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EuPTCVAg0871-018X2008000100015

EuPTCVAg0871-018X2008000100015

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0871-018X
ano2008
Issue0001
Article number00015

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VARIABILIDADE DA INFESTAÇÃO EM DUAS VARIEDADES DE TRIGO MOLE (TRITICUM AESTIVUM L.). II EM FUNÇÃO DE CARACTERÍSTICAS RELATIVAS À CAPACIDADE COMPETITIVA DO TRIGO

INTRODUÇÃO Algumas cultivares de trigo conseguem estar mais adaptadas à presença da flora infestante, apresentando, assim, maior capacidade competitiva (Chalhaiah et al., 1986; Ramsel & Wicks, 1988; Singh et al., 1999).

Esta permite-lhes, em geral, afectarem a densidade populacional de plantas infestantes e atingirem maior produção de grão.

Em geral, os genótipos bem adaptados à competição com as infestantes podem ser uma solução para utilizar nas estratégias de controlo das espécies prejudiciais à cultura (Chalhaiah et al., 1986; Carvalho, 1994; Champion et al., 1998; Singh et al., 1999; Bastiaans et al., 2000; Weiner et al., 2001). Apesar do melhoramento ter apostado em variedades com menor biomassa vegetativa (porte mais baixo) e com um acréscimo do número de grãos por metro quadrado, parece haver outras características importantes para a competição com as espécies nocivas, como a antecipação do crescimento das plantas cultivadas, nomeadamente, o desenvolvimento foliar. Através do conhecimento da resposta de diferentes genótipos à presença de infestantes, obter-se-á informação para a gestão desta flora (Chalhaiah et al., 1986).

A pesquisa de genótipos competitivos perante espécies infestantes, pode ser efectuada através da selecção directa de germoplasma na presença dessa flora indesejada ou indirecta por via das características do crescimento das plantas da cultura que estão correlacionadas com essa capacidade (Lemerle et al., 1996a).

Actualmente, conforme referem Maçãs et al.

(1998), ao melhoramento genético de cereais também lhe deve ser exigido, que o comportamento de novas variedades seja caracterizado pela adaptabilidade e, por esta via, possa contribuir para a sustentabilidade do sistema.

Diversos estudos foram realizados sobre a parte aérea das plantas, que intercepta mais ou menos luz e com este processo aumenta ou diminui a competitividade (Appleby et al., 1976; Wicks et al., 1986, 1994; Lemerle et al., 1996b, 2001; Cosser et al., 1997; Champion et al., 1998; Martínez-Ghersa et al., 2000; Korres & Froud-Williams, 2002). Assim, algumas características morfológicas dos genótipos de trigo, tais como; o vigor inicial, o número de filhos, o tamanho da folha e a altura das plantas, estão correlacionadas com a capacidade de competirem com plantas infestantes (Chalhaiah et al., 1986; Lemerle et al., 1996a, 1996b; Légère & Bai, 1999).

Lemerle et al. (2001) referem que um genótipo bem adaptado relativamente à infestação deve apresentar os atributos referidos e boa produção quando misturado na comunidade. Esta capacidade está assim relacionada com as características morfológicas, fisiológicas e bioquímicas das plantas cultivadas, sendo também influenciada pela disponibilidade dos recursos, caracterização da população de infestantes e condições ambientais (Lemerle et al., 2001). Portanto, é uma característica relativa e não absoluta (Korres & FroudWilliams, 2002).

Como a altura da palha e a capacidade de afilhamento estão associadas à competitividade das variedades (Korres & Froud-Williams, 2002), neste trabalho compararam-se duas variedades morfologicamente diferentes ao nível destas características (altura e afilhamento), semeadas em datas diferentes e sujeitas ao efeito de infestação diferente.

Sabendo que o melhoramento deve assentar em critérios de selecção múltiplos e variados, esta informação pode ser usada pelo melhorador, nomeadamente em linhas de investigação destinadas à selecção de genótipos competitivos, que deve ser uma das componentes da agricultura sustentável.

Pretendia-se, assim, conhecer a possibilidade de características do trigo se relacionarem com a sua capacidade competitiva perante a flora infestante, naquilo que será uma contribuição conjunta da fitotecnia e do melhoramento, conforme refere Carvalho (1994), para a redução da utilização de herbicidas. Estamos, portanto, perante uma linha de trabalho direccionada para a capacidade competitiva e da qual beneficiariam os sistemas agrícolas, sendo o melhoramento genético, também referido por Moreira (1980), como fundamental para controlar a infestação.

MATERIAL E MÉTODOS

O ensaio decorreu na Herdade da Revelheira desde 1996/97 a 1999/00, a partir de duas variedades de trigo mole, que à partida, apresentavam características diferentes ao nível da altura das plantas e da capacidade de afilhamento, para verificar o seu comportamento perante as infestantes.

Para efectuar este estudo, utilizaram-se as variedades Centauro e Sever (Sever com maior altura e menor afilhamento do que a variedade Centauro), sendo os talhões correspondentes, divididos e sujeitos aos tratamentos de com e sem aplicação de herbicida em pós-emergência.

Quanto aos solos onde decorreu este ensaio, foram o solo Mediterrâneo Pardo de dioritos ou quartzodioritos ou rochas microfaneríticas ou cristalofílicas afins (Pm) nos anos de 1996/97 e 1998/99, e o solo Mediterrâneo Vermelho ou Amarelo de dioritos ou quartzodioritos ou rochas microfaneríticas ou cristalofílicas afins (Vm) em 1997/98 e 1999/00.

A partir de várias amostras colhidas durante a execução do trabalho, os dez centímetros superficiais do solo Pm caracterizavam-se por uma textura franco-limosa e do solo Vm por uma textura franco-arenosa.

Relativamente às condições climáticas verificadas nos quatro anos de ensaio, apresentam-se nas Figuras 1 e 2 os valores mensais da precipitação e das temperaturas médias, máximas e mínimas do ar. Estes foram registados numa estação meteorológica instalada na Herdade da Revelheira, onde decorreram os trabalhos de campo. Por sua vez, a precipitação mensal referente à média da precipitação ocorrida em trinta anos, foi obtida do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (1991), a partir de valores registados na estação udométrica de Reguengos de Monsaraz.

As técnicas culturais utilizadas durante o ensaio, encontram-se sintetisadas no Quadro 1, excepto as colheitas, manual (subtalhão de 0,6 m2) e mecânica (talhão de 5,5 m2) realizada pela ceifeira debulhadora automotriz de pequenas parcelas, que se efectuaram no mês de Junho de cada um dos anos agrícolas indicados. Como este ensaio decorreu nas folhas destinadas à cultura do trigo da herdade (1996/97 a 1999/00), foi efectuada uma mobilização primária com a charrua de aivecas ou com o escarificador pesado (chisel) na Primavera ou no Verão do ano agrícola anterior ao das sementeiras. Para efectuar a sementeira, utilizou-se o semeador de ensaios Wintersteiger, que permite realizá-la em pequenos talhões.

Tratamentos e delineamento experimental Nos talhões das duas variedades em estudo, realizaram-se os tratamentos de controlo de infestantes em pós-emergência.

Assim, os tratamentos foram os seguintes.

- Datas de sementeira (talhão principal com 2,4 por 10 metros).

-Duas variedades de trigo mole (subtalhão com 1,2 por 5 metros).

- Dois níveis de controlo da infestação de pós-emergência, sendo um com (ch) e outro sem aplicação (sh) de herbicida de pós-emergência (subsubtalhão).

O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com divisão do talhão para as duas variedades de trigo mole, subdivisão para os dois níveis de controlo de infestantes em pós-emergência (split-split-plot) e quatro repetições.

Observações e determinações De acordo com o objectivo deste ensaio, as observações realizadas na cultura do trigo foram a produção e as suas componentes, e nas infestantes, o número de plantas (total, Monocotiledóneas e Dicotiledóneas) em duas datas de leitura e a produção de matéria seca à colheita do trigo. Cada data de leitura do número de infestantes correspondeu a um determinado estado vegetativo do trigo, sendo a primeira realizada desde as duas folhas expandidas até ao início do afilhamento e a segunda ao espigamento, a que correspondem, respectivamente, os códigos 12 a 20 e 53 a 59 na escala de Zadoks et al. (1974).

Para as contagens de plantas de trigo e de infestantes, caules e espigas de trigo, foram usados pequenos talhões de 0,6 m 2 (seis linhas distanciadas 0,2 m com 0,5 m de comprimento), um por cada subdivisão do talhão principal (5,5 m 2 de área colhida), tendo sido verificada nestes subtalhões, a produção de grão de trigo, bem como a da matéria seca do trigo e das plantas infestantes (peso seco em estufa 65 ºC ± 48 horas). A produção de grão também foi verificada no talhão principal, o peso do grão obtido por contagem e pesagem de 500 grãos e calcularam-se os números de grãos por espiga e por metro quadrado, e o índice de colheita.

Na análise de variância efectuada para três anos (1996/97, 1998/99 e 1999/00), usou-se o teste múltiplo de médias (Duncan Multiple Range Tests) para um nível de probabilidade de 5% (intervalo de confiança de 95%) e, nos quadros apresentados no capítulo seguinte (análise e discussão dos resultados), as letras diferentes indicam valores médios diferentes.

O ano de 1997/98 não foi utilizado na análise de variância, porque foi realizada uma data de sementeira devido à elevada precipitação ocorrida no mês de Novembro de 1997 (Figura 1 (b)).

Para relacionar as características das plantas de trigo (altura e taxa de afilhamento) com a infestação, usaram-se equações de regressão obtidas a partir das verificações referentes à primeira data de sementeira das duas variedades estudadas durante os quatro anos. A opção pela primeira data de sementeira foi devida à maior infestação verificada nessa data relativamente à que foi observada na segunda data de sementeira.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS No Quadro 2, constata-se a existência de diferenças na taxa de afilhamento e na altura das plantas, apesar das duas variedades utilizadas se classificarem como semi-anãs.

Embora a conjugação na mesma variedade do maior afilhamento com plantas mais altas, não ocorra nas que foram estudadas, verifica-se no Quadro 2, que a Sever apresentou um melhor comportamento produtivo, com produções de grão e de matéria seca significativamente superiores. Por sua vez, a altura das plantas foi maior e a infestação de Monocotiledóneas registada ao espigamento do trigo (segunda leitura) foi significativamente mais baixa.

No Quadro 3, constata-se que existiram algumas diferenças na produtividade destas duas variedades. Porém, em 1996/97 e 1999/00 produziram um número de espigas similar e nos anos de 1996/97 e 1998/99 um número de grãos não diferente estatisticamente. Por isso, a Sever expressou um maior potencial produtivo em 1996/97 e 1998/99, principalmente, devido à componente peso do grão.

Aliás, um atributo desta variedade, parece ser a capacidade de suportar situações de stress durante o enchimento do grão, o que lhe permite, nas nossas condições mediterrânicas, apresentar um elevado potencial ao nível desta componente da produção (Dias et al., 1998).

Afilhamento Quando as sementeiras do trigo são realizadas até ao início de Novembro, maior probabilidade de ocorrerem infestações mais elevadas na cultura, sobretudo se ainda não emergiu uma grande proporção da população potencial. Nesta situação, será de extrema importância a capacidade competitiva da variedade de trigo, que dependerá do vigor e do crescimento inicial (Froud-Williams, 1997; Kpropff et al., 1997), de maneira a ocupar o espaço rapidamente (Froud-Williams, 1997).

Isto pode ser conseguido, mais facilmente, nas variedades com maior capacidade de afilhamento (Korres & Froud-Williams, 2002).

De facto, na Figura 3 (a), verifica-se a relação entre os valores médios da taxa de afilhamento e do número de plantas infestantes da classe Monocotiledónea registado nas duas variedades semeadas na primeira data dos quatro anos de ensaio (1996/97 a 1999/00), sem ter sido aplicado um herbicida em pós-emergência.

Também existe uma correlação com a matéria seca das plantas infestantes obtida à colheita do trigo, conforme referem Korres & FroudWilliams (2002), cuja variação tem tendência semelhante embora a qualidade do ajustamento seja menor (Figura 3 (b)).

A partir destas relações e sabendo que as plantas infestantes da classe Monocotiledónea têm uma acção muito negativa sobre o rendimento da cultura (Calado, 2005), também uma correlação com os parâmetros da produção de grão e de matéria seca.

Qualquer dos modelos indicados na Figura 4, dá-nos a imagem gráfica de como o acréscimo da taxa de afilhamento do trigo permitiu obter maiores produções de grão e de biomassa da cultura, quando não se controlaram as infestantes em pós-emergência.

Através da aplicabilidade dos modelos, concluímos que ao aumentar a taxa de afilhamento de 0,3 para 0,6 diminui 41,4 % da população de Monocotiledóneas (-59,1 plantas·m-2), ou seja, passa de 142,8 para 83,7 plantas·m-2 (Figura 3 (a)). Para igual variação da taxa de afilhamento, constata-se na Figura 4, que a produção de grão (a) aumenta 66,6 % (1000,3 a 1666,6 kg·ha-1) e a de matéria seca (b) 33,6 % (3815,8 a 5097,3 kg·ha-1).

Altura das plantas A altura das plantas de trigo é outra característica morfológica, que lhe pode conferir vantagens competitivas perante a flora infestante (Appleby et al., 1976; Christensen et al., 1996; Lemerle et al., 1996b; Cosser et al., 1997; Korres & Froud-Williams, 2002). Nas condições referidas, com a primeira data de sementeira até quinze de Novembro e sem aplicação de herbicida em pós-emergência melhora-se, como também observaram Cosser et al. (1997), a competitividade da cultura.

Assim, com plantas mais altas haverá condições desfavoráveis para o desenvolvimento da infestação (Wicks et al., 1994), podendo diminuir a sua população, sobretudo ao nível da mesma classe e família, conforme se demonstra na Figura 5 (a). Do mesmo modo, a quantidade de matéria seca produzida pelas plantas infestantes, verificada à colheita do trigo, decresce com o aumento da altura das plantas. No entanto, esta relação é significativa para um intervalo de confiança de 90% (Figura 5 (b)).

Apesar da variação da altura das plantas (55 a 80 cm) permitir caracterizá-las como semianãs, a oscilação da sua altura entre 60 e 80 cm está relacionda com o decréscimo acentuado da população de Monocotiledóneas, desde 188,1 a 25 plantas·m-2 (Figura 5 (a)). Por sua vez, a produção de grão cresce de 1125,8 para 2579,1 kg·ha-1 (Figura 6 (a)) e a de biomassa aumenta de 3124,8 para 7040,2 kg·ha-1 (Figura 6 (b)).

As relações apresentadas, são válidas para os tratamentos em estudo, nomeadamente a realização da sementeira do trigo até ao fim da primeira quinzena de Novembro, que permite atingir, geralmente, maior potencial de infestação na cultura, e a não aplicação de herbicida em pós-emergência.

Nas condições referidas e com base nos valores verificados, o acréscimo da taxa de afilhamento e da altura das plantas de trigo relaciona-se com a diminuição do número de infestantes da classe Monocotiledónea e com o aumento da produção de grão da cultura, como se demonstra nas seguintes equações múltiplas.

CONCLUSÕES Os modelos encontrados neste trabalho, demonstram que a taxa de afilhamento e a altura das plantas de trigo variaram inversamente com o número de plantas infestantes da classe Monocotiledónea e directamente com a produção de grão e de biomassa da cultura.

No entanto, a influência de ambas as características, nota-se, fundamentalmente, com elevadas infestações, ou seja, aquelas que são obtidas frequentemente no trigo sem utilizar um meio de controlo químico em pós-emergência e em datas de sementeira no cedo.

Assim, uma variedade com forte capacidade de afilhamento, como é o exemplo do trigo Centauro, que seja caracterizada por maior vigor inicial, de forma a apresentar no final do ciclo vegetativo uma taxa de sobrevivência mais elevada e plantas mais altas, como apresenta a variedade Sever, pode ser competitiva com a flora infestante.

Em suma, as características morfológicas das variedades de trigo, que se relacionam com à capacidade das suas plantas serem competitivas com as infestantes, são assim, auxiliares importantes de um conjunto de técnicas para utilizar na gestão integrada da infestação, de forma a minimizar o impacto e a necessidade de recorrer aos herbicidas aplicados em pós-emergência.

Nesta perspectiva, será necessária a complementaridade disciplinar, sobretudo entre a fitotecnia e o melhoramento de plantas, devendo a selecção de genótipos, como refere Carvalho (1994), direccionar-se também para a capacidade competitiva das plantas da cultura face às infestantes.


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