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EuPTCVHe0870-90252011000200007

EuPTCVHe0870-90252011000200007

variedadeEu
ano2011
fonteScielo

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Associação entre os sintomas da disfunção temporo-mandibular com factores psicológicos e alterações na coluna cervical em alunos da Escola Superior de Saúde Jean Piaget do Algarve

Introdução A disfunção temporomandibular (DTM) é um distúrbio que afecta as articulações tempomandibulares (ATM) e a musculatura da mastigação do aparelho estomatognático e as estruturas associadas; esta patologia pode afectar indivíduos de qualquer faixa etária, apresentando uma maior prevalência entre os 20 e 45 anos de idade e no género feminino1-5.

Vários estudos indicam que aproximadamente 60% a 70% da população apresenta pelo menos um sinal de DTM em algum momento de sua vida, no entanto apenas 5% necessitam de tratamento para este distúrbio5-7.

A etiologia da DTM é multifactorial e os seus sinais e sintomas envolvem dores na região da ATM, na zona pré-auricular, na coluna cervical, face e cabeça, fadiga da musculatura craniocervicofacial e da mastigação, limitação das amplitudes dos movimentos mandibulares, presença de ruídos articulares e cefaleias2,8-10.

O espasmo dos músculos da mastigação consiste no principal responsável pela sintomatologia dolorosa na DTM; este pode ser causado por distensão, maloclusão, contracção ou pela fadiga muscular devido à presença de hábitos parafuncionais, nomeadamente bruximo e onicofagia2,5,11; diversos estudos, realizados em diferentes populações, demonstraram que estes hábitos podem ser desencadeados ou agravados pelo stresse emocional2,5,11-13. Desta forma, os factores psicossociais como a ansiedade, depressão e stresse desempenham um papel importante na patogenia da DTM4,14.

Além dos factores psicológicos, a presença de alterações na coluna cervical em conjunto com a influência da acção da gravidade podem provocar modificações no posicionamento da mandíbula, alterando toda a estrutura musculo-ligamentar da ATM; o contrário também se verifica, onde uma disfunção na coluna cervical pode ser atribuída a uma oclusão devido à DTM15-22. Isto pode ser explicado pela ligação do sistema musculo-esquelético, onde a desorganização de um segmento do corpo implicará uma nova organização de todos os outros segmentos, assumindo uma postura compensatória, ou seja, uma tensão inicial numa cadeia muscular é responsável por uma sucessão de tensões associadas em outras cadeias22-24.

Estudos nacionais sobre a prevalência de DTM e a sua relação com alterações posturais e com os níveis de ansiedade e depressão são desconhecidos, sendo necessários estudos sobre esta temática, de forma a identificar a prevalência deste distúrbio que afecta muitos indivíduos que desconhecem o seu diagnóstico.

Desta forma, os objectivos do presente estudo foram verificar a prevalência de DTM em alunos da Escola Superior de Saúde Jean Piaget de Algarve (ESSJPA) e a sua associação com factores psicológicos, nomeadamente ansiedade ou depressão, e com alterações na coluna cervical.

Metodologia O estudo foi de natureza descritiva-correlacional.

A Direcção da ESSJPA autorizou a recolha de dados na escola. Os alunos que participaram do estudo assinaram um termo de consentimento informado concordando em participar do estudo. Neste consentimento informado, todos os indivíduos foram esclarecidos sobre os objectivos do estudo, podendo desistir em qualquer altura, sendo-lhes assegurado a confidencialidade dos resultados obtidos, o direito à autodeterminação e à intimidade, respeitando, desta forma, os princípios éticos da investigação.

População Foram convidados a participar no estudo os alunos de todos os cursos da ESSJPA matriculados no ano lectivo de 2009-2010, perfazendo um total de 505 alunos.

Os critérios de inclusão envolveram os alunos que quiseram participar, de qualquer idade e género.

Do total dos alunos, alguns não compareceram na escola no período de recolha dos dados e outros encontravam-se em estágio. Desta forma, a amostra foi constituída por 306 alunos, representando 60,1% da população em estudo.

Dos 306 alunos que constituíram a amostra, 177 (57,8%) frequentavam o curso de Fisioterapia, 104 (34%) o de Enfermagem, 6 (2%) o de Análises Clínicas e de Saúde Pública e 19 (6,2%) o de Farmácia, sendo 90 (29,4%) do género masculino e 216 (70,6%) do género feminino com idades compreendidas entre os 18 e os 43 anos (22 ± 4,1 anos).

Instrumentos de medida Os instrumentos de medida foram aplicados em apenas um momento, durante o ano lectivo 2009/2010. Os sujeitos responderam a um questionário constituído por 3 partes: Caracterização sócio-demográfica Questionário Anamnésico de Fonseca Escala de Medida de Ansiedade e Depressão (HAD) Além disso, os alunos foram submetidos à avaliação postural da coluna cervical.

Questionário Caracterização sócio-demográfica da população Foram feitas perguntas sobre as características sócio-demográficas da amostra, nomeadamente, a idade, o género e o curso que frequentava na escola. Foram também incluídas perguntas sobre o conhecimento prévio do diagnóstico de DTM e se o indivíduo fez ou faz algum tratamento para DTM; as opções destas perguntas foram NÃO e SIM.

Questionário Anamnésico de Fonseca O Questionário Anamnésico de Fonseca consiste numa versão modificada do Índice Anamnésico de Helkimo's e é um dos poucos instrumentos disponíveis em língua portuguesa que avalia e caracteriza a severidade dos sintomas da DTM. O Índice de Helkimo foi um dos primeiros a ser referidos na literatura como apresentando fiabilidade para identificar sinais e sintomas de DTM25,26.

O Questionário Anamnésico de Fonseca obteve uma correlação de 95% com o índice clínico de Helkimo (r = 0.6169; p < 0.05) e 95% de confiabilidade na sua aplicação e permite recolher uma grande quantidade de informações num período curto de tempo, além de apresentar baixo custo para a sua aplicação, ser de fácil percepção para os avaliados e não influenciar o avaliador na obtenção das respostas25-27.

Este instrumento é composto por 10 perguntas, cujas opções de respostas são NÃO, ÀS VEZES e SIM. As questões incluíam perguntas sobre a presença de dor na ATM, na cabeça e na região cervical, presença de dor durante a mastigação, questões sobre os hábitos parafuncionais, limitação de movimentos articulares, percepção de oclusão e de stresse emocional.

Cada resposta apresenta um valor, onde a resposta NÃO vale 0 valores, ÀS VEZES vale 5 valores e SIM vale 10 valores. Com a soma dos valores, é obtido um índice que classifica os indivíduos em não-portadores de DTM (0 a 15 valores), presença de DTM leve (20 a 40 valores), DTM moderada (45 a 65 valores) e DTM grave (70 a 100 valores).

Escala de Medida de Ansiedade e Depressão (HAD) A HAD foi desenvolvida por Zigmond e Snaith em 1983, tendo sido a versão portuguesa validada por Botega e colaboradores28; optou-se pela utilização desta escala, pois esta é utilizada para identificar e medir a intensidade de depressão e ansiedade em ambientes não-psiquiátricos29, como no caso da população avaliada no presente estudo, tendo sido também aplicada neste tipo de população em diversos estudos realizados anteriormente30,31.

Esta escala é constituída por 14 itens, subdivididos em duas escalas, dos quais 7 itens medem a ansiedade (HADS-A) e os outros 7 a depressão (HADS-D). Desta forma, os conceitos de depressão e ansiedade encontram-se separados28,29,32,33.

Para o preenchimento deste instrumento, o indivíduo assinalava o item que mais se aproximava do que sentia na última semana29. Cada um dos itens era pontuado de 0 a 3, dependendo da resposta, perfazendo um total máximo de 21 pontos para cada escala32. Em ambas as escalas os valores de 0 a 7 indicavam a ausência de ansiedade ou depressão, valores entre 8 a 10 indicavam possível caso de ansiedade ou depressão, e valores iguais ou superiores a 11 indicavam presença de ansiedade ou depressão31,32. Desta forma, o indivíduo poderia não apresentar nenhum destes sintomas, exibir ansiedade e depressão simultaneamente, ou revelar somente um dos dois sintomas.

Diversos estudos envolvendo uma ampla variedade de populações clínicas, verificaram que a HAD apresentou boa sensibilidade, consistência interna e especificidade para avaliar os sintomas de ansiedade e depressão28,32-34.

Avaliação postural da coluna cervical Para a realização da avaliação postural da coluna cervical, os indivíduos encontravam-se em postura estática, a olhar em frente, posicionados a uma curta distância do examinador que se posicionava de forma a ter uma visão lateral do sujeito avaliado.

A posição da coluna cervical foi avaliada por meio de pontos de referência correspondentes ao pavilhão auricular e ao acrómio da escápula. A normalização da curvatura era observada quando uma linha imaginária passava através do pavilhão auricular e do acrómio. Quando a linha imaginária se apresentava atrás dos pontos de referência era observado o aumento da curvatura cervical e se estivesse à frente destes pontos observava-se a rectificação da curvatura cervical. A curvatura da coluna foi classificada em normal, hiperlordose cervical, quando esta se apresentava aumentada e em rectificada, quando a sua curvatura estava diminuída35.

Análise dos dados A análise da estatística descritiva foi efectuada com a aplicação do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 18.0 para o sistema operativo Windows.

Para determinar a relação entre as variáveis do estudo foi utilizada a estatística inferencial, nomeadamente o teste Qui-quadrado, recorrendo às tabelas de contingência.

Para esta análise, quanto à presença de DTM, após classificação conforme referido anteriormente, foram considerados apenas 2 grupos - ausência de DTM e presença de DTM (inclui os indivíduos com DTM leve, moderada e grave); para a presença de ansiedade ou depressão, também foram considerados apenas 2 grupos - ausência de ansiedade e depressão e presença de ansiedade ou depressão (inclui os indivíduos classificados com presença de ansiedade ou depressão e possível caso de ansiedade ou depressão).

A significância estatística foi estabelecida para α < 0,05.

Resultados De acordo com as respostas obtidas no questionário para a caracterização sócio- demográfica, dos 306  alunos que responderam ao questionário, apenas 5 (1,6%) revelaram que possuíam diagnóstico prévio de DTM, sendo que destes somente 2 (0,7%) realizavam algum tipo de tratamento.

A prevalência de DTM em função do género encontra-se na tabela 1. Verificou-se uma prevalência de 37,3% de DTM no total da amostra. Em relação ao género, as mulheres revelaram uma maior prevalência de DTM (79,6%) do que os homens, sendo que o grau mais encontrado foi a DTM leve (82,5%).

Tabela 1 - Relação entre o grau de acometimento de DTM com o género

Quanto à prevalência por curso, verificou-se que o que mais apresentou DTM foi o de Fisioterapia (65,6%), seguido do de Enfermagem (3,7%) e de Farmácia (5,4%).

Os sintomas mais prevalentes relatados pelos alunos com DTM (100%) foram as cefaleias referidas por 36 (31,6%) alunos, a presença de dor na nuca ou torcicolo, apresentada em 15 (13,2%) alunos, ruídos nas ATMs quando mastigam ou quando abrem a boca, relatados por 20 (17,5%) alunos, os hábitos de apertar ou ranger os dentes em 25 (21,9%) alunos, a sensação que os dentes não se articulam bem referida por 20 (17,5%) alunos e a presença de tensão nervosa em 28 (24,6%) alunos.

Os sintomas menos referidos pelos alunos com DTM (100%) foram a dificuldade em abrir a boca, onde apenas 2 (1,8%) alunos referiram esta limitação, a dificuldade em movimentar a mandíbula para os lados, sendo referido por 5 (4,4%) alunos, a presença de cansaço/dor muscular quando mastiga, por 2 (1,8%) alunos, e dor no ouvido ou nas ATMs relatada por 3 (2,6%) alunos.

A tabela 2 apresenta a classificação dos níveis de ansiedade ou depressão obtidos com a Escala de Medida de Ansiedade e Depressão (HAD). O género feminino também foi o que apresentou a maior prevalência de ansiedade ou depressão (77%).

Tabela 2 - Relação entre a classificação dos níveis de ansiedade ou depressão segundo os valores obtidos com a aplicação da HAD com o género

Os alunos do curso de Fisioterapia foram os que mais apresentaram os níveis de ansiedade ou depressão (64,4%), seguido do curso de Enfermagem (28,4%) e de Farmácia (5,4%).

A associação entre a presença de DTM com os níveis de ansiedade ou depressão revelou que dos 114 alunos (37,3%) que apresentavam sintomatologia de DTM, 35 (11,4%) também apresentaram sinais de ansiedade ou depressão, sendo esta associação estatisticamente significativa (p < 0,05) (tabela 3).

Tabela_3 -Relação entre a presença de DTM com a presença de ansiedade ou depressão

Quanto à avaliação postural da coluna cervical, os resultados obtidos revelaram que 134 (43,8%) dos alunos apresentaram a curvatura normal, 112 (36,6%) revelaram uma rectificação desta curvatura e 60 (19,6%) manifestaram hiperlordose cervical.

Apesar da elevada prevalência de alterações posturais na coluna cervical, ao relacionar a presença de DTM com estas alterações, observou-se que a mesma não revelou significância estatística (p > 0,05); dos 37,3% dos alunos que revelaram presença de DTM, 15% apresentaram na avaliação a curvatura da coluna cervical normalizada (tabela 4).

Tabela_4 -Relação entre a presença de DTM com as alterações na coluna cervical

Discussão Os resultados do presente estudo revelaram uma elevada prevalência de DTM nos alunos da ESSJPA (37,3%), verificando que uma percentagem mínima destes tinha conhecimento prévio da presença de DTM. O estudo de Otuyemi et al.36 verificou uma prevalência semelhante à do presente estudo em 308 estudantes da Universidade da Nigéria dos cursos de Medicina e Medicina Dentária. No entanto, alguns estudos verificaram uma prevalência de DTM em alunos de ensino superior mais elevada que à do presente estudo, utilizando o mesmo instrumento de medida31,37. Nomura et al.25 avaliaram a prevalência de DTM em 218 estudantes do curso de Medicina Dentária da Universidade de São Paulo, Brasil, e verificaram que 53,2% apresentaram algum grau de DTM e Tomacheski et al38 também avaliaram 271 estudantes deste mesmo curso da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná, Brasil, e encontraram uma prevalência de 51,3% dos alunos com DTM. De todos os estudos analisados, o que envolveu a maior amostra foi o de Oliveira et al.39, onde foram avaliados 2.396 estudantes de 15 cidades brasileiras (22,1 ± 4,9 anos), e observou-se uma prevalência de 68,6% de alunos com DTM. As diferenças encontradas nos valores de prevalência de DTM entre os diversos estudos poderiam ser explicadas pelas características particulares do curso que os alunos frequentavam e do momento no qual o questionário foi aplicado.

Em relação ao género, o feminino foi o que apresentou a maior prevalência de DTM, estando estes achados de acordo com os resultados de outros estudos realizados em diferentes populações3,13,25,31,37-42. A elevada prevalência de DTM em mulheres poderia ser explicada pelas características fisiológicas, nomeadamente pelas variações hormonais e pelas estruturas do tecido conjuntivo e muscular; a maior flacidez destes tecidos, relacionada com os níveis de estrogénio, explica que estes tecidos apresentam uma menor capacidade de suportar pressão funcional levando à DTM5,25,43.

O estudo de Le Resche et al.44 encontrou variações clínicas na intensidade da dor em mulheres com DTM durante o ciclo menstrual, onde os maiores valores de dor coincidiram com o período de maiores concentrações de estrogénio.

Quanto aos sintomas de DTM referidos no questionário Anamnésico de Fonseca, verificou-se que os mais frequentes foram as cefaleias e os hábitos de apertar ou ranger os dentes. A possível relação da DTM com a cefaleia pode ser explicada pelo facto de que as cefaleias estão relacionadas às actividades musculares, sendo assim, as actividades que envolvem a cabeça e o pescoço provavelmente desempenham um papel importante na etiologia de muitas dores de cabeça38.

Em relação à presença de ruídos nas ATMs quando o indivíduo mastiga ou abre a boca, dos 37,3% dos alunos que apresentaram DTM, 19,6% revelaram a presença dos mesmos, sendo também um dos sintomas mais frequentes em indivíduos com DTM. Os ruídos ocorrem devido ao posicionamento errado da cartilagem articular, que desloca o côndilo da mandíbula superiormente quando o indivíduo abre a boca, causando o estalo5.

Os resultados do presente estudo também indicaram uma elevada percentagem dos alunos que apresentaram cansaço ou dor muscular quando mastigam, cervicalgias e dores nos ouvidos, dados semelhantes aos resultados de outros estudos3,13,18,37,38,40,45,46. As dores nos ouvidos podem estar presentes em indivíduos com DTM devido à proximidade que existe entre esta zona e a ATM e os músculos da mastigação, pois estas estruturas apresentam enervações comuns no nervo trigémeo, produzindo uma dor reflexa38.

As respostas obtidas no questionário Anamnésico de Fonseca também revelaram que a maioria dos indivíduos avaliados considera-se como um indivíduo tenso ou nervoso em algum momento (informação obtida pela perspectiva do aluno). O estudo de Martins et al.13 revelou que 72,4% dos indivíduos que necessitavam de tratamentos para DTM relataram estar sob stresse emocional. A presença de um nível de tensão elevado pode levar ao desenvolvimento de um aperto dental constante, afectando a circulação na musculatura local, o que altera as trocas iónicas nas membranas celulares levando a uma acumulação de ácidos láctico e pirúvico, contribuindo para o estímulo dos receptores de dor14.

Quanto à prevalência dos níveis de ansiedade ou depressão obtidas pela HAD, apenas 18,3% dos alunos avaliados no presente estudo apresentaram este quadro; os resultados obtidos no estudo de Bastos et al.30 revelaram uma elevada prevalência destes níveis nos alunos do curso de Enfermagem, que na altura da recolha de dados se encontravam em estágio na área de Oncologia. O facto de estes alunos estarem em estágio de Oncologia pode ter contribuído para os elevados níveis de ansiedade e depressão encontrados, o que não ocorreu com os nossos alunos que se encontravam em diferentes momentos do processo educativo (em estágios nas mais diversas áreas, em aulas na escola ou em épocas de avaliação). Apesar desta percentagem de níveis de ansiedade ou depressão encontrados no presente estudo ser mais baixa, acredita-se que os profissionais de saúde apresentam altos níveis de ansiedade, facto este que se inicia nos anos de ensino superior.

Ainda sobre os dados de ansiedade ou depressão, as mulheres também foram as que representaram a grande maioria com a presença destes estados psicológicos, dados similares a outros estudos13,41,42,47. Este resultado pode ser explicado pelo facto das mulheres admitirem mais os sintomas depressivos do que os homens e por apresentarem um maior índice de doenças psicossomáticas48.

Os dados do presente estudo revelaram uma associação significativa entre a presença de DTM e os níveis de ansiedade ou depressão, o que vai de encontro com os resultados obtidos em diversos estudos4,8,11,31,41,42,47,49,50. Como relatado anteriormente, os indivíduos que estão submetidos a algum tipo de stresse podem desenvolver hábitos parafuncionais e tensão muscular, o que leva ao desenvolvimento de DTM14.

Desta forma, os componentes parafuncionais, especialmente aqueles que aumentam a tensão muscular e as alterações dos estados emocionais são bons indicadores da presença de dor na mandíbula em indivíduos portadores de DTM, o que permite concluir que a ansiedade ou depressão podem ser consideradas como factores etiológicos da DTM.

Ao relacionar as alterações posturais na coluna cervical com a DTM, os resultados obtidos no presente estudo não revelaram associação significativa, sendo encontrada uma percentagem similar entre a curvatura normal e a rectificação da mesma em indivíduos que apresentaram DTM. No entanto, diversos estudos concluíram que a postura da cabeça pode afectar a posição da mandíbula22,51. Este facto pode ser explicado pelo instrumento de recolha de dados utilizado. Neste estudo utilizou-se a avaliação postural que consiste num método subjectivo, podendo ocasionar erros do avaliador; assim é necessária a aplicação de exames imagiológicos para confirmar a curvatura cervical, pois acredita-se que os elevados níveis de tensão muscular associados aos hábitos parafuncionais pode levar a diversas consequências, incluindo microtraumas das articulações e músculos, aumento dos níveis de agentes inflamatórios nas articulações e sensibilização das vias dolorosas, o que podem levar às alterações posturais na coluna cervical11. Ao analisarmos a relação entre o crânio e a coluna cervical, percebemos que a própria musculatura responsável pela mastigação está relacionada com o pescoço e o tronco, podendo ser afectada, alterando a sua posição; sendo assim, a sua posição ortostática é mantida por um complexo mecanismo muscular envolvendo os músculos da cabeça, do pescoço e da cintura escapular, ou seja, a posição anterior da cabeça é acompanhada por alterações no posicionamento da mandíbula, podendo provocar o deslocamento da mandíbula para cima e para trás devido à contracção excessiva dos músculos da mastigação17,22.

LeResche1 revelou que o stresse emocional pode aumentar a tensão muscular do músculo masseter. Além disso, a musculatura do pescoço é de essencial importância para a manutenção do equilíbrio da cabeça e da musculatura do sistema estomatognático, em que a alteração numa destas estruturas pode levar às alterações em todo o complexo, levando a um desequilíbrio postural, não somente nestes locais, como também noutras cadeias musculares do organismo22.

A alteração na posição da coluna cervical mais comummente encontrada em indivíduos portadores de DTM é a hiperlordose, sendo esta associada a um encurtamento da musculatura extensora da região cervical, assim como do músculo esternocleiodomastoideu, o que faz com que ocorra um deslocamento anterior da cabeça, diminuindo o campo de visão; de forma a tentar melhorar o campo de visão, o indivíduo compensa com um aumento da curvatura cervical20. Esta alteração foi a menos encontrada nos indivíduos classificados com DTM que participaram no presente estudo, possivelmente pela forma de recolha dos dados, conforme referido anteriormente.

Outra limitação do estudo foi a aplicação de questionários como forma de classificar o indivíduo como portador de DTM, sendo necessário um exame clínico mais detalhado dos sinais e sintomas característicos da DTM, além de exames imagiológicos para confirmar o diagnóstico.

Os dois métodos utilizados no presente estudo, tanto a avaliação postural quanto a aplicação de questionários, apresentam a vantagem de baixo custo, fácil aplicação e rapidez para levantamento epidemiológico, podendo facilmente ser aplicado a um elevado número de indivíduos.

Conclusão Os resultados do presente estudo revelaram uma elevada prevalência de DTM em alunos da ESSJPA de diversos cursos na área da saúde, sendo constatado uma relação entre esta disfunção com os níveis de ansiedade ou depressão. No entanto, ao relacionar as alterações posturais na coluna cervical com a DTM, os resultados obtidos no presente estudo não revelaram associação significativa.

O presente estudo trata-se de um estudo preliminar, realizado numa amostra reduzida, no entanto indicou que a prevalência desta patologia pode ser elevada. A divulgação do tema junto de populações sujeitas a grande stresse emocional, como são os estudantes do ensino superior, revela-se de grande importância, para que os próprios estejam mais atentos aos sinais e sintomas de DTM e possam pedir ajuda na resolução dos mesmos.


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