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EuPTCVAg0871-018X2008000200023

EuPTCVAg0871-018X2008000200023

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0871-018X
ano2008
Issue0002
Article number00023

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Homenagem aos fundadores da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia Homenagem aos fundadores da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia Portuguese Phytopathological Society awards its founding members

Ana Maria Nazaré Pereira 1

Exma. Senhora Presidente da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia, Professora Doutora Isabel Maria de Oliveira Abrantes Exmo. Senhor Director Adjunto da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro, Dr. António Ramos, Exmo. Senhor Presidente do Conselho Directivo da Escola Superior Agrária de Coimbra, Professor Doutor Carlos Dias Pereira, Exmo.

Senhor Presidente do Conselho Cientifico do Departamento de Zoologia da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Professor Doutor Manuel Augusto Graça, Exma. Senhora representante do Instituto do Ambiente e Vida da Universidade de Coimbra, Professora Doutora Paula Morais, Exma. Senhora Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia e responsável pelo Sector de Protecção Vegetal da ESAC, Professora Doutora Maria José Cunha, Exma.

Senhora Presidente da Mesa da Assembleia-geral da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia, Doutora Maria do Céu Machado Lavado da Silva Caros membros fundadores da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia, Dra. Maria de Lourdes Borges e Professora Doutora Maria Susana de Almeida Santos (tenho muita pena que os outros dois sócios fundadores, Doutor Carlos Rodrigues Jr. e Professor Doutor José Ferraz, não possam estar presentes).Caros membros do Congresso da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia (colegas e futuros colegas).

Minhas Senhoras e meus Senhores. Caros amigos.

A Sociedade Portuguesa de Fitopatologia (SPF), criada em escritura a 3 de Outubro de 1995, publicada no Diário da República de 7 de Dezembro de 1995, 282/95, III Série, suplemento, é uma Associação ainda muito jovem.O historial da criação da SPF foi apresentado aos seus sócios, na Reunião da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia, pelo sócio fundador Carlos Rodrigues Jr.

Não vou agora repetir mas apenas resumir do que na altura foi dito e está registado na publicação desse Congresso que se realizou na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em Vila Real (Rodrigues Jr., 1996).

O Doutor Carlos Rodrigues Jr., foi contactado em 1977 pelo Professor Arthur Kelman, Presidente da International Society for Plant Pathology (ISPP), que frisou a existência de mais de 30 Sociedades de Fitopatologia e o interesse em os fitopatologistas portugueses criarem também uma associação de âmbito nacional. Nessa altura existia em Portugal a Sociedade Portuguesa de Fitiatria e de Fitofarmacologia (Moreira, 1980), filiada, desde 1973, na Sociedade de Ciências Agrárias de Portugal mas não filiada na International Society of Plant Pthology.

Em 1982, houve nova insistência da ISPP, junto do Doutor Carlos Rodrigues Jr.

Assim, em finais de 1984 foi, informalmente, criado o Grupo de Trabalho de Fitopatologia, constituído pelos fitopatologistas Maria de Lourdes Borges, Luisete Rijo, José Ferraz, João Martins e Carlos Rodrigues Jr. Este grupo começou logo a preparar o Boletim Informativo com vista à divulgação da fitopatologia entre os seus pares em Portugal. O nº1 desse Boletim saiu em Abril de 1985 e até à formalização da SPF, 10 anos depois, publicaramse 10 números, coordenados pela Dra. Maria de Lourdes Borges.

Em Dezembro de 1989 Carlos Rodrigues Jr. e José Ferraz com o auxílio precioso de mais dois fitopatologistas, Maria Susana Almeida Santos e Emílio Infante Pedroso, organizaram na Estação Agronómica Nacional, em Oeiras, o Encontro de Fitopatologistas Portugueses. Quatro anos depois (em Dezembro de 1993) a mesma comissão organizou o Encontro de Fitopatologistas Portugueses, agora no Departamento de Zoologia da Universidade de Coimbra. Nessa reunião foram aprovados os Estatutos da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia, entretanto elaborados por Carlos Rodrigues Jr., José Ferraz e Susana Almeida Santos.

Era necessário iniciar o intenso processo burocrático inerente à legalização da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia. Foi então pedida a colaboração de um advogado e, atendendo a que ainda não existia financiamento próprio, a Dra.

Maria de Lourdes Borges imediatamente disponibilizou pessoalmente a verba necessária (200 contos - actualmente 1000 Euros) de que foi reembolsada dois anos depois (em 1995) com as receitas das jóias e quotas dos primeiros sócios.

Após a legalização da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia a Comissão instaladora organizou, a 3 de Janeiro de 1996, a eleição dos seus Órgãos Sociais para o biénio 1996-1997, em que eu tive a honra de ser a Presidente de Direcção eleita, e o Professor Doutor Pedro Amaro o Presidente da Assembleia-geral.

Neste muito breve historial é bem evidente o papel preponderante para a nossa Sociedade dos colegas Maria de Lourdes Borges, Susana Almeida Santos, Carlos Rodrigues Jr. e José Ferraz.

E em termos fitopatologistas quem são eles afinal? O que fizeram? E o que estão a fazer? Como estamos em Coimbra, vou começar por:

MARIA SUSANA NEWTON DE AlMEIDA SANTOS Bem conhecida de todos nós como Nematologista. Nasceu em Viseu, em 30 de Novembro de 1935. Licenciou-se em Biologia, na Universidade de Coimbra, em 1957, e em 1970 concluiu o doutoramento em Nematologia na Universidade de Londres (UK) com trabalho desenvolvido na prestigiada Rothamsted Experimental Station sobre Reprodução e comportamento sexual de espécies de Meloidogyne.

Prestou provas de Agregação na Universidade de Coimbra em 1980 e foi Professora Catedrática nessa Universidade de 1982 a 2005, onde leccionava desde a Licenciatura.

Na sua actividade docente foi responsável por várias disciplinas das licenciaturas em Biologia e Geologia e dos mestrados em Ecologia Animal e em Ecologia e Biologia Animal. Como professora nas áreas de Ecologia e de Nematologia orientou vários estágios de investigadores nacionais e estrangeiros, assim como dissertações de mestrado e teses de doutoramento.

Organizou vários cursos avançados de Nematologia e vários workshops.

A actividade científica da Professora Doutora Maria Susana Almeida Santos é de extrema relevância para a Nematologia e está evidenciada em mais de uma centena de publicações, iniciadas em 1960, em revistas científicas principalmente internacionais, mas também nacionais, e em livros e capítulos de livros, para além da participação em congressos nacionais e internacionais.

De salientar o grande contributo para o conhecimento da taxonomia, biologia e ecologia dos nemátodes-das-galhas radiculares (espécies do género Meloidogyne) de que é especialista internacionalmente reconhecida, mas também dos nemátodes- de-quisto da batateira (espécies do género Globodera).

Identificou pela primeira vez em Portugal a espécie G. pallida; trabalhou também nos nemátodes das lesões radiculares (Pratylenchus, spp.) e descreveu três novas espécies de Meloidogyne, duas de Xiphinema e uma de Trichodorus.

Nos mais recentes projectos de investigação a sua atenção incidiu principalmente na utilização de técnicas bioquímicas e moleculares na caracterização e identificação de nemátodes, incluindo também o uso destas técnicas para estudos de virulência de nemátodes-de-quisto.

No âmbito da protecção das culturas contra doenças provocadas por nemátodes coordenou estudos de interacção parasitahospedeiro, controlo biológico e estudos de potenciais efeitos nematodicidas de algumas plantas e extractos de algas, principalmente para nemátodes-das-galhas radiculares.

A Professora Doutora Maria Susana Almeida Santos escreveu, em colaboração com as suas equipas de investigação, (nomeadamente com a nossa Presidente da SPF, Professora Doutora Isabel Abrantes) vários Capítulos de Livro. Destes, eu gostaria de realçar o livro An introduction to virus vector-nematodes and their associated viruses editado em 1997, na sequência de um workshop internacional realizado na Universidade de Coimbra.

Mais recentemente (em 2002) foi também co-autora do livro A manual for research on Verticillium chamydosporium, a potential biological control agent for root-knot nematodes, editado pela IOBC/WPRS (International Organization for Biological and Integrated Control of Noxious Animals and Plants/West Paleartic Regional Section).

Em 2004, iniciou a sua colaboração no grupo de trabalho para a erradicação do nemátode do pinheiro (Bursaphelenchus xylophilus), problema que tão gravemente afecta a economia nacional.

Maria Susana de Almeida Santos foi cofundadora do Instituto para o Ambiente e Vida na Universidade de Coimbra.

Pertenceu à Direcção da Sociedade Europeia de Nematologia durante vários anos e presidiu a essa Sociedade Científica entre 1990 e1992 sendo, consequentemente nesses dois anos, responsável pela Nematology News. Também nessa altura realizou o 21st Symposium of the European Society of Nematologists, no Algarve.

Em 1990 recebeu (em conjunto com Isabel Abrantes) o European Society of Nematology Fellows Award atribuído pela Sociedade Europeia de Nematologia pelo trabalho Effects of temperature on embryogenic development of three populations of Meloidogyne spp..

Recentemente (em 2004) atendendo a toda a sua carreira docente e de investigação e ao seu empenho na Sociedade Europeia de Nematologia, foi eleita Fellow of the ESN (European Society of Nematology), apadrinhada por dois famosos nematologistas, Franco Lamberti do Instituto per la Protezione delle Piante, em Bari (Itália) e Ken Evans de Rothamsted Research, em Harpenden (UK), para além dos Professores portugueses Isabel Abrantes (Universidade de Coimbra), Maria Teresa Almeida (Universidade do Minho) e Maria José Cunha (Escola Superior Agrária de Coimbra).

A Prof. Doutora Maria Susana Almeida Santos aposentou-se em 2005 mas, felizmente continua com a sua intensa actividade de nematologista, mantendo a sua colaboração nas equipas de investigação que coordenava.

MARIA DE LOURDES VIEIRA BORGES Estamos habituados a referenciá-la como Virologista Vegetal mas a sua actividade profissional foi muito mais abrangente! O seu percurso fitopatológico foi alvo de duas homenagens publicadas. A primeira, por Pedro Amaro, em 1994, na Revista de Ciências Agrárias e, muito recentemente (o livro tem a data de publicação de 2008) os colegas Constantino Sequeira, Pedro Amaro e Kurt Gegenhuber escreveram um capítulo sobre Maria de Lourdes Borges no livro Pioneering Women in Plant Pathology publicado pela American Phytopathological Society.

Maria de Lourdes Borges nasceu em Lisboa, a 24 de Junho de 1916. Concluiu em 1940 a licenciatura em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Iniciou a sua carreira profissional dando aulas no ensino secundário (admito que aulas de Biologia) e simultaneamente trabalhando como fitopatologista na Estação Agronómica Nacional ( que funcionou inicialmente no Mosteiro dos Jerónimos e depois em Sacavém). , Maria de Lourdes Borges, trabalhou em micologia, sob orientação do Professor Branquinho d'Oliveira, e em virologia, sob orientação da Dr.ª Maria de Lourdes d' Oliveira.

As suas primeiras publicações, em 1941, foram sobre myxomycetales. No entanto, desde 1944, publicou fundamentalmente sobre a sua investigação em vírus de plantas hortícolas, forrageiras e ornamentais.

Em 1958, após um estágio de 6 meses na Universidade de Brunswick (Alemanha), como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, montou o Laboratório de Virologia e Serologia na Estação Agronómica Nacional. Iniciou em Portugal a produção de antissoros para o Vírus X da batateira (PVX) e para o Vírus Y da batateira (PVY) utilizados no programa de selecção de batata-semente, que passou imediatamente a ser implementado em Portugal Continental e nos Açores.

Mais tarde foi, durante vários anos, orientadora científica da Estação de Quarentena da Repartição dos Serviços Fitopatológicos, na Quinta do Marquês, em Oeiras.

Muito do seu trabalho incidiu também em estudos de microscopia electrónica de transmissão, realizados primeiro na Faculdade de Medicina em Lisboa e depois na Fundação Calouste Gulbenkian, em Oeiras. São várias as suas publicações sobre a morfologia e os efeitos dos vírus na ultraestrutura das células vegetais. Aliás foi, em 1966, também uma das sócias fundadoras da Sociedade Portuguesa de Microscopia Electrónica.

Na década de 60 (do séc. passado....) publicou a etiologia do mal azul do tomateiro, ajudando a identificar um novo tipo de agente fitopatogénico, na altura designados micoplasmas, e que actualmente conhecemos como fitoplasmas.

Integrou, em 1975, o Grupo de Trabalho para implementação da beterraba sacarina em Portugal e consequentemente supervisionou vários estudos sobre as doenças desta cultura.

Como especialista em virologia vegetal são muitos os trabalhos de investigação sobre vírus de Solanaceae, Leguminosae e Cucurbitaceae, envolvendo identificação, purificação, processo de transmissão, etc. Muitas das suas publicações são em co-autoria com os colegas Doutor José Constantino Sequeira e Doutora Diamantina Louro que integraram a sua equipa durante vários anos.

Depois, nos anos 80, evidenciou outra faceta da sua actividade, sendo a pioneira em Portugal na divulgação da solarização do solo, técnica que como sabem se iniciou em 1980, em Israel com o Prof. J. Katan. Lembro-me do Simpósio sobre solarização do solo organizado pela Dr.ª Maria de Lourdes na Estação Agronómica Nacional e do seu enorme entusiasmo em mostrar os efeitos da pasteurização do solo e as grandes vantagens desta técnica para a protecção integrada das culturas.

Maria de Lourdes Borges, apesar de seguir a carreira de investigação foi também, por vários anos, docente de Virologia quer em licenciaturas quer em mestrados, principal-mente no Instituto Superior de Agronomia e na Faculdade de Ciências, em Lisboa mas também noutras Universidades, nomeadamente Porto, Açores, Angola e Moçambique e orientou vários estágios finais de curso e trabalhos de pós-graduação. Não posso esquecer também toda a orientação que me deu em 1977 durante um mês que passei no Departamento de Fitopatologia da EAN, logo que acabei a licenciatura e antes de iniciar funções de Assistente estagiária no então Instituto Politécnico de Vila Real.

Embora se tenha aposentado em 1986, por ter atingido o limite de idade, Maria de Lourdes Borges continuou a trabalhar e a publicar para a fitopatologia.

Saliento apenas a sua mais recente publicação, o livro que saiu em 2005 sobre Vírus, Viróides e Doenças de Plantas, publicação que nos a listagem exaustiva destes agentes patogénicos quer a nível mundial quer os identificados em Portugal. ( a título de curiosidade lembro-me das saudáveis discussões que as duas tivemos sobre como escrever os acrónimos dos vírus e não consegui implementar a minha opinião!).

Passamos agora aos nossos Homens fitopatologistas:

CARIOS JOSÉ RODRIGUES JR.

Quando falamos de Carlos Rodrigues Jr. lembramo-nos logo do Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC), em Oeiras, importante Centro de investigação de fitopatologia e também a Sede oficial da nos-sa Sociedade Portuguesa de Fitopatologia.

Carlos Rodrigues Jr. nasceu a 28 de Julho de 1927, na Parede, e formou-se no Instituto Superior de Agronomia, em Engenharia Agronómica ' especialidade de fitopatologia, em 1952. O trabalho final de licenciatura sobre raças fisiológicas de Uromyces appendiculatus, foi realizado no Departamento de Fitopatologia da Estação Agronómica Nacional, sob orientação do Professor Branquinho d'Oliveira.

Continuou depois a trabalhar sob orientação do Prof. Branquinho d' Oliveira e em 1955 foi co-fundador, com este Professor, do Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro ' CIFC (Centro formado por acordo entre os Governos de Portugal e dos EUA). Nos cinco anos seguintes os trabalhos de investigação nas ferrugens do cafeeiro desenvolvidos por Carlos Rodrigues Jr. levaram à diferenciação de 11 raças fisiológicas de Hemileia vastatrix (a ferrugem alaranjada do cafeeiro) e à caracterização de 10 grupos fisiológicos do cafeeiro, trabalhos que em muito contribuíram para o nível internacional adquirido pelo CIFC.

Também se deve a Carlos Rodrigues Jr. a descoberta do cafeeiro Híbrido de Timor e a sua caracterização como progenitor resistente à ferrugem, originando vários híbridos e novas variedades de cafeeiro como por exemplo Catimor e Sarchimor.

Continuou a trabalhar nas ferrugens do cafeeiro, nomeadamente com uma missão de serviço de 3 meses em 1958, em S. Tomé e Príncipe. Mas, de 1961 a 1964, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, foi para a Universidade de Wisconsin (EUA) onde obteve, em 1965, o doutoramento (PhD) em Patologia Vegetal, com a tese Physiological studies on the American leaf spot of coffee and its causal agent Mycena citricolor: I. Metabolic studies on the leaf spot on M. citricolor. II. Effect of light on gemmae formation in M. citricolor. Iniciou assim a sua investigação nos estudos fisiológicos parasita-hospedeiro que veio depois a continuar no Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro.

Novamente como bolseiro da FCG estagiou, em 1969, no Departamento de Patologia Vegetal da Universidade de East Anglia, Norwich (UK) trabalhando em fitalexinas resultantes da interacção ferrugem-cafeeiro.

Os seus trabalhos incidiram igualmente sobre outros fungos do cafeeiro, nomeadamente os causadores da antracnose dos frutos (Colletotrichum coffeanum e C. kahawae), com o objectivo de detecção de variedades de cafeeiro resistentes a esta doença. Ainda no género Colletotrichum trabalhou também na antracnose do cajueiro (C. gloeosporioides).

De 1989 a 1999 foi investigador responsável por vários projectos financiados pelo Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT) e pela UE, tendo como parceiros equipas de vários países europeus (nomeadamente, França, Itália, Espanha e Reino Unido) e também da Índia, Malawi, Camarões, Quénia, Costa Rica, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Brasil e Marrocos.

Ao longo da sua carreira científica Carlos Rodrigues Jr. publicou, entre 1955 e 2006, mais de uma centena de trabalhos em revistas e Actas de Congressos internacionais e nacionais.

Podemos dizer que o Doutor Carlos Rodrigues Jr. é o cientista das interacções parasita-hospedeiro. Foi aliás para esse tema que eu lhe pedi para leccionar algumas aulas na disciplina de Protecção de Plantas Complementar do mestrado em Melhoramento e Recursos Genéticos na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, tarefa que desempenhou nas quatro edições do mestrado em 1995, 1996, 2000 e 2003. Também tinha sido, em 1979, Professor-visitante na Universidade de Paris-Sul, Orsany, França.

Ao longo da sua muito profícua carreira científica, para além da participação em Congressos e outras reuniões científicas, nacionais e internacionais, foi várias vezes orador convidado em Portugal, Espanha, Alemanha, E.U.A., Japão, Togo, Colômbia, Costa Rica e México. Desempenhou ainda funções como consultor da FAO e de Governos de vários países tendo-se para isso deslocado em várias missões, a Papua-Nova-Guiné, Cuba, Sri-Lanka, Etiópia, Guatemala, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Costa Rica e Cabo Verde.

Atendendo à sua experiência com a cultura do cafeeiro foi também convidado para visitas de campo pela Academia Chinesa de Ciências de Agricultura Tropical, participou com colegas franceses em missão na Tanzânia financiada pela CEE e em missão da AID (Agência dos Estados Unidos da América para o Desenvolvimento Internacional) no Norte da Tailândia ( com o objectivo de nessa zona a cultura do ópio ser substituída pela do cafeeiro); participou também em Londres como representante do IICT (Instituto de Investigação Cientifica Tropical) na Assembleia Constituinte do RECA ' Reseau de Recherche Cafeière en Afrique.

Desenvolvendo a sua actividade sempre ligado ao Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro, foi seu sub-Director entre 1973 e 1979 e depois Director até 2004, quando se aposentou.

Por ultimo, mas não menos relevante para a Sociedade Portuguesa de Fitopatologia:

JOSÉ FERREIRA PEREIRA FERRAZ O nosso investigador das doenças radiculares! (se assim me é permitido dizer ), nasceu a 24 de Setembro de 1937, em Marco de Canaveses.

Licenciou-se em 1968 em Engenharia Agronómica ' especialidade de Fitopatologia, com um trabalho final de licenciatura desenvolvido durante quatro anos no Departamento de Fitopatologia da Estação Agronómica Nacional sob orientação científica do Professor Branquinho d'Oliveira e co-orientação dos Investigadores Doutores Carlos Rodrigues Jr., Maria Teresa Lucas e Manuel Bravo Lima (parece-me mais uma tese de doutoramento!... até porque na altura o Relatório final de licenciatura era defendido oralmente perante um júri). O tema incidiu sobre o estudo cultural, fisiológico, taxonómico e patogénico de fungos dos géneros Colletotrichum e Gloeosporium. Este estudo aplica pela primeira vez em Portugal métodos de taxonomia numérica na classificação de espécies dos géneros trabalhados.

Estando desde 1965 no Departamento de Fitopatologia da Estação Agronómica Nacional como Tirocinante em regime de tarefa, ingressa em 1968 no Quadro da EAN e inicia o estudo sobre doenças radiculares, tema que nunca fora trabalhado. Como não havia especialistas deste tema na EAN vai, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, para a Universidade de Cambridge (UK) onde frequenta vários cursos de especialização de fitopatologia e onde, sob orientação científica do Professor S.D. Garrett, realiza trabalho de investigação na área das doenças radiculares causadas por fungos do solo.

Com o trabalho realizado defendeu, em 1972, na Universidade de Cambridge a tese de doutoramento (PhD) em Biologia intitulada Effects of soil conditions and cultivation pratices on the activity of pathogenic root-infecting fungi.

Regressa à Estação Agronómica Nacional onde de imediato começa a preparar a instalação de um Laboratório de Doenças Radiculares.

Em 1973, por solicitação da Estação Nacional de Fruticultura, analisa pomares de pomoídeas na Região do Oeste onde um grave problema fitopatológico (a podridão das raízes causada por Rosellinia necatrix) tinha levado à morte de milhares de macieiras e pereiras. Apresenta então uma proposta de investigação para estudo das condições que levam ao aparecimento desta doença e das medidas de protecção.

No ano seguinte (1974) prepara idêntico projecto mas para outra importante doença radicular, Armillaria mellea em cacaueiro, no Arquipélago de S. Tomé e Príncipe. No entanto, com a independência deste novo País, o projecto foi suspenso. Ainda em 1974, desloca-se em missão oficial a Angola, devido a problemas da morte súbita do cafeeiro e do declínio da macieira.

Durante 6 meses em 1978, e mais 3 meses em 1979, a convite do Doutor B.G.

Lewis, trabalha como investigador convidado na School of Biological Sciences da Universidade de East Anglia, Norwich (UK). prossegue a investigação sobre R. necatrix e determina a susceptibilidade de porta-enxertos de macieira fornecidos por East Malling Research Station.

Entre 1979 e 1982, como investigador do Quadro do INIA, José Ferraz estuda outros problemas fitopatológicos com origem provável em fungos do solo, nomeadamente doenças radiculares em explorações de lúpulo nas Regiões de Entre- Douro e Minho e do Nordeste Transmontano e a doença da murchidão vascular na cultura do melão no Ribatejo. A gravidade do problema causado por Fusarium oxysporum f.sp. melonis originou novo projecto de investigação e consequentemente o alargamento da actividade do Laboratório de Doenças Radiculares da EAN.

Ainda em 1982 começa também o seu interesse por doenças radiculares de espécies florestais ao acompanhar o Doutor J. Rishbeth da Universidade de Cambridge (UK) em prospecções com vista à obtenção de isolamentos de Armillaria spp. em árvores com sintomas de declínio no Centro e Sul de Portugal.

Em 1987 surge novo problema fitopatológico, agora causado por Fusarium oxysporum f. sp. cubense na cultura da bananeira na Ilha da Madeira. Inicia assim novo projecto de investigação para determinação da raça ou raças existentes no Arquipélago e estudo dos meios de protecção da cultura.

Desloca-se por várias vezes, entre 1988 e 1990 à Guiné-Bissau, como consultor do projecto Food Crop Protection for Guiné-Bissau, financiado pela Agência dos Estados Unidos da América para o Desenvolvimento Internacional (AID), e depois, entre 1991 e 1994, como co-responsável do projecto Produção de batata de semente na Guiné-Bissau financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Em 1990 é convidado pela Universidade do Algarve para estudar povoamentos de sobreiro com declínio em que o quadro sintomatológico e os isolamentos de Phytophthora cinnamomi indiciavam a presença de uma doença com origem no solo.

Em 1991 suspende as funções na Estação Agronómica Nacional e toma posse como Professor Catedrático convidado na Universidade do Algarve.

De 1991 a 1998, a par da actividade docente, prossegue a investigação científica no âmbito das doenças radiculares. O tema do declínio do sobreiro no Alentejo e Algarve é preponderante e o Doutor José Ferraz mantém colaboração com outros cientistas de renome internacional nomeadamente com o Doutor K.

Sivasathawparam, professor de Fitopatologia da Universidade da Austrália Ocidental (Perth), com o Doutor C.M. Brasier, investigador da Forest Research Station (Survey, UK) e especialista em genética do género Phytophthora e com Richard S. Hurt do Pacific Forestry Centre (Victoria, Canadá).

Foi responsável científico por projectos sobre Phytophthora cinnamomi, no âmbito de Programas financiados pela UE, pela NATO e pelo INTERREG. Os trabalhos desenvolvidos encontram-se publicados em revistas internacionais e nacionais e Actas de Congressos internacionais e nacionais.

Em 26 de Novembro de 2004 entrega ao Presidente da República, numa visita deste à Universidade do Algarve, a Síntese da situação actual da investigação relacionada com o declínio do sobreiro e da azinheira que vinha sendo feita na Universidade do Algarve em colaboração com outra Instituições nacionais e internacionais.

A actividade docente do Professor Doutor José Ferraz iniciou-se logo em 1974 no Instituto Superior de Agronomia onde, a convite do Professor Raul Cabral, ministra aulas na disciplina de Patologia Vegetal sobre doenças radiculares causadas por fungos. Também nesse ano lecciona o mesmo tema na Faculdade de Agronomia e Silvicultura da Universidade de Luanda.

Ainda em 1974 lecciona as aulas práticas de um Curso de actualização de métodos de estudo das doenças radiculares causadas por fungos, que organizou em conjunto com o Prof. Garrett, na Estação Agronómica Nacional.

Não devo além disso esquecer que em 1977, durante o mês que passei no Departamento de Fitopatologia da EAN antes de iniciar funções de Assistente estagiária no então Instituto Politécnico de Vila Real, preparei o programa da disciplina de Protecção de Plantas com o Doutor José Ferraz (aliás, na altura, eu pensava que seria responsável pelas aulas praticas dessa disciplina no IPVR e que o Doutor Ferraz seria o responsável pelas aulas teóricas ). Fiquei responsável por toda a disciplina mas o apoio dado na altura pelos dois investigadores da EAN, Maria de Lourdes Borges e José Ferraz, foi fundamental.

Em 1979, a convite do Instituto Gulbenkian de Ciência organiza e lecciona com o Doutor B.G. Lewis (da Universidade de East Anglia, Norwich, UK), a disciplina Fungos de interesse industrial do Curso de Pós-graduação em Engenharia Biológica organizado pelo Instituto Gulbenkian de Ciência e Universidade Nova de Lisboa.

Entre 1985 e 1991 proferiu várias lições por convite no Instituto Superior de Agronomia, na Escola Superior Agrária de Santarém e na Universidade de Santiago de Compostela. Na Universidade do Algarve leccionou fundamentalmente Fitopatologia e Microbiologia na Licenciatura em Engenharia Hortofrutícola e foi orientador científico de estágios de licenciatura, provas de acesso à carreira de investigação, dissertação de mestrado e teses de doutoramento.

Desde 1994 e até à aposentação desempenhou também funções de administração académica na Universidade do Algarve. Assim, foi Coordenador Científico da Área de Protecção de Plantas, Presidente do Conselho Científico da Unidade de Ciência e Tecnologia Agrária e depois, nos últimos oito anos, Vice-Reitor da Universidade do Algarve.

Caros amigos Depois do muito breve historial destes quatro fitopatologistas, considero que a Sociedade Portuguesa de Fitopatologia, tem entre os seus membros individualidades importantes para a fitopatologia mundial que merecem ser reconhecidos nesta singela homenagem. É portanto da maior oportunidade a iniciativa da actual Direcção da nossa Sociedade de, a iniciar este Congresso da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia, homenagear os seus fundadores.


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