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EuPTCVHe0871-34132008000100001

EuPTCVHe0871-34132008000100001

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0871-3413
ano2008
Issue0001
Article number00001

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Atitudes, Comunicação e Comportamentos Face à Sexualidade Numa População de Jovens em Matosinhos

INTRODUÇÃO Enquanto técnicos promotores de saúde sentimos necessidade de conhecer o contexto social e psicológico que baseiam a acção afectivo-sexual dos nossos jovens. A Educação Afectivo-Sexual como conjunto de acções educativas e informativas não deve nunca descurar o conceito de Cultura Sexual (1, 2). A compreensão da Sexualidade Juvenil não se esgota na observação do comportamento sexual. A sexualidade define-se por uma rede totalizante e irredutível de condutas, atitudes, afectos e sobretudo pela modelagem sociocultural legitimadora desses mesmos comportamentos. Compreender a sexualidade juvenil é antes de mais compreender a cultura e a comunidade onde se inscrevem esses comportamentos, permitindo conhecer o normal e o desviante, elementos fundamentalmente determinados pelos espaços sociais.

Assim, a Sexualidade é perspectivada como uma experiência social que se insere num determinado sistema de significado, designado Cultura Sexual (1).

Em cada cultura sexual existem certos analisadores ou componentes que estruturam o sentido atribuído à Sexualidade. O grupo sexual de pertença, o número de parceiros, as práticas sexuais, os métodos contraceptivos e o modo de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis são conceitos culturais sobre os quais cada cultura constrói uma série de normas e desvios. A Sexualidade transforma-se assim numa experiência com sentido social. Em cada cultura, os actores e os grupos, através da interacção e pelas experiências sociais que vão adquirindo ao longo do tempo, constroem o próprio saber sobre a Sexualidade. A noção de representação social da Sexualidade (3) é entendida como um esquema de conhecimento partilhado pelos diversos elementos dos grupos que compõem o campo social. Em suma, a Sexualidade é uma experiência cultural, mas socialmente reconstruída pelo universo simbólico dos grupos, dado serem verdadeiros agentes de acção social.

A elaboração deste trabalho teve por objectivo a construção de acções educativas para a saúde na área dos afectos e da sexualidade na comunidade de Matosinhos.

No âmbito da Unidade Local de Saúde de Matosinhos e da sua Unidade de Saúde Pública, onde se insere a Equipa Concelhia de Promoção da Saúde e Saúde Escolar, esta equipa elaborou um projecto denominado Saber e Sentir (2000-2006), onde o presente inquérito se insere.

Para este estudo utilizamos a escala de Comunicação Interpessoal em Sexualidade (4). Trata-se de um instrumento que permite encontrar um perfil de comunicação interpessoal no jovem, acerca das questões da sexualidade. O princípio teórico subjacente pressupõe que a definição das atitudes face a uma temática ou objecto social depende fundamentalmente da comunicação interpessoal.

Usamos ainda a Escala de Experiência de Relacionamento Íntimo e Sexual (4) que possibilita verificar um contínuo experiencial, tendo em conta a faixa etária do estudo. Nesta sequência apresentamos os resultados das atitudes face à sexualidade com base na concepção teórica da relação entre sexualidade e amor como grande encenação cultural da cultura sexual ocidental (2, 3, 5, 6, 7, 8) utilizando os itens atitudinais da IPS (Inventário Psicossocial de Snyder, Simpson e Ganstead) (9, 10), relacionados com o Factor Atitudinal Sexo Sem compromisso. Neste caso, após ter sido extraído o factor, comparamos ambos os sexos em termos de posição atitudinal.

Face à avaliação das atitudes e comportamentos face à SIDA, usamos a escala de Percepção de Controlo das Relações Íntimas (PCRI) (3), como variável fundamental para predizer a conduta preventiva e anticonceptiva.

Neste contexto apresentamos ainda os resultados de duas escalas de atitudes e crenças face a dois meios frequentes de anticoncepção e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis a pílula anticonceptiva e o Preservativo, que pretendem medir quer o nível de conhecimentos quer o nível atitudinal face a estes meios comuns (3).

Finalmente descrevemos algumas indicações face aos Conhecimentos e Atitudes em relação às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) (11) bem como a estimação do risco pessoal face à probabilidade de adquirir uma DST (3).

MÉTODOS O Período da recolha decorreu no primeiro e segundo semestres de 2001 nas Escolas Básicas do e Ciclo e Secundárias do Concelho de Matosinhos presentes na tabela 1.

Os questionários foram aplicados em contexto de sala de aula. O inquiridor (técnico da equipa de Promoção da Saúde), apresentava o estudo aos alunos e estes eram convidados a preencher.

Foi possível garantir regras mínimas de anonimato entre os alunos, questão central nos estudos psicossociais na área da sexualidade (8, 12, 13). Em primeiro lugar, mantivemos um padrão elevado de voluntariedade, permitindo o livre preenchimento dos questionários. Observámos que alguns alunos saíram da sala de aula assim que foram explicados os objectivos do estudo. Quando o aluno prosseguia com o preenchimento, utilizámos de forma invariável as seguintes instruções: a) o sujeito recebia o questionário num envelope fechado; b) era comunicado que nunca deveria ser mencionado qualquer aspecto que possibilitasse a identificação pessoal (o que levou a que os questionários com qualquer elemento de identificação pessoal fossem anulados); c) findo o preenchimento, o sujeito entregava o questionário em envelope fechado e inseria-o numa caixa que se situava distante da equipa de recolha de questionários.

Foram aplicados 2500 questionários, apresentando-se como válidos para análise 1792. Foram excluídos todos os questionários que apresentaram não resposta a mais de 10% das questões, inclusive.

Foi nossa intenção aplicar somente ao , 10º, 11º e 12º ano. No entanto, o ano era a nossa amostra alvo no sentido de testar a situação em termos de comportamentos, atitudes e comunicação junto da média de idades representativa do início da vida sexual.

Em todas as análises optamos por uma estatística descritiva recorrendo à estatística multivariada somente quando se pretende diferenciar o género dos sujeitos.

Apresentamos finalmente as conclusões extraindo indicações para a prevenção e educação afectivo-sexual, como objectivo de base deste nosso trabalho.

Para a análise da escala de Comunicação Interpessoal utilizaram-se os pontos seguintes: a quantidade de cognições (pensamentos) acerca da temática, a quantidade de pessoas que mantêm a interacção conversacional, nível de participação activa e a tipologia sociológica dos interlocutores. O perfil do interlocutor é definido segundo as seguintes variáveis: tipo de relação com a pessoa, sexo, idade, grau de semelhança e grau de distância social, contexto de conversação.

A nossa Escala de Experiência de Relacionamento Íntimo e Sexual (E.E.R.I.S.) (4) permite observar um contínuo experiencial, tendo em conta a faixa etária onde se focaliza o estudo (14-18 anos). Informa-se ainda que o jovem era convidado a mencionar somente um parâmetro de experiência.

Utilizamos a base teórica da existência da relação entre sexualidade e amor como grande encenação cultural da cultura sexual ocidental (2, 3, 5, 8) para observar as atitudes face à sexualidade dos jovens em estudo. Neste sentido quisemos ainda saber como se estrutura neste encenação cultural a variável género, tendo em conta as investigações mais recentes (6, 7).

Para extrair a posição sociocultural face à Sexualidade com base em atitudes sexuais (5) Permissividade e Fidelidade utilizámos a versão parcial do IPS (Inventário Psicossexual de Snyder, Simpson e Ganstead) (9, 10), somente relacionado com o Factor Atitudinal Sexo Sem Compromisso.

Para testar a dimensão atitudinal do sexo sem compromisso, aplicou-se o método estatístico da Análise Factorial em Componentes Principais (AFCP), extraindose um único factor estando assim em consonância com as investigações de Snyder, Simpson e Ganstead (9,10), mantendo-se o factor com valor próprio suplementar ou igual a 1, e aplicou-se uma rotação Varimax.

Para análise do comportamento sexual experiencial da amostra utilizamos a frequência de utilização de métodos anticonceptivos. Note-se que os sujeitos tinham uma lista de meios anticonceptivos face aos quais deveriam mencionar qual ou quais os métodos comummente utilizados nas relações sexuais coitais. É necessário, no entanto, ressalvar que os métodos anticonceptivos referidos na pergunta incluem anticonceptivos orais, que não previnem doenças sexualmente transmissíveis.

Partimos do pressuposto teórico e empírico que a utilização de meios anticonceptivos e preventivos depende de variáveis como o nível de educação para a saúde nesta matéria, em conjugação com variáveis internas ou psicológicas como competência de percepção de controlo da situação sexual, nível de competência de planeamento das relações íntimas e nível de competências de comunicação entre os parceiros. A escala de Percepção de Controlo das Relações Íntimas (PCRI) (3) foi construída com base nesta orientação teórica, tendo em conta a graduação: (1) muito em desacordo; (2) bastante em desacordo; (3) em desacordo; (4) de acordo; (5) bastante de acordo; (6) muito de acordo.

Utilizamos duas escalas que pretendem medir quer o nível de conhecimentos quer o nível atitudinal face a dois meios frequentes de anticoncepção e de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis a pílula anticonceptiva e o preservativo. Incluímos para análise todos os sujeitos, com e sem experiência sexual coital. Note que em ambas as escalas se utilizou a seguinte matriz de respostas: (1) muito em desacordo; (2) bastante em desacordo; (3) em desacordo; (4) de acordo; (5) bastante de acordo; (6) muito de acordo.

Recordamos que os itens atitudinais são extraídos de estudos qualitativos (3) sobre uma amostra acerca das imagens, crenças de senso comum e representações face ao preservativo e a pílula anticonceptiva.

Para melhor se compreender os comportamentos preventivos é fundamental a utilização da medida psicológica Estimação Pessoal do Risco, em que uma elevada estimação do risco pessoal aumentará a probabilidade de utilização de meios preventivos das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) (3).

Para avaliar os conhecimentos que os jovens têm sobre a SIDA, no que respeita às vias de transmissão, utilizamos o racional de Usieto (14), Marticka-Tyndale (11) e Warwick (15) que refere que os rumores face à transmissibilidade de certas vias de transmissão servem sobretudo para afirmar a estereotipia do fenómeno, tornando-o mais ameaçador do que na realidade ele representa. Assim, as vias de transmissão, para além de veicularem informação, são utilizadas como crenças sociais pelo senso comum. A nossa escala de Vias de Transmissão foi inspirada na Teoria dos Rumores face à SIDA (16), servindo para observar, em certa medida, os conhecimentos que os nossos jovens possuem face à transmissão do Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH), tendo em conta cada via. As alternativas de reposta definem-se, em termos de transmissibilidade, entre (1) Nunca; (2) Talvez; (3) Sempre.

RESULTADOS Este estudo foi efectuado a partir de uma amostra de 1792 alunos do Ciclo e Ensino Secundário, distribuídos da seguinte forma: ano (81,7%), 10º ano (4,8%), 11º ano (10,1%) e 12º ano (3,4%).

Do total da amostra observa-se que o intervalo de idade entre os 14-17 anos ocupa cerca de 96,5%, sendo a média de idades 15,2 anos. Considera-se assim alguma homogeneidade em termos de etapa do desenvolvimento psicofísico.

Obtivemos 46,6% de respondentes do sexo masculino e 53,4% do sexo feminino. Considera-se deste modo que se consegue também nesta variável uma significativa equivalência dos grupos de género.

No que se refere à escolaridade dos pais, o resultado global está descrito na tabela 2.

Dos respondestes (n=1707), 91,2 pertenciam à Religião Católica, 1,2% eram Protestantes, 0,1 tinham outra Religião e 7,7 não tinham qualquer religião. No que se refere às práticas religiosas, traduzida pela frequência a cultos religiosos organizados 10% não frequenta cultos, 60% frenquenta Casamentos, Baptizados e Funerais, 9,9% declara frequentar duas vezes por semana e 19,1% uma vez por semana (n=1773).

A cognição com conteúdos sexuais em termos de diferenças tendo em conta o sexo dos sujeitos, observam-se diferenças significativas, dado que os rapazes pensam mais vezes no tema da sexualidade (m=2,7; dp=0,9) em comparação com as raparigas (m=2,0; dp=0,72), p<0,01. No caso da quantidade de pessoas com quem o/a jovem manteve conversas sobre a sexualidade, observa-se que os rapazes falaram com mais pessoas sobre a sexualidade (m=7,5; dp=16,7) que as raparigas (m=4,5; dp=7,7; p<0,01). Observa-se que nas conversas os rapazes forneceram mais opiniões (m=2,1; dp=0,89) que as raparigas (m=1,9; dp=0,72; p<0,01).

O perfil do interlocutor com quem os rapazes conversam sobre a sexualidade corresponde a um amigo (m=1,4; dp=1,2); do mesmo sexo (m=1,4; dp=0,49) aproximadamente da mesma idade (m=1,8; dp=0,05); aproximadamente semelhante (m=1,2; dp=0,44); próximo socialmente (m=1,8; dp=0,05). O perfil do interlocutor com quem as raparigas conversam sobre a sexualidade corresponde a uma amiga (m=1,5; dp=1,2); do mesmo sexo (m=1,2; dp=0,43) aproximadamente da mesma idade (m=1,7; dp=0,53); aproximadamente semelhante (m=1,2; dp=0,40); próximo socialmente (m=1,0; dp=0,17).

Os temas debatidos entre os 10 que foram apresentados aos jovens encontram-se descritos na tabela 3, diferenciando por sexo. Observa-se que os temas menos falados diferem entre sexos. No caso dos rapazes verifica-se que são a Homossexualidade e a Gravidez, enquanto que nas raparigas são Revistas e temas de pornografia e Homossexualidade. No que respeita aos assuntos mais falados, verificamos que, no caso das raparigas, é Namorar e nos rapazes é Relações Sexuais. Em ambos os sexos, o segundo tema mais abordado é Assuntos sobre o outro sexo.

O tipo de experiência de relacionamento íntimo e sexual está descrito na tabela 4. A distribuição dos sujeitos tendo em conta o sexo e a idade está apresentada na Matriz de Comportamentos Íntimos e Sexuais e sua distribuição quantitativa pelas diferentes idades do estudo (Tabela 5). Desta tabela destacam-se os valores relativos à experiência sexual coital tendo em conta a idade. Assim aos 14 anos verificamos que 4,5% dos jovens tiveram experiência sexuais coitais. Aos 15 anos 11,9%, aos 16 anos 22,2%, aos 17 anos 35,8% e finalmente aos 18 anos 52,4%. Pode ainda destacar-se que, relativamente à experiência coital, é maior o número de raparigas que a nega, havendo igualmente maior número de respondentes do sexo feminino que assumem experiência sexual com apenas um parceiro. Os rapazes referem mais vezes ter tido relações sexuais com mais que uma pessoa.

O IPS, no nosso estudo, manifestou uma consistência interna de 0,86 (Alpha de Cronbach) para 8 itens do Inventário de Atitudes Sexuais - Sexo Ocasional e Sem Compromisso. Tratam-se 8 itens, baseados numa escala de concordância em 7 pontos.

No sentido de se observar o comportamento atitudinal dos jovens da amostra, comparamos as diferenças entre os sexos. Assim, os resultados demonstram que os rapazes possuem uma atitude mais favorável face ao sexo sem compromisso (m=0,62; dp=0,97) em comparação com as raparigas que preservam uma atitude mais favorável face ao sexo com comprometimento afectivo (m=-0,54; dp=0,64; p<0,001). Observa-se, entre os jovens da nossa comunidade a adopção de um posicionamento social face à sexualidade típico do Duplo Padrão (6,7,8), o que significa que a representação da sexualidade é diferenciada tendo em conta o género, suscitando assim duas posturas comportamentais relativamente à sexualidade.

Relativamente à Utilização de Métodos Anticonceptivos, (Tabela 6), podemos verificar que 76,7% dos inquiridos com experiência sexual coital utiliza sempre métodos anticonceptivos. Na tabela 7 apresentamos os tipo métodos anticonceptivos utilizado. Destacamos que somente 64,8% (somando o preservativo + pílula e preservativo) dos sujeitos usam meios anticonceptivos que previnem doenças sexualmente transmissíveis e gravidez.

No que toca à utilização de métodos anticonceptivos, a percentagem de raparigas supera significativamente a dos rapazes na utilização associada da pílula e do preservativo (Tabela 8). a utilização isolada do preservativo adquire proporções percentuais superiores nos rapazes.

Dos resultados explícitos na tabela 9 podemos verificar que as raparigas assumem um maior controlo das relações sexuais. Isto reflecte-se tanto na comunicação com o companheiro relativamente à vontade de não consumar o coito e necessidade de usar um método preventivo, como na interrupção do coito quando não têm vontade.

Os resultados relativos às atitudes face ao preservativo estão descritos na tabela 10. Tendo em conta o género dos sujeitos, verifica-se acordo no que se refere à informação de que os preservativos previnem as doenças sexualmente transmissíveis previnem a SIDA e a gravidez. Consideram ainda em consenso que são fáceis de obter são baratos e simples e fáceis de utilizar. Admitem que o preservativo poderá ser percebido como um jogo erótico e reconhecem que tem que se saber usá-lo e pô-lo. ainda acordo face à ideia de que não são naturais, são artificiais mas que não interrompem o acto sexual. Observa-se que os jovens, de forma consensual, não se sentem incomodados nem culpados por andar com eles e concordam com a afirmação de que que podem estar defeituosos. Não concordam que diminuem o prazer nem rompem com o romantismo da situação, verificando-se no entanto diferenças estatisticamente significativas entre rapazes e raparigas, sendo os rapazes os que têm uma posição menos favorável face ao preservativo.

Os resultados relativos às atitudes face à pílula anticonceptiva estão descritos na tabela 11. Face a este meio anticonceptivo, verifica-se acordo entre os rapazes e as raparigas que a pílula anticonceptiva previne a gravidez; não previne a SIDA nem outras doenças sexualmente transmissíveis; não permite ter relações sexuais com várias pessoas sem correr riscos. Verifica-se que os jovens consideram que a utilização da pílula tranquiliza e segurança à relação; são baratas e são fáceis de obter. Finalmente destacamos o facto de que sentem que não são embaraçosos, incómodos nem complicados de usar e por isso não se sentem incomodadas nem culpados por andar com elas e não se preocupam que os encontrem em sua casa. Observa-se que discordam da ideia que as pílulas fazem engordar, havendo no entanto diferenças estatisticamente significativas entre rapazes e raparigas, sendo as raparigas quem menos discorda. Em relação ao item são simples e fáceis de utilizar, ambos os sexos estão de acordo, sendo no entanto a posição das raparigas mais favorável. Ambos os grupos concordam com o facto de que as pílulas têm contra-indicações, em especial as raparigas. Finalmente, face ao item é inseguro, tenho dúvidas da sua eficácia, nota-se que os rapazes têm mais incertezas.

Face à pergunta Em geral, que risco tens em contrair uma D.S.T.? e sabendo que a escala estava organizada entre (1) nada provável; (2) pouco provável; (3) Algo provável; (4) Provável; (5) Bastante Provável; (6) Muito Provável, os resultados indicam (Tabela 12), de forma geral na amostra um risco médio de 2,7 (dp=1,4) o que significa entre o pouco provável e o algo provável.

Tendo em conta o sexo dos respondentes obtivemos as diferenças altamente significativas: os rapazes obtiveram uma média de 2,8 (dp=1,4) e as raparigas 2,6 (dp=1,5; p<0,001), o que indica que as raparigas estimam menor risco de contrair uma DST do que os rapazes. clássica nas investigações psicossociais da saúde é a associação entre a estimação do risco pessoal para uma doença e sua relação com o contacto social com o grupo ou indivíduos portadores de determinada doença. No caso do nosso estudo confirma-se essa tendência. De facto, observamos que quanto mais os jovens conhecem um sujeito portador de uma DST mais se estimam com risco de DST (m=3,0; dp=1,4) em comparação com o grupo de sujeitos que dizem não conhecer um doente com DST (m=2,6; dp=1,4; p < 0,01). A mesma tendência não se observa no que se refere ao contacto social com pares que realizaram o Teste da SIDA. Os jovens que conhecem pares que realizaram o Teste da SIDA estimam o seu risco em 2,7 (dp=1,3) e os que não conhecem também em 2,7 (dp=1,5).

Os conhecimentos dos jovens relativamente às vias de transmissão do Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH) estão apresentados na tabela 13,tendo em conta o género dos sujeitos, o que permite desde logo inferir a amostra em geral. Atendendo a que se trata de 12 itens, atesta-se, pelos resultados, alguma homogeneidade da amostra relativamente a conhecimentos e atitudes face à SIDA. No entanto, no que respeita às falsas crenças de contágio (como as lágrimas, picadas de mosquito e casas de banho), bem como ao contágio através de seringas, as raparigas revelam diferenças em relação aos rapazes, emergindo dos resultados uma informação maior daquelas sobre as vias de transmissão referidas.

DISCUSSÃO

Observa-se que quer os rapazes quer as raparigas comunicam unicamente sobre temas da sexualidade com os pares semelhantes em termos de género e idade.

Verifica-se que os rapazes possuem uma posição mais activa, em termos de envolvimento pessoal nas conversas, que as raparigas.

No que se refere à percepção de controlo e planeamento das relações sexuais, observa-se que são os rapazes quem menos percepciona competências pessoais de controlo e planeamento das relações sexuais. Deste resultado destaca-se que são também as raparigas que possuem uma atitude mais activa no que se refere ao planeamento e prevenção.

As temáticas da sexualidade que mais necessitam ser debatidas e aprofundadas são a questão da homossexualidade no que respeita a ambos os sexos, sendo a questão da gravidez e reprodução um tema a ser aprofundado nos rapazes. Este último tema é muito mais frequentemente debatido entre as raparigas deveremos intervir evitando que o tema seja exclusivo das mulheres desde cedo.

Observamos, relativamente à experiência sexual coital, que ela está presente em 4,5% dos jovens de 14 anos, 11,9% dos jovens de 15 anos, 22,2% aos 16 anos, 35,8% aos 17 anos e 52,4% aos 18 anos.

No que respeita à utilização de meios anticonceptivos, dos 10,4% dos respondentes com experiência em relacionamento íntimo incluindo relações sexuais coitais, verifica-se que 75,1% dos jovens utiliza sempre métodos anticonceptivos, 16,7% utiliza-os às vezes e 7,8% nunca; quase metade utiliza somente o preservativo (48%).

Comparando os valores obtidos neste trabalho com resultados de um estudo sobre adolescentes portugueses (17,18), verificamos uma discrepância no que concerne à experiência sexual coital dos indivíduos na faixa etária dos 15 anos (única faixa etária sobreponível): 11,9% na nossa investigação e um valor de 21,8% na investigação nacional referida.

Em relação ao número de indivíduos que não utiliza sistematicamente um qualquer método anticonceptivo, verificamos que tanto no nosso trabalho como no estudo nacional, corresponde a cerca de um quarto dos inquiridos.

Quando se compara a percentagem de utilização regular de contracepção, não notamos diferenças entre os sexos, ao contrário da investigação atrás referida, em que o sexo feminino apresenta uma maior taxa de utilização (raparigas: 82,2% e rapazes: 71,6%).

Tanto neste trabalho como no estudo de âmbito nacional, a utilização do coito interrompido como método anticonceptivo atinge valores superiores a 10% (11,9% neste trabalho e 13,6% no estudo nacional). Estes resultados apontam para a necessidade de reforçar a informação sobre a falência do coito interrompido como método anticonceptivo.

No que respeita às atitudes face ao preservativo e pílula, verifica-se que os jovens inquiridos sabem que ambos os métodos previnem a gravidez, e no que respeita ao preservativo têm consciência da necessidade de saber como o colocar e usar correctamente. Sabem que o preservativo previne a SIDA e outras doenças sexualmente transmissíveis e sabem que a pílula pode ter contra-indicações.

Constatam-se algumas diferenças estatisticamente significativas entre rapazes e raparigas em alguns aspectos, sendo as raparigas as que possuem mais esclarecimentos sobre a pílula e os rapazes os que têm uma posição menos favorável face ao preservativo, pela possibilidade de interromper o romantismo da relação e diminuir o prazer. Verifica-se que ambos os meios contraceptivos são considerados baratos e fáceis de obter.

Poderemos concluir que no que se refere ao uso de preservativo e pílula, a informação fornecida pelas campanhas de prevenção conseguiu veicular as suas indicações, cuidados de utilização, contra-indicações e meios de obtenção.

As respostas obtidas e as diferenças estatisticamente significativas encontradas entre sexos parecem apontar para a necessidade de transmissão de conhecimentos sobre a pílula aos rapazes, trabalhando as questões da responsabilidade partilhada. Do mesmo modo, parece-nos importante desmistificar algumas ideias pré-concebidas sobre o preservativo, principalmente nos rapazes.

Os nossos jovens estimam um risco médio em contrair uma DST e isso é corroborado pelos resultados favoráveis à utilização de meios preventivos, sendo os rapazes quem maior risco estima, quando em comparação com as raparigas. Relativamente à SIDA, ressalta-se o facto de haver muito pouca diferença entre os sexos face ao conhecimento das vias de transmissão da mesma. A proporção de falsas crenças sobre esta doença é baixa, demonstrando que as campanhas desenvolvidas por diferentes organizações e instituições têm conseguido levar informação até aos nossos adolescentes.


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