A literacia em saúde, as políticas e a participação do cidadão
EDITORIAL
A literacia em saúde, as políticas e a participação do cidadão
Health literacy, policies and citizen participation
Isabel Loureiro
Departamento de Estratégias em Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública,
Universidade NOVA de Lisboa, Lisboa, Portugal
A literacia em saúde traduz a capacidade de usar as competências de aceder,
compreender e avaliar a informação em saúde, aplicando-as no dia-a-dia para a
tomada de decisão em diferentes contextos, tendo em conta as escolhas
possíveis. Inclui, também, a capacidade de participar na defesa e na governança
para a saúde.
Sendo um direito dos cidadãos, a literacia em saúde tem, também, um forte
impacte económico. É um importante determinante da saúde e da qualidade de vida
e reflete as desigualdades sociais. Incorpora fatores psicológicos (como a
motivação e a perceção de autoeficácia), sociais e ambientais que influenciam
as escolhas e os comportamentos relacionados com a saúde. É um dos resultados
de ações de promoção da saúde que abrangem políticas de redução das
desigualdades e de criação de ambientes favorecedores de escolhas saudáveis, de
educação para a saúde, de mobilização social e de estratégias de empowerment.
O investimento em literacia em saúde requer abordagens compreensivas
(holísticas), incluindo a utilização de uma linguagem clara que torne
acessíveis as mensagens a todos que favoreça uma maior capacidade para lidar
com a doença, para a utilização dos serviços de saúde de forma adequada e para
melhor compreender e controlar as situações da vida. A literacia em saúde não
tem em vista apenas o evitar a utilização inadequada dos serviços de saúde ou o
aumento do conhecimento e da capacidade de autogestão da saúde e da doença;
refere-se também ao sentimento de competência e liberdade para participar em
debates e tomar decisões a diferentes níveis.
Paulo Freire alertou para a importância de se assegurar que as abordagens
pedagógicas desenvolvam a capacidade crítica e promovam o empowerment,
abrangendo os mais desfavorecidos. Sendo a literacia em saúde, de acordo com o
Institute of Medicine, dos EUA, "baseada na interação com os contextos de
saúde, o sistema de saúde, o sistema educativo e os fatores sociais e
culturais, em casa, no trabalho e na comunidade", torna-se fundamental
criar uma cultura de saúde e bem-estar, assumindo a corresponsabilidade no
desenvolvimento pessoal e comunitário, exigindo um investimento no ambiente
cultural e na ação política.
A literacia em saúde requer o envolvimento de todos os setores na co-construção
da saúde, melhorando as competências dos cidadãos para lidarem com a sua saúde
e com o sistema de saúde, melhorando as condições para um bom desempenho
escolar e profissional, melhorando a qualidade de vida e contribuindo para a
transformação da sociedade, nomeadamente eliminando as iniquidades. Também
aqui, tal como é referido na relatório da Gulbenkian Um futuro para a saúde,
recentemente publicado, "todos temos um papel a desempenhar".
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