II
Iberis microcarpa r I + . II . . .
Serratula
estremadurensis I . I . + . . .
Serratula
baeticasubsp.lusitanica . . III 1 I . . .
Asphodelus lusitanicus II . . . . . II I
Ulex airensis . . . . + . . III
Iris subbiflora r . . . . . III .
Características daRosmarinetea
officinalis
Rosmarinus officinalis . II V 1 II . . III
Staehelina dubia + . IV 1 + . III II
Anthyllis maura IV IV . . II I IV II
Cistus albidus . . II 1 II . IV III
Fumana thymifolia . . II . . I I III
Phagnalon rupestre IV . III . . . . I
Valeriana tuberosa r . I . I . . .
Thymbra capitata . . II . . . . II
Micromeria micrantha . . I . I . . .
Argyrolobium zanonii . . . . + . . I
Ononis mitissima . . . . II . . .
Cistusalbidusx crispus . . I . . . . .
Leuzea conifera . . . . + . . .
Principais companheiras
Brachypodium
phoenicoides V V V 1 II III IV II
Cistus salvifolius III V IV 1 V III IV III
Cistus monspeliensis r III III . + III III V
Cistus crispus III . II 1 II III V I
Dactylis hispanica III . III 1 II III III I
Phlomis lychnitis I . II 1 II III III II
Quadro 1 ' Cont.
Nº de ordem 1 2 3 4 5 6 7 8
Nº de inventários 24 8 10 1 11 7 17 7
Principais companheiras
Eryngium dilatatum V V IV 1 . . . III
Daucus crinitus III I II . . I I I
Urginea maritima III IV II . II . V V
Sanguisorba spachiana II . II . III II II II
Lavandula luisieri . . IV 1 IV . IV III
Erica scoparia + II I . II . III .
Centaurium grandiflorum IV I IV . . . + I
Carlina corymbosa III . II . II . II III
Bituminaria bituminosa + . I . I I . II
Scabiosa atropurpurea I III I . I I . .
Helichrysum stoechas . . II 1 III . III .
Ruta chalepensis I III . . . . III I
Phagnalon saxatile I . I . I . II .
Cheirolophus
sempervirens + I I . . . . I
Brachypodium distachyon I . II . + . + .
Plantago serraria II IV I . . . . .
Hyparrhenia sinaica . . II II . . V
Cynara humilis II III . . . . . II
Origanum virens II . . . + . . II
Allium pallens II . . . . I + .
Euphorbia portlandica . . III . III . I .
Astragalus lusitanicus . . II . II . + .
Sedum forsterianum . . . . I . III I
Narcissus
bulbocodiumsubsp.obesus . I II . . . . I
Cuscuta planiflora . . . . . II I I
Convolvulus althaeoides + I II . . . . .
Reichardia picroides r . II 1 . . . .
Schoenus nigricans + I I . . . . .
Thapsia villosa . . . . I . I I
Calamintha baetica II . . . . . III .
Pallenis spinosa III . II . . . . .
Atractylis gummifera III . I . . . . .
Holcus lanatus II II . . . . . .
Plantago lanceolata II II . . . . . .
Bellis sylvestris . . . . . . III I
Sedum album . . . . . . III I
Campanula rapunculus II . . . I . . .
Centaurea pullata II . . . . . . I
Echium tuberculatum + III . . . . . .
Ulex jussiaei r . . . . . III .
Ajuga iva r . . . . . . III
Biscutella lusitanica . . . . II . . I
Stipa gigantea . . II . + . . .
Anagallis
monellivar.linifolia r . II . . . . .
Quadro 1 ' Cont.
Nº de ordem 1 2 3 4 5 6 7 8
Nº de
inventários 24 8 10 1 11 7 17 7
Principais
companheiras
Reichardia
intermedia r . II . . . . .
Foeniculum
piperitum I . . . . I . .
Allium roseum . I . . . . I .
Allium
paniculatum . . I . . . . I
Nepeta tuberosa + . . . . I .
Cynara
cardunculus + . I . . . . .
Ophrys
tenthredinifera . . . . + . I .
Orchis italica . . . . + . I .
Aceras
anthropophorum . . . . + . . I
Ononis pusilla . . . . + . . I
Serapias
vomeracea r . I . . . . .
Prunus
insititioides r . . . . . I .
Aristolochia
paucinervis r . . . I . . .
Lithodora
lusitanica + . . . + . . .
Anacamptis
pyramidalis + . . . + . . .
Orchis mascula . . . . + . + .
Antirrhinum
linkianum . . . . + . + .
Stachys
lusitanica . . . . + . + .
Carex flacca . . . . + . + .
Silene
longicilia r . . . + . . .
Agrostis
castellana . . . . . III . .
Leontodon
tuberosus . . . . . . III .
Serapias lingua . . . . II . . .
Geum sylvaticum . . . . . . . II
Nepeta
multibracteata . . I . . . . .
Anthyllis
lusitanica . . . . I . . .
Scorzonera
graminifolia . . . . . I . .
Iris planifolia . . . . . . I .
Crataegus
brevispina . . . . . . I .
Ophrys dyris . . . . . . I .
Cytinus
macrantherus . . . . . . . I
Tuberaria
lignosa . . . . . . . I
Ophrys fusca . . . . . . . I
Orchis morio . . . . . . . I
Calluna
vulgaris . . . . + . .
Ophrys scolopax . . . . + . . .
Halimium
viscosum . . . . + . . .
Serapias
parviflora . . . . + . . .
Chaenorhinum
origanifolium . . . . + . . .
Galium
frutescens . . . . + . . .
Helleborus
foetidus . . . . + . . .
Sedum sediforme . . . . + . . .
Lathyrus
amphicarpos . . . . + . . .
Genista
triacanthos . . . . . . + .
Ruta montana . . . . . . + .
Quadro 1 ' Cont.
Nº de ordem 1 2 3 4 5 6 7 8
Nº de
inventários 24 8 10 1 11 7 17 7
Características daQuercetea ilicis
Carex
halleriana IV IV IV 1 II V IV III
Bupleurum
paniculatum V . IV 1 + I II III
Daphne
gnidium IV . V 1 III II IV II
Asparagus
aphyllus V V IV . . I III IV
Quercus
coccifera IV III III . IV . IV .
Pulicaria
odora IV IV II . + . III II
Rubia
longifolia I IV III . III . II .
Rhamnus
alaternus II I I . I . I I
Pistacia
lentiscus + I IV . II . II .
Lonicera
implexa II I II . . . I I
Olea
sylvestris V . II . II . IV .
Genista
tournefortii II . II . . II II .
Rhamnus
oleoides II . III 1 + . . .
Phillyrea
angustifolia . I II . II . II .
Arisarum
simorrhinum . I . . I . III I
Lonicera
etrusca II . . I . II .
Euphorbia
characias + . . . I . I I
Smilax
aspera II I IV . . . . .
Osyris alba I . . . . II II
Melica
arrecta + . I . + . . .
Jasminum
fruticans . . . . I . I I
Juniperus
turbinata . II III . . . . .
Arbutus
unedo . . . . II . I .
Anemone
palmata . . . . II . . I
Pistacia
terebinthus . . I . I . . .
Asparagus
acutifolius r . . . I . . .
Quercus
lusitanica r . . . + . . .
Phlomis
purpurea . . II . . . . .
Barlia
robertiana . . . . . . . I
Quercus
rotundifolia . . . . + . . .
Coronilla
glauca . . . . + . . .
Myrtus
communis . . . . + . . .
Paeonia
broteroi . . . . . . + .
Salvio sclareoidis-Ulicetum densi: 1 Capelo et al., 1993;Salvio sclareoidis-
Ulicetum densi variante de Daphne maritima: 2 Costa et al., 2000; Thymo
sylvestris-Ulicetum densi: 3 Capelo et al., 1993, 4 Capelo & Almeida,
1993;Teucrio capitati-Thymetum sylvestris: 5 Capelo et al., 1993; 6 Lousã et
al., 1994; 7 Lopes, 2001; 8 Gaspar, 2003
Transcrição do inventário tipo de Rivas-Martínezet al. (1990), 26p, El Carmen
(Serra da Arrábida), 210 m, 100 m2, NW, declive 10%: características: 4Ulex
densus, 2Thymus sylvestris,2Rosmarinus officinalis,2Serratula
baeticasubsp.lusitanica,1Eryngium dilatatum, +Sideritis hirsuta var.
hirtula,+Bartsia aspera, +Cistus albidusx crispus, +Phlomis lychnitis
+Valeriana tuberosa; companheiras: 2Genista tournefortii, 2Salvia sclareoides,
2Cistus crispus, 2Brachypodium phoenicoides, 1Cistus salvifolius, 1Lavandula
luisieri, 1Pulicaria odora, 1Carex hallerana, 1Tulipa australis, 1Urginea
maritima, +Cistus monspeliensis, +Daphne gnidium, +Bupleurum paniculatum,
+Smilax aspera, +Olea sylvestris, +Narcissus calcicola.