Ensaios com cultivares de colza de inverno, doses de azoto e profundidades de
sementeira em Trás-os-Montes
INTRODUÇÃO
A produção mundial de colza mais que duplicou nos últimos 20 anos. A informação
disponibilizada pela FAO (2010) refere uma produção próxima de 22 x 106 t em
1988 e 51 x 106 t em 2007. O forte aumento da produção de colza deve-se à
melhoria progressiva da qualidade do óleo para fins alimentares e dos bagaços
para alimentação animal e, recentemente, ao facto da colza estar a ser
promovida em todo o mundo como cultura energética, devido às qualidades do óleo
para produção de biodiesel (Körbitz, 1995). Atendendo à importância que vem
sendo dada às energias renováveis é de esperar que a importância da colza
continue a aumentar a uma escala global.
As variedades de colza cultivadas actualmente incluem-se maioritariamente na
espécie Brassica napus L.. Na parte Oeste do Canadá cultivam-se variedades
pertencentes à espécie Brassica rapa L. particularmente tolerantes ao frio
(Kimber & McGregor, 1995). Na Finlândia, B. rapa é também a espécie
dominante (Peltonen-Sainio et al., 2009). Algumas variedades da espécie B. rapa
cultivadas no Canadá são designadas de Canola (Canadian oil, low acid) por
apresentarem teores reduzidos de ácido erúcico no óleo e de glucosinolatos nos
bagaços. Na Europa têm também sido obtidas variedades de colza praticamente
livres de ácido erúcico e glucosinolatos (Guerrero, 1999).
A colza é uma cultura particularmente bem adaptada a climas temperados frios. O
óptimo ecológico à escala global situa-se na Europa Ocidental e Setentrional,
sobretudo em países como Alemanha, Bélgica e Dinamarca. A produtividade média
nacional naqueles países ultrapassa frequentemente 3500 kg semente ha-1 (FAO,
2010). Nos países mediterrânicos a produtividade média decresce, devido à
reduzida precipitação e temperaturas elevadas a partir da Primavera. O stresse
hídrico é dos principais constrangimentos ao desenvolvimento da cultura nas
regiões áridas (Norouzi et al., 2008). No mercado surgem variedades de Inverno
e de Primavera, apresentando as primeiras elevadas necessidades de vernalização
e maior tolerância ao frio, em particular na fase de roseta (Guerrero, 1999).
Em Espanha, onde se cultiva colza há muitos anos, são recomendadas variedades
de Inverno com sementeira precoce, a partir de 10 de Setembro, para as regiões
mais frias e variedades de Primavera com sementeira no Outono, até Novembro,
para o Sul do país (Guerrero, 1999).
A colza é uma cultura que responde a doses elevadas de azoto (Pouzet, 1995;
Ozer, 2003; Rathke et al., 2005; Németh et al., 2009), podendo ser necessário
aplicar quantidades superiores a 200 kg N ha-1 para se atingirem produções
elevadas. Por outro lado, a eficiência de uso do N é normalmente baixa (Fismes
et al., 2000; Rathke et al., 2006). Assim, deve fraccionar-se a aplicação para
melhorar a eficiência de uso do nutriente e reduzir riscos de contaminação
ambiental. O fraccionamento, com aplicação de 25 a 50 kg N ha-1 em fundo,
parece ser importante para assegurar um bom desenvolvimento vegetativo da
cultura na fase de roseta (Anon., s.d.), embora efeitos na produção pela
aplicação de N em fundo raramente tenham sido observados (Pouzet, 1995).
A colza deve ser semeada o mais superficialmente possível, devido ao reduzido
tamanho da semente. De acordo com Guerrero (1999) a profundidade de sementeira
não deve ultrapassar 1 cm. Os catálogos comerciais referem profundidades de
sementeira óptimas próximas dos 2 cm (Anon., s.d.). Com sementeira superficial
assegura-se uma emergência rápida e plântulas mais vigorosas. Contudo, em
períodos secos a superfície do solo pode desidratar muito rapidamente e
dificultar a embebição da semente, o que pode justificar uma sementeira a maior
profundidade (Pouzet, 1995).
A colza está a ser introduzida em Portugal para produção de biocombustiveis.
Atendendo ao facto de se poder cultivar no período Outono/Inverno pode
apresentar vantagens relativamente ao Girassol quando cultivado em sequeiro,
devido ao melhor aproveitamento dos recursos hídricos de Inverno. A colza, com
um ciclo cultural a terminar durante o mês de Junho, fica também menos exposta
a temperaturas elevadas. Estudos conduzidos no sul do país demonstraram ser
possível obter mais de 2000 kg de semente por hectare com a cultura da colza
(Lourenço & Palma 2006). Apesar da importância desta cultura noutros países
com condições ecológicas semelhantes a Portugal, a colza só agora está a ser
difundida no país para fins comerciais, nomeadamente na região sul. Atendendo à
extensa área que já foi cultivada em Trás-os-Montes com cereais, parece-nos que
a região também tem potencial para entrar no circuito comercial da colza.
Este trabalho relata os primeiros estudos de adaptação da colza às condições de
cultivo de Trás-os-Montes. São apresentados resultados de dois ensaios de campo
com cultivares. Um dos ensaios foi organizado em split-plot, tendo quatro
cultivares sido incluídas nos main-plots e três diferentes doses de N nos
subplots. O segundo ensaio incluiu oito cultivares, e foi organizado de forma
completamente casualizada. São também apresentados resultados de um ensaio de
germinação que envolveu oito cultivares e quatro profundidades de sementeira.
Cultivares, adubação azotada e profundidade de sementeira são aspectos
importantes sobre os quais se deve dispor de informação quando se pretende
introduzir pela primeira vez uma cultura numa dada região.
MATERIAIS E MÉTODOS
Localização dos ensaios
As experiências de campo decorreram em Bragança, na Quinta de Sta Apolónia, nas
estações de crescimento de 2007/08 e 2008/09. O clima da região é do tipo
mediterrânico com alguma influência do regime atlântico. De acordo com a normal
climatológica da região, a temperatura média do ar é de 11.9 ºC e a
precipitação anual de 741 mm. Os valores da temperatura do ar e da precipitação
registados durante os ensaios são apresentados na Figura 1.
Figura_1 ' Temperatura média do ar e precipitação mensal acumulada na estação
meteorológica da Quinta de Sta Apolónia, durante os dois anos em que decorreram
os ensaios de campo.
A colza foi inserida numa rotação octoanual de regadio do tipo C/I4-P4, em que
C representa um cereal de verão, milho cultivado para silagem, I representa uma
cultura intercalar de Inverno, um ferrejo de gramíneas para silagem, e P
representa um prado temporário de 4 anos. A colza foi semeada após a colheita
do milho, tendo sido interrompida a rotação após os terceiro e quarto anos de
milho, respectivamente em 2007 e 2008. No ensaio de 2008/09 foi utilizada uma
parcela de solo diferente, mas adjacente à utilizada no ano anterior. O solo
está classificado como Cambissolo êutrico, apresentando textura franca (66%
areia, 18% limo e 16% argila). Os resultados das análises de terras feitas no
início das experiências, em 2007 e 2008, identificaram um solo com pH(H2O) de
6,5, teor de matéria orgânica baixo (15 a 16 g kg-1) e teores de fósforo e
potássio, determinados pelo método Egner-Rhiem, respectivamente muito baixos
(13 a 20 mg kg-1, P2O5) e muito altos (185 a 196 mg kg-1, K2O).
Delineamento experimental
Em 2007 a experiência de campo foi organizada num delineamento em split-plot.
Constituíram-se 3 blocos em função do ligeiro declive do terreno. Como talhão
principal (main-plot) foram inseridas quatro cultivares (Lucia, Recital, Nelson
e NK Ready) e como subplot foram incluídas as modalidades de fertilização
azotada (fundo + cobertura) 0 + 50, 25 + 75 e 50 + 100 kg N ha-1. A modalidade
25 + 75 kg N ha-1 representa a recomendação de fertilização para uma produção
esperada de 2000 kg de semente por hectare. A área dos subplots foi de 12 (4x3)
m2. Em 2008 a experiência foi organizada com um só factor (cultivares) num
delineamento completamente casualizado com três repetições. As cultivares
ensaiadas foram Lucia, Recital, Nelson, NK Ready, PR46W10, PR46W14, PR46W31 e
PR45D01. A adubação azotada efectuada foi (fundo + cobertura) de 25 + 75 kg N
ha-1. A área de cada talhão foi de 20 (5x4) m2.
Técnica cultural
A preparação do solo seguiu uma sequência clássica de operações que incluíram a
lavoura com reviramento de leiva e escarificações para preparação da cama para
a semente. A adubação de fundo consistiu na aplicação de superfosfato de cálcio
de forma a incorporar 22 kg P ha-1 (semelhante em 2007 e 2008) e nitrolusal nas
doses de azoto previstas nos delineamentos experimentais. A sementeira foi
efectuada de forma manual, sendo as sementes colocadas nos micro-regos deixados
pela última escarificação. Posteriormente as sementes foram cobertas com uma
enxada, numa tentativa de as colocar entre 1 e 4 cm de profundidade. Utilizou-
se uma densidade de sementeira próxima de 6 kg de semente por hectare. As datas
de sementeira foram em 12 e 18 de Outubro de 2007 e 2008, respectivamente. A
adubação de cobertura do ensaio de 2007/08 foi efectuada em 1 Março de 2008, de
forma manual a lanço nos talhões e doses previamente definidas no delineamento
experimental. A adubação de cobertura na experiência de 2008/09 foi efectuada
em 13 de Março de 2009. As infestantes foram controladas com sacha manual
efectuadas em 6 e 14 de Março de 2008 e 2009, respectivamente. Em 2008 foi
aplicada uma calda à base de ditiocarbamato, após ter sido diagnosticada a
presença na seara de plantas infectadas com Sclerotinia sclerotiorum.
Determinações
Durante toda a estação de crescimento fez-se o registo periódico da evolução
fenológica da cultura, com apoio em fotografia digital, e seguindo a escala
fenológica para a colza descrita em Mendham e Salisbury (1995).
No ensaio de 2007/08 foi monitorizado o estado nutritivo das plantas através da
determinação do teor de nitratos nos pecíolos e da intensidade da cor verde
medida com o aparelho portátil SPAD-502. O teor de nitratos nos pecíolos foi
determinado em 1 de Março e os valores SPAD em 1 de Março, imediatamente antes
da adubação de cobertura, e em 1 de Abril, um mês após a adubação de cobertura.
Para a determinação do teor de nitratos nos pecíolos foram colhidas as folhas
mais jovens com o limbo completamente expandido, tendo os limbos sido removidos
com um x-ato e apenas os pecíolos conduzidos a laboratório. Os pecíolos foram
colocados a secar em estufa com ventilação forçada, regulada a 65 ºC.
Posteriormente procedeu-se à sua moenda. Na preparação dos extractos usaram-se
tomas de 1,00 g a que se adicionaram 50 mL de água destilada. A suspensão foi
agitada durante uma hora e filtrada em papel Watmann 42. A concentração de
nitratos nos pecíolos foi determinada com um reflectómetro RQFlex, que utiliza
tiras de teste Reflectoquant, calibradas para a gama de 5 a 225 mg NO3-/L,
seguindo a metodologia descrita em Rodrigues et al. (2005). A intensidade da
cor verde foi medida em campo por um processo não destrutivo, utilizando o
aparelho SPAD-502. O valor em cada talhão foi obtido com a média de 30 leituras
do aparelho obtidas na extremidade apical dos limbos, ainda que afastadas da
bainha principal, usando a folha mais jovem com o limbo completamente expandido
em cada planta.
Em 2008 a colheita foi efectuada logo após as sementes adquirirem a cor
castanha, próximo da maturação fisiológica, para evitar os danos provocados
pelos pássaros. Em 2009 a colheita ocorreu com as silíquas ligeiramente mais
secas, tendo o ensaio sido previamente coberto com lonas de rede. A amostragem
incidiu numa área de 1 m2, delimitada com uma estrutura metálica quadrada que
era colocada aleatoriamente dentro de cada talhão. A debulha e limpeza das
sementes foram efectuadas manualmente após completa desidratação das silíquas
por exposição ao sol.
Ensaio de germinação
Numa estufa de cobertura em policarbonato de parede dupla decorreu um ensaio de
germinação com as oito cultivares já mencionadas. As sementes de cada cultivar
foram colocadas a germinar em vasos de 5 litros preparados com substrato
composto por uma mistura de turfa, areia e vermiculite, à razão de 3:1:1. Foram
colocadas 30 sementes de cada cultivar por vaso nas profundidades 1, 4, 8 e 12
cm e num total de três repetições. Foram usados 96 vasos resultantes de oito
cultivares, quatro profundidades e três repetições. Foi acompanhada a evolução
diária das emergências. Como data de germinação considerou-se o registo em que
se atingiu ou ultrapassou o valor de 50% de sementes germinadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Evolução fenológica das plantas
A Figura 2 mostra de forma esquemática a evolução fenológica das plantas
durante a estação de crescimento seguindo a escala fenológica proposta por
Mendham & Salisbury (1995). Apesar das limitações que existem na utilização
de escalas fenológicas em dicotiledóneas, esta apresenta-se relativamente
simples de interpretar, na medida em que assenta num código decimal semelhante
à escala fenológica proposta por Zadoks et al. (1974) para os cereais e que tem
tido aceitação praticamente universal. Associou-se à evolução fenológica da
colza a soma de temperaturas, calculadas pelo princípio do grau.dia de
crescimento (Bonhomme, 2000), partindo de uma temperatura basal de 5 ºC, como
proposto por Mendham & Salisbury (1995).
Figura 2 ' Evolução da fenologia da planta ao longo da estação de crescimento
de acordo com a escala proposta por Mendham e Salisbury (1995), em função da
soma de temperaturas (GDD, Growing Degree Day) calculada a partir de uma
temperatura basal (ou zero vegetativo) de 5ºC. Cálculos efectuados a partir da
equação , em que Tm é a temperatura média diária, b0 a temperatura basal e S1 e
S2 representam estados fenológicos da cultura.
As plantas de colza mostraram um desenvolvimento incipiente na fase de roseta,
com as folhas verdadeiras de tamanho muito reduzido. O grau de cobertura do
solo foi mínimo até Fevereiro. Este aspecto merece a nossa atenção uma vez que
os catálogos comerciais da cultura (Anon., s.d.) apresentam plantas com
desenvolvimento fenológico exuberante desde meados do Outono. Nestas
experiências as sementeiras ocorreram em 12 e 18 de Outubro, respectivamente em
2007 e 2008. Esta pode ser a razão para o reduzido desenvolvimento da roseta,
na medida em que com sementeiras em meados de Outubro a emergência vai ocorrer
no fim desse mês ou no início de Novembro. Desta forma, perdendo as primeiras
semanas do Outono (mais quentes), o integral térmico até final de Fevereiro é
muito reduzido (Figura 2), comprometendo o desenvolvimento da planta. Assim,
uma sementeira mais precoce parece ser recomendável, uma vez que favorece o
desenvolvimento inicial e confere resistência ao frio (Pouzet, 1995).
Sementeiras a partir de 15 de Setembro, tal como são recomendadas para a região
de Zamora em Espanha (Anon, s.d.), podem apresentar vantagens nesta região.
O período de floração foi longo, particularmente em 2007/08 em que a Primavera
decorreu chuvosa. A floração teve início em fim de Março/início de Abril e
prolongou-se de forma escalonada por um período de dois meses até ao fim de
Maio/início de Junho. Este aspecto é de grande importância pois confere
plasticidade à cultura face ao surgimento de qualquer stresse ambiental, em
particular geadas tardias de Primavera. A Primavera fria e seca de 2009 mostrou
que algumas flores numa haste floral abortavam, face a eventos de frio intenso,
enquanto as silíquas já formadas e os botões florais se mantinham em
crescimento sem dano visível. Desta forma, e dado o grande escalonamento da
floração, um fenómeno meteorológico adverso parece afectar apenas em parte a
produtividade mas não colocar necessariamente em causa a viabilidade da
cultura.
Foi também observado que, apesar do enorme escalonamento da floração, todas as
cultivares ensaiadas apresentaram uma boa concentração da maturação das
sementes. Nas silíquas da extremidade superior da haste floral ocorreu um
rápido enchimento do grão sem que se tenham verificado vestígios de deiscência
nas silíquas da base. Dado o fim de ciclo abrupto que caracteriza a estação de
crescimento nesta região (devido ao aumento da temperatura e redução da
disponibilidade hídrica no fim da Primavera), não é possível discutir se a
concentração da maturação foi sobretudo devida a aspectos genéticos das
cultivares ou se resultou da falta de condições ecológicas para o
desenvolvimento das plantas. Seja qual for a razão, a concentração da maturação
e a deiscência das silíquas não mostraram ser um problema agronómico relevante
nestas cultivares, embora o intenso ataque de pássaros não tenha permitido que
a seara fosse mantida até ao momento de colheita desejado.
Produção de semente
A produção de semente nas quatro cultivares ensaiadas no ano de 2007/08 (Lucia,
Recital, Nelson e NK Ready) não variou significativamente, estando próxima de
3000 kg ha-1(Quadro 1). Também não ocorreram diferenças significativas na
produção média de semente devido às diferentes doses de azoto. A adubação
azotada de 0+50 kg N ha-1 originou produção estatisticamente equivalente à
adubação com 50+100 kg N ha-1, apesar da colza normalmente responder a doses
elevadas de azoto (Ozer, 2003; Rathke et al., 2006). Em concordância com os
nossos resultados, Scmidhalter (2008) também não registou diferenças
significativas na produção de semente de colza quando utilizou 50, 100 e 150 kg
N ha-1.
Quadro 1 ' Produção de semente de quatro cultivares de colza em função da dose
de azoto aplicado no ensaio de 2007/08.
A falta de resposta ao azoto pode em parte ser justificada pela falta de
precipitação durante o Outono e Inverno. O azoto residual resultante da cultura
anterior terá permanecido no solo até à Primavera seguinte, uma vez que a falta
de precipitação não favoreceu a perda de azoto por lixiviação e desnitrificação
de nitratos. Apesar do precedente cultural ter sido milho, uma planta de
elevada capacidade de exportação de azoto, o desenvolvimento vegetativo daquela
cultura foi, nesse ano, muito modesto devido a problemas com o sistema de rega.
O fraco desenvolvimento do milho terá contribuído para o aumento do azoto
potencialmente disponível no solo para a cultura seguinte. Também Sieling &
Christen (1997) e Rathke et al. (2005) observaram diferentes respostas da colza
à dose azotada dependendo do precedente cultural.
A não observação de diferenças significativas na produção de semente, quer
devidas ao efeito genético das cultivares quer à dose de azoto, terá também
justificação na elevada variabilidade experimental resultante de uma sementeira
manual pouco uniforme. Apesar da elevada plasticidade da planta à densidade de
sementeira (Mendham & Salisbury, 1995), uma irregular densidade
populacional nos diferentes talhões terá contribuído para a diminuição da
qualidade da amostra.
Os resultados da produção de semente das oito cultivares ensaiadas em 2008/09
são apresentadas no Quadro 2. As produções médias apresentaram diferenças
estatísticas entre cultivares e variaram entre 851,4 e 1557,9 kg de semente por
hectare, respectivamente nas cultivares PR46W14 e Nelson. As produções médias
em 2008/09 foram marcadamente inferiores às do ano anterior, representando, de
uma forma geral, um terço dos valores obtidos em 2007/08.
Quadro 2 ' Produção de semente de oito cultivares de colza no ensaio de 2008/
09.
A diferença de produtividade nos dois anos agrícolas terá sido sobretudo devida
às diferenças de precipitação no fim do Inverno e Primavera (Figura_1). Em
2008, Abril e Maio foram meses particularmente chuvosos e frescos, muito
favoráveis ao desenvolvimento da colza. Em 2009, a precipitação foi
anormalmente baixa nos meses de Março, Abril e Maio e ocorreram picos de calor
ainda durante o mês de Março, comprometendo fortemente a produtividade da
cultura. As produtividades elevadas e baixas nos dois anos agrícolas
consecutivos foram o reflexo de anos com condições climatéricas atípicas, em
2008 particularmente favoráveis e em 2009 muito desfavoráveis.
Indicadores do estado nutritivo
O teor de nitratos nos pecíolos é o indicador do estado nutritivo azotado
generalizado em espécies com pecíolos proeminentes, fáceis de amostrar, como a
batateira (Rodrigues, 2004), a beterraba (Gilbert et al., 1981), o algodoeiro
(Tewolde et al., 1995) e a própria colza (Scmidhalter, 2008). A importância dos
pecíolos deve-se ao facto dos nitratos se acumulam nos vacúolos, em particular
nas células dos tecidos condutores. O efeito das cultivares sobre o teor de
nitratos nos pecíolos foi mais evidente que o efeito das doses de azoto (Quadro
3). O resultado pode significar que a monitorização do estado nutritivo da
colza por este método fica dificultada, pois, para um estado nutritivo similar,
diferentes genótipos apresentam teores de nitratos nos tecidos diferenciados.
Em outras culturas também têm sido observadas diferenças no teor de nitratos
nos pecíolos entre cultivares (Lewis & Love, 1994). Por outro lado,
diferenças no metabolismo dos nitratos pode dar informação relevante sobre a
eficiência de uso do azoto (Leleu et al., 2000; Balint & Rengel, 2008).
Quadro 3 ' Nitratos nos pecíolos em função da dose de azoto aplicada (g NO3 kg-
1MS).
O teor de nitratos nos pecíolos reflecte também alguma variabilidade
experimental, que pode dever-se a duas razões principais: uma densidade de
plantas pouca homogénea, pois sabe-se que este factor influencia o estado
nutritivo azotado (Sunderman et al., 1979), e dificuldade em padronizar o
processo de amostragem, já que eleger a folha mais jovem com o limbo expandido
não é fácil nesta cultura, dada a grande diferença de tamanho dos limbos em
função da idade da planta.
A adubação de fundo efectuada em Outubro não influenciou significativamente a
intensidade da cor verde das folhas, medida com o aparelho SPAD-502 em 1 de
Março de 2008 (Quadro 4). Após a adubação de cobertura registou-se um aumento
na intensidade da cor verde com a dose de azoto. As médias dos tratamentos
fertilizantes apresentaram diferenças significativas com a cultivar NK Ready
(Quadro 5). Os registos clorofila-SPAD têm sido usados em muitas culturas como
indicador do estado nutritivo azotado (Piekielek & Fox, 1992; Westcott
& Wraith, 1995; Rodrigues, 2004), parecendo também ser possível obter
sucesso satisfatório na colza, atendendo aos resultados obtidos sobretudo após
a adubação de cobertura.
Quadro 4 ' Intensidade da cor verde nas folhas determinada com o medidor SPAD-
502 em 1 de Março de 2008, imediatamente antes da adubação de cobertura.
Quadro 5 ' Intensidade da cor verde nas folhas determinada com o medidor SPAD-
502 em 1 de Abril de 2008, um mês após a adubação de cobertura.
O efeito das cultivares foi contudo mais evidente que o efeito das doses de
azoto (Quadros 4 e 5). As cultivares apresentaram tonalidades diferentes,
nalguns casos visíveis ao olho nu. Contudo, este aspecto não limitará o uso das
medições SPAD como indicador do estado nutritivo azotado. A variação da
intensidade da cor verde entre genótipos também tem sido registada noutras
culturas (Blackmer et al., 1993; Vitosh & Silva, 1994; Fotyma et al.,
1998). Para ultrapassar esta limitação, utiliza-se como indicador do estado
nutritivo um valor SPAD-relativo, isto é, usa-se uma faixa de referência em que
se aplica azoto em quantidade elevada, de forma a maximizar a intensidade da
cor verde. O SPAD-relativo reflecte percentualmente o afastamento da tonalidade
da planta no campo de cultura em relação à tonalidade da faixa de referência.
Este procedimento proposto por Schepers et al. (1992) tem-se generalizado entre
investigadores (Piekielek et al., 1995; Westcott & Wraith, 1995; Waskom et
al., 1996; Rodrigues, 2004).
Emergência em função da profundidade de sementeira
A resposta da cv. Lucia à profundidade de sementeira é apresentada na Figura 3.
As restantes sete cultivares apresentaram padrão similar (dados não
apresentados). As sementes colocadas a 1 e 4 cm atingiram percentagens de
germinação estatisticamente não diferentes entre si. A 8 cm de profundidade a
percentagem de germinação foi menor comparativamente a 1 cm, ainda que nem
sempre de forma significativa. A 12 cm a percentagem de germinação foi
significativamente afectada em todas as cultivares. A duração do período de
germinação (desde a data de sementeira até 50% de plantas emergidas) aumentou
com a profundidade de sementeira, tendo-se registado atrasos médios de 1 a 2
dias quando se passou de 1 para 4 cm de profundidade e de 2 a 4 dias de 1 para
8 cm. A 12 cm de profundidade muitas cultivares não atingiram 50% de
emergência. Hanson et al. (2008) registaram quebras na percentagem de
emergência em seis de oito experiências quando compararam sementeiras a 19 e 38
mm de profundidade.
Figura 3 ' Variação da percentagem de emergência ao longo do tempo na cultivar
Lucia em função da profundidade de sementeira.
A 1 cm de profundidade a percentagem de emergência nas diferentes cultivares
variou entre 87,8 e 96,7. Estas diferenças entre médias não tiveram contudo
significado estatístico (Quadro 6). A 4 cm de profundidade a percentagem de
emergência da cv. PR45D01 (82,2%) foi significativamente inferior à percentagem
de emergência na cv. Nelson (97,8%). Entre as restantes cultivares não
ocorreram diferenças significativas. Todas as cultivares asseguraram mais de
87% de emergência quando a sementeira ocorreu a 1 cm de profundidade e mais de
82% quando ocorreu a 4 cm. Atendendo ao artificialismo do ensaio de germinação,
sobretudo por ter ocorrido em estufa onde as condições de germinação são mais
favoráveis, parece ser prudente recomendar que não sejam ultrapassados os 4 cm
de profundidade na sementeira da colza.
Quadro 6 ' Intensidade da cor verde nas folhas determinada com o medidor SPAD-
502 em 1 de Março de 2008, imediatamente antes da adubação de cobertura.
CONCLUSÕES
A informação recolhida sobre as cultivares não permite destacar de forma
inequívoca o comportamento de nenhuma delas. Num ano favorável, todas as
cultivares atingiram produtividades elevadas. A cultivar Nelson deixou boas
indicações quando cultivada num ano particularmente seco durante a Primavera.
Foi insuficiente a informação recolhida sobre a adubação azotada, embora os
resultados sugiram que produções satisfatórias possam ser obtidas com doses
moderadas de azoto. Contudo, contra este argumento pesa o facto de a
fertilidade natural do solo da Quinta de Sta Apolónia ser superior à
generalidade dos campos dos agricultores. O fraco desenvolvimento fenológico
das plantas no Outono/Inverno, devido ao facto das sementeiras terem sido
efectuadas a meio do mês de Outubro, aconselha a que estas se antecipem o mais
possível. Se a humidade do solo for favorável a semente deve ser colocada
próxima da superfície, e no limite não ultrapassar a profundidade de 4 cm.