Efeito do controle do sob coberto e da fertilização no crescimento e
concentração de nutrientes em pinheiro bravo (Pinus pinaster Ait.)
INTRODUÇÃO
O pinheiro bravo é a segunda espécie dominante em Portugal, ocupando cerca de
23% da área florestal (DGF, 2007). Em geral, os pinhais estão instalados em
solos com baixo nível de fertilidade e, apesar do pinheiro ser uma espécie
relativamente bem adaptada a esse tipo de solos há, no entanto, estudos que
demonstram que a adição de fertilizantes, principalmente os que contêm azoto
(N), fósforo (P) e potássio (K), tem efeitos positivos no seu crescimento. Em
Portugal, as primeiras experiências acerca da fertilização do pinheiro bravo
começaram com o estabelecimento de ensaios na Mata Nacional de Leiria e na Mata
da Machada, em que se estudou a resposta desta espécie à adição de N, P e K
(Oliveira, 1959). Dos nutrientes estudados, o P foi o que teve efeitos mais
acentuados nos acréscimos de diâmetro, altura e volume. Chaperon (1986) refere
também que o N e o K, quando aplicados individualmente, têm menor efeito que o
P no aumento do volume lenhoso do pinheiro bravo embora os melhores resultados
se obtenham, usualmente, quando os três nutrientes são aplicados
conjuntamente. No vale do Tâmega, Marques (1987) e Alves (1998) indicam que os
nutrientes melhor correlacionados com a qualidade das estações de pinheiro
bravo foram o K, o P e o magnésio (Mg).
Os melhores resultados da fertilização obtêm-se, contudo, se outros factores
não forem limitantes. Assim, entre outros factores, o acréscimo no crescimento
está muito dependente do controle da vegetação do sob coberto (McColl &
Powers, 1984; Powers & Reynolds, 1999; Rose & Ketchum, 2002; Albaugh et
al., 2003). Apesar de ser uma prática cultural ainda pouco usada pela maior
parte dos produtores florestais, a sua utilização terá que aumentar não só
porque diminui a competição pela luz, água e nutrientes (Powers & Reynolds,
1999; Rose & Ketchum, 2002; Albaugh et al., 2003), mas também porque
contribui para diminuir a vulnerabilidade dos povoamentos aos fogos florestais
(Savill et al., 1997; Fernandes et al., 2004). O controlo desta vegetação
deverá de ser efectuado através de técnicas adequadas quer sob o ponto de vista
económico quer sob o ponto de vista ambiental. As mais preconizadas passam pelo
destroçamento no local ou a possível remoção para centrais de biomassa.
Assim, e atendendo à exiguidade de dados experimentais que permitam também
determinar o interesse da fertilização juntamente com o do controle da
vegetação do sob coberto no crescimento de pinheiro bravo, em 2002 instalaram-
se parcelas experimentais num pinhal onde se testaram cinco tratamentos:
testemunha (T); corte e remoção da vegetação do sob coberto (CR); corte,
remoção da vegetação e aplicação de N, P e K (CRF); corte e destroçamento da
vegetação (CD); corte, destroçamento da vegetação e aplicação de N, P e K
(CDF).
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo decorreu de Julho de 2002 a Fevereiro de 2007, num pinhal instalado
em 1996 em Sameice, Seia (38º 48´ N, 23º 20´ O; altitude -450 m). O compasso de
plantação deste pinhal foi 3 X 2,5m, o que corresponde a uma densidade de 1333
árvores por hectare.
Na área onde foi instalado o sistema experimental, a temperatura média anual é
de 10º C e a precipitação média anual é de 1100 mm. Os solos são Cambissolos
húmicos derivados de xistos, com textura franco arenosa. Outras propriedades do
solo no início do estudo apresentam-se no Quadro 1. Os métodos laboratoriais
utilizados na análise das terras encontram-se descritos em Xavier (2008).
Quadro 1. Propriedades químicas do solo determinadas antes da instalação das
parcelas experimentais (Abril, 2002)
O sistema experimental incluiu cinco tratamentos: testemunha (T); corte e
remoção da vegetação do sob coberto (CR), que é o sistema usado
tradicionalmente na zona de estudo; corte, remoção da vegetação e aplicação de
N, P e K (CRF); corte e destroçamento da vegetação (CD); corte, destroçamento
da vegetação e aplicação de N, P e K (CDF). O corte da vegetação do sob coberto
efectuou-se com motoroçadora em Julho de 2002 e os nutrientes foram adicionados
em Setembro desse ano. O azoto foi aplicado localizadamente, 20 g de N por
árvore (27 kg de N ha-1), sob a forma de adubo azotado elementar, (Nitrolusal
20,5 %) enquanto que o P e o K foram distribuídos a lanço, 200 kg ha-1de P2O5e
K2O (88 kgP e166 kgK), soba forma de um adubo composto binário 0:20:20. Na
mesma altura, dado as árvores apresentarem concentrações baixas de Mg
aplicaramse, em todos os tratamentos, 300 g sulfato de magnésio 16% de MgO a
cada árvore.
Os tratamentos foram aplicados em blocos casualisados com três repetições. A
área média das 15 parcelas experimentais é de 782 m2e o número médio de árvores
por parcela é de 115.
Os parâmetros dendrométricos avaliados foram a altura (h), medida com vara
telescópica até 2006 e depois com um Vertex, o diâmetro a 20 cm (d20) e o
diâmetro à altura do peito (d), medidos com uma suta, a área basal (g) e o
volume (v). A medição da h, do d20 e do d foi efectuada na altura da instalação
dos tratamentos (Julho de 2002) em Março de 2003, em Janeiro de 2004 e em
Fevereiro de 2006 e de 2007. Apesar de se terem medido todas as árvores das
parcelas, na análise estatística dos dados apenas se consideraram as medições
efectuadas nas árvores que estavam no interior das parcelas (deixaram-se duas
linhas de bordadura entre os diferentes tratamentos) e, destas, eliminaram-se
todas as que estavam atacadas por torcedora e/ou processionária e as árvores
tortas. Assim, em média, a tratamento estatístico efectuou-se com base em
medições efectuadas em 60 árvores por parcela.
Em Outubro de 2003 e em Janeiro de 2006 recolheram-se amostras de solo às
profundidades de 0-20 cm e de 20-40 cm. Em Dezembro de 2002, 2003 e 2006, em
cerca de 20 árvores de cada uma das parcelas, procedeu-se à recolha de agulhas,
do terço superior da copa, para análise foliar. As amostras foram secas a 60º
C, moídas e analisadas para determinação do N, P e K. Os métodos utilizados mas
determinações efectuadas quer na análise de solo quer na análise de plantas
encontram-se descritos em Xavier (2008).
Dado que a altura e o diâmetro inicial das árvores não eram uniformes, a
análise estatística efectuou-se com base nos acréscimos verificados em altura
(ih), em diâmetro (id e id20), área basal (ig) e volume (iv), tendo-se
utilizado o programa JMP5. O método de Tukey HSD (p <0,05) foi o teste usado
para a comparação das médias. O tratamento estatístico dos resultados das
propriedades químicas do solo e da concentração em nutrientes das agulhas
efectuou-se também com base nestes programas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Analisando os dados correspondentes à altura das árvores (Quadro 2),
verificamos que os acréscimos ocorridos no tratamento CDF foram superiores (p
<0,05) aos dos outros tratamentos. Os menores (p <0,05) acréscimos ocorreram na
Testemunha até 2004. Em 2005, a altura média das árvores da Testemunha
ultrapassou a altura da vegetação do sob coberto, pelo que nas medições
efectuadas em Janeiro de 2006 já se notam os efeitos da menor competição e a
partir dessa altura os acréscimos foram superiores (p <0,05) aos do tratamento
CR e semelhante aos ocorrido nos outros tratamentos. Genericamente não
existiram diferenças significativas entre os tratamentos CRF e CD.
Quadro 2. Altura inicial (2002), acréscimos anuais e cumulativos
Martin & Jokela (2004), num ensaio onde testaram a influência da
fertilização e do controlo químico de matos (separadamente e em conjunto) no
crescimento de Pinus tadeatambém obtiveram os melhores resultados quando
efectuaram o tratamento combinado da fertilização e do controlo de matos,
seguido da fertilização, do controlo de matos e por fim da testemunha. Cain
(1999) ao comparar o controlo só de invasoras lenhosas, só de herbáceas ou a
remoção total de ambas, verificou que não havia diferenças significativas
durante os primeiros cinco anos no crescimento de pináceas quando era realizado
apenas o controlo de vegetação herbácea ou da lenhosa. Mas, quando se procedia
à remoção de ambas (herbáceas e lenhosas) havia, logo a partir do segundo ano,
diferenças significativas.
Em todos os tratamentos, os acréscimos em altura obtidos no 1º ano do estudo
foram muito reduzidos (Quadro 2). Tal pode dever-se ao facto das primeiras
medições terem sido efectuadas em Julho, época em que já ocorreu a maior parte
do crescimento em altura. De acordo com Kramer & Koslowsky (1972), mesmo em
condições climáticas favoráveis, o crescimento anual em altura pode completar-
se logo no início da estação de crescimento. O mesmo já não se passa em relação
ao diâmetro (Quadros 3 e 4).
Quadro 3. Diâmetro na base inicial (2002), acréscimos anuais e cumulativos
Quadro 4. Diâmetro altura do peito inicial (2002), acréscimos anuais e
cumulativos
O engrossamento inicia-se mais tarde e continua durante mais tempo que o
crescimento em altura (Kramer & Koslowsky, 1972).
Em relação ao diâmetro na base (Quadro 3), verificamos que os acréscimos
ocorridos no tratamento CDF foram superiores (p<0,05) aos dos outros
tratamentos. Os menores (p <0,05) acréscimos ocorreram na Testemunha até 2004.
Em 2006 e 2007 os acréscimos no tratamento CR foram já inferiores aos da
Testemunha, embora sem diferenças significativas. Genericamente não existiram
diferenças significativas entre os tratamentos CRF e CD.
No caso do diâmetro à altura do peito, os maiores (p <0,05) acréscimos também
se verificaram no tratamento CDF e os menores no tratamento CR (Quadro 4).
Borders et al.(2004), em povoamentos de Pinus taedacom 15 anos, também
verificaram que os maiores acréscimos em diâmetro à altura do peito ocorreram
no tratamento combinado de fertilização e controlo de matos.
Miller et al.(1991), referem que, em geral, os diâmetros respondem melhor à
diminuição da competição do que a altura. Esta pode mesmo ser maior como
consequência da competição com os matos visto que compete directamente pela
luz.
Em relação à área basal (Quadro 5), verificamos que no ano seguinte à
instalação do sistema experimental, os tratamentos CD e CDF apresentavam
diferenças significativas relativamente aos restantes tratamentos. A partir de
2006 os acréscimos em área basal da Testemunha ultrapassam os do tratamento CR
(p <0,05) e, não apresentavam diferenças significativas dos tratamentos CRF e
CD. Em geral, os acréscimos ocorridos no tratamento CDF foram superiores (p
<0,05) aos dos outros tratamentos. Não existiram diferenças significativas
entre os tratamentos CRF e CD nem entre a testemunha e o CR.
Quadro 5. Área basal inicial (2002), acréscimos anuais e cumulativos
Em relação à área basal (Quadro 5), verificamos que, em geral, os maiores
acréscimos ocorreram nos tratamentos CDF e os menores na Testemunha e no
tratamento CR. Como o acréscimo em área basal depende do acréscimo em diâmetro,
o acréscimo em área basal atinge sempre o seu máximo mais tarde que o acréscimo
em diâmetro (Assmann, 1970). Martin & Jokela (2004) obtiveram também os
maiores acréscimos em área basal no tratamento combinado da fertilização e
controlo de matos, seguido do tratamento fertilização, controlo de matos e por
fim a testemunha.
Tal como aconteceu com os parâmetros dendrométricos anteriores, os acréscimos
em volume foram maiores no tratamento CDF e menores no tratamento CR (Quadro
6). Em relação ao efeito no volume do método de controlo da vegetação do sob
coberto, remoção do local ou destroçamento, ocorreram diferenças significativas
sendo o método do corte e destroçamento o que apresentou melhores resultados. O
destroçamento da vegetação do sob coberto, além de diminuir em grande escala a
regeneração da vegetação, evita a exportação dos nutrientes contidos nessas
plantas e, a mais ou menos curto prazo, dependendo da velocidade de
mineralização dos resíduos, a quantidade de elementos nutritivos disponíveis
para as plantas tenderá a aumentar. A mineralização dos resíduos poderá ser
mais ou menos rápida dependendo, entre outros factores, do tipo de infestante,
nomeadamente se é herbácea ou lenhosa, e da sua quantidade (Tisdale et al.,
1986).
Em estudos em que se examinaram isoladamente os efeitos da fertilização e do
controlo da vegetação do sob coberto, verificou-se que o efeito da fertilização
no crescimento só ultrapassou o do controle da vegetação quando o teor de água
do solo não era limitante, mesmo em solos com baixa fertilidade (Powers &
Reynolds, 1999; Rose & Ketchum, 2002). Quando a água não era factor
limitante, qualquer um dos tratamentos deu bons resultados, embora se
obtivessem maiores respostas quando os dois tratamentos eram aplicados
conjuntamente (Powers & Reynolds, 1999; Albaugh et al.,2003; Borders et
al.,2004).
Quadro 6. Volume inicial (2002), acréscimos anuais e cumulativos
Os resultados das propriedades químicas dos primeiros 20 cm de solo
determinadas em 2003 e em 2006 apresentam-se no Quadro 7. Em 2003, a quantidade
de P2O5 e K2O, nos primeiros 20 cm de solo, aumentou (p <0,05) com a adição dos
adubos (tratamentos CDF e CRF). Em 2006, apesar das quantidades destes
elementos serem ainda superiores, a diferença já não era significativa.
Quadro 7. Propriedades químicas do solo determinadas após a instalação dos
tratamentos
O destroçamento da vegetação do sob coberto pode aumentar a quantidade de
nutrientes disponíveis para a planta. Neste estudo, contudo, o eventual aumento
da disponibilidade em nutrientes não se reflectiu nos resultados da análise de
terra. Tal pode dever-se ao facto das espécies dominantes no sob coberto, serem
do tipo lenhoso. No pinhal em estudo, as espécies vegetação do sob coberto
dominantes eram do tipo lenhoso, tojo (Ulex minorRoth.) e urze roxa (Calluna
vulgaris(L.) Hull) sendo, assim, a sua mineralização menos rápida que a de
vegetação herbácea do sob coberto.
No Quadro 8 apresentam-se as concentrações em nutrientes nas agulhas colhidas
em 2002, 2003 e 2006. No ano da aplicação dos tratamentos, 2002, observou-se
que os teores de N das agulhas das árvores dos tratamentos CDF e CRF foram
significativamente superiores aos dos outros tratamentos. Em 2003 foram ainda
superiores, mas a diferença já não foi significativa. Em 2006, a concentração
de N foi semelhante em todos os tratamentos. Os teores de P e K, não
apresentaram diferenças significativas entre os vários tratamentos, apesar de,
em 2002 e 2003, as concentrações serem maiores nos tratamentos onde estes
nutrientes foram aplicados.
Quadro 8. Concentração de N, P e K nas agulhas.
Uma vez que não foi realizado nenhum tipo de controlo da vegetação do sob
coberto após a instalação do sistema experimental, é provável que parte dos
nutrientes adicionados ao solo, tenham sido absorvidos pela vegetação que
entretanto se desenvolveu.
CONCLUSÕES
Com base nestes seis anos de recolha de informação podemos concluir que o
tratamento CR, que é o sistema usado tradicionalmente na zona de estudo,
conduziu aos menores crescimentos. Os melhores (p <0,05) resultados foram
obtidos tratamento CDF. Em geral, não se verificaram diferenças significativas
entre os tratamentos CD e CRF. Os resultados indicam, assim, que a remoção da
vegetação do sob coberto, para por exemplo ser utilizada em centrais de
biomassa, deverá ser considerada apenas se forem adicionados fertilizantes
(tratamento CRF) a fim de se evitarem efeitos negativos no crescimento.